METODOLOGIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA, REALISMO CRÍTICO E TEORIA PÓS ...
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conjunto de mecanismos e tendências que não se manifestam diretamente por causa da<br />
existência de forças opostas.<br />
Em segundo lugar, deve-se considerar que os sistemas fechados se caracterizam pela<br />
adoção de condições intrínsecas e extrínsecas. A primeira condição é aquela que garante<br />
identificar determinado elemento pelo fato de o mesmo manter suas propriedades e<br />
regularidade em quaisquer condições, enquanto a segunda se refere à possibilidade de<br />
isolamento dos elementos e variáveis que produzem resultados regulares. As questões<br />
ontológicas ligadas a essas condições dizem respeito à possibilidade de, por um lado,<br />
identificar estruturas e instituições sociais que tenham como características as regularidade e,<br />
por outro, a possibilidade de estabelecer as relações fixas entre elas e isolá-las frente às<br />
demais variáveis. Ora, acontece que, no caso da realidade social, as estruturas não funcionam<br />
sozinhas e, portanto, suas forças não são automaticamente operacionalizadas pois dependem<br />
da relação entre estrutura e agente. Nesse caso, segundo Arienti (2009), deve-se abandonar o<br />
realismo empírico em favor do Realismo Transcendente, pois o mundo não se esgota nos<br />
eventos empíricos e seus estados imediatamente dados ao sujeito cognoscente, mas possui leis<br />
e mecanismos subjacentes ao curso de eventos observados.<br />
A relação mencionada entre estrutura e agente é de fundamental importância na análise<br />
da esfera social e, em especial, na crítica ao mainstream referente à sua incapacidade de<br />
explicação da escolha individual. Todavia, antes de analisar estas questões, é necessário<br />
responder às seguintes indagações: Por qual método pode o conhecimento das subjacentes<br />
estruturas, etc., ser obtido? Ou ainda, se importantes características da realidade, incluindo as<br />
do mundo social, são intransitivas e estruturadas, por qual processo se pode conhecê-las? A<br />
resposta sugerida pelo realismo crítico a estas indagações é de que, dado que a ciência se<br />
revela uma prática social trabalhosa que se preocupa em revelar as estruturas que governam<br />
os fenômenos de interesse, e dado o caráter aberto do mundo, segue-se que o raciocínio<br />
metodológico deve ser construído envolvendo vários estágios de investigação. Para tanto, o<br />
método essencial de investigação não é nem a indução nem a dedução, mas a retrodução. Este<br />
método consiste em identificar as estruturas que potencialmente geram forças relevantes para<br />
influenciar fatos e fenômenos e discernir as tendências que se combinam e se efetivam (ou se<br />
anulam) para, em última instância, causar o realizado.<br />
No intuito de mostrar que o realismo transcendental é relevante para a esfera social,<br />
empreende-se essa abordagem para analisar o processo de escolha humana. Segundo Lawson,<br />
esta questão é problemática porque os economistas são incapazes de reconciliar a escolha real<br />
com o seu projeto de “modelagem” econômica. Assinala-se que a escolha real pressupõe que<br />
todo indivíduo poderia ter agido de forma diferente da maneira como efetivamente agiu.<br />
Portanto, a condição necessária para que a escolha seja real é que os sistemas sejam abertos,<br />
nos quais os eventos sempre poderiam ter sido diferentes. Mas a possibilidade da escolha<br />
humana pressupõe não somente que os eventos possam ser diferentes, mas também que os<br />
agentes possuam alguma concepção do que estão fazendo e o que pretendem obter com sua<br />
atividade, i.e., “se a escolha é real, então as ações humanas devem ser intencionais sob certa<br />
descrição” (LAWSON, 1997, p.30). A ação intencional, por sua vez, pressupõe conhecimento<br />
do ambiente no qual o agente pretende realizar suas finalidades, e o conhecimento pressupõe<br />
suficiente durabilidade do objeto de estudo. Acontece que, se cientificamente a regularidade<br />
dos eventos relevantes não ocorre na esfera social, então a durabilidade do conhecimento das<br />
práticas humanas deve estar em um nível diferente, em que as estruturas que governam, mas<br />
são irredutíveis aos eventos, incluem as atividades humanas.<br />
Intencionalidade humana e escolha indicam, então, que são as causas materiais ou as<br />
estruturas que facilitam a ação intencional. A questão é saber se essas estruturas podem ser<br />
ditas sociais (entendidas como dependentes da intencionalidade humana) e se elas existem. Se<br />
elas existirem, a possibilidade de sua identificação vai permitir a percepção de seus efeitos.<br />
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