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Inovação na era do conhecimento, por Cristina Lemos - Redetec

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122 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

1 Introdução<br />

Capítulo<br />

5<br />

<strong>Inovação</strong> <strong>na</strong><br />

Era <strong>do</strong> Conhecimento<br />

Cristi<strong>na</strong> <strong>Lemos</strong>*<br />

O contexto atual se caracteriza <strong>por</strong> mudanças acel<strong>era</strong>das nos merca<strong>do</strong>s,<br />

<strong>na</strong>s tecnologias e <strong>na</strong>s formas organizacio<strong>na</strong>is e a capacidade de g<strong>era</strong>r<br />

e absorver inovações vem sen<strong>do</strong> consid<strong>era</strong>da, mais <strong>do</strong> que nunca, crucial<br />

para que um agente econômico se torne competitivo. Entretanto, para<br />

acompanhar as rápidas mudanças em curso, tor<strong>na</strong>-se de extrema relevância<br />

a aquisição de novas capacitações e <strong>conhecimento</strong>s, o que significa<br />

intensificar a capacidade de indivíduos, empresas, países e regiões de aprender<br />

e transformar esse aprendiza<strong>do</strong> em fator de competitividade para os<br />

mesmos. Por esse motivo, vem-se denomi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> esta fase como a da Economia<br />

Baseada no Conhecimento ou, mais especificamente, Baseada no<br />

Aprendiza<strong>do</strong>.<br />

Apesar de muitos consid<strong>era</strong>rem, atualmente, que o processo de<br />

globalização e a dissemi<strong>na</strong>ção das tecnologias de informação e comunicação<br />

permitem a fácil transferência de <strong>conhecimento</strong>, observa-se que, ao<br />

contrário dessa tese, ape<strong>na</strong>s informações e alguns <strong>conhecimento</strong>s podem<br />

ser facilmente transferíveis. Elementos cruciais <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>, implícitos<br />

<strong>na</strong>s práticas de pesquisa, desenvolvimento e produção, não são facilmente<br />

transferíveis espacialmente, pois estão enraiza<strong>do</strong>s em pessoas,<br />

organizações e locais específicos. Somente os que detêm esse tipo de <strong>conhecimento</strong><br />

podem ser capazes de se adaptar às velozes mudanças que<br />

* A autora agradece a valiosa contribuição de Hele<strong>na</strong> M. M. Lastres para a elaboração deste<br />

capítulo.


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 123<br />

ocorrem nos merca<strong>do</strong>s e <strong>na</strong>s tecnologias e g<strong>era</strong>r inovações em produtos,<br />

processos e formas organizacio<strong>na</strong>is. Dessa forma, se tor<strong>na</strong> um <strong>do</strong>s limites<br />

mais im<strong>por</strong>tantes à g<strong>era</strong>ção de inovação <strong>por</strong> parte de empresas, países e<br />

regiões o não-compartilhamento desses <strong>conhecimento</strong>s que permanecem<br />

específicos e não-transferíveis.<br />

Assim, enormes esforços vêm sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s para tor<strong>na</strong>r novos <strong>conhecimento</strong>s<br />

apropriáveis, bem como para estimular a int<strong>era</strong>ção entre os<br />

diferentes agentes econômicos e sociais para a sua difusão e conseqüente<br />

g<strong>era</strong>ção de inovações. Reconhece-se, <strong>por</strong>tanto, no contexto atual de intensa<br />

competição, que o <strong>conhecimento</strong> é a base fundamental e o aprendiza<strong>do</strong><br />

int<strong>era</strong>tivo é a melhor forma para indivíduos, empresas, regiões e<br />

países estarem aptos a enfrentar as mudanças em curso, intensificarem a<br />

g<strong>era</strong>ção de inovações e se capacitarem para uma inserção mais positiva<br />

nesta fase.<br />

Este capítulo objetiva identificar as principais alt<strong>era</strong>ções no entendimento<br />

<strong>do</strong> processo inovativo, e as formas de inovação características da<br />

atual fase. Para tal, <strong>na</strong> Seção 2, abordam-se os principais elementos <strong>do</strong><br />

processo inovativo, sua <strong>na</strong>tureza e fontes, bem como os <strong>conhecimento</strong>s<br />

necessários para sua g<strong>era</strong>ção. São discuti<strong>do</strong>s, <strong>na</strong> Seção 3, aspectos <strong>do</strong> que<br />

vem sen<strong>do</strong> aponta<strong>do</strong> como a Economia Baseada no Conhecimento, e<br />

posteriormente, <strong>na</strong> Seção 4, as mudanças mais recentes <strong>na</strong> dinâmica de<br />

g<strong>era</strong>ção e aquisição desses <strong>conhecimento</strong>s e as tendências de intensificação<br />

de sua codificação. Objetiva-se enfocar, <strong>na</strong> Seção 5, a relevância <strong>do</strong><br />

aprendiza<strong>do</strong> como processo central para a inovação e, <strong>na</strong> Seção 6, os<br />

novos formatos organizacio<strong>na</strong>is que vêm sen<strong>do</strong> consid<strong>era</strong><strong>do</strong>s como mais<br />

adequa<strong>do</strong>s para se participar desse processo. Na Seção 7, apresentam-se<br />

argumentos sobre a im<strong>por</strong>tância de sistemas locais <strong>na</strong> g<strong>era</strong>ção de inovação.<br />

Discutem-se, <strong>na</strong> Seção 8, as alt<strong>era</strong>ções <strong>por</strong> que vêm passan<strong>do</strong> políticas<br />

de promoção de inovações e, <strong>por</strong> fim, <strong>na</strong> conclusão, argumenta-se<br />

que, se houve uma mudança <strong>na</strong> compreensão desse processo, é necessário<br />

que as novas políticas reconheçam e incor<strong>por</strong>em tais alt<strong>era</strong>ções,<br />

reformulan<strong>do</strong> seus formatos e objetivos.<br />

2 Novos elementos no processo de inovação<br />

No âmbito da economia, ao longo deste século, muito vem se discutin<strong>do</strong><br />

sobre a inovação, sua <strong>na</strong>tureza, características e fontes, com o objetivo<br />

de buscar uma maior compreensão de seu papel frente ao desenvolvimento<br />

econômico, ressaltan<strong>do</strong>-se como marco fundamental a contribuição<br />

de Joseph Schumpeter, <strong>na</strong> primeira metade deste século, que


124 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

enfocou a im<strong>por</strong>tância das inovações e <strong>do</strong>s avanços tecnológicos no desenvolvimento<br />

de empresas e da economia.<br />

De forma genérica, existem <strong>do</strong>is tipos de inovação: a radical e a<br />

incremental. Pode-se entender a inovação radical como o desenvolvimento<br />

e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização da<br />

produção inteiramente nova. Esse tipo de inovação pode representar uma<br />

ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior, origi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> novas<br />

indústrias, setores e merca<strong>do</strong>s. Também significam redução de custos e<br />

aumento de qualidade em produtos já existentes. Algumas im<strong>por</strong>tantes<br />

inovações radicais, que causaram impacto <strong>na</strong> economia e <strong>na</strong> sociedade<br />

como um to<strong>do</strong> e alt<strong>era</strong>ram para sempre o perfil da economia mundial,<br />

podem ser lembradas, como, <strong>por</strong> exemplo, a introdução da máqui<strong>na</strong> a<br />

va<strong>por</strong>, no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XVIII, ou o desenvolvimento da microeletrônica,<br />

a partir da década de 1950. Estas e algumas outras inovações radicais<br />

impulsio<strong>na</strong>ram a formação de padrões de crescimento, com a conformação<br />

de paradigmas tecno-econômicos (Freeman, 1988).<br />

As inovações podem ser ainda de caráter incremental, referin<strong>do</strong>-se à<br />

introdução de qualquer tipo de melhoria em um produto, processo ou<br />

organização da produção dentro de uma empresa, sem alt<strong>era</strong>ção <strong>na</strong> estrutura<br />

industrial (Freeman, 1988). Inúmeros são os exemplos de inovações<br />

incrementais, muitas delas imperceptíveis para o consumi<strong>do</strong>r, poden<strong>do</strong><br />

g<strong>era</strong>r crescimento da eficiência técnica, aumento da produtividade,<br />

redução de custos, aumento de qualidade e mudanças que possibilitem<br />

a ampliação das aplicações de um produto ou processo. A otimização<br />

de processos de produção, o design de produtos ou a diminuição <strong>na</strong> utilização<br />

de materiais e componentes <strong>na</strong> produção de um bem podem ser<br />

consid<strong>era</strong><strong>do</strong>s inovações incrementais.<br />

Até pouco tempo, <strong>era</strong> grande a rigidez para caracterizar o processo de<br />

inovação, suas fontes de g<strong>era</strong>ção e formas como se realiza e difunde.<br />

Evidentemente que a compreensão <strong>do</strong> processo de inovação está estreitamente<br />

influenciada pelas características <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes de contextos histórico-econômicos<br />

específicos. Atualmente, aspectos negligencia<strong>do</strong>s <strong>por</strong> não<br />

terem relevância nos perío<strong>do</strong>s em questão começam a ser ple<strong>na</strong>mente<br />

reconheci<strong>do</strong>s como de papel fundamental para o êxito <strong>do</strong> processo inovativo.<br />

À medida que melhor se conhecem as especificidades da g<strong>era</strong>ção e<br />

difusão de inovação, mais se sabe sobre sua im<strong>por</strong>tância para que empresas<br />

e países reforcem sua competitividade <strong>na</strong> economia mundial.<br />

Cabe ressaltar que, em correntes tradicio<strong>na</strong>is da economia, ainda hoje<br />

existem dificuldades de análise <strong>do</strong> processo inovativo. Essas vertentes,<br />

em g<strong>era</strong>l, consid<strong>era</strong>m a tecnologia um fator exógeno à dinâmica econô-


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 125<br />

mica, que se encontra facilmente disponível e transferível a qualquer agente<br />

econômico. Consid<strong>era</strong>m, ainda, que o processo inovativo é igual para<br />

esses agentes, independentemente <strong>do</strong> seu tipo, setor, estágio de capacitação<br />

tecnológica, local ou país em que está localiza<strong>do</strong>.<br />

Diferentemente desse enfoque, destaca-se neste capítulo a abordagem<br />

neo-schumpeteria<strong>na</strong> que aponta para uma estreita relação entre o<br />

crescimento econômico e as mudanças que ocorrem com a introdução e<br />

dissemi<strong>na</strong>ção de inovações tecnológicas e organizacio<strong>na</strong>is. Compreendese,<br />

sob esse ponto de vista, que os avanços resultantes de processos<br />

inovativos são fator básico <strong>na</strong> formação <strong>do</strong>s padrões de transformação da<br />

economia, bem como de seu desenvolvimento de longo prazo.<br />

Entretanto, reconhece-se que o entendimento existente sobre a <strong>na</strong>tureza<br />

das inovações e seus efeitos sobre o crescimento econômico são ainda<br />

limita<strong>do</strong>s. A busca de uma maior compreensão deste processo levou<br />

ao notável crescimento <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s nesta área, ao longo das últimas décadas.<br />

À medida que se intensificaram formas anteriormente não sistematizadas<br />

no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo inovativo, novos aspectos pud<strong>era</strong>m ser<br />

incor<strong>por</strong>a<strong>do</strong>s ao quadro de referência anterior.<br />

Dessa forma, noções lineares sobre o processo inovativo — como<br />

aquelas que o tratavam como resulta<strong>do</strong> das atividades realizadas <strong>na</strong> esf<strong>era</strong><br />

da ciência, que evoluiria unidirecio<strong>na</strong>lmente para a tecnologia, até<br />

chegar à produção e ao merca<strong>do</strong> — já não se colocam mais no centro <strong>do</strong><br />

debate. Adicio<strong>na</strong>lmente, <strong>na</strong> mesma medida que a ciência não pode ser consid<strong>era</strong>da<br />

como fonte absoluta de inovações, também as demandas que vêm<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> não devem ser tomadas como o único elemento determi<strong>na</strong>nte<br />

<strong>do</strong> processo de inovação, como apresentavam teses contrárias. 1<br />

Quan<strong>do</strong> se aceita a existência de uma estrutura complexa de int<strong>era</strong>ção<br />

entre o ambiente econômico e as direções das mudanças tecnológicas,<br />

deixa-se de compreender o processo de inovação como um processo que<br />

evolui da ciência para o merca<strong>do</strong>, ou como seu oposto, que o merca<strong>do</strong> é a<br />

fonte das mudanças. Os diferentes aspectos da inovação a tor<strong>na</strong>m um processo<br />

complexo, int<strong>era</strong>tivo e não-linear. Combi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, tanto os <strong>conhecimento</strong>s<br />

adquiri<strong>do</strong>s com os avanços <strong>na</strong> pesquisa científica, quanto as necessidades<br />

oriundas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> levam a inovações em produtos e processos e<br />

a mudanças <strong>na</strong> base tecnológica e organizacio<strong>na</strong>l de uma empresa, setor ou<br />

país, que podem se dar tanto de forma radical como incremental.<br />

1. Para detalhes sobre a crítica ao modelo linear e o longo debate acerca <strong>do</strong>s argumentos de science<br />

ou technology-push e demand ou market-pull, ver, entre outros, Freeman, 1988; Lastres, 1993 e<br />

<strong>Lemos</strong>, 1996.


126 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

Longe de ser linear, o processo inovativo se caracteriza <strong>por</strong> ser<br />

descontínuo e irregular, com concentração de surtos de inovação, os quais<br />

vão influenciar diferentemente os diversos setores da economia em determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s<br />

perío<strong>do</strong>s. Além de não obedecer a um padrão linear, contínuo<br />

e regular, as inovações possuem também um considerável grau de<br />

incerteza, posto que a solução <strong>do</strong>s problemas existentes e as conseqüências<br />

das resoluções são desconhecidas a priori. Revelam, <strong>por</strong> outro la<strong>do</strong>,<br />

um caráter cumulativo, ten<strong>do</strong> em vista que a capacidade de uma empresa<br />

realizar mudanças e avanços, dentro de um padrão estabeleci<strong>do</strong>, é fortemente<br />

influenciada pelas características das tecnologias que estão sen<strong>do</strong><br />

utilizadas e pela experiência acumulada no passa<strong>do</strong> (Dosi, 1988).<br />

Com a maior compreensão sobre a <strong>na</strong>tureza e as fontes de g<strong>era</strong>ção de<br />

inovações, flexibilizou-se a abrangência de sua definição e ampliou-se o<br />

leque de atividades consid<strong>era</strong>das de inovação. De forma g<strong>era</strong>l, consid<strong>era</strong>se,<br />

atualmente, que a mesma envolve diferentes etapas no processo de<br />

obtenção de um produto até o seu lançamento no merca<strong>do</strong>. Não significa<br />

algo necessariamente inédito, nem resulta somente da pesquisa científica.<br />

Não se refere ape<strong>na</strong>s a mudanças <strong>na</strong> tecnologia utilizada <strong>por</strong> uma empresa<br />

ou setor, mas inclui também mudanças organizacio<strong>na</strong>is, relativas às<br />

formas de organização e gestão da produção.<br />

A definição de inovação que vem sen<strong>do</strong> mais comumente utilizada<br />

caracteriza-a, <strong>por</strong>tanto, como a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento,<br />

imitação e a<strong>do</strong>ção de novos produtos, processos e novas<br />

técnicas organizacio<strong>na</strong>is (Dosi, 1988). Objetivan<strong>do</strong> apontar para as possibilidades<br />

de inovação em países em desenvolvimento, Mytelka (1993)<br />

desfaz a noção de que inovação deve ser algo absolutamente novo no<br />

mun<strong>do</strong> e colabora para a sua compreensão, ao focar a inovação sob o<br />

ponto de vista <strong>do</strong> agente econômico que a está implementan<strong>do</strong>. Assim,<br />

consid<strong>era</strong> inovação o processo pelo qual produtores <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>m e<br />

implementam o projeto e produção de bens e serviços que são novos para<br />

os mesmos, a despeito de serem ou não novos para seus concorrentes —<br />

<strong>do</strong>mésticos ou estrangeiros.<br />

Im<strong>por</strong>tante também foi o entendimento de que cada uma das fontes<br />

de g<strong>era</strong>ção de inovações — baseadas <strong>na</strong> ciência, ou <strong>na</strong> experiência cotidia<strong>na</strong><br />

de produção, design, gestão, comercialização e marketing <strong>do</strong>s produtos<br />

— pode ter maior relevância e impacto distinto para o processo,<br />

dependen<strong>do</strong> sobremaneira da estrutura e tipo da empresa, <strong>do</strong>s setores e<br />

países em questão. Está também relacio<strong>na</strong>da à <strong>na</strong>tureza da inovação, se se<br />

refere a aperfeiçoamentos ou se representa rupturas nos sistemas tecnológicos,<br />

ou seja, se são inovações incrementais ou radicais.


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 127<br />

Da mesma forma, cada uma dessas fontes de inovação vai ser em<br />

maior ou menor grau prevalecente, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> estágio em que se<br />

encontra o paradigma. Na emergência de um paradigma, quan<strong>do</strong> novas<br />

tecnologias surgem com mais intensidade, parece ser mais evidente que<br />

as fontes baseadas em <strong>conhecimento</strong>s científicos possuem papel fundamental<br />

para a introdução de inovações de cunho mais radical. Já em sua<br />

maturidade, quan<strong>do</strong> as tecnologias já estão <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>das, as fontes relacio<strong>na</strong>das<br />

a <strong>conhecimento</strong>s adquiri<strong>do</strong>s com a experiência da empresa se tor<strong>na</strong>m<br />

mais e mais im<strong>por</strong>tantes para que as firmas estejam aptas a g<strong>era</strong>r<br />

aperfeiçoamentos e obter inovações incrementais (Freemaan, 1988).<br />

Assim, é necessário consid<strong>era</strong>r que uma empresa não inova sozinha,<br />

pois as fontes de informações, <strong>conhecimento</strong>s e inovação podem se localizar<br />

tanto dentro, como fora dela. O processo de inovação é, <strong>por</strong>tanto,<br />

um processo int<strong>era</strong>tivo, realiza<strong>do</strong> com a contribuição de varia<strong>do</strong>s agentes<br />

econômicos e sociais que possuem diferentes tipos de informações e <strong>conhecimento</strong>s.<br />

Essa int<strong>era</strong>ção se dá em vários níveis, entre diversos departamentos<br />

de uma mesma empresa, entre empresas distintas e com outras<br />

organizações, como aquelas de ensino e pesquisa. O arranjo das várias<br />

fontes de idéias, informações e <strong>conhecimento</strong>s passou, mais recentemente,<br />

a ser consid<strong>era</strong><strong>do</strong> uma im<strong>por</strong>tante maneira das firmas se capacitarem<br />

para g<strong>era</strong>r inovações e enfrentar mudanças, ten<strong>do</strong> em vista que a solução<br />

da maioria <strong>do</strong>s problemas tecnológicos implica o uso de <strong>conhecimento</strong><br />

de vários tipos.<br />

Observa-se que a emergência <strong>do</strong> atual paradigma, basea<strong>do</strong> <strong>na</strong>s novas<br />

tecnologias de informação e comunicação, que possibilitou uma transformação<br />

radical <strong>na</strong>s formas de comunicação e de troca de informações,<br />

colocou em relevo as características elencadas anteriormente, ou seja, a<br />

im<strong>por</strong>tância das diferentes fontes de inovação e da int<strong>era</strong>ção entre as<br />

mesmas. Contribuiu, ainda, para compreender que esses aspectos <strong>do</strong> processo<br />

de inovação sempre estiv<strong>era</strong>m presentes mas, no atual contexto,<br />

são mais <strong>do</strong> que nunca condição necessária para a g<strong>era</strong>ção de inovações.<br />

O fato é que o processo de inovação aumentou consid<strong>era</strong>velmente sua<br />

velocidade <strong>na</strong>s últimas décadas. A acel<strong>era</strong>ção da mudança tecnológica é<br />

de tal ordem que se nota uma alt<strong>era</strong>ção radical no uso <strong>do</strong> tempo <strong>na</strong> economia,<br />

com uma crescente redução <strong>do</strong> tempo de produção de bens —<br />

<strong>por</strong> meio da utilização das novas tecnologias, formas organizacio<strong>na</strong>is e<br />

técnicas de gestão da produção — e também de consumo <strong>do</strong>s bens —<br />

com a planejada diminuição <strong>do</strong> tempo de vida <strong>do</strong>s produtos. A necessidade<br />

de colaboração, mesmo para grandes conglom<strong>era</strong><strong>do</strong>s, tor<strong>na</strong>-se, <strong>por</strong>tanto,<br />

muito maior, para que se possa acompanhar o ritmo dessas mu-


128 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

danças e não ficar para trás. Dessa forma é que se observa a crescente<br />

articulação dentro das empresas e entre estas e outras organizações, em<br />

especial as instituições de pesquisa.<br />

3 A economia baseada no <strong>conhecimento</strong> e no aprendiza<strong>do</strong><br />

Desde o pós-guerra, vem se reconhecen<strong>do</strong>, paulati<strong>na</strong>mente, que a<br />

produtividade e a competitividade <strong>do</strong>s agentes econômicos depende cada<br />

vez mais da capacidade de lidar eficazmente com a informação para<br />

transformá-la em <strong>conhecimento</strong>. Uma grande e crescente pro<strong>por</strong>ção da<br />

força de trabalho passou a estar envolvida <strong>na</strong> produção e distribuição de<br />

informações e <strong>conhecimento</strong>s e não mais <strong>na</strong> produção de bens materiais,<br />

g<strong>era</strong>n<strong>do</strong> reflexos no crescimento relativo <strong>do</strong> setor de serviços,<br />

frente ao industrial. Dessa forma, apontou-se para uma tendência de<br />

aumento da im<strong>por</strong>tância <strong>do</strong>s recursos intangíveis <strong>na</strong> economia — particularmente<br />

<strong>na</strong>s formas de educação e trei<strong>na</strong>mento da força de trabalho<br />

e <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> adquiri<strong>do</strong> com investimento em pesquisa e desenvolvimento.<br />

A emergência <strong>do</strong> atual paradigma intensificou a relevância dessas características<br />

e a im<strong>por</strong>tância <strong>do</strong>s recursos intangíveis <strong>na</strong> economia. As<br />

tecnologias de informação e comunicação propiciam o desenvolvimento<br />

de novas formas de g<strong>era</strong>ção, tratamento e distribuição de informações.<br />

Através de ferramentas de base eletrônica que diminuíram enormemente<br />

o tempo necessário para comunicação, transformam-se as formas tradicio<strong>na</strong>is<br />

de pesquisa, desenvolvimento, produção e consumo da economia,<br />

facilitan<strong>do</strong> e intensifican<strong>do</strong> a muito rápida ou instantânea comunicação,<br />

processamento, armaze<strong>na</strong>mento e transmissão de informações em<br />

nível mundial a custos decrescentes. Três aspectos devem ser destaca<strong>do</strong>s<br />

no que se refere a essas novas tecnologias.<br />

O primeiro são os avanços observa<strong>do</strong>s <strong>na</strong> microeletrônica — que tiv<strong>era</strong>m<br />

como conseqüências de maior impacto para a economia e para a<br />

sociedade o desenvolvimento <strong>do</strong> setor de informática e a difusão de microcomputa<strong>do</strong>res<br />

e de softwares que vêm engloban<strong>do</strong> grande parte das tarefas<br />

que anteriormente <strong>era</strong>m realizadas pelo trabalho humano direto. O<br />

segun<strong>do</strong> se refere aos avanços <strong>na</strong>s telecomunicações. A introdução e dissemi<strong>na</strong>ção<br />

de algumas das novas tecnologias, como <strong>por</strong> exemplo as comunicações<br />

via satélite e a utilização de fibras óticas, revolucio<strong>na</strong>ram os<br />

sistemas de comunicação. Por fim, a convergência entre essas duas bases<br />

tecnológicas permitiu o acel<strong>era</strong><strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong>s sistemas e redes<br />

de comunicação eletrônicos mundiais.


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 129<br />

A difusão dessas novas tecnologias permitiu a expansão das relações e<br />

da troca de informações possibilitan<strong>do</strong> a int<strong>era</strong>ção entre diferentes unidades<br />

dentro de uma empresa — como a pesquisa, engenharia, design e<br />

produção — e fora dela, com outras empresas ou outros agentes que<br />

detenham distintos tipos de <strong>conhecimento</strong>s. A incor<strong>por</strong>ação de ferramentas<br />

cada vez mais velozes e de menor custo, se dá em to<strong>do</strong>s os setores da<br />

economia, permitin<strong>do</strong> acesso a informações como nunca foi possível e,<br />

para aqueles que concentram esforços <strong>na</strong> aquisição de <strong>conhecimento</strong>s,<br />

uma maior capacidade de g<strong>era</strong>r alter<strong>na</strong>tivas tecnológicas.<br />

Essas tecnologias alt<strong>era</strong>ram radicalmente os padrões até então estabeleci<strong>do</strong>s<br />

e vêm exercen<strong>do</strong> uma influência decisiva em inúmeros aspectos<br />

das esf<strong>era</strong>s sócio-econômico-político-cultural. Assim é que se consid<strong>era</strong><br />

que as mesmas são a base técnica <strong>do</strong> que vem sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> <strong>por</strong> alguns<br />

autores de “revolução informacio<strong>na</strong>l”, que contribui para a conformação<br />

de uma nova Era, Sociedade ou Economia da Informação, <strong>do</strong> Conhecimento<br />

ou <strong>do</strong> Aprendiza<strong>do</strong>, conforme a maior ênfase que se queira dar a<br />

um desses aspectos (Lojkine, 1995; Castells, 1997; Foray e Lundvall, 1996;<br />

Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato e Lastres, 1999, entre outros).<br />

A despeito da atual maior visibilidade das informações, alguns autores<br />

argumentam que essa fase se caracteriza pelo fácil acesso às informações,<br />

mas pond<strong>era</strong>m que o <strong>conhecimento</strong> é central, e sem ele não é possível<br />

decodificar o conteú<strong>do</strong> das informações e transformá-las em <strong>conhecimento</strong>.<br />

Assim, preferem se referir à mesma como a Economia Baseada<br />

no Conhecimento.<br />

A ênfase no <strong>conhecimento</strong> deve-se também ao fato de que as tecnologias<br />

líderes dessa fase são resulta<strong>do</strong> de enormes esforços de pesquisa e<br />

desenvolvimento. As altas taxas de inovações e mudanças recentes implicam,<br />

assim, uma forte demanda <strong>por</strong> capacitação para responder às necessidades<br />

e o<strong>por</strong>tunidades que se abrem. Exigem, <strong>por</strong> sua vez, novos e cada<br />

vez maiores investimentos em pesquisa, desenvolvimento, educação e trei<strong>na</strong>mento.<br />

Argumenta-se, dessa forma, que os instrumentos disponibiliza<strong>do</strong>s<br />

pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação —<br />

equipamentos, programas e redes eletrônicas de comunicação mundial<br />

— podem ser inúteis se não existir uma base capacitada para utilizá-los,<br />

acessar as informações disponíveis e transformá-las em <strong>conhecimento</strong> e<br />

inovação.<br />

Na atual fase, <strong>na</strong> qual se destacam <strong>do</strong>is fenômenos inter-relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s,<br />

o processo de acel<strong>era</strong>ção das inovações e a globalização em curso,<br />

aparentemente a disponibilização de meios técnicos que possibilitam o<br />

acesso a informações tor<strong>na</strong> o <strong>conhecimento</strong> transferível para to<strong>do</strong>s. En-


130 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

tretanto, nota-se que os <strong>conhecimento</strong>s envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> g<strong>era</strong>ção de inovações<br />

podem ser tanto codifica<strong>do</strong>s como tácitos, públicos ou priva<strong>do</strong>s e<br />

vêm se tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> cada vez mais inter-relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s. A informação e o <strong>conhecimento</strong><br />

codifica<strong>do</strong> podem ser facilmente transferi<strong>do</strong>s através <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, mas o <strong>conhecimento</strong> que não é codifica<strong>do</strong>, aquele que permanece<br />

tácito, só se transfere se houver int<strong>era</strong>ção social, e esta se dá de forma<br />

localizada e enraizada em organizações e locais específicos.<br />

Assim, para se entender a formação <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>, deve-se ter em<br />

conta as especificidades das relações estabelecidas dentro das firmas e<br />

entre diferentes firmas e outros agentes econômicos e sociais, as características<br />

das relações industriais em nível local, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e regio<strong>na</strong>l, além<br />

de outros fatores institucio<strong>na</strong>is, que evidentemente contribuem para a<br />

compreensão das diferenças <strong>na</strong>s formas de aquisição de <strong>conhecimento</strong> e<br />

<strong>na</strong> capacidade inovativa de cada um destes níveis.<br />

A relevância <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> como base da inovação e recurso fundamental<br />

desta fase impõe a exploração e int<strong>era</strong>ção das mais diferentes<br />

fontes para sua obtenção. Com to<strong>do</strong>s os recursos disponíveis atualmente<br />

e com a rapidez com que as mudanças vêm se dan<strong>do</strong>, há uma exigência<br />

crescente de combi<strong>na</strong>ção de fontes, informação e <strong>conhecimento</strong>, facilitada<br />

<strong>por</strong> esses recursos. Isto levou a um crescimento substancial <strong>do</strong> grau de<br />

int<strong>era</strong>ção entre organizações.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, muitos autores vêm reconhecen<strong>do</strong>, no perío<strong>do</strong> atual<br />

de mudança radical, que o <strong>conhecimento</strong> e o aprendiza<strong>do</strong> possuem papel-chave<br />

e afetam a economia e a sociedade como um to<strong>do</strong>. Dentre aqueles<br />

que argumentam que tais mudanças se dão no mo<strong>do</strong> de g<strong>era</strong>ção e<br />

difusão de <strong>conhecimento</strong>, <strong>na</strong>s fontes de crescimento e de competitividade<br />

e nos processos de aquisição de capacitação, incluem-se Foray e Lundvall<br />

(1996), os quais destacam especialmente a mudança <strong>na</strong> dinâmica de formação<br />

<strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>, a acel<strong>era</strong>ção <strong>do</strong> processo de aprendiza<strong>do</strong><br />

int<strong>era</strong>tivo e a crescente im<strong>por</strong>tância das redes de coop<strong>era</strong>ção, pontos que<br />

serão aborda<strong>do</strong>s mais detalhadamente <strong>na</strong>s próximas seções.<br />

4 Mudanças <strong>na</strong> dinâmica <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong><br />

Conforme aponta<strong>do</strong> anteriormente, as mudanças características <strong>do</strong><br />

novo paradigma imprimiram uma nova dinâmica <strong>na</strong>s formas de g<strong>era</strong>ção<br />

e aquisição de <strong>conhecimento</strong> e mudanças <strong>na</strong>s relações entre <strong>conhecimento</strong><br />

tácito e codifica<strong>do</strong>. Visan<strong>do</strong> maiores chances de apropriação <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>,<br />

vem se notan<strong>do</strong> uma necessidade intensificada de capacitação<br />

e expansão das fronteiras <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong>.


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 131<br />

A tendência a uma codificação crescente <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> relacio<strong>na</strong>se<br />

fundamentalmente às velozes mudanças <strong>na</strong> g<strong>era</strong>ção desse <strong>conhecimento</strong><br />

e de inovações. O processo de codificação <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> vem sen<strong>do</strong><br />

intensifica<strong>do</strong>, em última instância, para <strong>do</strong>tar o <strong>conhecimento</strong> de novos<br />

atributos que o tornem similares aos bens tangíveis e convencio<strong>na</strong>is,<br />

aproximan<strong>do</strong>-o de uma merca<strong>do</strong>ria, objetivan<strong>do</strong> facilitar sua apropriação<br />

para uso priva<strong>do</strong> ou comercialização. Transforman<strong>do</strong>-se em uma<br />

merca<strong>do</strong>ria com características bastante específicas, o <strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong><br />

como informação permite ser armaze<strong>na</strong><strong>do</strong>, memoriza<strong>do</strong>,<br />

transacio<strong>na</strong><strong>do</strong> e transferi<strong>do</strong>, além de poder ser reutiliza<strong>do</strong>, reproduzi<strong>do</strong> e<br />

comercializa<strong>do</strong> indefinidamente, a custos extremamente baixos. Assim é<br />

que se argumenta sobre uma tendência à expansão cumulativa da base de<br />

<strong>conhecimento</strong>s codifica<strong>do</strong>s (Cowan e Foray, 1998).<br />

Para melhor definição da relação entre os <strong>do</strong>is tipos de <strong>conhecimento</strong>,<br />

cabe salientar que <strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong> refere-se ao <strong>conhecimento</strong><br />

que pode ser transforma<strong>do</strong> em uma mensagem, poden<strong>do</strong> ser manipula<strong>do</strong><br />

como uma informação. Atualmente, é grande a facilidade de transferência<br />

<strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong>, <strong>por</strong> meio de ferramentas como as<br />

mencio<strong>na</strong>das anteriormente. Conhecimento tácito, <strong>por</strong> seu turno, é o<br />

<strong>conhecimento</strong> que não pode ser explicita<strong>do</strong> formalmente ou facilmente<br />

transferi<strong>do</strong>; refere-se a <strong>conhecimento</strong>s implícitos a um agente social ou<br />

econômico, como as habilidades acumuladas <strong>por</strong> um indivíduo, organização<br />

ou um conjunto delas, que compartilham atividades e linguagem<br />

comum. Não está disponível no merca<strong>do</strong> para ser vendi<strong>do</strong> ou compra<strong>do</strong><br />

e requer um tipo específico de int<strong>era</strong>ção social, similar ao processo de<br />

aprendiza<strong>do</strong>, para que seja transferi<strong>do</strong> (Lundvall e Borrás, 1998 e Cowan<br />

e Foray, 1998).<br />

Alerta-se, entretanto, para os limites inerentes ao processo de<br />

codificação <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>. Não se deve su<strong>por</strong> que to<strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong><br />

tácito tende a ser codifica<strong>do</strong> e que os <strong>do</strong>is tipos de <strong>conhecimento</strong> podem<br />

ser trata<strong>do</strong>s de forma substitutiva ou excludente. Tal alerta mostrase<br />

im<strong>por</strong>tante <strong>por</strong>que alguns autores tendem a consid<strong>era</strong>r, atualmente,<br />

que se verifica um aumento relativo <strong>do</strong> estoque de <strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong><br />

frente ao de <strong>conhecimento</strong> tácito, o que conduziria em última instância<br />

à codificação completa <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>. Entretanto, existem poucas<br />

evidências empíricas que comprovem a alt<strong>era</strong>ção da pro<strong>por</strong>ção de<br />

cada um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos no estoque total de <strong>conhecimento</strong>.<br />

Em direção contrária à assertiva de que a codificação pode atingir<br />

to<strong>do</strong> tipo de <strong>conhecimento</strong> tácito, consid<strong>era</strong>-se que o processo de<br />

codificação nunca será completo, “... car la codification n´offre que des


132 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

solutions incomplètes à l´expression de la co<strong>na</strong>issance” (Cowan e Foray,<br />

1998: 315). Isto significa que toda codificação de um <strong>conhecimento</strong> é<br />

acompanhada de criação equivalente <strong>na</strong> base <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> tácito.<br />

Ambos os <strong>conhecimento</strong>s, tácito e codifica<strong>do</strong>, devem ser trata<strong>do</strong>s como<br />

complementares, pois sempre haverá alguma forma de <strong>conhecimento</strong> tácito<br />

específico implícita <strong>na</strong>s práticas comuns a cada firma, setor ou região.<br />

Ou seja, ao mesmo tempo em que se observa uma expansão cumulativa<br />

<strong>na</strong> base <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong>, essa codificação será sempre<br />

incompleta, pois intensifica-se a im<strong>por</strong>tância e irredutibilidade <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong><br />

tácito como recurso fundamental, que permanece <strong>na</strong> esf<strong>era</strong> de<br />

indivíduos e empresas específicas.<br />

Apesar de ser permanentemente vital <strong>na</strong> inovação, o <strong>conhecimento</strong><br />

tácito, <strong>por</strong> suas características bastante peculiares, só é compartilha<strong>do</strong><br />

através da int<strong>era</strong>ção huma<strong>na</strong>, <strong>na</strong>s relações realizadas entre indivíduos ou<br />

organizações em ambientes com dinâmica específica, o que, em última<br />

instância, tor<strong>na</strong> a inovação localizada e restrita ao âmbito <strong>do</strong>s agentes<br />

envolvi<strong>do</strong>s. A capacitação necessária para compreender e usar os códigos<br />

locais pode se dar somente com sua inserção <strong>na</strong>s redes de relações para<br />

participação <strong>do</strong> processo de aprendiza<strong>do</strong> int<strong>era</strong>tivo.<br />

O sucesso de alguns arranjos produtivos com concentração geográfica,<br />

como os distritos industriais que apresentam forte dinâmica, ilustra<br />

sobremaneira tal consid<strong>era</strong>ção. Os agentes de tais arranjos detêm um considerável<br />

estoque de <strong>conhecimento</strong> tácito, que circula eficazmente para a<br />

difusão de <strong>conhecimento</strong> local, com custos extremamente baixos. Não<br />

existe necessidade de uma intensificação da codificação <strong>do</strong>s mesmos,<br />

muitas vezes <strong>por</strong>que atuam no mesmo setor, conjunto de tecnologias,<br />

<strong>conhecimento</strong>s ou cadeia produtiva, compartilhan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mesmos recursos<br />

e capacitações. A codificação <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> nesses tipos de arranjo,<br />

<strong>por</strong> seu turno, é também relacio<strong>na</strong>da aos contextos específicos onde<br />

se compartilham códigos, linguagem comum, identidade, confiança e<br />

<strong>conhecimento</strong>s tácitos necessários para a interpretação precisa da mensagem<br />

codificada.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o acesso aos <strong>conhecimento</strong>s específicos de uma firma,<br />

arranjo ou setor pode explicar em larga medida a intensificação <strong>do</strong>s esforços<br />

para a formação de redes de coop<strong>era</strong>ção no contexto atual,<br />

objetivan<strong>do</strong> a criação de uma int<strong>era</strong>ção positiva para a absorção <strong>do</strong>s <strong>conhecimento</strong>s<br />

tácitos existentes.<br />

Chega-se, <strong>por</strong>tanto, a uma im<strong>por</strong>tante observação para a compreensão<br />

das formas de g<strong>era</strong>ção e difusão de <strong>conhecimento</strong>. Atualmente existem<br />

possibilidades concretas de acesso e transferência de informações/


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 133<br />

<strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong>, propiciadas pelas novas tecnologias de informação<br />

e comunicação. Entretanto, essas possibilidades não são distribuídas<br />

equanimemente para to<strong>do</strong>s, com informações acessíveis para qualquer<br />

empresa, setor, país ou região. Por outro la<strong>do</strong>, o acesso a informações/<strong>conhecimento</strong><br />

codifica<strong>do</strong> não é suficiente para que um indivíduo,<br />

empresa, país ou região se adapte às condições técnicas e de evolução <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong>. É crucial que esses agentes mantenham int<strong>era</strong>ção social com<br />

outros. As mudanças são muito rápidas e somente aqueles que estão envolvi<strong>do</strong>s<br />

<strong>na</strong> criação <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> dispõem de possibilidades reais de<br />

acesso aos seus resulta<strong>do</strong>s.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, ressalta-se que ape<strong>na</strong>s poucas empresas ou países no<br />

mun<strong>do</strong> concentram as maiores taxas de investimento <strong>na</strong> g<strong>era</strong>ção de <strong>conhecimento</strong><br />

— traduzi<strong>do</strong> em atividades de pesquisa, desenvolvimento,<br />

educação e trei<strong>na</strong>mento — e de inovações e, <strong>por</strong>tanto, a maior participação<br />

no ambiente competitivo mundial, enquanto outros permanecem<br />

margi<strong>na</strong>is a esse processo. Além disso, cada vez mais os investimentos em<br />

capacitação para participar da Economia <strong>do</strong> Conhecimento se tor<strong>na</strong>m<br />

maiores, dificultan<strong>do</strong> ainda mais a entrada de empresas e países distantes<br />

desse processo.<br />

5 O processo de aprendiza<strong>do</strong> int<strong>era</strong>tivo<br />

Conforme já argumenta<strong>do</strong>, crescentemente se reconhece a im<strong>por</strong>tância<br />

<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> contínuo e int<strong>era</strong>tivo no processo de inovação. Ao<br />

mesmo tempo em que isso se verifica, as características já ressaltadas <strong>do</strong><br />

atual paradigma — basea<strong>do</strong> fortemente no <strong>conhecimento</strong> e com mudanças<br />

extremamente rápidas — impõem uma maior intensificação desse<br />

aprendiza<strong>do</strong>. A existência de uma capacitação adequada através de aprendiza<strong>do</strong><br />

constante é necessária para o enfrentamento das mudanças e isso<br />

se dá de forma mais completa com a int<strong>era</strong>ção para a troca de informações,<br />

<strong>conhecimento</strong> codifica<strong>do</strong> e tácito e a realização de atividades complementares<br />

entre eles.<br />

O processo de g<strong>era</strong>ção de <strong>conhecimento</strong>s e de inovação vai implicar,<br />

<strong>por</strong>tanto, o desenvolvimento de capacitações científicas, tecnológicas e<br />

organizacio<strong>na</strong>is e esforços substanciais de aprendiza<strong>do</strong> com experiência<br />

própria, no processo de produção (learning-by-<strong>do</strong>ing), comercialização e<br />

uso (learning-by-using); <strong>na</strong> busca incessante de novas soluções técnicas<br />

<strong>na</strong>s unidades de pesquisa e desenvolvimento ou em instâncias menos formais<br />

(learning-by-searching); e <strong>na</strong> int<strong>era</strong>ção com fontes exter<strong>na</strong>s, como<br />

fornece<strong>do</strong>res de insumos, componentes e equipamentos, licencia<strong>do</strong>res,


134 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

licencia<strong>do</strong>s, clientes, usuários, consultores, sócios, universidades, institutos<br />

de pesquisa, agências e laboratórios gover<strong>na</strong>mentais, entre outros<br />

(learning-by-int<strong>era</strong>cting).<br />

Conforme salienta<strong>do</strong> anteriormente, o re<strong>conhecimento</strong> das diversas<br />

fontes de <strong>conhecimento</strong> foi muito im<strong>por</strong>tante para a compreensão da<br />

forma como é conduzi<strong>do</strong> o processo inovativo. Como resulta<strong>do</strong>, uma das<br />

im<strong>por</strong>tantes percepções atuais é que o processo inovativo é um processo<br />

de int<strong>era</strong>ção de <strong>na</strong>tureza social. O grau de int<strong>era</strong>ção com que se dá o<br />

aprendiza<strong>do</strong> vai variar conforme os agentes envolvi<strong>do</strong>s, o tipo de relação<br />

que mantêm entre si, a existência de linguagem comum, identidades,<br />

sinergias, confiança, assim como o ambiente em que se inserem.<br />

No momento atual, caracteriza<strong>do</strong> <strong>por</strong> uma competição que não se dá<br />

somente via preços, o mais im<strong>por</strong>tante não é ape<strong>na</strong>s ter acesso a informação<br />

ou possuir um conjunto de habilidades, mas fundamentalmente ter<br />

capacidade para adquirir novas habilidades e <strong>conhecimento</strong>s (learn-tolearn).<br />

Isto se traduz <strong>na</strong> capacidade de aprender e de transformar o aprendiza<strong>do</strong><br />

em fator competitivo. Ou seja, <strong>na</strong> possibilidade de constante reconstrução<br />

das habilidades <strong>do</strong>s indivíduos e das competências tecnológica<br />

e organizacio<strong>na</strong>l da firma (Lundvall e Borrás, 1998). O aprendiza<strong>do</strong> é<br />

im<strong>por</strong>tante tanto para se adaptar às rápidas mudanças nos merca<strong>do</strong>s e<br />

<strong>na</strong>s condições técnicas, como para g<strong>era</strong>r inovações em produtos, processos<br />

e formas organizacio<strong>na</strong>is.<br />

Argumenta-se, <strong>por</strong>tanto, que o <strong>conhecimento</strong> é o principal recurso e<br />

o aprendiza<strong>do</strong> o processo central dessa fase. Assim, <strong>na</strong> Economia Baseada<br />

no Conhecimento, a preocupação com o processo de aprendiza<strong>do</strong> se<br />

tor<strong>na</strong> ainda mais crucial, tanto que alguns autores denomi<strong>na</strong>m o atual<br />

perío<strong>do</strong> mais precisamente como da Economia Baseada no Aprendiza<strong>do</strong><br />

(Foray e Lundvall, 1996; Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato e Lastres,<br />

1999).<br />

Conforme já mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>, o destaque a cada um desses aspectos pode<br />

variar conforme a ênfase que se propõe. Lundvall e Borrás (1998:35)<br />

ressaltam, <strong>por</strong> exemplo, que “a razão mais fundamental da preferência<br />

<strong>por</strong> usar a Economia <strong>do</strong> Aprendiza<strong>do</strong> como conceito-chave é que este<br />

enfatiza a alta taxa de mudança econômica, social e técnica que perpassa<br />

continuamente o <strong>conhecimento</strong> especializa<strong>do</strong> (e codifica<strong>do</strong>). E tor<strong>na</strong> claro<br />

que o que realmente im<strong>por</strong>ta para o desempenho econômico é a habilidade<br />

de aprender (e esquecer) e não o estoque de <strong>conhecimento</strong>”.<br />

Apesar dessa discussão g<strong>era</strong>lmente colocar-se para tecnologias avançadas,<br />

em grandes cor<strong>por</strong>ações e países desenvolvi<strong>do</strong>s, aponta-se para a<br />

im<strong>por</strong>tância <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> também em empresas ou países que se concen-


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 135<br />

tram em atividades tradicio<strong>na</strong>is e de baixo conteú<strong>do</strong> tecnológico. Dessa<br />

forma, deve-se evitar a crença de que em setores menos intensivos em<br />

<strong>conhecimento</strong>, o processo de aprendiza<strong>do</strong> deve ser negligencia<strong>do</strong>. Pelo<br />

contrário, em to<strong>do</strong>s os setores da economia existem possibilidades de<br />

aprendiza<strong>do</strong>, aperfeiçoamentos e mudanças.<br />

6 Novos formatos organizacio<strong>na</strong>is<br />

Da mesma forma que se identificam os principais recursos e processos,<br />

podem ser também aponta<strong>do</strong>s os formatos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes <strong>na</strong> atual fase.<br />

Assim, e como uma decorrência da discussão travada anteriormente, vem<br />

se consid<strong>era</strong>n<strong>do</strong> a formação de redes como o formato organizacio<strong>na</strong>l<br />

mais adequa<strong>do</strong> para promover o aprendiza<strong>do</strong> intensivo para a g<strong>era</strong>ção de<br />

<strong>conhecimento</strong> e inovações.<br />

Até há pouco tempo, as análises econômicas relativas a atividades<br />

inovativas se concentravam no estu<strong>do</strong> de inovações individuais e específicas.<br />

Somente a partir de mea<strong>do</strong>s da década de 1980, intensificaramse<br />

as investigações de formatos organizacio<strong>na</strong>is forja<strong>do</strong>s para enfrentar<br />

inovações.<br />

Duas especificidades passaram a ser consid<strong>era</strong>das elementos de influência<br />

no desenvolvimento econômico e <strong>na</strong> sua capacidade de inovação:<br />

(a) os varia<strong>do</strong>s formatos organizacio<strong>na</strong>is em redes para promoção<br />

da int<strong>era</strong>ção entre diferentes agentes, nos quais mencio<strong>na</strong>m-se, entre outros,<br />

alianças estratégicas, arranjos locais de empresas, clusters e distritos<br />

industriais, e (b) o ambiente onde estes se estabelecem.<br />

Indica-se uma tendência crescente de constituição de formatos<br />

organizacio<strong>na</strong>is específicos entre diferentes tipos de agentes sociais e econômicos,<br />

em ambientes propícios para a g<strong>era</strong>ção de inovações, envolven<strong>do</strong><br />

desde etapas de pesquisa e desenvolvimento e produção, até a<br />

comercialização. Tais formas de int<strong>era</strong>ção vêm interligan<strong>do</strong> as diversas<br />

unidades dentro de uma empresa, bem como articulam diferentes empresas<br />

e outros agentes — destacan<strong>do</strong>-se, particularmente, instituições de<br />

ensino e pesquisa, organismos de infra-estrutura, apoio e prestação de<br />

serviços e informações tecnológicas, governos locais, regio<strong>na</strong>is e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

agências fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>ras, associações de classe, fornece<strong>do</strong>res de<br />

insumos, componentes e tecnologias e clientes — visan<strong>do</strong> promover uma<br />

fertilização cruzada de idéias, e responder e se adaptar às rápidas alt<strong>era</strong>ções,<br />

com a promoção de mudanças e aperfeiçoamentos <strong>na</strong>s estruturas de<br />

pesquisa, produção e comercialização.


136 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

Esses novos formatos são vistos, <strong>por</strong>tanto, como a forma mais completa<br />

para permitir a int<strong>era</strong>ção e o aprendiza<strong>do</strong>, assim como a g<strong>era</strong>ção e<br />

troca de <strong>conhecimento</strong>. Alguns autores caracterizam a formação e op<strong>era</strong>ção<br />

de redes como um fenômeno intimamente liga<strong>do</strong> à emergência <strong>do</strong><br />

sistema de produção intensivo em informação e como a principal inovação<br />

organizacio<strong>na</strong>l associada ao atual paradigma (ver <strong>Lemos</strong>, 1996).<br />

Conforme já ressalta<strong>do</strong>, com o potencial ofereci<strong>do</strong> pelos novos meios<br />

técnicos disponibiliza<strong>do</strong>s com as tecnologias de informação e comunicação,<br />

intensifica-se a g<strong>era</strong>ção e absorção de <strong>conhecimento</strong> e as possibilidades<br />

de implementação de inovações. As exigências de especialização ao<br />

longo da cadeia de produção se tor<strong>na</strong>m cada vez maiores. As tecnologias<br />

estão crescentemente baseadas em diferentes discipli<strong>na</strong>s e a maioria das<br />

empresas não possui capacitação ou recursos para <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r toda essa variedade.<br />

As novas tecnologias acarretam, assim, tanto os meios para a<br />

coop<strong>era</strong>ção, como a necessidade de criação de mais intensivas e variadas<br />

formas de int<strong>era</strong>ção e aprendiza<strong>do</strong> intensivo. A parceria é consid<strong>era</strong>da<br />

uma condição para a especialização, uma vez que capacita os agentes<br />

envolvi<strong>do</strong>s para o desenvolvimento de competências inter-relacio<strong>na</strong>das e<br />

a participação em redes se tor<strong>na</strong> um imp<strong>era</strong>tivo para a sobrevivência das<br />

empresas.<br />

Além disso, as redes permitem às empresas a possibilidade de identificar<br />

o<strong>por</strong>tunidades tecnológicas e impulsio<strong>na</strong>r o processo inovativo.<br />

Consid<strong>era</strong>n<strong>do</strong>-se a existência de dificuldades cada vez maiores de obtenção<br />

de <strong>conhecimento</strong> e realização de pesquisa e desenvolvimento que<br />

abranjam as mais diversas áreas, a complementaridade tecnológica é vista<br />

como um forte motivo de inserção em redes. Participar destas é uma<br />

forma útil de monitorar novos desenvolvimentos e de avaliar, através de<br />

processo de int<strong>era</strong>ção, outras tecnologias que não as disponíveis pela firma,<br />

necessárias para a viabilização de uma inovação. A participação em<br />

redes pode pro<strong>por</strong>cio<strong>na</strong>r um largo conjunto de experiências, estimulan<strong>do</strong><br />

o aprendiza<strong>do</strong> e g<strong>era</strong>n<strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> coletivo, e este aprendiza<strong>do</strong><br />

promovi<strong>do</strong> entre os agentes é consid<strong>era</strong><strong>do</strong> como uma de suas maiores<br />

contribuições.<br />

As redes também podem enriquecer o ambiente territorial através das<br />

o<strong>por</strong>tunidades que oferecem de troca de informações, transmissão de<br />

<strong>conhecimento</strong> explícito ou tácito e mobilidade de competências. A participação<br />

de varia<strong>do</strong>s agentes é im<strong>por</strong>tante para o desenvolvimento de <strong>conhecimento</strong><br />

conjunto, destacan<strong>do</strong>-se especialmente as instituições de ensino<br />

e pesquisa que atuam <strong>na</strong> promoção dessas atividades e têm im<strong>por</strong>-


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 137<br />

tante papel de possibilitar a abertura da rede a um largo número de usuários<br />

locais potenciais (<strong>Lemos</strong>, 1996).<br />

7 A dimensão local da inovação<br />

Conforme salienta<strong>do</strong>, o processo de inovação é atualmente entendi<strong>do</strong><br />

como int<strong>era</strong>tivo, dependente das diferentes características de cada<br />

agente e de sua capacidade de aprender a g<strong>era</strong>r e absorver <strong>conhecimento</strong>s,<br />

da articulação de diferentes agentes e fontes de inovação, bem como<br />

<strong>do</strong>s ambientes onde estes estão localiza<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> nível de <strong>conhecimento</strong>s<br />

tácitos existentes nesses ambientes.<br />

A atenção que passou a ser dada ao caráter localiza<strong>do</strong> da inovação e<br />

<strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> surgiu, particularmente, <strong>na</strong> observação da distribuição<br />

espacial desigual da capacidade de g<strong>era</strong>ção e de difusão de inovações.<br />

Aponta-se para uma significativa concentração em nível mundial da taxa<br />

de introdução de inovações, com algumas regiões, setores e empresas<br />

tenden<strong>do</strong> a desempenhar o papel de principais indutores de inovações,<br />

enquanto outras parecem ser relegadas ao papel de a<strong>do</strong>tantes.<br />

Nessa direção, enfatiza-se a noção de que o processo inovativo e o<br />

<strong>conhecimento</strong> tecnológico são altamente localiza<strong>do</strong>s. A int<strong>era</strong>ção criada<br />

entre agentes econômicos e sociais localiza<strong>do</strong>s em um mesmo espaço propicia<br />

o estabelecimento de significativa parcela de atividades inovativas.<br />

Ou seja, um quadro institucio<strong>na</strong>l local específico que dispõe de mecanismos<br />

particulares de aprendiza<strong>do</strong> e troca de <strong>conhecimento</strong>s tácitos pode<br />

promover um considerável processo de g<strong>era</strong>ção e difusão de inovações.<br />

Assim, diferentes contextos locais com diferentes estruturas institucio<strong>na</strong>is<br />

terão processos inovativos qualitativamente diversos (Lastres et alii, 1999).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, cabe ressaltar formatos organizacio<strong>na</strong>is basea<strong>do</strong>s <strong>na</strong><br />

proximidade local, alguns já mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s, como os clusters e distritos<br />

industriais, que se baseiam em redes locais de coop<strong>era</strong>ção. Esses formatos<br />

apresentam aprendiza<strong>do</strong> int<strong>era</strong>tivo, relevância da confiança <strong>na</strong>s relações<br />

e as proximidades geográficas e culturais como fontes im<strong>por</strong>tantes<br />

de diversidade e vantagens comparativas, assim como a oferta de qualificações<br />

técnicas e organizacio<strong>na</strong>is e <strong>conhecimento</strong>s tácitos acumula<strong>do</strong>s. O<br />

aspecto confiança, <strong>por</strong> seu turno, vem sen<strong>do</strong> aponta<strong>do</strong> como fator crítico<br />

para o estabelecimento de relações de coop<strong>era</strong>ção e int<strong>era</strong>ção, para que<br />

se possa sup<strong>era</strong>r as incertezas existentes ao longo <strong>do</strong> processo de inovação.<br />

Ressalte-se que a confiança tem melhores possibilidades de ser promovida<br />

em um ambiente comum de proximidade e identidade entre os<br />

agentes, como os arranjos locais (Saxenian, 1994).


138 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

Neste contexto, adquire especial im<strong>por</strong>tância a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> conceito<br />

de sistemas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de inovação. Desenvolvi<strong>do</strong> <strong>por</strong> Lundvall (1992) e<br />

Freeman (1995), tal conceito tem <strong>por</strong> base a consid<strong>era</strong>ção de que os atores<br />

econômicos e sociais e as relações entre eles determi<strong>na</strong>m em grande<br />

medida a capacidade de aprendiza<strong>do</strong> de um país e, <strong>por</strong>tanto, aquela de<br />

inovar e de se adaptar às mudanças <strong>do</strong> ambiente. Desempenhos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

relativos à inovação, derivam claramente de uma confluência social<br />

e institucio<strong>na</strong>l particulares e de características histórico-culturais específicas<br />

(Lastres et alii, 1999). Esse conceito já vem sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> em níveis<br />

locais e regio<strong>na</strong>is.<br />

Os sistemas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, regio<strong>na</strong>is ou locais de inovação podem ser trata<strong>do</strong>s,<br />

dessa forma, como uma rede de instituições <strong>do</strong>s setores público<br />

(instituições de pesquisa e universidades, agências gover<strong>na</strong>mentais de fomento<br />

e fi<strong>na</strong>nciamento, empresas públicas e estatais, entre outros) e priva<strong>do</strong><br />

(como empresas, associações empresariais, sindicatos, organizações<br />

não-gover<strong>na</strong>mentais etc.) cujas atividades e int<strong>era</strong>ções g<strong>era</strong>m, a<strong>do</strong>tam,<br />

im<strong>por</strong>tam, modificam e difundem novas tecnologias, sen<strong>do</strong> a inovação e<br />

o aprendiza<strong>do</strong> seus aspectos cruciais.<br />

O enfoque <strong>do</strong>s sistemas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de inovação se contrapõe à idéia de<br />

que a crescente globalização vem ocorren<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os níveis. Pelo contrário,<br />

da<strong>do</strong>s empíricos demonstram que a g<strong>era</strong>ção de inovações e de<br />

tecnologias é localizada e circunscrita às fronteiras localizadas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

ou regio<strong>na</strong>lmente (Mal<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>, 1996 e Lastres, 1997). Ten<strong>do</strong> em vista<br />

que os <strong>conhecimento</strong>s que se g<strong>era</strong>m no processo inovativo são tácitos,<br />

cumulativos e localiza<strong>do</strong>s, existiria um espaço im<strong>por</strong>tante em nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />

regio<strong>na</strong>l ou local para o desenvolvimento de capacitações tecnológicas<br />

endóge<strong>na</strong>s. Essas capacitações são imprescindíveis para se absorver de<br />

forma eficiente o que vem de fora e adaptar, modificar e g<strong>era</strong>r novos<br />

<strong>conhecimento</strong>s.<br />

8 Novas abordagens para políticas de inovações<br />

As consid<strong>era</strong>ções apontadas <strong>na</strong>s seções anteriores indicam que a Economia<br />

Baseada no Conhecimento ou no Aprendiza<strong>do</strong> reúne alguns elementos<br />

de extrema relevância que devem ser incor<strong>por</strong>a<strong>do</strong>s para o estabelecimento<br />

de políticas de inovação alter<strong>na</strong>tivas. Nesta seção, serão discuti<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is aspectos referentes a novas formulações de políticas científicas,<br />

tecnológicas, industriais e de inovação e algumas observações sobre<br />

o papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>na</strong> condução dessas políticas.


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 139<br />

Em primeiro lugar, observa-se que políticas de promoção tend<strong>era</strong>m<br />

tradicio<strong>na</strong>lmente a focar em padrões de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

tecnológico de firmas ou projetos pontuais e individuais. Atualmente,<br />

surge uma necessidade de se repensarem políticas que visem o desenvolvimento<br />

individual de firmas, bem como de repensar as organizações e<br />

instituições envolvidas no processo de formulação de tais políticas, à luz<br />

das rápidas mudanças trazidas com o paradigma das tecnologias de informação<br />

e comunicação e refletidas no próprio processo de inovação.<br />

É im<strong>por</strong>tante reconhecer que já ocorrem mudanças no foco de políticas<br />

em alguns países. 2 No âmbito dessas novas políticas que vêm sen<strong>do</strong><br />

formuladas, nota-se uma tendência à mudança em formatos e conteú<strong>do</strong>s.<br />

Assim, observam-se novas formas de entender políticas científicas,<br />

tecnológicas e industriais como fazen<strong>do</strong> parte de um mesmo conjunto,<br />

que tende a privilegiar o desenvolvimento, dissemi<strong>na</strong>ção e uso de novos<br />

produtos, serviços e processos. Enfatiza-se, também, o estimulo à formação<br />

de redes de diferentes agentes para intensificar o processo de aprendiza<strong>do</strong><br />

int<strong>era</strong>tivo <strong>na</strong> pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização<br />

desses bens.<br />

As políticas de inovação se tor<strong>na</strong>m atualmente mais im<strong>por</strong>tantes <strong>do</strong><br />

que no passa<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista seu papel crucial para intensificar a<br />

competitividade, através <strong>do</strong> fortalecimento da capacidade de aprender<br />

de indivíduos e empresas. Nesse senti<strong>do</strong>, um passo im<strong>por</strong>tante é a incor<strong>por</strong>ação<br />

<strong>do</strong> elemento aprendiza<strong>do</strong> como o processo central para capacitar<br />

um país ou região.<br />

Amplia-se, também, a relevância para as políticas <strong>do</strong> enfoque de sistemas<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, regio<strong>na</strong>is ou locais de inovação, no qual é central a noção<br />

de que o processo inovativo é localiza<strong>do</strong> e, <strong>por</strong>tanto, depende de seus<br />

contextos empresarial, setorial, organizacio<strong>na</strong>l e institucio<strong>na</strong>l específicos.<br />

Nesses casos, to<strong>do</strong> o conjunto de agentes que conformam um sistema<br />

são consid<strong>era</strong><strong>do</strong>s para o incentivo ao desenvolvimento <strong>do</strong> sistema<br />

local, regio<strong>na</strong>l ou <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l específico.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, observam-se, <strong>por</strong> vezes, tendências a se reduzir o<br />

papel de promotores de políticas científica, tecnológica e de inovação de<br />

governos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is ou regio<strong>na</strong>is. Nesse senti<strong>do</strong>, destaca-se o conflito,<br />

<strong>por</strong> vezes existente, entre formula<strong>do</strong>res de políticas influencia<strong>do</strong>s <strong>por</strong><br />

modelos neoclássicos — os quais desconsid<strong>era</strong>m o papel da tecnologia e<br />

2. Salienta-se particularmente o caso da União Européia e de seus países separadamente, onde as<br />

políticas industriais vêm sen<strong>do</strong> reorientadas para o reforço à promoção da inovação. Para detalhes,<br />

ver Cassiolato e Lastres, 1998 e Cassiolato e Lastres, 1999.


140 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

da inovação para o desenvolvimento de um país ou região — e aqueles<br />

que enfatizam o enfoque inovativo. Muitas vezes os primeiros tendem a<br />

negligenciar atenção a políticas inovativas e reduzir o volume de recursos<br />

a serem aplica<strong>do</strong>s nestas (Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato e Lastres,<br />

1999).<br />

Ressalta-se também que, em face <strong>do</strong> contexto atual de acel<strong>era</strong><strong>do</strong> processo<br />

de globalização e das facilidades resultantes das tecnologias de informação<br />

e comunicação, consid<strong>era</strong>-se, <strong>por</strong> vezes, não ser mais necessário<br />

o investimento de governos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is <strong>na</strong> promoção de atividades de<br />

g<strong>era</strong>ção de <strong>conhecimento</strong> e inovação. Para os que compartilham desses<br />

argumentos, o processo de globalização também incluiria a g<strong>era</strong>ção, difusão<br />

e acesso a informações e <strong>conhecimento</strong>s <strong>por</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, uniformemente,<br />

e, <strong>por</strong>tanto, não mais se fariam prementes investimentos nessas<br />

atividades, posto que teriam seus resulta<strong>do</strong>s públicos e disponíveis<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente. 3<br />

A esse respeito, cabe reforçar os argumentos anteriormente mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s<br />

sobre as crescentes barreiras criadas ao acesso a <strong>conhecimento</strong>s<br />

codifica<strong>do</strong>s e particularmente tácitos — traduzi<strong>do</strong>s em termos das necessidades<br />

de constantes investimentos em capacitação <strong>do</strong>s indivíduos e<br />

int<strong>era</strong>ção social — bem como a im<strong>por</strong>tância particular destes últimos<br />

para o processo de aprendiza<strong>do</strong> inovativo. Ou seja, somente aqueles que<br />

tiverem capacitação terão chances de aproveitar as o<strong>por</strong>tunidades de acesso<br />

a essas redes de <strong>conhecimento</strong>s. Evidencia-se, adicio<strong>na</strong>lmente, que a distribuição<br />

de <strong>conhecimento</strong> permanece desigual entre empresas, países e<br />

regiões, sen<strong>do</strong> ainda mais relevante que se realizem investimentos para<br />

aumentar o estoque de <strong>conhecimento</strong>s e informações e capacitar recursos<br />

humanos para promover inovações.<br />

A introdução <strong>do</strong> novo paradigma tecno-econômico, com altas e velozes<br />

taxas de mudanças, aliada ao processo de globalização, inclui novos<br />

elementos à questão da promoção de inovação. Como destacam alguns<br />

autores, mudanças vêm ocorren<strong>do</strong> rapidamente, e para melhor inserção<br />

<strong>na</strong> Economia Baseada no Aprendiza<strong>do</strong> im<strong>por</strong>ta que se estimule este processo.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, é im<strong>por</strong>tante reconhecer que também a formulação<br />

de políticas deve ser tratada como um processo de aprendiza<strong>do</strong>, pois é<br />

necessário que se compreenda e se adapte as políticas a tais mudanças,<br />

para estabelecer diretrizes conso<strong>na</strong>ntes com os contextos específicos. Para<br />

tanto, enfatiza-se a im<strong>por</strong>tância <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> também <strong>na</strong> formulação<br />

de políticas, direcio<strong>na</strong><strong>do</strong> tanto para as instituições envolvidas, como para<br />

3. Para detalhes sobre este debate, ver Mal<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong> (1996) e Lastres (1997).


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 141<br />

os próprios formula<strong>do</strong>res de políticas (Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato<br />

e Lastres, 1999).<br />

9 Conclusão<br />

A breve exposição das atuais características da inovação salientou: (a)<br />

a sua im<strong>por</strong>tância para o sucesso de empresas e países; (b) a necessidade<br />

de intenso investimento em <strong>conhecimento</strong>, entendi<strong>do</strong> este como o principal<br />

recurso <strong>do</strong> atual paradigma, g<strong>era</strong><strong>do</strong> e absorvi<strong>do</strong> particularmente<br />

<strong>por</strong> indivíduos; (c) a relevância fundamental para sua g<strong>era</strong>ção de um processo<br />

de aprendiza<strong>do</strong> int<strong>era</strong>tivo; (d) que é localiza<strong>do</strong> em agentes e ambientes<br />

específicos; e (e) os novos formatos organizacio<strong>na</strong>is que facilitam<br />

esse aprendiza<strong>do</strong>.<br />

As mudanças que vêm sen<strong>do</strong> observadas em nível de políticas em alguns<br />

países ou regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, particularmente <strong>na</strong>queles mais desenvolvi<strong>do</strong>s,<br />

foram fundamentadas no re<strong>conhecimento</strong> de como é crucial a<br />

formulação de políticas de promoção de inovações no quadro atual. Ainda,<br />

baseiam-se <strong>na</strong> compreensão de que o processo de inovação é um processo<br />

de aprendiza<strong>do</strong> int<strong>era</strong>tivo, que envolve intensas articulações entre<br />

diferentes agentes, requeren<strong>do</strong> novos formatos organizacio<strong>na</strong>is em redes.<br />

Para se estar apto a entrar nessas redes e nesse novo contexto, é<br />

fundamental o investimento <strong>na</strong> capacitação de recursos humanos, responsáveis<br />

pela g<strong>era</strong>ção de <strong>conhecimento</strong>s.<br />

O processo de aquisição de <strong>conhecimento</strong>s que possibilitem a utilização<br />

eficiente de tecnologias é longo e difícil, mas imprescindível. Nesse<br />

processo coletivo de aprendizagem, apesar <strong>do</strong> epicentro estar constituí<strong>do</strong><br />

pelas empresas nos diferentes setores onde atuam, outros atores e instituições<br />

públicas e privadas possuem im<strong>por</strong>tante participação. Ressaltase,<br />

particularmente, o papel das instituições de pesquisa e das universidades,<br />

que fornecem a base <strong>do</strong> desenvolvimento científico e tecnológico<br />

para a g<strong>era</strong>ção de <strong>conhecimento</strong>s e capacitação de pessoas. Portanto, é<br />

necessário se compreender que mesmo sen<strong>do</strong> a empresa o locus <strong>do</strong> processo<br />

de inovação, a mesma não inova sozinha e necessita de articulação<br />

com os demais agentes, ten<strong>do</strong> em vista este ser um processo int<strong>era</strong>tivo.<br />

No caso específico <strong>do</strong>s países em desenvolvimento, um im<strong>por</strong>tante<br />

instrumento de políticas de implementação e modernização de estruturas<br />

industriais, tradicio<strong>na</strong>lmente existente, traduziu-se no estímulo à aquisição<br />

de tecnologias <strong>por</strong> meio da sua compra, consid<strong>era</strong>n<strong>do</strong>-se que seria<br />

suficiente para o desenvolvimento de uma empresa ou setor. Entenden<strong>do</strong>-se<br />

tecnologia como <strong>conhecimento</strong>, consid<strong>era</strong>-se que ela não pode ser


142 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

facilmente transferida. Conforme aponta<strong>do</strong> anteriormente, pode-se transferir<br />

ou comprar os <strong>conhecimento</strong>s codifica<strong>do</strong>s, mas não os tácitos e sem<br />

estes, não se tem a chave para a decodificação <strong>do</strong>s <strong>conhecimento</strong>s adquiri<strong>do</strong>s<br />

como tecnologia. Nesse senti<strong>do</strong>, reforça-se a im<strong>por</strong>tância <strong>do</strong>s investimentos<br />

em capacitação, pesquisa e desenvolvimento e em particular<br />

<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong>, paralelamente à im<strong>por</strong>tação de tecnologia, para que seja<br />

possível o desenvolvimento tecnológico endógeno.<br />

Cabe destacar, ainda para países em desenvolvimento como o Brasil,<br />

que é necessário que se reconheça, primeiramente, a im<strong>por</strong>tância da inovação<br />

para capacitar o país a acompanhar as mudanças em curso, possibilitar<br />

a maior participação destes no crescimento econômico mundial e<br />

contribuir para o seu desenvolvimento econômico e social.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, cabe evidenciar que, <strong>por</strong> vezes, a compreensão <strong>do</strong> processo<br />

inovativo em países em desenvolvimento é ainda restrita. A im<strong>por</strong>tância<br />

de redimensio<strong>na</strong>r a definição de inovação reside <strong>na</strong> observação de<br />

que, em países que não estão <strong>na</strong> lid<strong>era</strong>nça <strong>do</strong> paradigma vigente, uma<br />

definição rígida de inovação e de seu processo limita a abrangência de<br />

sua ação. Pode levar indivíduos, empresas, instituições de ensino e pesquisa,<br />

governos, particularmente os formula<strong>do</strong>res de políticas, e outros<br />

agentes sociais e econômicos envolvi<strong>do</strong>s a su<strong>por</strong> que a g<strong>era</strong>ção de inovações<br />

deve ser algo absolutamente novo, basea<strong>do</strong> em tecnologias avançadas,<br />

localiza<strong>do</strong> em grandes empresas, em setores de ponta. Ao contrário<br />

disso, os esforços devem focar particularmente as especificidades locais,<br />

incluin<strong>do</strong> também os conjuntos de empresas de menor <strong>por</strong>te e os setores<br />

mais tradicio<strong>na</strong>is, ten<strong>do</strong> em vista as possibilidades de aprendiza<strong>do</strong> e de<br />

capacitação para as mudanças que podem significar tais investimentos.<br />

As políticas, nesta fase de rápidas mudanças, são extremamente im<strong>por</strong>tantes<br />

para adaptar e reorientar os sistemas produtivos e de inovação<br />

a esse novo contexto. As formulações de políticas devem incor<strong>por</strong>ar, não<br />

só uma maior flexibilização <strong>do</strong> que significa o processo inovativo, como<br />

também reformular o foco de sua ação, ao privilegiar conjuntos de indústrias<br />

e setores em articulação com outros agentes que contribuam para o<br />

fortalecimento da capacitação tecnológica e que podem acrescer a sua<br />

competitividade.<br />

Os desafios que se colocam são muitos e acima de tu<strong>do</strong> critica-se o<br />

argumento de que o processo de globalização promoverá a distribuição<br />

automática e igual <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong>. Este certamente ficará restrito à<br />

esf<strong>era</strong> de empresas, setores, países e regiões que invistam pesadamente <strong>na</strong><br />

capacitação de seus recursos humanos para promover um processo de<br />

constante aprendiza<strong>do</strong> int<strong>era</strong>tivo entre seus agentes econômicos e sociais


INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO — 143<br />

e a formação de um ambiente local capacita<strong>do</strong> para se adaptar às mudanças<br />

freqüentes e aumentar a sua capacidade inovativa.<br />

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