Revista eMOBILIDADE+ #04
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
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www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />
N.º 4<br />
setembro/outubro | 2023<br />
Bimestral | Continente<br />
Diretora: Cátia Mogo<br />
t<br />
OPINIÃO<br />
QUE TRANSPORTES<br />
PÚBLICOS<br />
QUEREMOS?<br />
POR QUE FALTAM<br />
MOTORISTAS<br />
DE PESADOS?<br />
O problema é global, não<br />
é de fácil resolução e terá<br />
que envolver inúmeras<br />
entidades<br />
INTERMODALIDADE<br />
COMBINAR<br />
LINHAS<br />
FÉRREAS E<br />
MARÍTIMAS<br />
METAVERSO<br />
Como a Realidade<br />
Aumentada tem ganho<br />
preponderância<br />
no contexto<br />
da cadeia logística<br />
t<br />
IAA Mobility<br />
Munique foi a capital da mobilidade,<br />
menos virada para o automóvel<br />
como o conhecíamos. A combustão<br />
interna tem morte anunciada e<br />
a China assume-se como o novo<br />
grande jogador da eletrificação.<br />
alterações climáticas<br />
Nunca foi tão urgente a redução<br />
drástica da emissão de gases com<br />
efeito de estufa, que só pode ser<br />
conseguida de forma consistente<br />
através da eliminação do consumo<br />
de combustíveis fósseis.<br />
FORD E-TRUCK<br />
O pesado elétrico da Ford, o<br />
E-Truck, já está em Portugal,<br />
inicia a produção em série no<br />
próximo ano e é uma aposta<br />
para os pequenos circuitos<br />
urbanos.
<strong>Revista</strong> nº4 | setembro/outubro 2023<br />
EDIÇÃO BIMESTRAL<br />
Email: emobilidademais@invesporte.pt<br />
DIRETORA<br />
Cátia Mogo<br />
EDITOR<br />
Eduardo de Carvalho<br />
REDAÇÃO<br />
Ana Filipe<br />
Márcia Dores<br />
Carlos Branco<br />
CARLOS BRANCO<br />
EDITORIAL<br />
Deixou de se dar tanto ênfase ao produto automóvel, que em si<br />
encerra tantas emoções, a começar pela paixão, passando por<br />
uma grande indústria e pelo famigerado PIB, para se explorar,<br />
cada vez mais, o que também ele, em si, e na génese, nos proporciona<br />
- Mobilidade. Vem isto a propósito de se constatar que<br />
esta já substitui aquele no nome de grandes exposições, como a de Munique,<br />
que visitámos. Chegou a hora de se olhar menos para tal produto de desejo, e<br />
de nos determos mais tempo com o fito em bicicletas, motociclos e microcarros,<br />
elétricos, de imaginarmos a liberdade e prazer que nos podem proporcionar,<br />
de como nos saem mais económicos e, por fim, ainda que a causa primeira,<br />
como a sustentabilidade e a transição energética estão a operar milagres<br />
em setores que eram tidos como imutáveis, para quem os lucros cresciam na<br />
mesma medida em que aumentavam as emissões de carbono. Travadas, enfim,<br />
por regulamentos sobre regulamentos que estão a provocar crises de fúria em<br />
muitos Conselhos de Administração.<br />
É seguro que o carro nunca deixará de existir, e que continuará nobre e objeto<br />
de desejo quanto mais firmes forem as novas tecnologias que lhe conferem<br />
locomoção e menores sejam as emissões que todos prejudicam. Só que dantes<br />
não o sabíamos, ou não o queríamos saber. Porém, agora é impensável fazer<br />
ouvidos de mercador.<br />
Nesta edição, Orlando Ferreira esmiuça o processo de contratualização do<br />
Serviço Público de Transporte de Passageiros, o seu estado de “andamento”<br />
e o tipo de serviço e o transporte que pretendemos, nos novos tempos que<br />
se pensam para a mobilidade urbana, e a própria intermobilidade, e no que<br />
esta beneficia a cadeia logística nacional. Seguramente, uma edição cheia de<br />
motivos de interesse. Boas leituras! +<br />
DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO<br />
E MARKETING<br />
Nuno Francisco<br />
PUBLICIDADE<br />
José Afra Rosa<br />
Margarida Nascimento<br />
Rui Garrett<br />
ASSINATURAS<br />
Fernanda Teixeira<br />
COLABORADORES<br />
António Macedo; Filipe Carvalho<br />
e Frederico Gomes<br />
DESIGN GRÁFICO / PAGINAÇÃO<br />
Rogério Grilho<br />
IMAGENS<br />
Pixabay.com | Freepik.com | Canvas<br />
EDITORA INVESPORTE,<br />
EDITORA DE PUBLICAÇÕES<br />
Edição, Redação e Administração<br />
R. António Albino Machado, 35G<br />
1600-259 Lisboa<br />
Telefone: 215914293<br />
Email: eurotransporte@invesporte.pt<br />
Site: www.eurotransporte.pt<br />
PROPRIEDADE<br />
Eduardo de Carvalho<br />
Registo ERC: Nº 127896<br />
ESTATUTO EDITORIAL:<br />
https://www.eurotransporte.pt/noticia/38/5193/<br />
estatuto-editorial-e-lei-da-transparencia/<br />
www.emobilidademais.pt<br />
www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/
REVISTA Nº 4<br />
SETEMBRO/OUTUBRO 2023<br />
24<br />
ECONOMIA<br />
CIRCULAR<br />
10 A INTERMODALIDADE<br />
EM PORTUGAL<br />
Vítor Caldeirinha descreve-nos como a<br />
combinação dos transportes ferroviário<br />
e marítimo podem fazer reduzir os<br />
custos de frete, minimizar os tempos<br />
de trânsito e diminuir a pegada de<br />
carbono associada ao transporte.<br />
18 O SERVIÇO PÚBLICO DE<br />
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS<br />
Aqui se realça a importância de se saber<br />
a que serviço público de transportes<br />
temos direito. O Regulamento impôs<br />
a contratualização das operações<br />
de serviço público de transporte de<br />
passageiros de modo a garantir serviços<br />
de transporte mais numerosos, mais<br />
seguros, de melhor qualidade e mais<br />
baratos, escreve Orlando Ferreira.<br />
34 OPORTUNIDADES<br />
DE NEGÓCIO<br />
A transição para a mobilidade<br />
elétrica significa que alguns serviços<br />
tradicionais, como as reparações<br />
de motores e as mudanças de óleo,<br />
se tornarão obsoletos. Que podem<br />
fazer as oficinas e os concessionários?<br />
Christoph Emi, fundador e diretor<br />
executivo da Juice Technology explica.<br />
48 MG4 - ELÉTRICO<br />
É urbano e compacto, mas é bem<br />
capaz de ser visto nos espaços amplos;<br />
por fora tem traços futuristas, no<br />
interior é algo minimalista. Inteligente<br />
e tecnologicamente avançado, tem<br />
um ar jovem e irrequieto. E é elétrico,<br />
cheio de estilo. É o regresso da MG.<br />
24 MOBILIDADE COLABORATIVA<br />
O desenvolvimento económico e<br />
o aumento do turismo contribuem<br />
para um cenário complexo e põem à<br />
prova o ecossistema de mobilidade,<br />
muitas vezes incapaz de responder à<br />
crescente utilização e afluência, resume<br />
Gustavo Magalhães, Senior Innovation<br />
Consultant da Beta-i<br />
VER REVISTA DIGITAL<br />
GRATUITA Nº.3<br />
4 e-MOBILIDADE<br />
+
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Via Rápida<br />
Camiões DAF de nova geração prontos para 100% HVO<br />
Além da introdução de uma série completa de camiões totalmente elétricos e do<br />
desenvolvimento da tecnologia de hidrogénio, a DAF está preparando os seus<br />
motores a combustão para novos tipos de combustível para reduzir ainda mais as<br />
emissões de CO 2<br />
. HVO – Hydrotreated Vegetable Oil – é um biocombustível de última<br />
geração quae permite uma redução nas emissões de CO 2<br />
de até 90% e pode<br />
perfeitamente ser utilizado em todos os camiões DAF de nova geração.<br />
O Óleo Vegetal Hidrotratado (HVO) é feito a partir de resíduos e gorduras da<br />
indústria alimentar. Atualmente, é o combustível mais sustentável do mercado<br />
para camiões a diesel e oferece uma redução de até 90% nas emissões de CO 2<br />
em comparação com o diesel comum. Ao contrário das gerações anteriores de<br />
biocombustíveis, o HVO não tem impacto na produção de alimentos. Além dos benefícios<br />
ambientais, outra vantagem importante é que o HVO pode ser usado em<br />
camiões DAF sem nenhum ajuste nos veículos, mantendo o excelente desempenho<br />
motores, bem como os intervalos de manutenção de até 200 mil quilómetros<br />
para transporte de longa distância.<br />
Kia EV9 100% elétrico já tem preços<br />
para o mercado português<br />
A Astara, representante da Kia em Portugal, acaba de<br />
anunciar os preços do novo SUV 100% elétrico EV9 para<br />
o mercado português. O novo modelo topo de gama da<br />
marca, com três filas de bancos, estará disponível em duas<br />
versões – 1st Edition e GT-LINE – com preços a partir de,<br />
respetivamente €79.052 e €90.956, para o segmento de<br />
clientes particulares. Para o mercado empresarial, os valores<br />
de comercialização iniciam-se em €60.990 e €67.990,<br />
acrescidos de IVA. As duas versões distinguem-se pela<br />
motorização e por alguns elementos de equipamento<br />
adicionais incorporados de série na variante GT-LINE. A<br />
versão 1st Edition está equipada com um motor com 204<br />
cv de potência e 350 Nm de binário máximo, enquanto a<br />
GT-LINE (AWD) possui dois motores, um no eixo da frente<br />
outro no eixo de trás, que juntos perfazem 385 cv e 700<br />
Nm de binário. O novo EV9 é o primeiro SUV topo de<br />
gama da Kia e está disponível com sete lugares, destacando-se<br />
pelo espaço disponível, design disruptivo, robustez,<br />
sofisticação e liderança tecnológica.<br />
Quase metade dos alunos em idade<br />
escolar vão de carro para a escola<br />
Dos 1,4 milhões de crianças em idade pré-escolar e escolar, entre<br />
os 5 e os 19 anos, quase metade vai de carro para a escola,<br />
sendo que apenas 29% daquelas utiliza transportes públicos no<br />
percurso entre a residência e o estabelecimento de ensino. Os<br />
dados são revelados pela Plataforma da Mobilidade Escolar,<br />
constituída pela Transportes, Inovação e Sistemas (TIS), em<br />
parceria com a DNXT, base que tem uma missão bem definida:<br />
garantir que, até 2030, todos os alunos com mais de dez anos<br />
sejam autónomos e possam escolher modos sustentáveis na<br />
sua deslocação casa-escola. Descrevem os promotores da<br />
plataforma que é percetível, “de há uns anos para cá, que a<br />
mobilidade das crianças e jovens está cada vez mais dependente<br />
dos pais (ou outros encarregados de educação) e do carro.<br />
Tal dependência do automóvel cria desafios significativos à<br />
gestão das cidades e vilas, sobretudo num contexto em que é<br />
imperioso promover uma maior sustentabilidade dos transportes<br />
e a sua descarbonização, justifica também aquela plataforma,<br />
para quem a sua missão é “ajudar todas as autarquias a ter a<br />
informação e os instrumentos necessários à implementação de<br />
uma estratégia de mobilidade escolar que promova uma maior<br />
sustentabilidade, de forma autónoma e independente.”<br />
6 e-MOBILIDADE
DPD e Nespresso alargam serviço<br />
de entregas verdes<br />
O compromisso da Nespresso com a sustentabilidade fez a marca reforçar<br />
a sua parceria com a DPD Portugal e apostar no alargamento das entregas<br />
sustentáveis com viaturas elétricas. Além do aumento da aposta nas<br />
entregas verdes, a Nespresso vai ainda ampliar o serviço de entregas dos<br />
seus produtos à rede de entregas Pickup da DPD, que conta hoje com<br />
mais de 1100 lojas e 200 cacifos inteligentes (lockers).<br />
Tendo já conquistado a neutralidade carbónica na atividade comercial, a<br />
Nespresso pretende ser neutra nas emissões que ocorrem na sua cadeia<br />
de abastecimento e no ciclo de vida do produto. A extensão da estratégia<br />
de entregas verdes representa o compromisso da marca com uma operação<br />
cada vez mais sustentável. Paralelamente, o investimento da Nespresso<br />
na reciclagem materializa-se na disponibilização mais de 250 pontos de<br />
reciclagem em Portugal para que os portugueses sejam também inspirados<br />
a criar um movimento mais positivo com as suas cápsulas. As cápsulas<br />
usadas Nespresso podem ainda ser entregues aos colaboradores da DPD<br />
para integrarem o processo de reciclagem, sendo o alumínio inserido na<br />
produção de carros, caixilharia de janelas, bicicletas.<br />
Volkswagen testa condução autónoma<br />
com passageiros em Munique<br />
O desenvolvimento de veículos autónomos para utilização<br />
em serviços de mobilidade e transporte está a fazer grandes<br />
progressos na Volkswagen Veículos Comerciais. No caminho<br />
para a produção em série, o Volkswagen ID. Buzz AD<br />
(Autonomous Driving), de condução autónoma, vai circular<br />
pela primeira vez na estrada durante as próximas semanas,<br />
em Munique, transportando decisores políticos, autoridades<br />
públicas e empresas, bem como representantes dos meios<br />
de comunicação social, para que possam ficar a conhecer as<br />
capacidades de controlo do veículo. O programa de testes<br />
da Volkswagen também foi lançado em paralelo em Austin,<br />
Texas, EUA. O processo de desenvolvimento do veículo AD<br />
visa a sua utilização comercial em centros urbanos na Europa<br />
e na América do Norte, tanto para programas de partilha de<br />
boleias como para serviços de transporte.<br />
Novo recorde de carregamentos na rede Mobi.E em agosto<br />
No mês de agosto, foram registados 406.728 carregamentos na rede Mobi-E, o que representa uma<br />
subida de 73% face ao mês homólogo de 2022. Também ao nível dos consumos de energia, a rede<br />
ultrapassou os recordes anteriores, tendo-se atingido os 6.932.261 kWh, um aumento de 91% em comparação<br />
com o mesmo período homólogo. O contínuo crescimento da rede é um dos principais fatores<br />
que contribui para estes números, uma vez que tem acompanhado o incremento do parque de viaturas<br />
elétricas. No final de agosto integravam a rede Mobi.E um total de 5.043 postos (3.827 públicos), o que<br />
corresponde a 8.204 pontos de carregamento. Outro dado relevante é a potência da rede, atualmente<br />
superior a 211.820 kW, 12% superior ao objetivo proposto no regulamento europeu “Alternative Fuel<br />
Infrastructure” Regulation” (AFIR). No final de agosto, 1.379 postos de carregamento eram rápidos ou<br />
ultrarrápidos, o que representa mais de um terço (37%) do total. Desde 1 de janeiro utilizaram a rede<br />
nacional de carregamento mais de 133 mi condutores, uma subida de 61% face a 2022. Em média, nos<br />
oito primeiros meses do ano, cada utilizador efetuou 20 carregamentos na rede Mobi.E.<br />
IVECO produz baterias e pilha de combustível de marca própria<br />
A IVECO anunciou que irá produzir e comercializar os seus veículos pesados (HD = Heavy Duty)<br />
elétricos a bateria e a pilha de combustível sob a marca IVECO. Esta decisão surge na sequência<br />
da comunicação do Grupo Iveco, em junho passado, da aquisição da totalidade da empresa alemã<br />
resultante da antiga joint venture Nikola Iveco Europe, passando a ser proprietária exclusiva<br />
da mesma. Os veículos IVECO HD BEV (Veículo Elétrico a Bateria) e IVECO HD FCEV (Veículo<br />
Elétrico a Célula Combustível) contam com um eixo elétrico desenvolvido e produzido juntamente<br />
com a FPT Industrial, marca do Iveco Group especializada em grupos propulsores, e dispõem<br />
de baterias fornecidas pela Proterra e tecnologia de células de combustível e componentes-chave<br />
da Bosch. Estes veículos elétricos desenvolvidos de raiz baseiam-se na plataforma do camião<br />
IVECO S-Way, a qual foi especificamente redesenhada de modo a poder suportar ambas as<br />
tecnologias de propulsão (célula de combustível e bateria), graças a uma arquitetura modular.<br />
e-MOBILIDADE 7
Via Rápida<br />
Toyota Hilux elétrica a pilha<br />
de combustível a hidrogénio<br />
A sua estreia é mais uma demonstração do âmbito alargado<br />
da estratégia multi-tecnológica da Toyota para alcançar uma<br />
mobilidade livre de carbono, aplicando diferentes soluções,<br />
desde veículos eletrificados com a tecnologia híbrida,<br />
eletrificados com a tecnologia híbrida plug-in, elétricos a<br />
bateria e elétricos a pilha de combustível – para responder<br />
às diferentes necessidades dos utilizadores, ambientes e<br />
necessidades de mobilidade em todo o mundo. A inovadora<br />
pick-up foi revelada na fábrica de veículos da Toyota Manufacturing<br />
UK em Derby, Inglaterra, onde foi desenvolvida<br />
num projeto conjunto com parceiros de consórcio, apoiado<br />
por financiamento do Governo do Reino Unido. A Hilux é um<br />
ícone global da marca Toyota com uma grande reputação em<br />
termos de fiabilidade e durabilidade excecionais. O projeto<br />
de desenvolvimento procurou que essas qualidades possam<br />
ser mantidas ao adotar uma nova motorização elétrica com<br />
pilha de combustível a hidrogénio e zero emissões.<br />
Crossway LE Elec da IVECO BUS é<br />
o “Autocarro Sustentável do Ano 2024”<br />
Depois de ter vencido os idênticos galardões nos anos de 2018, 2020 e<br />
2023 na categoria ‘Intercidades’, a IVECO BUS continua o seu sucesso<br />
na mesma categoria com o seu novo Crossway Low Entry ELEC, agora<br />
consagrado “Autocarro Sustentável do Ano 2024” durante a realização<br />
do Busworld, em Bruxelas. O júri da iniciativa, composto por jornalistas<br />
representantes de oito países europeus - Alemanha, Eslovénia, Espanha,<br />
Finlândia, França, Itália, Reino Unido e Roménia - prestou especial atenção<br />
aos princípios transversais do desenvolvimento sustentável, incluindo a<br />
capacidade de estabelecer uma imagem positiva do veículo junto do<br />
grande público. São tidos em conta diferentes aspetos, como a segurança,<br />
o conforto, o nível de ruído, a<br />
capacidade de reciclagem dos<br />
componentes e os compromissos<br />
ambientais do construtor.<br />
O júri salientou igualmente<br />
as inúmeras soluções de<br />
desenvolvimento possíveis para<br />
o transporte interurbano. O<br />
Crossway LE Elec está equipado<br />
com um motor elétrico central<br />
de 310 kW. É alimentado por<br />
uma bateria de lítio NMC<br />
montada pela FPT Industrial.<br />
Este conceito de bateria modular de última geração oferece excelentes<br />
padrões em termos de densidade energética e capacidade de carga. Os<br />
packs de 5, 6 ou 7 baterias, distribuídos no tejadilho e no compartimento<br />
traseiro, oferecem respetivamente 346, 416 e 485 kWh para a versão Classe<br />
I e 416 e 485 kWh para a versão Classe II. O veículo oferece um elevado<br />
desempenho com uma autonomia de cerca de 400 km, suficiente para<br />
cumprir integralmente as missões que ultrapassam o coração da cidade,<br />
sem emissões locais.<br />
Irizar mostra autocarro a hidrogénio na Busworld<br />
O Grupo Irizar estará presente na Feira Internacional Busworld, em Ormaiztegi, no País<br />
Basco, com a sua gama multitecnológica de autocarros e uma aposta firme pela mobilidade<br />
sustentável do futuro. O Grupo transportador espanhol Irizar apresentará a sua nova gama<br />
Efficient de veículos sustentáveis e muitas outras novidades tecnológicas, que serão vitais<br />
para o futuro da mobilidade e para a descarbonização. No stand número 602 do Hall 6, de<br />
1710 m2, Irizar e Irizar e-mobility apresentarão quatro veículos Irizar de última geração: uma<br />
unidade Irizar i8; uma unidade Irizar i6S Efficient; uma unidade do veículo elétrico Irizar ie<br />
tram e o novo Irizar i6S Efficient a hidrogénio. Todos os veículos expostos incluem importantes<br />
inovações em relação aos modelos atuais, em matéria de tecnologia, sustentabilidade<br />
e redução de consumos. A feira Busworld é também o cenário escolhido para a apresentação<br />
destacada do veículo a hidrogénio, que terá lugar no dia 7 de outubro, às 11h30 horas.<br />
Esta feira converte-se assim no marco ideal para a Irizar apresentar a sua estratégia de<br />
futuro e o seu roadmap tecnológico, que inclui a gama Efficient de veículos multitecnologia<br />
Irizar. O stand contará também com um espaço dedicado exclusivamente à sustentabilidade<br />
e ao compromisso da empresa por um mundo melhor, e à gama completa de produtos Izir,<br />
a marca de economia circular da Irizar, composta por produtos criados a partir de materiais<br />
excedentários de produção própria.<br />
Mercedes-Benz eActros 600<br />
já foi apresentado<br />
O novo Mercedes-Benz eActros600, o primeiro<br />
camião elétrico da marca para transportes de longo<br />
curso, foi apresentado à imprensa internacional no<br />
dia 10 de outubro, em Hamburgo. Karin Radstrom,<br />
CEO da Mercedes-Benz Trucks fez as honras da<br />
revelação do modelo, afirmando-se orgulhosa com<br />
o trabalho realizado, em prol da sustentabilidade<br />
e para um melhor ambiente. O veículo, que se<br />
caracteriza por um design arrojado e por um novo<br />
padrão aerodinâmico, tem motor elétrico de 600<br />
kW de capacidade e está equipado com três packs<br />
de baterias, cada um com 207 kWh. A autonomia<br />
anunciada é de 500 km com uma única carga, que<br />
a marca diz ser igual ou superior à média diária percorrida<br />
pelos camiões de longo curso em território<br />
europeu numa jornada de trabalho. O início das<br />
vendas começa ainda este ano, mas a produção em<br />
série está anunciada apenas para o final de 2024.<br />
8 e-MOBILIDADE
Já se pode viajar na Metro Transportes do Sul com o MB WAY<br />
O MB WAY juntou-se à Metro Transportes do Sul para facilitar a aquisição do título de transporte,<br />
colocando fim à necessidade de adquirir antecipadamente um título de transporte<br />
físico, dispensando também o custo dos suportes em papel, e passando a usufruir de um<br />
método mais económico de viajar. A Metro Transportes do Sul é um metropolitano de superfície,<br />
elétrico, que circula na cidade de Almada, nas vias urbanas do Monte da Caparica e faz<br />
a ligação com Corroios. Em todas as paragens do Metro Sul do Tejo terá disponível um QR<br />
Code Express correspondente às viagens existentes para que seja possível adquirir o bilhete<br />
apenas com o telemóvel, diretamente na paragem, abrindo a funcionalidade “Pagar com MB<br />
WAY” e apontando para o QR CODE. Pode ser adicionado o NIF e e-mail para fatura. Basta,<br />
depois, autorizar a compra. Para comprovar o pagamento bastará mostrar o ecrã com o registo<br />
de atividade ao aceder ao menu “Atividade” da app MB WAY.<br />
Porto de Leixões com 60 milhões<br />
para melhorar acessibilidades marítimas<br />
O Banco Europeu de Investimento (BEI) assinou um contrato de empréstimo<br />
de 60 milhões de euros com a APDL – Administração dos Portos do<br />
Douro, Leixões e Viana Do Castelo, S.A. para financiar o desenvolvimento<br />
da acessibilidade marítima ao porto de Leixões, através do aprofundamento<br />
da canal de acesso e ampliação do quebra-mar existente. Este<br />
projeto contribuirá para o transporte eficiente de pessoas e mercadorias,<br />
garantirá o acesso a empregos e serviços e permitirá o comércio e o<br />
crescimento económico, de acordo com a Rede Transeuropeia de Transportes<br />
da UE (RTE-T). O custo total do projeto rondará os 190 milhões<br />
de euros, sendo o empréstimo do BEI garantido pelo Estado português.<br />
A cerimónia de assinatura teve lugar no dia 11 de setembro, no Porto de<br />
Leixões, na presença do ministro das Infraestruturas, João Galamba, com<br />
a participação do vice-presidente do BEI, Ricardo Mourinho Félix e do<br />
presidente da APDL, João Pedro Neves, que sublinharam a importância<br />
deste investimento para financiar a modernização e expansão do mais<br />
importante porto do noroeste da Península Ibérica, em termos de carga e<br />
contentores.<br />
One liga a Europa à América do Sul<br />
A Ocean Network Express (ONE) anuncia o início do<br />
novo serviço Latin-East-Coast Europe Express (LUX),<br />
que ligará a Europa e o Mediterrâneo à Costa Leste<br />
da América do Sul, oferecendo aos clientes da ONE,<br />
uma maior cobertura, conetividade e flexibilidade.<br />
O LUX representa o primeiro serviço dedicado da<br />
ONE a ligar a Europa e o Mediterrâneo à Costa Leste<br />
da América do Sul. O serviço foi concebido para<br />
proporcionar um tempo de trânsito competitivo no<br />
sentido norte da Costa Leste da América do Sul para<br />
o Mediterrâneo e a Europa, oferecendo aos clientes<br />
uma alternativa competitiva aos produtos existentes<br />
no mercado, especialmente para carga refrigerada.<br />
É também o único serviço no mercado que faz uma<br />
escala direta de Lisboa para a Costa Leste da América<br />
do Sul, oferecendo aos clientes a oportunidade de<br />
embarcar a partir destes pares de portos únicos.<br />
Descoberta arqueológica atrasa obra do “metrobus” no Porto<br />
A descoberta de vestígios arqueológicos na Avenida Marechal Gomes da Costa, no<br />
Porto, vai atrasar a obra da linha de ‘metrobus’, estimando a Metro do Porto condicionamentos<br />
de trânsito naquela artéria até outubro. Numa carta enviada a 13 de setembro aos<br />
moradores, a empresa Metro do Porto, responsável pela obra, refere que, no âmbito dos<br />
trabalhos que decorrem entre a Avenida Marechal Gomes da Costa e a Praça do Império,<br />
“foram encontrados vestígios arqueológicos - nomeadamente um conjunto de fossas, situadas<br />
precisamente sob o canal ‘metrobus’ - que vão obrigar à realização de sondagens<br />
exploratórias mais profundas”. Estas escavações arqueológicas, obrigatórias por lei, “visam<br />
avaliar o eventual valor histórico deste património e, em termos práticos, impedem o<br />
desenvolvimento da obra de acordo com o planeamento que estava definido”, explica a<br />
empresa, estimando que as sondagens se prolonguem por três semanas.
A INTERM<br />
COMBOIO<br />
E NAVIO<br />
As vantagens da adoção da<br />
intermodalidade com o uso<br />
crescente do comboio e do<br />
navio no transporte internacional<br />
são diversas e podem<br />
trazer impactos positivos<br />
significativos para as<br />
empresas<br />
10 e-MOBILIDADE
ODALIDADE<br />
em Portugal<br />
Caracterizada pelo uso combinado de diferentes modos de transporte,<br />
como comboio e navio, a intermodalidade desempenha um papel<br />
fundamental no transporte internacional, especialmente no contexto<br />
da cadeia logística em Portugal.<br />
VÍTOR CALDEIRINHA<br />
Assessor do Conselho de Administração da<br />
APSS, Professor, Investigador e Consultor<br />
portuário<br />
A<br />
crescente utilização desses<br />
modos de transporte pode trazer<br />
benefícios significativos para os<br />
fabricantes e para a distribuição,<br />
contribuindo para a redução de<br />
custos e o aumento da sustentabilidade nos<br />
escopos 1, 2 e 3 das operações logísticas.<br />
A importância da intermodalidade reside na<br />
capacidade de otimizar a eficiência e a eficácia<br />
dos processos de transporte. Ao combinar o<br />
transporte ferroviário e marítimo, os fabricantes<br />
podem reduzir os custos de frete,<br />
minimizar os tempos de trânsito e diminuir<br />
a pegada de carbono associada ao transporte.<br />
Isso é especialmente relevante para Portugal,<br />
dado o seu perfil geográfico e a necessidade<br />
de conectar-se a mercados internacionais de<br />
forma eficaz.<br />
Para implementar a intermodalidade com<br />
sucesso, os fabricantes e empresas de distribuição<br />
devem considerar algumas medidas e<br />
estratégias, como por exemplo realizar uma<br />
análise detalhada da cadeia logística existente<br />
para identificar oportunidades de integração<br />
de modos de transporte. Isso envolve avaliar<br />
rotas, volumes de carga, custos e tempos de<br />
trânsito. Colaborar com entidades responsáveis<br />
pela infraestrutura ferroviária e portuária<br />
para garantir que as instalações sejam<br />
adequadas para a intermodalidade. Investir<br />
em melhorias e modernização pode facilitar<br />
a transferência eficiente entre modos de<br />
transporte.<br />
Utilizar sistemas de rastreamento e tecnologias<br />
de informação para monitorar e gerir as<br />
cargas ao longo de toda a cadeia logística, o<br />
e-MOBILIDADE 11
que proporciona visibilidade em tempo<br />
real e ajuda a tomar decisões informadas.<br />
Estabelecer parcerias colaborativas com<br />
operadores ferroviários, companhias de<br />
navegação, transportadores rodoviários e<br />
outros intervenientes para garantir uma<br />
integração fluida e eficiente dos diferentes<br />
modos de transporte.<br />
Realizar estudos de viabilidade para identificar<br />
as rotas e os corredores mais eficazes<br />
para a intermodalidade. Isso levará<br />
em consideração fatores como distâncias,<br />
tempos de trânsito, custos operacionais e<br />
regulamentações.<br />
Para estudar e<br />
aprofundar o conhecimento<br />
sobre<br />
intermodalidade, é<br />
recomendado que<br />
profissionais do setor<br />
considerem estudar<br />
os conceitos e as<br />
práticas da logística<br />
intermodal, compreendendo os desafios e<br />
benefícios associados à combinação de diferentes<br />
modos de transporte e explorar as<br />
melhores práticas na gestão da cadeia de<br />
abastecimentos, incluindo estratégias para<br />
otimização de rotas e redução de custos.<br />
Além disso, é importante familiarizarem-<br />
-se com as tecnologias de rastreamento<br />
de carga, sistemas de gestão de transporte<br />
e softwares de planeamento logístico<br />
e compreender as regulamentações<br />
EXPANSÃO INTENACIONAL<br />
A utilização de transporte ferroviário<br />
e marítimo pode facilitar o alcance de<br />
mercados internacionais distantes que<br />
não são acessíveis apenas por estradas<br />
internacionais e nacionais que afetam o<br />
transporte intermodal, incluindo aspetos<br />
alfandegários, regulamentos de segurança<br />
e questões ambientais.<br />
Importa ainda que estudem abordagens<br />
sustentáveis para a logística, considerando<br />
a redução das emissões de gases<br />
de efeito estufa nos escopos 1, 2 e 3 da<br />
cadeia logística.<br />
A associação Intermodal Portugal pode<br />
ajudar estas empresas a compreender e<br />
avaliar os cenários de mudança modal,<br />
apoiando nas seguintes etapas:<br />
Na identificação e<br />
na colaboração entre<br />
profissionais do<br />
setor de portos, logística,<br />
distribuição e<br />
transporte interessados<br />
em promover<br />
a intermodalidade,<br />
no apoio para que as<br />
empresas estabeleçam<br />
metas claras sobre como explorar<br />
oportunidades de intermodalidade, identificar<br />
desafios e desenvolver soluções.<br />
As empresas interessadas podem entrar<br />
em contato com a associação Intermodal<br />
Portugal para expressar interesse em participar<br />
ou colaborar. Isso pode envolver<br />
participação em eventos, work shops ou<br />
grupos de discussão, partilha de experiências,<br />
melhores práticas e conhecimento<br />
entre os membros do setor.<br />
Existe ainda possibilidade de as empresas<br />
participarem em projetos-piloto para<br />
testar a intermodalidade e demonstrar os<br />
seus benefícios tangíveis e eventualmente<br />
considerarem a possibilidade de se tornar<br />
associado da associação Intermodal<br />
Portugal para acesso a recursos, networking<br />
e apoio institucional.<br />
A intermodalidade oferece oportunidades<br />
significativas para fabricantes e<br />
empresas de distribuição em Portugal,<br />
reduzindo custos e melhorando a sustentabilidade<br />
em toda a cadeia logística.<br />
Ao estudarem os princípios da intermodalidade,<br />
colaborarem com parceiros<br />
relevantes e aproveitarem a expertise da<br />
associação Intermodal Portugal, os profissionais<br />
podem impulsionar o desen-<br />
12 e-MOBILIDADE
Ao combinar o transporte ferroviário e marítimo,<br />
os fabricantes podem reduzir os custos de frete,<br />
minimizar os tempos de trânsito e diminuir a<br />
pegada de carbono associada ao transporte<br />
volvimento dessa abordagem inovadora<br />
no transporte internacional.<br />
As vantagens da adoção da intermodalidade<br />
com o uso crescente do comboio<br />
e do navio no transporte internacional<br />
são diversas e podem trazer impactos<br />
positivos significativos para as empresas.<br />
No entanto, essas vantagens estão<br />
frequentemente associadas a algumas<br />
mudanças operacionais e estratégicas que<br />
as empresas precisam de realizar para<br />
aproveitá-las plenamente.<br />
A intermodalidade permite otimizar<br />
rotas e modos de transporte, resultando<br />
em custos de frete mais baixos. O uso<br />
do comboio e do navio pode ser mais<br />
eficiente em termos de consumo de combustível<br />
e infraestrutura em comparação<br />
com o transporte rodoviário exclusivo.<br />
Por outro lado, a combinação de modos<br />
de transporte pode acelerar o tempo de<br />
trânsito, minimizando atrasos associados<br />
ao tráfego rodoviário ou congestionamento.<br />
Isso ajuda as empresas a cumprir<br />
prazos de entrega e melhorar a satisfação<br />
do cliente.<br />
A intermodalidade contribui para a<br />
redução das emissões de carbono, pois<br />
modos como comboio e navio têm<br />
menor pegada de carbono por tonelada/<br />
km em comparação com o transporte<br />
rodoviário. Isso auxilia na melhoria da<br />
imagem das empresas no que diz respeito<br />
à responsabilidade ambiental.<br />
A diversificação dos modos de transporte<br />
permite às empresas ajustar a capacidade<br />
de transporte conforme as flutuações na<br />
procura. Isso é especialmente útil em<br />
épocas de picos sazonais ou mudanças<br />
na demanda do mercado. Por fim, a utilização<br />
de transporte ferroviário e marítimo<br />
pode facilitar o alcance de mercados<br />
internacionais distantes que não são<br />
acessíveis apenas por estradas.<br />
Mas as empresas precisam adotar uma<br />
abordagem mais integrada para o planeamento<br />
logístico, considerando a combinação<br />
de diferentes modos de transporte<br />
desde o início do processo. A implementação<br />
bem-sucedida da intermodalidade<br />
requer o uso de tecnologias avançadas<br />
para rastreamento de carga, gestão de<br />
transporte e análise de dados. Isso exige<br />
investimentos em sistemas e infraestrutura<br />
tecnológica. As empresas precisam<br />
colaborar com operadoras ferroviárias,<br />
companhias de navegação, terminais<br />
portuários e outros stakeholders para<br />
garantir uma operação fluida e integrada.<br />
Em alguns casos, pode ser necessário<br />
ajustar a infraestrutura das instalações<br />
para permitir a transferência eficiente<br />
entre diferentes modos de transporte. A<br />
equipa responsável pela logística deve ser<br />
capacitada para compreender as nuances<br />
da intermodalidade, regulamentações e<br />
melhores práticas associadas e as empresas<br />
devem revisitar contratos e acordos<br />
com fornecedores para garantir que<br />
as condições sejam adequadas à nova<br />
estratégia de transporte e devem realizar<br />
reanálises detalhadas das rotas e fluxos<br />
de carga para identificar as melhores<br />
oportunidades de integração de modos<br />
de transporte.<br />
A intermodalidade exige uma monitorização<br />
constante e uma abordagem<br />
de melhoria contínua para identificar<br />
pontos fracos e oportunidades de aprimoramento.<br />
Ou seja, a intermodalidade oferece vantagens<br />
consideráveis para as empresas<br />
em termos de redução de custos, eficiência<br />
operacional, sustentabilidade e acesso<br />
a mercados. No entanto, para aproveitar<br />
plenamente essas vantagens, as empresas<br />
precisam estudar, colaborar mais e<br />
realizar mudanças em seus processos,<br />
tecnologias e estratégias, adotando uma<br />
abordagem mais integrada e colaborativa<br />
em sua logística.<br />
e-MOBILIDADE 13
Mobilidade feliz<br />
e saudável<br />
Mobilidade integrada<br />
Costumo dizer que ir de carro é uma deslocação, de bicicleta é<br />
um passeio. Sobretudo se a distância não for demasiado longa<br />
e se houver forma de o fazer em segurança. Há quem chame<br />
evolução ao que tem de acontecer nas nossas cidades em termos<br />
de mobilidade, como há quem diga que se trata de regressar a um<br />
tempo mais simples e racional. Como se diz em informática, a um<br />
ponto de restauro. Parece-me que é uma mistura de ambos.<br />
SUAVE OU ACTIVA?<br />
Há a tendência para confundir os<br />
dois conceitos, mas há uma diferença<br />
basilar entre eles: toda a mobilidade<br />
activa é suave, mas o contrário já não<br />
é verdade. Por ‘activa’ entende-se toda<br />
a forma de deslocação que implique<br />
algum exercício físico, mesmo que<br />
suave. Ou seja, caminhar, correr e<br />
andar de bicicleta, mesmo que elétrica,<br />
são formas de mobilidade activa. Já<br />
veículos elétricos como trotinetas ou<br />
motociclos são de mobilidade suave,<br />
mas não activa. E fica a dúvida em<br />
relação a alguns pequenos veículos<br />
elétricos, os de micromobilidade, pois<br />
estes exigem também algum esforço<br />
físico. Mas deixemos essa discussão<br />
para outras conversas.<br />
Todas estas formas são apelidadas de<br />
suaves por terem muito menor impacto<br />
na cidade, tanto em termos de trânsito<br />
como das infraestruturas necessárias<br />
para a sua utilização. Uma scooter,<br />
por exemplo, fornece um meio de<br />
transporte já com alguma rapidez, mas<br />
com pouco peso no congestionamento<br />
e com um impacto ambiental significativamente<br />
menor, tanto na produção<br />
como na circulação, se comparada<br />
com um automóvel. Daí a sua suavidade.<br />
O mesmo acontece com uma<br />
bicicleta elétrica, sendo que essa já<br />
exige uma actividade física moderada<br />
pelo que, além de suave, é um modo<br />
activo. Sem esforço, sem transpiração,<br />
mas com alguma utilização dos nossos<br />
músculos. Torna-se, assim, numa<br />
solução activa mais abrangente, pois<br />
proporciona deslocações para maiores<br />
distâncias, incluindo subidas. E mais<br />
democrática, até, pois permite a utilização<br />
por quem não teria capacidade<br />
física para o fazer somente a pedal ou,<br />
simplesmente, por quem não quer ter<br />
de tomar um duche ou cheirar a suor<br />
após a chegada.<br />
OS BENEFÍCIOS<br />
Comecemos pelos benefícios exclusivos<br />
da mobilidade activa:<br />
» Saúde e bem-estar – Caminhar<br />
ANTÓNIO GONÇALVES PEREIRA<br />
Presidente do Ecomood Portugal, Associação<br />
para a Promoção Solidária da Sustentabilidade<br />
na Mobilidade Humana; Embaixador do Pacto<br />
Climático Europeu<br />
ou andar de bicicleta regularmente<br />
pode reduzir o risco de doenças<br />
crónicas, melhorar o funcionamento<br />
cardiovascular e aumentar o<br />
bem-estar mental. Ao incorporar a<br />
atividade física nas rotinas diárias,<br />
os indivíduos podem alcançar um<br />
estilo de vida mais equilibrado e<br />
ativo;<br />
» Integração Social – caminhar e<br />
circular de bicicleta promove a<br />
interação social e o envolvimento da<br />
comunidade. Ruas projectadas para<br />
pedestres e ciclistas promovem um<br />
sentimento de pertença, de partilha,<br />
14 e-MOBILIDADE
NOVOS HÁBITOS<br />
As nossas cidades foram-se<br />
transformando em função do<br />
automóvel. E agora tem de se investir<br />
em alterá-las novamente para termos<br />
cidades mais seguras para o peão,<br />
para o utilizador de bicicleta, para<br />
uma mobilidade mais suave<br />
incentivam as pessoas a interagir com<br />
o seu meio envolvente. Esta abordagem<br />
inclusiva ao transporte cria um<br />
ambiente urbano mais conectado e<br />
vibrante;<br />
Quanto às vantagens comuns:<br />
» Económicas – mais gente a pé, de<br />
bicicleta ou até de moto implica menos<br />
carros a circular. E a redução do<br />
congestionamento do trânsito resulta<br />
em economia de tempo e aumento<br />
da produtividade, para uns e outros.<br />
Além disso, os investimentos em<br />
infraestrutura ciclável geram empregos,<br />
impulsionam as economias<br />
locais e aumentam as oportunidades<br />
de turismo, pois as cidades tornam-se<br />
mais atraentes tanto para moradores<br />
como para visitantes;<br />
» Sustentabilidade Ambiental – se a<br />
mobilidade activa é ecologicamente<br />
correcta, a suave também diminui<br />
consideravelmente emissões, tanto na<br />
produção dos veículos como depois<br />
na sua utilização. E, além da melhor<br />
qualidade do ar, há também uma redução<br />
da poluição sonora, ajudando<br />
a tornar as cidades mais habitáveis e<br />
sustentáveis para todos;<br />
DESAFIOS E SOLUÇÕES<br />
Esta evolução/restauro implica uma<br />
mudança de mentalidades e de décadas<br />
de hábitos e posturas civilizacionais.<br />
A pedagogia é, portanto, fundamental.<br />
E é aqui que o trabalho nas escolas se<br />
torna essencial. Costumo dizer que é<br />
um 3 em 1: estamos a ajudar mentes<br />
ainda praticamente virgens de maus<br />
hábitos a começarem a agir da melhor<br />
forma logo à partida; estamos a pôr as<br />
crianças e jovens a ajudar-nos a evoluir<br />
as mentalidades e comportamentos<br />
dos seus familiares, o que directamente<br />
sabemos ser muito mais complicado;<br />
e fica ainda a esperança de estarmos<br />
a criar alguns ‘activistazinhos’. Daí a<br />
importância de movimentos e formatos<br />
como o Kidical Mass, o Bicycle Heroes<br />
ou as ‘bicicaravanas’ para a escola.<br />
Espreite-as, vale a pena.<br />
Também ao nível das infraestruturas os<br />
desafios são grandes. As nossas cidades<br />
foram-se transformando em função do<br />
automóvel. E agora tem de se investir<br />
em alterá-las novamente para termos<br />
cidades mais seguras para o peão, para<br />
o utilizador de bicicleta, para uma mobilidade<br />
mais suave. E se, em alguns<br />
casos, a redução da velocidade de circulação<br />
dos veículos rodoviários muito<br />
contribuirá para uma partilha mais<br />
segura do espaço público, noutros implica<br />
obras estruturais para reconquista<br />
de espaço e reformulação de todo o<br />
conceito de circulação urbana.<br />
Portanto, para conseguirmos uma<br />
mobilidade mais activa e mais suave,<br />
mais sustentável ambiental e socialmente,<br />
temos que garantir também a sua<br />
segurança. E assim seremos, nós e as<br />
cidades, mais felizes e saudáveis.<br />
Nota: este texto está escrito no português de<br />
Portugal que decidi adoptar, sem a maior parte<br />
do (des)acordo ortográfico.<br />
e-MOBILIDADE 15
EVENTOS<br />
25º Congresso de Logística da APLOG aborda tema crucial:<br />
“Supply Chain: da Colaboração<br />
à Sustentabilidade”<br />
A cidade de Lisboa foi o epicentro escolhido para a relevante discussão sobre “Supply<br />
Chain: Da Colaboração à Sustentabilidade” que dá mote ao 25º Congresso da APLOG,<br />
do qual a EUROTRANSPORTE é media partner<br />
O<br />
evento que reúne líderes da indústria,<br />
académicos e especialistas na<br />
procura de soluções inovadoras<br />
para os desafios atuais, terá lugar<br />
nos dias 30 e 31 de outubro no<br />
Centro de Congressos de Lisboa (Junqueira).<br />
O congresso lança para a ribalta a ligação crucial<br />
entre eficiência operacional e a responsabilidade<br />
ambiental, que terá na ordem dos dois dias temas<br />
relevantes para o setor: as Perspetivas para a<br />
SupplyChain; o Futuro da Logística no Metaverso;<br />
a Colaboração nos Transportes – da primeira à<br />
última milha; a Importância dos Portos Marítimos<br />
nas Relações Intercontinentais; as Tendências<br />
Globais de Recursos Humanos; a Sustentabilidade<br />
e Economia Circular; a Cibersegurança; as<br />
Carreiras e as Remunerações na Supply Chain;<br />
as Startups como Contribuição para a Inovação,<br />
a Logística Inversa,<br />
no que respeita aos<br />
desafios e boas práticas;<br />
a Colaboração<br />
Produtores/Fabricantes;<br />
a Inteligência<br />
Artificial na Supply<br />
Chain entre muitos<br />
outros temas muito<br />
desafiantes.<br />
O 25º Congresso<br />
de Logística “Supply Chain: Da Colaboração à<br />
Sustentabilidade” promete ser o palco para uma<br />
logística mais eficiente e sustentável, através da<br />
partilha de conhecimento e da colaboração entre<br />
os principais players da indústria, esperando que<br />
a logística do futuro seja não apenas mais eficaz,<br />
mas também mais amiga do meio ambiente.<br />
Para mais informações e inscrições, visite o site<br />
oficial do congresso: https://aplog.pt/, ou aceda ao<br />
QR Code.<br />
MENSAGEM DO PRESIDENTE<br />
“O sucesso das Operações<br />
Logísticas e a eficiência<br />
das Cadeias de Abastecimento<br />
estiveram sempre<br />
ligados à maior ou menor<br />
capacidade de estabelecer<br />
estratégias de colaboração,<br />
com a Academia, Infraestruturas,<br />
Produtores, Retalhistas,<br />
Tecnológicas, Operadores<br />
logísticos e de Transporte e<br />
Fabricantes de Equipamentos<br />
entre outros...<br />
Hoje, face aos desafios que<br />
enfrentamos, da inflação à<br />
digitalização, da descarbonização<br />
à capacitação dos<br />
profissionais, mas acima de<br />
todos o da Sustentabilidade,<br />
esta estratégia só pode ser<br />
desenvolvida e reforçada!<br />
É isso que nos propomos tratar nos dias 30 e 31 de outubro no<br />
Centro de Congressos de Lisboa, através de casos práticos, oradores<br />
especializados e empresas de vanguarda!<br />
A APLOG está apostada em criar um Futuro mais colaborativo e<br />
sustentável!<br />
Conto consigo!”<br />
Raul Magalhães<br />
16 e-MOBILIDADE
e-MOBILIDADE 17
“Acordar tarde prejudica todos<br />
quando há compromissos<br />
a cumprir e a respeitar”<br />
[A propósito do]SERVIÇO PÚBLICO<br />
DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS<br />
ORLANDO FERREIRA<br />
Professor universitário e ex-administrador da<br />
Rodoviária do Tejo<br />
Se olharmos para o processo de contratualização do Serviço Público de Transporte de<br />
Passageiros (SPTP) em curso em Portugal, desde o primeiro concurso lançado pela<br />
Comunidade Intermunicipal do Algarve em junho de 2019, podemos perceber que se<br />
está a andar a um bom ritmo, apesar de poder ser considerado lento por quem sonhou ser<br />
possível cumprir a vontade do legislador (europeu e nacional).<br />
18 e-MOBILIDADE
e-MOBILIDADE 19
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS<br />
Opinião Orlando Ferreira<br />
O FUTURO É<br />
PARA CUMPRIR<br />
Como afirma Guilherme d’Oliveira<br />
Martins, “acordar tarde prejudica<br />
todos, quando há compromissos a<br />
cumprir e a respeitar”<br />
1. Vamos a ‘meio’ caminho neste<br />
processo, mas não estamos perante um<br />
novo julgamento de Salomão baseado<br />
no reconhecimento que ‘meio filho é<br />
pior do que filho nenhum’. O que já foi<br />
conseguido merece ser elogiado face à<br />
complexidade e multidimensionalidade<br />
dos objetivos envolvidos. No entanto, é<br />
inquestionável o muito trabalho que há<br />
ainda para fazer para que a contratualização<br />
do SPTP se continue a desenvolver<br />
como instrumento de equilibradas<br />
e sustentáveis políticas públicas de<br />
mobilidade.<br />
Por exemplo, reconhecemos não ter<br />
(ainda) sido dada qualquer relevância<br />
às opções de ‘diversificação de procedimentos<br />
que encorajam a inovação,<br />
a inclusão de objetivos relativos à<br />
sustentabilidade e a prioridade à boa<br />
execução dos contratos’. O argumento<br />
que o tempo da curva de aprendizagem<br />
e os elevados custos de contexto (na<br />
celebração e execução dos contratos)<br />
desaconselham que se inicie esta abordagem,<br />
não parece razoável. O futuro é<br />
para cumprir e, como afirma Guilherme<br />
d’Oliveira Martins: “Acordar tarde prejudica<br />
todos, quando há compromissos<br />
a cumprir e a respeitar”.<br />
2.O futuro da mobilidade, o tal que<br />
vai ter que ser cumprido e respeitado,<br />
tem implícita a ideia de mudança, disruptiva<br />
no complexo caso dos transportes<br />
e que nos obriga a ir percebendo,<br />
em cada momento, quais são os drivers<br />
dessa mudança. Entre outros, podemos<br />
destacar a irreversível aleatoriedade do<br />
comportamento da procura; a chegada<br />
da digitalização e da conectividade ao<br />
mundo dos transportes (associada à necessidade<br />
de um match em tempo real<br />
desta aleatoriedade e conectividade); os<br />
efeitos das alterações climáticas (gases<br />
com efeito de estufa e a qualidade do<br />
ar); os desafios das alterações tecnológicas<br />
e os novos modelos de negócio. Não<br />
podemos acordar demasiado tarde!<br />
O mundo muda mas, porque se<br />
mantém na ordem do dia o risco de<br />
uma deficiente utilização dos recursos<br />
públicos, exige-se a cada um de nós a<br />
salvaguarda do bem comum. Comprar<br />
bem, será sempre uma das melhores<br />
formas de prosseguir o bem comum<br />
enquanto interesse público mas, muitas<br />
vezes, continuamos a comprar mal.<br />
Defendemos ainda, com unhas e dentes,<br />
o critério de adjudicação do preço mais<br />
baixo, pressupondo estarmos ainda nos<br />
primórdios dos mercados estabilizados<br />
de há dezenas de anos atrás e, por outro<br />
lado, continuamos a ignorar a diversificação<br />
procedimental desenvolvida para<br />
valorizar a inovação, a flexibilidade e a<br />
negociação.<br />
3.Neste processo de contratualização<br />
do SPTP, há quem defenda que, muito<br />
do que possa ter corrido menos bem se<br />
deveu a um pecado original: o facto de<br />
a maioria das autoridades de transporte<br />
(entidades públicas inicialmente sem<br />
competências nem vocação para estas<br />
andanças) terem sido obrigadas a orga-<br />
20 e-MOBILIDADE
nizar procedimentos abertos de apelo à<br />
concorrência em ambiente de assimetria<br />
de informação.<br />
No entanto, existindo já um instrumento<br />
(Consulta Preliminar ao Mercado)<br />
essencialmente destinado a permitir às<br />
entidades adjudicantes a recolha de informações<br />
‘que pudessem ser utilizadas<br />
no planeamento da contratação’, que se<br />
saiba, nenhuma autoridade de transportes<br />
recorreu a esta figura para esbater<br />
essa assimetria de informação.<br />
Tudo muda. Na anterior legislação,<br />
restringia-se este tipo de consultas,<br />
receando que pudessem conflituar com<br />
uma desejável e sã concorrência. Agora,<br />
promovem-se estas consultas com o objetivo<br />
de não distorcer a concorrência.<br />
Com este instrumento, o legislador fez<br />
saber que queria ‘mais conversa’ entre<br />
Comprar bem, será<br />
sempre uma das<br />
melhores formas de<br />
prosseguir o bem<br />
comum mas, muitas<br />
vezes, continuamos a<br />
comprar mal<br />
as partes envolvidas nos procedimentos<br />
de contratação pública e, se o legislador<br />
exigiu o aprofundamento da componente<br />
relacional da contratação pública,<br />
é isso que deveríamos ser capazes de<br />
fazer.<br />
Por outro lado, esta consulta informal,<br />
poderia ainda ser utilizada para nivelar<br />
a concorrência, ou seja, para neutralizar<br />
as vantagens competitivas inerentes à<br />
qualidade de incumbente. Nada impede,<br />
pelo contrário até se recomenda,<br />
que estas consultas possam também<br />
servir para reduzir a opacidade na<br />
execução dos contratos anteriormente<br />
celebrados.<br />
4.Voltando a olhar para o que está<br />
em cima da mesa neste processo de<br />
contratualização do SPTP, confirmamos<br />
que ‘todas’ as autoridades de transporte,<br />
optaram pelo procedimento de Concurso<br />
Público desvalorizando o interesse em<br />
poder começar por escolher os melhores<br />
candidatos disponíveis no mercado. A exceção<br />
foi a Região Autónoma da Madeira<br />
que, optando pelo procedimento Concurso<br />
Limitado por Prévia Qualificação, não<br />
abdicou de começar este processo pela<br />
escolha dos melhores operadores económicos<br />
existentes no mercado. O futuro<br />
fará que seja esta a opção.<br />
Neste ponto, nunca é demais relembrar<br />
que o procedimento de Concurso<br />
Público nem sempre é a melhor opção<br />
e nem sempre é a opção desejada pelo<br />
legislador. Neste processo de contratualização<br />
em curso, a legislação apenas<br />
obriga a que se recorra a procedimentos<br />
com apelo ao mercado (call for tender)<br />
onde, o Concurso Público não é mais<br />
do que um, entre os seis procedimentos<br />
possíveis.<br />
Em situações de contratos particularmente<br />
complexos (e o serviço publico<br />
de transporte de passageiros evolui<br />
inexoravelmente neste sentido) onde<br />
não seja possível especificar plenamente<br />
o objeto do contrato sem violar o princípio<br />
da concorrência, é desaconselhado<br />
o recurso ao procedimento de concurso<br />
público. Nestes casos, para ‘cumprir a<br />
legislação’, as opções devidas seriam<br />
o Diálogo Concorrencial, a Parceria<br />
para a Inovação ou o Procedimento de<br />
Negociação. Já nas situações em que<br />
fosse possível especificar plenamente<br />
o objeto do contrato a contratar as<br />
melhores opções seriam o Sistema de<br />
Aquisição Dinâmica (para uma série de<br />
contratos) ou o Concurso Limitado por<br />
Prévia Qualificação (para celebrar um só<br />
contrato).<br />
Todos estes cinco procedimentos iniciam-se<br />
por um apelo à concorrência<br />
para escolha dos melhores operadores<br />
económicos disponíveis no mercado<br />
e não para a escolha das melhores<br />
propostas como acontece no Concurso<br />
Público.<br />
É também relevante referir que, o<br />
surgimento destes novos procedimentos<br />
representou uma pedrada no charco da<br />
contratação pública pois, pela primeira<br />
vez, o quadro legal assumiu que, nos<br />
mercados públicos modernos, nem<br />
sempre as entidades adjudicantes se<br />
devem considerar suficientemente esclarecidas<br />
sobre a melhor solução a adotar,<br />
de modo a estar em condições de preparar<br />
um eficaz caderno de encargos. Pela<br />
primeira vez, o legislador considerou<br />
inaceitável a ‘omnisciência’ das entidades<br />
adjudicantes.<br />
No entanto, estes procedimentos, com<br />
utilização já generalizada em alguns países,<br />
mas com raríssimas aplicações em<br />
Portugal (nulas no setor dos transportes)<br />
não podem continuar a ser apenas<br />
uma miragem e uma oportunidade<br />
perdida.<br />
[Um exemplo] No seu artigo 30.º, o<br />
CCP desafia todas as entidades públicas<br />
a utilizarem o procedimento Diálogo<br />
Concorrencial sempre que estiverem<br />
perante contratos particularmente<br />
complexos e relativamente aos quais<br />
seja objetivamente impossível definir:<br />
(i) a solução técnica mais adequada à<br />
satisfação das necessidades da entidade<br />
adjudicante com o contrato a celebrar;<br />
(ii) os meios técnicos aptos a concretizar<br />
a solução já definida pela entidade<br />
adjudicante, ou (iii) a estrutura jurídica<br />
ou financeira inerentes ao contrato a<br />
celebrar.<br />
5.Continuando nesta visita ao que<br />
está em cima da mesa, verificamos<br />
que ‘metade’ dos processos envolvendo<br />
comunidades intermunicipais estão já<br />
finalizados ou praticamente finalizados,<br />
e-MOBILIDADE 21
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS<br />
Opinião Orlando Ferreira<br />
As autoridades metropolitanas optaram por um<br />
modelo assente no contrato de prestação de serviços<br />
e as comunidades intermunicipais por um modelo<br />
assente no contrato de concessão<br />
que algumas destas entidades públicas<br />
não iniciaram qualquer procedimento.<br />
Existiram também concursos que ficaram<br />
desertos ou não tiveram propostas<br />
válidas, o que nos confirma que o risco<br />
comercial da maioria dos concursos,<br />
associado a um forte nível de incerteza,<br />
se traduz quase sempre numa significativa<br />
redução da competitividade dos<br />
mesmos.<br />
A incerteza relativamente aos níveis de<br />
procura e de receita que uma operação<br />
pode vir a gerar coloca sempre em causa<br />
a comportabilidade dos previsíveis défices<br />
de exploração. [as condicionantes<br />
demográficas, industriais e sócio- económicas<br />
devem ser da responsabilidade<br />
de quem? Têm mesmo que ser da exclusiva<br />
responsabilidade do operador?]<br />
Por outro lado, como quase todos o previram,<br />
muitos concursos tiveram apenas<br />
um concorrente e os adjudicatários<br />
acabaram por ser os incumbentes ou<br />
aqueles que detinham a maior parcela<br />
de operação no território. É inegável<br />
que um incumbente, pelo simples facto<br />
de o ser, goza de uma vantagem em<br />
comparação com os demais operadores<br />
económicos que se possam vir a<br />
apresentar a disputar novas adjudicações,<br />
mas isso é da própria natureza<br />
das coisas! O legislador, que não gosta<br />
desta incumbência, tem vindo a adotar<br />
mecanismos para eliminar ou, pelo<br />
menos mitigar este tenebroso risco de<br />
desvirtuamento da concorrência, na<br />
medida em que, na sua douta opinião,<br />
as desvantagens da incumbência serão<br />
tanto maiores quanto mais prolongada<br />
for a duração temporal das relações<br />
contratuais.<br />
6. Neste processo de contratualização<br />
do SPTP, as autoridades metropolitanas<br />
(Lisboa e Porto) optaram por um modelo<br />
assente no contrato de prestação<br />
de serviços (gross cost ou custos totais)<br />
e as comunidades intermunicipais por<br />
um modelo assente no contrato de<br />
concessão (net cost ou custos líquidos),<br />
onde os riscos operacionais e comerciais<br />
foram integralmente alocados ao<br />
cocontratante.<br />
Neste modelo (concessão), os operadores<br />
são apenas remunerados pelas<br />
receitas de exploração e pelas compensações<br />
da AT em função das OSP assumidas<br />
contratualmente. Não estando na<br />
agenda a figura dos contratos baseados<br />
no desempenho (performance based<br />
contracts) não se incentivam os bons<br />
desempenhos, não se premeiam os bons<br />
desempenhos, não se reduzem os riscos<br />
de incumprimentos e não se qualificam<br />
os operadores económicos. Estes sistemas<br />
de compensação têm o mérito de<br />
internalizar nos próprios cocontratantes<br />
a exigência de um bom desempenho.<br />
Dois exemplos para reflexão:<br />
Em França, a STIF celebra os seus contratos<br />
de concessão de serviços com os<br />
operadores privados, definindo antecipadamente<br />
a quantidade e ‘qualidade’<br />
dos serviços a prestar e, ainda, as contrapartidas<br />
financeiras decorrentes da<br />
avaliação do desempenho; Em Barcelona,<br />
a Autorita del Transport Metropolitá<br />
apenas celebra contratos de concessão<br />
com os operadores privados quando<br />
considera que os serviços a prestar<br />
têm procura suficiente e relevante que<br />
permita garantir a sustentabilidade<br />
financeira dos contratos. Com baixos<br />
níveis de procura do serviço, não é<br />
permitida a alocação do risco comercial<br />
em exclusivo ao operador. Nestes casos,<br />
celebra-se um contrato de prestação de<br />
22 e-MOBILIDADE
RISCO<br />
COMERCIAL<br />
Com baixos níveis de<br />
procura do serviço, não<br />
é permitida a alocação<br />
do risco comercial<br />
em exclusivo ao<br />
operador<br />
serviços (contratos de gestão interessada).<br />
O equilíbrio contratual é mesmo<br />
uma preocupação da entidade adjudicante.<br />
7. Para terminar esta visita ao processo<br />
de contratualização do SPTP,<br />
não podemos deixar de salientar quão<br />
oportuna e atual se tornou a velhinha<br />
Teoria da Imprevisão. Vai ser obrigatório<br />
revisitá-la e convocá-la ao longo de todo<br />
o período de duração dos contratos de<br />
modo a tornar possível a indispensável<br />
manutenção da estabilidade contratual.<br />
Neste caso dos contratos de concessão,<br />
interessa avaliar, simultaneamente, o<br />
desempenho do cocontratante e a sua<br />
própria situação económica e financeira.<br />
Afinal, as relações duradouras estabelecidas<br />
que o operador económico passa<br />
a prosseguir (uma atribuição que é da<br />
administração) exige e merece essa<br />
preocupação.<br />
“Se alguém tem um débito a juros e<br />
uma tempestade devasta o campo ou<br />
destrói a colheita, ou por falta de água<br />
não cresce o trigo no campo, ele não<br />
deverá nesse ano dar trigo ao credor,<br />
deverá modificar sua tábua de contrato<br />
e não pagar juros por esse ano.” Código<br />
de Hamurabi (há mais de 2.500 anos)<br />
CONCLUSÃO<br />
Como síntese conclusiva realçamos a<br />
importância de se saber a que serviço<br />
público de transportes temos direito.<br />
Para isso, o Regulamento 1370/2007<br />
impôs a contratualização das operações<br />
de serviço publico de transporte de<br />
passageiros (SPTP) de modo a garantir<br />
serviços de transporte mais numerosos,<br />
mais seguros, de melhor qualidade e<br />
mais baratos.<br />
A mobilidade, tendo implícita a ideia<br />
de mudança disruptiva, deverá exigir<br />
a ‘diversificação de procedimentos que<br />
encorajem a inovação, a inclusão de<br />
objetivos relativos à sustentabilidade e<br />
a prioridade dada à boa execução dos<br />
contratos. Assim, nos dois pratos desta<br />
balança devem estar considerados, num<br />
dos lados, procedimentos e leis simples,<br />
acessíveis e pouco numerosas e, no<br />
outro lado, procedimentos que evitem a<br />
tentação do ‘mais simples’. Importa, por<br />
isso, conhecer bem as potencialidades e<br />
limitações de cada procedimento.<br />
e-MOBILIDADE 23
ECONOMIA CIRCULAR<br />
Rota circular para uma<br />
nova indústria automóvel<br />
alimentada pela cloud<br />
A eletrificação da condução não está apenas a mudar a forma como os<br />
veículos são alimentados. Também está a alterar o papel das marcas de<br />
automóveis, a transformar a experiência dos clientes e a colocar o conceito<br />
de economia circular numa via rápida. Aqui se revela como um ecossistema<br />
automóvel sustentável e com custos otimizados se está a formar na cloud.<br />
RICHARD FELTON<br />
Senior Practice Manager da AWS<br />
O<br />
velho ditado dizia que um<br />
veículo novo perdia 10% do<br />
seu valor assim que saía do<br />
stand - e cerca de 40% um<br />
ano depois. É uma afirmação<br />
de longa data cujo significado é muito<br />
claro, pois diz tudo sobre o que costumava<br />
acontecer na transação entre o condutor e<br />
o fabricante de automóveis. Para além das<br />
garantias e dos acordos de assistência, as<br />
responsabilidades do fabricante terminavam<br />
assim que o proprietário do novo<br />
automóvel se sentava ao volante e rodava a<br />
chave. O proprietário tomava posse de um<br />
bem em processo de depreciação, e assumia<br />
todas as responsabilidades inerentes,<br />
incluindo o que fazer com o seu veículo<br />
quando terminasse de o utilizar.<br />
Não é necessário olhar para muito longe<br />
para ver que as experiências futuras de<br />
possuir e conduzir um veículo vão ser<br />
muito diferentes. O valor de um veículo<br />
novo residia outrora em fatores intangíveis<br />
como o prestígio e o estatuto, razão<br />
pela qual era tão fácil que grande parte<br />
desse valor desaparecesse. Atualmente, os<br />
fabricantes têm uma ideia muito mais clara<br />
e tangível de onde reside esse valor: nos<br />
24 e-MOBILIDADE
e-MOBILIDADE 25
ECONOMIA CIRCULAR<br />
Opinião Richard Felton<br />
O modelo de negócio dos veículos elétricos<br />
tem todo o interesse em saber o que acontece a<br />
um automóvel, não só quando este sai da sala<br />
de exposições com um novo proprietário, mas<br />
também no futuro<br />
materiais e componentes que mais tarde<br />
poderão ser recuperados e reciclados.<br />
MONITORIZAR, SEMPRE<br />
Será do interesse financeiro de um<br />
fabricante de automóveis continuar a<br />
monitorizar o desempenho destes elementos<br />
e atualizá-los quando necessário.<br />
Efetivamente, será da responsabilidade<br />
desse fabricante saber exatamente o que<br />
acontece a um veículo e qual o destino<br />
dos seus componentes mais valiosos. Ao<br />
assumir essa responsabilidade, as marcas<br />
de automóveis poderão construir relações<br />
mais próximas e mais valiosas com os<br />
seus clientes. Poderão também, proporcionar<br />
uma sensação de prestígio mais<br />
tangível que advém da condução de um<br />
veículo comprovadamente sustentável.<br />
O ecossistema que as marcas do setor<br />
automóvel constroem em torno dos seus<br />
veículos não será apenas mais reativo.<br />
Não será apenas mais sustentável. Será<br />
um exemplo inovador, e em escala, de<br />
uma economia circular em ação, que<br />
otimiza a eficiência de custos ao mesmo<br />
tempo que minimiza o impacto ambiental<br />
– algo que será possível graças à<br />
tecnologia da cloud.<br />
O desafio da regulamentação e de<br />
recursos está a modificar os modelos de<br />
negócio do mundo automóvel. O principal<br />
motor desta mudança é a aceleração<br />
da eletrificação da condução, que exigirá<br />
4000 gigawatts-hora de capacidade<br />
de baterias de iões de lítio até 2030, o<br />
suficiente para alimentar cerca de 100<br />
milhões de veículos elétricos (VE) e<br />
que representa dez vezes a capacidade<br />
fabricada em 2021. Isto representa um<br />
desafio regulamentar e de recursos para<br />
as marcas de automóveis. Por um lado, a<br />
futura legislação da UE atribui a responsabilidade<br />
da eliminação das baterias<br />
ao produtor das mesmas, proíbe que as<br />
baterias sejam enviadas para aterros e<br />
impõe um nível mínimo de conteúdo<br />
reciclado para todas as baterias utilizadas<br />
nos veículos elétricos. Ao mesmo tempo,<br />
a escassez mundial de matérias-primas<br />
cruciais, como o lítio, o cobalto, o níquel<br />
e o manganês, torna imperativo para os<br />
fabricantes recuperar e reutilizar o maior<br />
número possível de elementos de uma<br />
bateria de um veículo elétrico. Ao fazê-<br />
-lo, podem gerir os custos de fabrico das<br />
baterias e atenuar os riscos financeiros<br />
decorrentes da incerteza dos preços dos<br />
produtos de base.<br />
RECUPERAR COMPONENTES<br />
Ambos os desafios apontam para a<br />
mesma solução: os fabricantes de<br />
automóveis precisam acompanhar o<br />
que acontece aos veículos que produziram<br />
e às respetivas baterias, de forma<br />
a recuperar as mesmas no momento<br />
certo e manter os seus componentes<br />
em utilização durante o máximo tempo<br />
possível. Os mecanismos para o fazer já<br />
existem, graças a um mercado de veículos<br />
elétricos que está a ser concebido,<br />
desde o início, de acordo com os princípios<br />
da economia circular. O modelo de<br />
DESAFIO<br />
Acompanhar o desempenho de<br />
uma bateria elétrica e saber quando<br />
terminará o seu ciclo de utilização é<br />
um desafio para os fabricantes<br />
26 e-MOBILIDADE
MERCADO<br />
O desafio da regulamentação e<br />
de recursos está a modificar os<br />
modelos de negócio do mundo<br />
automóvel<br />
negócio dos veículos elétricos tem todo<br />
o interesse em saber o que acontece a<br />
um automóvel, não só quando este sai<br />
da sala de exposições com um novo<br />
proprietário, mas também no futuro.<br />
Se os fabricantes de automóveis conseguirem<br />
antecipar quando é que o<br />
desempenho de uma bateria começa a<br />
diminuir e qual o momento ideal para a<br />
recolher, poderão facilitar o processo de<br />
recuperação da mesma, pois basta-lhes<br />
solicitar aos proprietários para trazerem<br />
o veículo para uma atualização, em vez<br />
de terem de os localizar. Caso consigam<br />
identificar a célula específica da bateria<br />
que está a falhar, melhor ainda, porque<br />
assim será possível recuperar as baterias<br />
quando a maioria dos elementos ainda<br />
funciona, e reduzir o volume de trabalhos<br />
de reciclagem, controlar custos e<br />
ficar com mais valor.<br />
A infraestrutura para este tipo de modelo<br />
de reciclagem, liderada pelo fabricante,<br />
já está em vigor. Funciona com base<br />
na capacidade de rastreio das plataformas<br />
ligadas à cloud, transformando<br />
o hardware em ativos digitais que<br />
podem ser monitorizados e analisados a<br />
um nível granular.<br />
PASSAPORTE DIGITAL<br />
Nasce, então, um novo tipo de relação<br />
entre os condutores e as marcas de<br />
automóveis. O percurso circular de uma<br />
bateria de VE ligada à cloud começa<br />
na gigafábrica onde é produzida pela<br />
primeira vez (as gigafábricas devem o<br />
seu nome aos gigawatts de capacidade de<br />
bateria que fornecem). Quando as baterias<br />
saem de uma gigafábrica com ligação<br />
à cloud, fazem-no com um documento<br />
de monitorização que acompanha as<br />
condições e as matérias-primas utilizadas<br />
no seu fabrico – um tipo de passaporte<br />
digital que pode ficar associado à bateria,<br />
que recolhe mais informações sobre a<br />
forma como é carregada e descarregada<br />
através da tecnologia incorporada nos<br />
veículos com ligação à cloud. Soluções<br />
como o AWS IoT TwinMaker conseguem<br />
utilizar estes dados em tempo real para<br />
criar gémeos digitais de cada bateria,<br />
representações virtuais que mostram o<br />
estado da bateria e dos seus componentes,<br />
prevêem quando começará a falhar e<br />
determinam quais as células responsáveis<br />
pela falha. Estes gémeos digitais mostram<br />
os materiais dentro da bateria e o estado<br />
das restantes células, orientando o processo<br />
de recuperação e reciclagem.<br />
É aqui que as exigências dos novos modelos<br />
de negócio automóvel começam a<br />
criar valor para os próprios compradores<br />
dos automóveis. Em vez de se sentirem<br />
frustrados com a deterioração do desempenho<br />
de um veículo e com o aumento<br />
dos custos de manutenção, estes obtêm<br />
uma abordagem proativa por parte do<br />
fabricante do automóvel, concebida para<br />
manter o veículo em funcionamento. O<br />
comprador obtém uma relação contínua<br />
e uma experiência de apoio ao cliente<br />
mais agradável. Para as marcas de automóveis,<br />
trata-se de uma oportunidade de<br />
acrescentar novas formas de serviço e de<br />
se diferenciarem da concorrência. Para<br />
um setor que tradicionalmente depende<br />
dos concessionários em regime de franquia<br />
para cumprir as promessas da sua<br />
marca, isto representa um novo tipo de<br />
caminho a percorrer.
28 e-MOBILIDADE
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS<br />
Como libertar<br />
o orçamento de estado<br />
da dependência<br />
dos combustíveis fósseis?<br />
Nunca foi tão urgente a redução drástica da emissão de gases com<br />
efeito de estufa, que só pode ser conseguida de forma consistente<br />
através da eliminação, tão rapidamente quanto possível, do<br />
consumo de combustíveis fósseis.<br />
A<br />
crise climática agrava-se continuamente<br />
e os seus efeitos<br />
mais assustadores tornam-se<br />
cada vez mais evidentes. Fenómenos<br />
climáticos extremos<br />
com uma intensidade e frequência sem<br />
precedentes são testemunhados por agricultores<br />
e comunidades piscatórias de todo o<br />
mundo. As secas cada vez mais intensas e<br />
prolongadas, o avanço da desertificação, redução<br />
da disponibilidade hídrica, a redução<br />
da área florestal global acompanhada pela<br />
diminuição acentuada da biodiversidade<br />
aumentam enormemente a pressão sobre a<br />
produção agrícola e podem gerar uma persistente<br />
e crescente escassez alimentar com<br />
o consequente crescimento insuportável da<br />
conflitualidade social, económica e política<br />
global.<br />
Embora os impensáveis e gigantescos incêndios<br />
no Canadá sejam uma das mais espetaculares<br />
manifestações da crise climática,<br />
as cada vez maiores ondas de refugiados<br />
climáticos, o aumento constante de vários<br />
alimentos que compõem a nossa dieta ou a<br />
elevação do número de mortos devidos ao<br />
ACÁCIO PIRES<br />
Policy Officer da ZERO - Associação Sistema<br />
Terrestre Sustentável<br />
crescimento do número e intensidade das<br />
ondas de calor são provavelmente os riscos,<br />
que o consumo de combustíveis fósseis e<br />
o consequente aumento da temperatura<br />
média global, que mais efeitos diretos terão<br />
na vida quotidiana daqueles que vivem nas<br />
cidades.<br />
Nunca foi tão urgente a redução drástica da<br />
e-MOBILIDADE 29
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS<br />
Opinião Acácio Pires<br />
emissão de gases com efeito de estufa,<br />
que só pode ser conseguida de forma<br />
consistente através da eliminação, tão<br />
rapidamente quanto possível, do consumo<br />
de combustíveis fósseis.<br />
De acordo com o IPCC, a neutralidade<br />
climática deverá ser atingida a nível<br />
global em 2044 para permitir que possamos,<br />
com uma probabilidade razoável,<br />
ficar aquém do aumento de 1,5º da<br />
temperatura média global em relação<br />
aos níveis pré-industriais. Tendo em<br />
conta as responsabilidades históricas e<br />
a maior capacidade de investimento dos<br />
países industrializados, estes deverão<br />
começar a emitir menos gases de efeito<br />
de estufa do que aqueles que podem ser<br />
absorvidos pelos ecossistemas, no máximo,<br />
em 2040, como propõe a Climate<br />
Action Network (CAN), da qual a ZERO<br />
é membro.<br />
Todos os Estados dos países industrializados<br />
e os respetivos responsáveis<br />
políticos, além das obrigações legais<br />
que já contraíram, têm uma responsabilidade<br />
capital em relação ao futuro da<br />
Humanidade no seu conjunto.<br />
Neste momento, o<br />
setor dos transportes<br />
caminha para se tornar<br />
o principal responsável<br />
pela emissão de gases<br />
com efeito de estufa<br />
em quase todos os<br />
países industrializados,<br />
sendo que em Portugal<br />
é já o principal responsável,<br />
representando<br />
28% do total, com<br />
tendência para aumentar. Impõem-se,<br />
por isso, medidas urgentes para inverter<br />
rapidamente esta tendência.<br />
DILEMA ORÇAMENTAL<br />
A ação política no setor dos transportes<br />
depara-se, no entanto, com um dilema<br />
orçamental, já que as receitas fiscais<br />
com origem na venda e utilização de<br />
veículos que consomem combustíveis<br />
fósseis para transportar pessoas e mercadorias<br />
por meios terrestres foram, em<br />
2022, de cerca de 3633.4 milhões de<br />
euros, o que representou uma redução<br />
de cerca de 1000 milhões em relação<br />
a 2019 (o último ano antes da crise<br />
pandémica), mas continua a constituir<br />
5,28% de todas as receitas fiscais.<br />
À medida que as políticas públicas,<br />
ajudadas pela evolução técnica, produzam<br />
consistentes e cada vez maiores<br />
reduções do consumo de combustíveis<br />
fósseis isso traduzir-se-á na perda de<br />
Todos os Estados dos países industrializados e<br />
os respetivos responsáveis políticos, além das<br />
obrigações legais que já contraíram, têm uma<br />
responsabilidade capital em relação ao futuro da<br />
Humanidade no seu conjunto<br />
importantes receitas que financiam<br />
os salários de médicos, professores,<br />
polícias, juízes e todos os valorosos servidores<br />
que prestam serviços públicos<br />
imprescindíveis.<br />
Libertar o setor dos transportes do uso<br />
de combustíveis fósseis tem enormes<br />
benefícios económicos que se consubstanciam<br />
na estabilização dos preços do<br />
transporte de pessoas e bens, mas para<br />
o conseguir é necessário investir num<br />
conjunto de políticas - da promoção do<br />
transporte ferroviário, à eletrificação do<br />
transporte rodoviário, passando pela alteração<br />
do modelo de mobilidade - que<br />
exigem avultados meios financeiros.<br />
Consignar anualmente uma percentagem<br />
crescente das receitas de ISP, ISV e<br />
IUC às políticas que permitam libertar<br />
o setor dos transportes do consumo de<br />
combustíveis fósseis poderia constituir<br />
uma orientação da política orçamental<br />
de longo prazo, que obtendo um consenso<br />
alargado poderá,<br />
inclusive, traduzir-se<br />
numa alteração da Lei<br />
de Enquadramento<br />
Orçamental. A perda de<br />
receita dedicada às normais<br />
funções do Estado<br />
poderia ser compensada<br />
com uma redução<br />
dos benefícios fiscais<br />
(mais de 15 mil milhões<br />
de euros por ano), o<br />
lançamento de novos impostos ou o<br />
simples crescimento das receitas por via<br />
do crescimento económico consoante<br />
as preferências dos diferentes partido<br />
políticos que circunstancialmente obtivessem<br />
maioria parlamentar.<br />
Colocar de lado estas receitas permitiria<br />
que o Estado deixasse de estar<br />
dependente das mesmas para o seu<br />
funcionamento geral, ao mesmo tempo<br />
que libertava meios para o investimento<br />
na descarbonização eficiente e justa do<br />
setor dos transportes. [Continuaremos<br />
a desenvolver este tema em próximas<br />
oportunidades.]<br />
30 e-MOBILIDADE
e-MOBILIDADE 31
MOBILIDADE COLABORATIVA<br />
A inovação como caminho<br />
para novas soluções<br />
de mobilidade em Lisboa<br />
A cidade de Lisboa, tal como várias outras capitais em<br />
crescimento, tem vindo a enfrentar desafios de mobilidade<br />
urbana, que marcam o dia a dia das suas pessoas e empresas.<br />
O desenvolvimento económico e o aumento do turismo<br />
contribuem para este cenário complexo e põem à prova o<br />
ecossistema de mobilidade, muitas vezes incapaz de responder<br />
à crescente utilização e afluência.<br />
A<br />
isto, aliam-se outros<br />
grandes desafios como<br />
alcançar uma mobilidade<br />
mais sustentável e acessível,<br />
e a aposta na transição<br />
energética e digital para levar Lisboa<br />
na direção de se tornar uma smart-city.<br />
Estes desafios não estão apenas interligados,<br />
como são também a chave para<br />
termos um ecossistema de mobilidade<br />
mais eficiente e equitativo. Por exemplo,<br />
não é possível falarmos em mobilidade<br />
sustentável sem oferecer soluções<br />
verdadeiramente acessíveis e inclusivas.<br />
Para além disso, a digitalização permite<br />
melhorar a qualidade e disponibilidade<br />
dessas opções, bem como a sua<br />
eficiência ao recolher informação para<br />
melhorar a experiência de mobilidade<br />
dos utilizadores.<br />
A inovação tem o poder de transformar<br />
estes problemas aparentemente irresolúveis<br />
em oportunidades de crescimento<br />
e melhoria através do desenvolvimento<br />
de soluções eficazes que respondam às<br />
necessidades de quem vive, trabalha ou<br />
visita a capital. E é neste sentido que<br />
programas de inovação têm impulsionado<br />
a colaboração entre diferentes atores,<br />
incluindo o setor público, empresas priva-<br />
GUSTAVO MAGALHÃES<br />
Senior Innovation Consultant da Beta-i<br />
das, startups e a sociedade civil.<br />
Exemplo disso é o Smart Open Lisboa<br />
(SOL), programa bandeira de inovação<br />
aberta da Câmara Municipal de Lisboa<br />
e gerido pela consultora de inovação<br />
Beta-i. Na passada edição foram desenvolvidos<br />
seis projetos-piloto para acelerar<br />
a transição energética de Lisboa. Entre<br />
eles, uma ferramenta analítica baseada em<br />
Inteligência Artificial e machine learning,<br />
desenvolvida pela startup EVE em parceria<br />
com a Brisa, que ajuda a otimizar as<br />
32 e-MOBILIDADE
otas com veículos elétricos sem prejuízo<br />
da eficiência operacional. Também a<br />
CARRIS, priorizando a sustentabilidade,<br />
pretende utilizar esta tecnologia na análise<br />
do desempenho dos seus veículos elétricos<br />
para otimização da gestão de frota e<br />
do consumo de energia.<br />
Adicionalmente, para se conseguir uma<br />
maior acessibilidade da mobilidade -<br />
um direito fundamental para todos os<br />
cidadãos -, a inovação e a colaboração<br />
entre o setor público e privado têm sido<br />
essenciais. Isto porque, ao envolver os<br />
cidadãos no processo de cocriação, é<br />
possível desenvolver soluções de uma<br />
forma mais aberta e inclusiva.<br />
Neste sentido, a Urban Mobility Innovators<br />
Open Call, uma iniciativa do projeto<br />
VoxPop promovida pela Câmara Municipal<br />
de Lisboa e liderada pela Beta-i, teve<br />
como objetivo financiar o desenvolvimento<br />
de soluções digitais que ajudem a<br />
melhorar a acessibilidade e segurança de<br />
pessoas que têm a sua mobilidade condicionada<br />
na cidade. Acaba de apresentar<br />
18 soluções centradas nas reais necessidades<br />
das pessoas, especialmente das<br />
populações mais vulneráveis, que tiram<br />
partido de tecnologias como inteligência<br />
COLABORAÇÃO<br />
Ao envolver os cidadãos<br />
no processo de co-criação,<br />
é possível desenvolver<br />
soluções de uma forma<br />
mais aberta e inclusiva<br />
artificial, chatbots, mobile apps e outras,<br />
e também da publicação de conjuntos<br />
de dados de acessibilidade para que os<br />
utilizadores possam obter informação<br />
atualizada das condições de acessibilidade<br />
da cidade, selecionar as melhores<br />
rotas e transportes e aceder a serviços<br />
com maior facilidade – com a finalidade<br />
de promover a sua autonomia.<br />
Uma mobilidade sustentável, acessível e<br />
mais digital são elementos fundamentais<br />
para uma abordagem integrada ao ecossistema<br />
de mobilidade. Neste âmbito,<br />
a inovação colaborativa desempenha<br />
um papel fundamental, pois somente<br />
através da colaboração entre diversos<br />
players continuará a ser possível impulsionar<br />
soluções criativas e eficazes que<br />
respondam de forma eficaz às reais necessidades<br />
dos cidadãos e empresas.<br />
e-MOBILIDADE 33
OBJETIVO<br />
A União Europeia tem claro<br />
que 2050 é o ano marcado a<br />
vermelho no calendário para atingir<br />
a descarbonização e a mobilidade<br />
elétrica é uma das principais<br />
alternativas para atingir este<br />
ambicioso objetivo<br />
34 e-MOBILIDADE
Abraçar<br />
A generalização da mobilidade<br />
elétrica vai provocar uma<br />
grande mudança: os motores de<br />
combustão interna, outrora a força<br />
vital da indústria automóvel, serão<br />
gradualmente substituídos por<br />
motores elétricos. Esta transição<br />
para a mobilidade elétrica significa<br />
que alguns serviços tradicionais,<br />
como as reparações de motores e<br />
as mudanças de óleo, se tornarão<br />
obsoletos.<br />
Por Christoph Erni*<br />
OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO PARA OFICINAS E CONCESSIONÁRIOS<br />
a mobilidade elétrica<br />
e-MOBILIDADE 35
OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO<br />
Christoph Erni<br />
À<br />
primeira vista, pode parecer<br />
que a eletrificação dos<br />
veículos pode ter um impacto<br />
negativo no volume<br />
de negócios das oficinas,<br />
devido ao número reduzido de operações<br />
de manutenção exigidas pelos<br />
automóveis elétricos. Mas a verdade é<br />
que, à medida que a tecnologia de condução<br />
evolui, o mesmo acontece com<br />
as competências e os serviços oferecidos<br />
FUTURO<br />
Para potenciar a entrada de<br />
veículos elétricos nas estradas<br />
portuguesas, é necessário<br />
implementar a rede de<br />
carregamento<br />
PROFISSIONAIS COM NOVOS<br />
CONHECIMENTOS<br />
E COMPETÊNCIAS<br />
A especialização do sector pós-venda<br />
terá de ser aumentada para que as<br />
redes comerciais possam enfrentar<br />
novos desafios, como a eletrificação<br />
ou a digitalização. Isto significa, em<br />
primeiro lugar, que a adaptação exige<br />
uma mudança profunda nos requisitos<br />
de qualificação dos profissionais. Os<br />
técnicos terão de conhecer o diagnóstico<br />
dos veículos elétricos, a manutenção<br />
das baterias e os sistemas de alta<br />
tensão. A familiaridade com a eletrónica<br />
avançada e a integração de software<br />
será também crucial. O investimento<br />
na formação e na qualificação da mão<br />
de obra para adquirir estas competências<br />
colocará as empresas na vanguarda<br />
do sector.<br />
Para além das competências técnicas<br />
básicas, é essencial um conhecimento<br />
profundo das infra-estruturas de<br />
carregamento de veículos elétricos.<br />
À medida que mais pessoas adoptam<br />
carros elétricos, a procura de pontos de<br />
carregamento aumentará em conformipor<br />
estas empresas, representando uma<br />
mudança de paradigma para o sector<br />
que irá além da reparação e manutenção<br />
de veículos. Embora esta mudança no<br />
panorama automóvel coloque desafios<br />
aos proprietários de oficinas e concessionários,<br />
também abre novas e excitantes<br />
oportunidades.<br />
MOBILIDADE ELÉTRICA<br />
COMO UM SERVIÇO<br />
Para potenciar a entrada de veículos<br />
elétricos nas estradas portuguesas,<br />
é necessário implementar a rede de<br />
carregamento. Para tal, é fundamental<br />
aproveitar a posição estratégica dos<br />
concessionários e oficinas para dinamizar<br />
esta rede.<br />
Em primeiro lugar, as oficinas e os con-<br />
cessionários podem tornar-se pontos de<br />
carregamento para carros elétricos. Esta<br />
medida, para além de contribuir para a<br />
melhoria da infraestrutura e incentivar a<br />
utilização deste tipo de veículos, é também<br />
um atrativo para os utilizadores,<br />
que verão as suas opções de carregamento<br />
multiplicarem-se.<br />
Para além de disponibilizar estações<br />
de carregamento no local aos clientes,<br />
abre-se uma nova oportunidade de<br />
negócio: a venda de dispositivos de<br />
carregamento práticos e acessíveis, para<br />
que os clientes possam carregar os seus<br />
veículos em qualquer circunstância da<br />
vida quotidiana, por exemplo, através<br />
de uma estação de carregamento portátil.<br />
Estes dispositivos darão confiança<br />
aos clientes e dissiparão quaisquer<br />
preocupações que possam ter relativamente<br />
à falta de energia durante viagens<br />
mais longas.<br />
A isto pode juntar-se a oferta de seguros<br />
e produtos financeiros específicos para<br />
veículos elétricos, ou mesmo a instalação<br />
de sistemas fotovoltaicos, quer para<br />
empresas quer para particulares.<br />
36 e-MOBILIDADE
dade. As oficinas e os concessionários<br />
podem tirar partido deste mercado em<br />
crescimento, oferecendo soluções de<br />
carregamento orientadas para o futuro<br />
que permitam adaptar o processo de<br />
carregamento à vida quotidiana dos<br />
condutores.<br />
UM ECOSSISTEMA HOLÍSTICO<br />
PARA PROMOVER<br />
A MOBILIDADE ELÉTRICA<br />
A União Europeia tem claro que 2050 é<br />
o ano marcado a vermelho no calendário<br />
para atingir a descarbonização e a<br />
mobilidade elétrica é uma das principais<br />
alternativas para atingir este ambicioso<br />
objetivo.<br />
Para promover a compra e a utilização<br />
de veículos elétricos entre os cidadãos,<br />
é essencial criar um ecossistema<br />
holístico e interligado que facilite e<br />
torne mais fácil a vida dos condutores<br />
desde o momento em que tomam a<br />
decisão de comprar um veículo. Isto<br />
vai desde a manutenção e reparação<br />
até às infra-estruturas de carregamento,<br />
incluindo aconselhamento técnico<br />
e regulamentar.<br />
As oficinas e os concessionários podem tirar<br />
partido deste mercado em crescimento, oferecendo<br />
soluções de carregamento orientadas para o futuro<br />
que permitam adaptar o processo de carregamento<br />
à vida quotidiana dos condutores.<br />
Ao combinar conhecimentos técnicos<br />
com uma rede bem estabelecida para<br />
ligar os potenciais clientes às partes envolvidas<br />
no sistema elétrico, as oficinas<br />
e os concessionários podem tornar-se<br />
centros de competência em mobilidade<br />
elétrica para tudo o que está relacionado<br />
com a compra de um automóvel<br />
elétrico. Sim. É uma oportunidade?<br />
Com certeza.<br />
*Fundador e diretor executivo da Juice<br />
Technologies<br />
e-MOBILIDADE 37
Reduzir custos ao longo<br />
da cadeia logística com<br />
REALIDADE<br />
AUMENTADA<br />
A realidade aumentada foi concebida para<br />
sobrepor elementos digitais ao mundo real.<br />
Usa sensores para entender o mundo ao<br />
seu redor, numa combinação de giroscópios<br />
e acelerómetros. São nomes estranhos<br />
de dispositivos que usamos diariamente<br />
embutidos no nosso telefone. Um giroscópio<br />
informa quando um objeto em movimento<br />
muda de direção e um acelerómetro é um<br />
sensor que mede a aceleração do dispositivo ao<br />
deslocar-se. Em conjunto com um localizador<br />
de GPS, estes dispositivos permitem que um<br />
aplicativo de telefone possa descobrir onde<br />
está o seu utilizador, para que direção está<br />
virado e a que velocidade se desloca.<br />
FILIPE CARVALHO<br />
CEO Wide Scope<br />
Se já utilizou um filtro do<br />
Instagram, do Snapchat ou<br />
do TikTok onde sobrepõe na<br />
sua imagem uma qualquer<br />
animação e, ao deslocar o<br />
telefone, a animação acompanha e reage<br />
à imagem, fundindo-se nela, então<br />
já utilizou a tecnologia de Realidade<br />
Aumentada.<br />
Convém não confundir Realidade<br />
Aumentada (RA) com Realidade Virtual<br />
(RV). Ao contrário da RA, a realidade<br />
virtual é uma experiência imersiva que<br />
isola os utilizadores do mundo real,<br />
geralmente com a ajuda de auriculares.<br />
Em vez de incorporar elementos<br />
no mundo real, substitui-o. Coloca<br />
os utilizadores em mundos completamente<br />
novos. A RV combina hardware<br />
como capacetes, óculos, auriculares,<br />
passadeiras, comandos, e software<br />
para criar uma experiência envolvente<br />
que cancela o mundo físico e coloca a<br />
percepção sensorial do utilizador num<br />
mundo virtual (Metaverso).<br />
A realidade aumentada e a realidade<br />
virtual fazem parte de um conceito<br />
conhecido como realidade estendida.<br />
No contexto da cadeia logística, a realidade<br />
aumentada tem ganho preponderância<br />
à realidade virtual porque não<br />
podemos prescindir da inserção dos<br />
utilizadores no mundo real. Ou seja,<br />
38 e-MOBILIDADE
podemos ajudar um operador a encontrar<br />
artigos em estantes, com recurso<br />
a uns óculos de realidade aumentada,<br />
indicando-lhe o caminho a percorrer<br />
pelos corredores do armazém. Mas não<br />
faz sentido recorrer a um capacete de<br />
realidade virtual que não lhe permite<br />
ver por onde anda no armazém, que<br />
o retira do mundo real e o transporta<br />
para um mundo virtual. É no mundo<br />
real que ele precisa realizar o seu<br />
trabalho.<br />
REALIDADE AUMENTADA<br />
DESDE A VENDA<br />
O processo de compra de um artigo por<br />
parte de um consumidor passa por várias<br />
etapas. Desde a escolha do artigo até à<br />
sua encomenda e entrega final, são várias<br />
as operações logísticas envolvidas.<br />
Algumas empresas como a IKEA e a<br />
Walmart disponibilizam aplicações<br />
móveis de realidade aumentada para<br />
ajudar os consumidores a decidir os artigos<br />
a comprar. Por exemplo, é possível<br />
apontar para a sua sala com o telefone<br />
MUNDO REAL<br />
Podemos ajudar um operador a<br />
encontrar artigos em estantes,<br />
com recurso a uns óculos de<br />
realidade aumentada, indicandolhe<br />
o caminho a percorrer pelos<br />
corredores do armazém<br />
e visualizar um sofá novo enquadrado<br />
no espaço e na mobília. O sofá será<br />
colocado na imagem pela aplicação de<br />
realidade aumentada que lhe permite<br />
experimentar cores, modelos e dimensões<br />
diferentes. Tudo para o levar a<br />
decidir e encaminhar convincentemente<br />
para a fase de encomenda.<br />
Esta aplicação da tecnologia não visa<br />
somente vender mais, mas sobretudo<br />
reduzir a logística inversa das devoluções.<br />
Se antes de comprar tiver a<br />
possibilidade de experimentar visualizar<br />
a disposição do sofá no enquadramento<br />
da sala, há uma redução do risco de<br />
querer devolver depois de comprado e<br />
entregue. Portanto há uma poupança<br />
inerente na logística inversa no que<br />
concerne à garantia de “satisfação ou<br />
devolução sem custos” que havia sido<br />
prometida.<br />
Ou seja, apesar deste caso de uso da<br />
tecnologia não estar enquadrado explicitamente<br />
numa operação logística,<br />
indirectamente minimiza as operações e<br />
custos associados com a logística inversa<br />
de devoluções.<br />
PASSANDO PELO ARMAZÉM<br />
Uma encomenda precisa ser preparada<br />
em armazém para ser expedida. A<br />
preparação de encomendas implica um<br />
processo de picking de todas as referencias<br />
a expedir, que se encontram em<br />
estantes algures pelo armazém.<br />
Os operadores de armazém têm<br />
dificuldade em encontrar os locais de<br />
onde recolher os artigos. Há várias tecnologias<br />
adequadas à resolução deste<br />
problema, desde voice picking (sistema<br />
de voz que dá instruções ao ouvido<br />
do operador), até pick to light (utiliza<br />
e-MOBILIDADE 39
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO<br />
Filipe Carvalho<br />
uma sinalética luminosa na estante<br />
para guiar o operador), entre outras.<br />
Colocando uns óculos de realidade<br />
aumentada, o operador é ajudado pelo<br />
sistema através de imagens sobrepostas<br />
com a realidade percepcionada através<br />
das lentes. Ao olhar para os corredores,<br />
os óculos reconhecem o local e indicam<br />
se o operador deve virar à esquerda<br />
ou direita em cada local, conduzindo-o<br />
até à estante onde irá encontrar o<br />
artigo a recolher.<br />
Este sistema, ao contrário por exemplo<br />
dos sistemas de pick to light, não implica<br />
a instalação de nada no armazém<br />
nem a aquisição de hardware especializado.<br />
Apenas uns óculos adequados.<br />
A utilização desta tecnologia permite<br />
assim a redução dos tempos de preparação<br />
de encomendas. Também minimiza<br />
o risco de erros e de posteriores<br />
devoluções de artigos, pelo que esse<br />
tempo e esforço se traduzem numa<br />
redução de custos ao longo da cadeia<br />
de abastecimento.<br />
A realidade aumentada pode também<br />
ser aplicada na manutenção e reparação<br />
de equipamentos. Os técnicos<br />
podem usar a tecnologia para aceder<br />
a manuais digitais, visualizar informações<br />
sobre peças sobressalentes,<br />
A realidade aumentada pode também ser aplicada na<br />
manutenção e reparação de equipamentos. Os técnicos<br />
podem usar a tecnologia para aceder a manuais digitais,<br />
visualizar informações sobre peças sobressalentes,<br />
identificar problemas e receber orientações passo a<br />
passo para solucionar eventuais falhas.<br />
identificar problemas e receber orientações<br />
passo a passo para solucionar<br />
eventuais falhas. Aumenta assim a<br />
eficiência dos processos de manutenção,<br />
reduz o tempo de inactividade<br />
e consequentemente reduz os custos<br />
associados.<br />
AO LONGO DO TRANSPORTE<br />
Uma vez preparada, a encomenda é<br />
expedida. O motorista carrega a viatura<br />
arrumando os artigos de acordo com a<br />
sua ordem de descarga. No entanto, a<br />
acomodação das encomendas na viatura<br />
pode resultar em perdas de tempo em<br />
dois momentos distintos. Um dos momentos<br />
durante a arrumação da carga, e<br />
o outro na entrega ao cliente.<br />
A realidade aumentada ajuda os motoristas<br />
a encontrar o local dentro da viatura<br />
onde acomodar cada artigo, mais<br />
uma vez através de uns óculos adequados.<br />
O motorista só terá de seguir a<br />
indicação para chegar ao local designado<br />
onde acomodar cada encomenda. O<br />
mesmo processo se aplica quando chega<br />
ao cliente e busca a encomenda por<br />
entre todas as outras.<br />
Ao mesmo tempo, esta tecnologia vai<br />
avisando o motorista de quais os artigos<br />
em que não deve pegar e quais são os<br />
correctos.<br />
O motorista poupa assim tempo a<br />
encontrar os locais dos artigos nos<br />
processos de carga e descarga. Também<br />
é reduzido o risco de erros humanos e<br />
entregas trocadas. Por estes motivos, o<br />
custo geral da expedição é menor.<br />
É importante destacar que a realidade<br />
aumentada está em constante evolução,<br />
com novas aplicações e tecnologias a<br />
serem desenvolvidas. A integração da<br />
realidade aumentada com outras tecnologias,<br />
como Internet-of-Things e Big<br />
Data, pode abrir ainda mais possibilidades,<br />
permitindo a recolha de dados<br />
em tempo real e o refinamento das<br />
operações de transporte e logística.<br />
Em resumo, a realidade aumentada<br />
na indústria de transporte e logística<br />
oferece uma forma inovadora de fornecer<br />
informações contextuais e orientações<br />
aos trabalhadores, melhorando<br />
a eficiência, a precisão e a segurança<br />
das operações, mas também reduzindo<br />
custos. À medida que a tecnologia<br />
continua a avançar, é provável que<br />
vejamos um aumento significativo na<br />
adoção da realidade aumentada e sua<br />
integração com outras soluções tecnológicas<br />
para impulsionar ainda mais a<br />
transformação digital do setor.<br />
40 e-MOBILIDADE
e-MOBILIDADE 41
Continua a não ser um<br />
carro, ainda é um<br />
Por Carlos Branco<br />
Kang<br />
Muitos lembrar-se-ão do primeiro<br />
Kangoo, lançado há 25 anos, de faróis<br />
acentuadamente arredondados,<br />
com as suas portas laterais deslizantes<br />
e amplas superfícies vidradas.<br />
Destinava-se, já então, a famílias que procuravam um<br />
utilitário simples, com muito espaço de arrumação. A<br />
elas o marketing original lhes vendeu o Kangoo, o tal<br />
que “não é um carro”. Foi um sucesso. Tal crédito foi<br />
extensível à campanha de lançamento do Clio. Outro<br />
sucesso. Mas o Kangoo, que já vai na terceira geração,<br />
continua a ser um MPV, da família dos comerciais<br />
ligeiros, com versão van para os profissionais, já<br />
ganhou uma motorização elétrica em 2021 e no início<br />
de setembro dir-se-ia que conquistou o nome próprio<br />
Grand (assim mesmo, en français), não fosse ser este<br />
um adjetivo.<br />
O que lhe fica bem, pois destina-se às mesmas famílias,<br />
ainda que mais numerosas, pois agora tem sete<br />
lugares (2+3+2) – há fixações ISOFIX nos cinco lugares<br />
traseiros –, mantém os portões deslizantes para<br />
melhor acesso à terceira fila, espaço para as pernas,<br />
arrumação com fartura, ganhou na visibilidade, tal<br />
a disposição dos lugares (com piso de elevação crescente,<br />
tipo cinema), tem motorização elétrica e duas<br />
opções a combustão interna - uma diesel de 95 cv e<br />
outra a gasolina de 130 cv - e adequa-se ao trabalho<br />
de profissionais de transporte.<br />
TRÊS TIPOS DE EQUIPAMENTO<br />
A nova gama inclui três versões: Authentic, com<br />
todos os equipamentos essenciais para empresas ou<br />
clientes que pretendem utilizar o seu veículo para<br />
deslocações pessoais e profissionais; Equilibre, para<br />
42 e-MOBILIDADE
Uma transição justa, construtores mais preocupados com o ambiente e práticas mais sustentáveis na<br />
indústria automóvel. Ora aí está tudo dito, de uma só vez, mesmo que nem todos sigam este lead.<br />
A Renault investiu forte e no caso da nova Scénic E-Tech (integralmente elétrico a bateria), 24% dos<br />
materiais utilizados na sua construção são reciclados. Foi uma das novidades da marca francesa no<br />
Salão da Mobilidade, em Munique, apresentada no dia 4 de setembro. Num segundo caso, um dia<br />
depois, voltou a mostrar-nos que o Kangoo continua a não ser um carro, assim nos foi apresentado<br />
na publicidade original, só que agora é maior e é elétrico.<br />
oo<br />
COM A SCÉNIC E-TECH<br />
E O GRAND KANGOO,<br />
A RENAULT APRESENTOU<br />
NO SALÃO DE MUNIQUE<br />
DUAS IMPORTANTES<br />
NOVIDADES<br />
e-MOBILIDADE 43
MODO DE CONDUÇÃO<br />
O novo Grand Kangoo é alimentado<br />
por um motor de 90 kW, com 245<br />
Nm de binário. Pode mudar o modo<br />
de condução para Eco, que limita a<br />
potência a 56 kW e limita a velocidade<br />
do automóvel a 110 km/h, para<br />
otimizar a autonomia<br />
entidades e negócios locais que pretendem<br />
prestar serviços de transporte de<br />
passageiros com impacto positivo, de<br />
forma confortável e económica e Techno,<br />
para famílias e profissionais que pretendem<br />
padrões de conforto e segurança<br />
sem compromissos, juntamente com um<br />
design distinto e características práticas,<br />
como barras de tejadilho.<br />
Também são três os modos de travagem<br />
regenerativa: Sailing, que proporciona<br />
uma regeneração limitada, que funciona<br />
melhor em autoestradas e vias rápidas;<br />
Drive, o modo de regeneração predefinido,<br />
para uma variedade de situações<br />
(a resposta quando se tira o pé do pedal<br />
do travão é semelhante à de um veículo<br />
a combustão interna) e Brake para uma<br />
regeneração máxima, que funciona me-<br />
44 e-MOBILIDADE
lhor em engarrafamentos e em estradas<br />
de montanha. O sistema de travagem hidráulico<br />
convencional é associado a um<br />
sistema ARBS (Adaptative Regenerative<br />
Brake System) que maximiza a recuperação<br />
de energia.<br />
As encomendas começam<br />
no final deste<br />
ano e as primeiras<br />
entregas estão previstas<br />
para o início de<br />
2024.<br />
MODULARIDADE<br />
Com mais pormenores<br />
estilísticos,<br />
também mais atuais,<br />
ainda é um MPV, mas que deixa para a<br />
versão de série a capacidade de trabalho<br />
com cargas. Mas esta modularidade é<br />
bem enfatizada pela Renault, que reclama<br />
a possibilidade de realizar 1024 configurações<br />
dos bancos traseiros, pois são<br />
independentes, deslizantes, rebatíveis,<br />
retráteis e amovíveis, como tal permitindo<br />
um comprimento de carga de 3,11<br />
As encomendas<br />
começam no final deste<br />
ano e as primeiras<br />
entregas estão previstas<br />
para o início de 2024<br />
m com o banco do passageiro da frente<br />
rebatido. Com os sete lugares colocados<br />
em ordem tem 500 litros de capacidade,<br />
mas uma vez rebatidos seis daqueles ela<br />
é aumentada para 3750 litros.<br />
Equipado com dois tipos de carregadores<br />
– rápido de 22 kW<br />
AC para recarregar<br />
a bateria de 15% a<br />
80%, em 2 horas e<br />
40 minuto e de 22<br />
kW AC - 80 kW<br />
DC (standard), para<br />
adicionar 170 km de<br />
autonomia, em 27<br />
minutos.<br />
A nova bateria de<br />
iões de lítio, de 45 kWh (totalmente<br />
utilizável), do novo Grand Kangoo<br />
E-Tech 100% elétrico, tem 8 módulos<br />
independentes e facilmente reparáveis,<br />
proporcionando até 265 km de autonomia<br />
WLTP – o que a marca diz ser<br />
suficiente para a maioria das deslocações<br />
diárias. A garantia destas é de oito anos<br />
ou 160.000 km e durante aquele período<br />
TER-SE-Á ESGOTADO<br />
O PRAZO DA<br />
COMBUSTÃO NOS VCL<br />
Heinz-Jurgen Low, vice-presidente da<br />
Renault para o setor dos veículos comerciais<br />
ligeiros (VCL), admite que a marca<br />
ainda não fechou a porta à produção<br />
de algum outro comercial ligeiro com<br />
motorização a combustão interna, mas<br />
também advoga que o processo de<br />
descarbonização e eletrificação seguida<br />
pela Renault, e a necessária redução<br />
das emissões, bem assim como as boas<br />
experiências que tem recolhido com este<br />
processo não pressupõem tal caminho,<br />
pelo menos nos próximos três anos. No<br />
segmento dos pesados, esse caminho<br />
passará pela eletrificação com recurso<br />
ao hidrogénio, tido como um percurso<br />
natural.<br />
Numa mesa redonda com jornalistas<br />
portugueses, na qual a <strong>eMOBILIDADE+</strong><br />
tomou parte, aquele quadro da Renault<br />
avaliou também os atuais preços dos<br />
veículos comerciais, estimando que os<br />
aumentos previsíveis dos modelos a<br />
combustão interna “têm a ver com as<br />
maiores exigências das normas europeias<br />
no que concerne às emissões, de<br />
igual forma que as motorizações elétricas<br />
têm tendência para baixar os custos.”<br />
Avaliando que a demora no lançamento<br />
da versão Grand da Kangoo teve a ver<br />
com os constrangimentos provocados<br />
pela pandemia e com a falta de componentes<br />
eletrónicos, Heinz-Jurgen Low<br />
falou também que a futura nova Master<br />
será desenhada de raiz e será preparada<br />
para a adoção do hidrogénio como<br />
fonte motriz, o que deverá acontecer em<br />
2025, como opção ao veículo elétrico,<br />
algo que não está a ser pensado para a<br />
Trafic.<br />
Tendo em conta os desafios futuros da<br />
última milha, e levando em consideração<br />
a falta de parqueamentos nas zonas<br />
centrais das grandes cidades, a Renault<br />
poderá estar a pensar em modelos da<br />
gama intermédia, isto é, entre as versões<br />
curta e longa das van. “Temos algo em<br />
mente, seguindo o que nos dizem os<br />
clientes.É um assunto difícil, mas espero<br />
que em breve possamos revelar o nosso<br />
plano para a última milha”, concluiu o<br />
responsável da Renault para os veículos<br />
comerciais ligeiros.<br />
e-MOBILIDADE 45
EVENTO<br />
Salão de Munique<br />
são substituídas, gratuitamente, se a sua<br />
capacidade for inferior a 70% do seu<br />
‘State of Health’ (estado de funcionamento).<br />
Se parar durante 10 minutos num<br />
ponto de carregamento de 80 kW DC,<br />
pode recuperar 80 km de autonomia.<br />
O novo Grand Kangoo é alimentado por<br />
um motor de 90 kW, com 245 Nm de binário.<br />
Pode mudar o modo de condução<br />
para Eco, que limita a potência a 56 kW<br />
e limita a velocidade do automóvel a 110<br />
km/h, para otimizar a autonomia.<br />
TEST DRIVE EM BORDÉUS<br />
Dias depois da apresentação em Munique,<br />
a Renault proporcionou um<br />
test-drive com o novo Kangoo, em Bordéus,<br />
ocasião para revelar o novo Trafic<br />
E-Tech. Após conversa com o líder de<br />
desenvolvimento de produto, Jean-Louis<br />
Wiedelmann, a <strong>eMOBILIDADE+</strong> levou<br />
em conta as características destacadas<br />
pelo ‘pai’ do Kangoo E-Tech.<br />
Em primeiro lugar, a capacidade de<br />
regeneração de energia, com três modos,<br />
acionáveis no seletor de marcha. Em<br />
desaceleração ou em travagem a capacidade<br />
regenerativa de energia está sempre<br />
ativa, mas menos percetível nas posições<br />
1 e 2, significando que o travão-motor-<br />
-regenerador atua, mas aproveita melhor<br />
a inércia. O mesmo já não sucede na<br />
posição 3, pois ela é canalizada para<br />
regeneração.<br />
O desempenho do motor não nos deixa<br />
de pé atrás. O veículo é despachado e a<br />
condução é amigável e precisa. A cabina<br />
é espaçosa, os portões deslizantes são<br />
generosos e o espaço para a carga não<br />
merece reparos. Destaque para a possibilidade<br />
de acolher uma escada, com dois<br />
suportes dedicados e um repouso frontal<br />
colocado sobre a cabeça do passageiro,<br />
que a dissimula. Para o efeito foi colocado<br />
um resguardo com material de forro e<br />
acabamento igual ao do tejadilho. Sobra<br />
espaço para uma boa habitabilidade.<br />
Rebatidas as costas do terceiro banco<br />
(central) é possível retirar um tabuleiro<br />
para colocar um computador, ou beneficiar<br />
de espaço para realizar uma pequena<br />
refeição.<br />
Ainda que a sua vida já seja longa, a Scénic soube<br />
evoluir. Acima de tudo, com uma motorização<br />
totalmente elétrica, parte do projeto que a Renault<br />
executa para a reformulação do segmento C para as<br />
famílias, tendo em conta que a Scénic foi concebida<br />
para ser o carro principal de uma família, para<br />
longas viagens aos fins-de-semana e nas férias<br />
46 e-MOBILIDADE
SCÉNIC E-TECH<br />
É a Renaulution para as famílias<br />
A<br />
legião de seus utilizadores não o<br />
deve saber, mas Scénic é o acrónimo<br />
de “Safety Concept Embodied<br />
in a New Innovative Car” (conceito<br />
de segurança incorporado num novo<br />
automóvel inovador) e há 27 anos que<br />
se escreve esta história feita pelo primeiro<br />
monovolume compacto da história<br />
automóvel europeia, título herdado da<br />
sua “mãe”, a Espace, nascida em 1984,<br />
maior, mais espaçosa, com apontamentos<br />
ao nível dos carros de topo de gama,<br />
sejam pelo conforto, equipamento e<br />
comportamento em estrada. Chega ao<br />
mercado português no início de 2024.<br />
QUASE TUDO RECICLÁVEL<br />
É o primeiro automóvel<br />
familiar elétrico concebido<br />
de forma mais<br />
sustentável. Montado na fábrica Electri-<br />
City de Douai, abre um novo caminho<br />
para uma mobilidade mais ecológica,<br />
pois até 24% dos materiais do automóvel<br />
são reciclados e 90% da sua massa<br />
- incluindo a bateria - é reciclável, nos<br />
termos da Diretiva 2005/64/CE, em<br />
instalações industriais.<br />
Ainda que a sua vida já seja longa, a<br />
Scénic soube evoluir. Acima de tudo,<br />
com uma motorização totalmente elétrica,<br />
parte do projeto que a Renault executa<br />
para a reformulação do segmento<br />
C para as famílias, tendo em conta que<br />
a Scénic foi concebida para ser o carro<br />
principal de uma família, para longas<br />
viagens aos fins-de-semana e nas férias.<br />
É anunciada uma autonomia de 620 km<br />
(ciclo WLTP), valor que não pode ser<br />
negligenciado. O motor debita até 160<br />
kW (equivalente a 220 cv).<br />
Construído sobre uma plataforma comum<br />
desenvolvida pela aliança Renault-Nissan-Mitsubishi,<br />
a distância entre<br />
eixos é pequena em relação à média do<br />
segmento, mas o seu espaço é recorde.<br />
Tem uma bateria compacta (fornecendo<br />
até 87 kWh), que liberta ainda mais<br />
espaço no interior do automóvel para<br />
aproveitar ao máximo as proporções<br />
ideais. Se há algo que as gerações anteriores<br />
da Scénic sempre teve é o espaço.<br />
ESPAÇO, SEMPRE ESPAÇO<br />
Com este renascimento, ele não foge à<br />
regra, pois o teto plano e a distância entre<br />
eixos de 2,78 metros abrem espaço<br />
para os passageiros (incluindo um raio<br />
de 278 mm para os joelhos na parte<br />
de trás) e para a bagagem (545 litros),<br />
sendo que os bancos são rebatíveis<br />
individualmente. O inovador teto de<br />
vidro opacificante Solarbay (pode ser<br />
acionado por voz) e o apoio de braços<br />
Ingenious completam a gama de comodidades<br />
que aumentam o conforto.<br />
O sistema multimédia OpenR Link<br />
inclui mais de 50 aplicações para que<br />
possa planear uma viagem sem esforço<br />
e a assinatura sonora caraterística tem<br />
mão de profissional – é resultado de um<br />
trabalho de equipa com o compositor<br />
francês Jean-Michel Jarre.<br />
E o novíssimo Scénic E-Tech é o primeiro<br />
modelo elétrico da gama Renault<br />
a integrar o acabamento Esprit Alpine,<br />
que lhe confere um caráter desportivo e<br />
estimulante. A grelha é cativante, plena<br />
de losangos estilizados e as jantes vão<br />
despertar muita atenção, pormenores<br />
como outros crossover já o têm experimentado.<br />
Em alguns plásticos está<br />
mesmo representado o símbolo de economia<br />
circular, sinal de que o material<br />
pode ser reciclado.<br />
e-MOBILIDADE 47
MG4<br />
Cheio de estilo<br />
É urbano e compacto, mas é bem capaz de ser visto nos espaços amplos;<br />
por fora tem traços futuristas, no interior é algo minimalista. Inteligente e<br />
tecnologicamente avançado, tem um ar jovem e irrequieto. E é elétrico, cheio de<br />
estilo. Já se percebeu que é um MG. Ou melhor, o MG4.<br />
A<br />
marca tem pedigree inglês, nascido nas Garagens<br />
Morris, a partir de um traço italiano com que Pininfarina<br />
imortalizou o modelo MGB GT. Ainda que<br />
passado, ele é indelével. Mas há um futuro promissor<br />
a cargo da chinesa SAIC Motor, a empresa-mãe<br />
da MG, que concebeu o MG4 para o que diz ser o caminho para<br />
a democratização do acesso ao mercado dos veículos elétricos a<br />
bateria. Tudo começa nos 32,990€.<br />
A questão da autonomia, depois do preço, não é pormenor quase<br />
insignificante, pois se a distância entre carregamentos se prolonga<br />
por 450 Km há que pensar seriamente no seu concurso. É preciso<br />
levar em conta que uma carga rápida DC de 135 kW permite<br />
que a bateria seja reabastecida até 80% em apenas 35 minutos.<br />
Assim se passa com o MG4.<br />
Prossigamos pela unidade propulsora, que tem dois níveis de<br />
potência (125 kW e 150 kW), em qualquer dos casos com um<br />
binário máximo de 250 Nm. A capacidade da bateria varia entre<br />
51 e 64 kWh - dita como a mais fina do mercado, com apenas<br />
110 mm de espessura -, possibilitando autonomias entre os 350<br />
e os 450 Km, sendo que a velocidade máxima está limitada aos<br />
160 Km/h. A aceleração é interessante, entre 7,7 e os 7,9s dos<br />
0/100 km/h, consoante a potência instalada. Diz a marca que o<br />
consumo de energia variará entre os 160 e os 170 Wh/km. Tudo<br />
dependerá da força exercida no pedal.<br />
Já o carregamento CA trifásico permite uma carga completa durante<br />
a noite (cerca de 6,5 horas a 11 kW). O sistema avançado<br />
de gestão da bateria assegura uma autonomia estável e eficiente<br />
em climas frios, e pré-aquece ativamente a bateria para melhorar<br />
a eficiência da carga.<br />
Paralelamente, e complementando o redesenho do avançado<br />
sistema de refrigeração, o sistema de One-Pack Battery oferece<br />
três grandes vantagens: integração ultra-alta, vida útil ultra-longa<br />
e proteção de segurança sem fugas térmicas.<br />
SPOILER DISTINTIVO<br />
Com mais autonomia, o estilo apurado combina, sem esfor-<br />
Com uma nova plataforma escalável<br />
modular (MSP), desenvolvida pela<br />
SAIC Motor, a tração traseira,<br />
juntamente com a distribuição de peso<br />
50:50, ajuda-o a dominar as curvas<br />
mais apertadas, enquanto que a direção<br />
proporciona maior precisão e uma<br />
condução ágil<br />
48 e-MOBILIDADE
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS<br />
Equipamento Standard Comfort Luxury<br />
Potência (kW) 125 150 150<br />
Binário (Nm) 250 250 250<br />
Bateria (kWh) 51 64 64<br />
ço, um exterior futurista e expressivo com um design interior<br />
minimalista e de fácil utilização. Com um sistema de iluminação<br />
inteligente e um tejadilho aerodinâmico de dois tons, é um<br />
exercício de design que se destaca dos demais. É um chamariz,<br />
com faróis LED distintivos e um spoiler de asa dupla com luzes<br />
de travagem elevadas.<br />
No interior, encontramos o simples mas sofisticado painel de<br />
instrumentos digital flutuante e ecrã táctil do infoentretenimento,<br />
juntamente com um volante desportivo de dois raios.<br />
Com uma nova plataforma escalável modular (MSP), desenvolvida<br />
pela SAIC Motor, a tração traseira, juntamente com a distribuição<br />
de peso 50:50, ajuda-o a dominar as curvas mais apertadas, enquanto<br />
que a direção proporciona maior precisão e uma condução<br />
ágil, em cinco modos: Normal, Eco, Sport, Neve e Personalizado.<br />
O novo MG4 Electric vem de série com a tecnologia inovadora<br />
MG iSMART que integra a comunicação entre o carro, a Internet<br />
e o utilizador. É possível monitorizar o carro com controlo<br />
de voz, mãos livres e encontrar o local onde foi parqueado, ou<br />
Pot. max. carga (kW) 117 135 135<br />
Tempo carga (10-80%) 40’ 35’ 35’<br />
Vel. Max. (km/h) 160 160 160<br />
Aceleração (0-100 km/h) 7,7’’ 7,9’’ 7,9’’<br />
Autonomia (km, WLTP) 350 450 435<br />
Consumo (Wh/km) 170 160 166<br />
Preço (€) 32.990 37.590 39.590<br />
um ponto de carregamento próximo com a MG App. Permite,<br />
inclusivamente, ligar o sistema de climatização para arrefecer ou<br />
aquecer o habitáculo antes de lhe aceder. Com ponto de acesso<br />
Wi-Fi e chave-Bluetooth, dispõe de ecrã táctil de 10,25 polegadas.<br />
Novamente, o MG iSMART a possibilitar mais vantagens,<br />
como encontrar locais de interesse e transmissão de música<br />
online com um toque ou dois, programação do carregamento<br />
da bateria.O sistema de segurança MG Pilot utiliza tecnologias<br />
parcialmente automatizadas de assistência ao condutor. A saber:<br />
Cruise Control Adaptativo (ACC); Controlo Inteligente dos<br />
Faróis (IHC); Sistema de Assistência à Velocidade (SAS); Aviso<br />
de Colisão Frontal (FCW); Aviso de saída da faixa de rodagem<br />
(LDW); Assistência em caso de congestionamento de trânsito<br />
(TJA); Lane Keeping Assisting (LKA); Aviso de mudança de<br />
faixa de rodagem (LCW); Assistência à Manutenção na Faixa de<br />
rodagem por Emergência (ELK); Detector de Ângulos Mortos<br />
(BSM); Alerta de Trânsito à Retaguarda (RCTA); Aviso de Portas<br />
Abertas (DOW); Aviso de Colisão Traseira (RCW). Uma câmara a<br />
360º capta a envolvente do veículo em tempo real, reduzindo os<br />
ângulos mortos e tornando a condução e o estacionamento mais<br />
fáceis e seguros.<br />
e-MOBILIDADE 49
Uma força<br />
chinesa<br />
IAA MOBILITY DE MUNIQUE<br />
REVELOU NOVAS TENDÊNCIAS<br />
na pátria<br />
do automóvel<br />
50 e-MOBILIDADE
O salão automóvel, tal como o conhecíamos, caiu de maduro e morreu. Agora, é<br />
o da mobilidade elétrica, em múltiplas facetas, e onde o automóvel passou a ser<br />
(quase) um figurante. Em Munique, no IAA Mobility, no início de setembro, mais<br />
que entre quatro paredes, ele foi bem vivido nas grandes praças, com público, não<br />
com profissionais. Aí sim, foi feita a apologia ao automóvel. E o futuro começará a<br />
apontar-nos que ser dono de um carro tende a ser uma memória.<br />
e-MOBILIDADE 51
Nononono EVENTO no no no<br />
Nono IAA Mobility no nono nononono<br />
Se vai comprar um carro, pense<br />
bem. Pense se será melhor<br />
desembolsar umas dezenas<br />
de milhar de euros, ou se o<br />
melhor negócio poderá passar<br />
por subscrever o direito a conduzir uma<br />
viatura, naturalmente elétrica, sem ter<br />
que se preocupar muito com o seu futuro,<br />
ou com a sua manutenção. E daqui<br />
a uns tempos ponderar uma mudança,<br />
novamente com recurso à subscrição.<br />
É por isso que numerosas entidades<br />
bancárias apareceram no recinto da<br />
feira de Munique, onde se realizou o<br />
IAA Mobility, anteriormente conhecido<br />
como Salão Automóvel de Frankfurt.<br />
A pandemia mudou tudo. Os salões<br />
morreram. Agora é uma exposição,<br />
mas que já não gravita como outrora<br />
em torno de máquinas de sonho.<br />
Fabricantes de componentes, de<br />
aplicações eletrónicas, de plásticos,<br />
de bicicletas, motos, helicópteros,<br />
veículos de condução autónoma, compraram<br />
parte dos espaços que eram<br />
ocupados pelos grandes construtores<br />
automóveis, que desembolsavam fortunas<br />
para ali estarem presentes com<br />
uma dúzia de modelos e batalhões de<br />
colaboradores.<br />
52 e-MOBILIDADE
TUDO PARA<br />
MOBILIDADE<br />
O IAA Mobility já não gravita<br />
como outrora em torno de<br />
máquinas de sonho. Reúne hoje<br />
fabricantes de componentes, de<br />
aplicações eletrónicas, de plásticos,<br />
de bicicletas, motos, helicópteros,<br />
veículos de condução<br />
autónoma, entre outros<br />
NOVO PARADIGMA<br />
A surpresa foram os chineses, que estão a<br />
desembarcar na Europa, capital do automóvel<br />
e, no caso, na catedral desta indústria,<br />
a uma cadência inusitada, com carros<br />
bem mais baratos que os europeus. O que<br />
aconteceu às grandes marcas europeias<br />
para mudarem de ideias, e muitos a nem<br />
sequer aparecerem, como o grupo Stellantis,<br />
e as tradicionais marcas japonesas?<br />
Porventura, poupanças, pois a transição<br />
energética obriga-os a gastar mais do<br />
que esperavam, por não quererem medir<br />
protagonismo (não a notoriedade) com a<br />
armada chinesa, que não poupa na bolsa.<br />
Mas, principalmente, porque os tempos<br />
são outros, pelo que é preferível gastar<br />
boa parte desse orçamento numa exposição<br />
mais próxima dos potenciais clientes,<br />
nas ruas e praças e nas redes sociais.<br />
Munique entendeu que assim poderia ter<br />
algum sucesso. E teve razão.<br />
e-MOBILIDADE 53
EVENTO<br />
IAA Mobility<br />
Também houve espaço para<br />
pequenas empresas que<br />
promoveram microcarros,<br />
bicicletas e motos elétricas,<br />
além de uma panóplia de<br />
instrumentos eletrónicos de<br />
ajudas à condução e ao conforto<br />
ALEMÃES NA RUA,<br />
BYD HOLLYWOODESCA<br />
As grandes marcas alemãs, também a<br />
Renault, mas também a chinesa BYD,<br />
foram para a rua e fizeram uma festa<br />
com os adeptos dos automóveis. Fizeram<br />
test-drives, ofereceram espectáculos,<br />
entretiveram os passantes e<br />
convidados, encheram-nos de comida<br />
e bebida. E mostraram os carros,<br />
longe dos chineses, que captaram a<br />
atenção da imprensa internacional nos<br />
espaços da feira.<br />
A BYD montou um cenário cinematográfico<br />
para apresentar seis novos<br />
modelos de uma só vez, a série Seal<br />
e a submarca Denza (parceria com a<br />
Mercedes-Benz). Mas também a MG,<br />
a Seres, a Forthing (destaque para o<br />
gigante U-Tour V9), a Nobo, a Yoyo, e<br />
outros de quem nunca tínhamos ouvido<br />
falar, reclamaram olhares.<br />
A BMW jogou em casa e deu destaque<br />
ao i7 Protection, ao iX5 Hidrogénio<br />
e à sua visão do Neue Klasse. A VW<br />
apostou no concept car iD.GTi e a<br />
Mercedes-Benz no E400 e 4Matic. E a<br />
Audi com o E-Tron. E foi quase tudo.<br />
O que é pouco.<br />
A Opel reservou pequeno espaço para<br />
um Experimental. O resto ficou reservado<br />
para pequenas empresas com<br />
divulgaram conceitos de mobilidade com<br />
microcarros, bicicletas e motos elétricas e<br />
uma panóplia de instrumentos eletrónicos<br />
de ajudas à condução e ao conforto.<br />
Em 2024 há outro “salão”, o IAA<br />
Transports, em Hannover, esse dedicado<br />
aos pesados e de mercadorias e de<br />
passageiros, cujo interesse é reservado,<br />
claramente, a profissionais.<br />
PRESENÇA PORTUGUESA: ABIMOTA E AFIA MOSTRAM O QUE VALEM<br />
A indústria automóvel e da mobilidade precisam de componentes<br />
e as empresas portuguesas são fortes nesse particular,<br />
razão pela qual são presença assídua neste tipo de certames.<br />
Segundo Adão Ferreira, secretário geral da Associação de<br />
Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), que organizou<br />
um stand com o apoio da AEP e que serviu de chapéu para<br />
cinco empresas - Maxiplás (injeção de plásticos, Pombal),<br />
Festo (injeção plásticos, Braga) Incompol (metalo-mecânica,<br />
Samora Correia), Tecniforja (metalo-mecânica, Lixa), CS<br />
Plastic (injeção de termoplásticos, Santo Tirso) - “em Portugal<br />
há 350 fabricantes de componentes que fornecem a indústria<br />
automóvel, responsáveis por 63 mil postos de trabalho e 13<br />
mil milhões de euros de faturação [12.000 milhões de exportação,<br />
maioritariamente para Espanha, Alemanha e França].”<br />
Sérgio Gonçalves e Sérgio Ribeiro, representaram a Abimota<br />
(Associação dos Industriais de Duas Rodas). Nada tinham<br />
para vender, mas apenas para mostrar: “O objetivo é promover<br />
Portugal enquanto fornecedor de bicicletas. Fazemos<br />
agora a promoção da agenda mobilizadora, um investimento<br />
superior a 200 milhões de euros para os próximos anos.<br />
Portugal produz mais de 3 milhões de bicicletas por ano, é o<br />
maior fabricante da Europa. Desde 2015 exportávamos cerca<br />
de 150 milhões por ano, mas nos dias de hoje já atingimos<br />
os 900 milhões, tal tem sido o crescimento”, sintetizou Sérgio<br />
Gonçalves, enquanto descrevia a bicicleta exposta no stand,<br />
basicamente um quadro em fibra de carbono, monocoque,<br />
sem colagens e que pesa apenas 600 gramas, sem paralelo.<br />
“O que aqui mostramos é o know-how e a inovação portugueses,<br />
que despertam muita curiosidade. Se tudo correr<br />
bem, iremos ter o primeiro centro de inovação das duas<br />
rodas na Europa, pois podemos fazer parte da linha da frente<br />
nesta indústria. O nosso trabalho é dar essa notoriedade.”<br />
54 e-MOBILIDADE
ELÉTRICO<br />
Micromobilidade<br />
é com o Microlino<br />
“<br />
Isto<br />
não é um carro”, diz o slogan da empresa<br />
suíça Micro Mobility, mas que glosa o que se<br />
dizia do Kangoo da Renault. E não é mesmo, é<br />
um quadriciclo elétrico, inspirado no conceito<br />
carro-bolha da BMW, o Isetta, nascido no<br />
pós-Guerra, em Munique, em 1956. Há dias, no IAA<br />
Mobility, naquela mesma cidade, reencontrámo-lo com<br />
outras roupagens, nome e código. É o Microlino, e já é<br />
2.0, que há muito está a ser desenvolvido pela empresa<br />
suíça e que agora é produzido<br />
pelos italianos da Taz zari, de<br />
Turim, candidato a concorrer<br />
com o AMI, da Citroen, e o<br />
Topolino, da FIAT.<br />
Pois o Microlino, carro de<br />
aptidão urbana, fez as delícias<br />
da assistência, que se sentaram<br />
ao volante e admiraram<br />
O Microlino ocupa um terço<br />
do espaço reclamado por uma<br />
veículo convencional e é dos<br />
poucos que pode estacionar<br />
paralelamente ao passeio<br />
a espartana disposição interior, pois é despido de tudo e<br />
mais alguma coisa a que estamos habituados, agregando<br />
apenas o essencial para poder ser conduzido. Acolhe<br />
dois passageiros e, diz a empresa, pode acomodar três<br />
caixas de cerveja na bagageira...<br />
A série de lançamento – Pioneer – tem duas opções<br />
de baterias - 8 kWh (125 km de autonomia) ou 14.4<br />
kWh (200 km), pode ser carregado numa simples<br />
tomada doméstica em apenas quatro horas. A motorização<br />
é de 12,5 kW (16 cv),<br />
para 89 Nm de binário e um<br />
peso de apenas 500 kg. A velocidade<br />
máxima está limitada<br />
aos 90 km/h e acelera de 0-50<br />
km/h em apenas cinco segundos.<br />
O preço é demasiado<br />
elevado, podendo variar entre<br />
os 12 e os 16 mil euros.
Um problema global<br />
ESTIMATIVA<br />
Estima-se que um terço dos<br />
motoristas estejam em processo de<br />
reforma de atividade nos próximos<br />
três anos em muitos países, pelo<br />
que aquelas vagas assinaladas e<br />
não preenchidas poderão mais<br />
do que duplicar até 2026
Como atrair e manter<br />
os motoristas de camião?<br />
A escassez global de motoristas de camião está a tornar-se um grande<br />
problema que afeta todo o setor de transportes. Segundo um estudo de<br />
2022 da União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU), mais<br />
de 2,6 milhões de vagas ficaram por preencher no ano anterior. A razão<br />
é simples: se os mais velhos estão a chegar à idade da reforma, o setor<br />
não está a conseguir atrair os jovens. É preciso saber porquê.<br />
Por Carlos Branco<br />
Os seus motoristas são a imagem<br />
de marca da sua empresa,<br />
são a cara do seu negócio,<br />
aqueles que, todos os dias,<br />
são os primeiros que se apresentam<br />
aos seus clientes. Ao fim e ao cabo,<br />
os melhores condutores contribuem para<br />
o desenvolvimento geral do negócio, por<br />
isso é importante que sejam reconhecidos e<br />
que estes saibam com o que podem contar<br />
da sua empresa. A dedução é tirada por<br />
Delphine Maury, analista sénior de mercado<br />
da Volvo Group Truck Technology (GTT).<br />
Apoiando-se em estudos recentes, em pesquisas<br />
internas e inquéritos online, Delphine<br />
descreveu na página oficial da Volvo Trucks<br />
de que forma os empregadores podem atrair<br />
motoristas e, mais importante ainda, como<br />
mantê-los motivados.<br />
De acordo com o relatório da IRU, segun-<br />
e-MOBILIDADE 57
ESTUDO<br />
Escassez de motoristas<br />
do o qual a escassez global crónica de<br />
motoristas profissionais de camiões,<br />
autocarros e táxis está em aceleração,<br />
fazendo com que cerca de 11% das<br />
vagas não tenham sido preenchidas em<br />
2022, estima-se que um terço dos motoristas<br />
estejam em processo de reforma<br />
de atividade nos próximos três anos em<br />
muitos países, pelo que aquelas vagas<br />
assinaladas e não preenchidas poderão<br />
mais do que duplicar até 2026.<br />
Ora, a situação, que à falta de paliativo<br />
eficaz tenderá a ser dramática, não afeta<br />
apenas os operadores de transportes e<br />
os seus serviços, já que as consequências<br />
poderão ser vistas - já o foi, e ainda<br />
não há muito tempo, no Reino Unido<br />
- em todas as cadeias de suprimentos,<br />
afetando empresas e consumidores em<br />
todo o mundo.<br />
MEDIDAS URGENTES<br />
A tal ponto que a IRU (representante<br />
de mais de 3,5 milhões de operadores<br />
de transporte), de braço dado com a<br />
gigante Federação Internacional dos<br />
A escassez de motoristas está a sair do controlo,<br />
e rapidamente. Equilibrar a oferta e a procura de<br />
mão-de-obra a nível mundial através de medidas<br />
simples para facilitar a imigração legal e pôr termo<br />
à exploração de condutores<br />
Trabalhadores em Transportes (ITF),<br />
pois associa perto de 18,5 milhões de<br />
funcionários, lançaram em junho deste<br />
ano um plano para ajudar a resolver a<br />
escassez de motoristas (ver quadro).<br />
Pode ler-se no comunicado conjunto<br />
daquelas entidades, citado pela IRU,<br />
que tal abordagem visa atenuar a escassez<br />
de condutores e os desequilíbrios<br />
do mercado de trabalho dos transportes,<br />
assegurar condições de trabalho e<br />
normas dignas para os condutores que<br />
trabalham fora do seu país de origem e<br />
simplificar e aplicar regras para trabalhadores<br />
e empregadores. “A escassez<br />
de motoristas está a sair do controlo, e<br />
rapidamente. Urge equilibrar a oferta e<br />
a procura de mão-de-obra a nível mundial<br />
através de medidas simples para<br />
facilitar a imigração legal e pôr termo à<br />
exploração de condutores não residentes<br />
é uma forma de resolver o problema,<br />
apoiar o trabalho digno e mantendo os<br />
serviços vitais de transporte rodoviário<br />
em movimento”, disse Umberto de<br />
Pretto, secretário-geral da IRU.<br />
“Os governos, os empregadores de<br />
transporte e os clientes multinacionais<br />
de transporte devem trabalhar em conjunto<br />
com os sindicatos para construir<br />
um trabalho decente para acabar com<br />
a escassez de motoristas. O transporte<br />
PREOCUPAÇÕES<br />
INCENTIVOS<br />
SALÁRIO 3%<br />
OUTROS 2%<br />
AUTONOMIA 5%<br />
SAÚDE 6%<br />
FAMÍLIA/CASA 7%<br />
FAMÍLIA/CASA 8%<br />
EMPREGABILIDADE 49%<br />
EMPREGABILIDADE 7%<br />
SALÁRIO 36%<br />
NOVOS<br />
EMPREGADOR 9%<br />
NOVOS<br />
FORMAÇÃO 15%<br />
TEMPO SOZINHO 9%<br />
EMPREGADOR 17%<br />
VIAGENS 11%<br />
FORMAÇÃO 16%<br />
SALÁRIO 6%<br />
FAMÍLIA/CASA 6%<br />
OUTROS 1%<br />
FAMÍLIA/CASA 9%<br />
EMPREGADOR 47%<br />
TEMPO SOZINHO 6%<br />
VIAGENS 10%<br />
SALÁRIO 42%<br />
EXPERIENTES<br />
EXPERIENTES<br />
EMPREGADOR 16%<br />
CONDIÇÕES DE TRABALHO 38%<br />
AUTONOMIA 19%<br />
Fonte: Volvo (www.volvotruck.com)<br />
Fonte: Volvo (www.volvotruck.com)<br />
58 e-MOBILIDADE
odoviário só será capaz de atrair e reter<br />
condutores se assentar na cooperação<br />
entre todas as partes interessadas e os titulares<br />
de direitos para garantir trabalho<br />
digno, direitos laborais fundamentais e<br />
verdadeiras proteções sociais”, declarou<br />
Stephen Cotton, o seu homólogo da ITF.<br />
O QUE OS MOTIVA<br />
Para um motorista existem diferentes tipos<br />
de razões para permanecer motivado<br />
no seu trabalho. De acordo com uma<br />
pesquisa interna da Volvo (2019) com<br />
base em 151 entrevistas com transportadores<br />
de longa distância de 16 nacionalidades,<br />
as três principais prioridades<br />
dos motoristas são conforto e espaço na<br />
cabine e segurança. O estudo também<br />
indica uma crescente consciencialização<br />
sobre a saúde, principalmente por parte<br />
dos motoristas mais jovens, e um crescente<br />
interesse em linhas de transmissão<br />
ecológicas.<br />
“Conforto, espaço e segurança são as<br />
mesmas prioridades há muitos anos,<br />
então definitivamente há uma continuidade<br />
para estes requisitos básicos.<br />
Também podemos ver uma correlação<br />
entre a duração da jornada e o nível<br />
FEEDBACK<br />
Os motoristas muitas vezes ficam<br />
felizes por dar feedback e contribuir<br />
para um melhor desempenho.<br />
Prestar atenção ao feedback do<br />
motorista é essencial, para sentir<br />
que ele está a ser entendido<br />
de satisfação de determinadas marcas.<br />
Quanto mais tempo você passa no seu<br />
camião, mais importante é o espaço e a<br />
segurança”, analisa Delphine Maury.<br />
As prioridades do motorista podem<br />
variar segundo as suas nacionalidades<br />
e em que países e rotas a sua empresa<br />
se movimenta. A verdade é que nem<br />
todos os motoristas têm a capacidade de<br />
pagar por paragens seguras de camiões,<br />
detetou Delphine.<br />
Mas, o que se entende por CONFORTO<br />
DO MOTORISTA?: De acordo com a<br />
pesquisa, este conforto refere-se, prin-<br />
AS AÇÕES PROPOSTAS<br />
cipalmente, aos arranjos para dormir e<br />
descansar, que são considerados muito<br />
importantes, bem como o conforto do<br />
seu assento enquanto conduz. Quando<br />
questionados sobre o que preferem,<br />
além do conforto básico do banco do<br />
motorista, mais de 58% priorizam<br />
maior espaço para descanso e relaxamento.<br />
E por ESPAÇO DE CABINE?: É tido<br />
como essencial, já que 72% de todos os<br />
motoristas inquiridos consideraram-no<br />
muito importante. Cada centímetro<br />
pode agregar valor e a sensação de<br />
espaço é ainda mais importante para<br />
motoristas de longa distância.<br />
E a SEGURANÇA?: Envolve tanto a<br />
segurança do camião quanto a de quem<br />
o conduz. Neste sentido, as três principais<br />
prioridades de recursos solicitados<br />
são o alerta de roubo de combustível,<br />
alarme para ataques de gás e uma tranca<br />
de segurança interna complementar da<br />
porta da cabine. Para a segurança do<br />
motorista, 62% destes - segundo um<br />
recente estudo online interno da Volvo<br />
(2022) - disseram preferir assistência à<br />
condução, como manutenção de faixa,<br />
assistência de mudança de faixa, travagem<br />
de emergência. A segunda prioridade<br />
de segurança do condutor mais<br />
apreciada diz respeito aos diferentes<br />
Segundo o plano conjunto da IRA e ITF, são três as ações propostas, e terá<br />
necessariamente que envolver outras figuras, seja a ONU, os governos nacionais<br />
e a indústria.<br />
Tendo como destinatários as Nações Unidas e outras organizações internacionais,<br />
propõe-se “o desenvolvimento de um quadro global com orientações<br />
claras para proteger os condutores não residentes, a melhoria das condições dos<br />
condutores e o aumento da coesão social, bem assim como a harmonização das<br />
normas de qualificação e o reconhecimento transfronteiriço.”<br />
Tendo como alcance os governos nacionais, pretendem a IRU e ITF “alterar e<br />
aplicar os procedimentos de imigração laboral para proteger os condutores não<br />
residentes, reduzir a burocracia para permitir uma imigração legal mais fácil para<br />
os condutores atuais e potenciais, reforçar o reconhecimento das qualificações<br />
de países terceiros através de acordos bilaterais, investir e aumentar a aplicação<br />
das leis e regulamentos relativos ao transporte rodoviário, e subsidiar programas<br />
nacionais de formação e integração.”<br />
Destinado aos operadores de transporte rodoviário, pressupõe que se “desenvolvam<br />
programas de integração operacional para que os condutores não<br />
residentes recebam as mesmas condições que a sua mão-de-obra doméstica e<br />
apoiem processos de treino, gestão de competências e certificação.”<br />
e-MOBILIDADE 59
ESTUDO<br />
Escassez de motoristas<br />
tipos de alarmes, como proteção contra<br />
adormecimento e prevenção contra<br />
agressões e roubos (55%).<br />
Uma pesquisa interna de 2021 em<br />
inglês, alemão, francês e sueco conclui<br />
que as operadoras precisam de se concentrar<br />
nos motoristas atuais e novos<br />
para enfrentar o problema da escassez.<br />
Os novos motoristas foram atraídos<br />
para a profissão pelos baixos requisitos<br />
de entrada e, para 36% deles, o salário<br />
é a principal prioridade, seguido pela<br />
formação (16%) e viagens (11%). Para<br />
motoristas experientes, 42% citam o<br />
salário como um dos principais motivadores,<br />
seguido pela autonomia, a<br />
liberdade de estar na estrada (19%) e ter<br />
um empregador de referência (16%).<br />
O QUE OS DESMOTIVA<br />
Há também uma indicação clara do<br />
que desmotiva os motoristas. Para 49<br />
% dos novos condutores, a incerteza de<br />
encontrar um emprego é uma grande<br />
preocupação, apesar de as empresas<br />
de transportes manterem uma elevada<br />
procura das suas (boas) competências.<br />
Consequentemente, há aqui um potencial<br />
para os operadores começarem cedo<br />
com um processo de integração positivo,<br />
a fim de garantir um relacionamento<br />
de longo prazo com seus potenciais<br />
motoristas.<br />
Os novos motoristas estavam preocupados<br />
em encontrar um emprego, mas<br />
também ao serem contratados sentiam<br />
que não estavam bem equipados para<br />
lidar com as exigências da profissão<br />
assim que recém-saídos da formação.<br />
A intensa pressão de um empregador<br />
para entregar rapidamente, combinada<br />
com inseguranças sobre manobrar um<br />
camião no trânsito pesado e medo de<br />
acidentes, fez com que estes considerassem<br />
desistir cedo devido ao stress.<br />
Para os condutores experientes, os<br />
DIFICULDADES<br />
Apesar de os salários dos motoristas<br />
serem até cinco vezes superiores<br />
aos salários mínimos médios, o<br />
relatório aponta dados alarmantes<br />
sobre as dificuldades de acesso à<br />
profissão de motorista, principalmente<br />
para os jovens, e sua atratividade,<br />
especialmente para as mulheres<br />
empregadores e as condições de trabalho<br />
têm uma grande influência no seu<br />
trabalho. Um empregador que trate mal<br />
os motoristas faz com que eles vejam a<br />
profissão de uma forma menos favorável.<br />
As condições de trabalho incluíram<br />
alta pressão, stress e risco de acidentes,<br />
todos vistos como motivos para pedir<br />
demissão ou mudar de emprego.<br />
ENTÃO, COMO OS ATRAIR<br />
E MANTER?<br />
Existem vários aspectos que afetam a<br />
satisfação do motorista: eles dependem<br />
da experiência, bem como onde, como<br />
e por quanto tempo os motoristas trabalham.<br />
De acordo com Delphine Maury,<br />
algumas recomendações gerais podem<br />
ser elaboradas.<br />
1. Comunicação e proatividade. O<br />
diálogo e as interações com os seus<br />
motoristas são o aspecto mais importante.<br />
“Os motoristas muitas vezes ficam<br />
felizes por dar feedback e contribuir<br />
para um melhor desempenho. Prestar<br />
atenção ao feedback do motorista é<br />
essencial, para sentir que ele está a ser<br />
entendido. Principalmente em relação<br />
aos tipos de dificuldades e desafios<br />
que enfrentam durante a jornada de<br />
trabalho.”<br />
2. Escolha e características do camião.<br />
Conselhos e recomendações dos<br />
motoristas em relação aos requisitos de<br />
recursos do camião e às escolhas gerais<br />
de fabrico são cruciais. Preste atenção<br />
no que pode estar faltando e dê sugestões<br />
construtivas sobre quando e por<br />
que as sugestões do motorista podem<br />
ou não ser atendidas.<br />
3. Recompensas e incentivos. Os<br />
incentivos são fundamentais. Quando<br />
se trata de consumo de combustível<br />
ou bateria, por exemplo, a maioria das<br />
operadoras tem metas e ambições definidas.<br />
“Podemos ver uma falta geral de<br />
incentivos e feedback positivo. Os motoristas<br />
são mais criticados quando não<br />
conseguem atingir metas, mas menos<br />
se fala quando continuam a cumprir<br />
suas metas ou quando as superam”, diz<br />
Delphine.<br />
São muitas e ponderosas as razões para<br />
considerar as prioridades dos motoristas.<br />
A primeiro e mais importante é a<br />
própria falta de motoristas e a crescente<br />
escassez. Ignorar as prioridades e os<br />
pontos problemáticos daqueles não significa<br />
apenas pressão sobre os mesmos,<br />
mas também pode significar recusar<br />
clientes em potencial. Pode criar dificuldades<br />
para o planeamento e, em última<br />
análise, levar a perdas de negócio.<br />
De acordo com Delphine Maury, existem<br />
vários outros incentivos que ajudarão<br />
a manter os melhores motoristas.<br />
Reter aqueles que continuam a entregar,<br />
fazer um esforço e ser uma opção confiável<br />
e segura para seus clientes. Certas<br />
viagens são mais exigentes do que outras<br />
e os clientes podem preferir alguns<br />
motoristas em detrimento de outros.<br />
Os novos motoristas estavam preocupados em<br />
encontrar um emprego, mas também ao serem<br />
contratados sentiam que não estavam bem<br />
equipados para lidar com as exigências da<br />
profissão assim que recém-saídos da formação<br />
60 e-MOBILIDADE
A ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA<br />
ANTRAM preconiza alteração do quadro legal<br />
A resolução do problema da carência de<br />
mão-de-obra, ainda que urgente, não<br />
tem solução à vista. E não afeta, unicamente,<br />
o setor do transporte de mercadorias,<br />
mas também o de passageiros, o<br />
que pressupõe maiores dificuldades na<br />
mobilidade dos cidadãos, pois também<br />
há sérias implicações no serviço público.<br />
Apenas como exemplo, há bastante<br />
tempo que a Carris, empresa municipal<br />
que realiza aquele serviço de passageiros<br />
em Lisboa, mantém anúncios para contratação<br />
de motoristas. Daí que o apelo<br />
continue ativo na sua página institucional<br />
na Internet.<br />
Com implicações em boa parte das<br />
atividades económicas, a movimentação<br />
de mercadorias há muito que preocupa<br />
a Associação Nacional de Transportadores<br />
Públicos Rodoviários de<br />
Mercadorias (ANTRAM). Questionada<br />
pela <strong>eMOBILIDADE+</strong>, a direção deste<br />
organismo associativo diz que tem feito<br />
diligências no sentido de desbloquear o<br />
problema, preconizando a alteração do<br />
quadro legal, nomeadamente no acesso<br />
à profissão, e também por cidadãos não<br />
portugueses.<br />
Em síntese, a direção da ANTRAM<br />
socorre-se do mais recente relatório da<br />
IRU para sublinhar que, “caso não sejam<br />
tomadas medidas para tornar a profissão<br />
de motorista mais acessível e atraente,<br />
a Europa pode vir a carecer de mais de<br />
dois milhões de motoristas até 2026.”<br />
Num depoimento longo, que aqui<br />
transcrevemos, a ANTRAM sublinha<br />
que “apesar de os salários dos motoristas<br />
serem até cinco vezes superiores aos<br />
salários mínimos médios, o relatório<br />
aponta dados alarmantes sobre as dificuldades<br />
de acesso à profissão de motorista,<br />
principalmente para os jovens, e<br />
sua atratividade, especialmente para as<br />
mulheres. Importa, por isso, encontrar<br />
formas de captar novos profissionais<br />
para o setor, alterando o quadro legal de<br />
acesso e procurando diminuir os custos<br />
a ele subjacentes, seja por forma de<br />
incentivos ou outros.”<br />
MERCADO INTERNACIONAL<br />
Na mesma nota dirigida à eMOBILI-<br />
DADE+, a direção da associação de<br />
transportadores salienta que há formas<br />
de contornar a questão:<br />
“Uma forma de financiamento possível<br />
poderia passar por contemplar a possibilidade<br />
das empresas de transportes<br />
rodoviários de mercadorias por conta<br />
de outrem poderem deduzir parte das<br />
despesas suportadas com a obtenção da<br />
carta de condução e do CAM.<br />
Por outro lado, o recurso ao mercado<br />
internacional – nomeadamente através<br />
da celebração de acordos bilaterais com<br />
outros países, facilitando o intercâmbio<br />
de motoristas - não pode ser descurado.<br />
Importantes avanços foram já dados em<br />
2022 com a publicação do DL 46/2022,<br />
de 12 de julho, que veio proceder ao<br />
reconhecimento das cartas de condução<br />
dos cidadãos da CPLP e OCDE, que<br />
assim deixam de ter de fazer exames<br />
teóricos e práticos.<br />
Acresce que, sabemos que está em curso<br />
uma alteração legislativa que permitirá<br />
aos candidatos a motoristas de países<br />
terceiros, obterem o CAM inicial, em<br />
simultâneo com a carta de pesados.”<br />
UMA QUESTÃO DE LINGUAGEM<br />
“Também nesta senda, a ANTRAM tem<br />
vindo a insistir com o IMT de forma<br />
a possibilitar a realização dos exames<br />
de CAM em outras línguas (já identificámos<br />
seis) e que o CAM inicial seja<br />
ministrado online.<br />
A previsão de um regime de equivalência<br />
no âmbito dos CAM, relativamente<br />
a cursos semelhantes, que os motoristas<br />
tirem em países fora da União Europeia,<br />
seria também desejável.<br />
Paralelamente, gostaríamos de equacionar<br />
a criação de uma task force com<br />
o IMT no sentido de ser criada uma<br />
delegação conjunta em determinados<br />
países dos PALOP de forma a serem<br />
estabelecidas condições para que estes<br />
cidadãos, caso pretendam, possam ter<br />
acesso às ferramentas legais (designadamente<br />
a frequência do CAM) para<br />
puderem ingressar na profissão e aceder<br />
ao mercado nacional de trabalho. No<br />
caso da IRU, esta irá procurar coordenar<br />
e garantir a implementação da atratividade<br />
da profissão.”<br />
No que se refere a ações, diz a ANTRAM<br />
que o foco está “em responder à falta de<br />
mão-de-obra jovem no sector através de<br />
várias ações conjuntas, nomeadamente,<br />
a redução do idade mínima no acesso à<br />
profissão, a promoção da atratividade -<br />
incluindo aqui o regime das operações<br />
de cargas e descargas o que permitirá<br />
melhorar as condições de trabalho e o<br />
desenvolvimento de competências dos<br />
motoristas.<br />
Por outro lado está o financiamento,<br />
para que se consigam criar mais parques<br />
seguros na União Europeia, uma medida<br />
essencial para atrair mulheres para<br />
esta profissão.”<br />
Aceda aqui com<br />
o seu smartphone<br />
ao relatório<br />
da IRU: Falta<br />
de Motoristas –<br />
relatório global<br />
2022<br />
e-MOBILIDADE 61
62 e-MOBILIDADE
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA<br />
DAF anuncia<br />
nova geração XB<br />
para distribuição<br />
urbana<br />
Os sistemas de transmissão elétricos topo de gama demonstram os<br />
cuidados ambientais da DAF com os camiões XB da nova geração,<br />
uma série completa de veículos de distribuição na classe de 7,5 a<br />
19 toneladas, uma abrangente gama de veículos elétricos a bateria<br />
para apoiar as empresas de transporte na sua transição para zero<br />
emissões, combinando a menor pegada ambiental com eficiência,<br />
segurança e conforto líderes na sua classe.<br />
A<br />
nova série XB da DAF, que<br />
entrará em produção no<br />
quarto trimestre de 2023,<br />
representa uma nova série<br />
de camiões de distribuição<br />
líderes na sua classe, disponibilizando<br />
uma solução personalizada para todas<br />
as aplicações urbanas e regionais. A<br />
gama inclui grupos motopropulsores<br />
elétricos ultramodernos sem emissões.<br />
Para além dos novos padrões de eficiência,<br />
segurança e conforto para o condutor,<br />
a série XB da DAF está preparada<br />
para cidades habitáveis.<br />
Com a sua série completa de camiões<br />
da nova geração XD, XF, XG e XG+ para<br />
distribuição, longo curso e aplicações<br />
profissionais, a DAF estabeleceu novos<br />
padrões de eficiência e emissões, segurança<br />
e conforto para o condutor, nos<br />
últimos 18 meses. A nova geração XB,<br />
incluindo o camião de construção XBC,<br />
completa a extensa e múltipla gama de<br />
produtos premiados da DAF.<br />
DISTRIBUIÇÃO URBANA<br />
A DAF foi o primeiro fabricante europeu<br />
de camiões a disponibilizar uma<br />
gama de camiões elétricos a bateria no<br />
mercado e a expandir ainda mais a sua<br />
liderança ambiental com os modelos XD<br />
e XF Electric da nova geração.<br />
Agora, a DAF aumenta ainda mais a<br />
sua oferta de produtos “zero emissões”<br />
com o novo DAF XB Electric, perfeitamente<br />
adequado para uma distribuição<br />
urbana e regional sustentável. Para além<br />
das versões de 16 e 19 toneladas, está<br />
disponível uma versão de 12 toneladas<br />
com jantes de 17,5” e apenas um<br />
degrau de entrada. As distâncias entre<br />
eixos começam a partir de 4,2 metros.<br />
e-MOBILIDADE 63
PESADOS<br />
Transição energética<br />
O novo camião de<br />
distribuição XB da DAF<br />
está disponível com um<br />
conjunto de sistemas de<br />
assistência avançada ao<br />
condutor para segurança<br />
e conforto do condutor<br />
líderes na sua classe<br />
O motor elétrico do XB Electric proporciona<br />
120 ou 190 kW de potência<br />
nominal, dependendo da especificação,<br />
e um binário nominal de 950 e 1850<br />
Nm, respetivamente (pico de 2600 e<br />
3500 Nm). Para obter o menor impacto<br />
ambiental possível e a mais elevada<br />
durabilidade, a DAF aplica baterias de<br />
alta densidade de LFP (fosfato de ferro<br />
de lítio) isentas de cobalto e magnésio,<br />
com um teor de energia bruto de 141 a<br />
282 kWh. Estas permitem autonomias<br />
do XB Electric superiores a 280 quilómetros<br />
ultrassilenciosos e sem emissões,<br />
mais do que o suficiente para as necessidades<br />
dos operadores de transporte de<br />
distribuição urbana.<br />
CARREGAMENTO RÁPIDO E LENTO<br />
Uma característica especial do novo<br />
DAF XB Electric é o “sistema de carregamento<br />
combinado”. Isto permite<br />
que o camião seja carregado através da<br />
rede elétrica normal e é ideal quando o<br />
camião regressa à localização central no<br />
final do dia. O carregamento rápido das<br />
baterias (650 V CC, 150 kW) de 20% a<br />
80% demora apenas 40 a 70 minutos,<br />
dependendo da especificação.<br />
Para apoiar de forma ideal os clientes<br />
na transição para o transporte rodoviário<br />
sem emissões, a oferta abrangente<br />
da DAF também inclui uma vasta gama<br />
de soluções de carregamento, conselhos<br />
sobre o planeamento de rotas e<br />
carregamento e a disponibilização de<br />
formação dedicada para que os condutores<br />
possam tirar o máximo partido<br />
dos seus veículos.<br />
MOTORES ALTAMENTE EFICIENTES<br />
Para além do inovador grupo motopropulsor<br />
totalmente elétrico a bateria,<br />
o novo DAF XB está disponível com<br />
motores PACCAR PX-5 de 4,5 litros<br />
e 4 cilindros e PACCAR PX-7 de 6,7<br />
litros e 6 cilindros com potências de<br />
124 kW (170 hp) a 227 kW (310<br />
hp). Os motores modernos e potentes<br />
desenvolvem um binário máximo a<br />
baixas velocidades do motor, suportando<br />
desaceleração e uma eficiência<br />
de combustível líder na sua classe.<br />
Os motores PACCAR PX-5 e PX-7 estão<br />
prontos para a aplicação de HVO, reduzindo<br />
as emissões de CO2 em até 90%<br />
(em todo o ciclo de vida).<br />
Caixas de velocidades automáticas<br />
Powerline O DAF XB com motores<br />
PX-5 e PX-7 é disponibilizado em<br />
combinação com uma transmissão<br />
PowerLine de 8 velocidades totalmente<br />
automática, que proporciona uma<br />
distribuição e mudança de velocidades<br />
ideais. A mudança de velocidades com<br />
PowerShift sem qualquer interrupção<br />
do binário permite obter uma mudança<br />
de velocidades suave e uma resposta<br />
rápida do acelerador, resultando num<br />
excelente conforto e manobrabilidade.<br />
Além disso, a transmissão proporciona<br />
uma excelente dirigibilidade a baixa<br />
velocidade graças à função de impulso<br />
ao libertar o pedal do travão.<br />
As transmissões manuais de 6 e 9<br />
velocidades também estão disponíveis<br />
para a série XB da DAF, enquanto as<br />
caixas de velocidades Allison totalmente<br />
automáticas podem ser encomendadas<br />
para aplicações especiais.<br />
COMPATIBILIDADE<br />
COM CARROÇARIAS<br />
A melhor eficiência do veículo da sua<br />
classe também é conseguida através da<br />
vasta gama de distâncias entre eixos (até<br />
6,9 metros) e comprimentos do chassis,<br />
permitindo superestruturas superiores a<br />
9 metros. Isto garante a melhor configuração<br />
do veículo para o trabalho. As taras<br />
baixas resultam em cargas úteis mais<br />
elevadas para um retorno ideal por quilómetro.<br />
Além disso, o chassis da série<br />
XB apresenta um novo padrão de grelha<br />
para uma excelente compatibilidade<br />
64 e-MOBILIDADE
com os construtores de carroçarias. As<br />
novas disposições predefinidas do chassis<br />
incluem depósitos de combustível,<br />
sistemas de escape, baterias e depósitos<br />
de ar reposicionados, especialmente<br />
concebidos para veículos para varrimento<br />
de ruas e camiões basculantes.<br />
MOTORIZAÇÕES<br />
PACCAR PX-5<br />
• 124 kW (170 hp) 700 Nm a 1100/1700 rpm<br />
• 139 kW (190 hp) 750 Nm a 1200/1700 rpm<br />
• 153 kW (210 hp) 800 Nm a 1300/1700 rpm<br />
PACCAR PX-7<br />
• 167 kW (230 hp) 900 Nm a 900/1800 rpm<br />
• 189 kW (260 hp) 1000 Nm a 1000/1700 rpm<br />
• 212 kW (290 hp) 1100 Nm a 1100/1600 rpm<br />
• 227 kW (310 hp) 1200 Nm a 1200/1500 rpm<br />
NOVO PADRÃO DE SEGURANÇA<br />
O novo camião de distribuição XB da<br />
DAF está disponível com um conjunto<br />
de sistemas de assistência avançada ao<br />
condutor para segurança e conforto do<br />
condutor líderes na sua classe.<br />
O sistema AEBS (Advanced Emergency<br />
Braking System) está<br />
equipado com um radar<br />
e uma câmara, alertando<br />
os utentes vulneráveis<br />
da estrada à frente<br />
do veículo (Drive-off<br />
Assist). O Event Data<br />
Recorder regista imagens<br />
e dados quando<br />
o aviso do travão do<br />
ABS é ativado e o DAF<br />
Turn Assist emite um<br />
aviso caso os ciclistas se<br />
encontrem nos ângulos<br />
mortos do veículo. O<br />
DAF Drowsiness Detection<br />
avalia o estado de<br />
alerta do condutor e avisa-o quando é<br />
necessária uma pausa.<br />
Além disso, cada XB está equipado<br />
com Speed Limit Recognition que<br />
informa o condutor sobre os limites<br />
de velocidade reais, enquanto o Lane<br />
Change Assist passivo ajuda a evitar<br />
manobras perigosas, alertando para potenciais<br />
mudanças de faixa indesejadas.<br />
A excelente visão direta é conseguida<br />
através do posicionamento baixo da cabina,<br />
do para-brisas de grandes dimensões<br />
e das janelas laterais e respetivas<br />
linhas de cintura baixas. Como opção,<br />
está disponível uma janela de visão do<br />
lancil para uma vista desobstruída de<br />
outros utentes da estrada do lado do<br />
acompanhante. O design estreito dos<br />
novos espelhos permite a combinação<br />
perfeita de visão direta e indireta.<br />
MAIS CONFORTO<br />
Com o XB, a DAF comprova mais uma<br />
vez a sua excelente reputação no fabrico<br />
de camiões que são também os favoritos<br />
do condutor. As confortáveis Day Cab,<br />
Day Cab alargada e Sleeper Cab têm<br />
degraus de entrada perfeitamente posicionados,<br />
portas de abertura ampla e<br />
uma posição baixa da cabina para uma<br />
acessibilidade excecional. Os bancos<br />
confortáveis contam com o mesmo forro<br />
em tecido suave que o dos camiões<br />
DAF XD, XF, XG e XG+ , com os quais<br />
o novo XB também partilha o elevado<br />
nível de ajuste e acabamento, o novo<br />
volante e o atrativo ecrã digital de 12<br />
polegadas no tablier. Apresenta todas as<br />
informações relacionadas com o veículo<br />
de imediato e é configurável de acordo<br />
com as preferências do condutor.<br />
Além disso, conduzir o novo XB é um<br />
prazer. Graças ao design espaçoso mas<br />
compacto da cabina, à capacidade de<br />
manobra única e ao círculo de viragem<br />
pequeno, a nova distribuição da DAF é<br />
extremamente ágil, o que é muito importante<br />
em zonas urbanas densas.<br />
XBC PARA A CONSTRUÇÃO<br />
Juntamente com a série XB para aplicações<br />
em estrada, a DAF está também a<br />
introduzir a série XBC, que se destaca<br />
face aos cenários mais exigentes, como<br />
por exemplo no segmento da construção.<br />
O XBC conta com um chassis de<br />
19 toneladas, uma elevada distância<br />
ao solo de 255 milímetros, um grande<br />
ângulo de aproximação de 25 graus,<br />
uma placa dianteira do radiador em<br />
aço para proteger o compartimento do<br />
motor e um robusto para-choques de<br />
aço cinzento “lava”.<br />
PRINCIPAIS<br />
CARACTERÍSTICAS<br />
• Novos padrões na distribuição<br />
urbana e regional Existe sempre<br />
uma solução personalizada na<br />
classe de 7,5 a 19 toneladas.<br />
• Menor pegada ambiental Zero<br />
emissões na distribuição urbana.<br />
• Versões de 12, 16 e 19 toneladas<br />
• Autonomias superiores a 280<br />
quilómetros<br />
• Carregamento da bateria de 20 a<br />
80% em apenas 40 a 70 minutos<br />
• Suporte de vendas dedicado,<br />
aconselhamento de planeamento,<br />
formação e carregadores<br />
PACCAR<br />
• Motores PACCAR PX-5 e PX-7<br />
potentes e eficientes 124 kW<br />
(170 hp) a 227 kW (310 hp).<br />
• Binário máximo a baixas velocidades<br />
do motor para desaceleração<br />
e eficiência de combustível<br />
líder na sua classe<br />
• Transmissão PowerLine de 8 velocidades<br />
totalmente automática<br />
• Pronto para HVO Até 90% de<br />
redução de CO2 em todo o ciclo<br />
de vida<br />
• Novo padrão de segurança<br />
Conjunto completo de sistemas<br />
ADAS; Excelente visão direta<br />
• Novo padrão de conforto para<br />
o condutor Day Cab, Day Cab<br />
alargada e Sleeper Cab de alta<br />
qualidade; Excelente acessibilidade;<br />
Novo ecrã digital personalizável;<br />
Manobrabilidade líder na<br />
sua classe<br />
• Novo DAF XBC para aplicações<br />
de construção Distância em relação<br />
ao solo de 255 milímetros;<br />
Excelente ângulo de aproximação<br />
de 15 graus<br />
e-MOBILIDADE 65
FORD E-TRUCK JÁ ESTÁ EM PORTUGAL<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
ACELERADO<br />
66 e-MOBILIDADE
Reduzir as emissões de CO 2<br />
, poupar combustível, desenvolver<br />
tecnologias de combustíveis alternativos, atingir 2040 com<br />
os seus veículos descarbonizados, eis os desafios que há pela<br />
frente. As Ford Talks fizeram-lo saber, em Lisboa, no início<br />
de setembro, onde se contava mostrar o protótipo final do<br />
seu primeiro pesado elétrico, o E-Truck, algo que a burocracia<br />
alfandegária travou. Mas já pode ser visto no seu showroom de<br />
Alverca. A produção em série começa em 2024.<br />
Por Carlos Branco<br />
A<br />
revelação da novidade<br />
elétrica da Ford, o E-Truck,<br />
foi feita há um ano, no<br />
IAA dos Transportes, em<br />
Hannover, Alemanha. Era<br />
o que momento que faltava à companhia<br />
norte-americana, que já avançara com<br />
a descarbonização de alguns ligeiros de<br />
passageiros e comerciais. Destes, o mais<br />
recente é a Transit, e segue-se a Custom.<br />
Entre os pesados, o gigante F-Max, vencedor<br />
do galardão Camião Internacional<br />
do Ano em 2019, irá conhecer uma nova<br />
caixa de velocidades com 16 relações, que<br />
substituirá a atual ZF, com 12 marchas.<br />
Tudo o resto são tecnologias que estão<br />
em desenvolvimento pelos turcos da<br />
Otosan, em parcerias, sejam com a LG,<br />
com quem vai construir uma fábrica<br />
de baterias em Ancara, sejam a Einride,<br />
para a condução autónoma, ou a<br />
CMB.Tech, que prepara soluções com<br />
combustíveis alternativos. E é mesmo<br />
no grande empório fabril da Otosan,<br />
e-MOBILIDADE 67
PESADOS<br />
Transição energética<br />
também o maior hub comercial da marca<br />
para a Europa, onde já se produzem<br />
750 mil veículos pos ano (Ecosport,<br />
Puma, Courier, Custom, Transit, F-Max,<br />
e de onde sairá o E-Truck), que se está a<br />
preparar este futuro.<br />
1200 CARROS NA ESTRADA<br />
Bruno Oliveira, CEO da OneShop,<br />
desde 2019 importador e distribuidor<br />
da Ford Trucks para Portugual, organizou<br />
as Ford Talks e convidou alguns<br />
dos quadros líderes da Otosan para dar<br />
a conhecer este universo industrial, com<br />
sete fábricas, na Turquia, e mais recentemente<br />
na Roménia, e que está a crescer<br />
de forma acelerada. A Ford Trucks Portugal<br />
já está no top-3 de vendas de pesados<br />
no país (dados da ACAP) e Bruno<br />
Oliveira fala em novo crescimento: em<br />
faturação e no número de unidades vendidas.<br />
“Atualmente – sendo que apenas<br />
desde 2019 – temos nas nossas estradas<br />
1200 camiões e contamos fechar o ano<br />
com mais 400 unidades comercializadas.<br />
Tem-nos dado muito orgulho, mas<br />
temos trabalhado para isso, em regime<br />
de 24/7, e acabámos de abrir a sétima<br />
concessão no país, em Braga, onde também<br />
vamos aumentar consideravelmente<br />
o armazém de reposição de peças,<br />
para que os nossos clientes não corram<br />
o risco de ter camiões parados.”<br />
E-TRUCK: PARA PEQUENOS CIRCUITOS URBANOS<br />
O E-Truck iniciará produção em série em 2024 e até lá andará em testes. Apesar<br />
de alguns segredos que ainda subsistem, já se sabe que a prioridade da marca<br />
vai para o segmento baixo, de 18 a 26 toneladas e para a distribuição em pequenos<br />
circuitos e urbanos.<br />
Com uma autonomia próxima dos 300 km, as baterias têm 392 kWh de capacidade.<br />
Com carregador rápido ficarão reabastecidas em 75 minutos. Algumas das<br />
características principais de segurança tratam de reconhecer o atravessamento<br />
de peões que não estejam na linha de olhar do condutor, atuando com travagem<br />
de emergência, tal como também compreende um sistema de aviso de ângulos<br />
mortos. Os responsáveis turcos e português reconhecem que as infraestruturas<br />
necessárias para os carregamentos ainda são escassas. E advertem: a Europa<br />
tem que acordar para esta necessidade, que é urgente.<br />
COMPROMETIMENTO AMBIENTAL<br />
Koray Kuvvet, diretor geral da Ford<br />
Trucks para a Europa, esclareceu que<br />
a organização que dirige está comprometida<br />
com o melhor desempenho<br />
ambiental, sejam os objetivos, rígidos,<br />
ou as datas, precisas, para a descarbonização,<br />
e que até 2030 tudo será<br />
feito para a redução do consumo de<br />
combustível e, consequentemente, para<br />
a redução das emissões nocivas. E em<br />
2040, o “zero”. Diz ser o futuro que está<br />
em curso. E como desenvolvimentos<br />
de produto aponta a “Geração F”, que<br />
mais não é senão a visão da marca para<br />
os veículos elétricos, que serão totalmente<br />
ligados, de forma a poderem ser<br />
controlados remotamente, se necessário,<br />
quando o motorista não o consiga fazer.<br />
Os programas “Highway Pilot” (piloto<br />
de auto-estrada, tecnologia de condução<br />
autónoma) e “Reverse Parking” (estacionamento<br />
de marcha-atrás, quando o<br />
motorista sente dificuldade em fazê-lo,<br />
e sem a sua intervenção) são disso<br />
exemplo.<br />
Também o “Ford Trucks Care”, basicamente,<br />
o recurso a software, como<br />
o programa “Connectruck”, que torna<br />
possível a intervenção remota nos<br />
parâmetros do veículo, e que permite<br />
ao gestor de frotas intervir em sete<br />
funções, como visualizar o tacógrafo,<br />
os consumos, ou ativar o modo de<br />
condução eco. Reduzir o consumo é<br />
o denominador comum a todos eles. E<br />
segundo os estudos da Ford, 10% é o<br />
que se poderá conseguir com a conjugação<br />
destas medidas. “A Ford Portugal<br />
tem uma academia de condução, uma<br />
formação para alertar e ajudar o motorista<br />
a conseguir ganhos de combustível.<br />
É didática e proativa”, acrescentou<br />
Bruno Oliveira.<br />
“Platooning” - literalmente, seguir o<br />
camião líder, é o que aí vem. Pressupõe<br />
e redução da resistência ao ar, o que<br />
melhora o consumo. Em comboio,<br />
com velocidades adaptadas ao veículo<br />
da frente. Ao fim e ao cabo, um cruise<br />
control adaptativo e ligado, que melhora<br />
o consumo e reduz as emissões de<br />
CO 2<br />
. Requer, necessariamente, alterações<br />
à lei da estrada.<br />
COMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS<br />
O HBO (biocombustível, pela mistura<br />
de hidrogénio com óleos vegetais) está<br />
em testes pela Ford Trucks, inclusivamente<br />
com a participação da OneShop,<br />
mas também o Dual Fuel (hidrogénio<br />
misturado com gasóleo), que a CMB.<br />
Tech desenvolve para conversão futura<br />
do F.Max, são combustíveis alternativos<br />
que a caminho da descarbonização<br />
total deverão ser utilizados. O futuro<br />
é mesmo a célula de combustível a<br />
hidrogénio. Segundo a Ford Trucks, “estamos<br />
a aprender, e está a chegar a hora<br />
de tomar decisões”. Segundo Burak<br />
Hosgoren, diretor de vendas da Otosan,<br />
a futura norma Euro7 de emissões fará<br />
aumentar os custos dos veículos quatro<br />
a dez vezes mais do que a estimativa<br />
feita pela UE, pelo que até 2030 a Ford<br />
Trucks irá explorar as tecnologias BEV,<br />
da célula de combustível e o hidrogénio<br />
como fonte para motores de combustão<br />
interna.<br />
68 e-MOBILIDADE
O sol também os faz mover<br />
Scania testa<br />
híbrido pesado<br />
em vias públicas
Fonte de energia natural e inesgotável, o sol já fornece eletricidade<br />
às nossas casas, fábricas e escritórios, também a embarcações, mais<br />
ou menos ligeiras, de transporte de passageiros, e eis que chega ao<br />
setor dos transportes rodoviários pesados. O que parecia impensável<br />
deixou de ser uma pesquisa e passou à fase de testes reais. A Scania<br />
está a levar o engenho mais longe.<br />
Um camião híbrido, totalmente<br />
exclusivo da marca<br />
sueca, com um semirreboque<br />
coberto por painel<br />
solar está sendo testado<br />
em vias públicas, como resultado de uma<br />
colaboração de pesquisa iniciada há dois<br />
anos e que envolve a Scania, a Universidade<br />
de Uppsala, Eksjö Maskin & Truck,<br />
Midsummer, Ernsts Express e Dalakraft.<br />
A razão é simples: transição energética -<br />
PAINÉIS DE PESO “PLUMA”<br />
O pesado do projeto de pesquisa serviu<br />
para examinar a energia solar gerada,<br />
e o quanto as emissões de carbono<br />
diminuem por meio dos painéis solares.<br />
Os pesquisadores desenvolveram<br />
painéis fotovoltaicos novos, eficientes<br />
e particularmente leves para camiões.<br />
Estudaram como os camiões poderão<br />
interagir com a rede elétrica e apresentaram<br />
novos modelos para o que<br />
acontecerá se vários camiões semelhanporque<br />
a energia solar diminui significativamente<br />
os custos operacionais e<br />
as emissões locais por causa da energia<br />
autoproduzida pelo camião.<br />
“O propósito da Scania é impulsionar a<br />
mudança para um sistema de transporte<br />
sustentável. Nunca antes os painéis<br />
solares foram usados para gerar energia<br />
para o trem de força de um camião<br />
como fazemos nesta colaboração. Esta<br />
fonte natural [o sol] pode diminuir<br />
significativamente as emissões no setor<br />
dos transportes. E é ótimo estar na<br />
vanguarda no desenvolvimento dos<br />
camiões da próxima geração”, diz Stas<br />
Krupenia, chefe do departamento de<br />
pesquisa da Scania.<br />
e-MOBILIDADE 71
PESADOS<br />
Transição energética<br />
INCENTIVO<br />
O camião movido a energia<br />
solar foi desenvolvido através<br />
de projeto de pesquisa<br />
financiado pela agência<br />
governamental sueca de<br />
inovação Vinnova<br />
tes forem ligados à rede elétrica.<br />
“É um projeto empolgante, onde a<br />
academia e a indústria juntas tentam<br />
diminuir o impacto climático do transporte<br />
pesado. E os resultados são muito<br />
interessantes”, diz Erik Johansson, gestor<br />
do projeto e professor de físico-química<br />
da Universidade de Uppsala.<br />
5000 KM DE AUTONOMIA ANUAL<br />
O conjunto de teste, de 18 metros, é<br />
quase totalmente coberto por painéis<br />
solares, o equivalente a uma casa equipada<br />
com painéis igualmente potentes.<br />
Energia que dá ao camião híbrido uma<br />
autonomia prolongada de até 5000 km<br />
anualmente na Suécia. Evidentemente<br />
que, quando o sol brilha. Em países do<br />
sul da Europa, com mais horas de sol,<br />
o veículo pode dobrar a quantidade de<br />
energia solar captada e, portanto, autonomia<br />
aumentada em comparação com<br />
as circunstâncias climatéricas suecas.<br />
O projeto também inclui pesquisas sobre<br />
novas células solares em tandem leves,<br />
que são baseadas numa combinação de<br />
células de captação solar (da empresa<br />
Midsummer) e novas células solares de<br />
perovskita, bem mais eficientes que as<br />
de silício. Estes permitem uma maior eficiência<br />
na transformação da luz solar em<br />
eletricidade. Tal solução poderia dobrar a<br />
geração de energia solar, em comparação<br />
com a energia atual gerada pelos painéis.<br />
Em países do sul da<br />
Europa, com mais horas<br />
de sol, o veículo pode<br />
dobrar a quantidade de<br />
energia solar captada<br />
“A nossa pesquisa em direção a células<br />
solares eficientes e leves será realmente<br />
importante, especialmente quando se<br />
trata de aplicá-las em camiões futuros”,<br />
comenta Johansson.<br />
“Os nossos painéis solares são excelentes<br />
para aplicações que tornam os<br />
veículos comerciais sustentáveis. Vemos<br />
um grande potencial para diminuir as<br />
emissões dos veículos pesados com a<br />
eletrificação.É que a eletricidade gerada<br />
por painéis solares economizará combustível<br />
e emissões de carbono, pelo<br />
que queremos ser um parceiro com o<br />
qual contar, e isso é possibilitado por<br />
este projeto inovador”, diz Erik Olsson,<br />
diretor de desenvolvimento corporativo<br />
da Midsummer.<br />
Daniel Sandh, CEO da Eksjö Maskin e<br />
da Truck, concorda: “O combustível é<br />
atualmente um custo crescente para as<br />
empresas de transporte, e tudo com o<br />
que pudermos contribuir para reduzir<br />
esse custo beneficiará a sociedade a<br />
longo prazo.”<br />
O conjunto de teste,<br />
de 18 metros, é quase<br />
totalmente coberto<br />
por painéis solares, o<br />
equivalente a uma casa<br />
equipada com painéis<br />
igualmente potentes<br />
VENDER ENERGIA À REDE?<br />
Uma parte do projeto era avaliar o impacto<br />
que terá na rede elétrica e se seria<br />
possível vender o excedente. A possibilidade<br />
de cobrança bidirecional não é<br />
totalmente simples e a legislação ainda<br />
não é clara.<br />
“Pensamos que conseguiríamos comprar<br />
o excedente produzido pelos camiões,<br />
mas infelizmente isso não é possível<br />
no momento. Mas as células solares<br />
tornar-se-ão parte do fornecimento de<br />
energia do camião, e isso é fantástico.<br />
Como empresa de comercialização de<br />
eletricidade, vemos que todas as fontes<br />
de energia renováveis são necessárias<br />
para lidar com a transição energética”,<br />
diz Sverker Ericsson, engenheiro de<br />
comércio elétrico da Dalakraft.<br />
O caminhão está agora em testes nas<br />
72 e-MOBILIDADE
vias públicas e são realizados pela transportadora<br />
Ernsts Express AB. “Toda<br />
a indústria está enfrentando grandes<br />
desafios em geral, e com o combustível<br />
em particular. A eletrificação a partir<br />
de energias renováveis é o futuro. Isso<br />
torna este projeto ainda maior para a<br />
empresa de transporte verde, como a<br />
nossa, fazer parte”, diz Lars Evertsson,<br />
CEO da Ernsts Express.<br />
HÍBRIDO PLUG-IN DE 560CV<br />
O camião movido a energia solar foi<br />
desenvolvido através de projeto de<br />
pesquisa financiado pela agência governamental<br />
sueca de inovação Vinnova,<br />
para desenvolver camiões com baixo<br />
impacto climático graças à energia<br />
solar. O conjunto é um híbrido plug-in<br />
de 560 cavalos, um semirreboque de<br />
18 metros, com uma área de 100 m2<br />
coberta por painéis solares finos, leves e<br />
flexíveis com uma eficiência máxima de<br />
13,2 kWp (quilowatt pico). Estima-se<br />
que eles forneçam 8.000 quilowatts-hora<br />
(kWh) anualmente quando operados<br />
na Suécia. As baterias têm capacidade<br />
total de 300 kWh, sendo que 100 kWh<br />
são instalados no trator e 200 kWh no<br />
semirreboque.<br />
“UMA IDEIA ALGO LOUCA E SELVAGEM”<br />
Para Eric Falkgrim, líder do departamento de pesquisa e inovação tecnológica<br />
da Scania, esta é “uma ideia algo louca e selvagem”, mas queríamos mesmo ver<br />
como funciona e se faz sentido num ambiente como o da Suécia, porque se nos<br />
deslocarmos para o sul da Europa, a Austrália, ou o norte de África, obviamente<br />
que teremos muito mais horas de sol. Mas se funcionar aqui [na Suécia], com<br />
menos sol e onde anoitece mais cedo, então o projeto será mesmo válido para<br />
aplicar em qualquer lado.<br />
Mas há outras condicionantes, tais como a quantidade imensa de novo hardware<br />
e software e a sua sistematização e desenvolvimento, para fazer com que a transferência<br />
de energia seja totalmente segura e isenta de falhas. Falkgrim explica<br />
que o trator está equipado com todos os sistemas convencionais e o sistema<br />
motriz de 100 kWh de capacidade está ligado ao semirreboque com baterias<br />
adicionais, que têm armazenamento de energia de 200 kWh, e funcionam como<br />
um banco de energia para o camião, ligado à caixa do painel solar que carrega<br />
este acumulador de energia. Ora, também isto requer importantes considerações<br />
de segurança. “Teremos sempre que pensar que os painéis estão intalados numa<br />
estrutura móvel, num veículo, sendo que foram desenhados para permanecerem<br />
estacionários, no telhado de uma casa, durante 20 ou 30 anos”, comenta Eric<br />
Falkgrim.<br />
Considerações à parte, este técnico acaba por enfatizar o que parece ainda mais<br />
importante, isto é, o potencial benefício para a indústria energética, razão pela<br />
qual o projeto é apoiado pela companhia sueca de energia Dalakraft: “Vista à<br />
escala, esta solução poderá mudar todo um paradigma no que se refere à produção<br />
e consumo de eletricidade, pois ter milhares de veículos ligados à rede teria<br />
implicações na compra e venda de eletricidade para toda a gente.”
FORMAÇÃO DA MERCEDES-BENZ TRUCKS<br />
Aprender a travar<br />
em Nürburgring<br />
Travagem de emergência controlada, não há quem não a tenha já feito, e particularmente se se<br />
conduzir um veículo pesado e longo e com toneladas de mercadoria embarcada. Mas será que<br />
não houve receio em fazê-la? E terá sido bem feita? A Mercedes-Benz Trucks tem motoristas<br />
profissionais, experientes e especialmente formados para treinar quem ainda tenha dúvidas<br />
como o fazer. E num circuito automóvel exigente como o de Nürburgring.<br />
Schmitt-Peterslahr orienta<br />
35 motoristas num curso de<br />
formação de segurança de condução<br />
em Nürburgring com<br />
instrutores da Mercedes-Benz<br />
TruckTraining e do Centro de Segurança<br />
de Condução. Seis Mercedes-Benz<br />
Actros estão à disposição de formadores<br />
e formandos no local, seja no simples<br />
veículo trator, seja com semireboque. O<br />
treino é teórico e prático e está focado<br />
na Assistência à Travagem de Emergência,<br />
com o sistema Active Brake Assist<br />
5. Para tornar o exercício mais difícil,<br />
são realizadas manobras menos usuais e<br />
condução em superfícies desafiantes.<br />
O palco não poderia ser melhor, pois o<br />
circuito de Nürburgring não só oferece<br />
das mais excitantes corridas, local onde<br />
muitas marcas levam as suas máquinas<br />
ao extremo, como também é o lar de<br />
um centro de segurança de condução<br />
no qual a empresa de transporte<br />
Schmitt-Peterslahr realiza cursos de<br />
formação para os seus motoristas.<br />
Foi ali que 35 condutores aprofundaram<br />
os seus conhecimentos e competências<br />
em situações críticas de travagem e<br />
condução, juntamente com os técnicos<br />
da Mercedes-Benz TruckTrainers e<br />
instrutores do centro de segurança de<br />
condução. Para Patrick Kölbel, gerente<br />
de frota da Schmitt-Peterslahr, “é<br />
74 e-MOBILIDADE
importante que tenhamos uma apresentação<br />
direta do fabricante sobre o que<br />
o nosso camião pode fazer e os formadores<br />
treinadores da Mercedes-Benz<br />
são simplesmente um pouco melhores<br />
nestes assuntos.”<br />
Um destes técnicos, Steffen Martin,<br />
acrescenta: “Estamos satisfeitos em<br />
poder mostrar o que nosso sistema de<br />
travagem de emergência Active Brake<br />
Assist [ABA 5] de quinta geração pode<br />
fazer.” Se o sistema detetar o risco de<br />
um acidente com um veículo que segue<br />
à frente, um obstáculo parado ou uma<br />
pessoa atravessando a estrada, vinda<br />
Mercedes-Benz Trucks – por exemplo,<br />
sobre o controlo preditivo da motorização<br />
com o Predictive Powertrain<br />
Control -, com uma demonstração do<br />
desempenho do assistente de travagem<br />
de emergência ABA 5 em pista e treino<br />
de travagem para os participantes. Comenta<br />
Patrick Kölbel: “Chegar ao limite<br />
é extremamente importante. Muitos<br />
motoristas têm inibição de pisar totalmente<br />
no pedal do travão e fazer uma<br />
travagem de emergência em situações<br />
complicadas.”<br />
Outros exercícios práticos foram realizados<br />
em superfícies escorregadias e<br />
CONTROLO<br />
Estamos satisfeitos em<br />
poder mostrar o que nosso<br />
sistema de travagem de<br />
emergência Active Brake<br />
Assist [ABA 5] de quinta<br />
geração pode fazer<br />
A 5ª GERAÇÃO DO ABA<br />
Apresentado pela primeira vez em<br />
2006, passou a ser possível a um<br />
camião iniciar uma travagem máxima<br />
com imobilização total dentro<br />
dos limites do sistema ABA. Graças<br />
à combinação de um sistema de radar<br />
e câmara, um obstáculo na via,<br />
seja peão ou veículo, é emitido um<br />
primeiro sinal sonoro ao condutor.<br />
Se este não reagir adequadamente,<br />
o sistema, que já vai na 5ª geração,<br />
atuará com uma travagem parcial,<br />
e se a colisão persistir eminente,<br />
o ABA 5 poderá efetuar uma<br />
travagem a fundo se o veículo não<br />
se deslocar a mais de 50 km/h. O<br />
sucesso do dispositivo tem sido notório<br />
e até à data a Mercedes-Benz<br />
já equipou, pelo menos, 75% dos<br />
seus veículos construídos, o que já<br />
representa um milhão de unidades<br />
na estrada.<br />
no sentido oposto, ou a correr naquela<br />
mesma faixa de rodagem, o motorista<br />
é primeiro avisado. Se não reagir<br />
adequadamente, o sistema pode iniciar<br />
a travagem parcial. Se, no entanto,<br />
uma colisão for iminente, o ABA 5 da<br />
Mercedes-Benz Trucks pode realizar<br />
uma manobra de travagem de emergência<br />
automatizada – em pessoas em<br />
movimento isso aconteceria se o veículo<br />
circulasse à velocidade de 50 km/h. “Somente<br />
o nosso ABA 5 pode fazer isso”,<br />
explica Martin.<br />
RECEIO DE PISAR O TRAVÃO<br />
Aqueles participantes treinaram em<br />
cinco estações. A equipa de instrutores<br />
combinou uma apresentação sobre os<br />
sistemas de segurança e assistência da<br />
molhadas, que simulam bem o comportamento<br />
de condução em estradas<br />
escorregadias, ou mesmo sobre a neve.<br />
Muitos motoristas passaram mesmo por<br />
uma experiência de cortar a respiração:<br />
mesmo a uma velocidade de 10 km/h,<br />
alguns (poucos) graus de inclinação<br />
lateral do camião são suficientes para<br />
tornar a manutenção na faixa de rodagem<br />
um grande desafio.<br />
Em outra das estações de treino, o exercício<br />
focou-se em manobras, como por<br />
exemplo, em troço de estrada estreita e<br />
em situações de curva. “Há uma razão<br />
pela qual esse segundo foco ocupou<br />
grande parte do treino, pois 80% dos<br />
danos acontecem em áreas onde a condução<br />
é lenta”, diz Peter Schmitt, diretor<br />
administrativo da Schmitt-Peterslahr.<br />
e-MOBILIDADE 75
MAN LION’S CITY 10 E<br />
Nas Dolomitas com um autocarro elétrico<br />
NOTÁVEL!<br />
Do vale à montanha, entre a Áustria e a Itália, no Tirol do Sul, pelas montanhas Dolomitas,<br />
historicamente, dir-se-ia que o terror dos ciclistas do Giro, mas atualmente um petisco para um<br />
autocarro com tecnologia moderna e 100% elétrico. De dimensões médias e com um raio de viragem<br />
extremamente curto, o MAN Lion’s 10 E fez das curvas e da altitude um passeio, à média de 0,77 kWh<br />
por quilómetro, com uma taxa de recuperação de energia superior a 50%. Notável!<br />
Foi um teste de campo destinado<br />
a jornalistas, à partida difícil<br />
e exigente, do vale à montanha,<br />
ao volante do autocarro<br />
MAN Lion’s City 10 E pelas<br />
Dolomitas, no Tirol do Sul, região alpina<br />
entre as fronteiras da Áustria e Itália, até<br />
uma altitude máxima superior a 2000<br />
metros. Mas a versão curta do veículo que<br />
conquistou o galardão de Bus of the Year<br />
2023 superou-o com distinção.<br />
Com um raio de viragem recorde e<br />
dimensões compactas, o MAN Lion’s City<br />
10 E, totalmente elétrico, demonstrou que<br />
é a solução ideal para percursos exigentes,<br />
como atestam os resultados do teste de<br />
campo realizado em três dias, com uma<br />
distância de 531 km e um acumulado superior<br />
a mais de 10 mil metros de subidas<br />
exigentes. A média de consumo não passou<br />
dos 0,77 kWh por quilómetro, valor<br />
alcançado graças à tecnologia inovadora<br />
e a uma notável taxa de recuperação de<br />
mais de 50%.<br />
“Os nossos clientes estão entusiasmados<br />
com a fiabilidade e o conforto<br />
da família Lion’s City E. Queremos<br />
colocar ainda mais autocarros elétricos<br />
na estrada e, por sua vez, promover a<br />
mobilidade sustentável”, explica Robert<br />
Katzer, diretor de vendas e de produto<br />
da MAN Truck & Bus. “Com o teste<br />
de campo, o nosso autocarro elétrico<br />
mostra mais uma vez que já é possível<br />
viajar sem emissões. E pode fazê-lo em<br />
terrenos topograficamente exigentes,<br />
assim como nas rotas clássicas, muitas<br />
vezes planas, de transporte público”,<br />
reforçou Katzer.<br />
76 e-MOBILIDADE
RAIO DE VIRAGEM DE 17 METROS<br />
Com um comprimento de 10,5 metros,<br />
uma curta distância entre eixos de 4,4<br />
metros e um raio de viragem recorde de<br />
17,2 metros, o “midibus” parece feito<br />
para rodar nas estradas estreitas e sinuosas<br />
das montanhas Dolomitas. Equipado<br />
com cinco packs de baterias no teto,<br />
puxa incansavelmente e sussurra em silêncio,<br />
graças à entrega total e imediata<br />
do binário. Ao descer, muita energia flui<br />
de volta às baterias graças ao sistema<br />
de recuperação. Quando totalmente<br />
carregadas, 400 kWh de energia estão<br />
disponíveis. Com uma autonomia de até<br />
300 quilómetros, entrega uma potência<br />
máxima de 240 kW e um binário<br />
máximo de 2100 Nm. O e-bus pode<br />
acomodar 33 passageiros sentados, os<br />
demais em pé, até ao máximo de 80.<br />
O novo “midibus” é alimentado pelo<br />
mesmo motor central elétrico MAN que<br />
equipa os outros modelos Lion’s City E.<br />
PASSAGENS DIFÍCEIS<br />
Durante o teste de campo, o veículo<br />
aborda inúmeras curvas fechadas no<br />
Vale de Gardena, até ao Passo Gardena,<br />
no Passo Valparola, no pitoresco<br />
Meransen e, após um curto desvio<br />
sobre o Passo Brenner, de volta ao<br />
ponto de partida em Klausen. A manobrabilidade<br />
do MAN Lion’s City 10<br />
E deve-se não só à sua curta distância<br />
entre eixos e pequeno raio de viragem,<br />
mas também ao seu chassis sofisticado<br />
com suspensão independente e ângulo<br />
de direção de 56 graus. “A excelente<br />
configuração do chassis, o comportamento<br />
direto da direção, bem como<br />
a distância encurtada entre os eixos<br />
A recuperação em declive<br />
devolve às baterias<br />
grandes quantidades<br />
de energia. A subida<br />
do Gardena Pass (2.121<br />
metros) é particularmente<br />
sinuosa e, aqui, o<br />
“midibus” mostra todas<br />
as suas habilidades<br />
trazem grandes vantagens nesta rota. O<br />
autocarro é muito manobrável, e as três<br />
toneladas de baterias dificilmente são<br />
perceptíveis em situações de curva”,<br />
explica Heinrich Degenhart, da MAN<br />
ProfiDrive. E quando as coisas ficam<br />
particularmente apertadas e sinuosas,<br />
o pequeno e-bus elétrico é auxiliado<br />
por sistemas de segurança modernos,<br />
como ESP, assistente ativo de alerta de<br />
direção, faróis de LED brilhantes à luz<br />
do dia, ou o sistema opcional de substituição<br />
de espelhos MAN OptiView<br />
baseado em câmaras.<br />
REGENERAÇÃO DE ENERGIA<br />
A recuperação em declive devolve às baterias<br />
grandes quantidades de energia. A<br />
subida do Gardena Pass (2.121 metros)<br />
é particularmente sinuosa e, aqui, o<br />
“midibus” mostra todas as suas habilidades,<br />
assumindo cada gancho de estrada,<br />
por mais apertado que seja, sem<br />
esforço, pode mesmo admitir-se que,<br />
com facilidade. Na descida seguinte de<br />
9 km até Corvara, o autocarro recupera<br />
grandes quantidades de energia, a tal<br />
ponto que a sua bateria é quase recarregada<br />
– com valores de carregamento de<br />
pico de mais de 200 kW.<br />
Após três dias de testes e de um total<br />
de 531 km de condução com inúmeras<br />
curvas – sendo que o ponto mais baixo<br />
situa-se nos 523 metros (Klausen), e<br />
o mais alto nos 2.168 metros (Passo<br />
Valparola) –, quase não há diferença no<br />
consumo de energia nestas subidas e<br />
descidas, se comparadas com uma viagem<br />
clássica de ida e volta de transportes<br />
públicos em terreno plano: no final,<br />
a média foi de 0,77 kWh por quilómetro.<br />
“O nosso MAN Lion’s City 10 E é a<br />
solução perfeita para rotas estreitas e desafiantes,<br />
proporcionando conforto aos<br />
passageiros”, afirma Stephan Rudnitzky,<br />
gestor do MAN Lion’s City 10 E.<br />
EFICIENTE E CONFIÁVEL<br />
O MAN Lion’s City 10 E domina esta<br />
rota exigente, passando por cadeias de<br />
montanhas escarpadas e prados alpinos<br />
verdejantes, de forma confiável. E prova<br />
ser um membro de pleno direito da<br />
família – afinal, o seu irmão mais velho,<br />
o MAN Lion’s City 12 E, completou a<br />
rota de cerca de 2.500 km de Munique<br />
a Limerick, na Irlanda, como se estivesse<br />
sobre trilhos durante o “Electrifying<br />
Europe Tour 2022”, razão pela qual<br />
conquistou o troféu de Bus if the Year<br />
2023.<br />
e-MOBILIDADE 77
IVECO com S-Way<br />
em digressão a biogás<br />
VIAGEM DE DEZ DIAS POR QUATRO PAÍSES<br />
EM PARCERIA COM A SHELL BIOLNG<br />
A associação com a gasolineira pretende<br />
demonstrar a total viabilidade dos camiões<br />
movidos a biogás na descarbonização do<br />
transporte rodoviário de mercadorias.<br />
A<br />
IVECO, marca do Iveco Group , e a Shell vão<br />
iniciar a sua digressão “On the road to net-zero<br />
emissions”, dedicada ao biogás, uma viagem de<br />
longo curso de dez dias pela Europa a bordo de<br />
um camião IVECO S-Way movido a biogás. A<br />
viagem terá início no posto Shell de Mittenwalde, em Berlim,<br />
e fará paragens em cinco pontos de referência do ecossistema<br />
do biogás, numa rota que passará pela Alemanha, Países Baixos<br />
e Itália. O objetivo do IVECO S-Way é completar o percurso<br />
com emissões zero, proporcionando um desempenho<br />
eficiente. Cada etapa proporcionará a oportunidade de juntar<br />
os líderes da indústria e os utilizadores finais envolvidos na<br />
cadeia de valor - desde a produção à distribuição e utilização<br />
- para debater a utilização do bioLNG na descarbonização do<br />
transporte rodoviário.<br />
POTENCIAL PARA A DESCARBONIZAÇÃO<br />
O projeto conjunto irá mostrar como a cooperação estratégica<br />
e a liderança política estão a impulsionar a adoção do bioLNG<br />
no mercado europeu de frotas, com o objetivo de aumentar a<br />
sensibilização para o potencial de descarbonização do bioLNG<br />
no transporte de longo curso. De facto, transportando cerca<br />
de 73,1% de toda a carga movimentada por terra na UE, o<br />
setor dos transportes é atualmente responsável por cerca de<br />
9% do total das emissões de CO2 na UE.<br />
A IVECO é pioneira em motores de combustão interna para<br />
combustíveis alternativos há mais de duas décadas e, nos anos<br />
mais recentes, alargou o âmbito das suas atividades de desenvolvimento<br />
para incluir soluções eletrificadas.<br />
“Acreditamos que uma abordagem multienergias é a melhor<br />
solução para a propulsão do futuro e para enfrentar o desafio<br />
da descarbonização dos transportes”, comentou Giandomenico<br />
Fioretti, diretor de desenvolvimento de negócios de<br />
propulsão alternativa da IVECO. “O nosso objetivo é posicionar<br />
o bioLNG como uma fonte de energia em crescimento no<br />
mercado dos transportes. Juntos, contribuiremos para a transição<br />
do setor para um futuro com zero emissões de carbono”,<br />
afirmou Giandomenico.<br />
VEÍCULOS SILENCIOSOS<br />
Para além das missões de longo curso, o funcionamento silencioso<br />
dos motores dos camiões IVECO movidos a biogás,<br />
em comparação com os motores de combustão interna convencionais,<br />
torna estes veículos adequados para aplicações<br />
urbanas e entregas noturnas, aumentando simultaneamente<br />
o conforto do condutor. A compatibilidade do bioLNG<br />
com a infraestrutura de GNL existente, que conta com<br />
668 postos de abastecimento em toda a UE, torna-o num<br />
combustível pronto a utilizar para camiões movidos a GNL,<br />
sem necessidade de modificações no equipamento ou de<br />
novos investimentos. Dado que o mercado do bioLNG está<br />
em rápido desenvolvimento, a IVECO e a Shell apoiam-se na<br />
sua posição de liderança, na sua presença alargada e no seu<br />
know-how no setor para impulsionar o mercado do bioLNG<br />
para um maior crescimento.<br />
78 e-MOBILIDADE
Reconstrução é vital para uma<br />
economia circular e sustentável<br />
A<br />
ZF Aftermarket diz poupar mais de 32 mil toneladas<br />
de emissões de CO 2<br />
através da reconstrução<br />
de peças, em comparação com a produção de<br />
novos produtos por ano; os processos industriais<br />
garantem o padrão de qualidade do equipamento<br />
original para todos os produtos reconstruídos, eis duas das súmulas-chave<br />
a que a ZF Aftermarket deu ênfase numa teleconferência<br />
com jornalistas especializados nos mercados pós-venda.<br />
O processo da economia circular, a neutralidade carbónica<br />
para uma verdadeira sustentabilidade têm como denominador<br />
comum uma estratégia que aponta para 2040 como o ano de<br />
impacto neutro para o clima no seu processo empresarial da<br />
cadeia de fornecimento. A ZF Aftermarket, com cerca de 165 mil<br />
colaboradores em todo o mundo, realizou<br />
vendas de 43.8 mil milhões de euros no<br />
ano fiscal de 2022 e possui 168 locais de<br />
operação em 32 países.<br />
A recente introdução da norma “Design<br />
para a Sustentabilidade” significa que os<br />
novos produtos são concebidos para serem<br />
reconstruídos. Este processo, que envolve<br />
componentes usados, é uma parte essencial<br />
do seu percurso para se tornar uma empresa<br />
com impacto neutro no clima, pois reduz o<br />
ZF Aftermarket<br />
Emissões, acidentes e tempo de inatividade – a<br />
ZF Aftermarket quer tudo a zeros para promover<br />
a mobilidade futura. Ao estabelecer o objetivo<br />
de se tornar neutra para o clima até 2040, a<br />
reconstrução de produtos para pós-venda é parte<br />
do desígnio da marca, fornecedora de peças de<br />
substituição reconstruídas para automóvel, para<br />
quem a economia circular não é uma palavra vã.<br />
PEÇAS RECONSTRUÍDAS<br />
(QUE DIFERENÇAS?)<br />
• Têm a mesma geometria de uma<br />
peça nova<br />
• Todas as peças individuais estão<br />
limpas<br />
• Os componentes desgastados<br />
ou defeituosos (vedantes, fixadores,<br />
etc.) foram substituídos<br />
• Representam o estado mais recente<br />
da produção e do software<br />
• Foram completamente testadas<br />
consumo de energia, de matérias-primas e de recursos, reduzindo<br />
assim a pegada de CO 2<br />
quando comparado com a produção<br />
de novos produtos.<br />
“Com a reconstrução em série de peças usadas de veículos é<br />
possível poupar até 90% das matérias-primas utilizadas no<br />
fabrico de uma peça nova. E o utilizador pode ter confiança na<br />
qualidade e no desempenho do componente [seguindo diretrizes<br />
do equipamento original e com o mesmo período de garantia]”,<br />
explicou Tomasz Galazka, diretor de estratégia de reconstrução e<br />
desenvolvimento de negócio da ZF.<br />
20 INSTALAÇÕES PARA UMA SEGUNDA VIDA<br />
No total, a ZF oferece mais de 5.500 produtos diferentes (referências)<br />
que são reconstruídos em 20 instalações da ZF em<br />
todo o mundo - desde pinças de travão e sistemas de direção a<br />
transmissões automáticas. Uma vez que as peças usadas estão<br />
sujeitas a determinadas restrições de exportação e impwortação,<br />
é necessária uma capacidade de produção no maior número<br />
possível de regiões. Além disso, isso garante rotas de transporte<br />
mais curtas e, portanto, mais economia de CO 2<br />
.<br />
O objetivo da empresa é que, no futuro, o maior número possível<br />
de produtos da ZF tenha os requisitos técnicos na conceção para<br />
uma segunda vida. As formas como a ZF está a fazer isto incluem<br />
a utilização de materiais mais resistentes<br />
à corrosão e a utilização de tecnologias de<br />
ligação que permitem uma desmontagem<br />
sem danos. Desta forma, as peças de veículos<br />
que ainda não podem ser reconstruídas de<br />
forma económica ou viável também entrarão<br />
no ciclo de materiais.<br />
NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO<br />
Segundo Philippe Colpron, diretor da ZF<br />
Aftermarket, clientes e parceiros são encorajados<br />
a juntarem-se à empresa na construção<br />
de um futuro mais verde, “participando na<br />
cadeia de valor da reconstrução, pois para<br />
muitos clientes, a sustentabilidade está a tornar-se<br />
cada vez mais importante no que diz<br />
respeito à reparação de veículos. É por isso que as oficinas devem<br />
oferecer peças reconstruídas e devolver as peças antigas não<br />
danificadas para lhes dar uma segunda vida. Porque a verdadeira<br />
economia circular só será bem sucedida se todos trabalharmos<br />
em conjunto.”<br />
As peças reconstruídas recebem a mesma garantia que uma peça<br />
nova e 100 por cento de todas as unidades reconstruídas são<br />
testadas de acordo com os padrões do equipamento original.<br />
e-MOBILIDADE 79