Revista eMOBILIDADE+ #01
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
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Entrevista<br />
José Manuel Viegas<br />
MOBILIDADE SUSTENTÁVEL<br />
Para algumas pessoas que tenham os<br />
seus locais de residência e de trabalho<br />
sobre a mesma linha de transporte<br />
coletivo em sito próprio, esse modo<br />
serve-os bem nas deslocações<br />
casa-trabalho, mas basta introduzir<br />
a necessidade de ir levar um filho a<br />
uma atividade cultural ou desportiva<br />
a meio da tarde para um local fora<br />
dessa linha do transporte coletivo, e o<br />
automóvel emerge rapidamente como<br />
o modo preferido para satisfazer toda<br />
a agenda de mobilidade<br />
dessas pessoas<br />
modo – e com o que isso lhes permite de<br />
flexibilidade e fiabilidade na sua mobilidade<br />
– até é melhor do que andar com o<br />
seu carro para todo o lado, pelo menos<br />
porque é mais barato.<br />
Uma ocupação de território dispersa será<br />
mais bem servida por modos de baixa<br />
capacidade, quer em alimentação de eixos<br />
de alta capacidade (se estiverem próximos dos locais de início<br />
ou fim das viagens) quer em serviço direto ao destino. Em<br />
ambos os casos podem ter um papel muito importante as<br />
bicicletas elétricas – individuais ou<br />
partilhadas – desde que dispondo<br />
de condições seguras de circulação<br />
e de estacionamento, e os modos<br />
partilhados e a pedido, capazes de<br />
atender as ligações de “last-mile” em<br />
ligação às estações dos modos de<br />
maior capacidade e as procuras de<br />
menor intensidade e por isso não<br />
atendíveis pelos modos tradicionais.<br />
Ambos estes modos podem ser<br />
muito eficientes, quer no custo quer<br />
na ocupação do espaço público por<br />
passageiro transportado). Isto exige<br />
uma mudança radical da orientação<br />
das políticas de mobilidade que, no essencial, ainda têm uma<br />
orientação de oferecer mais transporte coletivo e a menor<br />
preço para os cidadãos, sem ter havido a perceção de que<br />
para cerca de dois terços da população, esse produto não é<br />
apelativo. Mais do mesmo (tipo de produto), ainda que a<br />
menor preço, não vai ter sucesso, é preciso apresentar aos<br />
cidadãos uma nova proposta de valor que os seduza para a<br />
experimentar e de seguida os convença de que a experiência<br />
valeu a pena porque os conduziu a uma escolha melhor.<br />
E, além de conceber e apresentar essa nova proposta de valor,<br />
Ainda no domínio dos sistemas<br />
digitais e do seu impacto na<br />
mobilidade devemos também<br />
contar num horizonte não muito<br />
distante com a introdução<br />
de veículos rodoviários sem<br />
condutor<br />
temos de permitir aos cidadãos experimentá-la sem ter de<br />
optar “à cabeça” por comprar passes mensais… Há formas<br />
inteligentes, adotadas em vários outros setores, de convidar à<br />
experimentação de forma sedutora.<br />
Se formos capazes de ter a lucidez e<br />
a coragem política de enveredar por<br />
este novo caminho teremos uma<br />
mobilidade muito mais sustentável<br />
porque o volume de tráfego será<br />
menor e ainda porque, havendo<br />
muito maior quantidade de deslocações<br />
asseguradas por veículos<br />
partilhados (nas suas várias modalidades)<br />
e em oferta profissional, a<br />
descarbonização ocorrerá de forma<br />
muito mais célere. E temos de ter<br />
a noção de que adotar esse novo<br />
paradigma implica mudanças na<br />
regulamentação, na afetação do espaço público, e possivelmente<br />
na repartição dos fundos públicos.<br />
E podem as tecnologias digitais dar um contributo<br />
importante para essas mudanças? Quais as principais<br />
recomendações para o desenvolvimento das aplicações<br />
neste setor?<br />
Este novo paradigma de mobilidade, que envolve uma utilização<br />
muito mais intensa de modos partilhados, com tempos<br />
de espera reduzidos, só será eficiente e, portanto, apelativo da<br />
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