D - DORIA, LILIAN FLEURY TEIXEIRA.pdf - Universidade Federal ...
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A memória, "faculdade épica por excelência" 8 , é anna do homem<br />
para vencer a morte e perpetuar-se. O teatro, espaço sagrado do recordar, do<br />
re-contar, do re-apresentar, do re-criar, é também arte deste homem para<br />
reflexão de sua cultura e de sua interioridade, espaço livre para a consciência<br />
aflorar suas sombras e expor as tensões entre memória, tempo e linguagem.<br />
Heidegger:<br />
Quanto ao tempo, podemos partir da afirmação de Martin<br />
O tempo não é. Dá-se o tempo. O dar que dá tempo determina-se a partir da proximidade que<br />
recusa e retém. Ela garante o aberto do espaço - de - tempo e preserva o que, 110 passado,<br />
permanece recusado e, no futuro, retido. 9<br />
Se aceitamos o pressuposto de Heidegger de que o tempo não é,<br />
mas dá-se, podemos partir para a percepção de que o tempo no teatro é o<br />
tempo cênico, o tempo coerente com a concepção de cada texto e este é um<br />
dos alicerces do teatro moderno que quebra com a lei das três unidades.<br />
Boileau e seus contemporâneos, ao recordarem Aristóteles o aprisionaram e<br />
determinaram rigidamente que o teatro deveria seguir as unidades de tempo,<br />
ação e lugar. 10 Estas regras que determinaram a estrutura dramática das peças<br />
8<br />
Ibidem. Op. cit., p. 48.<br />
9<br />
HEIDEGGER, Martin. Seminário sobre Tempo e Ser. In: Conferencias e Escritos Filosóficos. Coleção Os<br />
Pensadores. São Paulo : Abril Cultural, 1973. p. 463. Trad. Ernildo Stém.<br />
10<br />
Sobre a penetração do ideal aristotélico: "Graças ao conhecimento cada vez mais preciso da antigüidade grega e<br />
romana e dos escritos de Aristóteles, implanta-se a partir do Renascimento pouco a pouco a idéia da peça rigorosa capaz de preencher ao<br />
máximo os cânones da Dramática pura. Aristóteles é interpretado como se tivesse estabelecido, na sua Arte Poética, prescrições eternas para<br />
toda a dramaturgia possível, independentemente de espaço geográfico, tempo histórico ou gâlio nacional. Tais interpretações atribuem ao<br />
filósofo a fixação definitiva mesmo de normas que só de passagem aborda (como a unidade do tempo) ou que nem sequer menciona (como a<br />
unidade do lugar); "ROSENFELD, Anatol. O Teatro Épico. São Paulo : São Paulo Editora, 1965. (Coleção Buriti, 5.), p. 43.<br />
Também sobre esta questão:<br />
"E só na intriga que a ação tem um contorno, um limite (horos, 51 a 60) e, em conseqüôicia, uma extensão. (...)<br />
Certamente essa extensão só pode ser temporal: a inversão leva tempo. Mas é o tempo da obra, não o tempo dos acontecimentos do mundo: o<br />
caráter de necessidade aplica-se a acontecimentos que a intriga toma contíguos (éphéxés, ibid.). Os tempos vazios são excluídos da conta. (...)<br />
Aristóteles opõe dois tipos de unidades: de um lado, a unidade temporal (hénos khronoa) que caracteriza um período único com todos os<br />
acontecimentos que se produziram no seu curso (...) de outro lado, a unidade dramática, que caracteriza "uma ação una" (59 a 22) (que<br />
forma um todo e vai até seu termo, com um começo, um meio e um fim). (...) Essas anotações confirmam que Aristóteles não assinala<br />
qualquer interesse pela construção do tempo suscetível de ser implicada na construção da intriga. Se, pois, o laço interno da intriga é mais<br />
lógico que cronológico, de que lógica se trata? (...) Não se permite mais a dúvida; o tipo de universalidade que a intriga comporta deriva de<br />
sua ordenação, a qual constitui sua completitude e sua totalidade. (...) A intriga engendra tais universais quando a estrutura da ação repousa<br />
sobre a articulação interna à ação e não sobre acidentes externos. A conexão interna como tal é a isca da universalização. Seria um traço de<br />
mimese visar no muthos não seu caráter de fábula, mas seu caráter de coerência."<br />
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. Tomo I. Trad, de Constança Marcondes Cesar. Campinas : Papirus, 1994. p.<br />
67, 68 e 70.<br />
8