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METODOLOGIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA, REALISMO CRÍTICO E TEORIA PÓS ...

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Por outro lado, destaca-se a concepção de que o material da realidade social é altamente<br />

relacional. Ou seja, se as ações humanas e as estruturas sociais são coisas diferentes, então é<br />

necessário desenvolver alguma concepção de aproximação, uma que permite a possibilidade<br />

de o indivíduo agir com base em suas próprias razões, enquanto, ao fazê-lo, ao mesmo tempo<br />

contribui para a reprodução da estrutura social. Nesse caso, é fundamental distinguir dois<br />

tipos de relação: externa e interna. Dois objetos ou aspectos são ditos como sendo<br />

externamente relacionados se nenhum é constituído por relações representativas para o outro,<br />

enquanto dois objetos são internamente relacionados se eles assim o são por força de sua<br />

relação com os demais. Para a ciência social, e de acordo com o realismo crítico, são de<br />

particular importância as relações internas que se mantêm entre as posições sociais, pois todo<br />

sistema e estrutura social dependem ou pressupõem essas relações.<br />

Nesse ponto, o autor distancia-se da ontologia reducionista atomística – em que os itens<br />

são relacionados externamente - ou orgânica – em que as totalidades são internamente<br />

relacionadas. Segundo este, a priori não há razão para supor que uma ou outra, ou qualquer<br />

combinação dessas, vai ser relevante em qualquer investigação particular. Todas as questões<br />

ou assuntos são determinados somente no contexto da análise empírica específica. A<br />

posteriori, entretanto, o mundo social parece ser caracterizado por alto grau de<br />

relacionalidade interna, ou complexas combinações de estruturas interna ou totalmente<br />

relacionadas (LAWSON, 1994).<br />

Observa-se, portanto, que a relação agente-estrutura se torna central na ontologia das<br />

teorias sociais. A possibilidade de transformação está dada tanto pela ação dos agentes sobre<br />

as estruturas existentes, quanto pelos limites impostos por elas. Essa condição estabelece ao<br />

Realismo Crítico uma inovação como prescrição para orientar teorias na medida em que<br />

aceita, a priori, as múltiplas possibilidades na relação agente-estrutura, o que caracteriza uma<br />

ontologia de sistema aberto. Segundo Arienti (2009, p. 16-17), pode-se afirmar, então, que o<br />

Realismo Crítico dá um respaldo ontológico a teorias e análises, cabendo à ontologia desenhar<br />

um sistema aberto, à teoria explicar a relação estrutura-agente e indicar suas tendências e à<br />

análise explicar os resultados contingentes frente às alternativas. A pretensão é, nesse sentido,<br />

a formulação de uma teoria ontológica que, baseada na filosofia do Realismo Transcendente,<br />

apresente referências sobre a natureza do mundo social que orientarão as teorias sociais, ou,<br />

em outras palavras, a defesa da realidade social como um sistema aberto e estruturado em<br />

várias dimensões.<br />

5 Realismo Crítico e Teoria Pós-Keynesiana<br />

Como apontado por Lawson (1997, p. 300, nota 20), existe um crescente número de<br />

contribuições que envolvem uma estrutura realista igual ou semelhante à defendida pelo<br />

autor, que não só contribui no campo da economia na qualidade de teoria social, incluindo a<br />

metodologia econômica, mas também em muito daquilo que é interpretado como contribuição<br />

dos programas de pesquisas. No caso pós-keynesiano, o autor cita como representativos os<br />

trabalhos de Arestis (1990, 1992), Arestis e Chick (1992), Davis (1987, 1989) e Dow (1990,<br />

1991, 1995), entre outros. Não obstante, o próprio autor escreve alguns trabalhos em que<br />

reconhece a conexão entre essas abordagens. O que segue sintetiza alguns desses argumentos.<br />

Primeiramente, segundo Lawson (1999), deve-se reconhecer que o projeto<br />

sistematizado como realismo crítico é um projeto filosófico. Assim, ele não carrega<br />

diretamente quaisquer implicações concretas ou substantivas de política, uma vez que este é o<br />

papel que cabe às ciências específicas. Ou seja, este projeto é essencialmente não elaborado<br />

para a ciência (incluindo a ciência social) de forma que ele não pode agir substituindo a<br />

investigação. Todavia, isso não significa que este projeto é separado ou mesmo externo a<br />

prática social, ao contrário, ele possui suas raízes nelas. Ademais, como visto anteriormente,<br />

sua ontologia pressupõe que a realidade (natural e social) é estruturada, aberta e diferenciada,<br />

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