portal.2019.No23
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Portal do Budismo nº23 - distribuição interna - 1
No filme “Por que vivemos”, Mestre Rennyo compara a
nossa “vida” ao “mar”.
No vasto mar, tudo o que a vista alcança é apenas céu
e água e não temos qualquer senso de direção. Ao nascer
todos os seres humanos são lançados na imensidão
do oceano.
Afundaremos se não nadarmos. Temos de nadar com
força total. Isso é porque no momento em que nascemos,
esforçamos ao máximo para viver.
No entanto, temos limitação na nossa força, por isso não
poderemos nadar para sempre. Da mesma forma, a nossa
vida é limitada. Com certeza, chegará ao fim.
Nessa vida que é como nadar no mar, o que pensamos?
Estamos nos esforçando para buscar o quê? Meswww.yumpu.com/user/portaldobudismo
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ESTUDO DO BUDISMO Aprendendo com o filme “Por que vivemos”
O ponto mais importante do filme “Por que vivemos”
tre Rennyo ensina da seguinte forma.
*
*
Logo morreremos afogados. Isso é inevitável. No entanto,
ocupamos a mente apenas em como nadar. Desde o momento
em que nascemos, todo o nosso esforço se concentra
em como viver. Se alguém fica um pouco desanimado, incentivamos:
“Não desista! Viva!”.
Mas pensando bem, isso não faz sentido.
Em breve, com certeza, morreremos e, mesmo assim, temos
de viver apesar da angústia. Por quê? Não é estranho?
*
*
Afinal, o que o Mestre Rennyo nos ensina através dessa
palavra “estranho”? Nesta frase é ensinado o ponto mais
importante do filme.
2 - Portal do Budismo - nº23 - distribuição interna Portal do Budismo nº23 - distribuição interna - 3
“Apenas semblantes de que viverão para sempre”
Fato estranho
Com 100% de certeza vamos
morrer e só estamos pensando
nos “meios de vida”
“Meios de vida” são as “motivações”.
Todas as pessoas vivem com as suas
“motivações”, tais como:
• Saborear o quanto quiser do seu
bolo preferido;
• Trabalhar para ter o prazer de
saborear a cervejinha depois do
jantar todos os dias;
• Construir uma família feliz com
a pessoa amada;
• Ter sucesso no trabalho e viver
com conforto;
• Aplicar bastante dinheiro na
poupança e acabar com a insegurança
da aposentadoria;
• Salvar as pessoas que estão sofrendo
e deixar o nome na história;
Todos os exemplos são “meios de
vida”, “motivações” para satisfazer
os desejos, as ambições e alcançar
a felicidade.
■
“Motivação” pode ser comparado
às “toras” que flutuam por perto
no mar onde só se avistam o céu
e a água.
Buscar com empenho os “meios
de vida” que achamos que nos tornarão
felizes pode ser comparado a
No momento em que nascemos
somos atirados ao mar e, com certeza,
morreremos afogados, mas se
apenas pensarmos em “como nadar”
(nadar em direção a algum tipo de
tora), o que irá acontecer?
Assim como há diversas formas de nadar, como: nado livre, nado peito, nado de costas, existem diversas maneiras
de viver. Se existem sete bilhões de pessoas, há sete bilhões de formas de viver, cada uma diferente da outra.
Mas o que é comum nelas é que todos estão “buscando a felicidade”. E buscam a felicidade para “satisfazer seus
desejos e ambições”. Por isso, todas as pessoas vivem escolhendo os “meios de vida” que satisfaçam os seus desejos.
É muito importante pensar nos “meios de vida”. Mas, não viveremos para sempre, um dia, com certeza, teremos
que morrer. Será que é correto pensar apenas nos “meios de vida”, apenas em viver?
nadar com todas as forças em direção
às toras.
Quando alcançamos uma “tora”
sentimos alívio, mas isso não dura,
pois quando vem uma grande onda,
somos separados dela e sofremos novamente.
Assim, temos que buscar
outra tora.
Mesmo que perca uma “tora”,
não há fim no desejo da busca de
outras “toras”.
■
Mesmo aquela pessoa que foi
diagnosticada com câncer e desenganada
que diz: “Quero pensar em
como viver com o tempo que ainda
me resta” procura os “meios de
vida” e “motivações” para alcançar a
felicidade. É a imagem de estar buscando
as “toras”.
Porém, isso é o mesmo que apesar
de ter de morrer afogado em breve,
só pensa em “como nadar” ou nas
“maneiras de nadar”.
Dessa forma, mesmo que continue
buscando as toras, no final perderá
todas, não terá forças nem de se
agarrar a elas. Não é claro que terá de
morrer afogado?
■
Os “meios de vida” (“motivações”
ou “como viver“) ou “que tipo de
tora buscar para alcançar a felicidade”
são importantes enquanto
estamos vivendo.
Assim como o Mestre Rennyo diz:
“Logo morreremos afogados. Isso é
inevitável”, teremos infalivelmente
de morrer. Isso não se trata somente
daquele que foi desenganado e não
tem muito tempo de vida. Todas as
pessoas do passado, do presente e do
futuro, do ocidente e do oriente têm
apenas um “tempo limitado de vida”,
além disso, “é uma vida que pode terminar
hoje ou amanhã”.
Há casos em que a pessoa se recupera
de uma doença e recebe alta
hospitalar, mas no mesmo dia falece.
■
Mesmo assim, “com a intenção de
viver para sempre”, só pensa em “viver”,
ou seja, pensa apenas nos “meios
de vida” (motivações, como viver).
Então, será que não existe
algo mais importante em que
devemos pensar?
“O SEMBLANTE SAUDÁVEL DA MANHÃ
PODE TRANSFORMAR-SE EM CINZAS
AO ENTARDECER” (Epístola dos Ossos
Brancos – Mestre Rennyo)
Mestre Rennyo escreveu na famosa
coletânea de cartas chamada
“Gobunsho”, na Epístola dos Ossos
Brancos: “O semblante saudável
da manhã pode transformar-se em
cinzas ao entardecer”.
De manhã, como de costume, o
marido, a esposa, o filho ou a filha
sai de casa dizendo: “Estou indo! Até
mais tarde!”. Porém, torna-se vítima
de um acidente de trânsito, de um desastre
natural ou de algum outro acidente
trágico e, ao entardecer, acaba
retornando totalmente desfigurado.
Um forte terremoto atingiu o Japão
no exato momento da locomoção dos
alunos à escola. Aconteceu um triste
incidente em que o muro da piscina
de uma escola de nível fundamental
desmoronou em cima de uma menina
de nove anos que acabou falecendo.
Ninguém imaginava, em hipótese
alguma, que poderia acontecer um
terremoto nesse dia, nesse local.
No filme “Por que vivemos”, há
uma cena em que a esposa de
Ryoken (protagonista), Chiyo, grávida
no último mês de gestação,
morre ao ser atingida por um raio.
No caminho de volta do crematório,
os familiares conversam:
- Justo agora que ia ter o filho. Estava
no auge da felicidade.
- Puxa, como a vida é inconstante.
- É. A pessoa tá boa de manhã, de
noite tá morta...
A vida do ser humano é efêmera. Não
sabemos quando ela acaba, se é hoje ou
se será amanhã, e isso não muda nem
no passado e nem no presente.
DIVERSOS “MEIOS DE VIDA” (MOTIVAÇÕES, COMO VIVER):
• Desfrutar do prazer de saborear
os pratos;
• Viver em prol da sociedade
e das pessoas;
• Buscar o amor da vida;
• Viver para criar os filhos;
• Viver para ter a sua casa própria;
• Ter uma vida com melhores condições
financeiras;
• Juntar dinheiro para
a aposentadoria;
• Entrar na faculdade dos sonhos;
• Tornar-se atleta e conquistar recordes
olímpicos;
• Sentir prazer em colecionar
antiguidades;
• Conseguir alguma habilidade especial
e deixar o nome na história;
• Salvar a humanidade acometida
por doenças graves;
• Salvar as pessoas que estão morrendo
de fome;
• Viver para fazer uma grande contribuição
para a humanidade;
• Teve o diagnóstico de câncer e não
tem muito tempo de vida, pensa o
que fazer com o restante do tempo
que lhe resta.
“Por que não conseguem entender? Ainda não entendem a violenta
tempestade da impermanência?” (Buda Sakyamuni)
4 - Portal do Budismo - nº23 - distribuição interna
SALA DE BUDISMO aprendendo os termos de budismo
Palavra de hoje:
五 欲
Cinco desejos
Se não temos, queremos ter. Se
nós possuímos, ambicionamos ter
mais ainda. Não há limite para a cobiça
e sofremos buscando o desejo
insaciável. No budismo, isso é chamado
de “desejo”.
Há cinco desejos representativos:
apetite, ganância, sensualidade, vaidade,
preguiça.
Primeiramente, o “apetite” é o desejo
de se alimentar de comida saborosa,
de beber. Quando vamos a
um restaurante que serve comida à
vontade, coloca-se à disposição uma
quantidade grande de carne, salada,
sobremesa para estimular o desejo de
comer e de beber.
Em seguida, a ganância é o desejo
de possuir fortuna e bens, sentimento
como: “Não quero ter prejuízo”,
“quero lucrar”, “quero ganhar dinheiro”,
“quero ter bens materiais”. Somos
atraídos pela propaganda quando
vemos um anúncio de liquidação:
“Aproveite! É só agora!”
Quando compramos o nosso primeiro
carro, ficamos felizes só com
isso, mas com o tempo o carro vai se
desgastando, não nos satisfaz mais.
Daí, ficamos com vontade de comprar
um carro novo. Além disso,
cresce a ambição de querer andar
em carro com melhor performance e
mais bonito.
O terceiro, a sensualidade é o desejo
sensual, de buscar a pessoa amada.
Em qualquer época e país, problemas
de relacionamentos amorosos não
têm fim porque os desejos sensuais
estão em pleno auge.
Boatos de adultério e traição de
pessoas famosas estão sempre em
evidência nas revistas semanais. Não
conseguir se satisfazer com o cônjuge
atual, buscando outro, é a manifestação
do desejo sensual.
A vaidade é o desejo da fama e hon-
ra, é o desejo de não querer ser enganado
pelos outros, é o desejo de querer
ser reconhecido e ser elogiado.
Quando postamos fotos nas redes
sociais e muitas pessoas clicam em
“curtir” ficamos contentes porque o
desejo da fama foi satisfeito. Há pessoas
que arriscam suas vidas, algumas
até perdem, por uma foto inédita,
inusitada, unicamente pelo desejo
de ganhar muitos cliques em “curtir”
ao postarem a foto.
A preguiça é o desejo do sono, é
querer ficar dormindo até mais tarde,
de querer descansar um pouco
mais que seja.
Há um ditado japonês: “Acordar
de manhã, tirar soneca durante o
dia até anoitecer e enquanto estiver
acordado, cochilar”. O desejo do
sono e da preguiça é o insaciável desejo
de ficar dormindo.
◆
Na sociedade dizem: É maravilhoso
buscar o caminho até morrer.
A palavra “caminho” refere-se
a todos os ramos de atividades, especialidades
e trabalhos, tais como:
shodô (caligrafia japonesa), shogui
(xadrez japonês), haiku (poesia japonesa),
tênis, trabalho, ciência,
medicina que são “meios de vida”,
“hobbies”, ou seja, “como viver”.
Todos esses caminhos se tornam
“buscar até morrer” porque somos
movidos por infinitos desejos.
O General Toyotomi Hideyoshi
que se tornou o unificador do Japão,
não se contentou só em conquistar
o território japonês. Depois de conquistar
a Coreia, pretendia avançar
para a China e a Índia. Quando ele
começou como “guardador de chinelos”
de Oda Nobunaga (senhor
feudal e um dos unificadores do
Japão) estava satisfeito, mas ele foi
galgando posições mais altas e à
medida que foi subindo, passando
de “ashigaru” (espécie de infantaria
que existia no Japão durante o período
Heian e período Edo) para “daimiô”
(senhor de um país e de um
castelo), a sua ganância foi crescendo
cada vez mais. Isso não acontece
somente com Hideyoshi.
Com uma ambição sem limites
procuramos a satisfação em uma
vida que é limitada, com isso continuamos
sofrendo porque é a condição
real de “buscar o caminho até
morrer”. Se fosse somente esse tipo
de caminho que existisse, acabaríamos
tendo nascido para sofrer.
O “como viver” de “buscar o caminho
até morrer” também é importante,
mas existe algo muito mais
importante do que isso. E é exatamente
isso que o budismo ensina.
O que é “buscar o caminho até morrer”?