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As crianças são a razão da existência da<br />
companhia. Sem elas, o grupo provavelmente<br />
teria sucumbido por falta de apoio. “Ema<br />
Ligeira”, “Nhanduí”, “Emanduís” e o “Grupo<br />
de Palhaços Filhos do Sol” também já tentaram<br />
levar um pouco de alegria para as crianças<br />
da comunidade. Não resistiram ao tempo. A<br />
Ciranduís herdou alguns membros dos antigos<br />
grupos de teatro e segue em frente convivendo<br />
com as dificuldades. “Só resta a Ciranduís, mas<br />
artistas temos muitos”, destaca Lindemberg.<br />
A disciplina da Ciranduís é rígida. A rotina do<br />
grupo lembra a de soldados de um quartel. A<br />
maioria já está de pé às 5h30 da manhã para<br />
fazer exercícios físicos. Novos componentes<br />
são aceitos, mas precisam ter comportamento<br />
exemplar e compromisso com a comunidade.<br />
“Preparo físico é importante para enfrentarmos<br />
um cortejo”, explica Lindemberg.<br />
O cortejo inicia na sede provisória da<br />
companhia, na rua Adrião Fernandes, passando<br />
em frente à Escola Estadual Vicente Gurgel,<br />
à praça e igreja Santa Terezinha. O trajeto<br />
contempla também as ruas com casas mais<br />
humildes de <strong>Janduís</strong> até chegar no “Vaporzão”,<br />
prédio que recebeu este nome por soltar a<br />
fumaça de uma antiga usina de beneficiamento de algodão. O<br />
Vaporzão foi a primeira sede da Ciranduís.<br />
“Iniciamos no Vaporzão e temos planos de ter uma sede própria.<br />
Já temos um terreno de 35 por 20 metros”, conta Lindemberg. A<br />
sede provisória da Companhia Ciranduís, uma casa com apenas<br />
um cômodo, é alugada pela Prefeitura.<br />
A simplicidade das instalações da sede não preocupa os atores.<br />
A Companhia prefere seguir o estilo de teatro da Idade Média,<br />
quando as trupes mambembes percorriam a Europa fazendo<br />
apresentações de artes cênicas. “Buscamos levar ao público a<br />
conscientização política utilizando trechos da poesia matuta de<br />
Patativa do Assaré e outros”.<br />
A preocupação em manter a população consciente sobre o<br />
que está acontecendo na região levou o grupo a criar também<br />
o programa “Recordes Culturais”. Todas as manhãs de sábado<br />
das 8h às 10h, os quatro alto-falantes da igreja Santa Terezinha<br />
transmitem o informativo com as notícias de interesse da<br />
comunidade. “A rádio mais próxima fica em Caraúbas”, salienta<br />
Lindemberg, justificando a importância do noticiário para a<br />
população.<br />
A atuação da Companhia Ciranduís não está restrita a <strong>Janduís</strong>.<br />
O grupo já desenvolveu oficinas de teatro, dança e capoeira em<br />
Messias Targino e diversas campanhas na zona rural de <strong>Janduís</strong> e<br />
Campo Grande. As campanhas levam às comunidades carentes<br />
informações, em linguajar simples e utilizando representações<br />
dramáticas, sobre prevenção a AIDS, higiene<br />
bucal, combate ao fumo e ao mosquito da<br />
dengue.<br />
Os textos teatrais montados são simples e vão<br />
sempre ao encontro dos problemas enfrentados<br />
pela população. “O Bode que pegou AIDS” e<br />
“As aventuras de Billy The Kid”, apresentados<br />
entre 1996 e 1999, até hoje são lembrados<br />
pela comunidade. “O texto de Billy The Kid<br />
não tinha pra ninguém, foi apresentado até<br />
em Upanema, Alexandria, Catolé do Rocha,<br />
Iracema e Aracati”, recorda.<br />
Julho 2003<br />
<strong>Janduís</strong><br />
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