METODOLOGIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA, REALISMO CRÍTICO E TEORIA PÓS ...
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são colocadas separadamente; e (iv) a definição de uma ciência está inseparavelmente ligada à<br />
do método filosófico da ciência.<br />
Na tentativa de encontrar uma definição para a ciência da economia política, partindo da<br />
análise das versões existentes, como a proposta por Adam Smith (1776), e na demonstração<br />
da sua incompletude, Mill (1974) mostra que o conhecimento humano pode ser dividido em<br />
duas naturezas: aqueles pertencentes à ciência física e aqueles pertencentes à ciência moral.<br />
Em primeiro lugar, o autor mostra que a definição de economia política de Smith confunde<br />
ciência e arte e, em segundo lugar, que a definição mais amplamente aceita de que a<br />
“economia política nos informa acerca das leis que regulam a produção, distribuição e<br />
consumo da riqueza” anexada do argumento de que “a economia política, diz-se, está para o<br />
Estado assim como a economia doméstica está para a família” (MILL, 1974, p. 293), é<br />
errônea, porque a sua ilustração contém a mesma noção de economia política refutada na<br />
definição anterior, ou seja, admite a adoção de um conjunto de regras necessárias para manter<br />
uma família relativamente bem suprida.<br />
Segundo o autor, embora a definição não esteja sujeita à mesma objeção que a sua<br />
ilustração, ela está longe de ser irrecuperável, isso porque o termo riqueza está envolto por um<br />
“nevoeiro de associações” que não permite que nada do que é visto através delas se mostre<br />
distintamente. Nas palavras do autor;<br />
A distinção real entre a economia política e a ciência física deve ser procurada em<br />
algo mais profundo do que a natureza do objeto de estudo; que, de fato, é na maior<br />
parte comum a ambas. A economia política e as bases científicas de todas as artes<br />
úteis têm na verdade um mesmo objeto de estudo - notadamente, os objetos que<br />
conduzem a conveniência e satisfação dos homens, mas elas são, no entanto,<br />
ramos distintos do conhecimento Mill (1974, p. 302).<br />
Observa-se, assim, a distinção entre os dois ramos do conhecimento científico, ambos<br />
com objetos de estudo bem delimitados: para a ciência moral, a mente humana; para a ciência<br />
física, tudo aquilo que não esteja relacionado à mente humana. Nessa perspectiva, argumentase<br />
que as leis da mente e as leis da matéria são distintas a ponto de ser impossível conjugá-las<br />
em um mesmo estudo. Todavia, grande parte das ciências morais pressupõe a ciência física,<br />
mas pouco das ciências físicas pressupõem a ciência moral. Isso significa que a economia<br />
política, como investigação das leis da mente, pressupõe todas as ciências físicas, em grande<br />
parte, porque não existem fenômenos que dependem exclusivamente das leis da mente. Não<br />
obstante, chama-se atenção para o fato de que a definição de uma ciência está<br />
inseparavelmente ligada à do método filosófico da ciência, ou seja, à natureza do processo<br />
pelo qual suas investigações devem ser conduzidas. Nesse caso, o conhecimento das ciências<br />
morais e da economia política em particular estaria baseado no método a priori (mistura do<br />
método de indução e de raciocínio), o que significa raciocinar a partir de uma hipótese<br />
assumida. O economista político, então, raciocina a partir de assunções e não a partir de fatos.<br />
As passagens a seguir ilustram essas afirmações;<br />
Por fim, uma última observação relaciona-se ao fato de que apesar de todas as<br />
operações – como o fato de a humanidade acumular riqueza e empregá-la na produção de<br />
outra riqueza ou sancionar, por acordos mútuos, a instituição da propriedade e estabelecer leis<br />
para evitar que os indivíduos usurpem uns aos outros – serem resultado de uma pluralidade de<br />
motivos, estas operações são consideradas pela economia política decorrentes unicamente do<br />
desejo de riqueza. Nesse caso, a ciência procede investigando as leis que governam essas<br />
várias operações sob a suposição de que o homem é determinado, pela necessidade de sua<br />
natureza, a preferir uma maior porção de riqueza. Isso não acontece porque o economista<br />
político é ridículo a ponto de supor que a humanidade assim se constitui, mas porque este é o<br />
modo pelo qual a ciência deve necessariamente proceder. Sendo assim, quando um efeito<br />
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