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Portal do Budismo nº20

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<strong>Portal</strong> <strong>do</strong> <strong>Budismo</strong> <strong>nº20</strong> - distribuição interna - 1<br />

www.yumpu.com/user/portal<strong>do</strong>budismo<br />

Investigar o “Verdadeiro Eu”<br />

portal<strong>do</strong>budismoshin@gmail.com<br />

Era uma vez um pesca<strong>do</strong>r<br />

chama<strong>do</strong> Urashima Tarô.<br />

Quan<strong>do</strong> ele caminhava pela<br />

praia, avistou algumas<br />

crianças maltratan<strong>do</strong> uma<br />

tartaruga.<br />

Parem com<br />

iSso! Coitada<br />

dela. Tomem<br />

este dinheiro<br />

e soltem a<br />

tartaruga!<br />

Você<br />

está<br />

bem?<br />

Obrigada!<br />

O senhor<br />

é muito<br />

solidário!<br />

Assim, a tartaruga<br />

retornou<br />

para o mar.<br />

Bem,<br />

cuide-<br />

-se.<br />

No<br />

dia<br />

seguinte.<br />

Ei! Você<br />

é a<br />

tartaruga<br />

de<br />

ontem?<br />

Uau! Um<br />

castelo<br />

no fun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> mar.<br />

Por<br />

favor,<br />

relaxe e<br />

fique o<br />

quanto<br />

quiser.<br />

Passa<strong>do</strong>s<br />

alguns<br />

dias…<br />

Em gratidão,<br />

eu o<br />

levarei a<br />

um lugar<br />

maravilhoso.<br />

Bem-<br />

-vin<strong>do</strong>!<br />

Estou<br />

preocupa<strong>do</strong><br />

com a<br />

minha família<br />

e vou<br />

embora.<br />

Está bem. Então<br />

leve esta caixa<br />

como lembrança e<br />

abra quan<strong>do</strong> estiver<br />

em apuros.<br />

Ao voltar...<br />

...não havia sinal da sua<br />

casa, nem da aldeia onde<br />

morava e to<strong>do</strong>s com os<br />

quais ele cruzava eram<br />

desconheci<strong>do</strong>s.<br />

Mãe!<br />

Pessoal!<br />

E agora?<br />

O<br />

que eu<br />

faço?<br />

É isso!<br />

Vou abrir<br />

aquela<br />

caixa!<br />

Ei!!<br />

Quan<strong>do</strong> Urashima<br />

Tarô abriu a caixa,<br />

surgiu uma fumaça<br />

branca e imediatamente<br />

ele se<br />

transformou num<br />

ancião.<br />

Por<br />

quê?<br />

Ele fez<br />

uma boa<br />

ação!<br />

Mas, será<br />

que Urashima<br />

Tarô era<br />

uma pessoa<br />

bon<strong>do</strong>sa<br />

mesmo?<br />

Como<br />

assim?<br />

Pense bem. Se<br />

Urashima Tarô<br />

amasse os animais<br />

mesmo, ele<br />

deveria quebrar<br />

a sua vara.<br />

Se ele mata milhares com<br />

naturalidade e, só porque<br />

casualmente salvou um único<br />

animal apresenta-se como<br />

alguém compassivo,<br />

será que<br />

não é demasiadamente<br />

falso?<br />

Hã?<br />

Mas se<br />

ele não<br />

pescar,<br />

como<br />

irá<br />

sobreviver?<br />

Isso mesmo,<br />

salvar uma vida<br />

até consegue,<br />

mas sem tirar a<br />

vida de outros<br />

milhões, não se<br />

consegue. Aí sim,<br />

está a imagem<br />

delimitada <strong>do</strong> ser<br />

humano que é<br />

Urashima<br />

Tarô.<br />

Essa é<br />

também<br />

a<br />

nossa<br />

imagem.<br />

Entendi…<br />

Mas então,<br />

por<br />

que ele<br />

ficou velhinho?<br />

Nós só praticamos o mal, porém vivemos<br />

presunçosos acreditan<strong>do</strong> que fazemos o<br />

bem e, assim, os dias passam velozmente.<br />

No momento em que se assustar com a vida<br />

como uma súbita fumaça branca, a vida já<br />

terá chega<strong>do</strong> ao seu fim.<br />

No entanto, o Voto <strong>do</strong> Buda Amida promete<br />

salvar a nós que somos assim, para a felicidade<br />

absoluta.<br />

Por isso<br />

mesmo, vamos<br />

ouvir<br />

atentamente<br />

este Voto.<br />

Sim!


2 - <strong>Portal</strong> <strong>do</strong> <strong>Budismo</strong> - <strong>nº20</strong> - distribuição interna<br />

O <strong>Budismo</strong> enfatiza a “ação mental”<br />

No <strong>Budismo</strong>, a ação <strong>do</strong> ser humano<br />

é analisada através de três aspectos:<br />

a física, a verbal e a mental. Mais <strong>do</strong><br />

que as atividades <strong>do</strong> corpo e da boca,<br />

dá mais ênfase para o que “a mente<br />

está pensan<strong>do</strong>”. Este é um ponto que<br />

difere consideravelmente da ética e<br />

senso comum da sociedade.<br />

Em um julgamento, o ponto em<br />

questão é se “cometeu ou não” fisicamente<br />

e quan<strong>do</strong> se trata de extorsão<br />

ou fraude, toma-se como tópico, se<br />

“disse ou não” verbalmente. Mas no<br />

<strong>Budismo</strong>, o foco está na ação mental,<br />

se “pensou ou não”.<br />

◆<br />

Qual a razão para dar tal importância<br />

à ação da mente? Isso é devi<strong>do</strong><br />

ao fato da mente ser o comandante<br />

da boca e <strong>do</strong> corpo. Todas as nossas<br />

falas e atitudes são resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

cumprimento às ordens da mente, ou<br />

seja, seguin<strong>do</strong> as instruções da mente<br />

é que a boca fala e o corpo age.<br />

Por exemplo, a “mente” decide o<br />

movimento <strong>do</strong> “corpo” como para<br />

onde irei hoje. Se eu ficar perdi<strong>do</strong>,<br />

peço informação “verbalmente” a<br />

alguém, porque a “mente” ordena a<br />

agir desta forma.<br />

Se a boca falou mal de alguém, foi<br />

a “mente” que fez com que proferisse<br />

isso. Quan<strong>do</strong> o corpo age com maldade,<br />

isso também foi oriun<strong>do</strong> da “mente”,<br />

portanto Buda Sakyamuni ensina que a<br />

“mente” é a responsável imprescindível.<br />

Fazen<strong>do</strong> uma analogia, a mente seria<br />

a base <strong>do</strong> fogo, enquanto que boca<br />

e corpo seriam as fagulhas e as labaredas.<br />

Da mesma forma como as fagulhas<br />

e labaredas provêm <strong>do</strong> foco <strong>do</strong><br />

fogo, tanto as ações verbais quanto as<br />

físicas também provêm da mente. Por<br />

esta razão, o budismo sempre volta à<br />

atenção ao movimento da mente que<br />

é a responsável por todas as ações.<br />

◆<br />

Então, vamos analisar como é a<br />

mente humana. Será que conseguimos<br />

falar exatamente tu<strong>do</strong> aquilo<br />

que a nossa mente está pensan<strong>do</strong>?<br />

Mesmo que consigamos falar até cer-<br />

to ponto entre pais e filhos ou mari<strong>do</strong><br />

e esposa, será que conseguimos<br />

nos abrir por completo, dizen<strong>do</strong> exatamente<br />

tu<strong>do</strong> aquilo que pensamos<br />

sem esconder nada?<br />

Quan<strong>do</strong> as coisas não acontecem<br />

conforme a sua vontade, qual é o<br />

sentimento que surge em relação<br />

àquela pessoa que te prejudicou?<br />

Ou então, quan<strong>do</strong> está cuidan<strong>do</strong> de<br />

alguém acama<strong>do</strong> há muito tempo, a<br />

sua liberdade física e mental acaba<br />

sen<strong>do</strong> privada; numa situação assim,<br />

não surge um sentimento o qual não<br />

teria coragem de falar para ninguém?<br />

“Pior <strong>do</strong> que o crime de matar física<br />

ou verbalmente, é o crime cometi<strong>do</strong><br />

pelo pensamento”. Sakyamuni nos<br />

ensina que o crime <strong>do</strong> pensamento<br />

tem um peso muito maior que as más<br />

ações praticadas pela boca e pelo corpo.<br />

Torna-se muito importante voltarmos<br />

os olhos às ações da mente.<br />

Desejo<br />

Se não tem, quer porque não tem.<br />

Se tem, quer mais e mais. A busca<br />

incessante provoca <strong>do</strong>r e sofrimento,<br />

este é o desejo. “Quer ser o objeto <strong>do</strong><br />

desejo das pessoas, quer ser o centro<br />

das atenções, quer ser reconheci<strong>do</strong> e<br />

elogia<strong>do</strong>, quer dinheiro, quer bens”<br />

e, dessa forma, desde manhã até a<br />

noite, é manipula<strong>do</strong> pelo desejo.<br />

Ira<br />

Quan<strong>do</strong> o desejo é atrapalha<strong>do</strong> as<br />

chamas da ira queimam dentro de<br />

nós e tu<strong>do</strong> que foi conquista<strong>do</strong> até<br />

então como educação, conhecimento<br />

e experiência voam pelos ares. Diz<br />

aquilo que não pode ser dito, faz coisas<br />

que não podem ser feitas e assim,<br />

rompe o relacionamento conjugal geran<strong>do</strong><br />

o divórcio, os desentendimentos<br />

dessa natureza nunca acabam.<br />

Ignorância<br />

“Invejar os melhores”. Ignorância<br />

é invejar aquele que é talentoso, que<br />

é belo, que foi aprova<strong>do</strong> no serviço<br />

ou que teve reconhecimento. Ao<br />

contrário, também é o sentimento<br />

de sentir prazer pelo fracasso e desgraça<br />

alheia. Numa empresa, quan<strong>do</strong><br />

seu rival comete uma falha e recebe<br />

advertência <strong>do</strong> chefe, surge dentro<br />

de si um sentimento vergonhoso<br />

de contentamento e deleite. Mestre<br />

Shinran ensina que esse sentimento<br />

é tão assusta<strong>do</strong>r e arrepiante como<br />

a sensação de calafrio que sentimos<br />

quan<strong>do</strong> defrontamos com uma cobra<br />

ou escorpião.


<strong>Portal</strong> <strong>do</strong> <strong>Budismo</strong> <strong>nº20</strong> - distribuição interna - 3<br />

1. Desejo<br />

É um sentimento sem fim e, através dele, praticam-se<br />

maus atos. Quer dinheiro, quer receber<br />

elogios, buscar aquilo que almeja ilimitadamente<br />

e sempre queren<strong>do</strong> mais e mais. Por<br />

causa <strong>do</strong> desejo surgem pensamentos horríveis<br />

mesmo para com os pais, filhos, irmãos e<br />

mesmo a quem tem uma dívida de gratidão.<br />

Boca<br />

(ação verbal)<br />

2. Ira<br />

É um sentimento de fúria que faz cometer o<br />

mal através dele. Quan<strong>do</strong> o desejo é importuna<strong>do</strong>,<br />

pensa “tive um grande prejuízo por<br />

causa daquele sujeito”, “passei humilhação<br />

por causa desse desgraça<strong>do</strong>” e com a mente<br />

acaba esquartejan<strong>do</strong> e matan<strong>do</strong> a pessoa.<br />

Mente<br />

(ação mental)<br />

3. Ignorância<br />

Trata-se <strong>do</strong>s sentimentos de inveja, ciúme e<br />

rancor. Inveja o talento, a beleza, a riqueza, a<br />

fama, o eleva<strong>do</strong> status social de outros e surge<br />

em forma de satisfação pela infelicidade alheia.<br />

Corpo<br />

(ação física)<br />

8. Matar<br />

Matar seres que estão vivos.<br />

4. Lisonjear<br />

Palavras ditas com falsidade (bajulação) a fim<br />

de enganar e tirar vantagens sobre os outros.<br />

5. Ter duas línguas<br />

Significa ter “duas caras”. Causar intrigas entre<br />

duas pessoas no intuito de destruir a amizade<br />

delas e causar o afastamento de ambos.<br />

6. Maldizer<br />

Caluniar e criticar os outros. Machucar as pessoas<br />

através das palavras.<br />

7. Mentir<br />

Falar inverdades e, assim, provocar o sofrimento<br />

alheio.<br />

9. Roubar<br />

Surrupiar coisas <strong>do</strong>s outros. Fazer uso e desfrutar<br />

daquilo que não é <strong>do</strong> próprio mérito.<br />

Inclui usurpar o precioso tempo de outras<br />

pessoas também.<br />

10. Trair<br />

Infidelidade entre casais e companheiros.<br />

“Eu estou matan<strong>do</strong>?” — As Três formas de matar seres vivos<br />

Buda Sakyamuni ensina que há três<br />

formas de cometer o “crime de matar<br />

os seres vivos”, denomina<strong>do</strong>s jisatsu,<br />

tasatsu e zuikidôgo.<br />

O primeiro, jisatsu, é uma palavra<br />

japonesa com o significa<strong>do</strong> de “suicídio”,<br />

porém no budismo tem o<br />

significa<strong>do</strong> de “matar com as suas<br />

próprias mãos”, ou seja, “eu” matar<br />

algum ser vivo.<br />

Refere-se ao ato de matar peixes ou<br />

aves para se alimentar, matar pernilongos<br />

ou formigas por impulso da raiva<br />

de ter si<strong>do</strong> pica<strong>do</strong>, ou então, matar por<br />

diversão como a pesca ou a caça.<br />

Apontan<strong>do</strong> inúmeras justificativas,<br />

dizen<strong>do</strong> que “é para a nossa sobrevivência”<br />

ou que “é prejudicial aos humanos”,<br />

mal sabemos quantas vidas<br />

estamos tiran<strong>do</strong> diariamente. Só de<br />

andarmos na rua, não temos consciência<br />

da quantidade de insetos que<br />

estamos matan<strong>do</strong> pisotean<strong>do</strong>-os.<br />

◆<br />

Tasatsu trata-se <strong>do</strong> crime de matar,<br />

ordenan<strong>do</strong> ou autorizan<strong>do</strong> outras<br />

pessoas a matar. Mesmo que<br />

não mate pessoalmente, se alguém<br />

o faz por você, é ensina<strong>do</strong> que esta-<br />

rá igualmente cometen<strong>do</strong> o crime de<br />

matar. O pesca<strong>do</strong>r mata os peixes e<br />

bois e porcos também são mortos no<br />

mata<strong>do</strong>uro, tu<strong>do</strong> isso porque existem<br />

pessoas que compram essas carnes<br />

para comerem. Isto é, estamos solicitan<strong>do</strong><br />

para que as peixarias e os<br />

açougues matem para nós e por essa<br />

razão nós estamos cometen<strong>do</strong> o crime<br />

<strong>do</strong> tasatsu.<br />

Mesmo dizen<strong>do</strong> “eu sou vegetariano,<br />

por isso não estou matan<strong>do</strong>”,<br />

não significa que está deixan<strong>do</strong> de<br />

praticá-lo. Isso porque, para o agricultor<br />

produzir um único repolho é<br />

necessário matar inúmeros insetos e<br />

pragas. Existem aqueles que não utilizam<br />

agrotóxicos, mas neste caso os<br />

agricultores matam as pragas de outra<br />

maneira. Não se consegue realizar a<br />

Eu sou<br />

vegetariana...<br />

colheita sem matar as pragas que prejudicam<br />

a produção agrícola, portanto<br />

compran<strong>do</strong> e se alimentan<strong>do</strong> desse<br />

vegetal estará cometen<strong>do</strong> o tasatsu.<br />

◆<br />

Quan<strong>do</strong> fica satisfeito ao ver alguém<br />

matar um ser vivo, estará também<br />

cometen<strong>do</strong> o mesmo crime, este<br />

é o zuikidôgo. Por não ter coragem<br />

de exterminar ratos e baratas, pede<br />

para que alguém o faça para você e,<br />

dessa forma, quem pediu estará cometen<strong>do</strong><br />

o tasatsu. Com o sucesso<br />

<strong>do</strong> extermínio, aqueles que ficaram<br />

alivia<strong>do</strong>s praticaram o zuikidôgo. E<br />

também, ensina-se que to<strong>do</strong>s que saboreiam<br />

carnes e peixes estão igualmente<br />

cometen<strong>do</strong> o crime de matar<br />

da forma zuikidôgo.<br />

◆<br />

Se refletirmos sobre as nossas ações<br />

diárias, tomaremos ciência de que<br />

somos seres que não conseguem deixar<br />

de matar para poder sobreviver.<br />

A nós, que somos seres extremamente<br />

maus dessa forma, o Voto <strong>do</strong> Buda<br />

Amida promete salvar exatamente<br />

como somos, “em vida, infalivelmente<br />

para a felicidade absoluta”.


4 - <strong>Portal</strong> <strong>do</strong> <strong>Budismo</strong> - <strong>nº20</strong> - distribuição interna<br />

SALA DE BUDISMO aprenden<strong>do</strong> os termos de budismo<br />

Palavra de hoje:<br />

大 悲 の 願 船<br />

Navio <strong>do</strong> Voto da Grande<br />

Compaixão<br />

Desde o nascimento até a morte<br />

sofremos continuamente através <strong>do</strong><br />

desejo, da ira, <strong>do</strong> ciúme, da inveja e<br />

<strong>do</strong> sentimento de rancor. A essa real<br />

natureza humana, o mestre Shinran<br />

ensina que somos “seres compostos<br />

de paixões mundanas”.<br />

“Paixões mundanas” são os sentimentos<br />

de desejo, ira, inveja, ódio,<br />

entre outros.<br />

“Seres” referem-se aos humanos<br />

e “composto” é sinônimo de ser<br />

forma<strong>do</strong>, ser feito, ou seja, “seres<br />

compostos de paixões mundanas”<br />

significa que somos um “aglomera<strong>do</strong><br />

de paixões mundanas”, isto é, o<br />

ser humano é 100% constituí<strong>do</strong> de<br />

paixões mundanas.<br />

◆<br />

Motiva<strong>do</strong>s pelas paixões mundanas<br />

cometemos maldades e a nossa<br />

vida torna-se um constante sofrimento.<br />

A essa vida, mestre Shinran<br />

faz uma analogia com um mar onde<br />

a fúria das ondas nunca cessa, denominan<strong>do</strong>-o<br />

“mar de difícil travessia”.<br />

Mesmo conseguin<strong>do</strong> superar uma<br />

onda de sofrimento, logo vem outra<br />

e elas nunca acabam.<br />

Se viver esta vida ao capricho das<br />

paixões mundanas e terminá-la em<br />

sofrimentos, após a morte, o próximo<br />

mun<strong>do</strong> também será de sofrimentos.<br />

O Buda Amida, ao entrever<br />

a nossa lamentosa situação, desperta<br />

a sua Grande Compaixão — “Coita<strong>do</strong>s,<br />

quero fazer com que desfrutem<br />

da verdadeira felicidade” — e assim<br />

firma o seu Voto.<br />

A esse Voto <strong>do</strong> Buda Amida mestre<br />

Shinran faz uma similaridade a um<br />

navio, citan<strong>do</strong>-o como o “Grande<br />

Navio para transpor este mar de difí-<br />

cil travessia” ou o “Navio <strong>do</strong> Voto da<br />

Grande Compaixão”.<br />

Graças à Grande Compaixão <strong>do</strong><br />

Buda Amida, mesmo sen<strong>do</strong> repletos<br />

de paixões mundanas como desejo e<br />

raiva, nós seremos coloca<strong>do</strong>s, agora<br />

em vida, a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> grande navio.<br />

◆<br />

“Embarcar no grande navio, mesmo<br />

sen<strong>do</strong> repletos de paixões mundanas”.<br />

O que isso significa?<br />

Por exemplo, se colocar uma pedra<br />

de 100 toneladas na água, certamente<br />

ela afundará. No entanto, existe uma<br />

forma de fazer com que esta gigantesca<br />

rocha não afunde. Basta colocá-la<br />

a bor<strong>do</strong> de um navio com capacidade<br />

para suportar facilmente seu<br />

peso. Isso possibilitará que a pedra,<br />

sem alterar em nada o seu peso de<br />

100 toneladas, não afunde na água.<br />

Da mesma forma, o navio <strong>do</strong> Voto<br />

da Grande Compaixão foi construí<strong>do</strong><br />

ciente de que todas as pessoas<br />

são feitas exclusivamente de paixões<br />

mundanas, por isso, seremos salvos<br />

exatamente da maneira que somos:<br />

feitos de paixões mundanas e sen<strong>do</strong><br />

seres imbuí<strong>do</strong>s pelo mal ao extremo.<br />

O Buda Amida não nos impôs nenhuma<br />

condição como “diminua<br />

a ganância”, “livre-se da raiva” ou<br />

“isente-se de ciúmes e invejas”. Não<br />

existe razão em solicitar algo impossível<br />

como pedir para aquele que é<br />

feito de paixões mundanas para livrar-se<br />

delas.<br />

◆<br />

Para ser alça<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Navio<br />

<strong>do</strong> Voto da Grande Compaixão é<br />

“unicamente ouvin<strong>do</strong> o Voto”. No<br />

instante em que ouvir o Voto <strong>do</strong> Buda<br />

Amida será coloca<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

grande navio, e ficará claro que, com<br />

absoluta certeza, mesmo que morra<br />

a qualquer hora, irá infalivelmente<br />

para a Terra Pura de extrema alegria<br />

<strong>do</strong> Buda Amida. Nós nascemos para<br />

conseguirmos atingir a felicidade absoluta,<br />

obten<strong>do</strong> agora em vida, a certeza<br />

sobre a vida após-morte.<br />

Mesmo repleto de paixões mundanas desfruta da felicidade absoluta<br />

UM CAMINHO DE FLORES<br />

Vinte e quatro mortes<br />

Uma senhora com mais de 120<br />

anos um dia recebeu um visitante,<br />

que fez o seguinte comentário: “A<br />

senhora deve ter ti<strong>do</strong> muitas experiências<br />

interessantes na longa jornada<br />

de sua vida. Gostaria de revelar alguma<br />

lembrança para mim?”<br />

“Claro que muita coisa aconteceu, mas<br />

minha memória não é mais a mesma.<br />

Acho que esqueci de tu<strong>do</strong>”, respondeu a<br />

velha senhora, sacudin<strong>do</strong> a cabeça.<br />

Simpático, o visitante concor<strong>do</strong>u<br />

que isso era natural para alguém com<br />

idade tão avançada, mas insistiu:<br />

“Não se lembra de nem uma coisa?”.<br />

“Bem, já que insiste, vou contar.<br />

Tenho lembranças <strong>do</strong>lorosas de ter<br />

morri<strong>do</strong> vinte e quatro vezes.” A velha<br />

murmurou essas palavras misteriosas<br />

franzin<strong>do</strong> a testa enrugada.<br />

Quan<strong>do</strong> o visitante pediu uma explicação,<br />

ela começou a contar a história<br />

toda em tom triste e com muitas pausas.<br />

“Durante a minha vida, vi o nascimento<br />

de muitos filhos, netos e bisnetos.<br />

Mas a morte faz parte da vida<br />

e pode levar qualquer um a qualquer<br />

momento, seja moço, seja velho, então<br />

já presenciei a morte de filhos,<br />

netos e bisnetos. No total, foram vinte<br />

e quatro funerais nesta casa. E em<br />

todas as vezes, os conheci<strong>do</strong>s vinham<br />

apresentar con<strong>do</strong>lências e diziam ‘A<br />

velha é quem devia ter morri<strong>do</strong>!’.<br />

Esses ao menos sussurravam em outra<br />

sala, por consideração a mim, porém<br />

meus netos e bisnetos diziam isso<br />

de propósito na minha cara. Quantas<br />

vezes me mataram com suas palavras.”<br />

De fato, a boca é o portal <strong>do</strong> infortúnio.<br />

Nunca saberemos quantas<br />

pessoas podemos ter feri<strong>do</strong> ou mata<strong>do</strong><br />

com nossas palavras.

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