16.03.2020 Views

portal.2019.No22

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Portal do Budismo nº22 - distribuição interna - 1

www.yumpu.com/user/portaldobudismo

portaldobudismoshin@gmail.com

PARÁBOLA DE BUDA SAKYAMUNI

人 間 の 実 相 とは

Como é A Verdadeira Imagem do Ser Humano

Certo dia um soberano chamado

Shoko veio participar de uma pregação

de Buda Sakyamuni. Dirigindo-

-se ao rei, que pela primeira vez viera

à sua pregação, Sakyamuni ensinou

com a seguinte parábola como é o

ser humano.

Isso aconteceu há milhões e milhões

de anos. Um viajante caminhava

solitariamente por uma extensa e

erma planície coberta de vegetação

selvagem. Era um triste entardecer

de outono onde sopravam gélidos

ventos hibernais.

Repentinamente o viajante percebeu

coisas brancas espalhadas

pelo chão.

- O que seriam?

Pegou uma delas e levou um grande

susto. Eram ossos humanos. Por

que esses ossos estavam espalhados

num lugar assim? O viajante ficou

intrigado e não pôde dar nem mais

um passo.

Então ouviu adiante um estranho

rugido e passos em sua direção.

Sondando a escuridão, viu um

enorme tigre desvairado pela fome

correndo em sua direção. Imediatamente

soube o significado daqueles

ossos. Com certeza, viajantes que

haviam passado por ali foram devorados

por aquele tigre. Ele também

corria esse mesmo risco. Desespe-

radamente começou a retornar pelo

caminho de onde viera. Porém, a terrível

respiração ofegante se aproximava

cada vez mais. Não se sabe em

que momento, ele errou o caminho e

acabou saindo à beira de um precipício

onde havia um pinheiro. Mesmo

que o escalasse não poderia escapar

do tigre. Quando estava prestes a

perder as esperanças, descobriu um

cipó que pendia da base desse pinheiro.

Imediatamente agarrou-se a

ele e desceu deslizando pelo mesmo.

Tendo escapado da morte por um

triz, o viajante olhou para cima e viu

o tigre à beira do precipício rugindo

com raiva, lamentando a perda.

- Fui salvo graças a esse cipó.

Ao olhar para baixo, o viajante deu

um grito inesperado. Abria-se aí um

mar de profundeza insondável. Além

do mais, de suas ondas sobressaíam

três dragões venenosos: um azul, um

vermelho e outro preto. Eles aguardavam

por sua queda abrindo as bocarras

vermelhas. O viajante estremecia

de tanto medo.

Porém, as emoções humanas não

duram muito. Começou a sentir

fome e a olhar em sua volta à procura

de comida. Foi neste momento que

viu a mais terrível das cenas. Não se

sabe quando apareceram, mas dois

ratos, um branco e outro preto estavam

roendo alternadamente o cipó

que era a sua vida. O viajante empalideceu.

Começou a sacudir o cipó

com toda força, mas ao invés dos ratos

fugirem, eles continuavam roendo

no mesmo ritmo.

Logo a seguir o viajante percebeu

que algo pingava lá de cima. De uma

colmeia que as abelhas formaram à

base do cipó, caíram cinco gotas de

um doce mel. No mesmo instante

em que o viajante experimentou esse

mel, esqueceu-se completamente

tanto do tigre como dos dragões e

dos ratos. Seu pensamento foi tomado

completamente pelo mel e ficou

inteiramente absorto nisso.

Quando Sakyamuni contou até

este ponto, o Rei Shoko levantou-se

e bradou:

- Venerável mestre! Não consigo

ouvir mais que isso. Como esse viajante

é tolo! Estando num lugar tão

perigoso, como consegue ficar pensando

somente no mel?

- Rei, na realidade este viajante trata-se

de você.

- O que?

- Não somente você, mas todos os

seres humanos são este viajante.

Como Sakyamuni esclareceu a

imagem do ser humano, por meio

desta parábola?


2 - Portal do Budismo - nº22 - distribuição interna Portal do Budismo nº22 - distribuição interna - 3

A minha verdadeira imagem.

Ao ler esta parábola de Sakyamuni, o grande escritor russo, Tolstoi, disse:

- Não existe melhor história do que esta que mostre tão cruamente a imagem do ser humano.

É uma verdade que qualquer pessoa consegue entender.

Vamos estudar como Sakyamuni ensinou sobre a nossa verdadeira imagem

Viajante

Viajante refere-se a todas as pessoas, refere-se a cada um de nós.

Desde antigamente dizem que a ”vida é uma viagem”.

Também no sucesso musical da cantora Missora Hibari, ” kawa no nagare no youni” (Tal

como a corrente do rio), ela cantou: ”viver é viajar”.

Eu estou ”viajando no tempo”, prosseguindo de ontem para hoje, de hoje para amanhã.

Então, de onde eu vim e para onde vou? Se for um viajante, ele sabe perfeitamente o seu

destino. Mas, e eu, conheço o meu?

Para nos ensinar a importância de conhecer o propósito da vida Sakyamuni nos comparou

a um viajante.

Entardecer de outono

Entardecer de outono simboliza a solidão do ser humano. Dentre as quatro estações do

ano, o outono não seria aquela que mais nos faz sentir a solidão?

Por que essa solidão?

Sobre isso Buda Sakyamuni disse: Dokushou, dokushi, dokko, dokurai [O homem nasce e

morre só, chega e parte só].

Como o homem nasce sozinho neste mundo, ao morrer parte sozinho também. Desde o início

até o fim, a vida é uma viagem completamente solitária. Mesmo que tenha companhias físicas

como pais, filhos, marido, esposa ou amigos, ele não possui companhias de coração, da alma.

Como não existe ninguém com quem possa compartilhar tudo, mesmo estando cercado

por uma multidão, a sua alma estará sempre estremecida pela solidão.

Ossos humanos

Os ossos humanos mostram a morte dos outros. O grande susto que ele levou ao ver os ossos

humanos exemplifica o choque que levamos ao ver ou ao ouvir sobre a morte dos outros.

A morte é algo tão assustador, que só de ouvir falar em morte sentimos um baque.

Atualmente, há abundância de informações e notícias da morte dos outros em acidentes,

assassinatos ou calamidades vindas de telejornais, jornais ou internet que invadem nossos

lares ininterruptamente.

Logicamente, o susto que se leva ao ouvir sobre a morte de alguém próximo é mais violento

do que a notícia da morte de centenas de pessoas de um país distante.

A verdade é que nós estamos andando nos campos onde estão espalhados incontáveis ossos humanos.

Tigre

A inconstância, a minha própria morte, é simbolizada pelo tigre feroz. Às costas de cada

um de nós aproxima-se esse tigre. O ato de fugir desesperadamente do tigre é a imagem do

nosso esforço para prorrogarmos um pouco mais o momento de nossa morte.

Vamos rapidamente aos supermercados para comprar os alimentos saudáveis que ouvimos

num programa de televisão para prevenir o AVC.

Num exame de rotina, levamos um choque ao ouvirmos que apareceram manchas no pulmão

e corremos a um médico em busca de tratamento, também é a imagem em que estamos

tentando de alguma maneira escapar do tigre.

Mas por mais que fujamos seremos encurralados num beco sem saída.

Acuado, o viajante descobriu um pinheiro. Este simboliza a família, a saúde, dinheiro, bens,

habilidades ou status social nos quais sempre nos apoiamos. Todos são importantes para a nossa

sobrevivência, mas não irão servir para solucionar a questão da morte. Isto é demonstrado no

fato do viajante ter pensado que mesmo subindo no pinheiro não poderia escapar do tigre.

O cipó e os ratos

O cipó no qual o viajante se encontra agarrado simboliza o tempo de vida.

A medicina evoluiu e, no Japão, a expectativa de vida das pessoas ultrapassa os 80 anos.

Mas comparada aos anos de uma grande árvore milenar ou aos cinco bilhões de anos da

existência da Terra, 100 anos de vida do homem passa num piscar de olhos.

Quanto mais envelhecemos, mais sentimos a rapidez com que o tempo passa. Uma semana,

um mês, um ano passam instantaneamente.

E o que está roendo este cipó, encurtando a nossa vida, são os dois ratos. O rato branco

simboliza o dia e o rato preto, a noite. Sem se importar se é dia de finados ou o 1º dia do ano

novo, esses ratos alternadamente continuam roendo sem parar. Logo e com certeza chegará

o momento em que um deles irá dar a última dentada. Aquele que morre de dia teve a última

mordida feita pelo rato branco e o que morre à noite, pelo rato preto.

No mesmo instante em que o cipó é rompido, o viajante cai ao mar de profundeza insondável.

Dizem que morrer é partir em viagem, mas afinal, para onde?

Exemplificamos como mar profundo de total escuridão essa questão crucial de não sabermos

para onde vamos.

Três dragões venenosos

Os três dragões venenosos simbolizam as três paixões mundanas venenosas: o desejo, a ira

e a ignorância (inveja, ciúme, ódio).

O dragão azul simboliza o desejo ilimitado. Desejo por dinheiro, por uma casa, por um

carro, por fama, por um parceiro, por mais e mais e para satisfazer o desejo ilimitado somos

capazes de ter quaisquer pensamentos terríveis.

Na partilha da herança acontecem disputas familiares e a destruição da harmonia entre

irmãos e parentes que até então existia. É uma tragédia gerada pela cobiça.

Se este desejo for atrapalhado surge a ira que é simbolizada pelo dragão vermelho. Uma

vez que o clamor da ira seja atiçado, tudo vai pelos ares. Há casos em que se destrói tudo, o

status tão cuidadosamente criado ou os relacionamentos humanos.

A ignorância é simbolizada pelo dragão preto. É um sentimento desprezível de invejar as

habilidades, a beleza, a riqueza e o poder dos outros. E ainda, alegrar-se com seus sofrimentos

e infortúnios.

Praticamos maldades com essas paixões mundanas e, pelo princípio da causalidade, adentraremos

no mundo de sofrimento. Esta é a nossa verdadeira imagem.

As cinco gotas do mel de abelha

Elas simbolizam os cinco desejos: o apetite, a ganância, a luxúria, a vaidade e a preguiça.

O apetite é a vontade de comer e beber. Chega-se a ponto de existir pessoas que dizem que

a sua satisfação é somente comer. É extremamente doloroso não podermos comer por causa

de alguma doença, a tal ponto é forte o nosso apetite.

A ganância é o desejo de lucrar, de não levar prejuízo. Somos movidos pela ganância

quando verificamos folhetos com a máxima atenção comparando onde comprar ovos, um

centavo mais barato ou quando examinamos com cuidado, qual a loja mais barata.

A luxúria nos leva a procurar a quem amar. Em qualquer época ou lugar não cessam escândalos

sensuais.

A vaidade é o desejo de não ser feito de idiota, ser reconhecido e admirado.

Pensar em fazer um grande empreendimento, ir à lua num foguete, mesmo consciente dos

perigos ou escalar altas montanhas, é ser movido pela vaidade, pelo desejo de ser admirado.

A preguiça é o desejo de não fazer nada, de ficar sempre dormindo.

Como oferecer em abundância essas cinco gotas de mel? Para isso todas as atividades

humanas como a política, a economia, a ciência, a medicina, os esportes, as artes e outras se

esforçam ao máximo.

Mas não é estranho, estando nesta condição perigosa de morte iminente, tendo acima o

tigre, abaixo os dragões venenosos e agarrado a um cipó que não se sabe quando irá se romper,

ficar pensando apenas no mel?



4 - Portal do Budismo - nº22 - distribuição interna

SALA DE BUDISMO aprendendo os termos de budismo

Palavra de hoje:

諸 行 無 常

Tudo é inconstante

Buda Sakyamuni nos ensinou que

tudo no mundo é inconstante, nada

dura para sempre. Na Índia de 2600

anos atrás e hoje no Japão também,

apesar da evolução da ciência e da

sociedade, é uma verdade que não se

altera em qualquer época ou lugar.

O que buscamos diariamente com

todo esforço não seriam: uma família

calorosa, um trabalho que valha a

pena, bons relacionamentos humanos,

uma vida cheia de lazer ou vida

longa com saúde? Se isto continuasse

para sempre seria ótimo, mas para

nossa tristeza, tudo é impermanente.

Há a diferença de mudar rapidamente

ou essa mudança demorar um

pouco, mas para qualquer felicidade

a partir do instante que ela for obtida

inicia-se a sua destruição.

Os sentimentos das pessoas também

são inconstantes. No momento

que construímos a casa tão sonhada,

a sensação de realização é especial,

mas à medida que vamos acostumando-nos

a ela, acabamos achando isso

natural e a alegria vai pouco a pouco

se desvanecendo. O amor também

não é exceção. No dia daquele casamento

tão pomposo, talvez nem tivesse

imaginado, mas os sentimentos

mudam facilmente e não são poucos

os casais que se separam.

Talvez tenham casais que continuam

juntos por muito tempo, mas

para qualquer deles chegará o último

dia de vida.

Quando enfim tivermos que morrer,

o que vai acontecer com a felicidade

que foi obtida com tanto suor

e lágrimas? Não há como morrer levando

a poupança acumulada. Nem

mesmo a tão amada família vai entrar

conosco no caixão. Teremos

que partir completamente só num

mundo desconhecido.

O mestre Rennyo disse o seguinte:

- No momento da morte, nada

com que antes contávamos, mulher,

filhos, dinheiro, tesouros, nos acompanhará.

Sozinhos temos que ir pela

estrada da montanha da morte. [ 11ª

carta do 1º volume de Epístolas –

Gobunsho].

Afinal, para onde vamos?

No momento da morte qualquer

felicidade será completamente destruída.

Essa nossa imagem em que

pensamos apenas em buscar tais felicidades,

Buda Sakyamuni nos ensina

na sua “Parábola da verdadeira imagem

do ser humano”, que ficamos

pensando unicamente no mel.

Buda Sakyamuni explicou-nos

com todo vigor a respeito do “tudo é

inconstante” para nos esclarecer que

nascemos como seres humanos para

alcançarmos a verdadeira felicidade,

a felicidade absoluta que jamais se

acaba apesar de vivermos num mundo

em que tudo desaparece.

Dizem que perceber a inconstância

é o primeiro passo para a felicidade.

Perceber a inconstância é a porta de

entrada para encontrarmos a verdadeira

felicidade.

UM CAMINHO DE FLORES

Há um conto de Liev Tolstói (1828-

1910) sobre um camponês que ambicionava

muitas terras e ouviu falar de

um país tão vasto que, para possuir

terras lá, bastava pedir. Ele foi até esse

país e descobriu que era verdade. Os

habitantes e o governante todos lhe

deram as boas-vindas. O governante

disse ao camponês que ele podia tomar

posse de quantas terras quisesse:

tantas quanto pudesse percorrer a pé

num único dia.

“Só existe uma condição”, acrescentou

ele. “O senhor tem de partir ao

nascer do sol e voltar ao ponto de partida

antes do pôr do sol. Comece onde

quiser e vá marcando os cantos. Percorra

a distância que quiser, mas volte

a tempo, senão não ganhará nada.”

Quanto basta?

Naquela noite, o camponês ficou

acordado, entusiasmado com a ideia

das vastas terras à sua espera. De

manhã, ele partiu assim que o dia começou

a nascer e logo encontrou um

ponto de partida para sua terra. Aos

poucos, foi acelerando o passo.

Depois de avançar muitos quilômetros,

marcou outro canto. Por fim,

rompeu numa corrida, impulsionado

pela ideia de que, quanto mais depressa

fosse, mais terras possuiria. Chegou

a um ponto que julgou um local

razoável para voltar, mas seguiu em

frente, instigado pela ambição. Por

fim, surpreso por ver o sol já muito

alto, marcou o último canto e se pôs

a correr de volta ao ponto de partida.

Mal teve tempo de almoçar. No meio

da tarde, estava exausto, porém jogou

fora o paletó e as botas e continuou a

corrida. O céu estava vermelho com o

pôr do sol. Seus pés estavam machucados,

ensanguentados, e seu coração, a

ponto de explodir. No entanto, se tombasse

agora, todo o esforço teria sido

em vão. Correu o mais que pôde, com

os olhos no ponto de chegada.

Seu esforço foi recompensado, porque

ele chegou de volta bem a tempo.

Mas infelizmente tombou morto

como uma pedra. O governante mandou

seu criado fazer uma cova e enterrá-lo.

No fim, toda a terra que esse

camponês conseguiu foi uma campa

de dois metros por trinta centímetros.

O camponês de Tolstói não é o único

ser ambicioso. A cobiça mata a todos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!