Graciliano ramos - vidas secas (livro completo)
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acomodou-se, adormeceu, uma banda aquecida pelo fogo, a outra<br />
banda protegida pelas nádegas de Sinha Vitória.<br />
O abano agitava-se, a madeira úmida chiava, o vulto de<br />
Fabiano iluminava-se e escurecia.<br />
Baleia, imóvel, paciente, olhava os carvões e esperava que<br />
a família se recolhesse. Enfastiava-a o barulho que Fabiano<br />
fazia. No campo, seguindo uma rês, se esgoelava demais.<br />
Natural. Mas ali, a beira do fogo, para 'que tanto grito?<br />
Fabiano estava-se cansando à toa. Baleia se enjoava,<br />
cochilava e não podia dormir. Sinha Vitória devia retirar os<br />
carvões e a cinza, varrer o chão, deitarse na cama de varas<br />
com Fabiano. Os meninos se arrumariam na esteira, por baixo<br />
do caritó, na sala. Era bom que a deixassem em paz. O dia<br />
todo espiava os movimentos das pessoas, tentando adivinhar<br />
coisas incompreensíveis. Agora precisava dormir, livrar-se<br />
das pulgas e daquela vigilância a que a tinham habituado.<br />
Varrido o chão com vassourinha, escorregaria entre as pedras,<br />
enroscar-se-ia, adormeceria no calor, sentindo o cheiro das<br />
cabras molhadas e ouvindo rumores desconhecidos, o tiquetaque<br />
das pingueiras, a cantiga dos sapos, o sopro do rio<br />
cheio. Bichos miúdos e sem dono iriam visitá-la.