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portal.2020.No25

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Portal do Budismo nº25 - distribuição interna - 1

www.yumpu.com/user/portaldobudismo

portaldobudismoshin@gmail.com

EDIÇÃO ESPECIAL

Voto do Buda Amida e Tannishô

Epílogo

“Ao ponderar cuidadosamente

sobre o Voto Primordial

que Amida fez após cinco

kalpas de profunda contemplação,

me dou conta de que

ele foi feito única e exclusivamente

para mim, Shinran.”

Ao refletir profundamente

sobre o Voto Primordial que

Amida elaborou após um

longo período de cinco kalpas

de deliberação exaustiva,

vim a saber claramente que

ele foi feito exclusivamente

em meu benefício.

Na obra Tannishô, desde o início

até o término, é ensinado exclusivamente

sobre o Voto do Buda

Amida. Dentre os trechos, vamos

apresentar os mais famosos.

Que tal ler em voz alta?

Sessão I

“Saiba que o Voto Primordial

de Amida não

faz distinção entre jovens

e velhos, bons e maus; o

único requisito é a fé.”

A salvação de Amida

não faz qualquer distinção

entre jovem e velho, bom

e mau. Saiba que o essencial

é a fé e mais nada – a

fé na verdade do Voto, sem

nenhuma possibilidade de

dúvida.

Sessão II

“Visto que o Voto Primordial de Amida é verdadeiro, os sermões do Buda Sakyamuni

não podem ser palavras vazias. Visto que os sermões do Buda são verdadeiros, os comentários

de Shan-tao não podem ser vazios. Se os comentários de Shan-tao são verdadeiros,

podem os discursos de Honen ser falsos? Se os discursos de Honen são verdadeiros, como

pode o que eu, Shinran, digo, ser falso?”

Uma vez que o Voto Primordial de Amida é verdadeiro, os sermões do Buda Sakyamuni

que pregou unicamente sobre o Voto, não podem ser falsos. Se os sermões de Sakyamuni

são verdadeiros, as explanações fiéis de seus ensinamentos por Shan-tao não podem conter

mentiras. Se os comentários de Shan-tao são genuínos, impossível haver falsidade nos

dizeres de Honen que tão fielmente transmitiu a sua mensagem. Se as palavras de Honen

são verdadeiras, como podem dizer que o que eu ensino seja fútil e vazio, se eu divulgo

exatamente o que o mestre pregou?


2 - Portal do Budismo - nº25 - distribuição interna Portal do Budismo nº25 - distribuição interna - 3

Mundo passageiro e

instável quanto

uma casa em chamas

A palavra-chave do Tannishô

O mestre Shinran diz no Tannishô: “Neste mundo tão passageiro e instável quanto uma casa em

chamas, habitado por seres humanos assolados por paixões mundanas, tudo é falsidade e tolice,

absolutamente isento de verdade. Apenas o nembutsu concedido por Amida (Voto de Buda Amida)

é verdadeiro.”

O que quer dizer “instável quanto uma casa em chamas” e “ser humano assolado (feito) por paixões

mundanas”? Vamos analisar.

Ser humano

feito por

paixões mundanas

Nós moramos num “mundo instável

como uma casa em chamas”.

“Uma casa em chamas” demonstra

insegurança. Mas, por que se torna

insegura? É porque tudo nesse mundo

é instável.

Vivemos nos apoiando em várias

coisas como dinheiro, bens, família,

saúde, status, fama, talentos, etc.

Quaisquer dessas coisas não duram

para sempre. Há aquelas que mudam

repentinamente e outras que levam

certo tempo para mudarem, mas

qualquer felicidade, a partir do instante

em que a obtemos, ela já se direciona

ao seu desmoronamento.

O Japão é chamado de país das

grandes catástrofes naturais. Em qualquer

lugar que se habite não se pode

saber quando poderá ocorrer um

terremoto, um tsunami, um furacão

ou um incêndio. No último desastre,

lavouras inteiras, tratadas com muito

cuidado por mais de 50 anos, foram

engolidas pela enchente e muitas pessoas

ficaram completamente perdidas

não sabendo como seguir a vida em

diante.

Dizem que de cada quatro pessoas

uma morre por problemas vasculares

no Japão, como AVC ou infarto. Tomado

por uma súbita doença, não se

sabe quando será forçado a levar uma

vida totalmente dependente de outras

pessoas. Mesmo que não seja algo tão

grave, se após um exame de rotina

ouvimos do médico que é necessário

um exame mais apurado, afundamos

numa profunda preocupação. Não é

mesmo?

Além disso, seria bom que toda a

família se mantivesse sempre saudá-

vel, mas a realidade é que a qualquer

momento alguém poderá ficar na

condição de dependência. Quando

isso acontece, a vida rotineira da família

muda completamente.

As pessoas tendem a desejar que a

felicidade continue sempre da forma

como ela está, mas isso é um desejo e

não a realidade.

Quando a felicidade com a qual

contávamos, desmorona, somos atirados

ao fundo do poço do sofrimento.

Além disso, quanto mais forte for

a nossa crença em relação à felicidade,

maiores serão a tristeza e a raiva

quando somos abandonados por ela.

Talvez exista alguém que diga que

nunca foi abandonado pela felicidade

e se sente relativamente feliz, mas

mesmo esta pessoa terá de morrer,

com certeza. Ninguém jamais escapa

da morte.

Haveria uma felicidade que não

se abalaria mesmo perante a morte?

No instante em que somos informados da necessidade

de um novo exame, nosso coração se aflige.

Mesmo que tenhamos uma imensa

fortuna, estejamos rodeados por uma

numerosa família, nada disso servirá

de apoio. Teremos que morrer completamente

sozinhos.

É exatamente como diz o mestre

Rennyo: “No momento da morte,

nada com que antes contávamos,

mulher, filhos, dinheiro, tesouros,

nos acompanhará. Sozinhos temos

que ir pela estrada da montanha da

morte.” (Epístolas)

Nós somos aqueles que têm que

partir, não sabendo quando e de que

maneira, ao sermos atacados pelo

vento da inconstância. Não há uma

única pessoa que tenha a garantia

de saber, mesmo que esteja saudável

hoje, como será a sua vida amanhã,

ou mesmo daqui a um minuto ou a

um segundo. A nós que temos essa

vida tão efêmera, o Voto de Buda

Amida promete nos salvar no instante

ichinen para a imutável felicidade

absoluta.

No Budismo é ensinado que a verdadeira

imagem do ser humano é a

de ser feito de paixões mundanas.

“Paixões mundanas” são tudo aquilo

que nos atormentam, nos fazem

sofrer. É ensinado que cada ser humano

possui 108 paixões mundanas e

“sermos feitos de paixões mundanas”

significa que somos moldados 100%

por elas e nada nos resta além delas.

Shinran Shonin disse o seguinte

sobre isso: “Todos nós, seres humanos,

‘transbordamos de paixões

mundanas. Cheios de desejo, nossas

mentes são caldeirões de raiva

e inveja’ e até o último instante da

vida essa condição não cessa, não

desaparece, não chega ao fim nem

por um instante.” (Sobre a invocação

única e a invocação múltipla) .

Dentre as 108 paixões mundanas,

mestre Shinran nos ensina que as

mais representativas são o desejo, a

Tannishô - Tradução literal

“Neste mundo tão passageiro e instável

quanto uma casa em chamas, habitado por seres

humanos assolados por paixões mundanas,

tudo é falsidade e tolice, absolutamente isento

de verdade. Apenas o nembutsu concedido por

Amida é verdadeiro.”

Tannishô - Tradução expandida

Este mundo é tão instável quanto uma casa

em chamas, habitado por seres humanos que

consistem apenas de paixões cegas; tudo neles

é falso e vazio, absolutamente desprovido de

verdade. Só o nembutsu agraciado por Amida

é verdadeiro.

ira e a ignorância, sendo chamadas de

“três paixões mundanas venenosas”.

DESEJO é querer dinheiro, namorado(a),

casa, carro, saúde, status

social, etc. O fato de insatisfações e

tormentos no lar e no trabalho nunca

cessarem é porque somos manipulados

pelo desejos que nunca

estão plenamente satisfeitos.

Se não temos algo, desejamos, e

se temos, desejamos mais e mais.

Se por alguma razão a realização

desses desejos é atrapalhada, o que

aflora com toda a força é a IRA. Desejo

e ira estão tão relacionados que

são como se fossem a frente e o verso

de uma folha de papel. Quanto mais

profundo o desejo, maior a ira que

surge quando ele é atrapalhado. Com

o pensamento trucidamos o causador

da nossa raiva, tanto é que o ideograma

ira é formado de “mente” e “aquele

desgraçado”.

Existem vários provérbios que vêm

sendo transmitidos desde antigamen-

Quando os nossos desejos são atrapalhados, somos

tomados pela ira.

te: “Pense que a ira é seu inimigo”,

“Quando ficar irritado conte até dez”

e “A ira começa com a insensatez e

termina em arrependimento”. Apesar

desses provérbios, uma vez que a ira

aflora, toda sabedoria e conhecimento

adquiridos até então desaparecem

completamente. “Que tudo vá pro inferno”,

falamos e fazemos aquilo que

não deveríamos e destruímos status e

relações humanas que até então viemos

construindo com tanto sacrifício.

Ódio e inveja são paixões mundanas

chamadas de IGNORÂNCIA.

Assim como existe a frase “invejar

os melhores”, invejamos a felicidade

dos outros, tais como a competência,

a beleza ou o sucesso. Por outro lado,

secretamente nos alegramos com as

falhas e as calamidades alheias. Como

é um sentimento desprezível, que não

consegue expor aos outros, o mestre

Shinran o compara com a sensação de

arrepio que sentimos quando vemos

uma cobra ou um escorpião.

Não são poucas as pessoas que pensam

que se diminuíssem suas paixões

mundanas poderiam se acalmar e serem

mais felizes, mas mestre Shinran

nos diz que o ser humano é inerente

às paixões, portanto não consegue

nem diminuir e nem acabar com elas.

A nós que somos assim, Buda Amida

promete salvar para a felicidade absoluta,

mesmo sem nos desprendermos

dessas paixões.

A ira começa com a

insensatez e termina

em arrependimento.



4 - Portal do Budismo - nº25 - distribuição interna

SALA DE BUDISMO aprendendo os termos de budismo

Palavra de hoje:

他 力

TARIKI

“outra-força”

Tariki, literalmente “outra-força”,

é um termo muito importante que

frequentemente aparece na obra

Tannishô: “... a grande compaixão do

Voto da outra-força é para nós, seres

dessa natureza...” (Seção IX), ou

“Mas se [...] entregar-se à outra-força,

alcançará o nascimento na terra

da verdadeira plenitude.” (Seção III)

Porém, muitas pessoas quando

ouvem a palavra tariki (outra-força)

têm a ideia de que ela signifique

a dependência dos mais fracos de

se apoiarem nos mais fortes como

“aproveitar a tocha alheia para se

iluminarem” ou “aproveitar o prestígio

do outro para seu próprio benefício”.

Por isso, quando ouvem

palavras como “Budismo da outraforça”

ou “Voto da outra-força”, desprezam-nas

dizendo tratar-se de um

ensinamento frágil que depende da

força alheia.

Mas esse é um equívoco muito

grande em relação ao termo tariki.

A origem deste termo está no Budismo,

por isso devemos utilizar corretamente

o seu significado.

Na obra Ensinamento, prática, fé,

iluminação, o mestre Shinran esclarece

que tariki se refere à força do

Voto de Buda Amida, o rei dos budas

do Universo, ou seja, chamamos

de “outra-força” à força do Voto de

Buda Amida.

O termo ta (outra) de tariki (outra-força)

refere-se unicamente ao

Buda Amida.

Mestre Shinran, em Hinos sobre os

mestres, diz que a força do Voto de

Buda Amida elimina a escuridão de

uma longa noite escura e concretiza

os desejos de todas as pessoas.

Chamamos de “outra-força” (tariki)

unicamente à força que elimina

a “escuridão” que veio nos atormentando

desde um passado infinitamente

remoto e que conduz qualquer

pessoa à felicidade absoluta.

Existem aqueles que levantam

as mãos e oram ao Sol dizendo que

o sucesso de suas colheitas se deu

graças ao tariki, referindo-se nesse

caso, ao Sol. É um grande equívoco

pensar que tariki são essas manifestações

da natureza. Pois, se considerarmos

que todos os movimentos

dos fenômenos naturais (como sol,

chuva, vento, ar) sejam tariki (força

de Buda Amida), isso significaria

também que é através do tariki

(força de Buda Amida) que pessoas

perdem suas vidas ou seus patrimônios

com terremotos, tsunamis ou

furacões.

Buda Amida é o Buda da Plena

Compaixão, que tem unicamente

o sentimento de querer, a qualquer

custo, salvar as pessoas que vivem

angustiadas e sofrendo. Por isso, associar

o tariki (força de Buda Amida)

aos fenômenos naturais é algo

sem sentido.

“Força da natureza” é apenas a força

da natureza e nada mais.

Sentir-se grato com as dádivas da

natureza e com a ajuda que recebe

das pessoas é importante, mas não

se deve pensar que isso é tariki (força

de Buda Amida).

Se entendermos o verdadeiro

significado de outra-força (tariki),

conseguiremos entender a bravura,

a sagacidade e a energia do mestre

Shinran que foi salvo pelo tariki.

A força do Voto que elimina a Mente escura

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