Janduís - Fundação Jose Augusto

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É o seguinte triste que apregoa a publicação de um livro como fonte de apoio para um obelisco em construção na Praça da Liberdade. Seriam obras de curto alcance. São armas de pouco calibre, que não vale a pena testar. Você é, portanto, uma arma branca de pouca utilidade. - Chego a uma conclusão arrepiante. Não há chance então de me tornar um escritor nem no âmbito estadual. Um escritor que tenha força assim como uns meninos que andam por ai escrevendo páginas de condoreiras paixões e emocionadas belezas risíveis. Causos e reparações. Lutas e amores. E se assanham, apresentam-se na imprensa reduzida da localidade, tentando a todo custo, como heróis que são, se manter heróis e respeitados como um anjo do Bem. E viva a literatura potiguar. Amor reinando enquanto se chora por um leite derramado, existindo só remota possibilidade de se recuperá-lo, através de pano úmido de bondade e esperança, também no amanhã. - Não digo assim. E lute sua luta. Faça como eu que já fui pro Rio e lancei um livro lá. E o que aconteceu? Nada. Mas, lancei o danado lá. E voltei, porque aqui é o meu lugar e o meu lugar éme prezado e tenho esperanças remotas de voltar, e no Rio lançar outro livro de contos. - Não se iluda. Não há mais muitas chances para se ir em frente. No Brasil, desde os tempos de Castro Alves, o moço que não andasse nos trilhos, não brilhava jamais, e não subia. Então ande em direção ao sol. Seja um condoreiro. Seja um lutador. Vá em frente. - Não. Eu vou. Quero lhe dizer que você é quem deve lutar. Brigar, pedir para que se acabem com a burocracia nos incentivos. Penduricalhos legais. Novas leis cheias de leis anteriores. Se faça por menos. Hoje se lute pelo interior, se traga produção do homem que pontua nas cidadezinhas para que seja visto aqui. E possa numa sorte, bater no Sul. Por exemplo, você já lançou um livro de contos e até um romance. Quem sabe disso? - Olhe: tenho um livro de contos publicado em 1957, e que além de esquecido, não se insere em qualquer compêndio estadual. Não há em qualquer antologia, um conto meu, Não se inscreve. Lógico que foi um livro de estréia. Tem seus pontos fracos. É quase todo fraco. Mas, tá lá. E quantos contos tenho publicados? Dezenas. E não se vê e não se cheira e não se pede desculpas. E seguem em frente como se lá na frente estivesse a mulher dos ovos de ouro que nos consagrasse e nos embalasse com um véu de simpatia e nos desse um copo d´água e nos fizesse afagos e nos prometesse carinhos profissionais e nos deixasse conhecido no mundo literário. Valer o que peso, maduro e esperto. Mas não é assim. Há a cortina churchiana, das pesadas, em redor. E sem recursos, pedimos água, pedimos sal, e não nos dão absolutamente nada, - E cê acha que um livro seu, publicado aqui ou no Rio, teria algum valor maior, algum peso na literatura potiguar? 12 Julho 2003 - O livro, não. E eu, muito menos. Levaramme as gorduras todas. Por permanecer morando em Natal, nascido no sertão brabo do Rio Grande, não tenho peso de nada em nenhuma sala de livros do país. Este Brasil de solavancos, que ouve apenas a quem deseja e canta apenas os que encontraram um amigo que os ajudou e publicou todos os seus livros. Assim forçosamente se aparece. No Estado e no país. Mas, cadê este programa, este amigo, esta editoracão? O galo comeu. - Olhe, cuidado. Você parece só querer a glória. - Não. A Glória anda arisca, exibida, interesseira. Prefiro a Vitória. A Vitória é boa, mansa, bonita, balzaquiana. E rende. - Certo. Vejo que o seu mal é permanecer chorando como sertanejo que é. Não há mais a Emergência. Creio que agora, com a idade que você tem lá lascadim, lascadim... E ninguém vai chorar. Não há o que se fazer por você. E por que eu lhe digo isso? Porque você jamais quis ir pro Rio ou para São Paulo. Pra lá se encontrar com esse amigo que lhe falei e lhe desse a mão. E com a capacidade que tem de arrumar as histórias que ouve, na certa seria igual a alguns cabras bons que enfeitam as prateleiras de nossa literatura. - Isso é um elogio ou uma traição? Não sei o que faça, tampouco vou lhe dar mais atenção neste mato sem cachorro. Como a roda da vida gira, as normas mudam e o tempo corre, eu chegarei lá, sem sair daqui. Continuarei na pisada de alpercatas-de-rabicho, pois sei que algo está mudando e há animais de estimação soltos pelo arvoredo. E algum irá nos socorrer qual são-bernardo das neves lá de cima. - Tá.
Foto: Eduardo Felipe Fome de livros Por Tácito Costa e Carlos Magno Araújo Abimael Silva, 40 anos, dono do Sebo Vermelho, tornouse um fenômeno editorial nacional. Sem praticamente nenhum apoio conseguiu em 12 anos editar mais de cem livros de autores potiguares. Tanto obras de autores novos, como Cleudo Freire e Mário Rasec, como de autores consagrados como Eloy de Souza e Câmara Cascudo. Um trabalho que vem tendo reconhecimento local e nacional. Em maio, a Câmara Municipal de Natal entregou-lhe o título de Cidadão Natalense e em julho ele foi entrevistado no programa de televisão de Jô Soares. Durante a solenidade na Câmara ele lançou o centésimo livro, “Contistas Potiguares”, de Manoel Onofre Jr. O que distingue Abimael de outros sebistas de Natal é que ele é um grande leitor, conhece bem a Literatura norte-rio-grandense e possui uma biblioteca “interessante”, segundo suas próprias palavras. De temperamento afável, bem humorado e boêmio empedernido, é também um hábil negociante. Nessa entrevista, Abimael Silva conta como surgiu o Sebo Vermelho, fala sobre a sua saga de editor “liso”, sua relação com os escritores e, principalmente, revela qual é a “mágica” para editar tantos livros com tão poucos recursos. Julho 2003 Entrevista 13
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