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contribuições da memória na formação da identidade docente

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1106Kenski (1997), ao fazer uma a<strong>na</strong>logia entre a <strong>memória</strong> em movimento e a busca doscientistas pela produção de novos conhecimentos, alia<strong>da</strong> à <strong>memória</strong>-saber, que em princípionão se altera, organiza<strong>da</strong> e fixa<strong>da</strong> nos livros, textos, filmes, revistas e documentos.A temática <strong>da</strong> <strong>memória</strong>, além de contribuir com a reflexão e construção <strong>da</strong>sidenti<strong>da</strong>des profissio<strong>na</strong>is dos professores, integra experiências e trajetórias às preferências edesejos às possibili<strong>da</strong>des de ações transformadoras dos <strong>docente</strong>s.As histórias de vi<strong>da</strong>, as autobiografias, os memoriais, as representações, os relatossobre a <strong>formação</strong> e as experiências profissio<strong>na</strong>is dos <strong>docente</strong>s são alguns dos estudosinvocados pela <strong>memória</strong> que foi, até recentemente, pouco considera<strong>da</strong> <strong>na</strong> investigaçãoeducacio<strong>na</strong>l. Nesse aspecto, Catani (1998, p. 65) denuncia que a reflexão pe<strong>da</strong>gógica epsicológica centrou-se sobre o processo ensino-aprendizagem do aluno, deixando à margem oprocesso de aprendizagem do professor.Estimular a <strong>memória</strong> também é uma <strong>da</strong>s funções estruturais do professor.De acordo com Kenski (1997, p. 27), “o professor enquanto agente de <strong>memória</strong>informal, educativa e <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de digital é capaz de realizar interações e intercâmbios entrelinguagens, espaços, tempos e conhecimentos (pontes sociais, temporais, tecnológicas)diferenciados.”Mediante o exposto, demonstra-se a necessi<strong>da</strong>de de maiores investigações sobre a<strong>memória</strong> do saber <strong>da</strong> experiência <strong>docente</strong> e de como os professores percebem o ensino e aaprendizagem para que possam, de forma efetiva, transformar “suas histórias” em orientaçõespara toma<strong>da</strong> de decisões profissio<strong>na</strong>is adequa<strong>da</strong>s e eficazes.Metodologia <strong>da</strong>s pesquisas sobre <strong>memória</strong> e ensinoSegundo Kenski (1994), as pesquisas sobre <strong>memória</strong> e ensino caminham em doisaspectos: o primeiro é o levantamento individualizado <strong>da</strong> <strong>memória</strong> de um professor, ou seja,recuperações autobiográficas em que o próprio pesquisador é o professor-sujeito e objeto <strong>da</strong>pesquisa. Quanto ao segundo aspecto, ocupa-se <strong>da</strong>s <strong>memória</strong>s coletivas apresenta<strong>da</strong>s porvárias pessoas liga<strong>da</strong>s a um mesmo objeto, qual seja, uma escola, um projeto, umadiscipli<strong>na</strong>...No primeiro aspecto, este levantamento também chamado Memorial, constitui-se emuma “história de vi<strong>da</strong>”, entendi<strong>da</strong> como:


1107o relato de um <strong>na</strong>rrador sobre sua existência através do tempo, tentando reconstruiros acontecimentos que vivenciou e transmitir a experiência que adquiriu “onde” sedelineiam as relações com os membros de seu grupo, de sua profissão, de suacama<strong>da</strong> social, de sua socie<strong>da</strong>de global. (QUEIRÓZ in SIMSON, 1988, p. 20).Nessa perspectiva, ao escrever sobre si e seu trabalho, o professor se apropria de suahistória, percebe-se como atuante e capaz de participar do processo de trans<strong>formação</strong>, sendo,consequentemente, valorizado como sujeito <strong>da</strong> história no cotidiano escolar.De acordo com Prado (1992), o professor pode apresentar seu Memorial ouAutobiografia como se estivesse contando histórias de terceiros. A <strong>na</strong>rrativa desloca-se paraa terceira pessoa do singular que assume o lugar de <strong>na</strong>rrador, fator que propicia, pelodistanciamento, uma análise mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> de seus próprios problemas.Em outro encaminhamento, o professor relata ao pesquisador a sua história. A partirdisso, é a<strong>na</strong>lisado seu comportamentocomo <strong>docente</strong>. Kenski (1994) enfatiza que essaabor<strong>da</strong>gem diferencia-se de um relato de história de vi<strong>da</strong>, já que supõe a intervenção direta dopesquisador no acompanhamento feito de avanços e recuos <strong>na</strong> <strong>memória</strong> do professor, com oobjetivo de detectar as origens de sua forma de atuação, lembrando que este procedimentoaproxima-se dos métodos utilizados em clínicas psica<strong>na</strong>líticas.Em relação ao segundo aspecto, estão as biografias socializa<strong>da</strong>s que envolvem a<strong>memória</strong> coletiva. Após um primeiro momento de relato individual, os professores discuteme situam pontos comuns e as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s diversas formas de ensi<strong>na</strong>r existentes entreeles. Segundo Kenski (1994), a partir <strong>da</strong>í, “os professores tentam identificar a‘perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de’ do curso, procurando estabeleceralterações possíveis, tendo em vista a melhoria do ensino ministrado”suas quali<strong>da</strong>des, pontos fracos e asA importância <strong>da</strong> pesquisa sobre <strong>memória</strong> e ensinoNa educação, as autobiografias, as histórias de vi<strong>da</strong> passaram a ser adota<strong>da</strong>s, nãoape<strong>na</strong>s como um instrumento de investigação, mas também, de <strong>formação</strong>.Segundo Bastos (1999, p. 34) “o lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir,repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado.”A análise sobre a influência de vivências anteriores dos professores em suas práticaspe<strong>da</strong>gógicas podem ser considera<strong>da</strong>s como <strong>contribuições</strong> importantes para a compreensão desuas posturas profissio<strong>na</strong>is. Contudo, é imprescindível que o professor tenha consciência <strong>da</strong>origem de sua própria prática, a relação com o ensino e com seus alunos.


1108Esse conhecimento possibilita ao professor a oportuni<strong>da</strong>de de superar crises,reformular a postura pe<strong>da</strong>gógica, as crenças em relação à matéria que lecio<strong>na</strong>, as formas queutiliza para avaliar seus alunos e outros aspectos que possam resgatar a imagem pessoal dobom professor.De acordo com Cunha (2003):O aspecto humano, principal influência <strong>da</strong> <strong>formação</strong> pessoal, também conta comoponto primordial <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>. A forma como o <strong>docente</strong> de hoje recebeuinfluências de seus professores e o interesse em poder contribuir com oconhecimento, leva o aluno a querer se espelhar no mestre e ser tal como. (2003, p.32).Reflexão sobre a influência <strong>da</strong> <strong>memória</strong> a partir <strong>da</strong> análise do texto “Doras e Carmosi<strong>na</strong>s”Tanto para Bakhtin (2000) quanto para Vygotsky (1991), o sujeito é um ser que seconstrói e se constitui sociocultural e historicamente <strong>na</strong> interação com o outro, no contextoem que ambos estão inseridos.Isto posto, fica explícito que o ser humano só se reconhece no olhar do outro. E quemreconhece os professores? Quem os ouve antes de oferecer propostas educativas? Quem olhapara suas ver<strong>da</strong>deiras necessi<strong>da</strong>des? O texto que ampara este artigo é uma tentativa deresposta a estas in<strong>da</strong>gações.O texto “Doras e Carmosi<strong>na</strong>s” de autoria de Fer<strong>na</strong>n<strong>da</strong> Montenegro (1999) é atranscrição do discurso <strong>da</strong> atriz ao receber a condecoração Gran-Cruz <strong>da</strong> Ordem Nacio<strong>na</strong>l doMérito, no dia doze de abril de 1999, após receber a Palma de Ouro do Festival de Cannes,como melhor atriz por sua atuação no filme “Central do Brasil” (1998).Este texto passa a ser utilizado pelo PROFA – Programa de Formação de ProfessoresAlfabetizadores 2001 pelo MEC – Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura.O objetivo do PROFA, ao utilizar este discurso, foi nortear os aspectos afetivosenvolvidos no processo ensino-aprendizagem promovendo uma reflexão acerca <strong>da</strong>sdiferentes formas sob as quais diferentes tipos de aprendizagem ocorreram <strong>na</strong> história de vi<strong>da</strong>dos professores/alunos do módulo.O texto é utilizado como referência neste trabalho por focalizar o ensino, levando-seem consideração que, muitas vezes, as formas pelas quais aprendemos determi<strong>na</strong>m, emgrande parte, as formas pelas quais ensi<strong>na</strong>mos.


1109Assim, relembrando os sucessos e os fracassos em diversos momentos deaprendizagem – ou não -, identificam-se, <strong>na</strong> prática educativa, as distintas práticas dos exprofessores.Walter Salles, produtor e diretor de “Central do Brasil” traz como questão central dofilme a reflexão sobre a dialética educativa que ocorre no sistema educacio<strong>na</strong>l brasileiro eprincipalmente sobre a forma como as pessoas, reconheci<strong>da</strong>s afetivamente, podem mu<strong>da</strong>r seusdestinos.A perso<strong>na</strong>gem interpreta<strong>da</strong> pela atriz Fer<strong>na</strong>n<strong>da</strong> Montenegro é Dora, professoraprimária aposenta<strong>da</strong>, que vive sozinha em um pequeno apartamento no Rio de Janeiro.Devido ao fato de seu pagamento ser insuficiente, escreve cartas para a<strong>na</strong>lfabetos <strong>na</strong> estaçãoCentral do Brasil. Cobra um real pela re<strong>da</strong>ção e mais um real pelo envio, porém estas cartasnão resultam em comunicação, pois termi<strong>na</strong>m <strong>na</strong> lata do lixo, fato triste, já que as histórias devi<strong>da</strong> que Dora leva ao papel traduzem o desassossego e a esperança (única) de pessoasaparta<strong>da</strong>s de suas famílias e de sua terra.O filme mostra um enorme contingente de adultos que não domi<strong>na</strong>m a escrita, aslimitações de suas vi<strong>da</strong>s em função disso, o pouco reconhecimento social desti<strong>na</strong>do aosprofessores e o lugar ocupado pelas religiões para a construção de sentidos entre a populaçãomenos letra<strong>da</strong>.Dora é uma metáfora a respeito <strong>da</strong>s professoras que perderam o amor por ensi<strong>na</strong>r, pelainfância, por elas próprias, cumprindo ape<strong>na</strong>s atos tarefeiros. Para proteger-se, ela rompe comqualquer vínculo afetivo, inclusive com sua própria feminili<strong>da</strong>de.“Se hoje estou sendo agracia<strong>da</strong> com a mais alta condecoração de nosso país, é porquesou resultado de muitas influências e convivências. Cente<strong>na</strong>s de companheiros e perso<strong>na</strong>gensme formaram, me educaram e estão comigo sempre.” (MONTENEGRO, 1999. In PROFA,2001).O discurso é oportuno para tratar <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> <strong>memória</strong> <strong>na</strong> constituição dereferências que vão dizer sobre o indivíduo ou a situação, não ape<strong>na</strong>s no passado, massobretudo no presente, e também no futuro.É nesse sentido que o estudo <strong>da</strong>s relações entre <strong>memória</strong> e prática <strong>docente</strong> tor<strong>na</strong>m-seimportantes, porque não se quer, através <strong>da</strong> <strong>memória</strong>, recuperar a história doprofessor, mas intervir <strong>na</strong> sua prática atual, procurando torná-lo em algum sentidomelhor, ou, pelo menos, mais consciente <strong>da</strong>s influências que redun<strong>da</strong>ram <strong>na</strong> suaconduta em sala de aula. (KENSKI, 1994, p. 49).


1110Portanto, a autora expõe a importância <strong>da</strong> trajetória dos sujeitos no sentido de poderdesven<strong>da</strong>r as práticas <strong>docente</strong>s.Na ver<strong>da</strong>de, o que os estudos biográficos mostram é que os indivíduos são herdeirosdo que vivenciaram no passado e, a partir desta herança, é possível que o sujeito que tornouseprofessor, obtenha proveito pe<strong>da</strong>gógico, ao refletir sobre as experiências progressas, porexemplo: “por que me tornei professor”; “o que considero um bom professor; “por queensino <strong>da</strong> forma como ensino”; “por que avalio desta maneira” e inúmeros outrosquestio<strong>na</strong>mentos.É interessante ressaltar que estes questio<strong>na</strong>mentos produzem um conhecimento capazde transformar-se em aporte metodológico para a produção de um tipo de conhecimento quefaça sentido ao professor, uma vez que ele é, agora, o sujeito <strong>da</strong> reflexão.A <strong>memória</strong> individual existe a partir de uma <strong>memória</strong> coletiva, já que as lembrançassão constituí<strong>da</strong>s no interior de um grupo. A origem de várias ideias, reflexões, sentimentos,paixões que atribuímos a nós são, em grande parte, inspira<strong>da</strong>s pelo grupo.Halbwachs (2004, p. 55. In CARVALHAL, 2006) afirma que “a <strong>memória</strong> individual,construí<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s referências e lembranças próprias do grupo refere-se a um ponto devista sobre a <strong>memória</strong> coletiva.” É o que garante a coesão de um grupo, esta uni<strong>da</strong>de coletiva,concebi<strong>da</strong> pelo pensador como o espaço de conflitos e influências uns dos outros.As primeiras coisas que decorei <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> foram dois poemas que Do<strong>na</strong> Carmosi<strong>na</strong>mandou (é essa a palavra, mandou) que decorássemos <strong>na</strong>s férias de dezembro:“Meus oito anos” de Casimiro de Abreu e “Canção do exílio” de Gonçalves Dias.Na volta <strong>da</strong>s férias <strong>na</strong>quele ano de 1937, eu, mesmo tími<strong>da</strong>, envergonha<strong>da</strong> eencanta<strong>da</strong> declamei. (MONTENEGRO, 1999. In PROFA, 2001).Além do resgate <strong>da</strong> <strong>memória</strong> individual, a autora inclui em seu discurso percepções<strong>na</strong>s quais incluem-se elementos do pensamento social ao fazer uma crítica ao processoeducativo <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de, processo no qual os professores não têm a mesma autonomia ouliderança do passado, explicitado pela reiteração do comando entre parênteses: “(é essa apalavra, mandou)” (MONTENEGRO, 1999. In PROFA, 2001).Vozes demarca<strong>da</strong>s no textoAs diferentes vozes que se fazem presentes no percurso de certos textos misturam-sede tal modo com a do produtor que não se percebem com nitidez os seus limites.


1111Em relação à atuação <strong>da</strong>s vozes que atuam <strong>na</strong> recuperação <strong>da</strong> <strong>memória</strong>, elas mostram ainterferência de vários fatores no momento do relato, sendo que o principal é a seletivi<strong>da</strong>deque envolve as lembranças, mas também silêncios e esquecimentos, pois os indivíduos nãopossuem uma visão estática, cristaliza<strong>da</strong> dos acontecimentos passados.No texto “Doras e Carmosi<strong>na</strong>s”, Montenegro (1999) aju<strong>da</strong> a sustentar sua opinião,lançando mão <strong>da</strong> voz de uma pessoa respeitável, o ativista político estadunidense MartinLuther King Jr. em seu histórico discurso no qual apregoava a necessi<strong>da</strong>de de coexistênciaharmoniosa entre negros e brancos.Eu tenho um sonho (parodiando o notável reverendo americano) que um dia,realmente, to<strong>da</strong>s as desespera<strong>da</strong>s Doras serão resgata<strong>da</strong>s desses ônibus perdidos queatravessam esse nosso sertão de miséria e que a elas será <strong>da</strong>do nem que seja umaparcela <strong>da</strong>quele reconhecimento e respeito social <strong>da</strong>s professoras Carmosi<strong>na</strong>s <strong>da</strong>minha infância. (MONTENEGRO, 1999. In PROFA, 2001).Montenegro (1999) também utiliza-se <strong>da</strong>s vozes dos poetas pertencentes aoRomantismo Brasileiro: “As primeiras coisas que decorei <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> foram dois poemas queDo<strong>na</strong> Carmosi<strong>na</strong> mandou (...) que decorássemos <strong>na</strong>s férias de dezembro: “Meus oito anos”de Casimiro de Abreu e “Canção do exílio” de Gonçalves Dias.”Há diversos mecanismos linguísticos que servem para mostrar diferentes vozes nointerior de um texto, demarcando niti<strong>da</strong>mente diversos pontos de vista, porém, em outroscasos, é necessário que o interlocutor possua um conhecimento anterior à leitura para quepossa inferir, intertextualizar, contextualizar o sentido do texto. É o que ocorre neste excerto,no qual a atriz utiliza-se <strong>da</strong> poesia do escritor português Fer<strong>na</strong>ndo Pessoa, sem, no entanto,citá-lo: “Para o fortalecimento <strong>da</strong> nossa educação, <strong>da</strong> nossa cultura, vale a pe<strong>na</strong>, senhorpresidente, se a nossa alma, isto é, se a realização do sonho de todos nós, se essa realizaçãonão for peque<strong>na</strong>.” (MONTENEGRO, 1999. In PROFA, 2001).Um forte argumento que a autora busca <strong>na</strong> construção de seu texto é o de princípio oucrença moral, supostamente irrefutável:Mas, Vossa Excelência é um democrata e um professor, por isso peço a VossaExcelência me <strong>da</strong>r o direito de não resistir, mesmo porque acredito que estamosnuma concordância de vontades. Senhor presidente, precisamos urgentemente demuitas, muitas Carmosi<strong>na</strong>s e, se possível nenhuma Dora. Vossa Excelência tempoder para transformar as Doras em Carmosi<strong>na</strong>s. O país lhe deu esse poder.(MONTENEGRO, 1999. In PROFA, 2001).Conclusão


1112É importante esclarecer, <strong>na</strong> conclusão deste trabalho, que a construção de um modeloorigi<strong>na</strong>l de prática <strong>docente</strong> prescinde de vários fatores, além do conhecimento técnico <strong>da</strong>discipli<strong>na</strong> ministra<strong>da</strong> e <strong>da</strong> experiência profissio<strong>na</strong>l do professor. Outros fatores, como, porexemplo, a visão de mundo dela decorrentes as concepções de como o <strong>docente</strong> a<strong>na</strong>lisa aescola, os alunos, a profissão; seu histórico de vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>; seus sucessos e fracassos; seusrelacio<strong>na</strong>mentos pessoais; e a situação econômica e de saúde no momento em que estádesenvolvendo a prática de transcrição (oral ou escrita) de seu memorial.Os PCNs <strong>da</strong> Educação Básica reforçam esta ideia, ao afirmarem que:É necessário compreender que atitudes, normas e valores comportam uma dimensãosocial e uma dimensão pessoal. Referem-se a princípios assumidos pessoalmentepor ca<strong>da</strong> um a partir dos vários sistemas normativos que circulam <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de (...)As atitudes são bastante complexas, pois envolvem tanto a cognição(conhecimentos e crenças) quanto os afetos (sentimentos e preferências), derivandoem condutas (ações e declarações de intento. (BRASIL, 1997, p. 43).Ao buscar as causas que determi<strong>na</strong>ram o jeito de ensi<strong>na</strong>r de professor, podemosconcluir que o trabalho em sala é uma ativi<strong>da</strong>de experimental única, um exercício em queca<strong>da</strong> professor desenvolve sua ativi<strong>da</strong>de, período que poucas vezes tem a ver com a teoriaaprendi<strong>da</strong> nos cursos de <strong>formação</strong> de professores.Portanto, é mister o estudo <strong>da</strong>s relações entre <strong>memória</strong> e prática <strong>docente</strong>, porque o quese visa não é ape<strong>na</strong>s o resgate <strong>da</strong> história do professor mas uma intervenção <strong>na</strong> prática atual,procurando melhor direcioná-la.Fi<strong>na</strong>lmente, esperamos que este estudo possa vir a ser uma contribuição para que osprofessores possam redimensio<strong>na</strong>r suas experiências de <strong>formação</strong> e prática profissio<strong>na</strong>lpossibilitando utilizar outras opções metodológicas <strong>na</strong> realização do ensino, questio<strong>na</strong>ndo osprocessos sociais e pessoais <strong>na</strong> construção <strong>da</strong>s inserções <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, ao buscar diversificaros procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos construindo um novo percurso comprometido com realizaçõespessoais, profissio<strong>na</strong>is e de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.REFERÊNCIASBAKHTIN, Mikhail. Estética <strong>da</strong> Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.BASTOS, Maria Hele<strong>na</strong> Camara. Eu – professor – construindo a história <strong>da</strong> EducaçãoBrasileira: Memoriais de Professoras. Lajeado, R.S: Caderno Pe<strong>da</strong>gógico, 1999.BRASIL, Secretaria de Educação Fun<strong>da</strong>mental. Parâmetros Curriculares Nacio<strong>na</strong>is.Brasília: MEC/SEF, 1997.


1113CARVALHAL, Julia<strong>na</strong> P. Maurice Halbwachs e a questão <strong>da</strong> Memória. Revista EspaçoAcadêmico. nº 56 – Janeiro / 2006. Ano V. Disponível em:http://www.espacoacademico.com.br. Acesso: 02 ago. 2011.CATANI, Denise B. et. al. A <strong>memória</strong> como questão no campo <strong>da</strong> produção educacio<strong>na</strong>l:uma reflexão. São Paulo: Revista História <strong>da</strong> Educação, V. 2.CUNHA, Maria Isabel <strong>da</strong>. O bom professor e sua prática. Campi<strong>na</strong>s: Papirus, 2003.FREIRE, Paulo. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. SãoPaulo: Paz e Terra, 1996.JAPIASSU, Hilton. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.KENSKI, Vani Moreira. Sobre o conceito de <strong>memória</strong>. In: FAZENDA, Ivani (org) Apesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Campi<strong>na</strong>s: Papirus, 1997,______, Vani Moreira. Memória e Ensino. São Paulo: [s.n], 1994.______, Vani Moreira. A construção social <strong>da</strong> inconsciência. Campi<strong>na</strong>s: Caderno Cedes, n.26, 1991.MONTENEGRO, Fer<strong>na</strong>n<strong>da</strong>. Doras e Carmosi<strong>na</strong>s. In: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de Textos. Módulo 2.Brasília: MEC, 2001.NÓVOA, Antônio. (org) Vi<strong>da</strong>s de Professores. Portugal: Porto, 1992.______, Antônio; FINGER, Mathias. O método (auto) biográfico e a <strong>formação</strong>. Lisboa:Ministério <strong>da</strong> Saúde, 1988.PRADO, Guilherme T. Da busca de ser professor: encontros e desencontros. Campi<strong>na</strong>s:1992. Tese (mestrado). Facul<strong>da</strong>de de Educação / UNICAMP.QUEIRÓZ, Maria Isaura Pereira de. Relatos Orais: do “Indizível” ao “Dizível”. In:SIMSON, Olga. (org) Experimento com histórias de vi<strong>da</strong> (Brasil/Itália). São Paulo:Vértice, 1998.VYGOTSKY, Lev Semenovich. A <strong>formação</strong> social <strong>da</strong> mente. São Paulo: Martins Fontes,1991.

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