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D - DORIA, LILIAN FLEURY TEIXEIRA.pdf - Universidade Federal ...

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2 o MÉDICO: - Bonito Corpo.<br />

I o MÉDICO: - Cureta.<br />

3 o MÉDICO: - Casada - Olha a aliança.<br />

(Rumor de ferros cirúrgicos).<br />

I o MÉDICO: - Aqui é amputação.<br />

3 o MÉDICO: - Só milagre.<br />

I o MÉDICO: - Serrote. (VN, p. 134)<br />

A crueza da realidade contrasta com o coloquialismo cheio de<br />

humor e sensualidade do plano da alucinação, particularmente das cenas no<br />

bordel e dos diálogos de Alaíde com Madame Clessi, prostituta que viveu em<br />

1903 e cujo diário Alaíde encontra no sótão da sua casa e lê.<br />

É nestes diálogos que Alaíde solta sua libido e seus desejos mais<br />

inconscientes, assumindo uma voluptuosidade e uma licenciosidade não<br />

permissíveis para uma senhora casada na sociedade brasileira daquela época e<br />

até mesmo, de hoje:<br />

CLESSI (forte): - Quer ser como eu, quer?<br />

ALAÍDE (veemente): - Quero, sim. Quero.<br />

CLESSI (exaltada, gritando): - Ter a fama que eu tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassinada?<br />

(VN, p. 117).<br />

A voluptuosidade e a sensualidade que emergem do plano da<br />

alucinação se chocam com o plano da memória, que é esgarçado e doloroso de<br />

ser recomposto, cheio de lacunas, conversas dissimuladas e dúbias, rostos<br />

escondidos, pessoas nas sombras, silêncios, medos.<br />

Nelson Rodrigues vai insistir durante toda a peça na recomposição<br />

das cenas do dia de casamento de Alaíde, como nos afirma o crítico Sábato<br />

Magaldi:<br />

O esforço da memória se volta para a reconstituição da cena do casamento, passagem capital na<br />

psicologia da jovem, como de resto de toda a antiga mentalidade familiar brasileira. 26<br />

26 MAGALDI, Sábato. Op. cit.,p. 17.<br />

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