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foco em leitura e escrita

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ESTRATÉGIAS DE UM PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA:<br />

Resumo<br />

FOCO EM LEITURA E ESCRITA<br />

BARCIK, Giselle Viviane<br />

gibarcik@sme.curitiba.pr.gov.br<br />

HECK, Beatriz Terezinha Muraski<br />

bheck@sme.curitiba.pr.gov.br<br />

SPADARI, Janete Roling<br />

jspadari@sme.curitiba.pr.gov.br<br />

Eixo T<strong>em</strong>ático: Formação de Professores e Profissionalização Docente<br />

Agência Financiadora: não contou com financiamento<br />

Este texto relata uma experiência de formação continuada na Educação Infantil, na área de<br />

formação humana Oralidade, Leitura e Escrita dos Centros Municipais de Educação Infantil<br />

do Núcleo Regional da Educação de Santa Felicidade. Observando as práticas de <strong>escrita</strong> e<br />

<strong>leitura</strong> no trabalho com as crianças, o desafio foi tornar a <strong>leitura</strong> e a <strong>escrita</strong> uma prática diária,<br />

com função comunicativa, de forma planejada e intencional, proporcionadas às crianças<br />

dentro de um contexto de ambiente letrado. Os encontros de formação no núcleo e de<br />

supervisão nas unidades diagnosticaram, efetivaram e aperfeiçoaram as práticas <strong>em</strong> relação a:<br />

compreensão dos conceitos de alfabetização e letramento na educação infantil; compreensão<br />

do processo de aquisição da <strong>escrita</strong> pela criança; diferença entre <strong>leitura</strong> e contação;<br />

comportamento leitor e escritor; trabalho acerca do nome próprio, incluindo jogos e diferentes<br />

maneiras de trabalho com os cartões de nome; produção de texto oral com destino escrito e os<br />

gêneros textuais. Os encontros de formação realizados no espaço do núcleo de educação<br />

estiveram s<strong>em</strong>pre atrelados às questões e estudos realizados <strong>em</strong> supervisão nas unidades. Para<br />

compreensão dos conceitos tratados, realizaram-se diferentes estratégias formativas: estudo de<br />

textos, homologia dos processos, ampliação cultural e t<strong>em</strong>atização de práticas. Como<br />

resultado, pôde-se observar: a utilização intencional dos cartões com os nomes das crianças, a<br />

inserção de jogos, a diferenciação entre <strong>leitura</strong> e contação no momento do planejamento, o<br />

trabalho de produção oral com destino escrito mais frequente principalmente nas turmas de<br />

pré, o ambiente letrado com materiais significativos no campo visual das crianças e o início<br />

da elaboração de portfólios para acompanhamento das hipóteses de <strong>escrita</strong> das crianças a<br />

partir das turmas de maternal III e pré.<br />

Palavras-chave: Leitura. Escrita. Educação infantil.


Introdução<br />

13907<br />

A formação continuada da Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de Curitiba<br />

busca uma postura reflexiva de seus profissionais a partir de situações investigativas <strong>em</strong> seu<br />

local de trabalho.<br />

Os Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação<br />

Infantil apontam que a formação continuada <strong>em</strong> serviço diferencia-se de cursos, palestras ou<br />

outros eventos pontuais formativos, pois os conteúdos para a formação são extraídos da<br />

própria experiência nas unidades, enfocando aspectos que precisam ser (re) aprendidos,<br />

modificados e/ou ampliados. Para isso, o pedagogo atua como formador e articulador de<br />

questões pedagógicas, ajudando aos profissionais a assumir o papel de produtores de<br />

conhecimento e de cultura estabelecendo uma metodologia que os auxilie de forma<br />

organizada e contínua a aliar<strong>em</strong> teoria e prática numa busca constante de aperfeiçoamento. O<br />

diretor também t<strong>em</strong> importante participação neste processo, atuando como responsável pela<br />

coesão e comprometimento da equipe, suporte e viabilização na efetivação do projeto<br />

pedagógico com a participação do Conselho de CMEI e Associação de pais, professores e<br />

funcionários.<br />

Sendo assim, este trabalho relata a experiência de formação continuada <strong>em</strong> serviço<br />

realizada pelo Núcleo Regional da Educação de Santa Felicidade e seus profissionais,<br />

diretores e pedagogos, atuantes nos Centros Municipais de Educação Infantil desta regional.<br />

Uma breve contextualização<br />

A história da Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de Curitiba está<br />

relacionada às questões da mulher que necessitava ser liberada para o trabalho e às questões<br />

assistencialistas.<br />

Entre as décadas 1970 e 1980, o atendimento estava centrado na guarda da criança e o<br />

<strong>foco</strong> educativo era a disciplina, com o intuito de prevenir uma marginalização futura e de<br />

caráter compensatório e preparatório para o ensino fundamental. Havia a dicotomia entre<br />

guarda e educação.<br />

Segundo as Diretrizes Curriculares Municipais para a Educação Municipal de<br />

Curitiba, no início dos anos 80 há uma preocupação com a política de atendimento infantil, no<br />

que se refere a: expansão do atendimento e da creche como direito da mulher trabalhadora e,<br />

principalmente da criança.


13908<br />

A Constituição de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 trouxeram a<br />

concepção de criança como cidadã de direitos, trazendo importantes discussões e<br />

modificações quanto ao atendimento nas creches pretendendo aliar os processos do cuidar e<br />

educar enquanto ações indissociáveis.<br />

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96 consolida a Educação<br />

infantil como primeira etapa da Educação Básica, o que exigiu a capacitação dos profissionais<br />

considerando o espaço da educação Infantil e a readequação das faixas etárias atendendo as<br />

novas denominações: creche (0 a 3 anos) e pré-escola (4 a 6 anos).<br />

A Educação Infantil municipal foi pensada e organizada, durante vinte e oito anos, por<br />

duas estruturas da Prefeitura: Assistência e Educação. Ambas as instâncias construíram a<br />

história de atendimento às crianças de 0 a 6 anos da cidade de Curitiba, quando, então, <strong>em</strong><br />

2002, houve o início do processo de transição dos Centros Municipais de Educação Infantil da<br />

Secretaria da Criança para a Secretaria da Educação.<br />

É nesta ocasião que ocorre a inserção do pedagogo para atuar 20 horas s<strong>em</strong>anais,<br />

sendo o articulador das questões pedagógicas e o principal responsável pela formação<br />

continuada dos profissionais.<br />

Desde 2005, a Secretaria Municipal da Educação, através do Departamento de<br />

Educação Infantil, realiza um trabalho de formação continuada sobre as diferentes áreas de<br />

formação humana com as pedagogas das equipes da Educação Infantil dos nove Núcleos<br />

Regionais de Educação, que comportam 176 unidades, atendendo 25.468 crianças, sendo<br />

15.967 <strong>em</strong> turmas de creche (3 meses a 3 anos) e 9.501 crianças <strong>em</strong> turmas de pré-escola (4 a<br />

5 anos), <strong>em</strong> período integral – de 8 a 11 horas de permanência na instituição. Estes então,<br />

discut<strong>em</strong>, reflet<strong>em</strong> e reorganizam os conhecimentos para trabalhar com suas equipes de<br />

diretoras e pedagogas observando as especificidades da realidade de cada regional.<br />

Sobre Leitura e Escrita<br />

Partindo das considerações de SMOLKA (2001) sobre a <strong>escrita</strong> enquanto forma de<br />

linguag<strong>em</strong> que se cria, se transforma, se constrói como conhecimento humano que se dá nas<br />

interações e interlocuções, não sendo, portanto, somente um objeto de conhecimento da<br />

escola, realizamos um diagnóstico com base nas análises das concepções e práticas dos


13909<br />

professores e educadores 1 manifestadas no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> da <strong>escrita</strong> das<br />

crianças nos Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba (CMEIs).<br />

O diagnóstico revelou o seguinte quadro:<br />

Nos últimos anos da Educação Infantil, percebe-se que o professor/educador realiza<br />

com as crianças tarefas de treino da <strong>escrita</strong> de letras, sílabas e palavras.<br />

(...) Ao enfatizar o aspecto técnico começando pelo reconhecimento das letras e<br />

gastando um período longo numa atividade que não expressa informação, idéia, ou<br />

desejo pessoal de comunicação ou expressão, a escola acaba por ensinar a criança<br />

que escrever é desenhar as letras, quando, de fato, escrever é registrar e expressar<br />

informações, idéias e sentimentos (MELLO, 2005, p.30).<br />

Ao invés disso, outras atividades, que fornec<strong>em</strong> as bases necessárias para a aquisição<br />

da <strong>escrita</strong> e que possibilitam a real expressão da criança, ficam <strong>em</strong> 2° plano, como: desenho,<br />

pintura, faz de conta, modelag<strong>em</strong>, construção, dança, poesia e a própria fala.<br />

Diante disso, o plano de formação visava rever com os profissionais da Educação<br />

Infantil do Núcleo de Santa Felicidade algumas práticas equivocadas que estavam<br />

acontecendo <strong>em</strong> relação à linguag<strong>em</strong> <strong>escrita</strong> e <strong>leitura</strong>. Para contribuirmos na formação de<br />

cidadãos da cultura <strong>escrita</strong> é necessário fazer do CMEI/Escola um ambiente onde a <strong>leitura</strong> e a<br />

<strong>escrita</strong> sejam práticas vivas e vitais, isto é, práticas sociais para que as crianças apropri<strong>em</strong>-se<br />

das mesmas tornando-se leitoras e escritoras competentes. Muitos dos CMEIs/Escolas<br />

deveriam avançar no sentido de proporcionar estes ambientes, com o acesso e oportunidade<br />

de participara de práticas significativas, sabendo que a maioria das crianças t<strong>em</strong> pouca<br />

oportunidade de <strong>leitura</strong> e <strong>escrita</strong> <strong>em</strong> casa.<br />

À medida que lhes é oportunizado o uso efetivo da língua e a reflexão sobre essas<br />

experiências, as crianças tomam para si comportamento da cultura <strong>escrita</strong>, sendo este o nosso<br />

desafio.<br />

O trabalho com a linguag<strong>em</strong> <strong>escrita</strong> precisava ocorrer enquanto uma aprendizag<strong>em</strong><br />

significativa para as crianças nas instituições de educação infantil e, conforme o Referencial<br />

1 Nos Centros Municipais de Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, atuam professores e<br />

educadores, profissionais que exerc<strong>em</strong> a mesma função docente, mas que têm Plano de Cargos Carreiras e<br />

Salários diferenciados. Nas turmas de Berçários a Maternal II t<strong>em</strong>-se a atuação de educadores somente. Já nas<br />

turmas de Maternal III atuam duas educadoras o dia todo e uma professora no período da manhã. Na turma de<br />

Pré há uma educadora e uma professora nos turnos da manhã e tarde.


13910<br />

Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) havia a necessidade de estar permeado<br />

pelos princípios indissociáveis do cuidar e educar, respeitando o modo como as crianças<br />

constro<strong>em</strong> o conhecimento a partir das interações que estabelec<strong>em</strong> com as outras pessoas e<br />

com o meio <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>. O documento considera que para as crianças dev<strong>em</strong> ser criadas<br />

oportunidades de significar e produzir conhecimentos. Vygotsky (1991, p.133), referindo-se a<br />

experiência dos jardins-da-infância de Montessori, na Itália, comenta que “o ensino t<strong>em</strong> de ser<br />

organizado de forma que a <strong>leitura</strong> e a <strong>escrita</strong> se torn<strong>em</strong> necessárias às crianças”. Portanto,<br />

ensinar a <strong>escrita</strong> impõe, necessariamente, a questão da relevância social, a relevância para a<br />

vida. Neste sentido, explica que a <strong>escrita</strong> não é uma questão motora, mas uma questão<br />

conceitual acerca de uma atividade cultural complexa.<br />

Pretendíamos que foss<strong>em</strong> proporcionadas às crianças situações onde alguém escreve<br />

de fato para o outro, tendo um real propósito comunicativo.<br />

O diagnóstico revelou aspectos acerca da freqüência, diversificação e não<br />

compreensão da intencionalidade das atividades sugeridas às crianças acerca das práticas de<br />

<strong>escrita</strong> seja <strong>em</strong> trabalhos que envolvam o nome próprio, nas elaborações de textos orais com<br />

destinos escritos, ou <strong>em</strong> outras situações cotidianas <strong>em</strong> que se faz necessário a utilização de<br />

<strong>escrita</strong>.<br />

É comum a preocupação com o aspecto do traçar b<strong>em</strong> as letras, m<strong>em</strong>orizar o alfabeto,<br />

suprimir palavras que julgam difíceis para as crianças no momento da <strong>leitura</strong>, subestimando a<br />

sua capacidade de compreender e construir significados. Estes e outros equívocos acerca da<br />

aprendizag<strong>em</strong> da <strong>escrita</strong> dificultam a atividade do pensar e significar este objeto de<br />

conhecimento pela criança.<br />

A criança é protagonista do seu processo de socialização nos espaços culturais <strong>em</strong> que<br />

vive e que produz cultura, por isso se faz necessário pensar numa concepção de escola que<br />

atenda às suas especificidades.<br />

Pensar a relação entre cultura e escola é refletir sobre o papel da educação e da escola<br />

de educação infantil, a qual segundo Fourquin (1993) é também um espaço de produção de<br />

cultura e não somente de transmissão e reprodução da experiência humana considerada<br />

cultura.<br />

De acordo com Vygotsky, citado por Jobim e Souza (2000), a interiorização dos<br />

conteúdos historicamente determinados e culturalmente organizados se dá por meio da<br />

linguag<strong>em</strong>, a qual possibilita que a natureza social das pessoas torne-se da mesma forma sua


13911<br />

natureza psicológica. É, pois um processo de internalização que requer utilização de signos e<br />

supõe uma evolução complexa <strong>em</strong> que ocorre uma série de transformações qualitativas na<br />

consciência da criança. Esse processo de internalização ocorre primeiramente num plano<br />

interpessoal e é transformado <strong>em</strong> um processo intrapessoal.<br />

Para compreender como ocorre a constituição da consciência na infância é necessário<br />

analisar a interação da criança com a realidade.<br />

Meireles, Ramalho e Nunes (1996), chamam a atenção para o fato de que o<br />

conhecimento é um processo de construção do qual faz<strong>em</strong> parte os alunos, professores e todos<br />

os d<strong>em</strong>ais envolvidos no processo educativo. Esse processo ocorre pela linguag<strong>em</strong> que é uma<br />

capacidade inerent<strong>em</strong>ente humana e é ela que possibilita a construção da história b<strong>em</strong> como<br />

poder contá-la através da língua.<br />

Para Kramer (1993) o acontecer pedagógico é prática coletiva que se faz pela<br />

linguag<strong>em</strong> e que produz linguag<strong>em</strong>. E os atores principais dessa prática educativa, crianças e<br />

adultos, por estar<strong>em</strong> imersos no mundo da cultura, são autores, produtores e criadores de<br />

linguag<strong>em</strong>. A linguag<strong>em</strong> é neste, sentido, constituidora de consciência.<br />

Compreendendo a importância das interações sociais na produção da língua, JOBIM e<br />

SOUZA referenciam Bakhtin e Vygotsky para tratar sobre o valor da palavra enquanto o<br />

modo mais puro de interação social:<br />

(...) para Vygotsky o significado da palavra é a chave da compreensão da unidade<br />

dialética entre pensamento e linguag<strong>em</strong> e, como conseqüência, da constituição da<br />

consciência e da subjetividade, para Bakhtin, a palavra, além de instrumento da<br />

consciência, é, também, espaço privilegiado da criação ideológica (JOBIM e<br />

SOUZA, 2000, p.18)<br />

Segundo Bakhtin/Volochinov, a língua para a consciência dos indivíduos que a falam<br />

não se apresenta como um sist<strong>em</strong>a de formas normativas, pois “na realidade não são palavras<br />

o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisa boas ou más, importantes<br />

ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc.” (BAKHTIN, 1981, p.95). Bakhtin/ Volochinov<br />

considera o fenômeno social da interação verbal nas suas formas orais e <strong>escrita</strong>s situando-as<br />

<strong>em</strong> relação às condições concretas de vida. Então, a palavra s<strong>em</strong>pre carrega um conteúdo<br />

ideológico.


13912<br />

Faraco (1997) propõe que no contexto da escola sejam construídas práticas<br />

pedagógicas eficientes de imersão com o trabalho com a linguag<strong>em</strong> oral e <strong>escrita</strong> enquanto<br />

um complexo conjunto de atividades socioverbais conectadas com o conjunto das práticas<br />

sociais, rompendo com o normativismo.<br />

Essa proposição de trabalho condiz com a concepção de linguag<strong>em</strong> destacadas por<br />

Castro e Brotto (2006) “como algo vivo, histórico, plurivalente, maleável e modelável às<br />

intenções que se expressam na corrente viva da situação do cotidiano de uso.”<br />

Estratégias de formação<br />

A metodologia utilizada procurou dar voz aos profissionais para falar<strong>em</strong> e refletir<strong>em</strong><br />

sobre seus fazeres e saberes para que pudess<strong>em</strong> organizar sua prática de modo a ajudar as<br />

crianças a sentir<strong>em</strong> prazer na sua atuação enquanto falantes, leitores, escritores e autores de<br />

sua prática.<br />

(...) professores como construtores. De autoridade. De autoria. De autonomia. De<br />

conhecimentos (que são s<strong>em</strong>pre histórico-sociais), de críticas, de afetos. Construtor<br />

coletivo que se faz e que faz a história porque produz e é produzido como sujeito<br />

social na linguag<strong>em</strong> (KRAMER, 1993, p.12)<br />

Assim, nos t<strong>em</strong>pos e espaços destinados aos encontros de formação e supervisão no<br />

Núcleo Regional de Educação de Santa Felicidade, foram utilizadas as seguintes estratégias<br />

formativas, baseadas <strong>em</strong> Carvalho, Klisys e Augusto (2006):<br />

1. Estudo de textos: Textos escolhidos estrategicamente como artigos de revistas ou<br />

recortes de livros, para trazer ao grupo reflexões acerca do trabalho com <strong>leitura</strong> e<br />

<strong>escrita</strong> na educação infantil.<br />

2. Análise de bons modelos: Análise e reflexão sobre práticas de sucesso <strong>em</strong> relação<br />

ao t<strong>em</strong>a da formação como: vídeos, relatos, fotografias. O principal objetivo dessa<br />

estratégia é aprender com a experiência do outro.<br />

3. Análise de situações homólogas: São práticas sociais reais, escolhidas pelo<br />

formador para explicitar os processos dos sujeitos <strong>em</strong> determinados atos, b<strong>em</strong> como<br />

para fazer <strong>em</strong>ergir a natureza própria dos objetos de conhecimento <strong>em</strong> questão. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo: para compreender como e por que se propõe determinado tipo de <strong>leitura</strong>


13913<br />

para as crianças, é preciso conhecer a prática leitora, ou seja, colocando-se no lugar<br />

da criança ao ouvir uma história analisando se o espaço está adequado, se aquela<br />

<strong>leitura</strong> chamou atenção, se a postura de qu<strong>em</strong> estava lendo foi adequada, entre<br />

outros.<br />

4. T<strong>em</strong>atização de práticas: É refletir sobre uma prática e extrair desse ato um<br />

conhecimento novo. Analisar um vídeo de uma prática com questões para reflexão.<br />

5. Análise de registros com devolutivas: escrever sobre a ação desenvolvida, ou seja,<br />

observar um planejamento, uma foto ou uma filmag<strong>em</strong> e realizar um registro escrito<br />

sobre os aspectos que foram relevantes e aqueles que precisam melhorar.<br />

6. Encontro de supervisão como continuidade do encontro de formação: Visita mensal<br />

aos CMEIs para acompanhamento da prática da pedagoga enquanto formadora <strong>em</strong><br />

sua unidade e das práticas dos educadores com as crianças.<br />

7. Ampliação cultural: Momentos de trocas de experiências culturais – indicações de<br />

livros, filmes, peças de teatro, musicais, etc – ou visitas a locais culturais da cidade,<br />

proporcionando uma visão ampla aos profissionais <strong>em</strong> relação à cultura.<br />

8. Mostra de trabalhos da Regional: momento de exposição dos trabalhos realizados<br />

durante o ano pelos profissionais da educação infantil, tendo como objetivo a<br />

valorização do trabalho dos mesmos e a troca de experiências.<br />

As escolhas destas estratégias tiveram como pr<strong>em</strong>issa a compreensão de que o<br />

trabalho com a <strong>escrita</strong> na educação infantil é um trabalho que segundo Soares (2009) deve<br />

garantir a presença tanto de atividades de introdução no sist<strong>em</strong>a alfabético e suas convenções<br />

(entendidas pelo termo alfabetização) quanto as práticas de uso social da <strong>leitura</strong> e da <strong>escrita</strong><br />

(entendidas pelo uso do termo letramento). Os dois termos – alfabetização e letramento - são<br />

segundo ela, uma aditiva e não uma alternativa, ou seja, ambos dev<strong>em</strong> estar conjugados no<br />

trabalho com as crianças pequenas. Avançando quanto a esta idéia, Castro e Brotto (2006)<br />

assinalam a importância de “ensinar para além das evidências sonoras e gráficas e de usos <strong>em</strong><br />

práticas sociais” nas características do letramento. Mas, ressaltam que neste processo é<br />

importante “explicitar os mais diferentes el<strong>em</strong>entos que concorr<strong>em</strong> para a significação de uma<br />

palavra, e aprender o sentido, inclusive ideológico”.<br />

Os principais conteúdos elencados para o desenvolvimento do trabalho de formação<br />

foram: alfabetização e letramento; ambiente letrado; nome próprio; comportamento leitor:


13914<br />

<strong>leitura</strong> e contação de histórias; gêneros textuais – produção de texto oral com destino escrito e<br />

jogos com o nome próprio.<br />

Considerações Finais<br />

O planejamento das ações que envolveu estudo e reflexão sobre a prática, b<strong>em</strong> como o<br />

registro e a avaliação do processo educativo na dinâmica de formação continuada <strong>em</strong> serviço<br />

contribuiu nos resultados das aprendizagens dos profissionais e do desenvolvimento da<br />

criança. Foi uma ferramenta eficaz para a realização das ações, as quais foram marcadas pelas<br />

intencionalidades pretendidas, estando atreladas à clareza das propostas e dos objetivos que<br />

se pretendiam alcançar, por meio de um trabalho pedagógico coerente com as finalidades da<br />

educação infantil.<br />

Sendo assim as diversas estratégias formativas - estudo de textos, análise de bons<br />

modelos, análise de situações homólogas, t<strong>em</strong>atização de práticas, análise de registros com<br />

devolutivas, mostra de trabalhos da Regional e ampliação cultural - utilizadas durante o<br />

processo de formação foram determinantes para que as práticas educativas ganhass<strong>em</strong> um<br />

direcionamento claro e objetivo, colaborando para que a mediação entre teoria e prática fosse<br />

estabelecida.<br />

Essas estratégias possibilitaram que os profissionais compreendess<strong>em</strong> de que forma<br />

deve acontecer o trabalho de alfabetização e letramento na educação infantil, segundo as<br />

Diretrizes Nacionais e Municipais, hoje vigentes. Como resultado desse trabalho<br />

observamos: a utilização intencional dos cartões com os nomes das crianças; a inserção de<br />

jogos; a diferenciação entre <strong>leitura</strong> e contação no momento do planejamento; <strong>leitura</strong> pela<br />

criança (livros de qualidade); o trabalho de produção oral com destino escrito mais freqüente<br />

principalmente nas turmas de pré; o ambiente letrado com materiais significativos no campo<br />

visual das crianças; início da elaboração de portfólios para acompanhamento do<br />

desenvolvimento das crianças.<br />

Portanto a formação continuada possibilitou aos profissionais avançar<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas<br />

práticas, <strong>em</strong> relação à linguag<strong>em</strong> <strong>escrita</strong> e <strong>leitura</strong>, fazendo do CMEI/Escola um ambiente onde<br />

a <strong>leitura</strong> e a <strong>escrita</strong> sejam realmente práticas vivas e vitais.


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13915<br />

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