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Revista eMOBILIDADE+ #01

A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.

A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.

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Mobilidade<br />

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />

e- +<br />

2023 | N.º 1 | Mar/Abr<br />

Bimestral | Continente<br />

Diretora: Cátia Mogo<br />

MOBILIDADE<br />

EM PORTUGAL<br />

NUNO SOARES RIBEIRO,<br />

VTM<br />

“ATUAR APENAS DO LADO DA OFERTA DE<br />

TRANSPORTE PÚBLICO É INSUFICIENTE”<br />

“TEMOS A OBRIGAÇÃO DE DEIXAR<br />

UM MELHOR PLANETA AOS<br />

NOSSOS FILHOS”<br />

t<br />

t<br />

O CAMINHO PARA<br />

A NEUTRALIDADE<br />

CARBÓNICA<br />

Setra Comfort Class<br />

Mercado português recebeu<br />

as primeiras unidades<br />

Veículos elétricos<br />

O que deve saber antes<br />

de comprar um<br />

Segway-Ninebot<br />

Lança novas opções<br />

de mobilidade urbana<br />

e-MOBILIDADE 1


2 e-MOBILIDADE


e- Mobilidade +<br />

<strong>Revista</strong> nº1 | Março/Abril 2023<br />

EDIÇÃO BIMESTRAL<br />

Email: emobilidademais@invesporte.pt<br />

NOTA do EDITOR<br />

DIRETORA<br />

Cátia Mogo<br />

EDITOR<br />

Eduardo de Carvalho<br />

REDAÇÃO<br />

Ana Filipe<br />

Márcia Dores<br />

DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO<br />

E MARKETING<br />

Nuno Francisco<br />

PUBLICIDADE<br />

José Afra Rosa<br />

Margarida Nascimento<br />

Rui Garrett<br />

ASSINATURAS<br />

Fernanda Teixeira<br />

COLABORADORES<br />

António Macedo; Filipe Carvalho<br />

e Frederico Gomes<br />

O<br />

desafio da transição energética está patente no nosso<br />

dia a dia. Estamos a aproximar-nos das metas definidas<br />

pela União Europeia para a neutralidade carbónica<br />

nos transportes e assistimos já a muitas mudanças<br />

na forma como experienciamos a mobilidade.<br />

É nesse sentido que nasce esta nova publicação, fruto do caminho que<br />

já vinha a ser traçado enquanto suplemento da <strong>Revista</strong> Eurotransporte.<br />

O eMobilidade + corta agora o cordão umbilical, ganhando «asas»<br />

neste mundo digital. Aqui, pretende ser um espaço informativo e de<br />

discussão, com artigos de atualidade, reportagens, entrevistas e opiniões<br />

assertivas sobre os assuntos quentes do momento.<br />

Dos veículos, aos meios de transporte, passando pelas energias utilizadas<br />

e até às smartcities, é necessário repensar a mobilidade de pessoas<br />

e bens e nós assumimos o compromisso de acompanhar a par e passo<br />

essa evolução. Fique connosco desse lado, há muito para ler, no<br />

e-Mobilidade+! +<br />

DESIGN GRÁFICO / PAGINAÇÃO<br />

Isabel Colaço<br />

IMAGENS<br />

Pixabay.com | Freepik.com | Canvas<br />

EDITORA INVESPORTE,<br />

EDITORA DE PUBLICAÇÕES<br />

Edição, Redação e Administração<br />

R. António Albino Machado, 35G<br />

1600-259 Lisboa<br />

Telefone: 215914293<br />

Email: eurotransporte@invesporte.pt<br />

Site: www.eurotransporte.pt<br />

PROPRIEDADE<br />

Eduardo de Carvalho<br />

REGISTO ERC: Nº 127896<br />

ESTATUTO EDITORIAL:<br />

https://www.eurotransporte.pt/noticia/38/5193/<br />

estatuto-editorial-e-lei-da-transparencia/<br />

www.emobilidademais.pt<br />

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />

e-MOBILIDADE 3


t<br />

t<br />

SUMARIO<br />

MARÇO/ABRIL 2023<br />

REVISTA Nº 1<br />

10 SEGWAY-NINEBOT<br />

Segway-Ninebot lança novas<br />

opções de mobilidade urbana.<br />

A empresa global de tecnologia<br />

apresenta três novos modelos<br />

de trotinetes, incluindo uma<br />

para crianças. Uma nova scooter<br />

elétrica e um kart também são<br />

novidade.<br />

14 VEÍCULOS POLUENTES<br />

A partir de 2035 será proibido<br />

vender novos veículos ligeiros<br />

movidos a combustíveis fósseis<br />

na União Europeia.<br />

16 FIAT 500E<br />

O eMobilidade + conduziu o<br />

novo FIAT 500e e dá-lhe conta<br />

das primeiras impressões.<br />

28 TIC(S) DE MOBILIDADE<br />

Manuel Relvas escreve sobre o<br />

MaaS (Mobility-as-a-Service) e<br />

as dificuldades atuais patentes<br />

na sua integração.<br />

12<br />

36 ENTREVISTA<br />

Nuno Soares Ribeiro, um dos sócios<br />

da VTM - empresa de consultoria em<br />

mobilidade e transportes - explica<br />

que soluções podem ser apresentadas<br />

para a melhoria e o avanço<br />

sustentável da forma como os sistemas<br />

de transporte são concebidos,<br />

implementados e operados.<br />

52 REPORTAGEM<br />

A União Europeia está comprometida<br />

em atingir a neutralidade carbónica<br />

até 2050 e a descarbonização do setor<br />

dos transportes é um dos pilares<br />

essenciais desta mudança. Vamos<br />

saber mais sobre o caminho para<br />

esta transformação profunda<br />

na mobilidade.<br />

66<br />

20<br />

66 ENTREVISTA<br />

Fundador e atual presidente do Conselho<br />

de Administração da TIS.pt, José<br />

Manuel Viegas aceitou responder a<br />

algumas questões do e-Mobilidade+<br />

sobre as tendências e desafios da<br />

mobilidade sustentável.<br />

28<br />

4 e-MOBILIDADE<br />

36<br />

t<br />

10


Prontos para o presente.<br />

O eCitaro. Inovador com grande autonomia e<br />

um conceito de eletromobilidade integral.<br />

Saiba mais em mercedes-benz-bus.com #ElectrifyYourCity<br />

WWW.EUROTRANSPORT.PT<br />

EvoBus Portugal, S.A. Edif. Mercedes-Benz Abrunheira, Apartado 14 - 2726-901 Mem Martins<br />

e-MOBILIDADE 5


Notícias Curtas<br />

t<br />

Portugal é o país que mais gasta<br />

mensalmente em mobilidade<br />

Com um orçamento mensal de 150€ para mobilidade, Portugal<br />

está no topo da lista, acima da França (145€), Itália (135€),<br />

Alemanha (134€), Bélgica (128€) e Espanha (109€). Esta é uma<br />

das conclusões do primeiro barómetro de mobilidade da<br />

Europ Assistance, realizado pela Ipsos, nestes seis mercados.<br />

Este valor resulta da média de gastos em combustível, portagens,<br />

estacionamento, bicicletas, trotinetes e TVDE, excluindo<br />

o seguro automóvel, com um valor médio de 133 euros nos<br />

seis países onde foi realizado o inquérito. Outro dado deste<br />

estudo mostra que, em Portugal, e durante a semana, o meio<br />

de transporte mais utilizado continua a ser a viatura pessoal<br />

(37%). Andar a pé (32%) é o segundo meio de transporte mais<br />

comum no nosso país e os transportes públicos (15%) surgem<br />

em terceiro lugar. Ao fim de semana, acentua-se a mobilidade<br />

com viatura pessoal (40%) e cai a utilização de transportes públicos<br />

(8%). Curiosamente, em Portugal, 58% das deslocações<br />

têm menos de 10km.<br />

Porto de Lisboa com 13,7% de crescimento<br />

na carga movimentada em 2022<br />

O total de carga movimentada no Porto de Lisboa atingiu 11 milhões de toneladas<br />

no final de 2022, o que representa um aumento de 13,7%, face ao ano<br />

anterior. O crescimento resulta de melhorias na performance das várias áreas,<br />

nomeadamente da carga contentorizada, granéis líquidos e granéis sólidos.<br />

Nos contentores o crescimento foi de 6%, para as 3,9 milhões de toneladas.<br />

Se medirmos em TEU (unidade equivalente a 20 pés), a subida foi de 6,2%, ou<br />

seja, mais 390.173 TEU. De destacar o cariz exportador do porto de Lisboa, já<br />

que mais de 60% da carga contentorizada é de embarque. Os granéis líquidos<br />

aumentaram 14,5%, comparativamente com 2021, e fixaram-se em 1,3 milhões<br />

de toneladas. Nos granéis sólidos a subida chegou aos 20%, para 5,3 milhões de<br />

toneladas, o que fixa um novo recorde histórico do Porto de Lisboa neste segmento.<br />

O destaque vai para a movimentação de milho que alcançou o melhor<br />

resultado dos últimos 24 anos, com 1,4 milhões de toneladas, o que significa<br />

um crescimento de 38% face a 2021.<br />

6 e-MOBILIDADE<br />

t<br />

t<br />

Carregamentos na rede da EDP na Península<br />

Ibérica triplicou para 488 mil em 2022<br />

O número de carregamentos na rede de carregadores<br />

da EDP na Península Ibérica aumentou para 488 mil<br />

no ano passado (2022), três vezes mais do que no ano<br />

anterior, refletindo o crescimento da mobilidade.<br />

Segundo a empresa, estes veículos elétricos foram<br />

abastecidos com oito GWh de eletricidade, o que,<br />

assinala, é “energia suficiente para percorrer mais de<br />

45 milhões de quilómetros sem emitir CO 2 ” (dióxido<br />

de carbono). Na prática permitiu que os condutores<br />

evitassem a emissão de cinco mil toneladas de dióxido<br />

de carbono para o planeta.


t<br />

MSC Cruzeiros abre vendas para o World Cruise 2025<br />

A MSC Cruzeiros abriu as vendas para o MSC World Cruise 2025 com<br />

um itinerário inteiramente novo a bordo do MSC Magnifica.<br />

Os passageiros podem embarcar nesta viagem única de uma vida a<br />

partir de quatro portos europeus-Civitavecchia/Roma, Génova, Marse-<br />

-lha e Barcelona (a 4, 5, 6 e 7 de janeiro de 2025, respetivamente).<br />

A viagem de 116 noites à volta do mundo visitará 50 destinos em<br />

21 países, com sete pernoitas e 22 destinos que nunca tinham sido<br />

apresentados num World Cruise. A longa viagem de três meses levará<br />

os passageiros a cinco continentes, atravessando três dos maiores<br />

oceanos do mundo, navegando mais de 30.000 milhas náuticas. Quer<br />

se trate de esplendor natural, cidades cosmopolitas vibrantes ou locais<br />

históricos mundialmente famosos, este incrível itinerário assinalará<br />

muitos lugares de visita obrigatória na «bucket-list» e alargará horizontes<br />

com novos sabores e tradições, diversas culturas e comunidades,<br />

tudo isto enquanto proporciona experiências globais autênticas.<br />

Governo vai criar cartões para incentivar<br />

uso de transporte público<br />

O governo vai criar um cartão único de transporte a nível<br />

nacional e um cartão de mobilidade que poderá ser carregado<br />

pelas empresas à semelhança do cartão-refeição.<br />

As novidades foram apresentadas por Duarte Cordeiro,<br />

ministro do Ambiente e da Ação Climática, durante<br />

uma audição no Parlamento. O projeto bilhete.pt (nome<br />

provisório) será apresentado em detalhe e o ministro já<br />

adiantou que “o objetivo é estabelecer uma plataforma de<br />

bilhética nacional”. O que se pretende é “a criação de um<br />

cartão único de transporte a nível nacional e esperamos ter<br />

resultados ainda durante este ano”, disse Duarte Cordeiro.<br />

A ideia é que o mesmo título permita “carregar viagens em<br />

qualquer zona do país”, suprindo assim alguma “desconexão”<br />

que por vezes existe entre as diferentes entidades<br />

de transporte e que pode inibir o uso de transporte<br />

púbico, especificou o secretário de Estado da Mobilidade<br />

Urbana, Jorge Delgado. O trabalho começará pelas áreas<br />

metropolitanas de Lisboa e Porto, que deverão assinar esta<br />

sexta-feira um protocolo que estabelecerá princípios de<br />

colaboração. Também estão previstos acordos de parceria<br />

para outras comunidades intermunicipais.<br />

t<br />

t<br />

Emirates investe 135 M$ num novo centro<br />

de treino para pilotos<br />

A Emirates vai construir brevemente um centro de treino avançado para acomodar 6<br />

Compartimentos de Simulação de Voo completos (FFS) para os seus futuros aviões A350<br />

e Boeing 777X. A inauguração desta nova instalação, de 63.318 metros quadrados, está<br />

prevista para março de 2024. O Sheikh Ahmed bin Saeed Al Maktoum, Presidente e Chefe<br />

do Executivo Emirates Airline and Group, afirma: “Este investimento de 135 milhões de<br />

dólares para a construção de um novo centro de treino de pilotos garantirá a preparação<br />

da Emirates para iniciar formação dos mesmos antes da entrega da sua nova frota de<br />

aviões a partir de 2024.<br />

O centro será equipado com os simuladores tecnologicamente mais avançados para<br />

proporcionar a melhor preparação aos pilotos, ao mesmo tempo que utiliza energia solar<br />

para reduzir o consumo de energia”. O novo edifício será adjacente às Instalações de Formação<br />

da Emirates já existentes no Dubai, o que proporcionará uma grande integração e<br />

uma estreita proximidade com todos os outros centros de formação de pilotos.<br />

e-MOBILIDADE 7


Grupo ETE investe em<br />

equipamento portuário<br />

a nível nacional<br />

O Grupo ETE investiu recentemente<br />

14,2 milhões de euros na aquisição<br />

de quatro novas Gruas Portuárias<br />

Liebherr, colocadas ao serviço das<br />

operações que detém nos portos de<br />

Aveiro, Leixões e Setúbal. Um investimento<br />

que representa e reforça a sua<br />

aposta no desenvolvimento do setor<br />

portuário português, nomeadamente<br />

no desenvolvimento dos portos<br />

nacionais e das suas infraestruturas.<br />

As primeiras gruas Liebherr LHM 280<br />

e LHM 420 já se encontram operacionais em Aveiro e Setúbal, respetivamente, portos onde o Grupo<br />

ETE detém operação portuária, prevendo-se que as restantes gruas LHM 420 sejam instaladas e iniciem<br />

operações no Terminal de Carga Geral e Granéis de Leixões (TCGL), durante o primeiro trimestre<br />

do presente ano. As novas gruas LHM 280 e LHM 420, com capacidade máxima até 84 e 124 toneladas,<br />

respetivamente, juntam-se assim aos restantes equipamentos a operar nos diferentes terminais,<br />

permitindo o aumento da capacidade de movimentação de cargas e promovendo, consequentemente,<br />

a capacidade e eficiência de resposta do Grupo ETE junto dos seus clientes.<br />

Engenheiros da Ford melhoraram autonomia dos<br />

veículos elétricos<br />

Os engenheiros da Ford descobriram que<br />

as superfícies de aquecimento dos veículos<br />

elétricos, tais como tapetes e painéis de<br />

portas, podem contribuir para aumentar a<br />

autonomia, em alternativa à utilização do<br />

sistema de ar condicionado.<br />

Qual é a forma energeticamente mais eficiente<br />

de mantermos o calor? Numa altura<br />

em que os custos de aquecimento das nossas<br />

casas aumentam, esta é uma questão<br />

cada vez mais presente na mente de muitas<br />

pessoas. Os engenheiros da Ford foram<br />

encarregados de responder a esta mesma<br />

pergunta no âmbito de um projeto para<br />

melhorar a autonomia dos veículos elétricos (VE). Quando se trata do aquecimento do habitáculo em VE,<br />

o ar quente pode ser ventilado no interior com recurso ao sistema de ar condicionado. A alternativa passa<br />

por recorrer a superfícies aquecidas. Estas podem ser superfícies com as quais os ocupantes entram em<br />

contacto direto, ou podem ser painéis que irradiam calor para o condutor e passageiros.<br />

t<br />

MEDWAY retoma circuito<br />

Setúbal – Entroncamento<br />

– Leixões<br />

A MEDWAY vai reativar o circuito Setúbal<br />

– Entroncamento – Leixões no decurso do<br />

primeiro trimestre deste ano. O objetivo<br />

é ligar todos os portos e terminais, com<br />

cobertura em todo o território nacional, no<br />

âmbito da política de expansão de serviços<br />

da empresa. “A recuperação deste serviço<br />

visa responder ao elevado número de pedidos<br />

que recebemos da parte dos nossos<br />

clientes. Esta solução serve também o<br />

nosso objetivo de crescimento do negócio,<br />

bem como o propósito de incrementar o<br />

transporte ferroviário de mercadorias nos<br />

países em que estamos presentes, a fim de<br />

reduzir as emissões de carbono no setor<br />

dos transportes”, refere Carlos Vasconcelos,<br />

administrador da MEDWAY. Com este<br />

serviço, direcionado a armadores e a operadores<br />

logísticos, a MEDWAY disponibiliza<br />

às empresas uma ligação fiável e regular,<br />

com capacidade para transportar um<br />

elevado número de contentores de uma só<br />

vez, entre zonas portuárias. O serviço será<br />

efetuado semanalmente.<br />

8 e-MOBILIDADE<br />

t<br />

IVECO faz balanço positivo da operação em Lyon<br />

Após um ano a operar com um serviço integral os autocarros urbanos 100% elétricos da<br />

SYTRAL Mobilitiés, em Lyon, a IVECO Bus afirma ter «sucesso total» no primeiro ano na<br />

integração do pacote de serviços personalizados. De modo a proporcionar aos seus clientes<br />

uma solução de mobilidade elétrica global, a IVECO BUS oferece uma gama de serviços<br />

associados, incluindo o fornecimento e instalação de sistemas de carregamento e um plano<br />

de manutenção abrangente. A SYTRAL Mobilités escolheu esta solução quando, em 2021,<br />

adquiriu a sua primeira frota de 13 autocarros elétricos.<br />

Marco Franza, Responsável Global da Bus Customer Service, afirmou: “Esta bem-sucedida<br />

colaboração com a SYTRAL Mobilités está a proporcionar-nos uma experiência valiosa, que<br />

poderemos aplicar no desenvolvimento de serviços semelhantes, adaptados aos clientes em<br />

diferentes mercados”.<br />

O plano de manutenção global de 2 anos inclui a monitorização e manutenção dos 13 autocarros,<br />

assim como a monitorização do carregamento dos veículos no local de recolha<br />

e a manutenção dos sistemas de carregamento instalados pela IVECO BUS.


Galp e IKEA criam maior rede de<br />

carregamento privada para VE<br />

A Galp e a IKEA uniram-se numa parceria para criar a<br />

maior rede de carregamento em espaços privados para<br />

veículos elétricos em Portugal. O acordo abrange a<br />

instalação de 278 pontos de carregamento da Galp nos<br />

parques de estacionamento de lojas IKEA em Alfragide,<br />

Loures, Loulé, Matosinhos e Braga, e nos centros comerciais<br />

Marshopping Matosinhos e Algarve. Todos estes<br />

pontos de carregamento estão já operacionais.<br />

A estratégia desenvolvida no âmbito desta parceria inclui<br />

soluções de carregamento para os parques de clientes<br />

IKEA e nos centros comerciais MarShopping, bem<br />

como nos parques privados para colaboradores IKEA e<br />

nos parques privados para carrinhas de distribuição.<br />

t<br />

Mercado português já recebeu<br />

primeiras Setra ComfortClass 519 HD<br />

A empresa Rede Nacional de Expressos (RNE), do grupo<br />

Barraqueiro Transportes recebeu, em fevereiro, as primeiras<br />

seis unidades produzidas da nova geração Setra Comfort-<br />

Class 519 HD.<br />

Este modelo, que foi apresentado à imprensa no final do<br />

ano passado em Lisboa, recebeu um facelift da sua imagem<br />

exterior e interior em 2022, representando assim um conceito<br />

de autocarro multifuncional com os mais altos padrões de<br />

economia, segurança e flexibilidade. Esta atualização está<br />

disponível na série Setra 500 em nove comprimentos e<br />

configurações diferentes. A RNE é a maior empresa de<br />

autocarros a operar em Portugal, fundada em 1995 através<br />

da junção de várias empresas rodoviárias, efetua hoje viagens<br />

em todo o país e além. O conforto e a segurança dos seus<br />

passageiros tiveram por isso prioridade na configuração das<br />

suas viaturas, que contam com 63 bancos Luxline e diversos<br />

sistemas de segurança revolucionários.<br />

t<br />

APDL empenhada em resolver o<br />

descontentamento dos transportadores<br />

O sistema de gestão de terminais Navis4 é o mais utilizado<br />

em todo o mundo e já está a operar em Leixões,<br />

garantindo a interoperabilidade entre os diversos sistemas<br />

de informação do porto, na senda da digitalização<br />

e automação dos processos operacionais nos terminais<br />

de contentores.<br />

Com esta mudança, são esperados benefícios ao nível<br />

da eficiência de gestão operacional, designadamente<br />

na otimização da movimentação de contentores, pelo<br />

incremento da eficiência das suas operações marítimas,<br />

terrestres e ferroviárias, garantindo, pela padronização<br />

do sistema de transmissão de informação, a eficácia na<br />

interoperabilidade entre todos os ativos da operação e<br />

sistemas de informação.<br />

t<br />

O Navis4 – Terminal Operating System (TOS), implementado<br />

pelo operador do terminal de contentores<br />

de Leixões (Yilport) entrou em funcionamento no dia<br />

16 de janeiro, decorrendo a normal fase de ajustamento<br />

às especificidades do porto de Leixões.<br />

Lightyear e a Arval unem<br />

forças para uma mobilidade<br />

sustentável<br />

A Lightyear, empresa holandesa de<br />

alta-tecnologia responsável pelo<br />

primeiro carro elétrico movido a<br />

energia solar do mundo, o Lightyear<br />

0, assinou um contrato de pré-encomenda<br />

com a Arval, a empresa líder<br />

na Europa em renting multimarca,<br />

com um serviço completo, e um<br />

dos principais intervenientes no<br />

mercado de soluções de mobilidade<br />

sustentável. A pré-compra engloba<br />

10.000 veículos do Lightyear 2, o<br />

modelo generalizado de consumo<br />

acessível da Lightyear. Assim, a<br />

empresa pode contar com um novo<br />

parceiro privilegiado para permitir aos<br />

clientes corporativos e consumidores<br />

experienciar a mobilidade elétrica<br />

solar nos mercados-chave da Arval<br />

na Europa. As pré-encomendas do<br />

Lightyear 2 por parte dos parceiros<br />

B2B ultrapassam agora o valor total<br />

de 21.000 veículos, correspondendo a<br />

uma receita total de cerca de<br />

840 milhões de euros.<br />

t<br />

e-MOBILIDADE 9


10 e-MOBILIDADE


Segway-Ninebot<br />

A empresa global de<br />

tecnologia apresenta três<br />

novos modelos de trotinetes,<br />

incluindo uma para<br />

crianças. Uma nova scooter<br />

elétrica e um kart também<br />

são novidade.<br />

lança novas<br />

OPÇÕES<br />

de mobilidade urbana<br />

Depois de atingir uma produção<br />

acumulada de 10 milhões de<br />

scooters, a empresa está a fornecer<br />

a atual gama de produtos<br />

com quatro novas séries de trotinetes.<br />

Além disso, a Segway-Ninebot anuncia a<br />

sua entrada no mercado de trotinetes da categoria<br />

L3e-A1 com um novo produto,<br />

ao mesmo tempo que oferece<br />

diversão para toda a família com<br />

o novo Gokart PRO.<br />

MAX G2, A TROTINETE<br />

DEFINITIVA PARA IR<br />

TRABALHAR<br />

Quando Segway-Ninebot fala sobre<br />

este novo modelo de trotinetes,<br />

refere-se à melhor experiência<br />

de condução: um poderoso motor<br />

de tração traseira com uma potência<br />

máxima de 900W, capaz de subir<br />

declives de até 22% sem problemas, pneus<br />

anti-furos sem câmara de ar de 10 polegadas<br />

e maior autonomia. Tudo graças à tecnologia<br />

recém-desenvolvida chamada RideyLongTM!<br />

Esta sincronização entre o motor de alto<br />

desempenho, os pneus de fórmula de longo<br />

alcance recentemente desenvolvidos e os algoritmos<br />

otimizados do controlador proporciona<br />

uma autonomia extra-longa de até 70 km com<br />

uma única carga.<br />

A Segway-Ninebot<br />

anuncia a sua entrada<br />

no mercado de trotinetes<br />

da categoria<br />

L3e-A1 com um novo<br />

produto, ao mesmo<br />

tempo que oferece<br />

diversão para toda a<br />

família com o novo<br />

Gokart PRO<br />

e-MOBILIDADE 11


Em comparação com o seu antecessor<br />

de sucesso, o MAX G2, oferece novas<br />

funcionalidades para melhorar a condução.<br />

A suspensão hidráulica dianteira e<br />

a suspensão traseira de mola dupla adicionam<br />

ainda mais conforto ao passeio.<br />

Os piscas integrados num guiador mais<br />

largo, juntamente com o alarme antirroubo<br />

e o sistema de controlo de tração<br />

(TCS), são uma garantia de segurança.<br />

O recurso “Apple Find My” facilita a<br />

localização do seu dispositivo.<br />

UMA POTENTE TROTINETE DE<br />

GAMA MÉDIA EQUIPADA PARA OS<br />

MAIS EXIGENTES<br />

A série F2 é composta por 3 modelos:<br />

F2, F2 Plus e F2 Pro. Tem um guiador<br />

mais largo para maior estabilidade, piscas<br />

integrados para viagens mais seguras<br />

e pneus de 10 polegadas sem câmara<br />

para uma condução mais confortável.<br />

A combinação de motores mais potentes<br />

e maior duração da bateria cria o<br />

equilíbrio perfeito para os utilizadores<br />

mais exigentes. Além disso, com tração<br />

traseira, travão de disco dianteiro, travão<br />

eletrónico traseiro e controlo de tração<br />

para superfícies escorregadias, a Série F2<br />

garante a máxima segurança. E se procura<br />

mais conforto, o F2 Pro oferece ainda<br />

suspensão dianteira na parte superior.<br />

Tudo isso, juntamente com o recurso<br />

“Find My” da Apple, é projetado para<br />

manter o utilizador e a sua trotinete<br />

protegidos.<br />

MOSTRANDO ÀS CRIANÇAS O QUE<br />

É DIVERSÃO!<br />

Com a Série C2, existem duas novas trotinetes:<br />

a C2 e a C2 Pro. Seja qual for a<br />

sua idade e altura, existe um dispositivo<br />

dedicado para cada criança. Ambos têm<br />

recursos de segurança, como travões de<br />

tambor e quadros mais robustos para<br />

dar tranquilidade aos pais. Além disso,<br />

o C2 Pro tem um limitador de velocidade<br />

que os pais podem ajustar através<br />

do aplicativo móvel (com alto-falante<br />

Bluetooth integrado). Se os pais sentem<br />

que seus filhos estão a crescer muito<br />

rápido, o poder do C2 Pro é projetado<br />

para se ajustar e aumentar facilmente,<br />

dependendo das suas necessidades.<br />

TROTINETES ELÉTRICAS QUE SE<br />

MOVEM PARA O FUTURO<br />

Nos maiores mercados de scooters<br />

L1e-B da Europa, o segmento elétrico<br />

cresceu de 3% para 38% apenas nos<br />

AS TROTINETES PERFEITAS<br />

PARA SAIR E EXPLORAR<br />

O Segway-Ninebot tornou as<br />

deslocações eficientes de última<br />

milha ao alcance de todos. A série<br />

E2, com as trotinetes E2 e E2<br />

Plus, é extremamente acessível<br />

e prática graças ao seu design<br />

ao estilo de surf, o novo painel<br />

expandido, pneus sem câmara<br />

duráveis para uma melhor<br />

absorção de choques, um sistema<br />

de travão duplo e um motor<br />

potente para cobrir distâncias<br />

mais curtas.<br />

12 e-MOBILIDADE


hidráulicos dianteiros e traseiros com<br />

pinça de pistão duplo que oferecem<br />

uma travagem mais potente quando<br />

necessário.<br />

Os bancos são mais largos e transmitem<br />

uma sensação de estilo e conforto,<br />

com 34 litros de espaço de armazenamento<br />

para guardar os seus pertences<br />

ou dois capacetes abertos. O sistema<br />

Airlock da RideyGo permite ao utilizador<br />

ligar e desligar a sua eScooter<br />

automaticamente através de Bluetooth.<br />

últimos 6 anos. Em apenas um ano, a<br />

Segway assumiu o primeiro lugar em<br />

participação de mercado na Holanda, o<br />

maior mercado da Europa. Essa rápida<br />

transição de trotinetes com motor de<br />

combustão a gasolina para elétricas também<br />

pode ser esperada no segmento de<br />

mercado L3e-A1 mais potente, no qual<br />

a Segway-Ninebot anuncia seu mais<br />

recente modelo.<br />

A trotinete elétrica E300SE oferece<br />

aceleração extrema, de 0 a 50 km/h<br />

em apenas 2,89 segundos. Com uma<br />

longa autonomia de até 130 km, uma<br />

velocidade máxima de 105 km/h e uma<br />

terceira bateria opcional colocada sob o<br />

assento, a autonomia pode ser aumentada<br />

em aproximadamente 50%. Cada<br />

bateria está equipada com um sistema<br />

inteligente de gestão de energia com o<br />

objetivo de oferecer proteção adicional,<br />

maximizar a segurança e prolongar a<br />

vida útil da bateria. O modelo inclui<br />

ABS e um sistema de controle de tração<br />

inteligente para proporcionar mais<br />

segurança e controle máximo em todos<br />

os terrenos urbanos. Travões de disco<br />

CORRIDA ATÉ A LINHA DE CHEGADA<br />

O Ninebot Gokart PRO é o dispositivo<br />

que os fãs de kart estão à espera.<br />

Redesenhado de baixo para cima, o<br />

Gokart PRO é uma versão completamente<br />

nova do seu antecessor, tendo<br />

em conta que o tamanho e a velocidade<br />

são ajustáveis e se adaptam de<br />

acordo com a necessidade do adulto<br />

ou da criança.<br />

A aplicação inclui quatro modos<br />

diferentes de condução segura, desde<br />

o modo seguro até ao modo estrada.<br />

Com um rendimento desportivo de 40<br />

km/h, uma aceleração de 1,02 G ecapacidade<br />

de derrapagem, este modelo<br />

supera os GoKarts tradicionais de<br />

125 cc com total segurança. +<br />

PREÇOS E DISPONIBILIDADE<br />

Todos estes novos produtos serão<br />

adicionados à gama durante o primeiro<br />

semestre de 2023. Os prazos<br />

exatos variam dependendo das<br />

regiões e países da Europa.<br />

As especificações do produto, os<br />

preços e a disponibilidade no mercado<br />

europeu podem variar de país<br />

para país. Saiba mais em:<br />

https://es-es.segway.com/<br />

e-MOBILIDADE 13


Fim da venda<br />

de veículos<br />

poluentes<br />

a partir de 2035<br />

O Parlamento Europeu (PE) aprovou a<br />

proposta da Comissão Europeia que proíbe<br />

a comercialização na União Europeia (UE)<br />

de novos automóveis ligeiros de passageiros<br />

e comerciais exclusivamente movidos a<br />

combustíveis fósseis a partir de 2035.<br />

O<br />

texto já acordado com os Estados-membros<br />

da UE e aprovado com 340 votos a<br />

favor, 279 contra e 21 abstenções, define<br />

para o setor o caminho para se atingir as<br />

metas definidas no pacote Objetivo 55 e<br />

que prevê, nomeadamente, emissões nulas de dióxido de<br />

carbono (CO2) dos novos automóveis de passageiros e<br />

veículos comerciais ligeiros em 2035 - um objetivo para a<br />

frota da UE de reduzir em 100% as emissões de CO 2 produzidas<br />

pelos novos veículos relativamente a 2021. Os<br />

objetivos intermédios de redução das emissões para 2030<br />

são fixados em 55% para os automóveis de passageiros e<br />

em 50% para os veículos comerciais ligeiros.<br />

Os fabricantes que já vendem veículos com nível nulo<br />

ou baixo de emissões (entre 0 e 50 gramas de CO 2 /km,<br />

como veículos elétricos e híbridos recarregáveis com<br />

bom desempenho) são recompensados com objetivos de<br />

redução das emissões de CO 2 mais baixos, através de um<br />

mecanismo de incentivo. Este mecanismo será ajustado<br />

às tendências de vendas esperadas, sendo que de 2025 a<br />

2029, o valor de referência das vendas de veículos com<br />

nível nulo ou baixo de emissões é fixado em 25% para<br />

novos automóveis de passageiros e em 17% para novos<br />

veículos comerciais ligeiros. O incentivo será eliminado<br />

em 2030. +<br />

14 e-MOBILIDADE


e-MOBILIDADE 15


Energia para<br />

a cidade<br />

FIAT 500e<br />

O FIAT 500 nasceu, há mais de 60 anos, para ser um automóvel de cidade.<br />

Depois de ter feito sucesso numa reedição à escala que foi lançada em 2007 e que<br />

ainda se comercializa, chega agora ao mercado numa versão 100% elétrica que<br />

mostra ser uma solução de mobilidade ainda mais adequada para as deslocações<br />

diárias na urbe. O eMobilidade + conduziu o novo FIAT 500e e dá-lhe conta<br />

das primeiras impressões.<br />

Por Cátia Mogo<br />

O<br />

visual compacto e elegante é o<br />

mesmo que há muito o carateriza,<br />

com uma identidade italiana<br />

facilmente reconhecível. Agora, a<br />

FIAT mostra que é possível juntar<br />

a agilidade e o conforto à mobilidade mais sustentável,<br />

num modelo que já conta com mais de 1.5<br />

milhões de unidades produzidas. Não é só uma<br />

versão de emissões zero, é uma versão que nasceu<br />

de uma inédita aproximação que soube preservar<br />

o desenho genuíno do modelo original. Continua<br />

a ser um automóvel apetecível com apenas 3,6 m,<br />

ainda que cresça 6 cm em comprimento e largura,<br />

4 em altura e 2 cm na distância entre eixos face ao<br />

500 já conhecido.<br />

Mais pesado e com um centro de gravidade mais<br />

baixo do que o «irmão» a combustão, devido à<br />

colocação da bateria, foi submetido a ajustes da<br />

suspensão, que permitem uma condução mais<br />

dinâmica e segura. O eMobilidade + esteve ao<br />

volante do FIAT 500e versão Icon, com o motor<br />

de 118 cv (87 kW) e com a bateria de 42 kWh.<br />

Isto permite-lhe chegar aos 150 km/h de velocidade<br />

máxima, acelerando dos 0 aos 50 km/h em 3,1<br />

segundos e dos 0 aos 100 km/h em 9 segundos.<br />

A marca anuncia 320 km de autonomia em ciclo<br />

combinado ou 456 km em ciclo urbano, um valor<br />

que, na realidade, deve rondar os 250 km com a<br />

bateria a 100%.<br />

Aos comandos é um automóvel mais confortável,<br />

com mais espaço e ergonomia mais bem resolvida,<br />

que já conta com regulação do volante em altura<br />

e profundidade. Tudo concentrado num tablier<br />

moderno e totalmente digitalizado com o ecrã do<br />

painel de instrumentos em destaque e o da consola<br />

central de 10,25” (de 7” nas versões base),<br />

sobre o qual se gere de forma tátil o ambiente<br />

configurável do seu completo sistema multimédia.<br />

A fluidez de funcionamento é correta, mas na<br />

troca rápida entre algumas funções acaba por se<br />

baralhar um pouco.<br />

Pode ser conduzido de uma forma convencional<br />

16 e-MOBILIDADE


FIAT 500E<br />

O e-Mobilidade+ esteve ao volante<br />

do FIAT 500e versão Icon,<br />

com o motor de 118 cv (87 kW)<br />

e com a bateria de 42 kWh. Isto<br />

permite-lhe chegar aos 150<br />

km/h de velocidade máxima,<br />

acelerando dos 0 aos 50 km/h<br />

em 3,1 segundos e dos 0 aos<br />

100 km/h em 9 segundos.<br />

e-MOBILIDADE 17


Tudo concentrado num<br />

tablier moderno e totalmente<br />

digitalizado<br />

com o ecrã do painel<br />

de instrumentos em<br />

destaque e o da consola<br />

central de 10,25” (de 7”<br />

nas versões base), sobre<br />

o qual se gere de forma<br />

tátil o ambiente configurável<br />

do seu completo<br />

sistema multimédia<br />

(acelera e trava em modo Normal) ou<br />

só com um pedal nos modos Range e<br />

Sherpa (que limita prestações e otimiza<br />

a energia para aumentar a autonomia);<br />

nestes casos, a desaceleração ao soltar o<br />

pedal do acelerador é tão acentuada que<br />

é possível evitar a utilização do travão<br />

na maioria das situações, não sem antes<br />

nos acostumarmos a uma progressividade<br />

melhorável a velocidades mais<br />

reduzidas.<br />

Com a bateria de 42 kWh (dos quais<br />

37,3 kWh recarregáveis) e um consumo<br />

energético comedido (médias de 15<br />

kWh), garante uma autonomia real, não<br />

a homologada, acima dos já referidos<br />

200 km. Mais do que suficiente para<br />

um 500 urbano que se carrega numa<br />

tomada doméstica em 15 horas. Contudo,<br />

o seu carregador integrado permite<br />

potências de 11 kW em AC e 85 em DC<br />

(carga rápida) para agilizar o processo.<br />

Surpreende igualmente a aposta na<br />

segurança: tem sistema de travagem de<br />

emergência de série com deteção de<br />

peões e ciclistas, assistente de manutenção<br />

na faixa de rodagem e ainda cruise<br />

control ativo com centragem na faixa<br />

de rodagem (condução semi autónoma<br />

nível 2), tudo de série.<br />

O preço do veículo testado, já com opcionais<br />

é de 33.022€, mas está prevista<br />

a chegada de uma versão com uma bateria<br />

de menor capacidade e com menos<br />

equipamento, cujo preço começará nos<br />

23.800€. +<br />

18 e-MOBILIDADE


ANDA CONSIGO<br />

QUANDO ESTACIONA<br />

De norte a sul do país,<br />

sem moedas.<br />

Nos parquímetros<br />

com a App Via Verde<br />

Miguel Oliveira<br />

Piloto de MotoGP<br />

e-MOBILIDADE 19


20 e-MOBILIDADE


VIDA EM MOVIMENTO<br />

Volkswagen<br />

ID.Buzz<br />

Cargo<br />

O eMobilidade + esteve ao volante do novo ID.BUZZ Cargo, que se apresenta<br />

como um dos veículos mais avançados e sustentáveis da atualidade,<br />

mantendo o design e personalidade que lhe é caraterístico.<br />

Por Cátia Mogo<br />

Setenta anos depois do lançamento da<br />

sua primeira geração, a Volkswagen Veículos<br />

Comerciais mostra o novo «Pão<br />

de Forma», agora totalmente elétrico.<br />

Uma aposta estética que alia nostalgia<br />

à modernidade, fazendo virar cabeças à sua<br />

passagem, graças ao design inovador, contudo,<br />

indissociável das versões anteriores.<br />

Tal como na versão original, a forma sucede<br />

a funcionalidade, com foco na segurança e na<br />

tecnologia, e com uma aerodinâmica melhorada,<br />

o que, naturalmente, reduz os consumos de<br />

energia. O ID.BUZZ mantém a «boa disposição»<br />

pela qual já é conhecido, com uma interessante<br />

mescla de cores e materiais. A versão Cargo, mais<br />

vocacionada para o trabalho, traz um interior em<br />

cinzento escuro “Soul”, que pode ser combinada<br />

com qualquer cor escolhida para o exterior.<br />

É construído com base na plataforma Modular<br />

Electric Drive Kit (MEB) do grupo Volkswagen,<br />

cuja arquitetura permite um desenvolvimento<br />

evolutivo de software e tecnologia, que não só<br />

beneficia novos modelos como o ID. Buzz,<br />

mas também modelos já em comercialização,<br />

através de atualizações over-the-air.<br />

Compacta por fora, a versão Cargo conta com<br />

um interior bem aproveitado, sendo que os<br />

três lugares (que, opcionalmente, podem ser<br />

apenas dois) são confortáveis e suficientemente<br />

espaçosos para cumprir a sua função.<br />

O ID.Buzz Cargo tem 3,9m 3 de espaço de<br />

carga, o que permite transportar duas europaletes.<br />

A versão de passageiros, por seu turno,<br />

tem cinco lugares e uma bagageira com 1.121<br />

litros de capacidade, que ascende aos 2.205<br />

litros, se a segunda fila de bancos for rebatida.<br />

Em ambos os modelos há 2.988 mm de distância<br />

entre eixos, com os veículos a medirem<br />

4.712 mm de comprimento e 1.985 mm de<br />

largura (mais 81 mm do que a versão anterior,<br />

a T6.1). O ângulo de viragem, como pudemos<br />

comprovar, é surpreendentemente pequeno,<br />

com 11,1 metros, facilitando todo o tipo de<br />

operações em cidade. ><br />

e-MOBILIDADE 21


AUTONOMIA IMBATÍVEL<br />

É um dos furgões que anuncia, atualmente, maior<br />

autonomia no mercado, podendo ir aos 425 km<br />

entre carregamentos. A bateria de 77 kWh fornece<br />

corrente a um motor elétrico de 150 kW (204 cv)<br />

que - tal como o motor da primeira Pão de forma<br />

- propulsiona o eixo traseiro. A bateria de iões de<br />

lítio está colocada abaixo do piso, o que não retira<br />

qualquer espaço ao interior do veículo e resulta<br />

numa condução mais fácil e ágil, com um centro de<br />

gravidade mais baixo.<br />

A bateria pode ser carregada em corrente alternada<br />

de 11 kW ou através de uma ligação de ficha CCS<br />

numa estação de carregamento rápido de corrente<br />

contínua, com a potência de carregamento a chegar<br />

aos 170 kW. Desta forma, o nível de carga da bateria<br />

vai dos 5 aos 80% em cerca de 30 minutos. Está<br />

previsto que, no futuro, esteja disponível a função<br />

«Plug & Charge», que permitirá ao ID. Buzz autenticar-se<br />

em postos de carregamento rápido compatíveis<br />

através da ligação de carregamento com o<br />

standard ISO 15118. Além disso, o ID.BUZZ dispõe<br />

de carregamento bidireccional, podendo alimentar<br />

energia não necessária da bateria na rede doméstica,<br />

através de uma wall box especial (veículo-casa).<br />

A autonomia estimada é superior a 300 km.<br />

Em estrada, o ID.BUZZ mostra uma prestação muito<br />

positiva, com uma resposta praticamente instantânea às<br />

solicitações, muito por conta dos 310 Nm de binário. +<br />

COCKPIT DO ID.BUZZ<br />

O cockpit do ID.Buzz tem tanto de<br />

ergonómico como de tecnológico,<br />

com ambos os ecrãs a assemelharem-<br />

-se a tablets flutuantes no painel<br />

de instrumentos<br />

22 e-MOBILIDADE


ID.BUZZ<br />

O ID.BUZZ mantém<br />

a «boa disposição» pela qual<br />

já é conhecido, com uma<br />

interessante mescla de<br />

cores e materiais<br />

INTERIOR MINIMALISTA<br />

O ID.BUZZ Cargo foi concebido para aplicações<br />

profissionais, mas não descura, a par da mobilidade<br />

elétrica e digital, os sistemas de assistência<br />

de última geração. No interior, segue a linha da<br />

família ID, com um ecrã tátil de 12’’ que inclui todas<br />

as informações sobre a condução, temperatura e<br />

navegação (que é um opcional) e ainda um painel<br />

de instrumentos digital, de 5,3’’, localizado atrás do<br />

volante. O furgão pode ter até sete tomadas USB,<br />

possui controlo por voz (Hello ID.) e carregamento<br />

do telemóvel por indução.<br />

O cockpit do ID.Buzz tem tanto de ergonómico<br />

como de tecnológico, com ambos os ecrãs a<br />

assemelharem-se a tablets flutuantes no painel<br />

de instrumentos. Nos sistemas de assistência,<br />

destaque para os alertas de perigo, assistente de<br />

estacionamento com função de memória e ainda<br />

para a condução semi-autónoma com controlo<br />

lateral e longitudinal a qualquer velocidade.<br />

Na versão Cargo, os lugares da frente são separados<br />

da caixa de carga por uma antepara fixa, que<br />

pode ter uma janela e uma abertura para carregar<br />

items. Surge, de série, com uma porta deslizante<br />

do lado do passageiro, sendo opcional a segunda<br />

porta lateral na caixa de carga.<br />

Os preços arrancam nos 44.000€.<br />

e-MOBILIDADE 23


MERCADO PORTUGUÊS RECEBE PRIMEIRAS<br />

Setra<br />

ComfortClass<br />

519 HD<br />

A empresa Rede Nacional de Expressos (RNE), do grupo<br />

Barraqueiro Transportes, recebeu as primeiras seis unidades<br />

produzidas da nova geração Setra ComfortClass<br />

519 HD este mês.<br />

Por Cátia Mogo<br />

Este modelo, que foi<br />

apresentado à imprensa<br />

no final do ano passado<br />

em Lisboa, recebeu um<br />

facelift da sua imagem<br />

exterior e interior em 2022, representando<br />

assim um conceito de autocarro<br />

multifuncional com os mais<br />

altos padrões de economia, segurança<br />

e flexibilidade. Esta atualização<br />

está disponível na série Setra 500 em<br />

nove comprimentos e configurações<br />

diferentes. A RNE é a maior empresa<br />

de autocarros a operar em Portugal,<br />

fundada em 1995 através da junção<br />

de várias empresas rodoviárias,<br />

efetua hoje viagens em todo o país e<br />

além. O conforto e a segurança dos<br />

seus passageiros tiveram por isso<br />

24 e-MOBILIDADE


SISTEMAS<br />

Os sistemas como Predictive<br />

Powertrain Control (equipamento<br />

de série) e Active Drive Assist 2<br />

contribuem não só para a<br />

segurança como também<br />

para a rentabilidade<br />

da viatura<br />

prioridade na configuração das suas<br />

viaturas, que contam com 63 bancos<br />

Luxline e diversos sistemas de segurança<br />

revolucionários.<br />

O conceito de segurança integral da<br />

Setra ajuda a prevenir acidentes com<br />

antecedência. A classe de conforto de<br />

última geração enfatiza um alto padrão<br />

de segurança com inovações impressionantes<br />

na área de sistemas de assistência.<br />

O Active Brake Assist 5 é o primeiro<br />

assistente de travagem de emergência<br />

do mundo para autocarros que deteta<br />

também pessoas em movimento ou<br />

paradas à frente do veículo. O sistema<br />

Active Drive Assist 2 permite a condução<br />

semiautomática pela primeira vez<br />

em autocarros. Ações como acelerar,<br />

travar, manter distância e permanecer<br />

na faixa são umas das funcionalidades<br />

deste sistema que funciona na conjunção<br />

de outros sistemas de segurança do<br />

veículo. Em situações pouco claras, o<br />

condutor pode também contar com as<br />

vantagens da câmara 360º, que permite<br />

uma visão panorâmica completa à volta<br />

da viatura, formada por quatro câmaras<br />

através de fusão de dados. E para uma<br />

visibilidade ainda melhor, os veículos<br />

vêm equipados com os novos faróis full<br />

LED com mais intensidade e Assistente<br />

de Máximos.<br />

Além dos sistemas de segurança, o<br />

conforto do condutor no seu posto de<br />

condução é também fundamental.<br />

e-MOBILIDADE 25


A ergonomia perfeita passa também<br />

por um conceito de operação e exibição<br />

uniforme e intuitivo do painel de<br />

instrumentos, que graças aos novos<br />

sistemas, se tornou ainda mais poderoso.<br />

Já os passageiros podem usufruir de<br />

um novo espaço generosamente abrangente<br />

que caracteriza as viagens neste<br />

modelo. Novos elementos de design,<br />

ventilações de ar com 360º, monitores<br />

e um WC tornam o compartimento do<br />

passageiro acolhedor e moderno.<br />

A rentabilidade desta nova geração é<br />

O conceito de segurança<br />

integral da Setra ajuda a<br />

prevenir acidentes com<br />

antecedência<br />

26 e-MOBILIDADE


SISTEMA ACTIVE DRIVE ASSIST 2<br />

Permite a condução semiautomática<br />

pela primeira vez em autocarros. Ações<br />

como acelerar, travar, manter distância e<br />

permanecer na faixa são umas das funcionalidades<br />

deste sistema que funciona<br />

na conjunção de outros sistemas de<br />

segurança do veículo<br />

otimizada de forma inteligente através<br />

dos novos sistemas de segurança.<br />

Os sistemas como Predictive Powertrain<br />

Control (equipamento de série) e Active<br />

Drive Assist 2 contribuem não só para<br />

a segurança como também para a rentabilidade<br />

da viatura. O condutor pode<br />

ainda contar com a Assistência Driver<br />

Score, que fornece constantemente<br />

feedback atualizado ao condutor<br />

para garantir um estilo de condução<br />

mais económico.<br />

Os sistemas digitais da OMNIplus<br />

ON também estão incluídos na configuração<br />

destas viaturas.<br />

Desta forma, o cliente poderá não só<br />

gerir a sua frota como principalmente<br />

antecipar eventuais manutenções necessárias<br />

e evitar imobilizações.<br />

Os passageiros usufruem assim de uma<br />

experiência de viagem ainda mais exclusiva,<br />

característica marcante da marca<br />

Setra que celebrou recentemente o seu<br />

70. aniversário. Para os admiradores da<br />

marca, a inclusão do emblema “K” na<br />

frente da viatura, que representa “Kässbohrer”,<br />

destaca com orgulho as origens<br />

e a herança da marca Setra. +<br />

e-MOBILIDADE 27


28 e-MOBILIDADE


TIC(s) de Mobilidade<br />

Nem MaaS,<br />

No seu conceito mais<br />

puro, o MaaS, acrónimo<br />

de Mobility-as-a-Service,<br />

pretende satisfazer todas as<br />

necessidades de mobilidade<br />

através da subscrição de<br />

um conjunto alargado de<br />

serviços públicos, possibilitando<br />

(ou, mais do que<br />

isso, visando) tornar desnecessária<br />

a posse de carro.<br />

nem meio<br />

MaaS?<br />

Por Manuel Relvas<br />

FOTOS ARTIGO: PIXABAY.COM | CANVAS PRO | FREEPIK<br />

Para tal, o chamado MaaS Provider,<br />

oferece pacotes de serviços, vocacionados<br />

para diferentes perfis de<br />

mobilidade, com o forte argumento<br />

da previsibilidade de um preço fixo.<br />

Afinal, um conceito muito parecido com o que,<br />

com tanto sucesso, vingou no mercado das<br />

telecomunicações. Mas mesmo uma ideia tão<br />

boa como esta, precisa de ser viável para sair do<br />

papel. Ou seja, é preciso que alguém queira ser<br />

MaaS Provider, e é aqui que algumas dificuldades<br />

surgem no horizonte.<br />

Começando pelos “pormenores técnicos”, há<br />

o tema dos pagamentos que, com um modelo<br />

desta complexidade, têm de ser necessariamente<br />

automáticos e, portanto, eletrónicos. Durante<br />

muito tempo, os modelos e valores das comissões<br />

bancárias foram barreiras sérias. Entretanto,<br />

com a pressão das FinTech e os movimentos<br />

dos gigantes Visa e Master Card, este é hoje um<br />

problema gerível.<br />

Outro “detalhe técnico” é o da necessidade de<br />

integração entre os sistemas informáticos dos<br />

MaaS Providers e dos operadores, no sentido de<br />

permitir a disponibilização, cobrança e remuneração<br />

dos serviços. Com a crescente digitalização<br />

dos operadores, muito por força das suas<br />

próprias aplicações móveis, esta integração está<br />

hoje também facilitada. Mas, embora viável,<br />

Talvez não com um<br />

verdadeiro MaaS,<br />

mas com um “meio<br />

MaaS”, algo que estenda<br />

o conceito da<br />

multimodalidade do<br />

transporte coletivo<br />

a outros meios de<br />

mobilidade<br />

não é trivial: faltam normas e exigem trabalho no<br />

detalhe, mas isso será objeto de outro artigo...<br />

Ultrapassados os “problemas técnicos”, fica para<br />

o fim o grande busílis: o modelo de negócio.<br />

O primeiro modelo de que nos lembramos é o do<br />

negócio propriamente dito, o que exige operações<br />

geradoras de margem para pagar a estrutura e<br />

remunerar o investimento. E margem é coisa que<br />

e-MOBILIDADE 29


TIC(S) DE MOBILIDADE<br />

Nem MaaS, nem meio MaaS?<br />

não resulta nada óbvia do cruzamento é aqui que entra o “detalhe técnico”<br />

daquilo que os operadores podem dispensar<br />

com a expectativa / disponibili-<br />

os operadores: no estágio atual, não<br />

da integração do MaaS Provider com<br />

dade que os clientes têm para pagar. consegue ser feita à velocidade que<br />

O modelo só descola se houver uma um unicórnio dos grandes precisa<br />

massificação, e uma grande massificação.<br />

O que torna críticas algumas futuro menos imediato, o movimento<br />

para levantar voo. Será que, num<br />

das coisas que foram ficando ditas: MaaS encontrará caminhos alternativos<br />

que evitem estas integrações de-<br />

a substituição do carro para libertar<br />

orçamento familiar, a capacidade negocial<br />

sobre as comissões bancárias e para um próximo artigo...<br />

masiado morosas? Isso ficará também<br />

a integração de um leque diversificado Mas ainda não estão esgotadas<br />

de operadores, para que as necessidades<br />

de mobilidade sejam preenchidas pública. Talvez não com um ver-<br />

todas as vias, há sempre a iniciativa<br />

de A a Z.<br />

dadeiro MaaS, mas com um “meio<br />

É o eterno dilema do ovo e da galinha. MaaS”, algo que estenda o conceito<br />

Sem serviço não há clientes e sem da multimodalidade do transporte<br />

clientes não há serviço. Para quebrar coletivo a outros meios de mobilidade.<br />

Um agente facilitador e indutor<br />

este impasse, na dimensão do que se<br />

está a falar, é necessária uma disponibilidade<br />

brutal de capital. O que não “revolucionária” de substituir o velho<br />

da mudança, embora sem a ambição<br />

será um problema... se pudermos estar e fiel automóvel. Ainda não é o conceito<br />

na sua versão mais pura, mas<br />

a falar de um “unicórnio”, de preferência<br />

um unicórnio dos grandes! já não é nada mau, e será uma boa<br />

Para ser uma empresa deste tipo, que forma empregar o dinheiro público,<br />

vale muito dinheiro porque os investidores<br />

que nela põem muito dinheiro des e externalidades.<br />

com muitas e virtuosas internalida-<br />

acham que ela ainda vai valer ainda Assim haja engenho e arte (mais<br />

mais dinheiro, é imprescindível que visão e coragem...) para que esta boa<br />

possa crescer a um ritmo alucinante. E ideia floresça. +<br />

30 e-MOBILIDADE<br />

MANUEL RELVAS<br />

Formação em Engenharia Eletrotécnica e percurso na área das Tecnologias de Informação, iniciada<br />

na docência universitária e investigação/desenvolvimento de soluções tecnológicas para transportes.<br />

Evolução para a gestão empresarial, tanto em ambiente de start-up como de grandes organizações,<br />

assumindo responsabilidades de direção e administração com pelouros nas áreas de desenho de<br />

oferta, pré-venda, venda, gestão de contas e marketing. Intervenção atual como consultor independente,<br />

colaborando com Operadores, Gestores Intermodais e Autoridades de Transportes na<br />

definição e implementação de soluções tecnológicas de suporte à gestão da mobilidade de pessoas.<br />

(Linkedin: pt.linkedin.com/in/mrelvas).


FÓRUM<br />

MOBILIDADE<br />

& TRANSPORTES<br />

4 e 5 DE ABRIL | LISBOA<br />

2023<br />

9h00 – RECEÇÃO DE CONVIDADOS / WELCOME COFFEE<br />

O Fórum de Mobilidade & Transportes pretende dar o seu contributo,<br />

com o objetivo de ser um espaço de discussão entre os<br />

stakeholders do setor e dos diferentes ecossistemas que constituem<br />

o vasto espaço da mobilidade em Portugal. Entre os<br />

temas a debater, estão:<br />

• Futuro da Contratualização<br />

• O Plano Ferroviário Nacional<br />

• Os Desafios da Mobilidade Urbana<br />

• Expansão Aeroportuária da Região de Lisboa<br />

• A Transição Energética no setor marítimo-portuário<br />

• O Papel do Transporte Rodoviário nas cadeias de Transportes<br />

MAIS INFORMAÇÕES:<br />

Nuno Francisco<br />

Tlm: (+ 351) 965 557 366<br />

nunofrancisco@invesporte.pt<br />

Margarida Nascimento<br />

Tlm: 917 768 911<br />

margaridanascimento@invesporte.pt<br />

Rui Garrett<br />

Tel : (+ 351) 215 811 186<br />

ruigarrett@invesporte.pt<br />

PATROCINADORES<br />

LOCAL: GARE MARÍTIMA DE ALCÂNTARA DOCA ALCÂNTARA - 1350 LISBOA<br />

e-MOBILIDADE 31


VEÍCULOS COMERCIAIS ELÉTRICOS<br />

Revelado WATT eCV1<br />

A<br />

arquitetura inovadora e altamente<br />

flexível permite uma produção mais<br />

eficiente em termos de custos para<br />

veículos comerciais ligeiros elétricos<br />

a baixos volumes (menos de 5.000<br />

unidades por ano).<br />

Usando a plataforma proprietária da WEVC<br />

chamada PACES (Passenger And Commercial EV<br />

Skateboard), o chassis cabine e o furgão eCV1 podem<br />

servir para diversas aplicações comerciais ou<br />

ser produzidos para ir ao encontro de requisitos<br />

específicos dos clientes.<br />

A empresa Watt Electric Vehicle Company<br />

(WEVC), pioneira no design, engenheria e produção<br />

de veículos elétricos ligeiros e de médio<br />

volume, tanto sob a sua marca como para outras<br />

empresas, revelou um chassis cabine único<br />

eficiente e leve, que será a base da próxima geração<br />

de veículos comerciais elétricos ligeiros<br />

Desenhada para uma produção até 5.000 veículos<br />

por ano, a unidade inovadora e altamente<br />

flexível de 3,5t, com nome de código WATT eCV1<br />

permite várias aparências, facilitando a criação de<br />

modelos especiais para diferentes missões.<br />

A plataforma foi desenvolvida para apoiar os<br />

construtores de veículos, carroçadores e gestores<br />

de frota na transição para um futuro elétrico, a<br />

plataforma PACES cumpre os regulamentos ISO<br />

e os requisitos de segurança «European Small<br />

Series Tye Approval». ><br />

32 e-MOBILIDADE


Revelado<br />

WATT eCV1<br />

A Watt Electric Vehicle Company (WEVC) mostrou a sua nova plataforma de<br />

veículos comerciais elétricos.<br />

Por Cátia Mogo<br />

e-MOBILIDADE 33


VEÍCULOS COMERCIAIS ELÉTRICOS<br />

Revelado WATT eCV1<br />

TECNOLOGIA AVANÇADA<br />

DA PLATAFORMA, PRODUZIDA<br />

NO REINO UNIDO<br />

Flexível, escalável, leve e com uma<br />

relação positiva custo-benefício, a<br />

arquitetura PACES (Passenger And<br />

Commercial EV Skateboard) tem<br />

alumínio e cortes ultra precisos realizados<br />

com laser e peças de CNC<br />

dobradas que se interligam engenhosamente,<br />

com uma inovação<br />

técnica conhecida como FlexTech.<br />

O sistema «célula-para-chassis» significa que as baterias<br />

estão integradas na estrutura primária (em vez de estarem<br />

num pack separado), otimizando assim a robustez, minimizando<br />

o peso e maximizando a capacidade de carga. Em<br />

resultado, o design de folha limpa significa que o eCV1 não<br />

tem nenhum dos compromissos estruturais ou de peso inerentes<br />

à marioria dos designs dos VCL elétricos, muitos dos<br />

quais foram conversões dos veículos a combustão interna e,<br />

portanto, sob o constrangimento dos processos de produção<br />

em série em grande volume.<br />

Neil Yates, fundador e CEO da Watt Electric Vehicles diz<br />

estar “encantado por revelar o WATT eCV1. A nossa abordagem<br />

inédita aos desafios da indústria permite a transição<br />

para veículos comerciais ligeiros elétricos com missões<br />

específicas a custos eficientes. Abraçámos os princípios da<br />

enconomia circular no design, produção e operação dos<br />

nossos VCL para nos alinharmos especificamente com as<br />

crescentes restrições nas responsabilidades de sustentabili-<br />

34 e-MOBILIDADE


PESO<br />

CÓDIGO WATT ECV1<br />

Desenhada para uma produção até 5.000 veículos<br />

por ano, a unidade inovadora e altamente f lexível<br />

de 3,5t, com nome de código WATT eCV1 permite<br />

várias aparências, facilitando a criação de modelos<br />

especiais para diferentes missões.<br />

dade dos operadores de frotas. A indústria está a mover-<br />

-se rapidamente na direção de um futuro sem emissões,<br />

trabalhando com a WEVC e com a nossa plataforma<br />

eCV1 irá permitir aos clientes beneficiar de veículos<br />

comerciais ligeiros eletrificados exatamente à medida<br />

das suas necessidades”.<br />

Preparado para produções de baixo e médio volume,<br />

pode ser aplicado a veículos comerciais e de passageiros,<br />

seja com tração à frente, atrás, ou integral, permitindo<br />

à WEVC oferecer rapidamente uma vasta gama de produtos.<br />

Com uma capacidade de 5000 unidades por ano,<br />

as novas instalações da empresa britânica vai acolher a<br />

nova gama de veículos elétricos. +<br />

CABINE<br />

A gama eCV1 conta com uma posição central de<br />

condução que permite uma saída mais segura para<br />

o motorista, em qualquer que seja o lado da estrada<br />

que o veículo esteja estacionado. A cabine pode ser<br />

configurada com um, dois ou três lugares, com o<br />

grande parabrisas a fornecer um visibilidade soberba e<br />

tornando o veículo mais seguro para conduzir e mais<br />

simples de manobrar e estacionar. Além disso, outra<br />

das vantagens de ter uma condução central é o facto<br />

de permitir que os pilares A sejam reposicionados um<br />

pouco mais para dentro, reduzindo a área frontal.<br />

O design único da plataforma cria um espaço generoso<br />

interior para permanecer em pé, facilitando a entrada<br />

e saída da cabine, sendo opcional uma cabine com<br />

passagem interna, para veículos urbanos de entrega.<br />

Isto resulta num chassis cabine com um peso de<br />

1750 kg para uma gama entre as 3,5 t e as 4,25 t.<br />

e-MOBILIDADE 35


36 e-MOBILIDADE


ENTREVISTA<br />

Nuno Soares Ribeiro,<br />

VTM<br />

“Atuar apenas do lado da oferta<br />

de transporte público é insuficiente”<br />

Face aos desafios colocados diariamente à sociedade, no que diz respeito ao setor<br />

dos transportes, mais do que nunca é importante falar em sustentabilidade.<br />

O e-Mobilidade+ esteve à conversa com Nuno Soares Ribeiro, um dos sócios da VTM<br />

- empresa de consultoria em mobilidade e transportes - para tentar perceber que<br />

soluções podem ser apresentadas para a melhoria e o avanço sustentável da forma<br />

como os sistemas de transporte são concebidos, implementados e operados.<br />

Por Márcia Dores<br />

Com quatro décadas comemoradas em 2022,<br />

a VTM arrancou este ano com a expansão<br />

para Milão. O que significa para a empresa<br />

este novo desafio?<br />

É o nosso primeiro escritório fora da Península<br />

Ibérica. Com efeito, 2023 é o início da nossa<br />

quinta década, que acreditamos será uma nova<br />

fase da vida da empresa, após a incorporação<br />

de um novo sócio no final de 2022. Excetuando<br />

os clientes do setor público em Portugal e<br />

noutros países, que são uma importante parte<br />

da nossa atividade e razão da nossa existência,<br />

temos clientes de perfil crescentemente global,<br />

oriundos de inúmeras origens geográficas. Estes<br />

clientes proporcionam-nos o amadurecimento<br />

técnico e profissional das nossas equipas<br />

e projetam a nossa reputação à escala global.<br />

Milão é uma base importante de proximidade<br />

aos clientes italianos que já tínhamos, e que são<br />

relevantes para nós, mas também nos permite<br />

estarmos mais próximos de vários outros<br />

potenciais clientes, não apenas italianos, que já<br />

manifestaram a intenção de terem o nosso contributo<br />

na concretização dos seus investimentos, ou<br />

na melhoria das suas operações.<br />

Que marcos destaca na história e evolução<br />

da VTM?<br />

A VTM foi fundada em dezembro de 1982 por<br />

José Teles de Menezes (JTM), um profissional<br />

que foi uma referência no setor dos transportes ><br />

e-MOBILIDADE 37


Entrevista<br />

Nuno Soares Ribeiro, VTM<br />

em Portugal. A sua visão naquele momento era clara: Portugal<br />

não dispunha de oferta de consultoria em mobilidade e<br />

transportes compatível com os desafios que se colocavam à<br />

sociedade naquele momento. A constituição da VTM visava<br />

disponibilizar ao mercado (a clientes públicos e privados)<br />

uma oferta capaz de suprir essas necessidades.<br />

Em 1997 e 1999, JTM «convenceu» respetivamente a mim ao<br />

Manuel Líbano Monteiro (MLM) que o projeto da VTM fazia<br />

sentido e que era o desafio adequado àquele momento das<br />

nossas carreiras. MLM e eu já nos conhecíamos há vários anos<br />

e tivemos sempre um entendimento excecional.<br />

Em 2006, MLM e eu assumimos sozinhos a gestão da<br />

empresa com a saída de JTM. Diversificámos e crescemos<br />

significativamente em atividade, dimensão e diversidade dos<br />

perfis da equipa, no tipo de serviços prestados, no número e<br />

diversidade de clientes. Contudo, relevamos como peça central<br />

desse crescimento a sofisticação técnica e a compreensão<br />

das necessidades dos nossos clientes públicos e dos negócios<br />

dos nossos clientes do setor privado. Em 2014, decidimos<br />

que o nosso crescimento deveria ser global, em particular em<br />

mercados que exigissem sofisticação técnica nas abordagens,<br />

compatíveis com o nível que já tínhamos atingido, e que passaria<br />

por dispor de uma presença forte numa capital europeia<br />

que nos desse uma projeção global. Madrid era a opção mais<br />

evidente, até porque já tínhamos diversos clientes espanhóis,<br />

ou baseados em Madrid. Assim, em 2015 convidámos David<br />

Peña Perez (DPP) a juntar-se à equipa como sócio. DPP tinha<br />

sido nosso cliente durante vários anos e queria desenvolver<br />

um projeto individual de consultoria que se identificava muito<br />

com a forma com a VTM se posicionava. Conhecia bem a<br />

VTM e várias das pessoas da equipa. O encaixe foi perfeito no<br />

timing, mas também no perfil dele com o nosso. Passámos a<br />

ser 3 sócios, em 2015 iniciámos a atividade e em 2016 abrimos<br />

o escritório em Madrid. A partir desse momento aumentámos<br />

muito a nossa atividade em Espanha, no continente<br />

americano e voltámos a trabalhar em África depois de vários<br />

anos distantes desse mercado geográfico.<br />

No final de 2021 era para nós claro que os dois escritórios<br />

ibéricos precisavam de um reforço relevante numa geografia<br />

onde já operássemos, que tivesse presença relevante de clientes<br />

nossos e tivesse potencial de crescimento. Ponderávamos<br />

38 e-MOBILIDADE


FACE AOS OBJETIVOS DE DESCARBONIZAÇÃO,<br />

QUAIS SÃO AS TENDÊNCIAS E DESAFIOS<br />

QUE OBSERVA NA MOBILIDADE ATUAL?<br />

Parece-nos que a maioria dos stakeholders interiorizou<br />

bem a necessidade de contribuir para a descarbonização<br />

da mobilidade. Todos temos a obrigação de deixar um<br />

melhor planeta aos nossos filhos. Para além disso, há<br />

uma agenda clara da generalidade dos países com vista à<br />

descarbonização da mobilidade. As tendências são mais ou<br />

menos visíveis: eletrificação das frotas automóveis e de autocarros<br />

com alimentação a bateria, redução dos limites de<br />

velocidade nas cidades, introdução de zonas de difícil ou<br />

de nenhum acesso automóvel, favorecimento da mobilidade<br />

ativa e redução dos preços do transporte público.<br />

Ainda assim, verifica-se que a procura dos sistemas de<br />

transporte público nas maiores cidades e áreas metropolitanas<br />

ainda não recuperou os níveis pré-Covid. Há mesmo<br />

estudos em alguns países que indicam que muitas áreas<br />

metropolitanas nunca recuperarão esses níveis. Por outro<br />

lado, a utilização do transporte individual, na maioria dos<br />

casos, já ultrapassou os níveis pré-Covid. Esta é uma realidade<br />

já verificada nas áreas metropolitanas em Portugal.<br />

Considero que esta realidade, que deve ser alterada, ainda<br />

não foi bem interiorizada pela generalidade das autoridades<br />

de transportes e, por isso, ainda não estão a ser<br />

implementadas medidas para alterar este novo equilíbrio<br />

pós-pandemia, que é ainda mais favorável ao transporte<br />

individual do que antes. Desta forma, considero que o desafio<br />

de aumentar a relevância do transporte público e dos<br />

modos ativos na mobilidade é ainda maior do que antes<br />

da pandemia.<br />

FOTOS ARTIGO: PIXABAY.COM | CANVAS PRO | FREEPIK<br />

O uso do automóvel<br />

particular não tem<br />

impacto apenas ao<br />

nível das emissões<br />

atmosféricas<br />

várias opções. Entretanto,<br />

quando falámos<br />

com o Riccardo Mattei<br />

(RM) que ponderava dar<br />

uma orientação diferente<br />

à sua carreira, surgiu<br />

naturalmente a solução:<br />

Milão.<br />

O RM é um profissional<br />

reconhecido e de grande reputação na consultoria de transportes<br />

à escala global. Desenvolveu opiniões sobre como servir<br />

os clientes desta indústria que eram difíceis de concretizar<br />

nas grandes multinacionais de consultoria em que trabalhou.<br />

Queria construir algo pessoal que lhe permitisse concretizar<br />

as suas ideias. Como já nos conhecíamos todos há cerca de<br />

15 anos, compreendemos rapidamente que as suas ideias<br />

estavam alinhadas com as nossas, que o seu projeto pessoal<br />

assentava nos mesmos valores que o nosso e que ele encaixava<br />

nos nossos planos de crescimento. Em setembro de 2022<br />

concretizamos a entrada de RM como sócio.<br />

Assim, somos hoje uma empresa muito diferente daquela que<br />

foi fundada em 1982. Somos 23 profissionais de sete nacionalidades.<br />

Temos capacidade para oferecer serviços em seis<br />

idiomas e fazemo-lo habitualmente em quatro. Temos três es-<br />

critórios a funcionar plenamente em Lisboa, Madrid e Milão.<br />

Oferecemos serviços transversais no domínio do planeamento<br />

e operação de sistemas de transportes, a nossa equipa possui<br />

experiência de trabalho nos cinco continentes e estamos a<br />

trabalhar de forma recorrente em três ao longo dos últimos<br />

anos: Europa, África e Américas. Contudo, o nosso ADN atual<br />

mantém muitas das características iniciais: integridade, rigor,<br />

sigilo, permanente busca de soluções técnicas inovadoras, excelência<br />

na qualidade do serviço ao cliente e desenvolvimento<br />

pessoal e profissional dos membros da nossa equipa.<br />

A VTM apresenta-se como “o parceiro adequado de governos,<br />

agências e empresas públicas, empresas privadas, investidores<br />

e financiadores no desenho e na concretização<br />

de soluções que assegurem a melhoria e a sustentabilidade<br />

da forma como os sistemas de transporte são concebidos,<br />

implementados e operados”. De que forma considera<br />

que a empresa se diferencia neste âmbito?<br />

Não gosto de falar sobre as empresas que prestam, ou tentam<br />

prestar, serviços semelhantes aos nossos. Penso, contudo, que<br />

o mercado nos reconhece pelo sigilo e pelo elevado nível de<br />

atenção de dedicamos aos assuntos que os clientes nos confiam,<br />

pela profundidade e originalidade das nossas soluções<br />

e pela agilidade que tentamos sempre colocar no desenvol-<br />

e-MOBILIDADE 39


Entrevista<br />

Nuno Soares Ribeiro, VTM<br />

vimento dos projetos. Outra importante característica nas<br />

nossas relações com os clientes é a capacidade que temos de<br />

integrar conhecimentos transversais da indústria e de diferentes<br />

realidades culturais e geográficas. As nossas equipas são<br />

muito bem preparadas tecnicamente e são permanentemente<br />

expostas a desafios muito diferentes em ambientes geográficos<br />

e culturais muito distintos. Isso permite-nos projetar em cada<br />

projeto os conhecimentos adquiridos nestes diferentes ambientes.<br />

Na prática, muito mais do que a qualidade individual<br />

da nossa equipa é, principalmente, o que somos capazes de<br />

produzir em conjunto que é muito valorizado pelos clientes.<br />

Por fim, uma caraterística sempre presente nas relações que<br />

construímos é a não distinção entre clientes, ou projetos,<br />

seja pelo valor dos contratos, pela sua origem geográfica ou<br />

setorial dentro da indústria. Encaramos cada cliente e cada<br />

projeto como únicos.<br />

Afinal, o que é preciso para evoluir para uma mobilidade<br />

mais sustentável, reduzindo o uso do automóvel particular?<br />

Importa ter presente que o uso do automóvel particular não<br />

tem impacte apenas ao nível das emissões atmosféricas.<br />

O seu impacte negativo inclui o ruído, as vibrações, a intrusão<br />

visual, o consumo de espaço viário, a penalização dos<br />

tempos de viagem de todos os utilizadores de veículos que<br />

circulam nas vias rodoviárias e os custos económicos e sociais<br />

impostos pelos acidentes. Trabalhar em todas estas frentes é<br />

complexo, requer uma visão clara e equipas de profissionais<br />

competentes e com compreensão destas matérias.<br />

O uso do automóvel particular é uma comodidade pela qual<br />

a generalidade das pessoas está disposta a pagar. Frequentemente,<br />

mais do que seria de esperar. A título ilustrativo, refiro<br />

as conclusões de um trabalho que realizámos há algum tempo<br />

nos EUA sobre pré-disposição para pagar pelo uso do automóvel<br />

num corredor de acesso a uma grande área metropolitana.<br />

Concluímos, numa avaliação ex-post, e com base em<br />

evidências de comportamentos devidamente quantificados,<br />

que essa pré-disposição era cerca de duas vezes superiores ao<br />

que os estudos de grande qualidade e profundidade existentes<br />

indicavam e que, no caso dos segmentos economicamente<br />

mais afluentes, esta pré-disposição era cerca de quatro vezes<br />

superior à inicialmente expressa. Mesmo assumindo que na<br />

Europa estes múltiplos podem ser ligeiramente mais baixos,<br />

é notória a dificuldade de levar as pessoas a reduzir o recurso<br />

ao automóvel privado devido ao elevado valor que os seus<br />

utilizadores atribuem à conveniência da sua utilização.<br />

Acredito que a solução de curto prazo imporá trabalhar no<br />

aumento da perceção do custo do uso do automóvel e, em<br />

simultâneo, e nunca depois, melhorar expressivamente a qualidade<br />

da oferta do transporte público. A mais longo prazo, a<br />

solução passará por recuperar a teoria clássica e alterar a lógica<br />

de planeamento das atividades no território, concentrando-as<br />

para que o transporte público possa ganhar eficiência<br />

económica e operacional.<br />

Na minha opinião, claramente não é reduzindo os preços, ou<br />

tornando-os gratuitos. Estas são soluções que ajudam, mas que<br />

são muito onerosas para as autoridades de transportes em face<br />

dos resultados que geram. Por outro lado, e como referi anteriormente,<br />

temos hoje uma realidade muito diferente daquela<br />

que tínhamos em 2019 e não é possível continuar a pensar da<br />

mesma forma que antes da pandemia relativamente à alteração<br />

de comportamentos na mobilidade. Com efeito, o trabalho não<br />

presencial veio trazer novos desafios: a supressão de necessidades<br />

decorrentes da mobilidade obrigatória e a opção pelo<br />

transporte individual mais frequente nas deslocações por esse<br />

motivo, com uma rigidez à mudança que acredito que seja<br />

ainda maior que antes.<br />

A experiência em<br />

Portugal, e em todo o<br />

mundo, demonstra que<br />

atuar apenas do lado<br />

dos atributos da oferta<br />

de transporte público é<br />

insuficiente. Se pretendemos,<br />

e considero<br />

que devemos pretender,<br />

Temos a obrigação de<br />

deixar um melhor planeta<br />

aos nossos filhos<br />

E, por outro lado, como fazer com que as pessoas usem<br />

os transportes públicos?<br />

Pois essa é a chamada pergunta do milhão de euros.<br />

40 e-MOBILIDADE


USAR TRANSPORTES PÚBLICOS<br />

Nas áreas metropolitanas há que restringir ativamente<br />

o uso do automóvel privado, em particular<br />

nas viagens obrigatórias, isto é, nas deslocações<br />

casa-trabalho e casa-escola. Estas restrições poderão<br />

ser físicas e económicas<br />

e-MOBILIDADE 41


A OFERTA DE TRANSPORTE<br />

PÚBLICO É INSUFICIENTE<br />

Se pretendemos, e considero que<br />

devemos pretender, alterar a atual<br />

situação de aumento contínuo da<br />

utilização do automóvel privado,<br />

então devemos começar por<br />

compreender bem que realidades<br />

pretendemos alterar<br />

alterar a atual situação<br />

de aumento contínuo<br />

da utilização do automóvel<br />

privado, então<br />

devemos começar por<br />

compreender bem que<br />

realidades pretendemos<br />

alterar. Importa<br />

também compreender<br />

que uma medida que<br />

possa fazer sentido para<br />

as áreas metropolitanas<br />

pode não ser adequada às comunidades intermunicipais<br />

ou a cidades de menor dimensão, em particular àquelas de<br />

menor densidade populacional onde se torna excessivamente<br />

caro oferecer transporte público convencional, com elevadas<br />

frequências e comodidades modernas.<br />

Nas áreas metropolitanas há que restringir ativamente o uso<br />

do automóvel privado, em particular nas viagens obrigatórias,<br />

isto é, nas deslocações casa-trabalho e casa-escola. Estas<br />

restrições poderão ser físicas e económicas. As segundas têm a<br />

vantagem de gerarem simultaneamente fundos para investir e<br />

operar mais e melhores transportes públicos. Complementarmente,<br />

deverão ser fomentadas deslocações em modos ativos<br />

ou em transporte público nas viagens a realizar por outros<br />

motivos. Já fora das áreas metropolitanas, face à grande<br />

dispersão geográfica verificada nos sistemas de atividades,<br />

as soluções deverão ser de outro tipo, focando-se nomeadamente<br />

no reforço da oferta através de soluções flexíveis de<br />

transporte público e de desincentivo físico e económico do<br />

uso do automóvel.<br />

Tal como referi antes, estas medidas deverão a mais longo<br />

prazo ser combinadas com outras no domínio do planeamen-<br />

42 e-MOBILIDADE


to com vista à maior concentração de atividades junto aos<br />

principais interfaces de transportes. Desta forma, acredito que<br />

será possível proporcionar oferta de transporte público verdadeiramente<br />

competitiva (em frequência, tempo de viagem,<br />

comodidades complementares e custo) com o automóvel<br />

privado.<br />

Qual o papel da ferrovia no caminho para a mobilidade<br />

sustentável?<br />

O papel da ferrovia é central. O caminho é que pode ser mais<br />

acidentado do que todos que atuamos profissionalmente<br />

neste setor gostaríamos. É notório o esforço de investimento<br />

que se verifica atualmente em infraestruturas ferroviárias em<br />

Portugal. Contudo, importa ter presente que o retorno deste<br />

investimento depende em muito do que vierem a ser os serviços<br />

que operarão nestas infraestruturas: quantos comboios<br />

vão operar, com que padrão de serviço, com que tarifas ou<br />

soluções tarifárias, quantos passageiros vão<br />

transportar e, destes, quantos deixaram de utilizar<br />

o automóvel privado ou modos de transporte<br />

menos eficientes. No domínio comercial,<br />

isto é, na captação de passageiros para os serviços, creio que<br />

há ainda muito por fazer ao nível do desenho da oferta, que<br />

impactará nomeadamente nos investimentos necessários em<br />

material circulante.<br />

Há o risco claro de os investimentos realizados nas infraestruturas<br />

poderem não vir a gerar os benefícios potenciais caso<br />

os operadores não venham a ser capazes de servir o mercado<br />

potencial, ou de este ter sido deficientemente avaliado.<br />

Acredito que o maior envolvimento do setor privado pode<br />

trazer um melhor entendimento do mercado da mobilidade e<br />

melhor adequação da oferta, nomeadamente no que se refere<br />

à qualidade do serviço, às soluções tarifárias e à complementaridade<br />

modal.<br />

No caso das áreas metropolitanas, tem faltado uma visão<br />

verdadeiramente multimodal que permita potenciar a vocação<br />

natural da ferrovia nos corredores suburbanos e a complementaridade<br />

com os serviços de autocarros, com o automóvel<br />

Há o risco claro de os<br />

investimentos realizados<br />

nas infraestruturas poderem<br />

não vir a gerar os benefícios<br />

potenciais caso os operadores<br />

não venham a ser capazes de<br />

servir o mercado potencial,<br />

ou de este ter sido deficientemente<br />

avaliado<br />

e-MOBILIDADE 43


Entrevista<br />

Nuno Soares Ribeiro, VTM<br />

privado e com os modos suaves. Perdeu-se recentemente<br />

uma oportunidade boa quando se adjudicaram os contratos<br />

de prestação de serviços de transporte de passageiros por<br />

autocarro nas duas áreas metropolitanas. Contudo, e como<br />

os investimentos na ferrovia são lentos na sua concretização,<br />

considero que este é o momento adequado para se iniciarem<br />

estudos que permitam, ainda nesta década, implementar soluções<br />

de mobilidade em transporte público verdadeiramente<br />

competitivas com o automóvel privado.<br />

Qual considera ser o papel dos modos suaves para a mobilidade<br />

sustentável?<br />

Os modos suaves demonstraram o seu papel como solução<br />

first/last mile em deslocações longas e de modo principal em<br />

deslocações tipicamente mais curtas. Embora todos nós, de<br />

uma forma geral, conheçamos pessoas que fazem habitualmente<br />

deslocações longas, temos clara consciência de que são<br />

casos excecionais. A vocação exata destes modos está ainda<br />

em definição e dependerá sempre da qualidade das infraestruturas<br />

de suporte.<br />

Por outro lado, a introdução dos modos suaves na mobilidade<br />

em Portugal, processou-se, de uma forma geral, à «moda antiga»:<br />

construíram-se as infraestruturas na expectativa de que<br />

os utilizadores aparecessem. Há que reconhecer que houve<br />

vontade política, empenho técnico em planos com alguma<br />

fundamentação conceptual, mas muito pouco fundamentados<br />

no conhecimento do mercado dos potenciais utilizadores.<br />

Houve voluntarismo na expectativa de alterar comportamentos<br />

a partir da oferta de infraestruturas e de bicicletas partilhadas.<br />

Há ciclovias em locais irrazoáveis que levaram a que<br />

44 e-MOBILIDADE


PUB.<br />

hoje existam infraestruturas destas onde praticamente não<br />

passam ciclistas, porque não promovem ligações relevantes. O<br />

voluntarismo sem fundamentação adequada, e sem objetivos<br />

quantitativos, é insuficiente para gerar grandes êxitos.<br />

Contudo, passados vários anos, e desconsiderando as infraestruturas<br />

irrelevantes ou mal implementadas, a verdade é que<br />

o investimento foi feito e as infraestruturas existem. Desta<br />

forma, creio que a principal prioridade deveria ser rentabilizar<br />

os investimentos já realizados, divulgando a sua existência<br />

e promovendo o seu uso. Imediatamente a seguir deveria ser<br />

realizada uma avaliação objetiva (por oposição a decisões anteriores<br />

mais emocionais) relativa às necessidades de expansão<br />

das redes atuais antes de continuar o seu desenvolvimento.<br />

Complementarmente, creio que há ainda muito a fazer em<br />

termos de equipamentos e infraestruturas de apoio. Refiro-me<br />

a equipamentos, ou instalações, para guardar bicicletas e, no<br />

caso de edifícios públicos e empresas de maior dimensão,<br />

balneários de apoio aos utilizadores.<br />

Em termos de políticas públicas, na sua opinião, o que pode<br />

ser feito para mudar o paradigma da mobilidade como a<br />

vemos atualmente?<br />

Numa sociedade democrática, o paradigma atual não se altera<br />

nem rapidamente, nem com facilidade. Por outro lado, a<br />

mobilidade em geral e o planeamento de sistemas de transportes<br />

em particular são assuntos que devem ser tratados por<br />

especialistas, e com abordagens mais profundas e estruturadas<br />

do que aquelas que têm vindo a ser utilizadas na fundamen-<br />

e-MOBILIDADE 45


Entrevista<br />

Nuno Soares Ribeiro, VTM<br />

tação de muitas das medidas implementadas. Os especialistas<br />

em políticas públicas terão de compreender que o experimentalismo<br />

de impulso tem de dar lugar a soluções, mesmo que<br />

experimentais, que tenham sido alvo de estudo e avaliações<br />

prévias profundas e quantificadas. Estas análises devem ser<br />

realizadas por especialistas e não por pessoas motivadas, mas<br />

com limitada preparação específica.<br />

A mobilidade é uma necessidade derivada e decorre do<br />

funcionamento dos sistemas de atividades socioeconómicas.<br />

As pessoas deslocam-se para satisfazerem necessidades. O seu<br />

comportamento está estudado e há especialistas nesta matéria<br />

que devem apoiar os decisores públicos. É assim a prática nos<br />

países com os quais nos gostaríamos de comparar. O planeamento<br />

regional e urbano em Portugal nas últimas décadas<br />

favoreceu a dispersão do sistema de atividades, o que tornou<br />

as soluções de mobilidade menos eficientes. É mais difícil “canalizar”<br />

elevados fluxos de pessoas entre origens e destinos, o<br />

que, por sua vez, dificulta a operação de sistemas de transporte<br />

eficientes, como por exemplo os modos de transporte<br />

de base ferroviária. A ausência de oferta de transporte público<br />

de qualidade leva as pessoas a optarem pelo automóvel, que<br />

acaba por ser a solução mais prática para lidar com as necessidades<br />

de mobilidade entre pontos dispersos no território. Por<br />

outro lado, vivemos em Portugal atualmente um momento<br />

ímpar no que se refere à oportunidade para investir nas soluções<br />

alternativas ao uso do transporte<br />

privado. Sempre defendi que Portugal<br />

deveria aproveitar os ciclos de arrefecimento<br />

da economia, e de aumento do<br />

preço dos combustíveis fósseis, para<br />

investir na alteração comportamental<br />

face às opções modais. Sendo esta a<br />

perspetiva nos próximos anos, podemos<br />

estar perante uma oportunidade<br />

ímpar para iniciar esta alteração de<br />

comportamentos.<br />

A edição deste ano da Semana Europeia da Mobilidade teve<br />

como tema central «Melhores ligações» procurando realçar<br />

e fomentar sinergias entre pessoas e lugares para aumentar a<br />

consciência sobre a mobilidade sustentável e promover mudanças<br />

comportamentais a favor da mobilidade ativa. Este é<br />

um objetivo utópico ou atingível?<br />

Utópico não creio que seja. É legítimo e acredito que a sociedade,<br />

nas suas várias gerações, está mais sensibilizada para a<br />

necessidade de reduzir as emissões e o consumo de espaço<br />

público associados à mobilidade. Mas esta sensibilidade não<br />

é suficiente para resolver o problema. Assim, o desafio será<br />

assegurar que seremos capazes de mobilizar a sociedade para<br />

concretizar esse aumento que gostaríamos de ver na utilização<br />

de soluções de mobilidade ativa. Para isso, é importante<br />

dispor de informação muito atualizada sobre os padrões e<br />

necessidades de mobilidade atuais das populações que, em<br />

várias partes do território nacional são hoje muito diferentes<br />

daquelas que se verificavam antes da pandemia. Como referi<br />

anteriormente, há ainda um desconhecimento quantitativo<br />

Para já, a eletrificação<br />

das frotas automóvel através<br />

de veículos a bateria parece<br />

ser a tendência de curto<br />

e médio prazo<br />

sobre os hábitos de mobilidade pós-pandemia,<br />

que limitam o desenho das ações a<br />

implementar. Reduzindo esse desconhecimento<br />

estaremos em melhores condições<br />

de desenhar medidas concretas de<br />

alteração comportamental.<br />

Elétrico VS Hidrogénio: Qual a melhor<br />

opção?<br />

Creio que ao dia de hoje não é possível<br />

dar uma resposta inequívoca, considerando os rápidos avanços<br />

tecnológicos que se perspetivam nomeadamente ao nível<br />

da produção de energia elétrica - nomeadamente os pequenos<br />

reatores nucleares modulares e com a fusão nuclear - e do armazenamento<br />

de energia, que é algo central no que se refere<br />

ao peso, durabilidade e autonomia das baterias dos veículos<br />

automóveis. Se, por um lado os veículos elétricos a bateria<br />

parecem ser a única solução imediata para a descarbonização<br />

rápida da mobilidade em transporte individual, importa ter<br />

presente que a eletrificação da frota automóvel não foi uma<br />

opção da indústria. Foi sim uma escolha política em muitos<br />

países que, com legislação, incentivos fiscais e financeiros<br />

diretos e indiretos, estimularam a indústria automóvel a eletrificar<br />

as suas ofertas de veículos. A estas medidas há ainda<br />

que adicionar as proibições de acesso a partes de cidades<br />

por veículos mais poluentes, o que estimulou a compra de<br />

veículos menos poluentes, sejam estes veículos mais recentes<br />

movidos a combustíveis fósseis, eletrificados ou totalmente<br />

elétricos. Não é absolutamente claro ao dia de hoje que o au-<br />

46 e-MOBILIDADE


MOBILIDADE<br />

É mais difícil “canalizar” elevados<br />

fluxos de pessoas entre origens e<br />

destinos, o que, por sua vez,<br />

dificulta a operação de sistemas<br />

de transporte eficientes, como<br />

por exemplo os modos de transporte<br />

de base ferroviária<br />

(fuel cell), podemos vir a<br />

assistir no futuro a vários<br />

anos de coexistência de<br />

ambas as tecnologias<br />

quando a oferta comercial<br />

de veículos deste tipo<br />

tiver aceitação de mercado<br />

em termos de preço<br />

e de facilidade de acesso<br />

ao combustível. Para já,<br />

a eletrificação das frotas<br />

automóvel através de veículos<br />

a bateria parece ser a tendência de curto e médio prazo.<br />

Desta forma, penso que é demasiado cedo para se responder<br />

a esta questão de forma inequívoca, uma vez que em paralelo<br />

com os avanços das soluções movidas a hidrogénio, também<br />

a indústria das baterias, das soluções e das redes de carregamento<br />

estão a ter desenvolvimentos rápidos de relevantes<br />

para que os veículos elétricos com bateria se afirmem como<br />

alternativa.<br />

tomóvel elétrico a baterias seja a única solução para descarbonizar<br />

o setor dos transportes. Há fabricantes automóveis que<br />

o têm expressado claramente. Outros, têm dando prioridade<br />

ao desenvolvimento de veículos a hidrogénio (fuel cell). Contudo,<br />

esta parece não ser uma solução comercial imediata, ou<br />

de curto prazo, apesar do seu potencial. Acredito assim que,<br />

com os investimentos em curso na produção de hidrogénio<br />

e no desenvolvimento dos veículos de pilha de combustível<br />

O transporte marítimo vê as emissões crescerem (menos<br />

em 2020, devido à pandemia) e as previsões futuras não são<br />

animadoras. Como pode o transporte marítimo «navegar»<br />

para a sua descarbonização?<br />

Nesta indústria os desafios são enormes uma vez que a<br />

autonomia dos navios em navegação é um aspeto central.<br />

Assumindo o transporte marítimo no sentido mais amplo, há<br />

que referir que, por exemplo, a indústria de cruzeiros já deu<br />

um passo muito importante com a construção de inúmeros<br />

navios a gás. É um contributo relevante para a redução das<br />

emissões, embora insuficiente. Também em ligações short sea<br />

de mercadorias, o gás é uma solução já testada com algum<br />

êxito. Não são soluções de emissão zero, mas são um passo<br />

relevante na redução das emissões.<br />

Por outro lado, em ligações de passageiros, e em algumas<br />

e-MOBILIDADE 47


mistas de curta distância há já navios elétricos em operação.<br />

A Noruega foi pioneira com a introdução deste tipo de navios<br />

na navegação em águas protegidas. Portugal assumiu também<br />

um papel de vanguarda com a encomenda pela Transtejo de<br />

10 navios elétricos para o transporte de passageiros, dando<br />

assim um contributo relevante para a descarbonização<br />

da mobilidade de passageiros na travessia do Tejo na Área<br />

Metropolitana de Lisboa. Embora estas soluções sejam com<br />

baterias, há desenvolvimentos tecnológicos em curso também<br />

com soluções fuel cell.<br />

Creio que em navios de mercadorias de grande porte a operar<br />

em ligações longas, as soluções tecnológicas atuais são mais<br />

limitadas, embora estejam em estudo e teste variadas soluções<br />

como propulsão térmica e híbrida, mais eficientes e que<br />

geram menores emissões que as atuais propulsões. Assim,<br />

acredito que também este setor, que é dos mais poluidores no<br />

domínio dos transportes, assistirá a grandes avanços tecnológicos<br />

que permitirão reduzir progressivamente as suas emissões.<br />

Os horizontes de concretização é que ainda são incertos.<br />

Que bases deverão ser estabelecidas para permitir que<br />

os transportes concretizem a sua transformação ecológica<br />

e digital?<br />

Ambas as transformações têm múltiplas dimensões. Destas<br />

destaco a capacidade de investimento dos diversos stakeholders,<br />

as soluções tecnológicas disponíveis e em desenvolvimento,<br />

a gestão e organização, e a qualificação dos recursos<br />

humanos necessários para protagonizar a mudança e posterior<br />

gestão dos sistemas de transportes noutro paradigma.<br />

São tarefas complexas, mas concretizáveis. Outros países já o<br />

fizeram e já estão a implementar com base em planos perfeitamente<br />

definidos, assentes em análises e estudos detalhados<br />

que os fundamentaram. Creio que em Portugal este caminho<br />

já foi iniciado com várias medidas e investimentos muito<br />

relevantes nos vários modos de transporte, como por exemplo<br />

os veículos de transporte público de passageiros de baixas<br />

emissões e elétricos nas áreas metropolitanas, bem como os<br />

navios elétricos de passageiros em construção para operarem<br />

no estuário do Tejo. Contudo, e embora estejam orientados<br />

corretamente, não parecem obedecer a planos claros. Nestas<br />

transições falta orientação política clara que estabeleçam<br />

objetivos estratégicos, medidas a implementar, calendário e<br />

orçamentos. Creio que podemos aprender com os passos estruturados<br />

que outros países como o Reino Unido e os países<br />

escandinavos já deram e, dessa forma, ser muito mais eficazes<br />

e mais rápidos na concretização destas duas transformações.+<br />

48 e-MOBILIDADE


e-MOBILIDADE 49


ÚLTIMA MILHA<br />

Como a comunicação<br />

pode melhorar<br />

as entregas<br />

Todos gostamos de saber que uma encomenda está a chegar. Pode ser um novo eletrodoméstico, uma<br />

roupa comprada online ou mesmo uma refeição encomendada ao restaurante do bairro. Quando sabemos<br />

que está prestes a chegar é sempre uma boa sensação. Poucos consumidores percebem o trabalho<br />

que é necessário para que a sua encomenda lhe seja entregue em condições e o mais rapidamente<br />

possível. A sua experiência costuma resumir-se a fazer uns cliques num website online ou numa app<br />

de telefone, esperar algum tempo e logo receber a sua encomenda em casa.<br />

Por Filipe Carvalho<br />

Mas, para que isso aconteça,<br />

muitas atividades<br />

têm de ser desenvolvidas<br />

com sucesso,<br />

com a intervenção de<br />

várias pessoas, desde o abastecimento<br />

ao fabrico, e em especial no transporte<br />

e entrega. A entrega em casa quando<br />

a encomenda já está disponível num<br />

armazém próximo é habitualmente referida<br />

como entrega de «última milha».<br />

Esta entrega de última milha é a parte<br />

mais gratificante da experiência do<br />

cliente e, para as empresas, a parte mais<br />

cara e demorada do processo de envio.<br />

Alguns estudos 1 apontam que a última<br />

milha consome cerca de 53% de todo o<br />

custo da expedição.<br />

Por mais difícil que seja de executar, a<br />

entrega de última milha pode aumentar<br />

a faturação de uma empresa se feita de<br />

forma eficaz. De acordo com um estudo<br />

da Capgemini 2 a eficiência da entrega é<br />

determinante para atrair e reter clientes.<br />

O estudo indica que, quando os consumidores<br />

estão satisfeitos com os serviços<br />

de entrega de uma empresa, 74%<br />

50 e-MOBILIDADE


APPS MÓVEIS<br />

Uma app que apresenta o<br />

trajeto da viatura a chegar até ao<br />

cliente, e que permite interagir<br />

com o motorista ou vice-versa, é<br />

um canal privilegiado de comunicação<br />

ao longo do progresso<br />

da entrega.<br />

FOTOS ARTIGO: PIXABAY.COM | CANVAS PRO | FREEPIK<br />

aumentarão os gastos com uma empresa<br />

e 82% compartilharão a sua experiência<br />

positiva de entrega com amigos e familiares.<br />

Por outro lado, 48% dos clientes<br />

insatisfeitos deixam de comprar a essa<br />

empresa se a entrega for má.<br />

Nos últimos anos a tecnologia permitiu<br />

que a entrega de última milha alcançasse<br />

novos patamares de velocidade e<br />

eficiência, muito à custa das soluções<br />

de planeamento e optimização de rotas.<br />

Estas soluções otimizam todo o fluxo<br />

de operações desde o planeamento em<br />

armazém até à expedição e entrega,<br />

passando pelo controlo e monitorização<br />

das rotas em tempo real. No entanto,<br />

ainda existem problemas e desafios num<br />

mundo onde os consumidores esperam<br />

que as suas entregas lhes cheguem o<br />

mais rapidamente possível. Quando<br />

uma encomenda chega demasiado<br />

tarde, demasiado cedo, ou nem chega<br />

de todo, os consumidores sentem uma<br />

experiência muito negativa. Infelizmente,<br />

os imprevistos acontecem e<br />

numa cadeia logística há sempre riscos<br />

e incidências. Nesta situação, é muito<br />

importante comunicar assertivamente<br />

com os clientes.<br />

Mensagens<br />

Uma das formas mais frequentes de<br />

comunicação é o envio de uma mensagem<br />

de texto (SMS) ao cliente a avisar<br />

da faixa horária de entrega prevista.<br />

Esta comunicação pretende garantir<br />

que o cliente estará em casa na altura da<br />

Nos últimos anos, a<br />

tecnologia permitiu que a<br />

entrega de última milha alcançasse<br />

novos patamares<br />

de velocidade e eficiência,<br />

muito à custa das soluções<br />

de planeamento e<br />

optimização de rotas<br />

entrega e também dar-lhe visibilidade<br />

sobre o processo. No entanto, os clientes<br />

esperam que a faixa horária seja o mais<br />

estreita possível, por exemplo de uma<br />

ou duas horas. Quando recebemos uma<br />

mensagem a dizer que “a sua encomenda<br />

será entregue entre as 9h e as 18h” não<br />

ficamos particularmente agradados. Ninguém<br />

quer esperar o dia todo em casa<br />

por uma entrega.<br />

A tecnologia disponível, especialmente<br />

ao nível do planeamento de rotas,<br />

permite inferir a hora de chegada a cada<br />

cliente. Com base nisso, é possível enviar<br />

uma mensagem indicando uma faixa<br />

horária muito mais estreita e assertiva.<br />

Por outro lado, enquanto a viatura está<br />

na rua e vai executando as suas entregas,<br />

as tecnologias de monitorização<br />

por GPS ou de mobilidade ao serviço<br />

do motorista permitem acompanhar as<br />

incidências da rota em tempo real. Assim,<br />

conseguimos perceber que a hora<br />

prevista de chegada a um cliente não vai<br />

ser respeitada porque a viatura apanhou<br />

demasiado trânsito ou perdeu dema-<br />

e-MOBILIDADE 51


Tecnologias de Informação<br />

Última milha<br />

siado tempo nas entregas anteriores.<br />

Quando temos esta informação disponível<br />

a tecnologia ajuda mais uma vez a<br />

minimizar os danos. Por exemplo, um<br />

sistema pode estar automatizado para<br />

enviar uma mensagem aos clientes a<br />

avisar da nova hora prevista de chegada.<br />

No entanto, muitas vezes as mensagens<br />

não são suficientes.<br />

Telefonemas<br />

Quando o atraso é demasiado grande<br />

ou há uma alteração maior ou mais<br />

urgente, 54% dos consumidores prefere<br />

receber uma chamada telefónica do que<br />

uma mensagem de texto, de acordo com<br />

um estudo recente . Mas a comunicação<br />

com os consumidores via telefone<br />

nem sempre é fácil. Segundo o mesmo<br />

estudo, 60% dos inquiridos revelam<br />

não ter atendido uma chamada de uma<br />

loja por não terem reconhecido o número<br />

que lhes ligava. De facto, 90% 4 dos<br />

consumidores revela que não se sentem<br />

confortáveis em atender números desconhecidos,<br />

por razões diversas.<br />

Por este motivo, é importante que as<br />

empresas adoptem soluções tecnológicas<br />

que lhes permitam identificar-se<br />

devidamente perante os consumidores.<br />

Uma das tecnologias disponíveis para<br />

esse efeito são as soluções que permitem<br />

identificar o nome da empresa em<br />

vez de mostrar um número de telefone.<br />

COMUNICAÇÃO<br />

A comunicação de todo o processo<br />

de entrega é muito importante para<br />

a satisfação do cliente. No entanto<br />

verificamos que a generalidade das<br />

empresas ainda não está a responder<br />

devidamente a este desafio.<br />

Desta forma o consumir tem mais confiança<br />

em atender, porque a chamada é<br />

reconhecida e aparenta ser legítima.<br />

Outra tecnologia, são as apps móveis.<br />

Uma app que apresenta o trajecto da<br />

viatura a chegar até ao cliente, e que<br />

permite interagir com o motorista ou<br />

vice-versa, é um canal privilegiado de<br />

comunicação ao longo do progresso da<br />

entrega. Estas apps estão geralmente<br />

interligadas com o sistema de planeamento<br />

de rotas e trabalham automaticamente<br />

informando os clientes da hora<br />

prevista de chegada à medida que a rota<br />

vai sendo executada pelo motorista.<br />

Também informam em tempo real onde<br />

está a sua encomenda, do percurso que<br />

o motorista vai seguir até chegar a si e,<br />

claro, permitem estabelecer uma comunicação<br />

de voz com o cliente.<br />

A comunicação de todo o processo de<br />

entrega é muito importante para a satisfação<br />

do cliente. No entanto verificamos<br />

que a generalidade das empresas ainda<br />

não está a responder devidamente a este<br />

desafio. A tecnologia disponível, nomeadamente<br />

de planeamento, monitorização<br />

e execução de rotas, já se estende<br />

até à comunicação com o cliente e por<br />

isso é requerida num mundo cada vez<br />

mais competitivo que enfrenta os consumidores<br />

mais exigentes de sempre. +<br />

LINKS<br />

52 e-MOBILIDADE<br />

1<br />

https://www.insiderintelligence.com/insights/last-mile-<br />

-delivery-shipping-explained<br />

2<br />

https://www.capgemini.com/wp-content/<br />

uploads/2019/01/Report-Digital-–-Last-Mile-Delivery-<br />

-Challenge1.pdf<br />

3<br />

https://firstorion.com/press-release-2022-retail-industry-report/<br />

4<br />

https://firstorion.com/press-release-consumer-survey-<br />

-brand-impact-report/


PATROCINADORES:<br />

GARE MARÍTIMA DE ALCÂNTARA DOCA ALCÂNTARA | LISBOA<br />

MAIS INFORMAÇÕES:<br />

TLM: 917 768 911<br />

e-MOBILIDADE 53


COMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS<br />

Adeus<br />

gasóleo<br />

A União Europeia está comprometida em atingir a neutralidade<br />

carbónica até 2050 e a descarbonização do setor dos transportes<br />

- responsáveis por 25% do total das emissões de gases com<br />

efeito de estufa na Europa - é um dos pilares essenciais desta<br />

mudança. O caminho para esta transformação profunda na<br />

mobilidade como hoje a conhecemos pode ter várias abordagens<br />

e o e-Mobilidade+ foi tentar perceber se está ou não para breve<br />

o adeus aos motores a combustão.<br />

Estamos em 2023 e já nem<br />

olhamos com estranheza<br />

para o verão que nunca<br />

mais acaba, para as ondas<br />

de calor, as vagas de frio, os<br />

meses de seca ou as inundações em alturas<br />

inusitadas. As alterações climáticas<br />

são cada vez mais dramáticas e há vários<br />

anos que temos tomado consciência de<br />

que é preciso agir pelo futuro do nosso<br />

planeta. O debate na esfera pública<br />

intensifica-se e as medidas já estão<br />

a ser tomadas para minimizar as<br />

consequências das emissões de gases<br />

com efeitos de estufa. Entre elas, o<br />

Acordo de Paris, assinado por 195<br />

países, que visa limitar o aquecimento<br />

global em 1,5ºC, reconhecendo<br />

que isso reduzirá significativamente<br />

os riscos e impactos das alterações<br />

climáticas. A Europa ambiciona<br />

ser o primeiro continente com um<br />

impacto neutro no clima, pelo que já<br />

adotou um conjunto de propostas legislativas<br />

com o objetivo de tornar as<br />

políticas da União Europeia (UE) em<br />

matéria de clima, energia, transportes<br />

e fiscalidade aptas para alcançar uma<br />

redução das emissões líquidas de<br />

gases com efeito de estufa de, pelo<br />

menos, 55% até 2030 (por comparação<br />

com os valores registados em<br />

1990): o chamado «Fit for 55».<br />

54 e-MOBILIDADE


FOTOS ARTIGO: PIXABAY.COM | CANVAS PRO | FREEPIK<br />

A IMPORTÂNCIA DOS TRANSPORTES<br />

Fundamentais para o funcionamento da<br />

economia e para as cadeias de abastecimento<br />

mundiais, os transportes são,<br />

porém, responsáveis por 25% do total<br />

das emissões de gases com efeito de<br />

estufa na Europa, contribuindo consideravelmente<br />

para a poluição atmosférica<br />

e sonora, para a sinistralidade e para<br />

o congestionamento rodoviário. Deste<br />

modo, torna-se claro que para alcançar<br />

as metas propostas no sentido da descarbonização,<br />

são necessárias mudanças<br />

ambiciosas - para não dizer radicais<br />

- neste setor. Atualmente, os transportes<br />

rodoviários pesados são totalmente<br />

dependentes do gasóleo, produzido a<br />

partir do petróleo, que é um combustível<br />

fóssil não renovável praticamente<br />

omnipresente em tudo o que usamos e<br />

consumimos. Além de ser um recurso<br />

finito, gera graves consequências<br />

ambientais (e disputas políticas), tendo<br />

chegado a hora de procurar alternativas<br />

viáveis àquele que é conhecido como<br />

«ouro negro».<br />

O desafio da sustentabilidade é sério e<br />

foi lançado não só aos fabricantes, mas<br />

também às próprias cidades, que cada<br />

vez mais querem limitar a circulação de<br />

veículos com motores de combustão. A<br />

urgência da crise climática é indiscutível<br />

e todos almejamos um planeta mais<br />

limpo. Mas será que estamos verdadeiramente<br />

preparados para transformar a<br />

realidade que conhecemos?<br />

MOBILIDADE ELÉTRICA<br />

Por um ambiente mais limpo e também<br />

por cidades mais silenciosas, onde a<br />

sensação de bem-estar deve prevalecer,<br />

os construtores de automóveis estão a<br />

investir fortemente em tecnologias de<br />

tração elétrica. Muitas marcas já anunciaram<br />

que nos próximos anos deixarão<br />

de produzir modelos com motores de<br />

combustão interna, abraçando totalmente<br />

a nova mobilidade sem emissões<br />

a médio prazo. Ao mesmo tempo,<br />

Portugal é até um dos países da UE com<br />

mais postos de carregamento elétricos<br />

por cada 100 quilómetros e é notória<br />

a tendência crescente na procura dos<br />

veículos elétricos a bateria nos últimos<br />

anos. No entanto, é o segmento dos<br />

veículos pesados, em que aqui nos debruçamos,<br />

que se consubstancia como o<br />

calcanhar de Aquiles desta solução.<br />

Sendo certo que a tecnologia evolui dia<br />

após dia, ainda está longe o momento<br />

em que poderemos ver um camião<br />

elétrico a ter prestações semelhantes a<br />

um pesado movido a gasóleo numa rota<br />

de longo curso. O «super» camião da<br />

Tesla, o Semi, foi anunciado em 2017<br />

mas só cinco anos depois, em dezembro<br />

de 2022, foram entregues as primeiras<br />

unidades à Pepsi. O veículo tem uma<br />

autonomia de 800 quilómetros e pode<br />

ser carregado a 1 MW, anunciando uma<br />

HÁ MAIS A FAZER!<br />

Também no setor dos transportes e<br />

mobilidade há transformações que<br />

já começam a ser feitas, como seja a<br />

utilização crescente dos sistemas de<br />

partilha de equipamentos (bicicletas,<br />

trotinetes, scooters e até carros), a<br />

promoção do usos de transportes<br />

públicos, da ferrovia e dos modos<br />

suaves, como a criação de ciclovias e<br />

zonas pedonais e ainda o desenvolvimento<br />

de sistemas de integração de<br />

dados de transportes em tempo real,<br />

para a gestão interativa de sistemas<br />

de transportes coletivos.<br />

economia de 74.000 dólares/ano face a<br />

um camião similar a gasóleo.<br />

Precisamente em 2017, já Portugal<br />

estava um passo à frente no que toca à<br />

eletrificação de pesados e arrancava a<br />

produção em série do primeiro camião<br />

e-MOBILIDADE 55


Por um ambiente<br />

mais limpo e também<br />

por cidades mais<br />

silenciosas, onde a<br />

sensação de bem-estar<br />

deve prevalecer,<br />

os construtores de<br />

automóveis estão a<br />

investir fortemente<br />

em tecnologias de<br />

tração elétrica<br />

100% elétrico do mundo. Falamos,<br />

é claro, da FUSO eCanter, desenvolvida<br />

no Japão e construída na fábrica<br />

da Mitsubishi Fuso Truck Europe,<br />

no Tramagal, a cerca de 140 km de<br />

Lisboa. Ao eMobilidade +, Luís Miguel<br />

Lopes, da área de Recursos Humanos<br />

e Comunicação da Fuso, explica que a<br />

grande vantagem deste tipo de tecnologia<br />

“é conseguirmos ter um veículo<br />

que se desloca sem emissões não só de<br />

CO 2 mas também de outros gases como<br />

o óxido de azoto”. Já como “desafios,<br />

barreiras que sabemos conseguir ultrapassar,<br />

podemos falar na autonomia<br />

das baterias, onde a tecnologia está a<br />

avançar muito rapidamente, e na expansão<br />

da rede de abastecimento”.<br />

O nosso interlocutor garante que a procura<br />

por este veículo tem sido robusta.<br />

Estes camiões ligeiros, com 7,49 t de<br />

peso total, um motor elétrico de 115<br />

kW (156 cv) e um binário máximo de<br />

390 Nm, anunciam uma autonomia<br />

superior a 100 km com a carga útil<br />

máxima e podem ser carregados numa<br />

hora, num carregador rápido. Graças<br />

ao seu tamanho e agilidade, pretendem<br />

ser a resposta para os desafios diários<br />

na cidade, onde maioritariamente<br />

executam rotas curtas e em estradas<br />

estreitas. Luís Miguel Lopes afirma que<br />

esta é, “neste momento, a tecnologia<br />

mais adequada para a descarbonização<br />

a curto-prazo dos grandes centros<br />

urbanos” e acredita que é “uma solução<br />

de longo prazo”, que deverá “coexistir<br />

com outras tecnologias geradoras de<br />

energia”. A par disto, no entender da<br />

Fuso, o projeto de neutralidade carbónica<br />

para a fábrica do Tramagal é “fundamental,<br />

pois é o centro de montagem da<br />

FUSO na Europa e como tal queremos<br />

de estar na vanguarda através de projetos<br />

como o da neutralidade carbónica e<br />

da reutilização das baterias”.<br />

Resolvida, pelo menos em parte, a questão<br />

da distribuição urbana e entregas<br />

de «última milha», graças a um camião<br />

elétrico capaz de responder às necessidades<br />

deste segmento, mantém-se o<br />

problema do transporte de médio e longo<br />

curso, onde a tecnologia atual ainda<br />

não é capaz de garantir a autonomia necessária<br />

para a operação normal diária<br />

destes veículos. Para tal, seria necessário<br />

não só uma autonomia relevante - para<br />

a qual as baterias necessárias seriam<br />

muito pesadas e ocupariam muito espaço<br />

-, mas também uma infraestrutura de<br />

abastecimento satisfatória e ainda tempos<br />

de carga iguais ou inferiores ao do<br />

abastecimento dos veículos a combustão.<br />

Assim, que outro caminho existe e<br />

que pode ser uma alternativa<br />

ao gasóleo?<br />

56 e-MOBILIDADE


GÁS NATURAL: UM PASSO<br />

DE CADA VEZ<br />

É preciso dizer que a dependência dos<br />

combustíveis fósseis, infelizmente,<br />

não se resolve de um dia para o outro.<br />

Depois de desenvolvidas, as tecnologias<br />

têm de ser implementadas e a transição<br />

demora o seu tempo. Mas se há fonte de<br />

energia alternativa ao gasóleo, já existente<br />

(e até banal) na atualidade, é o gás<br />

natural. Mas dirá o leitor, com toda a razão,<br />

que continua a ser um combustível<br />

fóssil. Verdade, mas desde logo permite<br />

uma redução das emissões dos gases<br />

de efeitos de estufa entre os 15% e os<br />

25%, contribuindo para um ar mais<br />

limpo e saudável nas cidades. Além<br />

disso, os equipamentos que utilizam<br />

o gás natural são totalmente compatíveis<br />

com biocombustíveis, esses sim<br />

renováveis: o biometano (gás renovável<br />

produzido a partir de resíduos<br />

orgânicos) e o e-metano (resultante<br />

de hidrogénio verde e da captura de<br />

carbono), possibilitando uma introdução<br />

gradual de combustíveis renováveis<br />

no abastecimento destes veículos. Não<br />

poderá ser este um dos caminhos que<br />

procuramos?<br />

O gás natural é hoje um combustível<br />

com uma tecnologia de implantação já<br />

conhecida e, segundo Victor Cardial,<br />

delegado da GASNAM em Portugal, “é,<br />

atualmente, a única alternativa viável<br />

para o transporte pesado e profissional,<br />

pois permite potências elevadas (acima<br />

dos 400 cv) e autonomias que podem<br />

alcançar os 1.500kms”.<br />

É preciso dizer que<br />

a dependência dos<br />

combustíveis fósseis,<br />

infelizmente, não se<br />

resolve de um dia<br />

para o outro<br />

“OS OPERADORES TÊM DE TER INCENTIVOS PARA RENOVAR<br />

AS FROTAS”<br />

Quem o diz é Nuno Carvalho, Chief Commercial Officer da CaetanoBus que, apesar de tudo, nota uma evolução<br />

muito positiva neste aspeto um pouco por toda a Europa. “A preocupação em mitigar as alterações climáticas<br />

está na agenda dos governos, os operadores começam a estar sensibilizados e a definir as planos para<br />

atingir as metas de descarbonização das suas frotas”, diz, explicando que é aí que se enquadra a estratégia da<br />

CaetanoBus “criar soluções de mobilidade Zero Emissões, que possam ajudar as cidades a ser melhores sítios<br />

para viver. Só desse modo vamos conseguir alcançar as metas de descarbonização a que a União Europeia<br />

se propôs”, afirma.<br />

Neste momento, a CaetanoBus conta com dois modelos urbanos Zero Emissões: o e.City Gold - 100% elétrico a baterias - e o H2.City Gold,<br />

também elétrico, mas movido a pilha de hidrogénio, numa parceria com a Toyota. Nuno Carvalho garante que a empresa vai continuar a<br />

trabalhar para alargar o portefólio de produtos neste segmento, mas considera que “é preciso um alinhamento entre a oferta e a procura:<br />

os operadores têm de ter incentivos para renovar das frotas, os Governos têm de criar políticas públicas que acompanhem essa tendência<br />

e têm de criar igualmente as infraestruturas para as novas tecnologias, como é o caso das estações de abastecimento hidrogénio públicas,<br />

no início com o preço do hidrogénio subvencionado por forma a permitir paridades em custos operacionais, a par com o que acontece na<br />

Alemanha, país para onde vendemos mais de 80% da nossa produção de autocarros elétricos a hidrogénio”.<br />

e-MOBILIDADE 57


Reportagem<br />

Adeus gasóleo<br />

A GASNAM é a associação ibérica de<br />

transporte sustentável que integra a<br />

cadeia de valor do gás e do hidrogénio<br />

para alcançar os desafios ambientais,<br />

económicos e operacionais do transporte<br />

por terra, mar e ar e defende que<br />

apesar de o Gás Natural Veicular já<br />

dispor de uma rede “com uma capilaridade<br />

bastante interessante, tanto a nível<br />

nacional, como em termos europeus”,<br />

o mesmo “tem vindo a ser excluído de<br />

apoios fiscais, mormente ao nível da<br />

chamada utilização profissional como<br />

acontece com o «gasóleo profissional»<br />

desde 2016”. Este aspeto, na opinião de<br />

Victor Cardial, acaba por “limitar o potencial<br />

de crescimento do setor e, sobretudo,<br />

a introdução progressiva de combustíveis<br />

renováveis no setor dos transportes<br />

pesados e profissionais, de acordo com<br />

as metas que estão consagradas no Plano<br />

Nacional de Energia e Clima”.<br />

São inúmeras as empresas de transporte<br />

em Portugal que já utilizam este<br />

combustível e, segundo a GASNAM, na<br />

“maioria dos operadores públicos de<br />

transporte de passageiros, a adaptação é<br />

muito rápida, sendo apenas necessário,<br />

no caso do gás natural liquefeito, obter<br />

uma formação em segurança de abastecimento<br />

para lidar com combustíveis<br />

que estão a temperaturas criogénicas<br />

(negativas)”. Quanto à condução, não<br />

existem quaisquer alterações face aos<br />

combustíveis convencionais.<br />

À preocupação ambiental junta-se o<br />

problema da rentabilidade da tecnologia<br />

e, ao eMobilidade +, Victor Cardial<br />

é muito claro no que diz respeito ao<br />

investimento necessário para tornar o<br />

biogás competitivo face ao gasóleo: “A<br />

produção de biogás e a sua purificação<br />

para obter o biometano implica um<br />

investimento médio de 1,2 milhões de<br />

euros para uma capacidade de produção<br />

da ordem dos 1.000 m3/h. Acreditamos<br />

que, após a regulamentação da emissão<br />

das garantias de origem dos gases renováveis,<br />

estão criadas as condições para<br />

serem dados passos sólidos no sentido<br />

de permitir a progressiva penetração<br />

dos gases renováveis na mobilidade, até<br />

porque já estava prevista a isenção de<br />

ISP e de taxa de adicionamento nestes<br />

combustíveis, o que, do ponto de vista<br />

económico, constitui um sinal muito<br />

positivo para a sua competitividade face<br />

aos combustíveis de origem fóssil”.<br />

Questionado sobre se considera que o<br />

gás natural veicular se afigura a solução<br />

mais adequada para o futuro do<br />

transporte, o delegado da GASNAM<br />

afirma que este “continua a constituir-<br />

-se como a solução com maturidade<br />

tecnológica que no imediato permite<br />

obter ganhos ambientais consideráveis<br />

com uma recuperação do investimento<br />

a curto prazo, sobretudo no transporte<br />

profissional de médio e longo curso”.<br />

No entanto, admite que, para a associação,<br />

“todas as soluções são compatíveis<br />

e cabe a cada utilizador selecionar qual<br />

a melhor para o seu caso, sendo que a<br />

médio prazo os veículos a hidrogénio se<br />

apresentarão como uma solução muito<br />

interessante”.<br />

Sobre este tema, Victor Cardial lembra<br />

que “a obtenção de hidrogénio a partir<br />

do gás natural com captura de carbono<br />

é, atualmente, a forma mais usual. A<br />

médio prazo, a produção de hidrogénio<br />

a partir da eletrólise da água e com<br />

utilização de eletricidade renovável,<br />

apresenta-se como uma solução muito<br />

adequada em termos ambientais, permitindo<br />

o fornecimento de e-combustíveis<br />

como o e-metano”. Devido à guerra, é<br />

preciso, no entanto, notar que o preço do<br />

gás subiu exponencialmente no último<br />

ano, originando uma quebra na procura.<br />

HIDROGÉNIO: RESPONDER<br />

ÀS NECESSIDADES<br />

Voltando um pouco atrás, temos, então,<br />

a mobilidade elétrica que ainda não é<br />

capaz de suprir as operações diárias fora<br />

do perímetro urbano e o gás natural que,<br />

cumprindo no departamento da autonomia,<br />

não preenche todos os requisitos<br />

para a desejada descarbonização.<br />

A grande alternativa ao gasóleo e à gasolina<br />

pode, como tal, ser o hidrogénio,<br />

o elemento químico na natureza e que<br />

pode ser um combustível não poluente.<br />

Nuno Bimbo, Professor Auxiliar de Engenharia<br />

Química na Universidade de<br />

HÁ MAIS A FAZER!<br />

Nuno Bimbo aclara ainda que<br />

“nem todo o hidrogénio produzido<br />

a partir de eletrólise é «verde» já que<br />

as emissões que lhe estão associadas<br />

irão sempre depender do método<br />

usado para a produção dessa mesma<br />

eletridade<br />

58 e-MOBILIDADE


Se queremos que seja<br />

um combustível completamente<br />

limpo, podemos<br />

usar eletricidade<br />

proveniente de energias<br />

renováveis num processo<br />

denominado eletrólise,<br />

no qual uma corrente<br />

elétrica é usada para<br />

separar água em oxigénio<br />

e hidrogénio. Isto<br />

significa que o hidrogénio<br />

pode, em princípio,<br />

ser um combustível<br />

limpo e inesgotável<br />

Southampton, detalha as vantagens do<br />

hidrogénio: “É o combustível químico<br />

com maior densidade energética por<br />

unidade de massa. O hidrogénio tem<br />

cerca de três vezes mais energia quando<br />

comparado com uma massa igual de<br />

petróleo ou gasóleo. Além disso, a outra<br />

grande vantagem é que o hidrogénio<br />

não tem emissões nocivas associadas,<br />

pois quando é utilizado para gerar<br />

energia, o único produto que resulta<br />

desta reação é a água”. Além disso, o<br />

hidrogénio “pode ser usado para converter<br />

energia em motores de combustão<br />

interna (não necessariamente nos<br />

mesmos que são usados hoje em dia<br />

nos carros a gasolina ou gasóleo, mas o<br />

hidrogénio também pode gerar energia<br />

através de combustão) mas outra vantagem<br />

é que pode ser usado em células<br />

de combustível. Células de combustível<br />

(ou fuel cells em inglês) são dispositivos<br />

eletroquímicos que podem converter<br />

alguns combustíveis diretamente em<br />

eletricidade. A grande vantagem do uso<br />

de células de combustível é que são<br />

mais eficientes, mais silenciosas e geram<br />

menos calor que um motor de combustão<br />

interna”, explica.<br />

Sendo um dos elementos mais comuns<br />

na Terra, existem várias maneiras de o<br />

produzir, seja “a partir de combustíveis<br />

fósseis ou usando biomassa”, afirma<br />

Nuno Bimbo, que esclarece desde logo<br />

que “se queremos que seja um combustível<br />

completamente limpo, podemos<br />

usar eletricidade proveniente de energias<br />

renováveis num processo denominado<br />

eletrólise, no qual uma corrente<br />

elétrica é usada para separar água em<br />

oxigénio e hidrogénio. Isto significa que<br />

o hidrogénio pode, em princípio, ser<br />

um combustível limpo e inesgotável”.<br />

Estaremos, assim, perante a tão ansiada<br />

solução para a transição energética? A<br />

resposta é talvez. Porque tudo tem um<br />

custo e, apesar de se apresentar como<br />

uma resposta ideal em termos ecológicos,<br />

não o é em termos económicos. Na<br />

verdade, produzir hidrogénio limpo, o<br />

chamado hidrogénio «azul», tem custos<br />

de produção muito elevados. O professor<br />

de engenharia química é da opinião<br />

que “tudo leva a crer que o aumento<br />

da procura e as economias de escala<br />

e-MOBILIDADE 59


contribuam para que os preços do<br />

hidrogénio continuem a cair, tanto do<br />

chamado hidrogénio «azul» (produzido<br />

a partir de combustíveis fósseis<br />

mas capturando o dióxido de carbono<br />

que é gerado) ou «verde» (hidrogénio<br />

produzido a partir de fontes renováveis,<br />

sem emissões)”.<br />

Contudo, é logicamente impossível<br />

de adivinhar se em algum ponto o seu<br />

custo será inferior ao do gasóleo ou da<br />

gasolina, uma vez que isso depende de<br />

vários fatores, entre os quais “se teremos<br />

taxas sobre emissões (por exemplo, o<br />

chamado imposto carbónico) ou sobre<br />

combustíveis fósseis, ou se teremos algum<br />

subsídio para combustíveis limpos.<br />

Também convém lembrar que as células<br />

de combustível, que são o método<br />

preferencial para usar o hidrogénio em<br />

veículos, são relativamente caras. No<br />

entanto, os sinais que se têm visto noutras<br />

áreas são encorajadores – por exemplo,<br />

os preços de painéis solares ou de<br />

baterias de lítio têm caído abruptamente<br />

na última década”, alerta.<br />

Interrogado sobre porque é que o hidrogénio<br />

pode ser uma alternativa viável<br />

ao gasóleo, o professor de engenharia<br />

química explica que “a combinação hidrogénio<br />

e célula de combustível pode<br />

oferecer maior autonomia e o tempo de<br />

recarregamento é bastante mais curto<br />

do que o tempo de baterias. No entanto,<br />

A única garantia que<br />

temos é que, se queremos<br />

habitar num planeta<br />

mais sustentável<br />

e limpo, mais cedo ou<br />

mais tarde teremos de<br />

dizer adeus ao gasóleo<br />

a compatibilidade e o uso crescente<br />

de hidrogénio em veículos pesados<br />

está altamente dependente do método<br />

de armazenamento de hidrogénio – a<br />

tecnologia mais usada atualmente consiste<br />

em comprimir hidrogénio até 350<br />

ou 700 vezes a pressão ambiente em<br />

cilindros muito pesados, o que também<br />

implica um custo elevado. Pode ser que<br />

haja avanços na tecnologia que permitam<br />

desenvolver métodos mais económicos<br />

e seguros para armazenamento<br />

de hidrogénio, o que poderia significar<br />

a sua fácil implementação em veículos<br />

pesados”, considera, acrescentando que<br />

é preciso fazer também outro tipo de<br />

contas nesta equação. “É importante<br />

também lembrar o custo enorme para a<br />

sociedade a todos os níveis de continuarmos<br />

nesta trajetória e não fazermos<br />

nada relativamente à descarbonização.<br />

Vendo as consequências das alterações<br />

climáticas e o qualidade do ar nalgumas<br />

cidades, será que nos podemos dar ao<br />

luxo de continuar a não fazer nada?<br />

Qual será o custo para a nossa sociedade<br />

de não adotarmos combustíveis<br />

e tecnologias mais limpas e termos de lidar<br />

com os efeitos severos das alterações<br />

climáticas que já se começam a fazer<br />

sentir?”, questiona.<br />

Por outro lado, é preciso estar atento<br />

e não colocar o hidrogénio todo «no<br />

mesmo saco», porque se, como já se<br />

referiu, este pode ser um combustível<br />

limpo, a verdade é que também pode<br />

60 e-MOBILIDADE


ser uma tecnologia potencialmente mais<br />

nociva para o ambiente. Nuno Bimbo<br />

afirma que cerca de 90 a 95% de todo<br />

o hidrogénio produzido mundialmente<br />

é através da “reformação de metano (o<br />

principal componente do gás natural) a<br />

altas temperaturas, o que gera hidrogénio<br />

e dióxido de carbono”, visto que<br />

este é “um processo normalmente feito<br />

DO OUTRO LADO DA BARRICADA<br />

Peças-chave neste processo são os transportadores, que enfrentam todo o tipo de<br />

desafios, desde o aumento da carga fiscal, à pressão da descarbonização, a par da<br />

falta de incentivos. A transição energética exige investimentos avultados que não<br />

se ficam pela aquisição de veículo, sendo também imprescindível que exista uma<br />

rede de abastecimento conveniente e formação específica para os motoristas, que<br />

terão de se readaptar à sua nova realidade, em qualquer que seja a nova tecnologia,<br />

pelo que não será uma alteração simples nem abrupta.<br />

Para curtas distâncias e em meios urbanos, os veículos elétricos a bateria assumem-se<br />

como capazes de cumprir as missões, no entanto, a médio prazo, o gás<br />

natural pode ser um dos caminhos para que a transição energética na mobilidade<br />

aconteça de forma progressiva, sem ruturas ou disrupções na estrutura económica<br />

e sem quaisquer investimentos adicionais nos equipamentos ou nos sistemas de<br />

transporte, em particular no setor profissional e pesado. O hidrogénio, por outro<br />

lado, apresenta-se como a possível solução para o longo curso, caso se reúnam as<br />

condições para o mesmo se tornar uma alternativa realmente viável aos combustíveis<br />

fósseis. Deste modo, não há ainda uma clara definição sobre qual poderá<br />

ser a tecnologia que irá substituir o gasóleo a 100%, ou se, durante as próximas<br />

décadas, iremos conviver com diferentes fontes de energias alternativas em simultâneo.<br />

A única garantia que temos é que, se queremos habitar num planeta mais<br />

sustentável e limpo, mais cedo ou mais tarde teremos de dizer adeus ao gasóleo.<br />

PRIMEIRO CAMIÃO 100% ELÉTRICO<br />

Precisamente em 2017, já Portugal<br />

estava um passo à frente no que toca à<br />

eletrificação de pesados e arrancava a<br />

produção em série do primeiro camião<br />

100% elétrico do mundo. Falamos, é claro,<br />

da FUSO eCanter, desenvolvida no Japão<br />

e construída na fábrica da Mitsubishi Fuso<br />

Truck Europe, no Tramagal, a cerca de<br />

140 km de Lisboa<br />

em grande escala e que o preço do gás<br />

natural é relativamente barato”.<br />

O nosso interlocutor declara que “existe<br />

alguma investigação e discussão em<br />

volta deste tema, particularmente o uso<br />

de tecnologia conhecida como captura<br />

e armazenamento de dióxido de carbono,<br />

o qual evitaria a emissão deste gás<br />

para a atmosfera. Isto tem levado alguns<br />

investigadores a defenderem algumas das<br />

vantagens deste método, principalmente<br />

porque poderá ser adoptado rapidamente<br />

e a um custo menor”.<br />

Nuno Bimbo aclara ainda que “nem todo<br />

o hidrogénio produzido a partir de eletrólise<br />

é «verde» já que as emissões que<br />

lhe estão associadas irão sempre depender<br />

do método usado para a produção<br />

dessa mesma eletridade. Se a eletridade<br />

for 100% renovável, então o hidrogénio<br />

não terá emissões associadas, mas se<br />

a eletridade for toda produzida numa<br />

central a carvão, então o hidrogénio que<br />

daí resultar irá ter um grande número de<br />

emissões associadas. Ou seja, as emissões<br />

do hidrogénio produzido por eletrólise<br />

estão completamente dependentes do<br />

método que foi usado para produzir a<br />

eletridade que é usada no processo. Isto<br />

significa que terá que ser sempre feita<br />

uma análise para não corrermos o risco<br />

de usarmos uma tecnologia que poderá<br />

ser potencialmente mais nociva para o<br />

ambiente”.<br />

Entre as desvantagens relativas ao uso<br />

de hidrogénio como combustível em<br />

veículos, Nuno Bimbo aponta ainda “o<br />

seu custo, o custo do veículo, a durabilidade<br />

das células de combustível, e a<br />

mudança necessária na infraestrutura de<br />

abastecimento. Outro grande problema<br />

está relacionado com o armazenamento<br />

de hidrogénio dentro do veículo, já que<br />

o hidrogénio é um gás com muito pouca<br />

densidade. Apesar de ter uma grande<br />

densidade energética por unidade de<br />

massa, em condições de temperatura e<br />

pressão próximas das condições ambiente,<br />

um quilograma de hidrogénio<br />

ocupa um volume muito grande. Isto é<br />

obviamente uma desvantagem quando<br />

comparado com combustíveis como o<br />

gasóleo ou a gasolina, que são líquidos<br />

e têm uma densidade muito maior, não<br />

sendo problemático o impacto do depósito<br />

no habitáculo. Isto significa que para<br />

usos de hidrogénio em que o volume é<br />

importante (e o volume é muito importante<br />

para qualquer tipo de veículo), terá<br />

que ser usado um método que permita<br />

armazenar uma grande quantidade de hidrogénio<br />

em segurança. Isto também tem<br />

naturalmente consequências no desenho<br />

do habitáculo e no seu custo”, conclui. +<br />

e-MOBILIDADE 61


Veículo elétrico?<br />

QUER COMPRAR UM<br />

EIS O QUE PRECISA SAB<br />

62 e-MOBILIDADE


O e-Mobilidade + reuniu várias dicas<br />

sobre carros elétricos e ajuda-o a<br />

perceber melhor este novo mundo<br />

da mobilidade sustentável.<br />

Por Márcia Dores<br />

ER ANTES DE O FAZER<br />

e-MOBILIDADE 63<br />

FOTOS ARTIGO: PIXABAY.COM | CANVAS PRO | FREEPIK


VEÍCULO ELÉTRICO<br />

O que saber antes de ter um<br />

São cada vez mais as marcas do setor automóvel<br />

que se dedicam ao desenvolvimento de<br />

novos modelos elétricos, numa clara resposta<br />

à necessidade de mudança de hábitos no que<br />

toca a tornar o mundo mais sustentável, com<br />

a consequente diminuição da pegada carbónica. Mas<br />

se é verdade que a procura por estes novos carros tem<br />

vindo a ganhar substância, também é verdade que ainda<br />

há muitas questões que se levantam na hora de comprar<br />

um carro elétrico e dos reais impactos que podem ter na<br />

sua vida e na vida do planeta.<br />

Antes de fazer a transição para a mobilidade elétrica<br />

há que ter em conta fatores como: a autonomia das<br />

baterias, as formas de carregamento, o preço e até as<br />

diferenças na condução... Vejamos então as respostas a<br />

algumas perguntas.<br />

QUAL É A AUTONOMIA DAS BATERIAS?<br />

Este é um dos pontos que faz com que muita gente fique<br />

reticente no momento de optar por um carro elétrico. E a<br />

verdade é que é uma questão para a qual existem diferentes<br />

respostas. Depende do modelo do carro, do tipo de bateria<br />

que possui, do estilo de condução e até do tipo de percurso<br />

(se estradas citadinas ou autoestradas, se apresenta mais ou<br />

menos subidas, por exemplo).<br />

A autonomia dos novos modelos de carros elétricos ronda<br />

os 300 quilómetros com um único carregamento. Acima de<br />

tudo, importa considerar a utilização que se faz do veículo:<br />

se for para distâncias curtas, como casa-trabalho-casa, que<br />

em média são de 40 a 80 quilómetros diários, até os carros<br />

elétricos menos autónomos são adequados. Mas caso a autonomia<br />

seja um fator crucial, optar por um veículo Híbrido ou<br />

Híbrido Plug-In pode ser uma boa solução.<br />

64 e-MOBILIDADE


QUE TIPOS DE CARRO<br />

ELÉTRICO EXISTEM?<br />

QUANTOS POSTOS DE CARREGAMENTO<br />

EXISTEM EM PORTUGAL?<br />

Segundo o portal da Rede MOBI.E, em<br />

Portugal já estão disponíveis mais de 3000<br />

postos de carregamento espalhados de<br />

norte a sul, sendo que à data apenas 26%<br />

(836) são utilizados. Pode-se encontrar<br />

postos de carregamento na via pública<br />

e em locais privados de acesso público,<br />

como parques de estacionamento, autoestradas<br />

e centros comerciais. Através do site<br />

da MOBI.E é possível ver um mapa onde<br />

se encontram estes postos.<br />

>>ELÉTRICOS<br />

São veículos 100% elétricos que não dispõem<br />

de qualquer motor a combustão.<br />

Por isso, não produzem emissões de CO 2<br />

enquanto se conduz, sendo a alternativa<br />

mais limpa. Em termos de consumo, e<br />

porque o abastecimento a eletricidade<br />

é mais barato do que a gasolina ou gasóleo<br />

convencionais, garantem também<br />

uma maior poupança.<br />

>>HÍBRIDOS PLUG-IN<br />

São veículos que dispõem de dois<br />

tipos de motorização – a elétrica e a<br />

convencional (a gasolina) – que podem<br />

funcionar de forma complementar ou<br />

independente.<br />

>>HÍBRIDOS (SEM PLUG-IN)<br />

Tal como na versão plug-in, os veículos<br />

híbridos têm um motor elétrico e um<br />

convencional. A diferença é que o motor<br />

elétrico carrega exclusivamente através<br />

do motor convencional (o motor convencional<br />

produz energia que alimenta<br />

a bateria).<br />

AS OFICINAS ESTÃO PREPARADAS<br />

PARA CARROS ELÉTRICOS?<br />

Sim, as oficinas oficiais das marcas de<br />

carros elétricos comercializadas em Portugal<br />

estão preparadas para proceder à sua<br />

manutenção.<br />

e-MOBILIDADE 65


VEÍCULO ELÉTRICO<br />

O que saber antes de ter um<br />

FOTOS ARTIGO: PIXABAY.COM | CANVAS PRO | FREEPIK<br />

É POSSÍVEL CARREGAR UM<br />

VEÍCULO ELÉTRICO NA<br />

GARAGEM DE CASA?<br />

Sim, é possível. Contudo, a MOBI.E<br />

não aconselha a “utilização de<br />

tomadas convencionais para o carregamento<br />

deste tipo de veículos”.<br />

O mercado já oferece soluções próprias<br />

de carregamentos domésticos<br />

devendo, contudo, respeitar sempre<br />

as condições técnicas.<br />

Uma “wallbox” é a solução adequada.<br />

Trata-se de uma estação de carregamento<br />

doméstica que se pode<br />

comprar ou alugar a um CEME. Tem<br />

várias potências disponíveis, assim<br />

como opções com ou sem cabo e/<br />

ou tomada, sendo ideal para casas<br />

térreas ou condomínios. Também<br />

as tomadas e fichas para carros<br />

elétricos são outra opção, mas que<br />

devem ser sempre instalados por<br />

técnicos qualificados.<br />

Quanto tempo é necessário para<br />

carregar um veículo elétrico?<br />

Uma vez mais, depende, pois existem<br />

diferentes tipos de postos de carregamento:<br />

Posto de carregamento normal<br />

(3,7 kVA): entre 6 e 8 horas de<br />

carregamento para atingir os 100% de<br />

capacidade da bateria.<br />

Posto de carregamento semi-rápido<br />

(22 kVA): Cerca de 1 hora para<br />

obter 80% da capacidade da bateria.<br />

Contudo, este tempo também depende<br />

das características do carregador<br />

integrado no veículo.<br />

Posto de carregamento rápido:<br />

entre 20 e 30 minutos para atingir os<br />

80% da capacidade da bateria.<br />

Como funciona o processo de carregamento<br />

de um carro elétrico?<br />

Para carregar o veículo elétrico num<br />

dos postos de carregamento da rede<br />

MOBI.E precisa, em primeiro lugar,<br />

de aderir a uma proposta comercial de +<br />

um dos Comercializadores de Eletricidade<br />

para a Mobilidade Elétrica<br />

(CEME), para lhe fornecerem um<br />

cartão de acesso a todos os postos.<br />

Depois de ter o cartão, basta seguir<br />

estes passos num posto de carregamento:<br />

Passar o cartão no posto<br />

Selecionar o carregamento<br />

Escolher a tomada<br />

Ligar a ficha ao veículo e deixa-lo<br />

a carregar<br />

Quando carregado, passar novamente<br />

o cartão no posto e dar como<br />

terminado o carregamento<br />

Retirar a ficha do veículo e seguir<br />

viagem.<br />

66 e-MOBILIDADE


EXISTEM INCENTIVOS FISCAIS PARA COMPRAR UM CARRO ELÉTRICO?<br />

O Estado incentiva a compra de veículos elétricos, por serem uma opção ambientalmente favorável. Em 2022, o Incentivo<br />

pela Introdução no Consumo de Veículos de Baixas Emissões contou com um montante total de 10 milhões de euros.<br />

Para 2023, os valores dos incentivos do Fundo Ambiental ainda não são conhecidos, porém, o Governo Português<br />

comprometeu-se a renovar esta iniciativa no orçamento de estado para este ano, continuando a apostar na transição<br />

energética do parque automóvel português.<br />

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e-MOBILIDADE 67


ENTREVISTA<br />

“É necessário mudar<br />

de paradigma e estar<br />

preparado para lutar contra<br />

a resistência”<br />

Fundador e atual presidente do Conselho de Administração da TIS.pt,<br />

José Manuel Viegas aceitou responder a algumas questões da eMobilidade+ sobre as<br />

tendências e desafios da mobilidade sustentável.<br />

Com um olhar acutilante<br />

sobre a forma como vivenciamos<br />

a mobilidade, José<br />

Manuel Viegas não hesita<br />

em incitar à reflexão nas<br />

razões do fracasso das políticas<br />

públicas das últimas<br />

décadas neste domínio e<br />

garante que mais do que investimento financeiro é<br />

preciso coragem política para mudar de paradigma<br />

e conseguir colocar no mercado uma oferta multimodal<br />

variada, reduzindo a utilização do automóvel<br />

nas cidades.<br />

Mobilidade inteligente e sustentável:<br />

Tendência e desafios, o que nos falta?<br />

A mobilidade sustentável deve procurar satisfazer<br />

quatro objetivos: o acesso universal e equitativo (a<br />

equipamentos coletivos, oportunidades de trabalho,<br />

de interação social e de lazer), a segurança, a<br />

eficiência e a ausência de impactos ambientais negativos,<br />

e esses objetivos devem ser considerados<br />

de idêntica importância, o que significa que não<br />

devem ser aceites avanços num se isso provocar<br />

recuo(s) noutro(s).<br />

A mobilidade sustentável, atendendo a estes<br />

quatro objetivos, é certamente melhor para<br />

as pessoas e para a sociedade em geral, tendo<br />

ainda um papel decisivo para a qualidade de<br />

vida em geral. Neste período histórico a questão<br />

das emissões de gases com efeito de estufa<br />

ganhou uma prioridade inquestionável em todo<br />

o mundo, sendo muito visíveis as iniciativas no<br />

sentido da descarbonização da mobilidade. Mas<br />

em grande parte das cidades de média e grande<br />

dimensão, a questão da (falta de) eficiência,<br />

associada aos congestionamentos sistemáticos<br />

provocados pelo excesso de automóveis, é muito<br />

notória, com queixas frequentes de muitos<br />

cidadãos.<br />

Infelizmente são objeto de queixas menos frequentes<br />

os problemas de insegurança (porque<br />

estamos habituados e achamos que as colisões<br />

graves “só acontecem aos outros”) e de iniqui-<br />

68 e-MOBILIDADE


JOSÉ MANUEL VIEGAS<br />

entrevista<br />

PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA TIS.PT<br />

e-MOBILIDADE 69


Entrevista<br />

José Manuel Viegas<br />

Construir mais linhas ferroviárias (ou<br />

melhorar fortemente algumas de muito<br />

fraco desempenho) faz sentido nos<br />

corredores em que se estime haver a<br />

densidade de procura suficiente para<br />

justificar esse modo de alta capacidade,<br />

mas mesmo nesses casos temos de ter a<br />

perceção de que as pessoas que tenham a<br />

sua residência ao longo dessa linha, mas<br />

destinos longe dela e implicando mais<br />

que um transbordo, dificilmente serão<br />

clientes da ferrovia<br />

dade no acesso (porque os que dela sofrem estão habituados a<br />

isso e também sofrem de muito pouco acesso aos instrumentos<br />

de comunicação pública. Mas cabe-nos a nós, que trabalhamos<br />

sobre estas questões e temos acesso a esses instrumentos,<br />

chamar a atenção para esse problema de iniquidade no<br />

acesso físico aos destinos de interesse de cada um – que é um<br />

dos principais fatores de exclusão social nos tempos atuais – e<br />

tentar incluir melhorias nesse objetivo mesmo quando preparamos<br />

intervenções para acudir a outros objetivos.<br />

Quais as principais mudanças necessárias para conseguir<br />

reduzir o uso do automóvel particular e evoluir no sentido<br />

da mobilidade sustentável?<br />

Para além da questão da descarbonização dos transportes –<br />

cujo caminho está no essencial definido para os transportes<br />

terrestres de pequeno e médio curso, com a eletrificação dos<br />

veículos de todos os modos motorizados – as escolhas modais<br />

têm um impacto muito forte na eficiência no uso do espaço<br />

público. Ao longo das últimas décadas tem vindo a ocorrer<br />

em Portugal um crescimento sustentado da parte de mercado<br />

correspondente ao uso do automóvel individual, apesar<br />

dos fortes investimentos em infraestruturas e em veículos do<br />

transporte coletivo – sobretudo nos modos ferroviários – e<br />

das muito regulares campanhas de informação em promoção<br />

do seu uso, para além da integração tarifária (com forte benefício<br />

para muitos cidadãos residentes em áreas suburbanas)<br />

obtida com o PART em 2019.<br />

Se tanta gente prefere usar o automóvel individual – que<br />

ainda por cima lhes custa mais dinheiro – devemos reconhecer<br />

que isso será porque essa é a opção que os serve melhor,<br />

e daí concluir que não vamos conseguir inverter a situação<br />

deitando mais dinheiro para cima do problema, limitando-<br />

-nos a investir mais nos sistemas tradicionais de transportes<br />

coletivos.<br />

Entre os fatores explicativos dessa realidade há dois principais:<br />

um, exterior ao setor dos transportes, que é o modelo de<br />

ocupação do território que vimos praticando no essencial desde<br />

os anos 80; e outro que é a vantagem competitiva do automóvel<br />

sobre os outros modos no que respeita à flexibilidade<br />

e fiabilidade (garantia de serviço no local e no momento em<br />

que preciso de transporte) que proporciona ao seu condutor.<br />

São conhecidas as consequências negativas a nível social da<br />

conjugação desses milhares de decisões individuais, mas<br />

cada uma dessas decisões individuais é correta e eficiente na<br />

perspetiva de quem decide. Por isso, se quisermos mudar a<br />

repartição modal, temos que tomar decisões:<br />

a) No domínio do urbanismo, com impacto a médio e<br />

longo prazo, favorecendo as ocupações do território com<br />

maior densidade e diversidade funcional, e sempre que<br />

possível nas proximidades das estações de transportes de<br />

transportes coletivos de alta capacidade;<br />

b) No domínio dos transportes, potenciando um conjunto<br />

de soluções alternativas ao automóvel individual e que,<br />

no seu conjunto e usando cada uma delas em função das<br />

circunstâncias de cada deslocação, possam constituir uma<br />

alternativa suficientemente atraente para que uma parte<br />

significativa dos automobilistas cativos do uso do automóvel<br />

possa pelo menos aceitar experimentar esse “pacote” de<br />

alternativas.<br />

Esta noção de “pacote” é essencial, já que nenhum outro<br />

modo de transporte (à exceção da marcha a pé, mas só para<br />

distâncias curtas, e desde que haja condições agradáveis de<br />

caminhabilidade) consegue competir por si só com o auto-<br />

70 e-MOBILIDADE


REDUZIR O USO DO<br />

AUTOMÓVEL PARTICULAR<br />

Se tanta gente prefere usar o<br />

automóvel individual – que ainda<br />

por cima lhes custa mais dinheiro –<br />

devemos reconhecer que isso será<br />

porque essa é a opção que os serve<br />

melhor, e daí concluir que não<br />

vamos conseguir inverter a situação<br />

deitando mais dinheiro para<br />

cima do problema, limitando-nos a<br />

investir mais nos sistemas tradicionais<br />

de transportes coletivos<br />

móvel nos critérios de flexibilidade e<br />

fiabilidade.<br />

Para algumas pessoas que tenham os<br />

seus locais de residência e de trabalho<br />

sobre a mesma linha de transporte coletivo<br />

em sito próprio, esse modo serve-<br />

-os bem nas deslocações casa-trabalho,<br />

mas basta introduzir a necessidade de ir<br />

levar um filho a uma atividade cultural<br />

ou desportiva a meio da tarde para um<br />

local fora dessa linha do transporte<br />

coletivo, e o automóvel emerge rapidamente<br />

como o modo preferido para<br />

satisfazer toda a agenda de mobilidade<br />

dessas pessoas.<br />

Nesse sentido, acredita que é necessário investir mais<br />

na ferrovia, enquanto modo não poluente e de grande<br />

capacidade? Ou, pelo contrário, apostar mais em modos<br />

partilhados?<br />

Construir mais linhas ferroviárias (ou melhorar fortemente algumas<br />

de muito fraco desempenho) faz sentido nos corredores<br />

em que se estime haver a densidade de procura suficiente<br />

para justificar esse modo de alta capacidade, mas mesmo<br />

nesses casos temos de ter a perceção de que as pessoas que<br />

tenham a sua residência ao longo dessa linha, mas destinos<br />

longe dela e implicando mais que um transbordo, dificilmente<br />

serão clientes da ferrovia.<br />

Por isso, o verdadeiro desafio não é investir mais no modo A<br />

ou B dos transportes coletivos, mas sim conseguir colocar no<br />

mercado uma oferta multimodal variada – com os transportes<br />

coletivos tradicionais e com novos modos – que possa ser<br />

usada com total flexibilidade por cada cidadão, escolhendo<br />

para cada deslocação o modo alternativo ao automóvel que<br />

lhe seja mais conveniente. Só através dessa diversidade será<br />

possível competir com o automóvel individual e levar a que<br />

alguns automobilistas experimentem as novas soluções e uma<br />

boa parte deles decida que com essa liberdade de escolha de<br />

e-MOBILIDADE 71


Entrevista<br />

José Manuel Viegas<br />

MOBILIDADE SUSTENTÁVEL<br />

Para algumas pessoas que tenham os<br />

seus locais de residência e de trabalho<br />

sobre a mesma linha de transporte<br />

coletivo em sito próprio, esse modo<br />

serve-os bem nas deslocações<br />

casa-trabalho, mas basta introduzir<br />

a necessidade de ir levar um filho a<br />

uma atividade cultural ou desportiva<br />

a meio da tarde para um local fora<br />

dessa linha do transporte coletivo, e o<br />

automóvel emerge rapidamente como<br />

o modo preferido para satisfazer toda<br />

a agenda de mobilidade<br />

dessas pessoas<br />

modo – e com o que isso lhes permite de<br />

flexibilidade e fiabilidade na sua mobilidade<br />

– até é melhor do que andar com o<br />

seu carro para todo o lado, pelo menos<br />

porque é mais barato.<br />

Uma ocupação de território dispersa será<br />

mais bem servida por modos de baixa<br />

capacidade, quer em alimentação de eixos<br />

de alta capacidade (se estiverem próximos dos locais de início<br />

ou fim das viagens) quer em serviço direto ao destino. Em<br />

ambos os casos podem ter um papel muito importante as<br />

bicicletas elétricas – individuais ou<br />

partilhadas – desde que dispondo<br />

de condições seguras de circulação<br />

e de estacionamento, e os modos<br />

partilhados e a pedido, capazes de<br />

atender as ligações de “last-mile” em<br />

ligação às estações dos modos de<br />

maior capacidade e as procuras de<br />

menor intensidade e por isso não<br />

atendíveis pelos modos tradicionais.<br />

Ambos estes modos podem ser<br />

muito eficientes, quer no custo quer<br />

na ocupação do espaço público por<br />

passageiro transportado). Isto exige<br />

uma mudança radical da orientação<br />

das políticas de mobilidade que, no essencial, ainda têm uma<br />

orientação de oferecer mais transporte coletivo e a menor<br />

preço para os cidadãos, sem ter havido a perceção de que<br />

para cerca de dois terços da população, esse produto não é<br />

apelativo. Mais do mesmo (tipo de produto), ainda que a<br />

menor preço, não vai ter sucesso, é preciso apresentar aos<br />

cidadãos uma nova proposta de valor que os seduza para a<br />

experimentar e de seguida os convença de que a experiência<br />

valeu a pena porque os conduziu a uma escolha melhor.<br />

E, além de conceber e apresentar essa nova proposta de valor,<br />

Ainda no domínio dos sistemas<br />

digitais e do seu impacto na<br />

mobilidade devemos também<br />

contar num horizonte não muito<br />

distante com a introdução<br />

de veículos rodoviários sem<br />

condutor<br />

temos de permitir aos cidadãos experimentá-la sem ter de<br />

optar “à cabeça” por comprar passes mensais… Há formas<br />

inteligentes, adotadas em vários outros setores, de convidar à<br />

experimentação de forma sedutora.<br />

Se formos capazes de ter a lucidez e<br />

a coragem política de enveredar por<br />

este novo caminho teremos uma<br />

mobilidade muito mais sustentável<br />

porque o volume de tráfego será<br />

menor e ainda porque, havendo<br />

muito maior quantidade de deslocações<br />

asseguradas por veículos<br />

partilhados (nas suas várias modalidades)<br />

e em oferta profissional, a<br />

descarbonização ocorrerá de forma<br />

muito mais célere. E temos de ter<br />

a noção de que adotar esse novo<br />

paradigma implica mudanças na<br />

regulamentação, na afetação do espaço público, e possivelmente<br />

na repartição dos fundos públicos.<br />

E podem as tecnologias digitais dar um contributo<br />

importante para essas mudanças? Quais as principais<br />

recomendações para o desenvolvimento das aplicações<br />

neste setor?<br />

Este novo paradigma de mobilidade, que envolve uma utilização<br />

muito mais intensa de modos partilhados, com tempos<br />

de espera reduzidos, só será eficiente e, portanto, apelativo da<br />

72 e-MOBILIDADE


sua utilização pelos cidadãos, se for baseado em sistemas digitais<br />

de elevado desempenho, na facilidade de experimentação<br />

e de utilização pelos cidadãos, na fiabilidade da sua operação,<br />

e na qualidade das soluções que propõe a cada cidadão.<br />

Mas não devemos esquecer que estes sistemas digitais são o<br />

instrumento ao serviço da mobilidade inteligente, e que por<br />

isso tem de ser os desígnios no domínio da mobilidade a<br />

especificar o que é que se pretende desses sistemas digitais,<br />

e não estes a moldarem as condições em que se vai realizar<br />

a mobilidade de passageiros ou mercadorias. Os produtos<br />

e serviços do lado digital têm de ser concebidos, desenvolvidos<br />

e colocados no mercado tendo em vista servir bem o<br />

cliente, cidadão móvel, neste enquadramento de mobilidade<br />

sustentável.<br />

Ainda no domínio dos sistemas digitais e do seu impacto<br />

na mobilidade devemos também contar num horizonte não<br />

muito distante com a introdução de veículos rodoviários sem<br />

condutor – de início em contextos bem demarcados – que<br />

permitirão, após alguns anos de amortização das tecnologias,<br />

uma redução significativa do custo dos transportes organizados<br />

numa base profissional. O investimento mais importante<br />

a fazer no tempo mais próximo nem sequer é de recursos<br />

financeiros significativos, mas sim o de refletir nas razões do<br />

fracasso das políticas públicas das últimas décadas neste domínio,<br />

daí deduzindo que é necessário mudar de paradigma<br />

e, de seguida, estar preparado para lutar contra a resistência<br />

dos muitos incumbentes. +<br />

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e-MOBILIDADE 73


74 e-MOBILIDADE

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