12.04.2013 Views

27 - Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

27 - Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

27 - Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ESTUDOS<br />

30 Março <strong>de</strong> 2010<br />

O fundamento <strong>do</strong> exercício regular <strong>de</strong> um direito,<br />

como exclu<strong>de</strong>nte da responsabilida<strong>de</strong> civil, encontrase<br />

exatamente no fato <strong>de</strong> que quem exerce um direito<br />

não provoca o dano, caben<strong>do</strong> apenas ressaltar que esse<br />

uso <strong>de</strong>ve estar conti<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites da razoabilida<strong>de</strong>,<br />

posto que “se o exce<strong>de</strong> e, embora exercen<strong>do</strong>-o,<br />

causa um mal <strong>de</strong>snecessário ou injusto, equipara o seu<br />

comportamento ao ilícito e, ao invés <strong>de</strong> exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>, inci<strong>de</strong> no <strong>de</strong>ver ressarcitório.” (PE-<br />

REIRA, 1993, p. 294).<br />

Portanto, “a temperança no exercício <strong>de</strong> qualquer ato<br />

da vida humana não é apenas virtu<strong>de</strong> moral ou ética. O<br />

Direito não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecer essa realida<strong>de</strong>.” (VENO-<br />

SA, 2003, p. 602). Assim, a extrapolação <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong><br />

um direito em prejuízo <strong>de</strong> outrem “merece reprimenda,<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> consistir em violação a princípios <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong><br />

da lei e da equida<strong>de</strong>.” (VENOSA, 2003, p. 602)<br />

De extrema importância para a análise da questão<br />

que envolve a responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, em razão<br />

da execução da medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição contra as aeronaves<br />

utilizadas pelo narcotráfico, configura-se a hipótese<br />

<strong>do</strong> estrito cumprimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver legal, também consistente<br />

em exclu<strong>de</strong>nte da responsabilida<strong>de</strong> civil.<br />

Cabe ressaltar, contu<strong>do</strong>, que, por vezes, quan<strong>do</strong> a conduta<br />

<strong>de</strong> alguém que, aparentemente, exercita um direito<br />

<strong>de</strong>vidamente reconheci<strong>do</strong> causa danos a outrem, tal fato<br />

po<strong>de</strong> gerar o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar. Isso ocorre, quan<strong>do</strong> o agente<br />

ultrapassa os limites impostos e o que se espera <strong>de</strong> um<br />

comportamento razoável para aquela situação concreta.<br />

Esse excesso, que po<strong>de</strong> vir a ser pratica<strong>do</strong>, caracteriza<br />

o abuso <strong>de</strong> direito, que juridicamente po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong><br />

como “o fato <strong>de</strong> se usar <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> uma<br />

faculda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um direito ou mesmo <strong>de</strong> uma coisa, além<br />

<strong>do</strong> que razoavelmente o Direito e a socieda<strong>de</strong> permitem”.<br />

(VENOSA, 2003, p. 603).<br />

Portanto, to<strong>do</strong> aquele que, no exercício <strong>de</strong> um direito,<br />

atua <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> tal que sua conduta contraria a boafé,<br />

os bons costumes, os fins econômicos e sociais realiza<br />

um ato contrário ao direito, realiza um ato abusivo,<br />

gera<strong>do</strong>r da responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> agente pelos danos causa<strong>do</strong>s<br />

a outrem.<br />

Diante <strong>do</strong> que foi exposto acerca da responsabilida<strong>de</strong><br />

civil cabe, em seguida, a realização da análise da responsabilida<strong>de</strong><br />

atribuída ao Esta<strong>do</strong> para a hipótese <strong>de</strong><br />

realização da medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição. Por se tratar <strong>de</strong> uma<br />

Revista <strong>de</strong><br />

ESTUDOS&INFORMAÇÕES<br />

medida <strong>de</strong> natureza administrativa, fruto <strong>do</strong> cumprimento<br />

da missão <strong>de</strong> policiamento <strong>do</strong> espaço aéreo, que<br />

se efetiva conforme as exigências <strong>do</strong> serviço público e<br />

os interesses <strong>do</strong> grupo social, <strong>de</strong>ve submeter-se às regras<br />

e aos princípios que norteiam as ações administrativas<br />

estatais.<br />

Portanto, no que diz respeito à responsabilida<strong>de</strong> civil<br />

gerada pela efetivação da medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição, há<br />

<strong>de</strong> se concluir que os agentes públicos envolvi<strong>do</strong>s atuam<br />

no estrito cumprimento <strong>de</strong> um <strong>de</strong>ver legal, ou seja, cumprem<br />

exatamente o que a lei lhes <strong>de</strong>termina, sen<strong>do</strong> “inadmissível<br />

preten<strong>de</strong>r-se in<strong>de</strong>nizável eventuais prejuízos<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>do</strong>s atos discricionários quan<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong>s<br />

pela forma e nos limites estatuí<strong>do</strong>s na lei.” (SAUWEN<br />

FILHO, 2001, p. 92).<br />

4 CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO-PENAIS<br />

O Direito, como conjunto <strong>de</strong> regras jurídicas, surge<br />

no meio social com o fim <strong>de</strong> possibilitar a coexistência<br />

harmoniosa <strong>do</strong>s indivíduos que compõem a socieda<strong>de</strong>.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a norma penal contém um preceito estabelece<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer ou <strong>de</strong> não<br />

fazer alguma coisa, sob a ameaça <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> uma<br />

sanção aos seus infratores.<br />

To<strong>do</strong> fato que contraria uma norma jurídica se constitui<br />

num ilícito jurídico, que submete seu infrator às<br />

consequências jurídicas <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> sua conduta.<br />

Quan<strong>do</strong> essa conduta infringente da norma jurídica não<br />

atinge bens jurídicos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pelo legisla<strong>do</strong>r como<br />

tão relevantes, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a merecer proteção pela lei penal,<br />

gera para o autor consequências meramente civis,<br />

consistentes na reparação <strong>do</strong> dano causa<strong>do</strong>, configuran<strong>do</strong><br />

a ocorrência <strong>do</strong> ilícito civil.<br />

Contu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> alguns ilícitos atingem bens jurídicos<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alta relevância, ou seja, aqueles<br />

que atingem não apenas os interesses individuais, mas<br />

os que são lesivos ao grupo social, caracteriza-se a figura<br />

<strong>do</strong> ilícito penal, que traz como consequência jurídica<br />

a aplicação da pena.<br />

Como fonte direta da norma jurídica, consequentemente<br />

da norma penal, a lei <strong>de</strong>fine, então, essas condutas consi<strong>de</strong>radas<br />

graves, que constituem os ilícitos penais e entre os<br />

quais se <strong>de</strong>stacam os crimes ou <strong>de</strong>litos. Portanto, é a lei<br />

que <strong>de</strong>fine as condutas constitutivas <strong>do</strong>s crimes.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!