portal.2021.No28
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Portal do Budismo nº28 - distribuição interna - 1
www.yumpu.com/user/portaldobudismo
portaldobudismoshin@gmail.com
SHINRAN E TANNISHÔ
Tannishô – Desejo de ler em voz alta
Tannishô [Lamento das divergências] é o livro de
budismo mais lido no Japão. Ele possui um estilo literário
de tamanha beleza que suas palavras permanecem para
sempre no coração. Também é conhecido pela excelente
redação. Vamos ler e reler em voz alta diversas vezes.
Sessão I
“Salvo pela maravilha do
Voto de Amida, obtive a certeza
de realizar o nascimento na Terra
Pura”: quando se acredita nisso, a
mente decidida a pronunciar o nembutsu
brota dentro de si e nesse instante
você recebe a dádiva de ser
acolhido com firmeza e nunca
abandonado.
Quando, ao ser salvo pelo inconcebível
poder do Voto do Buda
Amida, seu nascimento na Terra
Pura de Amida é garantido sem
qualquer sombra de dúvida e o desejo
de pronunciar o nembutsu irrompe
dentro de si, nesse instante
você é acolhido com firmeza, para
nunca mais ser abandonado, obtendo
assim a felicidade absoluta.
Sessão III
“Até mesmo uma
pessoa boa nascerá
na Terra Pura; quanto
mais uma
pessoa má!”
Até mesmo uma pessoa
boa pode nascer
na Terra Pura; quanto
mais uma pessoa
ruim!
Sessão VII
Quem é do nembutsu
está no caminho sem
impedimentos.
Quem é salvo por Amida
e pronuncia o nembutsu é
uma pessoa feliz, livre de
todos os empecilhos.
2 - Portal do Budismo - nº28 - distribuição interna Portal do Budismo nº28 - distribuição interna - 3
A atração pelo Tannishô - o ensinamento de Shinran Shonin
“Se for levar um único
livro numa ilha deserta,
este é o Tannishô”
(Asahi semanal 01/Nov/1996)
“Somente pelo fato de
ter surgido o Shinran, a
era Kamakura já é próspera”
(O formato deste país)
- Ryotarô Shiba (autor de romances históricos)
1923-1996
Nasceu em Osaka. Em 1959 recebeu o Prêmio
Naoki com a obra Castelo das Corujas. Posteriormente,
também recebeu diversos prêmios literários.
Quatro de suas obras, dentre elas Saka no ue no
kumo (Nuvens acima da colina), venderam mais de
dez milhões de exemplares. Seis obras, como Komyo
ga Tsuji, Tobu ga gotoku (Como voar) e Ryoma ga
yuku (Ryoma segue seu caminho), baseadas em seus
romances, viraram séries de televisão na emissora
japonesa NHK.
Ryotarô Shiba descreve o seguinte sobre o Tannishô
que leu pela primeira vez quando foi convocado para a
Segunda Guerra Mundial.
“Não sabia o que aconteceria depois que morresse.
Perguntei para os outros e ninguém soube responder.
Sem outra alternativa, fui a uma livraria e comprei o
Tannishô, no qual um discípulo de Shinran resumiu seu
ensinamento. É um texto muito fácil de entender e quando
você o lê, sente o aroma da Verdade.
Esteja você conversando com alguém ou lendo um livro
dá a impressão de que algo está faltando ali e até
chega a dar impressão que aquilo seja uma mentira. E no
caso do Tannishô, eu não senti isso. (…)
Assim, pensei em ir em frente com este livro até mesmo
pensando que, de repente, pudesse estar sendo enganado
pelo Shinran. Depois de ter me tornado soldado,
guardei-o comigo e sempre lia quando tinha um tempo
livre.
Até pensei que eu morreria de qualquer forma porque
fui levado por um regimento de tanques que tinha uma
alta taxa de mortalidade.”
Da obra Ryotarô Shiba – Todas as palestras – volume 1
Vários escritores e filósofos captaram o profundo aroma da Verdadade
contido na obra Tannishô e elogiam o ensinamento de Shinran
“Se tiver de escolher um
único livro entre milhões,
este será o Tannishô.”
(Enciclopédia Tannishô –
Tanigawa Risen, Junichi Doi,
Tomoyasu Hayashi, Nobuyasu
Hayashi)
- Kiyoshi Miki (filósofo) 1897-1945
Nasceu na província de Hyogo e é considerado um
dos três maiores filósofos do Japão. Colaborou também
para a fundação da livraria Iwanami. Estudou
na Alemanha e foi orientado pelo filósofo Heidegger.
Durante a guerra foi preso e morreu na prisão
antes de terminar o seu ensaio “Shinran”.
O crítico literário Akira Honda escreve o seguinte na
Introdução ao Tannishô sobre Kiyoshi Miki.
“À noite, quando fui ao velório da esposa de Kiyoshi
Miki apresentar as condolências, o Dr. Kitaro Nishida
e Kiyoshi Miki estavam sentados lado a lado atrás do
monge, que lia o sutra em frente do altar budista numa
sala sombria. Dr. Nishida contou que nas “pesquisas do
bem” ficou profundamente impressionado com o Tannishô.
Hyakuzô Kurata, que esteve sob influência do
doutor, teve Shinran como tema e escreveu O sacerdote
e seus discípulos, por isso, mesmo que o doutor se sentasse
em frente ao altar, poderia não parecer estranho,
mas naquela noite, mesmo para mim, parecia estranho.
Eu não conseguia adivinhar o pensamento de Kiyoshi
Miki de forma alguma.”
“Muito mais tarde, ele disse sem rodeios, sem dar
nenhuma explicação: ‘Morrerei acreditando e seguindo
o ensinamento de Shinran’. Fiquei realmente surpreso.
Quem diria, o teórico racionalista Miki disse que
morreria acreditando naquela Jodo Shinshu que prega
o Inferno e a Terra Pura, os quais ele sempre veio
contrariando! ”
“No mundo, provavelmente
não existe uma
obra literária tão introspectiva
quanto o Tannishô.
(...) Tanto a sua
escrita quanto a sua
forma literária japonesa
são dignos de arte.
Pode ser considerado
um tesouro nacional.”
(A fé de Honen e Shinran –
Itimaikishomon e Tannishô)
- Hyakuzo Kurata (dramaturgo e crítico literário)
1891-1943
Nasceu na província de Hiroshima. Profundamente
comovido com o Tannishô, escreveu o drama
Shukkê to sono deshi (O sacerdote e seus discípulos),
que se tornou um grande best seller e foi traduzido
em todo o mundo. Também é famoso por ter sido
altamente elogiado por Romain Rolland, escritor
francês que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.
Da obra de Hyakuzô Kurata A fé de Honen e Shinran
– Itimaikishomon e Tannishô.
“No mundo, provavelmente não existe uma obra literária
tão introspectiva quanto o Tannishô. Este livro tem
um tom suave, mas é assustador e ousado, com uma carga
de pensamento sério. Dependendo do ponto de vista,
pode ser considerado como um veneno, um ópio ou
uma espada; e também, é escrito de uma forma piedosa e
humilde, mas destemida a tudo se é em prol da verdade.
Como japonês, a sua escrita é digna de uma arte literária.
Pode ser considerado um tesouro nacional.”
“Até onde sei, dentre todos os livros do mundo, o
Tannishô é o mais intrínseco, o mais espiritual, é uma
obra fundamental. Dentro do campo da literatura e da
religião; mesmo dentro da religião, o mais intrínseco é
o budismo; e nele é tratado somente o cerne, a essência
da mais espiritual Verdadeira Escola da Terra Pura
(Jodo Shinshu). (...) Por mais que busque outro livro no
mundo que seja tão crucial e que trata o âmago quanto
o Tannishô, não encontrará. Este é um livro que deve
ser lido com apreciação e respeito; deve ser o amigo do
coração que nos acompanhará debaixo das luzes durante
as longas noites.”
“Se há dez anos soubesse
da existência
de uma pessoa tão
notável como ele no
Oriente...”
- Martin Heidegger (filósofo alemão) 1889-1976
O grande filósofo alemão do século XX demonstrou
sua profunda comoção em relação ao Tannishô
e foi apresentada no jornal Chugai Nippo da edição
de 1963.
“Hoje, através de uma tradução inglesa, conheci o livro
Tannishô, de um sábio oriental chamado Shinran.
Fiquei impressionado com a declaração em que ele diz:
Ponderando profundamente sobre o Voto do Buda Amida
que permaneceu em meditação durante cinco kalpas,
descobri que tudo havia sido única e exclusivamente
para salvar a mim, Shinran.(...)
Se há dez anos tivesse conhecimento da existência de
uma pessoa tão notável como ele no oriente, não teria
estudado nem o latim e nem o grego. Teria estudado o
japonês e divulgado a sua doutrina para todo o mundo
como minha motivação de vida. Mas já é tarde demais.
(...)
Quase trinta japoneses, sendo eles filósofos e pensadores,
vieram estudar comigo e se tornaram discípulos.
Conversamos muito a respeito de filosofia e sobre as
linhas de pensamento, mas apesar de estarmos sempre
em contato, não percebi qualquer indício da existência
de um pensamento tão magnífico assim no Japão. O que
os japoneses estão fazendo?
O Japão perdeu na guerra e disse que irá se dedicar
em contribuir com o desenvolvimento da cultura mundial
como uma nação cultural daqui para frente. Mas,
a meu ver, o que o mundo precisa não são de construções
de edifícios maravilhosos e nem obras de arte. Não
precisamos de nada disso. Eu gostaria apenas que os japoneses
se tornassem pessoas a quem sentíssemos um
aroma do ensinamento de Shinran. Seja nos negócios,
no turismo, na política, gostaria que o simples contato
com os japoneses nos fizesse sentir ao menos o aroma de
um ensinamento profundo. Assim o mundo conheceria
esse ensinamento; cada país, em sua respectiva língua:
os franceses, em francês; os dinamarqueses, em dinamarquês,
e fariam suas as palavras desse sábio. E, pela
primeira vez, as perspectivas para a paz mundial seriam
estabelecidas e os alicerces da civilização do século XXI
seriam firmados.”
4 - Portal do Budismo - nº28 - distribuição interna
SALA DE BUDISMO aprendendo os termos de budismo
Palavra de hoje:
念 仏 者
Nembutsu-sha
(a pessoa do Nembutsu)
No início da Seção VII consta:
“Quem é do nembutsu está no
caminho sem impedimentos”
Quem é a “pessoa do nembutsu, o
Nembutsu-sha ”?
Ao ouvir esse termo, tem-se a
impressão de que ele se refere a
todas as pessoas que entoam “Namu
Amida Butsu”. Porém, não é isso o
que significa.
Exatamente como as lágrimas,
algumas pessoas derramam lágrimas
de tristeza, umas de frustração
e outras de alegria. Embora as
lágrimas que escorram sejam
iguais, há uma enorme diferença
no sentimento. Da mesma forma,
as pessoas que estão recitando o
“Namu Amida Butsu” cada um o faz
com o estado de espírito totalmente
diferente.
Os três tipos de nembutsu
Shinran ensina que essa mente
de pronunciar o nembutsu pode
ser dividida em três tipos, que são:
“mangyo zui ichi”, “mangyo tyôka”
e “jinen houni”. Qual a diferença
que existe entre eles?
◆
Primeiramente, o nembutsu
do “mangyo zui-ichi” (uma boa
ação entre muitas) é pronunciar o
nembutsu considerando-o precioso
quando nivelado às diversas boas
ações. Por exemplo: “Estou cuidando
bem de meus pais, sou gentil com
todos e também estou recitando o
nembutsu, portanto não acontecerá
nenhum infortúnio comigo. E não
irei para um lugar ruim quando
morrer.” Pensa dessa forma e recita
o nembutsu.
O próximo, chamado de nembutsu
do “mangyo tyôka” (o mais elevado
e incomparável bem) é acreditar que
no Namu Amida Butsu está contida
uma grande virtude; uma virtude
que transcende as demais boas
ações como ser um filho grato e ser
gentil, e assim, se empenha a entoar
o nembutsu com exclusividade.
Tanto o nembutsu do “mangyo
zui ichi” como do “mangyo tyôka”,
ambos são entoados com o desejo
de se salvar por meio da virtude da
recitação do nembutsu, por isso são
chamados de “nembutsu da forçaprópria”
O terceiro, o nembutsu do “jinen
houni” (pronunciado pelo poder do
Voto de Amida), é completamente
diferente do “nembutsu da forçaprópria”
em que se busca a salvação
recitando o nembutsu. Este é o
nembutsu de agradecimento, de
alegria por ter sido salvo pelo
Buda Amida e não consegue deixar
de recitar. É ensinado que este é
o “nembutsu da outra-força”. A
expressão de Shinran “quem é do
nembutsu” refere-se sempre às
pessoas do “nembutsu da outraforça”.
Uma vez que a pessoa é salva em
vida pela força do Voto do Buda para
a felicidade absoluta, nada poderá
obstruir o seu nascimento na Terra
Pura, por isso o Mestre proclamou:
“Quem é do nembutsu está no
caminho sem impedimentos”.
CONHECIMENTO BÁSICO DO TANNISHÔ
(1) Quando a obra foi escrita?
Dizem que Tannishô foi escrito há cerca de 700 anos,
em meados do período Kamakura.
As três grandes obras da literatura clássica: Um
Relato de Minha Cabana, de Kamo no Chômei,
Tannishô e Ensaios no Ócio, de Kenko Yoshida, foram
concluídas nesta ordem cronológica, com um espaço de,
aproximadamente, sessenta anos entre elas.
(2) Quem é o autor?
Não foi escrito por Shinran. Acredita-se que Yuinen,
um dos principais discípulos de Shinran, seja o autor.
(3) Qual foi o objetivo?
Assim como diz o título do livro Lamento das
divergências (Tannishô), ele lamentou as declarações
contrárias ao ensinamento de Shinran, espalhadas por
algumas pessoas e essa obra foi escrita na tentativa de
corrigir esses equívocos.
No prefácio do Tannishô, está escrito da seguinte
forma a respeito disso:
“Em minhas reflexões, quando volto o meu tolo
entendimento à época em que vivia o Mestre Shinran
e a comparo com os dias atuais, não posso deixar de
lamentar as divergências entre o que é divulgado hoje e
o que o mestre ensinou pessoalmente sobre a verdadeira
fé.”
(4) Como é a sua composição?
O Tannishô é composto, no total, de 18 seções.
As seções de I a X são registros das palavras ditas
pessoalmente pelo Mestre Shinran e nas seções de XI a
XVIII, baseando-se no ensinamento do Mestre, o autor
corrige os erros das diferentes teorias que prevaleciam
naquela época.