Monografia do Vasco A. Muchanga 2012.pdf

Na mesma perspectiva, o Relatório de monitoria do projecto para redução da violência contra a
mulher idosa na Província de Maputo, indica que, dos 44 casos de violência contra a mulher
idosa, identificados no segundo semestre de 2011, nas províncias de Maputo e Gaza, 31% são de
acusação de prática de feitiçaria, 25% de violência sexual, 23% problema de terra, 11% violência
física e 11% de abandono (HAI, 2011).
Como podemos perceber, os casos de violência contra a mulher idosa na sua maioria são de
acusação de prática de feitiçaria. Esses dados nos permitem compreender que a acusação de
mulheres idosas de prática de feitiçaria, se por um lado pode ser considerada uma forma de
violência, por outro lado, também pode ser considerada uma das causas (se não a primeira) de
outros formas de violência contra a mulher idosa.
Contudo, ainda que esses dados nos permitam ter uma certa compreensão sobre a situação da
violência contra a mulher idosa, deixam-nos uma questão fundamental que no nosso entender
seria interessante procurar aprofundar e saber quais os factores que contribuem para acusação da
mulher idosa de feiticeira e que relação existe entre esses factores.
RAIMUNDO (2009), baseando-se num estudo sobre a influência do fenómeno da feitiçaria na
mobilidade populacional, chegou a conclusão que o fenómeno da feitiçaria é uma realidade que
influencia na mobilidade populacional e no processo de desenvolvimento ou na pobreza no
Distrito de Mandimba, Província de Niassa. Segundo esta autora, a forte consciência colectiva na
crença de que o aparecimento de doenças, mortes súbitas ou inexplicáveis está ligado a um acto
de feitiçaria ou a um feitiço, constitui motivo de acusação mútua de prática de feitiçaria e origina
conflitos e instabilidade social.
Ainda na mesma perspectiva, RAIMUNDO, constatou que, no Distrito de Mandimba, a crença
na feitiçaria constitui um factor relevante que põe em causa todo esforço de desenvolvimento do
governo e de doadores, visto que há populações com medo de adoptar suas iniciativas
particulares para desenvolver ou erradicar a sua pobreza por temer ser enfeitiçadas. Isto deve-se,
segundo autora, a crença de que uma pessoa não pode desenvolver do ponto de vista económico
e social mais do que os outros membros da mesma comunidade, sob risco de ser acusada de estar
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