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METODOLOGIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA, REALISMO CRÍTICO E TEORIA PÓS ...

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importância da metodologia lakatosiana para a construção de estudos na história do<br />

pensamento econômico. Todavia, ainda segundo o autor, uma discussão sobre a história da<br />

literatura lakatosiana é muito difícil de ser empregada porque os economistas têm escrito<br />

tomando muito pouco cuidado com a forma como utilizam esta terminologia. Esta falta de<br />

fidelidade tem resultado em “hard cores”, “heurística” e “fatos novos”, que têm pouca<br />

semelhança com a analogia lakatosiana ou com os termos que são usados na reconstrução das<br />

ciências físicas. Nesse sentido, para o autor, a conclusão geral que pode ser tirada dessa<br />

literatura histórica é que “in case the studies where the relevant language is consistent with<br />

lakatos, “progress”, and the prediction the novel facts it necessarily implies, has a rare<br />

occurrence” (HANDS, 1993, p. 69). Nessa mesma linha de raciocinio, Backhouse (1994)<br />

afirma que “for Marchi, as for Hands, economists find lakatosian methodology attractive<br />

because it provides a way of defending what they do” (p. 180).<br />

Cumpre argumentar que essa “nova visão”, amparada nos trabalhos de Kuhn e Lakatos<br />

ou em autores como Feyerabend, não chegou a constituir uma concepção preponderante na<br />

filosofia da ciência, mas os questionamentos que ela suscitou com relação ao que deve ou não<br />

ser aceito como ciência passaram a fazer parte do rol de preocupações dos economistas.<br />

3 Objeto e Método em Economia: Mill e Robbins<br />

Nos anos recentes, tem sido observado um aumento no interesse ligado a questões<br />

metodológicas em economia 4 . Segundo Monteiro (2003), três principais argumentos<br />

justificam a retomada dessas questões: i) o renascimento da discussão metodológica como<br />

fruto das controvérsias da filosofia da ciência sobre a própria natureza da ciência, tal como<br />

observado na seção anterior; ii) a crise na qual passa a ciência econômica desde o começo da<br />

década de 1970, com a quebra do consenso em torno da chamada síntese neoclássica; e iii) a<br />

crescente utilização da abordagem econômica por outras ciências sociais.<br />

Sendo assim, retoma-se sumariamente a discussão sobre objeto e método em economia<br />

a partir de dois dos seus principais expoentes, no intuito de resgatar alguns elementos parte da<br />

discussão metodológica que antecedeu a visão instrumentalista fridmaniana dominante em<br />

grande parte do século XX. Para tanto, ainda que as preocupações metodológicas remontem<br />

aos escritos de Sênior (1827), o ponto de partida será o trabalho de Stuart Mill (1836)<br />

intitulado “On Definition of Political Economy”. Assume-se como referência este trabalho,<br />

pois parte-se do pressuposto de que as discussões metodológicas no campo das ciências<br />

sociais, assim como propostas por alguns autores, são particularmente necessárias na medida<br />

em que não existe consenso entre os cientistas a respeito do tipo de explicação que deve ser<br />

considerado como válido. Ou ainda, admite-se que, apesar de as explicações nas ciências<br />

sociais apresentarem características comuns às ciências naturais, certos atributos sociais são<br />

de sua exclusividade e, assim, exigem maior cuidado quando da investigação científica.<br />

Em sua obra, especialmente no capítulo intitulado “Da Definição de Economia Política<br />

e do Método de Investigação Próprio a Ela”, como o próprio nome revela, o autor faz uma<br />

discussão sobre a definição da economia política como ciência, abordando seu campo de<br />

pesquisa e objeto de estudo e, simultaneamente, explicitando os pontos que a diferem das<br />

outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, essas reflexões metodológicas podem ser<br />

sintetizadas em quatro argumentos: (i) o conhecimento humano é dividido entre ciência física<br />

e ciência moral ou psicológica; (ii) a razão fundamental da distinção entre essas ciências<br />

resulta da operação conjunta de leis da matéria e leis da mente humana; (iii) essas leis são tão<br />

dessemelhantes em sua natureza que seria contrário a todos os princípios de arranjo racional<br />

misturá-las como parte do mesmo estudo - sendo assim, em todos os métodos científicos elas<br />

4 Boa parte desse interesse remete-se à discussão acerca do papel que a metodologia desempenha, ou deve<br />

desempenhar, em economia. Nesse caso, existem autores como Blaug (1993) que defendem não apenas a<br />

importância da metodologia, mas também a necessidade de se adotar um procedimento metodológico específico,<br />

como McMloskey, para quem a metodologia não é apenas inútil, mas também prejudicial (MONTEIRO, 2003).<br />

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