Regozijai-vos na fé: Estudos sobre o sagrado e o profano Autor: Victor Hugo Neves de Oliveira 1 Resumo A pesquisa tem por escopo discutir os entrecruzamentos entre devoção e diversão nas ações e significações produzidas pelo corpo em movimento no âmbito do culto; localizando, assim, possibilidades de discursos significativos sobre o ato de fé e(m) festa e analisando as relações entre sagrado e profano nos espaços de arte e religiosidade popular. Palavras-chave: sagrado, profano, limiar, ritos, cerimônias. Abstract The purpose of the research proposal is to discuss intersections between devotion and entertainment in the action and meanings produced by the body in motion within the cult; providing scope for meaningful discourse about the act of faith and the piety ceremonies and looking for relationships between categories of the sacred and the profane in artistic representations and expressions of popular piety. Key-words: sacred, profane, threshold, rites, ceremonies. 1 Doutorando em Ciências Sociais (UERJ), Mestre em Ciência da Arte (UFF) e Bacharel em Dança (UFRJ). Professor dos Cursos de Graduação em Dança da UFRJ (biênio 2010-2011). Atualmente Bolsista FAPERJ. Áskesis - Revista dos Discentes do PPGS/UFSCar | v. 1 | n. 2 | jul/dez - 2012 | p. 54 – 64 | ISSN 2238-3069 | 54
Em seu livro, O Sagrado e o Profano: A Essência das Religiões, Mircea Eliade (1992, p. 14) propõe que “a primeira definição que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe ao profano”, apresentando, pois, ambas as categorias da experiência humana no mundo <strong>com</strong>o distintas e contrárias. Segundo o autor, a manifestação do sagrado – aqui designada por hierofania, cujo conteúdo etimológico indica algo de sagrado que se nos revela – instala o homo religiosus em um espaço não homogêneo, consistente, qualitativamente diferenciado dos espaços cotidiano-utilitários e em um universo real à medida que “[...] potência sagrada quer dizer ao mesmo tempo realidade, perenidade e eficácia. A oposição entre sagrado/profano traduz-se muitas vezes <strong>com</strong>o uma oposição entre real e irreal ou pseudo-real”(Eliade, 1992, p. 16). Desse modo, a experiência numinosa (do latim numen, “deus”) torna possível ao homem a estruturação de um mundo onde a hierofania revela o real através da irrupção do sagrado e produz uma rotura dos níveis cósmicos, ou seja, possibilidades de trânsito entre a Terra e o Céu que suscitam a passagem de um modo de ser a outro, a <strong>com</strong>unhão <strong>com</strong> o Ignoto e representam o desejo de viver em um Cosmos puro e santo, tal <strong>com</strong>o era no princípio, no instante mítico da Criação. Neste sentido: [...] o sagrado é o real por excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de vida e fecundidade. O desejo do homem religioso de viver no sagrado equivale, de fato, ao seu desejo de se situar na realidade objetiva, de não se deixar paralisar pela relatividade sem fim das experiências puramente subjetivas, de viver num mundo real e eficiente – e não numa ilusão (ELIADE, 1992, p. 27). A instalação do sagrado, portanto, em uma espécie de Cosmos estrutura-se <strong>com</strong>o forma indispensável aos arranjos da religiosidade que integra o homem à natureza devocional, amparando-o, protegendo-o e afastando-o, periodicamente, dos aspectos profanados da vida; a experiência do espaço tal <strong>com</strong>o é vivida pelo homem religioso, por um homem apto a viver a sacralidade do mundo, assume um valor existencial que implica orientação, aquisição de um ponto fixo e a fundação de um espaço qualitativamente diferenciado dos demais; por isso, sobretudo, é que: [...] a vida religiosa e a vida profana não podem coexistir no mesmo espaço. Para que a primeira possa desenvolver-se, é preciso arranjar-lhe lugar especial do qual a segunda seja excluída. Vem daí a instituição dos templos e dos santuários: são parcelas de espaço reservadas às coisas e aos seres sagrados e que lhes servem de moradias; porque não podem se estabelecer em terra senão <strong>com</strong> a condição de se apropriar totalmente dela num raio determinado (DURKHEIM, 2008, p. 373). No entanto, o desejo do homem religioso de mover-se em um mundo numinoso, sua necessidade de existir em um universo total e organizado, ou seja, em um Cosmos, sua tentativa de permanência em estados supraterrestres, colabora à estruturação não apenas do processo de sacralização do espaço, mas também na organização e inscrição de conteúdos e significados religiosos à dimensão temporal. Assim, apreendemos que o tempo também não é para o homem religioso, nem homogêneo, nem contínuo e, por isso, não se situa na duração temporal ordinária, mas faz-se potencialmente reatualizável e indefinidamente recuperável ou repetível 2 ; portanto: 2 Utilizamo-nos, aqui, do termo repetição “não <strong>com</strong>o algo alienante que exclui a capacidade criativa do ser humano, mas <strong>com</strong>o forma de reviver, de resgatar a mitologia e o tempo mítico nas condições sociais de hoje e na perspectiva do novo” (LARA, 2008, p. 28). Áskesis | v. 1 | n. 2 | jul/dez - 2012| p. 54 – 64 | 55
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