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D - DORIA, LILIAN FLEURY TEIXEIRA.pdf - Universidade Federal ...

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Ao produto resultante dessa fusão de tendências chamamos de realismo poético - a realidade<br />

psicológica e social, ainda existente, refratada por processos que visavam a lhe dar maior alcance e<br />

originalidade artística. 50<br />

Este realismo poético de que nos fala Décio de Almeida Prado é<br />

entremeado com uma grande carga expressionista e, muitas vezes, traços de<br />

um teatro épico. Expressionista porque neste texto, a subjetivação atinge um<br />

alto grau, e a própria subjetividade constitui-se em mundo. 51<br />

A justaposição simultânea de (...) planos temporais é, evidentemente, um recurso épico. Só um<br />

narrador, no caso encoberto, pode manipular dois níveis de tempo, fazendo com que as personagens<br />

vivam simultaneamente em ambos. Na dramaturgia tradicional, em que não há esta possibilidade, as<br />

personagens avançam irremediavelmente para o futuro, como na realidade, inseridas no decurso<br />

linear do tempo, podendo apenas evocar o passado pelo diálogo, nunca cenícamente. 52<br />

A presença do autor como um narrador onisciente, mas que ao<br />

mesmo tempo tem no palco uma projeção fictícia que é Vicente, dramaturgo, é<br />

algo extraordinário, porque está trabalhando com um recurso épico de<br />

distanciamento e ao mesmo tempo o autor-personagem está no palco se auto-<br />

imolando, gerando perplexidade e angústia, o que reforça a denominação da<br />

peça de realismo poético, dada por Décio de Almeida Prado.<br />

A peça tem uma cena capital, onde o pai se debate com os quatro<br />

Vicentes e o público não tem nesta cena a memória de um personagem como<br />

era o caso de Vestido de Noiva, onde assistíamos ao recordar de Alaíde, mas<br />

sim um tecido complexo e entremeado de lembranças conscientes e<br />

inconscientes dos Vicentes (em seus diferentes momentos de vida) e do pai.<br />

50<br />

PRADO, Décio de Almeida. O Teatro Brasileiro Moderno: 1930-1980. São Paulo : Perspectiva : Editora da<br />

<strong>Universidade</strong> de São Paulo, 1988. p. 95-96.<br />

51<br />

"O expressionismo já não pretende reproduzir a realidade exterior e opõe ao drama naturalista (...) um drama de<br />

idéias em contexto fortemente emocional (...) o anti-ilusionismo incentiva as intenções cênicas e corresponde à filosofia do expressionismo; a<br />

auto-expressão das idéias do autor, através de um herói que percorre as "estações" da sua vida, à procura do próprio Eu ou de uma redenção<br />

utópica do mundo. (...) Essa consciência central não é evidentemente, a transposição literal do autor "biográfico" para o palco."<br />

ROSENFELD, Anatal. O Teatro Épico. Op. cit., p. 96, 97 e 99.<br />

52<br />

ROSENFELD, Anatol. Visão do Ciclo, in: ANDRADE, Jorge. Op. cit., p. 614.<br />

32

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