“Territórios imaginários”: a institucionalização do discurso ...
“Territórios imaginários”: a institucionalização do discurso ...
“Territórios imaginários”: a institucionalização do discurso ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Para dar força a isso, a busca corrente de uma precedência baixo-medieval foi<br />
um escopo natural desses estudiosos. Apenas para nomear um <strong>do</strong>s principais, há o<br />
trabalho neste senti<strong>do</strong> de Joan Martí i Castell sobre os Usatges 3<br />
, um código jurídico<br />
compila<strong>do</strong> pelos condes de Barcelona nos séculos XII-XIII e considera<strong>do</strong> o maior<br />
lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> direito local catalão ao longo <strong>do</strong> medievo ibérico. O levantamento de Martí i<br />
Castell procura exatamente assentar os fundamentos linguísticos <strong>do</strong> idioma, embora<br />
sem fazer disso um percurso ingênuo de purificação, reconhecen<strong>do</strong> os muitos débitos<br />
deste para com outras culturas próximas, bem como sua recorrente hibridação entre<br />
grupos linguísticos internos. Ainda hoje, a questão da formação da língua permanece<br />
prioritária sobre os demais vínculos da comunidade, e é em razão disso que seu<br />
<strong>discurso</strong> prossegue próclive, seja como forma a garantir a “solidez” identitária seja<br />
como barreira aos grupos estranhos que passem a ameaçá-la de dentro – eis a<br />
ameaça contaminatória <strong>do</strong> imigrante, espanhol ou não espanhol, sobre a pureza de<br />
um idioma recém encontra<strong>do</strong>, a ameaça antes de tu<strong>do</strong> pela hibridação.<br />
2.2. O <strong>discurso</strong> jurídico como fornece<strong>do</strong>r de identidade<br />
No tocante aos marcos jurídicos, há três episódios ao longo da moderna história<br />
<strong>do</strong> povo catalão que merecem atenção por sua condição especialmente traumática ao<br />
sentimento autonomista de seus naturais; estes seriam, nomeadamente, (1) o Decreto<br />
de Nova Planta, de 1714, que, num contexto de supressão com a instalação da<br />
dinastia bourbônica, fixou uma hierarquia normativa no Reino encabeçada pelas<br />
recolhas legislativas castelhanas de Felipe III, de 1599, deslocan<strong>do</strong> com isso o vasto<br />
corpo jurídico catalão a um plano de aplicabilidade subsidiária. O Decreto significou<br />
para os venci<strong>do</strong>s catalães um ato de frontal desrespeito às liberdades territoriais e aos<br />
seus direitos históricos invoca<strong>do</strong>s e manti<strong>do</strong>s desde que o Principa<strong>do</strong> da Catalunha<br />
passou para mãos de uma dinastia castelhana, cuja supremacia de suas constituições<br />
locais era reconhecida pelo Compromisso de Caspe, de 1412, tornan<strong>do</strong>-se agora<br />
limitadas pela centralização irracional da maquina burocrática e judiciária castelhana.<br />
Isto pode suscitar outras facetas da autonomia jurídica <strong>do</strong> Principa<strong>do</strong>, como a que lhe<br />
era conferida pelos canonistas eclesiásticos <strong>do</strong> século XVII, excluin<strong>do</strong> <strong>do</strong> conjunto<br />
3<br />
MARTÍN I CASTELL, Joan. Estudi linguistic dels “Usatges de Barcelona”. El codi al mitjan segle XII.<br />
Barcelona: Curial Ediciones Catalanes, 2002.<br />
8