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“Ranieri é novo, conhece de música e gosta<br />
muito do que faz”, salienta. Zé Pequeno<br />
destaca que quase todos os músicos da cidade<br />
foram formados por Ranieri. “Campo Grande<br />
tem duas bandas, mas os músicos quase todos<br />
foi ele quem fez”.<br />
O maestro também reconhece a grandeza do<br />
legado de Zé Pequeno. Ranieri lembra que,<br />
ainda menino, Zé Pequeno seguia para Paraú<br />
na garupa do cavalo para tocar bombo. “Zé<br />
Pequeno é um patrimônio cultural que temos”,<br />
sintetiza. O interesse dos jovens da cidade em<br />
seguir a carreira de músico continua vivo. Disso<br />
ninguém duvida.<br />
O retorno de um<br />
vencedor<br />
Regente Vicente Raniere<br />
A Serra do Cuó é testemunha do esforço dos<br />
36 músicos da “Banda de Música Monsenhor<br />
Militão Benedito de Mendonça” em manter<br />
viva a tradição musical de Campo Grande.<br />
A banda, vinculada a Associação e Escola de<br />
Música Francisco Soares Filho, poderia ter<br />
sido extinta não fosse a dedicação do maestro<br />
Vicente Ranieri de Aquino Soares, 38 anos,<br />
neto de Laudemiro Soares, o Birico, ex-músico<br />
e compositor. Os instrumentistas chegaram a<br />
atravessar uma fase crítica de 1983 a setembro<br />
de 1989 por não terem regente para assumir<br />
sua direção.<br />
Vicente Ranieri, regente formado pela escola<br />
de música da UFRN, não só aceitou o desafio<br />
como iniciou a formação de uma nova safra de<br />
solistas. “A procura hoje é sempre maior que a oferta de vagas na<br />
banda”, atesta. O filho do maestro, Mateus Daniel, 7 anos, já<br />
ensaia os primeiros acordes com a flauta doce e o trumpete.<br />
O maestro estudou muito antes de voltar a Campo Grande para<br />
assumir a regência da banda. Aos 14 anos já era aluno da antiga<br />
Escola de Música da UFRN, ainda instalada na Praça Cívica,<br />
e tocava clarinete na banda de música do colégio Winston<br />
Churchill. “Comecei a tocar clarinete na 7ª série, aprendendo<br />
com major Lourival Cavalcanti”, recorda.<br />
“Também fiz muitos cursos de teoria musical, regência e harmonia<br />
pela <strong>Fundação</strong> José <strong>Augusto</strong>”, diz, destacando a oportunidade<br />
em ter participado do 1º Painel para Instrumentistas e Mestres<br />
de Bandas de Música, ministrado em novembro de 2000 por<br />
Roberto Farias, mestre da Banda Sinfônica do Estado de São<br />
Paulo.<br />
O maestro também não esconde a gratidão com o empresário<br />
Antônio Gentil de Souza, natural de Campo Grande e patrono<br />
da banda Monsenhor Militão. “O baluarte maior é Antônio<br />
Gentil. Ele é o nosso braço forte, sem ele a banda já tinha<br />
fechado”, salienta. A banda conta ainda com o apoio de 25<br />
associados. “Cada associado paga uma mensalidade de 10<br />
reais, mas é um sufoco grande. Começamos com mais de 70<br />
associados”, ressalta.<br />
“Saudades de minha terra”<br />
Campo Grande<br />
Vicente Ranieri já compôs onze dobrados, cinco valsas<br />
instrumentadas e também marchas solenes, frevos e maxixes.<br />
“Podemos tocar uma festa de padroeira só com composições<br />
minhas”, diz, salientando que o dobrado mais tocado pela banda<br />
é “Saudades de Minha Terra”, obra do maestro Estevam Guerra,<br />
composta em 1907.<br />
“Quase toda banda no país toca o dobrado do maestro Estevam<br />
Guerra. Existe até uma polêmica. Alguns dizem que “Saudades<br />
de Minha Terra” é de Isidoro de Castro ou de Tonheca Dantas,<br />
mas temos comprovação que este dobrado foi enviado do Pará<br />
por Estevam como despedida de sua terra natal”, explica.<br />
Documentos do Centro Cultural Cleto de Souza contam que<br />
Estevam Protomarte de Brito Guerra, filho do maestro Basílio<br />
de Brito Guerra, foi regente da banda de Campo Grande entre<br />
1904 e 1906, quando foi morar no Pará fugindo de uma grande<br />
seca que atingiu o município. Estevam ao saber que estava com<br />
tuberculose, na época uma doença sem cura, teria composto<br />
“Saudades de Minha Terra” em homenagem a Campo Grande.<br />
Um tributo perpetuado pela música.<br />
Julho 2003<br />
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