Revista eMOBILIDADE+ #01
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
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Entrevista<br />
Nuno Soares Ribeiro, VTM<br />
vimento dos projetos. Outra importante característica nas<br />
nossas relações com os clientes é a capacidade que temos de<br />
integrar conhecimentos transversais da indústria e de diferentes<br />
realidades culturais e geográficas. As nossas equipas são<br />
muito bem preparadas tecnicamente e são permanentemente<br />
expostas a desafios muito diferentes em ambientes geográficos<br />
e culturais muito distintos. Isso permite-nos projetar em cada<br />
projeto os conhecimentos adquiridos nestes diferentes ambientes.<br />
Na prática, muito mais do que a qualidade individual<br />
da nossa equipa é, principalmente, o que somos capazes de<br />
produzir em conjunto que é muito valorizado pelos clientes.<br />
Por fim, uma caraterística sempre presente nas relações que<br />
construímos é a não distinção entre clientes, ou projetos,<br />
seja pelo valor dos contratos, pela sua origem geográfica ou<br />
setorial dentro da indústria. Encaramos cada cliente e cada<br />
projeto como únicos.<br />
Afinal, o que é preciso para evoluir para uma mobilidade<br />
mais sustentável, reduzindo o uso do automóvel particular?<br />
Importa ter presente que o uso do automóvel particular não<br />
tem impacte apenas ao nível das emissões atmosféricas.<br />
O seu impacte negativo inclui o ruído, as vibrações, a intrusão<br />
visual, o consumo de espaço viário, a penalização dos<br />
tempos de viagem de todos os utilizadores de veículos que<br />
circulam nas vias rodoviárias e os custos económicos e sociais<br />
impostos pelos acidentes. Trabalhar em todas estas frentes é<br />
complexo, requer uma visão clara e equipas de profissionais<br />
competentes e com compreensão destas matérias.<br />
O uso do automóvel particular é uma comodidade pela qual<br />
a generalidade das pessoas está disposta a pagar. Frequentemente,<br />
mais do que seria de esperar. A título ilustrativo, refiro<br />
as conclusões de um trabalho que realizámos há algum tempo<br />
nos EUA sobre pré-disposição para pagar pelo uso do automóvel<br />
num corredor de acesso a uma grande área metropolitana.<br />
Concluímos, numa avaliação ex-post, e com base em<br />
evidências de comportamentos devidamente quantificados,<br />
que essa pré-disposição era cerca de duas vezes superiores ao<br />
que os estudos de grande qualidade e profundidade existentes<br />
indicavam e que, no caso dos segmentos economicamente<br />
mais afluentes, esta pré-disposição era cerca de quatro vezes<br />
superior à inicialmente expressa. Mesmo assumindo que na<br />
Europa estes múltiplos podem ser ligeiramente mais baixos,<br />
é notória a dificuldade de levar as pessoas a reduzir o recurso<br />
ao automóvel privado devido ao elevado valor que os seus<br />
utilizadores atribuem à conveniência da sua utilização.<br />
Acredito que a solução de curto prazo imporá trabalhar no<br />
aumento da perceção do custo do uso do automóvel e, em<br />
simultâneo, e nunca depois, melhorar expressivamente a qualidade<br />
da oferta do transporte público. A mais longo prazo, a<br />
solução passará por recuperar a teoria clássica e alterar a lógica<br />
de planeamento das atividades no território, concentrando-as<br />
para que o transporte público possa ganhar eficiência<br />
económica e operacional.<br />
Na minha opinião, claramente não é reduzindo os preços, ou<br />
tornando-os gratuitos. Estas são soluções que ajudam, mas que<br />
são muito onerosas para as autoridades de transportes em face<br />
dos resultados que geram. Por outro lado, e como referi anteriormente,<br />
temos hoje uma realidade muito diferente daquela<br />
que tínhamos em 2019 e não é possível continuar a pensar da<br />
mesma forma que antes da pandemia relativamente à alteração<br />
de comportamentos na mobilidade. Com efeito, o trabalho não<br />
presencial veio trazer novos desafios: a supressão de necessidades<br />
decorrentes da mobilidade obrigatória e a opção pelo<br />
transporte individual mais frequente nas deslocações por esse<br />
motivo, com uma rigidez à mudança que acredito que seja<br />
ainda maior que antes.<br />
A experiência em<br />
Portugal, e em todo o<br />
mundo, demonstra que<br />
atuar apenas do lado<br />
dos atributos da oferta<br />
de transporte público é<br />
insuficiente. Se pretendemos,<br />
e considero<br />
que devemos pretender,<br />
Temos a obrigação de<br />
deixar um melhor planeta<br />
aos nossos filhos<br />
E, por outro lado, como fazer com que as pessoas usem<br />
os transportes públicos?<br />
Pois essa é a chamada pergunta do milhão de euros.<br />
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