12.04.2013 Views

27 - Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

27 - Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

27 - Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Apreciação judicial <strong>de</strong><br />

punições disciplinares militares<br />

Para <strong>de</strong>limitar o campo teórico, insta dizer que se<br />

versará sobre punições que se realizam por meio <strong>do</strong><br />

encarceramento, ten<strong>do</strong> em conta o preceito <strong>do</strong> § 2º <strong>do</strong><br />

art. 142 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, que nega cabimento<br />

<strong>de</strong> habeas corpus em relação a essas punições. A dicção<br />

peremptória da norma constitucional parece, ao<br />

primeiro olhar, colidir com as reiteradas <strong>de</strong>cisões judiciais,<br />

consolidadas em jurisprudência, a exemplo:<br />

EMENTA: “Habeas corpus”. O senti<strong>do</strong> da restrição <strong>de</strong>le<br />

quanto às punições disciplinares militares (artigo<br />

142, § 2º, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral). [...]<br />

- O entendimento relativo ao § 20 <strong>do</strong> artigo 153 da<br />

Emenda Constitucional n. 1/69, segun<strong>do</strong> o qual o princípio,<br />

<strong>de</strong> que nas transgressões disciplinares não cabia<br />

“habeas corpus”, não impedia que se examinasse,<br />

nele, a ocorrência <strong>do</strong>s quatro pressupostos <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssas transgressões (a hierarquia, o po<strong>de</strong>r disciplinar,<br />

o ato liga<strong>do</strong> à função e a pena susceptível <strong>de</strong><br />

ser aplicada disciplinarmente), continua váli<strong>do</strong> para o<br />

disposto no § 2º <strong>do</strong> artigo 142 da atual Constituição<br />

que é apenas mais restritivo quanto ao âmbito <strong>de</strong>ssas<br />

transgressões disciplinares, pois a limita às <strong>de</strong> natureza<br />

militar. [...] (STF. Habeas corpus n. 70.648. Relator:<br />

Moreira Alves. Brasília, acórdão <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> nov. <strong>de</strong><br />

1993. Diário da <strong>Justiça</strong>, Brasília, 4 mar. 1994).<br />

Para clarear o pensamento e perceber que a vexata<br />

quaestio é encontrar o ponto <strong>de</strong> equilíbrio no exercício<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político por autorida<strong>de</strong>s investidas <strong>de</strong> funções<br />

distintas (administrativa e judicial), é <strong>de</strong> bom alvitre fazer<br />

anamnese na qual se i<strong>de</strong>ntifique o paciente, a queixa<br />

principal e o histórico <strong>do</strong> problema.<br />

FRIEDMANN WENDPAP<br />

Juiz Auxiliar da Correge<strong>do</strong>ria Nacional <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong><br />

FORÇAS ARMADAS<br />

As Forças Armadas são organizadas com base na hierarquia<br />

e na disciplina. Or<strong>de</strong>nação da autorida<strong>de</strong> e cumprimento<br />

obediente <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver. A indisciplina – transgressão<br />

disciplinar – fragiliza a segunda base <strong>de</strong> organização<br />

e <strong>de</strong>ve ser coibida para que o sistema se mantenha<br />

hígi<strong>do</strong>. O puni<strong>do</strong> rejeita a en<strong>do</strong>autorida<strong>de</strong> ao buscar<br />

apoio em exoautorida<strong>de</strong>: a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> habeas corpus<br />

provém <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> externa ao sistema militar. A apreciação<br />

judicial das punições cominadas pela autorida<strong>de</strong><br />

militar fragiliza a primeira base <strong>de</strong> organização, a hierarquia,<br />

e <strong>de</strong>ve ser inibida para a higi<strong>de</strong>z sistêmica. Essa<br />

é a mens legis <strong>do</strong> preceito constitucional.<br />

HIERARQUIA<br />

Idion, <strong>de</strong>mosion, hieron. No pensamento grego, os<br />

espaços físicos e emocionais <strong>de</strong> vivência se dividiam entre<br />

priva<strong>do</strong>, público e sagra<strong>do</strong>, com a ascendência <strong>do</strong> sacro<br />

sobre o profano. A superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma posição sobre<br />

outra numa linha vertical <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r até o ponto no<br />

qual acabam os homens e começam os <strong>de</strong>uses é a i<strong>de</strong>ia<br />

veiculada pela palavra hierarquia. Por força da Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral, o cimo das Forças Armadas, o último homem,<br />

é o presi<strong>de</strong>nte da República; acima <strong>de</strong>le há uma<br />

pessoa coletiva, mítica, <strong>de</strong>us da República, o povo, fonte<br />

primária <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, na forma <strong>do</strong> parágrafo único <strong>do</strong><br />

art. 1º <strong>do</strong> texto-mor.<br />

Relações sem po<strong>de</strong>r são, tecnicamente, anárquicas.<br />

Como fato a anarquia existe apenas em pequenos grupos<br />

– amigos que se reúnem aos sába<strong>do</strong>s para roda <strong>de</strong><br />

samba – e na maior das relações: as que ocorrem entre<br />

Revista <strong>de</strong><br />

ESTUDOS&INFORMAÇÕES<br />

ESTUDOS<br />

Março <strong>de</strong> 2010 13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!