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DIA 20 DE OUTUBRO - Redetec

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Realização do Evento:<br />

Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro<br />

Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI<br />

Parceiros Institucionais:<br />

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq<br />

Editora Elsevier<br />

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro – FAPERJ<br />

Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI<br />

Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT<br />

Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS<br />

Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI<br />

Instituições que integram a REPICT:<br />

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas – CBPF<br />

Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow – CEFET/RJ<br />

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello – CENPES/PETROBRAS<br />

Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN<br />

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Agroindústria de Alimentos<br />

Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP<br />

Fundação BIORIO<br />

Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ<br />

Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO<br />

Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI<br />

Instituto Nacional de Tecnologia – INT<br />

Laboratório Nacional de Computação Científica – LNCC<br />

Observatório Nacional – ON<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC­Rio<br />

Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa no Estado do Rio de Janeiro ­ SEBRAE/RJ<br />

Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ<br />

Universidade Federal Fluminense – UFF<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ<br />

REPICT<br />

Secretaria Executiva: Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro<br />

Av. Rio Branco, 125 – 6º andar – Centro, Rio de Janeiro, RJ, CEP <strong>20</strong>.040­006<br />

Tel: 55 21 3575­ 7979 Fax: 55 21 3575­7970<br />

http://www.redetec.org.br – e­mail: info@redetec.org.br<br />

2


FICHA TÉCNICA<br />

Coordenação Geral:<br />

Ada Cristina Gonçalves Vianna<br />

Coordenadora da Rede de Propriedade Intelectual, Comercialização, Cooperação de<br />

Tecnologia – REPICT<br />

Analista de Projetos da Financiadora de Estudos e Projetos / Agência Brasileira de Inovação<br />

– FINEP<br />

Revisão:<br />

Ana Paula Peregrino Soares<br />

Transcrição das Fitas:<br />

Ana Paula Peregrino Soares<br />

Comissão Organizadora:<br />

Ada Cristina Gonçalves Vianna –FINEP<br />

Andréa Bertolini –EMBRAPA Agroindústria de Alimentos<br />

Armando Clemente –Rede de Tecnologia<br />

Cláudia Canongia –INMETRO<br />

Daniela Cerqueira –RE<strong>DE</strong>TEC<br />

Eduardo Pereira da Silva –CENPES/PETROBRAS<br />

Isabella Pimentel –OMPI<br />

Jorge Ávila –INPI<br />

Lilia Reis –RE<strong>DE</strong>TEC<br />

Lourença Francisca da Silva –ANP/CNEN<br />

Maria Beatriz Amorim­Borher –OMPI<br />

Maria Helena Teixeira Gomes –UFF<br />

Marinilza Bruno de Carvalho –UERJ<br />

Paula Gonzaga –Rede de Tecnologia<br />

Ricardo Pereira – UFRJ<br />

Rita Pinheiro­Machado –INPI<br />

Shirley Coutinho –PUC­Rio<br />

Tomas Stroke –SEBRAE/RJ<br />

3


SUMÁRIO<br />

Apresentações<br />

Introdução<br />

PARTE I<br />

Cerimônia de Abertura<br />

Palestra de Abertura – Estratégias de Inovação nos Estados Unidos, Canadá,<br />

Reino Unido, França, Finlândia, Irlanda e Japão<br />

Painel – O Impacto da Proteção da Propriedade Intelectual sobre as Relações<br />

com Mercado e as Decisões de Investimento nas Empresas<br />

Mesa-redonda – Propriedade Intelectual Inovação e Desenvolvimento<br />

Licenciamento em Cena<br />

PARTE II<br />

Como Empresas Sofisticadas Reconhecem e Extraem Valor do Ativo PI<br />

PARTE III<br />

Formação e Capacitação de Profissionais para a Área de PI e Inovação:<br />

Desafios para a Estruturação de Programas Acadêmicos e Treinamentos<br />

Espaço FINEP: Resultados de Avaliação da Implantação dos NITs no Brasil<br />

PARTE IV<br />

Mini-curso – Valoração e Gestão de Intangíveis visando à Comercialização<br />

de Tecnologia<br />

PARTE V<br />

Programa do Evento<br />

05<br />

07<br />

09<br />

18<br />

30<br />

43<br />

67<br />

87<br />

104<br />

130<br />

136<br />

183<br />

4


APRESENTAÇÕES<br />

Chegamos ao décimo primeiro ano de realização do Encontro da REPICT, a Rede<br />

Temática de Propriedade Intelectual, Negociação e Comercialização de Tecnologia, um<br />

evento de extrema importância e referência para universidades e instituições de pesquisa do<br />

país. A REPICT, apesar de congregar instituições do Estado do Rio de Janeiro, sempre teve<br />

forte envolvimento com as diversas instituições brasileiras. Foi, certamente, pela carência de<br />

políticas institucionais e governamentais ligadas à Propriedade Intelectual que a REPICT<br />

ampliou­se, correspondendo por todos esses anos às expectativas e ao interesse dessas<br />

instituições na temática da Propriedade Intelectual.<br />

A contribuição da REPICT ao longo desses anos se deu através da formação de<br />

multiplicadores, de debates sobre a Lei de Inovação desde <strong>20</strong>04, do estímulo à implantação<br />

de Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e à criação de Redes Estaduais e Regionais de<br />

Propriedade Intelectual e de discussões mais atuais sobre propriedade intelectual<br />

Nesta décima primeira edição, a REPICT tratou de assuntos voltados ao uso<br />

estratégico da propriedade intelectual como ferramenta de inovação, dentre as quais se<br />

destacaram: licenciamento de tecnologia, modelos de inovação, impacto da PI sobre<br />

mercado e investimento em empresas, estratégias corporativas de gestão e valoração da PI,<br />

educação e formação de profissionais na área de PI e inovação, gestão de intangíveis<br />

visando à comercialização. O principal objetivo do evento foi atrair empresas, alavancar a<br />

interação entre elas e as universidades, de forma cooperativa, incentivando a<br />

comercialização de suas tecnologias e inserção no mercado.<br />

Vale ressaltar que a publicação dos Anais do XI Encontro constitui um passo<br />

importante na história da propriedade intelectual que ajudamos a construir no Brasil. Em<br />

nome da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, o meu muito obrigado ao nosso co­<br />

realizador, o INPI, ao apoio da OMPI, a todos os patrocinadores – FINEP, MCT, EMBRAPA,<br />

FAPERJ, Petrobras e INPI – aos parceiros, às instituições e às universidades que tanto<br />

contribuem para o sucesso desse evento.<br />

Armando Augusto Clemente<br />

Secretário Executivo<br />

Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro<br />

5


Pelo décimo primeiro ano consecutivo, a REPICT realiza seu encontro anual, fato<br />

que gera enorme satisfação e orgulho ao INPI, além de representar um dos grandes motivos<br />

de a discussão em torno do tema Propriedade Intelectual ter tomado tamanha proporção<br />

pelas universidades e instituições de pesquisa no Brasil. Esse amadurecimento torna<br />

possível o que tem sido visto em termos de política industrial e tecnológica, de inovação e<br />

em termos da participação de diversos atores no cenário de desenvolvimento econômico<br />

que tentamos arduamente construir neste País ao longo dos anos.<br />

A missão atual do INPI está sustentada sobre um pilar importante, que é a<br />

contribuição da propriedade intelectual para a existência de um ambiente de negócios que<br />

favoreça a criatividade e a inovação no País. Porém, ainda precisamos muito aperfeiçoar o<br />

nosso ambiente de negócios para sermos capazes de promover o uso estratégico do ativo<br />

PI. Faz­se necessário que o tema seja amplamente discutido e esteja ativamente inserido na<br />

agenda brasileira de desenvolvimento. Dessa forma, a propriedade intelectual poderá<br />

viabilizar todas as parcerias que estão em torno dos ativos intangíveis. E, na economia do<br />

conhecimento, os ativos intangíveis são cada vez mais usáveis, em torno dos quais faz<br />

sentido a cooperação.<br />

O principal objetivo do INPI atualmente é debater e desmistificar a propriedade<br />

intelectual no Brasil. A PI não deve ser de domínio apenas de um grupo pequeno de<br />

pessoas, mas sim de domínio geral. Não deve ser vista nem como uma ferramenta de<br />

apropriação simplória e natural, tampouco como algo necessariamente prejudicial a alguma<br />

das partes envolvidas em determinada transação. Montar um sistema de propriedade<br />

intelectual equilibrado significa também gerar frutos positivos por meio de cooperação,<br />

porque propriedade intelectual pode permitir que a cooperação científica e tecnológica e a<br />

cooperação comercial representem um jogo ganha­ganha.<br />

A REPICT tem contribuído de forma crescente para a mudança do cenário brasileiro<br />

ao longo dos anos. Representa o primeiro grande evento de inclusão da comunidade<br />

acadêmica, científica e tecnológica nessa discussão. Como nos outros anos, o XI Encontro<br />

da REPICT foi marcado pelo sucesso e diferenciação. Portanto, eu deixo aqui minhas<br />

palavras de congratulação e reconhecimento ao trabalho de 11 anos da REPICT.<br />

Jorge de Paula Costa Ávila<br />

Presidente do INPI<br />

6


INTRODUÇÃO<br />

A realização do XI encontro da REPICT representou para toda a equipe uma nova<br />

etapa do trabalho. Pessoalmente, o evento vem marcar um novo e grande desafio<br />

profissional, uma vez que coincidiu com o convite para assumir a coordenação da Rede<br />

Temática de Propriedade Intelectual em função da transferência da Maria Celeste Emerick<br />

para o Ministério de Meio Ambiente. Depois de mais de oito anos como colaboradora e<br />

representante da FINEP na REPICT, me defronto com a responsabilidade de colaborar na<br />

condução de um trabalho que integra mais de vinte instituições participantes no Rio de<br />

Janeiro e em um momento que o tema propriedade intelectual ganha outro contorno, pois<br />

passa a integrar definitivamente a estratégia de negócios de empresas e de atuação das<br />

instituições de pesquisa brasileiras.<br />

Durante esta primeira década de trabalho a equipe da REPICT, sob orientação da<br />

RE<strong>DE</strong>TEC e coordenação da Maria Celeste, se dedicou a um trabalho intenso de<br />

sensibilização, informação e capacitação de diversos atores do sistema de C, T & I local e<br />

nacional com o apoio estratégico do INPI e da OMPI, sobre os principais mecanismos de<br />

proteção intelectual, esforço esse reconhecido pelas instituições parceiras brasileiras e<br />

internacionais.<br />

Com a consolidação da chamada “sociedade do conhecimento”, a questão dos ativos<br />

intangíveis – sua inserção nos modelos de negócio, a necessidade de identificação de<br />

novos métodos de valoração, entre outros aspectos – traz um novo cenário e patamar de<br />

atuação para toda a nossa equipe de colaboradores. Nesse cenário, precisamos avançar e<br />

atuar em novas frentes. Com esse objetivo, estamos incorporando à nossa agenda de<br />

trabalho as questões setoriais, os diferentes modelos de negócio associados ao processo de<br />

consolidação dos mecanismos e políticas de gestão, comercialização e transferência de<br />

tecnologia entre os diferentes agentes institucionais do sistema de ciência, tecnologia com o<br />

mercado.<br />

O tema de Propriedade Intelectual, até pouco tempo atrás, muito mais restrito às<br />

discussões e agendas jurídicas ganha forma e contorno mais ampliados, integrando de<br />

forma cada vez mais presente as estratégias e os modelos de negócio de empresas de<br />

diferentes portes e setores do país e mundo, o que pode ser constatado pelas informações<br />

divulgadas em mídia especializada e comprovada no expressivo aumento do número de<br />

pedido de patentes realizados nos dois últimos anos pelos países de economias<br />

desenvolvidas e em consolidação.<br />

Para que o Brasil tenha uma melhor resposta de desenvolvimento, precisamos<br />

pensar em políticas de C, T & I de forma integrada, onde o tema de propriedade intelectual<br />

ganha um papel estratégico e não somente represente, ou seja tratado, pelo vetor jurídico.<br />

Pensando em atuar de forma mais efetiva, tomamos algumas decisões no endereçamento<br />

de temas e na incorporação de novas variáveis a serem trabalhados nos próximos anos,<br />

como, por exemplo, tratar PI vis­a­vis a questão setorial. È preciso trabalhar de forma mais<br />

próxima e integrada com as diferentes variáveis dos setores industriais: importância<br />

diferenciada para as questões de PI, modelos e escolha dos mecanismos mais apropriados<br />

em função de suas dinâmicas de mercado.<br />

7


Hoje é preciso entender melhor o ambiente de inovação e o papel que as questões<br />

relacionadas à PI assumem na estratégia das organizações, o que também demanda um<br />

olhar diferenciado para a capacitação dos quadros institucionais. Pensando nisso, o XI<br />

Encontro da REPICT inaugura uma nova dinâmica nos seus seminários, integrando a<br />

realização de painéis temáticos com ações de capacitação durante a própria realização do<br />

evento, ação essa que se estende por todo o planejamento de trabalho anual proposto pela<br />

coordenação da Rede.<br />

Paralelamente, essa proposta vem ao encontro de um outro objetivo operacional – o<br />

de promover uma maior integração entre as agendas da Rede de Propriedade Intelectual e<br />

a Rede de Incubadoras, ambas coordenadas pela Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro. A<br />

expressiva participação de integrantes de várias instituições de pesquisa e o aumento da<br />

presença de empresas, em um evento que contou com a participação de mais de 360<br />

pessoas, a partir do apoio fundamental da OMPI e do INPI, mostram isso claramente.<br />

A importância crescente do tema nos leva a um conjunto razoável de novos desafios.<br />

Para isso contamos com a participação de todas as organizações locais, nacionais e<br />

internacionais na identificação de novas agendas de trabalho e na busca constante de<br />

integração de esforços institucionais de forma a contribuir na inserção da PI em um novo<br />

cenário de desenvolvimento.<br />

Da minha parte espero sinceramente poder corresponder às expectativas em mim<br />

depositadas e poder participar da construção de uma discussão mais ampliada que o tema<br />

merece. Espero que os registros destes anais sejam úteis e funcionem como fontes de<br />

informações sobre o assunto de forma a trazer novos pontos de reflexão sobre um tema tão<br />

instigante.<br />

Para concluir, gostaria de fazer um agradecimento especial a todos os colaboradores<br />

da REPICT, em particular à equipe coordenadora do evento, ao Sr. Paulo Alcantara Gomes<br />

– Presidente da RE<strong>DE</strong>TEC, ao Armando Clemente e a Paula Gonzaga, também da<br />

RE<strong>DE</strong>TEC, ao Presidente do INPI, Sr. Jorge Ávila, e à equipe da OMPI nas pessoas de<br />

Maria Beatriz Amorim­Borher da OMPI e Alejandro Roca.<br />

Espero (re)vê­los novamente no XII Encontro da REPICT em setembro próximo!<br />

Ada Cristina Vianna Gonçalves<br />

Coordenadora da REPICT<br />

8


PARTE I<br />

CERIMÔNIA <strong>DE</strong> ABERTURA<br />

Realizadores do encontro:<br />

Professor Paulo Alcantara Gomes, Presidente do Conselho Diretor da Rede de Tecnologia<br />

do Rio de Janeiro (RE<strong>DE</strong>TEC).<br />

Senhor Jorge Ávila, Presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).<br />

Senhor Alejandro Roca Campañá, Diretor do Escritório de Assistência Técnica e<br />

Capacitação para América Latina e Caribe, da Organização Mundial da Propriedade<br />

Intelectual (OMPI).<br />

Parceiros institucionais:<br />

Senhora Maria Aparecida Stallivieri Neves, Chefe de Gabinete da Presidência da<br />

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).<br />

Senhor Luis Cláudio Sousa Costa, Gerente de Estratégia Tecnológica do Centro de<br />

Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Melo (CENPES/Petrobras).<br />

Senhora Ada Cristina Gonçalves Vianna, Coordenadora da Rede de Propriedade Intelectual,<br />

Cooperação, Negociação e Comercialização (REPICT).<br />

Senhor Julio Oscar Lagun Filho, Subsecretário de Estado de Desenvolvimento Científico e<br />

Tecnológico (SECT).<br />

PAULO ALCANTARA GOMES<br />

Bom dia a todos presentes, participantes do nosso XI Encontro da REPICT, prezados<br />

companheiros de mesa, Lagun, Cida, Alejandro, Luis Cláudio, Ada e Jorge Ávila. A Rede de<br />

Tecnologia tem grande satisfação e muita honra em, mais uma vez, ser a organizadora do<br />

encontro que trata do tema Propriedade Intelectual e Comercialização da Tecnologia.<br />

Como vocês bem sabem, a Rede de Tecnologia, ao ser criada na segunda metade<br />

dos anos oitenta e institucionalizada nos primeiros anos da década de noventa, se propôs a<br />

articular as relações entre oferta e demanda de tecnologia. Os avanços da ciência e da<br />

técnica, entretanto, caracterizados e concretizados no Brasil, principalmente no Rio de<br />

Janeiro, pelo fortalecimento das relações entre universidade e setor produtivo, na<br />

construção de incubadoras de empresas e parques tecnológicos e na forte geração de<br />

projetos voltados para inovação, acabou por impor à Rede de Tecnologia uma<br />

reestruturação que visava, estrategicamente, organizar de forma melhor a sua ligação com<br />

os vários segmentos do domínio do conhecimento, gestão do conhecimento e inovação<br />

tecnológica. Assim, no ambiente da Rede de Tecnologia, surgiram as Redes Temáticas,<br />

destacando­se três redes importantíssimas. Há outras, mas o foco da nossa discussão está<br />

centrado na propriedade intelectual, portanto as redes são a própria Rede de Propriedade<br />

Intelectual e Comercialização de Tecnologia, a Rede de Incubadoras e Parques<br />

Tecnológicos e a Rede de Metrologia.<br />

9


Esse conjunto de três redes mais outras quatro, que têm atuado no Rio de Janeiro,<br />

tem sido extremamente importante na geração de novos produtos. Tais produtos estão<br />

ligados, de um lado, à capacitação de quadros técnicos e científicos pela ação direta dos<br />

componentes da rede, que são as universidades e os institutos de pesquisa, e do outro, por<br />

oferta cada vez maior de alternativas para micro e pequenos empresários, que buscam na<br />

inovação tecnológica agregar valor a seus produtos.<br />

A realização de encontros como este acaba por ter uma finalidade fundamental, a de<br />

oferecer ao segmento de micro e pequenos empresários, ao segmento daqueles que<br />

convivem com a inovação tecnológica, que convivem com a gestão da inovação e com o dia<br />

a dia dos laboratórios de pesquisa – que produzem os resultados de pesquisa – a<br />

possibilidade de efetivamente aprofundar seus conhecimentos e refletir sobre a importância<br />

da propriedade intelectual, da geração de patentes, para gerar mais competitividade ao país.<br />

Os encontros da REPICT têm se caracterizado essencialmente por esse tipo de ação<br />

e têm produzido resultados muito fortes na articulação entre ofertas e demandas de<br />

tecnologia. Isto pode ser percebido pelo número crescente de participantes ao longo de<br />

todos esses anos, nestes encontros realizados aqui no Hotel Rio Othon Palace.<br />

Neste ano a Rede de Tecnologia procurou organizar quatro mini­cursos que estão<br />

listados na programação e que demonstram a orientação que será dada a nossa discussão.<br />

O primeiro deles sobre proteção da tecnologia da informação nos Estados Unidos e na<br />

Europa. O segundo sobre licenciamento e comercialização de tecnologia no setor de<br />

energia, em parceria com a Petrobras. Aqui está nesta mesa de abertura Luis Cláudio<br />

Sousa Costa representando o CENPES. Aliás, a Petrobras é um fortíssimo parceiro da Rede<br />

de Tecnologia. O terceiro programa é de proteção e comercialização da biotecnologia no<br />

Brasil e nos Estados Unidos, em parceria com a Natura, e, por último, um programa de<br />

valoração e gestão de intangíveis visando à comercialização da tecnologia. Evidentemente<br />

quem fala em sociedade do conhecimento fala em gestão de intangíveis. Ao lado desta<br />

programação de mini­cursos, uma série de sessões ocorrerá ao longo dos próximos dias e<br />

que seguramente vão gerar muitas outras contribuições.<br />

Eu queria, em nome da Rede de Tecnologia, agradecer da esquerda para a direita a<br />

parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro,<br />

importantíssima para nossas ações no âmbito da política de ciência e tecnologia e inovação,<br />

a parceria co­financeira que vem sendo dada pela FINEP às organizações que compõem à<br />

Rede, já que a Rede possui 46 associadas, entre institutos de pesquisa, universidades<br />

públicas e privadas, associações de classe empresarial e órgãos do governo. Gostaria de<br />

agradecer também a fortíssima ligação com a OMPI, que é uma história muito antiga, e eu<br />

diria muito eficiente e importante. Nós temos um projeto com a OMPI graças à intervenção<br />

principalmente do INPI, aqui representado pelo seu presidente, Jorge Ávila, que desde os<br />

tempos em que era diretor da FINEP, era um aliado da Rede de Tecnologia. Queria<br />

agradecer à participação da Petrobras, através do CENPES, que tem sido realmente um<br />

motor propulsor do comprometimento com a inovação tecnológica no Rio de Janeiro.<br />

Finalmente, quero fazer referência a essa nova feição que a REPICT vem assumindo, com a<br />

presença da Ada, que é uma extraordinária especialista nos domínios da gestão da<br />

inovação, e que traz a competência e qualidade do seu trabalho e um forte conhecimento<br />

para a melhoria de resultados no ambiente da REPICT. Isso já se reflete claramente no<br />

folheto que vocês receberam tanto pela organização desses cursos como também pela<br />

temática das mesas que se realizarão ao longo desses dias. A temática mostra claramente<br />

que cada vez mais estamos preocupados não apenas com as questões burocráticas da<br />

gestão da inovação, mas com o trazer a ideologia da gestão da inovação, a cultura da<br />

gestão da propriedade intelectual para a gestão da inovação. A cultura do<br />

10


empreendedorismo sempre foi uma visão da Rede importante em parceria com o SEBRAE,<br />

que não está aqui presente, mas que é um fortíssimo parceiro, um dos mais relevantes e<br />

importantes. A cultura da gestão da inovação vem se firmando também como<br />

importantíssima nesse processo. A cultura da propriedade intelectual tem sido fundamental<br />

nesse processo. A cultura agora se beneficia da presença competente, decisiva, eficaz, ágil<br />

e absolutamente articuladora da Ada Gonçalves.<br />

Agradeço a todos nossos co­patrocinadores, co­responsáveis pela realização deste<br />

evento. Boas­vindas a todos vocês. Muito obrigado.<br />

JORGE ÁVILA<br />

Bom dia a todos. Eu queria registrar minha satisfação em estar abrindo mais um<br />

encontro da REPICT, agradecer a presença de todos, ao Subsecretário Lagun, à antiga<br />

companheira Cida, ao Alejandro Roca da OMPI, ao Luis Cláudio da Petrobras e à Ada.<br />

Faz muito tempo que nos reunimos aqui na REPICT discutindo temas cada vez com<br />

uma profundidade maior. Acho que quando comparamos o estágio da discussão hoje em<br />

<strong>20</strong>08 com a primeira REPICT em 1997, percebemos que a evolução é gigantesca. Eu diria<br />

que parte da responsabilidade pelo avanço dessa discussão é da REPICT. No meio<br />

acadêmico, em 1997, ninguém discutia propriedade intelectual. Na verdade, não havia<br />

sequer clareza com relação ao que seria uma política de inovação. Em 1997, não se falava<br />

de inovação. Falar de política industrial era algo meio proibido no país. E o apoio dos<br />

Estados, dos governos à produção tecnológica, à disseminação, era visto com certa<br />

suspeita. Eu diria que tivemos na FINEP uma grande resistência ao longo de todo esse<br />

tempo. Foi a partir de 1999 que a discussão sobre inovação começou a tomar mais corpo, e<br />

as discussões na REPICT foram acontecendo em acompanhamento a essa evolução no<br />

cenário da discussão nacional. Essa discussão foi sendo cada vez mais articulada à<br />

discussão de política industrial, que acaba acontecendo em <strong>20</strong>04 de maneira formal com o<br />

lançamento da política industrial, na época chamada Política Industrial, Tecnológica e de<br />

Comércio Exterior (PITCE), e mais recentemente de Política de Desenvolvimento Produtivo<br />

(PDP).<br />

A propriedade intelectual foi surgindo, pouco a pouco, neste contexto, com uma<br />

importância cada vez melhor compreendida. Eu não diria que a propriedade intelectual ficou<br />

mais importante, eu diria que ela tem sido mais bem entendida. E temos conseguido<br />

entender, em particular, o papel fundamental que essa instituição desempenha na<br />

articulação entre oferta e demanda de tecnologia. Eu acho que, ao longo desses anos todos,<br />

pudemos perceber com mais clareza que a instituição que permite com que haja uma<br />

circulação de conhecimento, com alguma regularidade, com alguma ordem, com algum tipo<br />

de institucionalidade da forma de um mercado, é a instituição da propriedade intelectual. Ela<br />

permite que se articulem os pedaços de conhecimento de uma maneira comercializável. É<br />

muito interessante se observar a clareza com que se criou a REPICT em 1996 para 1997, já<br />

com foco estritamente bem definido de fazer uma rede para discutir a propriedade intelectual<br />

e a comercialização da tecnologia produzida nos institutos de pesquisa e nas universidades<br />

que a compõem. Isso foi se ampliando e assumiu um caráter didático para muita gente. Tem<br />

sido para nós uma satisfação, ao longo desses anos, verificar que o público da REPICT é<br />

um público crescente e cada vez mais ativo no cenário da discussão brasileira sobre<br />

propriedade intelectual e inovação.<br />

Então, eu queria agradecer a presença de todos, desejar a todos um seminário muito<br />

profícuo, e espero que vocês gostem do novo formato deste evento. Achamos que depois<br />

11


de dez encontros da REPICT num formato padronizado de palestras, seria produtivo<br />

começar agora a organizar mini­cursos que permitissem aprofundar um pouco mais a<br />

discussão em temas que são muito importantes. Os temas deste ano tiveram como motivo<br />

básico para sua escolha a dificuldade percebida hoje na proteção e no licenciamento da<br />

tecnologia brasileira fora do Brasil. Ao longo do ano passado, tivemos a oportunidade de<br />

organizar um road show com o escritório norte­americano de marcas e patentes, o USPTO.<br />

Este road show teve por objetivo mostrar que não é tão difícil e nem tão caro proteger a<br />

tecnologia brasileira nos Estados Unidos. Devemos continuar à frente dessa sensibilização<br />

também com o escritório europeu de patentes, o EPO. A oportunidade será de discutir de<br />

maneira mais focada cada um dos temas propostos. Por último, eu queria agradecer, em<br />

particular, aos palestrantes e professores que vieram de fora para abrilhantar o nosso<br />

evento.<br />

Bom evento a todos, muito obrigado.<br />

ALEJANDRO ROCA CAMPAÑÁ<br />

Muy buenos días, señoras y señores, integrantes de la mesa principal. Es un honor,<br />

tanto para mi colega Maria Beatriz Amorim, la jefa de la División de Propiedad Intelectual y<br />

Nuevas Tecnologías de la OMPI, como para mí, poder estar nuevamente en este Encuentro<br />

de la Red de Propiedad Intelectual y Comercialización de Tecnología. Yo recuerdo, no es<br />

que haya participado en todos los encuentros, pero sí participé en algunos al inicio, y veo<br />

como el programa ha evolucionado. Al inicio la discusión y el foco estaban centrados en la<br />

parte meramente legal, de como proteger la tecnología, lo que proteger, que no proteger.<br />

Con gran satisfacción veo que el programa en esto XI Encuentro es lo más reciente y está<br />

dirigido fundamentalmente a la gestión del conocimiento, a la explotación misma, a la<br />

interrelación que hay entre la propiedad intelectual y la aplicación efectiva de la innovación.<br />

Yo creo que acá el mensaje fundamental que la OMPI quisiera pasar es el siguiente.<br />

Primero que la propiedad intelectual no es fin en sí mismo, si no que un instrumento para<br />

llegar al fin, y el fin es el desarrollo económico de los países. Un sistema efectivo de<br />

propiedad intelectual unido a políticas proactivas a nivel nacional en materia de ciencia,<br />

tecnología, educación, salud, creación de capacidades, tanto en los centros de investigación<br />

y desarrollo, como en las empresas, son los que, sin duda, constituyen hoy en día, en la<br />

economía del conocimiento, el motor fundamental que va ayudar a una nación a promover<br />

sus activos intelectuales y a obtener crecimiento económico. En esto me quiero referir esta<br />

integración y interrelación entre el sistema y las políticas nacionales a nivel internacional,<br />

porque el sistema por si solo no va resolver los problemas. Cada vez más a nivel<br />

internacional existe la conciencia de que hay de reconocer los diferentes niveles de<br />

desarrollo de los países, y el sistema si tiene que atar, porque esos países tienen necesidad<br />

de hacer uso de la distinta flexibilidad normativa prevista en los acuerdos y hacer un solo<br />

espacio de políticas publicas permitido en materia de protección.<br />

La segunda reflexión que quisiera hacer muy breve es que la evolución del sistema al<br />

nivel internacional, y sobretodo la evolución que hay experimentado la tecnología de los<br />

últimos tiempos, ha hecho que existan desafíos importantes para el desarrollo del sistema<br />

de propiedad intelectual. Para nuestra organización, por cuantos son varios los factores que<br />

afectan la institución de la propiedad intelectual como un sistema para que la misma pueda<br />

cumplir su misión básica de estimular la innovación y la creatividad, y de contribuir para el<br />

buen funcionamiento de los mercados. Uno de estos problemas es el que existe con el<br />

sistema de patentes que las oficinas de patentes a nivel mundial no pueden más con la<br />

generación de solicitudes. Hoy en día se calcula más de tres millones, como cinco millones<br />

12


de solicitudes de patentes que no hay podido ser examinadas, y por lo tanto eso hace así<br />

que haya que encontrar una solución a eso problema, y un incremento de la cooperación<br />

internacional en este sentido se hace necesario.<br />

El otro desafío importante es lo que enfrenta el derecho de autor, hoy en día<br />

producto del modelo de retribución a los creadores, a los artistas, a los interpretes, a los<br />

ejecutantes que estaban basado en si lo pasado, en la distribución de objetos físicos que<br />

están plasmados a la sobra. Esto modelo precisamente por la convergencia entre la<br />

tecnología digital y el poder de distribución de Internet corre hoy un peligro importante que<br />

puede traer consecuencias nefastas para los países en desarrollo, ya que los artistas, los<br />

interpretes, los creadores en general no tienen el mismo nivel de acceso en Internet y ni<br />

tienen tampoco altas velocidades para transmitir, ni además tienen soluciones alternativas<br />

para obtener la remuneración por la creación de las sobras a través del ambiente digital.<br />

Es por todo esto que la OMPI – y esta es la tercera y la ultima reflexión que quisiera<br />

hacer la organización – en esto momento tiene una excelente oportunidad de formar parte<br />

de la solución a estos problemas a través de la Agenda de Desarrollo donde el desafío más<br />

grande ahora es traducir el consenso político en proyectos concretos. Como ustedes saben,<br />

hace poco ha habido un cambio en la dirección general de la OMPI, y precisamente uno de<br />

estos proyectos concretos que el nuevo director general piensa llevar a cabo es, por<br />

ejemplo, fortalecer o crear en muchos casos, lo que llama la infraestructura mundial de<br />

conocimiento, que pudiera estar conformada por base publica y gratuita de actos técnicos,<br />

científicos y legales que, a través de la gestión y de la prestación de servicios por parte de la<br />

OMPI sobre la base de información, va ayudar a los países en poder, de una forma práctica,<br />

contribuir a una mejor distribución de las ventajas sociales de la propiedad intelectual.<br />

Yo creo que esto encuentro nos presenta la oportunidad de poder discutir esto y<br />

muchos de estos temas, y estoy convencido de que constituirá una piedra de toque más<br />

para fomentar otras empresas como esta, que han de servir para la difusión de la propiedad<br />

intelectual en general, su mejor aprovechamiento y poder así mejor enfrentar los retos que<br />

nos plantean la globalización. Muchas gracias.<br />

MARIA APARECIDA STALLIVIERI NEVES<br />

Bom dia a todos, cumprimento os membros da mesa, os senhores e senhoras<br />

participantes desse encontro. Gostaria de manifestar minha dupla alegria, primeiro por estar<br />

representando uma instituição que é central no nosso sistema nacional de inovação, na<br />

questão do financiamento e fomento a todas as instituições envolvidas nesse novo momento<br />

por que passa o país. Historicamente, a FINEP apóia todas essas iniciativas. Eu quero<br />

brevemente descrever algumas coisas que estão se passando no momento. A segunda<br />

alegria é pessoalmente de participar, por todos esses anos, da construção e consolidação<br />

do imenso trabalho da Rede de Tecnologia – aqui representada por Paula e o Armando –<br />

que foram, também, na minha época de presidente do Conselho elementos essenciais na<br />

construção de todas essas redes que fazem parte da Rede de Tecnologia. Quando a Rede<br />

foi constituída, rede não era moda ainda, então ela traz uma iniciativa pioneira e certamente<br />

é uma demonstração concreta de que reunir esforços para complementaridade,<br />

desenvolvimento de iniciativas, trocas de experiências, é o elemento certo que contribui para<br />

essas organizações. Então, eu gostaria de cumprimentar os integrantes da Rede de<br />

Tecnologia por mostrarem aqui essa oportunidade de, mais uma vez, nos proporcionar essa<br />

contribuição de que o país precisa.<br />

13


O que eu gostaria de ressaltar com relação a esse momento são as duas políticas<br />

que eu acho que dão uma base para o que estamos hoje trabalhando em ciência e<br />

tecnologia: a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Plano de Ação de Ciência e<br />

Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Todos esses elementos são<br />

marcos referenciais, e certamente as instituições, ao trabalharem, ao definirem as suas<br />

propostas, concretizarão essas diretrizes. A FINEP é uma agência que tenta trazer a<br />

organização e a instrumentalizar dessas diretrizes e desses princípios. A FINEP hoje<br />

trabalha integrada a essas duas políticas, buscando trazer, dentro do normativo legal da Lei<br />

da Inovação, alguns programas e elementos que fortaleçam esse momento. Nós estamos<br />

hoje trabalhando com a subvenção econômica, que é um novo instrumento para apoiar as<br />

empresas diretamente com recursos públicos. Isso recai para que a capacitação e o<br />

conhecimento existentes nas nossas instituições de pesquisa sejam absorvidos por essas<br />

empresas. A discussão de hoje aqui e certamente aquelas que se passam no âmbito da<br />

REPICT vão fortalecer esses instrumentos. Independente disso, mas paralelamente, ainda<br />

podemos citar a ação do SIBRATEC, que são as redes dos institutos de pesquisa, e a<br />

atuação dos NITs, que são os núcleos de inovação tecnológica. Certamente é um<br />

instrumento de muita discussão e de muito trabalho, e a REPICT poderá dar elementos de<br />

fortalecimento do que vem sendo hoje implantado.<br />

Eu desejo a todos um bom trabalho. Gostaria de mencionar que para <strong>20</strong>09 os<br />

desafios no Ministério de Ciência e Tecnologia, e particularmente na FINEP, são da ordem<br />

de três bilhões de reais. Saber como vamos trabalhar os instrumentos adequadamente para<br />

que resultados efetivos cheguem ao desenvolvimento econômico e social do nosso país é<br />

bastante desafiador. Acho que grande esforço desse momento está aqui com vocês, que<br />

fazem parte de uma série de organizações que são liderança nesse país. Desejo a todos um<br />

ótimo trabalho e me coloco à disposição na FINEP. Muito obrigada.<br />

LUIS CLÁUDIO SOUSA COSTA<br />

Bom dia a todos da platéia, bom dia companheiros de mesa. É uma alegria enorme<br />

estar aqui representando a Petrobras neste evento. Pelo que percebi dos pronunciamentos<br />

anteriores, acredito que sou debutante da mesa da REPICT, mas me sinto muito à vontade<br />

porque estou na Petrobras há vinte e um anos, e durante este tempo trabalhei dentro do<br />

Centro de Pesquisas da Petrobras, ou seja, vinte e um anos trabalhando com<br />

desenvolvimento de tecnologias. A maior parte desse tempo foi como pesquisador e<br />

recentemente como gerente.<br />

Como sendo da Petrobras, não poderia deixar de falar um pouco sobre a política de<br />

propriedade intelectual da empresa. Obviamente a Petrobras usa a propriedade intelectual<br />

para proteger os novos produtos que ela desenvolve, mas o objetivo principal da prática da<br />

propriedade intelectual é assegurar a liberdade de uso nos processos de produção. Aí que<br />

temos um foco maior no uso da propriedade intelectual, ou seja, para evitar que prestadoras<br />

de serviços que nos atendem tenham o monopólio de determinadas tecnologias.<br />

Ao ler o programa deste evento, percebo que outro viés é o licenciamento para<br />

terceiros. A Petrobras não faz uso do viés forma comercial. Ela usa sim licenciamento de<br />

terceiros quando a tecnologia não está disponível no mercado. Ou seja, desenvolvemos<br />

com parceria e licenciamos. Isso ficou evidente quando fizemos prospecção de petróleo em<br />

águas profundas. Não detínhamos a tecnologia, a tecnologia não existia disponível no<br />

mercado, e com isso desenvolvemos e, consequentemente, licenciamos muitas tecnologias.<br />

Também licenciamos para reduzir custos e quebrar monopólios de determinadas empresas.<br />

14


O importante é que o foco principal da Petrobras é proteger e assegurar a liberdade de uso<br />

de determinadas tecnologias.<br />

Jorge Ávila mencionou ainda pouco que até 1997 não se dava muita atenção à<br />

propriedade intelectual e às patentes. É interessante que tenho alguns números aqui da<br />

nossa empresa, que é uma das empresas que mais deposita patentes no país.<br />

Impressionantemente até 1980 tínhamos somente 63 pedidos de patentes. Na década de<br />

80, foram 256 pedidos, nos anos 90 foram 360 pedidos, e a previsão é que na década de<br />

<strong>20</strong>00 a <strong>20</strong>10 esse número seja 650. Existe uma progressão geométrica na colocação de<br />

patentes, ou seja, a importância dada ao assunto ultimamente.<br />

Olhando o programa, podemos ver que o objetivo principal do evento é atrair<br />

empresas para alavancar a interação entre elas e as universidades. Eu me sinto muito<br />

confortável em dizer que a Petrobras vem há longo tempo tendo interação grande com as<br />

universidades, interação essa que se estreitou mais ainda e se tornou mais forte a partir de<br />

<strong>20</strong>05, quando foi regulamentada a lei de participação especial, onde por força da lei tivemos<br />

que aumentar o nosso investimento em pesquisa e desenvolvimento dentro das<br />

universidades. Para vocês terem uma idéia, para este ano a previsão de investimento é de<br />

470 milhões de reais nas universidades e institutos de pesquisa no país.<br />

Quanto ao evento, espero que nesses próximos três dias ele seja coroado de<br />

sucesso e que todos atinjam os objetivos para os quais vieram aqui. Mais uma vez,<br />

agradeço a oportunidade de estar aqui e desejo a todos um bom evento.<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES VIANNA<br />

Bom dia a todos, é um grande prazer ver este auditório cheio numa segunda­feira de<br />

manhã, como já foi muito apropriadamente destacado pelos que me antecederam na mesa.<br />

Eu os saúdo e agradeço os comentários e referências.<br />

A idéia deste evento é realmente dar uma dinâmica nova em relação ao tema. Vocês<br />

já acompanham alguns eventos da REPICT. Este é o décimo primeiro. Eu como FINEP e<br />

agente do sistema já acompanho há pelo menos seis anos diretamente. O interesse sobre o<br />

tema, pelo menos pessoalmente, apareceu quando comecei a tratar com a agenda de<br />

investimento. Então ficou cada dia mais claro a necessidade de conhecermos o mecanismo<br />

da propriedade intelectual, orientar as empresas sobre este tema, porque, também, na hora<br />

do investimento, além de ser um ativo importante de empresa de tecnologia, esse<br />

componente não era bem tratado, e esse foi um desafio que enfrentamos na FINEP. Mais<br />

recentemente, assumindo a coordenação da REPICT, a proposta nessa próxima etapa é<br />

trazer as empresas, fazer com que as empresas percebam melhor a importância do tema<br />

como elemento importante de gestão da inovação e referência econômica, o que antes<br />

talvez não tivesse ficado tão claro.<br />

Com relação às parcerias com as instituições e à presença das instituições<br />

acadêmicas no Brasil, não só pela legislação, mas também perceber a necessidade de olhar<br />

a referência de geração de conhecimento e sua passagem para o mercado, trabalhamos o<br />

viés do licenciamento. A proposta do evento – não só na sua dinâmica, como escolha dos<br />

temas – está realmente tentando aproximar para a realidade das empresas o componente<br />

que aparecia só pelo aspecto legal, e que de alguma forma trouxe um outro peso para<br />

decisão de negócios, não só no Brasil como no mundo inteiro.<br />

15


Uma outra questão que fica clara com a presença da OMPI, do INPI e de outras<br />

instituições, é que a discussão não pode ser feita somente por um agente institucional.<br />

Então, propriedade intelectual é um tema que permeia todo o sistema econômico. Nessa<br />

medida, temos contado com grandes parcerias e apoios da OMPI. De alguma forma,<br />

podemos até dizer que a REPICT já assumiu uma referência internacional, não só a partir<br />

desse ano, mas de algum tempo. Temos um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade<br />

de articular todos esses esforços institucionais, pessoas e agendas, para que o Brasil tenha<br />

um componente de participação maior, não só do ponto de vista intelectual, mas econômico.<br />

Claro que algumas discussões vamos ter aqui, relacionadas a esse indicador, por exemplo,<br />

aos mecanismos. Estudos internacionais indicam patentes com referencial ao<br />

desenvolvimento econômico. Claro que essa é uma das variáveis, mas não podemos deixar<br />

de tratar isso como elemento importante. Nosso desafio é promover essa discussão,<br />

informar as pessoas e até mesmo, em alguns casos, sensibilizar as pessoas sobre esse<br />

tema. Esperamos que a aposta dessa abordagem dinâmica do evento seja bem sucedida.<br />

De alguma forma, os dados de inscrição no evento e nos mini­cursos indicam que as<br />

pessoas se interessaram em participar dessa abordagem. E o número é crescente.<br />

Outra questão percebida refere­se às ações paralelas, digamos complementares a<br />

este evento, diversas ações que acontecem o ano inteiro. Acredito que vocês sejam clientes<br />

e participantes de mini­cursos, cursos de treinamento em parceria com INPI e da própria<br />

REPICT. Só nesta semana eu estive em três cidades do Brasil, no Nordeste, em São Carlos<br />

e em Campinas. A demanda é crescente em relação a esse tipo de informação. É muito<br />

interessante trabalhar aqui no âmbito do Rio de Janeiro e perceber no Brasil inteiro o<br />

interesse sobre o tema com o peso que ele tem. Realmente espero que a própria integração<br />

entre as pessoas no evento as ajude a olhar a propriedade intelectual de forma estratégica,<br />

o que deve ser trabalhado.<br />

Da minha parte eu agradeço à Rede de Tecnologia o convite de coordenar o XI<br />

REPICT e o próprio trabalho. Espero que todos gostem do evento. Muito obrigada.<br />

JULIO OSCAR LAGUN FILHO<br />

Já estamos aqui nas prorrogações, por isso serei rápido. Gostaria de agradecer a<br />

participação aqui na mesa, uma mesa tão representativa, agradecer pela oportunidade de<br />

estar aqui hoje com vocês. Acho que o mar de cabeças que vemos até o final da sala já é<br />

designativo de um grande evento. Gostaria de agradecer também aos organizadores,<br />

particularmente aos organizadores deste XI REPICT, que por ser a décima primeira versão,<br />

nos faz reconhecer que uma tradição está sendo criada, uma estrutura está sendo criada,<br />

sendo representativa num país onde as coisas duram pouco, e que vem tratando de um<br />

assunto extremamente complexo, multifacetado, mas que por vezes esquecemos. É muito<br />

representativo da formação não só da nossa cultura, mas principalmente da nossa<br />

soberania intelectual.<br />

Queria apenas fazer um destaque, acho que o evento está vindo num momento de<br />

coincidência feliz. Como todos sabem, a Lei de Inovação nacional vem sendo desdobrada<br />

em leis de inovação estaduais. O Rio de Janeiro aguardou um pouco surgirem as leis de<br />

diversos estados para aproveitarmos um pouco da experiência de como elas estavam sendo<br />

absorvidas. De alguma maneira, sempre existem constrangimentos gerais na aplicação<br />

dessas leis. Estamos hoje numa fase extremamente importante, já foi feito um primeiro<br />

anteprojeto, esse anteprojeto foi distribuído pelas instituições envolvidas e interessadas,<br />

recebemos inúmeras sugestões, já foi feita uma audiência pública na assembléia, também<br />

com ampla participação. Eu penso que este evento pode contribuir muito. Armando<br />

16


Clemente tem o texto da lei, porque ele vem participando das audiências públicas. Enfim, eu<br />

gostaria que nos trabalhos que os senhores realizassem, sempre que pudessem, façam<br />

algum tipo de citação do que poderia vir a ser acrescentado à Lei de Inovação do Estado do<br />

Rio de Janeiro. Seria de grande valia para que pudéssemos fechar esse documento, que<br />

ainda tem algum tempo para poder ser encaminhado formalmente.<br />

Agradeço antecipadamente a contribuição de todos e desejo um sucesso fantástico<br />

ao longo desse evento.<br />

17


PALESTRA <strong>DE</strong> ABERTURA<br />

ESTRATÉGIAS <strong>DE</strong> INOVAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS, CANADÁ, REINO UNIDO,<br />

FRANÇA, FINLÂN<strong>DIA</strong>, IRLANDA E JAPÃO.<br />

Coordenação:<br />

Antonio José Junqueira Botelho, Coordenador de Pesquisa do NEP Gênesis da PUC­Rio<br />

Palestrante Especial:<br />

Glauco Arbix, Professor da Universidade de São Paulo (USP), coordenador do Observatório<br />

da Inovação do Instituto de Estudos Avançados<br />

ANTONIO JOSÉ JUNQUEIRA BOTELHO<br />

Boa tarde a todos. Gostaria de agradecer o convite da REPICT para coordenar esta<br />

mesa de abertura. É um grande prazer ter aqui o professor Glauco Arbix, que é professor<br />

livre docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, membro do<br />

Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Group of Advisers do United Nations<br />

Development Programme (PNUD/ONU). Glauco é também coordenador geral do<br />

Observatório de Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da USP. Ele<br />

foi presidente do IPEA e coordenador do NAE no período de <strong>20</strong>02 a <strong>20</strong>06, além de<br />

professor da UNICAMP, da FGV. Fez estudos de pós­doutorado em diversas universidades<br />

americanas e britânicas, tais como: University of California at Berkley, Columbia University,<br />

London School of Economics, Massachusetts Institute of Technology (MIT), Cornell<br />

University. É um grande prazer ter o professor Arbix dando essa palestra de abertura, que<br />

trata um tema extremamente proveitoso, no sentido de trazer a comparação institucional e<br />

das políticas de inovação de propriedade intelectual de diferentes países.<br />

GLAUCO ARBIX<br />

Apresentarei uma síntese da pesquisa financiada pela Agência Brasileira de<br />

Desenvolvimento Industrial (ABDI) sobre Estratégias de Inovação em Sete Países. Há<br />

muitas informações e análises disponíveis na internet no website do Observatório (<br />

www.observatoriodainovacao.org) para todos os interessados. Essa pesquisa foi realizada<br />

ao longo de um ano e baseou­se na reunião de dados e análises sobre a trajetória desses<br />

países, assim como em informações coletadas a partir de mais de noventa entrevistas fora<br />

do Brasil, além de cerca de quarenta entrevistas com personalidades e lideranças<br />

empresariais brasileiras. Tivemos uma preocupação muito grande em não executar uma<br />

pesquisa apenas ouvindo autoridades, planejadores públicos ou representantes das<br />

empresas ou de associações de empresários, ou mesmo das universidades. Nossa<br />

preocupação foi avançar para além do discurso para localizar os problemas reais que<br />

existem na implementação das políticas. Sabemos bem que quando conversamos com<br />

representantes do Estado, para além das boas intenções, existe sempre o risco de se<br />

minimizar os problemas e dificuldades reais. Na maior parte das vezes, nós ouvimos aquilo<br />

que deu certo. Nem sempre, porém, o que deu certo ou, mais precisamente, o que é tido e<br />

apresentado com positivo, ajuda efetivamente outras instituições e países a conceber e<br />

aperfeiçoar seus programas e políticas. No caso em pauta, além dessa dificuldade, já<br />

grande, temos diferenças estruturais enormes entre os sete países e o Brasil. Por isso<br />

mesmo, todo cuidado no estabelecimento de comparações ligeiras será pouco. Por isso<br />

mesmo, gostaria de deixar bem claro que tivemos toda a preocupação de entrevistar,<br />

conversar, colher material, falar com pessoas responsáveis pela elaboração das políticas de<br />

18


governo, pela elaboração das políticas de empresários, e com muitos pesquisadores nas<br />

universidades, mas sempre tentando combinar e conversar com aqueles que são<br />

responsáveis pela execução das políticas. Mais do que isso, nós cotejamos as entrevistas e<br />

os documentos com os dados sobre o desempenho efetivamente realizado. Essa foi uma<br />

precaução de ordem metodológica que adotamos extremamente chave para montarmos o<br />

panorama que será apresentado a todos vocês.<br />

A segunda observação, diz respeito exatamente ao volume de material disponível.<br />

Apresentarei a seguir uma síntese. Os pontos que serão apresentados nem sempre são<br />

consensuais. A responsabilidade pela seleção e análise é inteiramente nossa. Certamente<br />

há muitos exemplos de políticas semelhantes pelo Brasil afora. Gostaria apenas de lembrar<br />

que o nosso país é muito grande, diversificado e muito heterogêneo. Isso significa que<br />

existam exemplos de políticas semelhantes, ou concebidas a partir da mesma inspiração<br />

que encontramos em países mais estruturados que o nosso. Para nós, porém, a dimensão<br />

orçamentária daquilo que precisamente é executado e implementado é fundamental. Assim,<br />

áreas prioritárias são aquelas que além de terem recebido um destaque ou tratamento<br />

especial em algum documento oficial ou plano de governo, tiveram correspondência no<br />

orçamento. De pouco adianta definir como prioridade uma determinada área da economia,<br />

ou uma determinada área da ciência, da tecnologia, se o orçamento correspondente é muito<br />

reduzido Por essa razão, as considerações que fizemos passaram pelo crivo do confronto<br />

com as decisões orçamentárias, assim como por uma avaliação da dimensão do projeto –<br />

se experimental, piloto ou extensivo, pois entendemos que dessa forma tornamos um pouco<br />

mais precisa a noção de prioridade que os governos atribuem a seus planos. Esses<br />

cuidados ajudaram­nos a separar uma série de boas intenções daquilo que efetivamente é<br />

realizado.<br />

A terceira observação tem a ver com os países que visitamos e estudamos. Os sete<br />

países são muito diferentes entre si e do Brasil. Têm tamanhos distintos, uma economia,<br />

história e cultura bem diferenciadas. Qualquer tentativa de transferência automática da<br />

experiência desses países para o Brasil será fadada ao fracasso. Os constrangimentos<br />

específicos determinam em muito a maneira como as políticas funcionam em alguns lugares<br />

e porque que em outros lugares as mesmas políticas acabam não funcionando.<br />

A partir desses cuidados, o painel que elaboramos tende a se identificar mais comum<br />

mosaico de registro das principais tendências que orientam as políticas de inovação nesses<br />

países. As medidas que sugerimos funcionam mais como fonte de inspiração do que<br />

exatamente uma tentativa de decalque ou de clonagem de propostas ou mesmo de<br />

instrumentos já experimentados em outras searas.<br />

Seis meses após a primeira rodada de visitas a esses países tivemos um segundo<br />

contato com a Finlândia e Irlanda, principalmente pela situação difícil que esses dois países<br />

enfrentam com a crise financeira mundial. Apesar dos abalos, porém (as previsões indicam<br />

um PIB negativo para a Finlândia de 4% e para a Irlanda de mais de 10% em <strong>20</strong>09), deixo<br />

registrado que os planos de médio e de longo prazos nas áreas de ciência, tecnologia e<br />

inovação não somente foram mantidos – inclusive do ponto de vista do orçamento público –<br />

como foram encorpados. A maturidade expressa por essa postura apenas exemplifica a<br />

convicção predominante nesses países a respeito do significado da inovação. Pelo menos<br />

para os planejadores públicos, não há outro caminho para essas sociedades a não ser a<br />

consolidação de um sistema de inovação permanente que, sem dúvida, deve servir de forte<br />

alerta para o Brasil.<br />

Após essas observações, gostaria de apresentar o primeiro resultado­síntese da<br />

pesquisa. Não se trata exatamente uma novidade, principalmente para esse plenário que<br />

19


trabalha com inovação e tecnologia há muito tempo. Os sete países pesquisados, cada um<br />

à sua maneira e com ritmos diferenciados, procuram modificar de forma acelerada, os seus<br />

sistemas de inovação e orientá­los para as áreas intensivas em conhecimento. Isso é<br />

absolutamente visível em todos eles. Alguns países, como a Finlândia, se orientam mais<br />

rapidamente do que outros nessa direção. A Finlândia é, de longe, o país que mais avançou<br />

nessa via. A Finlândia foi um dos primeiros países a integrar em seus planos de<br />

desenvolvimento as noções de um sistema nacional de inovação. Atualmente, este pequeno<br />

país, altamente civilizado, atua de forma acelerada rumo à constituição de um sistema<br />

internacional de inovação. O governo finlandês dá passos consistentes nessa direção,<br />

ajudando suas empresas a aproveitar todas as oportunidades que a globalização oferece.<br />

No entanto, apesar do destaque da Finlândia, todos os países que estudamos caminham<br />

para isso. Há uma atividade intensa nessa direção também nos Estados Unidos.<br />

Normalmente, se nos atemos aos artigos veiculados pela imprensa ou por alguns<br />

pronunciamentos ou declarações oficiais, os Estados Unidos se apresentam como um país<br />

em que o Estado é mantido à margem da economia de modo a dar sustentação e livre curso<br />

aos mercados. A intervenção do Estado norte­americano na economia durante a atual crise<br />

financeira ajudou a amenizar essas visões. Antes disso, porém, o acompanhamento detido<br />

da trajetória do Estado americano nas áreas de tecnologia e inovação, mostraria que a<br />

atuação pública é absolutamente imprescindível para sustentar o alto desempenho da<br />

economia e da pesquisa, seja pelo volume gigantesco de investimento, pelas políticas de<br />

prioridades, seja pela conseqüente hierarquia na alocação de recursos seleção de campos<br />

de atuação e emulação do setor privado. Em outras palavras, nesse campo, longe de um<br />

Estado fraco, o que vimos foi uma atuação pública substantiva e, em muitos casos, muito<br />

mais presente do que aqui no Brasil. Por exemplo, o Estado americano utiliza um sofisticado<br />

sistema de compras governamentais, muitas vezes a título das políticas de defesa, e que<br />

orientam e impulsionam a tecnologia e a inovação. Apesar da utilização intensa desses<br />

recursos no passado, atualmente o Brasil tem enormes dificuldades, inclusive com<br />

questionamentos jurídicos para realizar seus planos de política industrial ou de política de<br />

inovação ligados às compras governamentais. A primeira síntese, portanto, identifica a<br />

inovação no coração das estratégias competitivas desses sete países. Todos, sem exceção,<br />

buscam intensamente desenvolver e trilhar esse caminho para (re)qualificar suas<br />

economias.<br />

A segunda síntese indica que os sete países buscam atingir os padrões de<br />

desempenho do que há de melhor em todo o mundo. Não se trata de uma frase de efeito, é<br />

carregada de sentido e tem importantes implicações. Quando assumida com seriedade, traz<br />

conseqüências para toda a economia, para a pesquisa acadêmica e empresarial, para as<br />

cadeias produtivas e serviços, tornando mais sofistica e complexo os sistemas nacionais de<br />

inovação. Do modo como são montadas as bancas de tese na Universidade 1 , passando<br />

pelos sistemas regulares de métrica e de aferição da inovação, até mecanismos de<br />

avaliação de desempenho, públicos e privados, a referência é o país, a indústria, a firma ou<br />

a pesquisa mais avançada. Toda e qualquer comparação é feita com esse cuidado. As<br />

metas, os alvos e os ritmos são fixados de acordo com as competências nacionais, mas<br />

sempre tendo em vista a perspectiva de alcançar – e superar – o que de melhor está sendo<br />

produzido pelo mundo afora. Nenhum desses sete países se contenta com as comparações,<br />

digamos assim, “caseiras”, regionais ou apenas com seu próprio passado. Os planos,<br />

programas e políticas são elaborados tendo como referência a equiparação e superação do<br />

1<br />

Por exemplo, vários países já tornaram obrigatória a presença de pelo menos um especialista<br />

de renome internacional, de fora do país, na composição da banca examinadora; a presença desse<br />

expert legitima e certifica a qualidade do trabalho acadêmico e científico,<br />

<strong>20</strong>


melhor desempenho. No Brasil, nossa tradição voltada para dentro, infelizmente, dificulta a<br />

disseminação desse tipo de prática. No governo brasileiro, nas instituições de Estado, nas<br />

empresas e nas universidades brasileiras, essa não é a nossa realidade, apesar das<br />

mudanças de postura que presenciamos ano após ano. A questão simples, que é chave,<br />

pede uma resposta clara: com quem temos que nos comparar? Não com o vizinho mais<br />

pobre e fraco. Nada contra essa comparação, de resto, necessária. Mas, para avançarmos,<br />

é mais adequada a comparação que nos força a andar para frente, que nos empurra para a<br />

superação da condição atual. Ou seja, a busca pela inovação está sempre ligada a um<br />

processo, a um movimento de transformação da atual situação para uma situação mais<br />

avançada.<br />

A terceira conclusão, talvez o item mais importante da nossa pesquisa – e, com<br />

certeza, o mais polêmico –, diz respeito à relação do conhecimento com a inovação e ao<br />

modo como os sete países procuram acertar as contas com seu próprio passado e herança.<br />

Ou seja, todos foram organizados e estruturaram seus sistemas de inovação, de ciência e<br />

tecnologia, ao longo de décadas, baseados no que a boa literatura científica chama de<br />

modelo linear de inovação. Trata­se de um modelo ainda muito presente no Brasil, mas<br />

também muito presente nesses países que estudamos. Qual é a natureza do esforço que<br />

fazem? Que tipo de dificuldade eles enfrentam? Os sete países procuram superar a idéia de<br />

que existiria uma fonte permanente de alimentação da inovação concentrada nos processos<br />

científicos ligados à pesquisa básica. A inovação, segundo esse modelo, gradativamente<br />

caminharia do ponto mais nobre (geralmente a Universidade) para as áreas menos nobres<br />

da sociedade, identificadas com os mercados. O século XX, com a proeminência da<br />

indústria e a expansão da pesquisa básica organizada, dentro e fora do setor público, gerou<br />

esse tipo de visão. As conseqüências foram – e ainda são – imensas. Sem investimento<br />

intensivo nas áreas de ciência básica, não haverá inovação, pelo menos é o que nos conta<br />

esse modelo. Os sete países, no entanto, que em grande parte geraram esse paradigma,<br />

procuram atualmente alterar os parâmetros dessa discussão e os princípios desse<br />

comportamento. Não se trata de negar a importância da ciência básica, mas de perceber<br />

que a inovação é gerada por uma multiplicidade de caminhos e nem sempre bebe das<br />

fontes da pesquisa científica. Avanços recentes na área de software ou das tecnologias de<br />

comunicação, por exemplo, mostraram ao mundo que, muitas vezes, ocorre exatamente o<br />

contrário. Isto é, que as inovações acontecem no setor privado (nas áreas tidas como<br />

“menos nobres” e avançam até as “mais nobres”). A estrutura da produção científica mudou<br />

muito nos últimos trinta anos. As dinâmicas são outras e nem sempre conhecidas. A<br />

inovação, evidentemente, se alimenta da pesquisa básica, mas também se alimenta daquilo<br />

que vem do mercado. E, nos tempos de hoje, esse movimento inverso é cada vez maior.<br />

Exemplo flagrante vem do próprio Silicon Valley nos Estados Unidos, quando a explosão do<br />

software, do mundo da informática muitas universidades como Stanford e Berkeley (tidas<br />

por muitos como causadoras da explosão tecnológica) foram pegas de surpresa. De um<br />

modo geral, os avanços que ocorreram nas empresas encontravam professores<br />

despreparados, desprevenidos, muitos deles incapazes de até de ensinar. Essas duas<br />

universidades foram obrigadas a trazer para seus cursos a engenharia, os analistas,<br />

aqueles que estavam fazendo acontecer a revolução da informática fora da universidade.<br />

Evidentemente, as empresas da Califórnia foram beneficiadas por essas universidades,<br />

pelos profissionais formados, pela sua qualidade, e pela sua pesquisa. Mas o movimento<br />

nasceu fora dos muros universitários e teve de ser reprocessado para adquirir novo impulso,<br />

mesmo do ponto de vista da ciência básica. A via, portanto, foi de duas mãos. E hoje em dia<br />

molda o debate sobre inovação de modo a indicar a multiplicidade de caminhos que levam á<br />

inovação. O ponto de partida, claro, diz respeito à compreensão da inovação como toda<br />

idéia que faz a economia se movimentar, não apenas tecnologia, não somente uma<br />

invenção.<br />

21


Mais uma vez gostaria de deixar bem claro que não se trata de negar a pesquisa<br />

básica, mas de visualizar, desenhar e financiar um sistema de qualidade diferente. O que se<br />

busca com as mudanças não é o incentivo ao chamado conhecimento pelo conhecimento; o<br />

que se são as atividades em que o conhecimento gera impactos na economia nacional, no<br />

crescimento. Inovação, portanto, diz respeito á toda atividade que gera e agrega valor a um<br />

bem, que o diferencia no mercado, que consegue mostrar alguma relevância na geração e<br />

na qualidade do emprego, no padrão de vida das pessoas. Mais uma vez, não se trata de<br />

uma oposição, mas de um esforço para compreender o que há de novo no mundo da<br />

produção e dos serviços que solicita o desenho de políticas públicas novas, de novos<br />

hábitos e comportamentos do mundo empresarial.<br />

Evidentemente, com essa nova visão, as estruturas mais antigas estarão vivendo<br />

uma intensa pressão. Em todos os sete países que visitamos, a universidade está sob<br />

pressão, inclusive nos Estados Unidos, que tem uma longa tradição na relação das<br />

universidades com as empresas. A pressão é grande e pede que as universidades se<br />

repensem, se reformulem, sejam mais ágeis, tenham mais capacidade de se relacionar com<br />

a sociedade, com o mundo da produção, com o mundo dos serviços, com o mundo dos<br />

tangíveis e dos intangíveis, e de uma maneira que nunca fizeram antes. Todas as<br />

universidades vivem hoje essas pressões. Em alguns dos países pesquisados, esse debate<br />

é mais forte, como no caso da Irlanda. Este pequeno país parte de forma agressiva para a<br />

construção de institutos politécnicos, financia aceleradamente a construção de núcleos ou<br />

centros de pesquisa híbridos, formados a partir de recursos públicos e privados. São<br />

instituições de sinergia, intermediárias, cuja denominação nem sempre á fácil, pois<br />

freqüentemente são denominadas de quase­públicas ou quase­privadas. De fato, essas<br />

novas instituições possuem uma dimensão que se configura como uma espécie de mescla,<br />

uma mistura entre o público e o privado. Sua conformação torna flagrante que o Estado por<br />

si só não consegue decidir, determinar ou controlar (como muitas vezes é o seu desejo) o<br />

curso da economia e do desenvolvimento. Ao mesmo tempo, deixa claro que as empresas,<br />

o mundo empresarial, a iniciativa privada, precisam estar em regular consonância com a<br />

atuação das instituições públicas.<br />

Nessa nova visão, inovação não se identifica nem se reduz a uma atividade de alta<br />

tecnologia. Diferentemente, inovação surge como um elemento chave nos processos de<br />

geração de valor econômico. Está ligada a processo, a produto, a logística, a modelo de<br />

negócio, está ligada àquilo que muitas vezes aparece como um modo de apenas combinar<br />

conhecimento já disponível. Nem sempre inovação significa a geração de conhecimento<br />

novo. Do ponto de vista da definição de políticas públicas, essa distinção é vital. Se o nosso<br />

objetivo é gerar conhecimento novo, vamos trabalhar com um tipo de profissional, um tipo<br />

de rede, com qualificações precisas, com instrumentos próprios, tudo muito diferente do que<br />

se nós formos buscar também combinação de forma inteligente de conhecimento já<br />

disponível. Trabalha­se assim com outro tipo de profissional, outro tipo de qualidade e outro<br />

tipo de instrumento. É muito bom trabalhar nas duas dimensões, mas a confusão entre elas<br />

leva a uma confusão de instrumentos, que gera uma confusão de políticas. Temos que<br />

saber o que buscamos para um e o que buscamos para o outro tipo de atividade. Para o<br />

planejador público, é essencial saber diferenciar o nível e a atividade, para que a alocação<br />

dos recursos – sempre escassos – seja a mais apropriada possível.<br />

Gostaria de chamar atenção de vocês para o esforço de coordenação das atividades.<br />

Os sistemas de inovação se alteraram muito fortemente nos últimos vinte anos. As decisões<br />

mais importantes estão muito concentradas nos espaços institucionais que efetivamente tem<br />

poder. Nos países estudados, raramente se encontra algum programa de política pública de<br />

peso fora do âmbito do primeiro ministro ou diretamente da Presidência. Mesmo no caso<br />

dos Estados Unidos, onde o staff presidencial tem que ter uma relação especial com o<br />

22


Congresso, dado que o funcionamento do sistema norte­americano, a elaboração, a<br />

implementação e o acompanhamento das políticas prioritárias voltadas para a inovação<br />

estão ligadas à Presidência. Os programas novos, voltados para estimular o trânsito da<br />

velha para a nova situação, estão todos sob a responsabilidade de uma instituição de<br />

primeira importância no dispositivo de governo. No Brasil essa questão nem sempre é<br />

consensual. Muitas vezes anunciamos com pompa e circunstância uma grande política e<br />

depois vemos que sua execução cabe a uma instituição que não é de proa no esquema de<br />

governo, que não tem capacidade para articular, nem financiar, nem coordenar. Uma<br />

questão simples – quem está no comando? Nem sempre recebe uma resposta simples.<br />

Muitas vezes há sobreposição de funções, confusão de competências que, neste caso,<br />

interferem no ritmo e na qualidade da política. Não se trata de um problema de status. Na<br />

realidade, as políticas de inovação enfrentam de forma generalizada resistências de todo<br />

tipo, na sociedade e no governo, principalmente das instituições mais antigas que não<br />

sabem como trabalhar com as novas tendências, mas resistem quando se trata de renovar<br />

as estruturas de comando. Exatamente para vencer as resistências é que a coordenação e<br />

a implementação dessas novas políticas precisam estar concentradas onde o poder político<br />

existe para isso. Essa é uma questão essencial que diz respeito diretamente à efetividade<br />

das decisões de mudança.<br />

Em todos os sete países estão em curso transformações institucionais. No Brasil<br />

também. Nos últimos quinze anos tivemos modificações profundas no panorama<br />

institucional brasileiro. Há legislação nova, mecanismos de incentivo modernos, há uma<br />

rede de fundos setoriais, de instituições voltadas para o financiamento. Mesmo no nível<br />

regional, muitos Estados modificam sua atuação para viabilizar novas políticas de inovação.<br />

A pesquisa realizada na França mostrou, por exemplo, que este país modificou novamente<br />

seu sistema de inovação e fechou uma das agências de fomento mais antigas que existiam.<br />

Ainda na França, antigas instituições vivem hoje a competição direta de novas agências<br />

recém­criadas. O governo francês considera que é muito difícil fazer com que instituições<br />

mais velhas se transformem na velocidade e com a qualidade que o país precisa. O<br />

exemplo da França é importante, porque a sua tradição centralizada de planejamento estatal<br />

tem muito a ver com a nossa própria herança. Mas, ainda que o Estado francês seja mais<br />

eficiente que o nosso, ao estabelecer a competição institucional, uma grande instabilidade é<br />

gerada. No caso brasileiro, além do reordenamento do Estado, o país precisa diminuir seu<br />

déficit institucional e criar novas organizações. Acredito que vocês fazem uma idéia da<br />

turbulência política que esses processos são capazes de produzir.<br />

Trouxe a vocês também um painel com os novos padrões de política e as prioridades<br />

que os sete países perseguem no campo da inovação. O que é interessante aqui é o<br />

espelho das ações, apesar de simbólico, é relevante. Todos os sete países têm uma<br />

espécie de referência para buscar seus novos padrões. Os americanos olham para si<br />

mesmos, dada a enorme capacidade endógena existente. O Canadá também olha para os<br />

Estados Unidos. A França para os Estados Unidos e para Alemanha. O Reino Unido<br />

também para os Estados Unidos. A Irlanda olha para a Finlândia, para os Estados Unidos e,<br />

provavelmente por motivos históricos, para o Reino Unido. A Finlândia olha para a Suécia e<br />

para os Estados Unidos. E, o Japão apresenta uma novidade: além de olhar para os<br />

Estados Unidos passou também a olhar para a Coréia, que nasceu tecnologicamente<br />

inspirada pelo próprio modelo japonês. Nesse campo, o Brasil tem muita dificuldade em<br />

definir seu espelho. Somos diversificados. Perdemos um pouco o sentido de corpo nacional.<br />

Dependendo da universidade, da área, do momento, olhamos para um lugar diferente. A<br />

USP, por exemplo, olhou para a França durante décadas, mas hoje procura algum país para<br />

olhar, ainda que os Estados Unidos estejam bem colocados na lista. Talvez essa<br />

diversidade seja um sinal de força. Mas, é certo, se for, ainda não sabemos como usá­la.<br />

23


O ponto que eu gostaria de realçar é que em todos esses países, há um sistema de<br />

prioridades. Os Estados Unidos possuem as suas. O Canadá também, assim como a<br />

França, o Reino Unido, o Japão, a Finlândia e a Irlanda. Todos eles definem o lugar e a<br />

dimensão de seus investimentos. No caso do Brasil, foi anunciada pelo governo federal em<br />

<strong>20</strong>04 a nova Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Essa política definiu<br />

quatro grandes áreas prioritárias de investimento (fármacos, semicondutores, software e<br />

bens de capital), além de três áreas portadoras de futuro (biotecnologia, nanotecnologia e<br />

biomassa/energia). Tivemos muita dificuldade para implementar essa decisão, pois no Brasil<br />

é muito difícil a definição de prioridades. Todos os que não são “prioridades” resistem, a<br />

começar da academia. Na hora da repartição das verbas, todos querem ter isonomia, ou<br />

seja, a mesma porção do orçamento do que os outros. O problema é que se não<br />

conseguirmos orientar nossos esforços para as áreas que são realmente prioritárias vamos<br />

novamente escorregar como escorregamos nos anos 80 e 90, com a subestimação da<br />

microeletrônica. Corremos o risco de patinarmos outra vez. E os resultados não serão nada<br />

agradáveis.<br />

Após a apresentação das cinco sínteses, relato a vocês as recomendações que<br />

fizemos ao Ministério do Desenvolvimento e ao Ministério da Ciência e Tecnologia.<br />

Primeiro, é necessário aprofundar o diálogo e os fóruns permanentes de<br />

conversação com as entidades empresariais. Esse é um ponto chave. O Estado brasileiro<br />

não tem competência para fazer essa discussão de forma autárquica e isoladamente. É<br />

fundamental que haja a participação da iniciativa privada na definição das políticas de<br />

inovação, inclusive para concretizar o que foi decidido no âmbito público.<br />

Segundo, todos os países prezam o investimento de longa duração em ciência,<br />

tecnologia e inovação. Fizemos a pesquisa em plena eleição presidencial na Irlanda e na<br />

Finlândia. A pergunta que repetimos foi: o que muda com o resultado eleitoral no que se<br />

refere às políticas de inovação? E a resposta foi invariável: nada ou, quando muito, quase<br />

nada. Os planos aprovados são de longo prazo e estão assentados em um consenso muito<br />

forte construído entre as elites desses países. Essa é uma grande diferença com o Brasil,<br />

que não insiste em produzir descontinuidades nas políticas de ciência, tecnologia e<br />

inovação. Essa maturidade institucional ainda permanece como exemplo a nos orientar. É<br />

certo que em algumas áreas conseguimos manter algumas políticas com certa durabilidade.<br />

Mas em geral, temos ainda um longo caminho a percorrer.<br />

O terceiro bloco de recomendações apontou para a criação de uma malha mundial<br />

de pesquisadores brasileiros. Não se trata de uma plataforma Lattes internacional, ou de<br />

trazer os pesquisadores brasileiros que estão no exterior de volta para o Brasil. Pelo<br />

contrário, o desejável é que eles continuem onde estão, pesquisadores em áreas públicas,<br />

em áreas privadas, em áreas de fronteira. Mas eles poderiam permanecer no exterior<br />

ligados a canais abertos dedicados a pensar o Brasil, de modo a sugerir tendências,<br />

debates, discussões e temas capazes de impulsionar a geração de conhecimento no país. A<br />

Índia e a China já implantam políticas de formação de redes nesse sentido e, acreditamos,<br />

pode ser uma excelente oportunidade para o Brasil.<br />

Por último, enfatizamos a necessidade de reforçar a coordenação das políticas no<br />

Brasil – que são sempre muito diversificadas. Esse é um problema que ocorre em todos os<br />

países pesquisados e, de forma aguda, aqui no Brasil. A boa coordenação aumenta a<br />

eficiência das políticas. E políticas mais eficientes dinamizam os centros produtores de<br />

conhecimento e melhoram a competitividade das empresas. Para estas, a construção de um<br />

sistema de apoio na fase pré­projeto existe em todos os sete países. No Brasil, as empresas<br />

têm muitas dificuldades de apresentar às agências de financiamento e de fomento bons<br />

24


projetos. Não se trata de um problema das empresas brasileiras, nem de um problema de<br />

redação. Mas da capacidade de fazer diagnóstico sobre a própria firma, de saber onde<br />

estão os problemas das empresas. Não temos nenhuma instituição no Brasil dedicada a<br />

isso, a ajudar as empresas a organizar seu próprio diagnóstico, a identificar seus gargalos,<br />

de modo a permitir que elaborem bons projetos.<br />

No que se refere ao financiamento, há uma pulverização de fundos de inovação no<br />

Brasil, que possuem várias facetas. Acredito que precisamos pensar em um projeto do<br />

tamanho do Brasil e não do tamanho de algumas áreas brasileiras, ou em projetos­piloto.<br />

Temos de buscar a estruturação de uma intervenção de impacto, que faça a diferença no<br />

que diz respeito à inovação. A nova Política de Desenvolvimento Produtivo, anunciada este<br />

ano, que tem como eixo o investimento em inovação, dedica a maior parte de seus esforços<br />

á modernização e infra­estrutura. Com o desenvolvimento da crise econômica essa<br />

tendência deve se acentuar. Isso significa que a qualidade do nosso investimento tende a<br />

ceder lugar à necessidade de manutenção da atividade econômica propriamente dita. No<br />

curto prazo essa postura funciona. No longo, certamente não funcionará, pois a necessária<br />

evolução e diversificação da nossa estrutura produtiva e de serviços ficarão secundarizadas.<br />

O prejuízo será sentido pelas gerações futuras – que terão um país menos qualificado – e<br />

pelos nossos competidores imediatos – como a China e a Índia – que investem fortemente<br />

em tecnologia e inovação.<br />

Como meio de preparar o país para a inovação, é preciso desenvolver o mercado de<br />

venture capital. Essa atividade é fundamental. Sem ela dificilmente as empresas nascentes<br />

conseguirão se sustentar. E toda uma dimensão empreendedora será desperdiçada. O<br />

poder público pode, sem dúvida, estimular a formação desse mercado.<br />

Finalmente, como última recomendação, gostaríamos de registrar a sugestão de<br />

formação de redes de inovação em nosso país, como forma de mobilizar as empresas e os<br />

centros de pesquisa, as universidades e instituições públicas a se engajar num esforço<br />

intenso para transformar a economia brasileira numa economia mais amigável à inovação. O<br />

Ministério da Ciência e Tecnologia começou a implementar o SIBRATEC, um sistema de<br />

redes de tecnologia que, se efetivo, poderá ajudar muito o país.<br />

Para todas essas sugestões, a montagem de um sistema permanente de<br />

monitoramento e avaliação é essencial. Sem isso não haverá gestão eficiente de nossas<br />

políticas e nossas empresas jamais saberão o real estágio de sua competitividade.<br />

Nossas recomendações são todas organizadas em torno da idéia­força chamada<br />

inovação. Não se trata de um luxo, mas de uma necessidade para tornar o país mais<br />

competitivo, nosso trabalhador mais qualificado e nosso crescimento econômico mais<br />

sustentável.<br />

Espero que nossas propostas ajudem vocês a pensar melhor como conectar o Brasil<br />

com o futuro. Muito obrigado.<br />

ANTONIO JOSÉ JUNQUEIRA BOTELHO<br />

Quero agradecer ao professor Glauco pela brilhante palestra. Acho que traz um tema<br />

bastante importante para todos nós. Gostaria de enfatizar um ponto, o último ponto que ele<br />

fez, no começo e no final, da importância de se monitorar o que está se passando nos<br />

outros países, para tirarmos algumas lições e aprendermos. Não só os países usam como<br />

espelho, mas a própria União Européia tem um programa específico para monitorar o que se<br />

25


passa em outros países, o programa PROINO, do qual tenho a honra de ser o<br />

correspondente brasileiro. Isso tem sido feito de forma contínua, ou seja, eles têm<br />

permanentemente monitorado políticas de inovação, empreendedorismo, em diversos<br />

países da União Européia e do mundo, inclusive o Brasil e a China, com o intuito de<br />

aprender o que se passa nesses países. Temos de dez a quinze minutos para perguntas.<br />

Está aberto ao público.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

ALEJANDRO ROCA CAMPAÑÁ<br />

Muchas gracias al profesor Glauco Arbix por tan importante investigación. Yo<br />

quisiera saber si en este trabajo de investigación sobre estrategia de innovación en estos<br />

siete países – porque todos estos países tienen la propiedad intelectual bien articulada con<br />

la estrategia de innovación, ciencia y tecnología – si, en manera general, esta investigación<br />

recorre dentro de esa estrategia de innovación y cual es el papel que juega el sistema de<br />

propiedad intelectual. Muchas gracias.<br />

CLAU<strong>DIA</strong> CANONGIA<br />

Gostaria de parabenizar o Professor Arbix pela pesquisa. Eu teria duas perguntas. A<br />

primeira pergunta já foi bem colocada por Alejandro Roca. A outra, que me suscitou uma<br />

dúvida, refere­se àquele slide que faz uma excelente comparação da questão da política de<br />

inovação nos sete países e, ao final, aparece o quadro Brasil, onde fica salientada, em todos<br />

os componentes, uma fragmentação em relação a essas visões e posturas dos diferentes<br />

atores. A minha maior dúvida foi na questão da coordenação, onde em todos os países foi<br />

salientado o papel dos primeiros ministros, de uma grande liderança, se aqui no Brasil isso<br />

não seria o papel do nosso Conselho Nacional da Ciência e Tecnologia (CNCT), se não<br />

seria esse o conselho que poderia estar fazendo essa grande liderança, e se o nosso<br />

esforço maior não seria de estabelecer melhor os papéis e as governanças dos diferentes<br />

atores do sistema de inovação e traçar ações com maior sinergia. Obrigada.<br />

RUTH EPSZTEJN<br />

Eu gostaria de agradecer a excelente explanação do professor. O senhor mencionou<br />

a respeito das empresas, quer dizer, agora vou colocar outro enfoque que ainda não foi<br />

questionado, a respeito de um diagnóstico a ser feito de forma estruturada para que<br />

possamos ter uma maior participação das empresas no processo de inovação e aumentar a<br />

competitividade do país. Queria saber como o senhor acha que pode ser feito esse<br />

diagnóstico, de forma a trazer mais as empresas para o processo inovativo.<br />

JORGE ÁVILA<br />

Aproveitando a pergunta do Alejandro e localizar num ponto mais geral, me parece<br />

que nesses países há um nível geral de institucionalização da economia diferenciado. O que<br />

eu estou querendo perguntar? O que tem a haver com o sistema de propriedade intelectual?<br />

Uma coisa são as políticas ou iniciativas de fomento diretas, outra coisa é a própria<br />

26


estruturação do ambiente institucional para que ele seja mais favorável ao surgimento de<br />

empreendimentos, para que ele seja mais favorável ao surgimento de investimento, para<br />

que ele seja mais favorável à transferência de tecnologia ou a circulação do conhecimento<br />

de uma maneira geral. Parece­me que no Brasil temos tido um nível insuficiente de atenção,<br />

embora haja iniciativas importantes. Por exemplo, a nova lei de falências mudou a<br />

percepção de dificuldade com relação à criação de empresas. Mas ainda é pouco. A<br />

impressão que tenho é que não há ainda, de fato, um centro de reflexão no país sobre o<br />

ambiente institucional de uma maneira mais geral.<br />

GLAUCO ARBIX<br />

1. Nós não fizemos nenhum trabalho específico sobre propriedade intelectual.<br />

As estratégias que apontamos só são inteligíveis e compreensíveis se estiverem ligadas a<br />

um sistema de propriedade intelectual. Cada um desses países tem especificidades muito<br />

grandes. Nós não entramos nessa malha de instituições. Acredito ter sido uma deficiência.<br />

Mas foi uma escolha que fizemos pois acredito que não terminaríamos a pesquisa se<br />

tivéssemos esse objetivo. Temos certeza que o problema é sério, pois dependendo da<br />

maneira como se enxerga a propriedade intelectual, se acaba interferindo na definição das<br />

estratégias de inovação. Esse, no entanto, é um ponto fraco da nossa pesquisa.<br />

2. Não acredito que o CCT possa ser uma espécie de coordenador das políticas<br />

de inovação. Não tem formato nem competência para isso. O conselho atual não aloca<br />

recursos, não tem poder de decisão. É um conselho consultivo voltado para Presidência da<br />

República e o MCT.<br />

3. Apesar das mudanças, o Brasil continua sendo um país muito centralizado.<br />

Temos uma tradição de longa centralização do poder nas mãos do Estado. Tão forte que<br />

grande parte da iniciativa privada brasileira sente atração irresistível pelo Estado e, muitas<br />

vezes, não consegue viver sem ele. O que estou dizendo é que se nós não soubermos<br />

identificar os centros de poder que conseguem ordenar, coordenar e articular as instituições<br />

de Estado, as políticas de inovação não terão eficiência. Eu participei da definição da<br />

política industrial, em <strong>20</strong>04e senti o que significa coordenar cada instituição do Estado, com<br />

suas diferenças, missões e ritmos distintos. Não é um problema de má vontade, mas da<br />

dispersão de um Estado que não está assentado sobre uma visão predominante. Sabemos<br />

todos que é muito difícil a construção dessa visão, ainda mais num país que ainda precisa<br />

amadurecer politicamente e que se ressente de estratégias de longa duração. Em algumas<br />

áreas da universidade, do Estado, em algumas instituições, nós encontramos visões desse<br />

tipo. Mas não temos no país um consenso mínimo sobre as estratégias de futuro, nem nos<br />

partidos políticos, nem no empresariado. E o Brasil nunca precisou tanto dessas políticas.<br />

Chega de projeto piloto, mas o país pede projetos gigantes. Esse é o problema chave que<br />

está colocado para nós.<br />

4. Como trazer as empresas para as políticas de inovação? Na Irlanda existe uma<br />

agência específica para isso. Essa agência procura estimular todo tipo de negócio. No<br />

diálogo com as empresas, pergunta sobre os problemas reais? De gestão? Recursos<br />

humanos ou de tecnologia? A Holanda produziu um instrumento precioso para impulsionar a<br />

relação entre as universidades e as empresas. Esse instrumento, chamado de voucher de<br />

inovação, procura simplificar a procura e o financiamento da inovação. São as empresas<br />

credenciadas em alguma agência pública que escolhem os pesquisadores ou engenheiros<br />

das universidades para resolver seus problemas. O voucher é utilizado como meio de<br />

pagamento. Até uma certa quantia, o fundo é inteiramente público. Depois, compartilhado. A<br />

novidade é que as empresas é que buscam as competências para solucionar seus gargalos.<br />

27


É diferente de hoje, em que os processos são muito mais burocratizados e possuem um viés<br />

típico brasileiro de beneficiar apenas as grandes empresas. Sobre o voucher, perguntamos<br />

a Irlanda e Holanda adotaram a proposta. A resposta foi que eles não têm mais tempo para<br />

“patinar” e têm que agilizar a atuação das empresas de todas as maneiras possíveis. Aqui<br />

no Brasil, enquanto ainda discutimos se é válido investir recurso público nas empresas, os<br />

países que já são inovadores investem ainda mais em inovação. E, com isso, aumentam a<br />

distância que têm conosco. Não se trata de dar dinheiro para as empresas, mas de investir<br />

em tecnologia, em inovação, e obter como retorno mais e melhores empregos, maior<br />

competitividade daquela empresa e da economia. Isso porque a idéia que ao se deflagrar os<br />

processos de geração de conhecimento e os processos de inovação, tem­se o que se<br />

chama de spillover, um transbordamento de conhecimento para a sociedade, você tem a<br />

capacitação de outras empresas, você tem a qualificação de pessoas, você tem, portanto,<br />

um ganho social superior àquilo que foi investido publicamente. Essa é uma questão chave<br />

que está colocada, e que no Brasil marcamos passo nas universidades, no governo, nas<br />

instituições públicas. É só olhar os entraves existentes para se aplicar a Lei de Inovação. O<br />

artigo que permite a transferência de recursos públicos para a iniciativa privada é<br />

questionado abertamente. Talvez tenhamos até de escrever uma nova lei por conta desse<br />

artigo.<br />

Para terminar a discussão sobre a questão de infra­estrutura. A primeira distinção<br />

que apresentei, o primeiro slide é chave. O que se espera do Estado? Se a procura é pelo<br />

conhecimento novo, precisamos de um tipo determinado de infra­estrutura. Nos últimos<br />

trinta o Brasil construiu uma estrutura de pós­graduação, uma estrutura de pesquisa, de<br />

competências, que é muito grande. Poucos países no mundo têm o que o Brasil tem. Mas<br />

temos uma dificuldade gigantesca de utilizar, de colocar essas capacidades para<br />

movimentar a economia. Por que se preocupar em movimentar a economia? Porque<br />

precisamos melhorar a qualidade de vida da população, precisamos de melhores empregos,<br />

de renda, para acabar com a miséria e diminuir as desigualdades. Ao pensarmos na<br />

estrutura de geração de conhecimento, teremos necessidade de um tipo de infra­estrutura.<br />

Se pensarmos no sistema de inovação, teremos necessidade de outro tipo de infra­<br />

estrutura. O Brasil tem pesquisa básica de qualidade. E precisa continuar tendo. Mas o<br />

Brasil também precisa de inovação. E o nosso calcanhar de Aquiles é esse, não o primeiro.<br />

Como ainda há muita confusão sobre esse assunto, as políticas públicas são ambíguas,<br />

quando não, dúbias. O tropeço acontece quando se tenta dançar duas músicas diferentes.<br />

Na última reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, novamente foi<br />

reafirmado ­ o que é um motivo de orgulho para todos nós ­, que o Brasil está formando<br />

mais de dez mil doutores por ano, que estamos alcançando mais de dois por cento da<br />

produção científica internacional. Tudo isso é relevante. Mas eu não satisfeito com a notícia<br />

de que formamos dez mil doutores por ano e fui olhar mais de perto os dados. O número<br />

geral está correto, mas quarenta e dois por cento dos nossos doutores estão na área de<br />

humanas. Eu sou da área de humanas, sou sociólogo, não tenho nada contra a área de<br />

humanas. Mas tenho certeza que para construir um país e sustentar crescimento,<br />

precisamos de mais engenheiros, físicos, químicos, biólogos. Nós não somos a China, nem<br />

a Coréia do Norte. Não vamos orientar quem vai fazer engenharia ou antropologia, pois<br />

vivemos e queremos um país democrático. Mas temos a obrigação de despertar em todas<br />

as instituições brasileiras o gosto pela ciência, pela matemática, pela física, pela química,<br />

pela engenharia. Se nós não ampliarmos o escopo dos nossos doutores para essas áreas,<br />

estaremos fadados ao fracasso. Os dados da área de engenharia no Brasil dizem que seis<br />

por cento dos graduandos brasileiros são engenheiros, só que ainda existem os arquitetos<br />

dentro dessa estatística. A Coréia tem trinta e dois por cento de engenheiros sendo<br />

formados a cada ano, a China com vinte e seis por cento e o Japão com mais de vinte por<br />

cento. Vivemos num país democrático, por isso temos de fazer debate público. A realidade<br />

28


asileira está estampada diante de nós: ou crescemos, sustentamos o crescimento e<br />

fazemos nossa economia trabalhar a aceleradamente, ou vamos lamentar que o Brasil está<br />

fadado a ser eternamente o país do futuro. Obrigado.<br />

29


PAINEL<br />

O IMPACTO DA PROTEÇÃO DA PROPRIEDA<strong>DE</strong> INTELECTUAL SOBRE AS RELAÇÕES<br />

COM O MERCADO E AS <strong>DE</strong>CISÕES <strong>DE</strong> INVESTIMENTO NAS EMPRESAS<br />

Coordenação:<br />

Armando Clemente, Secretário Executivo da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro<br />

Palestrantes:<br />

Maria Tereza Leopardi Mello, Professora do Instituto de Economia da UFRJ<br />

José Lavaquial, Gestor do Fundo de Capital Semente Criatec<br />

ARMANDO CLEMENTE<br />

Bom dia a todos, meu nome é Armando Clemente, e estou substituindo a Gina<br />

Paladino da FINEP. Vamos dar início ao painel “O Impacto da Proteção à Propriedade<br />

Intelectual sobre as Relações com o Mercado e as Decisões de Investimento nas<br />

Empresas”. Eu gostaria de chamar para compor a mesa, a professora Maria Tereza<br />

Leopardi Mello e José Lavaquial.<br />

Antes de passar a palavra, vou fazer um resumo de quem é quem. A professora<br />

Maria Tereza Leopardi Mello possui graduação em Direito pela PUC de Campinas e<br />

doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é<br />

professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem experiência na área de<br />

Direito com ênfase em Direitos Especiais. Ela atua principalmente nos temas de patentes,<br />

indústria farmacêutica, indústria de sementes, concorrentes e apropriabilidade. José<br />

Lavaquial é engenheiro de produção pela UFRJ, possui mestrado na COPPEAD, é gestor<br />

do recente fundo criado, o Criatec, fundo de venture capital focado em empresas nascentes<br />

e inovadoras. Tem formação em finanças, tendo trabalhado no Brasil, Nova Iorque, Londres<br />

e Hong Kong, principalmente com negócios de bancos de investimento, como capital de<br />

risco e finanças corporativas.<br />

MARIA TEREZA LEOPARDI MELLO<br />

Bom dia a todos. Eu agradeço o convite para falar neste encontro. Eu apresentarei a<br />

vocês um pouco da discussão mais acadêmica sobre como a propriedade intelectual é<br />

usada como instrumento das mais variadas estratégias das empresas, dos agentes<br />

econômicos. Eu usarei para isso um quadro conceitual analítico de um artigo do David<br />

Teece, um artigo famoso de 1986, cujo título é “Profiting from Technological Innovation”. Ele<br />

discute quem lucra com a inovação, e ao fazer isso, ele trata, na verdade, de uma questão<br />

mais prática. Mas este artigo tem grandes insights a respeito da questão da<br />

apropriabilidade, que eu acho que é uma forma correta de encarar a propriedade intelectual<br />

no contexto das estratégias empresariais.<br />

Antes de chegar lá, eu apresentarei como é importante considerar a propriedade<br />

intelectual como um meio de apropriabilidade, um meio de apropriação dos resultados do<br />

esforço inovativo. Isso a coloca com um determinado papel dentro das estratégias de<br />

concorrência da empresa. Então, eu gosto de começar esclarecendo o que eu considero<br />

como sendo a função principal da propriedade intelectual. Vou discutir também, ainda que<br />

rapidamente, os possíveis efeitos desse instrumento jurídico, pelo menos em tese.<br />

30


A propriedade intelectual é uma forma de apropriação. O que vem a ser isso? Eu<br />

posso considerar que inovação significa fazer algo novo em geral, pode ser tecnológico,<br />

pode ser outro tipo de inovação também. Inovação não é só tecnológica. De qualquer modo,<br />

as empresas, ao inovarem, buscam naturalmente vantagens competitivas sobre suas<br />

concorrentes. Quando as inovações dão certo, é natural que os agentes econômicos<br />

também busquem retardar ao máximo possível as imitações e reter aquela vantagem a<br />

maior parte do tempo. É esse o conceito de apropriação. As inovações têm esse atributo da<br />

apropriabilidade em maior ou menor grau.<br />

Sendo assim, o grau em que uma vantagem competitiva pode ser apropriável<br />

depende dos fatores que impedem a imediata difusão da inovação. Quanto maior o tempo e<br />

o custo de imitação, maior será o tempo que o inovador vai conseguir aproveitar aquela<br />

vantagem, vai reter os benefícios daquela vantagem. Quanto mais rápida é a imitação,<br />

naturalmente aquela vantagem se dilui. Por aí vocês podem perceber que a propriedade<br />

intelectual é um meio de apropriação, mas não é o único meio de apropriação, existem<br />

vários outros, e ela não é 100% eficaz, no sentido de que ela não impede inteiramente a<br />

imitação, mas em geral ela consegue retardar a imitação ou aumentar os custos da<br />

imitação. Essa capacidade do instrumento da propriedade intelectual fazer isso – retardar a<br />

imitação –, é muito variável de acordo com o setor e depende muito das características da<br />

tecnologia e das características setoriais, inclusive das características das formas de<br />

concorrências dos diferentes setores. É por isso que há setores em que a propriedade<br />

intelectual é um meio privilegiado de apropriabilidade, e em outros ela não é. Ela é usada de<br />

forma diferenciada entre em setores para cumprir esse papel. Outra questão é que ela<br />

também não é inteiramente eficaz. Em algumas tecnologias, quando é muito fácil a imitação,<br />

ou quando é muito fácil contornar a inovação patenteada, a patente acrescenta pouco às<br />

condições de apropriação. Na verdade, há outros mecanismos de apropriação que são<br />

usados em conjunto com a propriedade intelectual; os agentes sempre usam mix de<br />

propriedade intelectual, segredo, pioneirismo, economia de escala. São vários meios pelos<br />

quais os agentes buscam garantir a apropriabilidade.<br />

Dito isso, localizada a importância da propriedade intelectual, o que posso dizer, em<br />

geral, sobre os efeitos desse instrumento jurídico? Em primeiro lugar, é preciso ficar claro<br />

que os efeitos da propriedade intelectual são ambíguos pela sua própria natureza. Se por<br />

um lado uma proteção mais forte pode ser benéfica do ponto de vista do inovador, por outro<br />

lado uma proteção mais forte pode ser ruim do ponto de vista de quem imita.<br />

Eventualmente, uma proteção forte demais pode ser nociva do ponto de vista social, isso<br />

porque, afinal de contas, a proteção impede a difusão da informação. Em geral, existem<br />

alguns efeitos positivos associados à propriedade intelectual, que são os efeitos decorrentes<br />

da expectativa de proteção; são considerados positivos porque incentivam a inovação. Mas<br />

também por outro lado existe o efeito negativo de impedir, de retardar a imitação, a difusão<br />

daquela inovação tecnológica protegida. A questão é que se existem efeitos, eles são<br />

inseparáveis. Se existe algum tipo de incentivo à inovação, é porque a propriedade<br />

intelectual restringe. Ela incentiva porque restringe. Na verdade, os agentes buscam essa<br />

forma de proteção justamente para reter as vantagens pelo maior tempo possível. Esses<br />

efeitos são diferenciados setorialmente e são indissociáveis. Naqueles setores em que a<br />

patente é mais eficaz como meio de apropriação, ela naturalmente vai ter mais efeitos, tanto<br />

os positivos, quanto os negativos. Os efeitos são realmente ambíguos, acho que é um ponto<br />

importante para tratar da propriedade intelectual, porque isso significa que não podemos<br />

generalizar os efeitos da propriedade intelectual. Não existe nenhum fundamento teórico<br />

sobre qual efeito prevalece. A análise tem que ser setorial e caso a caso. Não posso dizer<br />

que a propriedade sempre gera monopólio e sempre é ruim do ponto de vista social, ou o<br />

contrário, que ela sempre é fundamental para a inovação, para incentivar a inovação. Não<br />

existe essa possibilidade.<br />

31


Chego agora ao ponto principal, que é a discussão do quadro conceitual do Teece. O<br />

que podemos aprender em termos de papel da propriedade intelectual no processo de<br />

concorrência? O artigo do Teece parte de uma constatação de que muitas vezes o inovador,<br />

mesmo quando sua inovação é um sucesso de mercado, não consegue reter todas as<br />

vantagens decorrentes de sua inovação. Há muitos casos, ele relata muitos casos em que o<br />

imitador ganha a maior parcela de mercado. É muito comum isso. Ele se dispôs a enfrentar<br />

essa questão, a entender porque isso ocorre. Partindo desse suposto, mesmo quando a<br />

inovação é um sucesso, nada garante que a firma inovadora será capaz de se apropriar da<br />

maior parcela dos lucros propiciados pela inovação. Quando é mais provável que o inovador<br />

ou o imitador ganhe maior parcela de mercado? O autor usa três conjuntos de fatores para<br />

explicar essa questão, na verdade uma combinação deles e uma interrelação entre eles, um<br />

se relaciona com e afeta o outro. Os três fatores são o regime de apropriabilidade, o estágio<br />

do design do produto e o acesso a ativos complementares. Eu já posso dizer que, para<br />

localizar o papel da propriedade intelectual nesses fatores, a propriedade intelectual é um<br />

dos elementos que compõe o regime de apropriabilidade. Aquele resultado final sobre se o<br />

inovador consegue ou não um monopólio, ou pelo menos reter a maior parcela dos lucros da<br />

sua inovação, qual o papel da propriedade intelectual nesse resultado? Ele é um dos<br />

elementos que compõe o regime de apropriabilidade.<br />

Vamos agora ver o que são esses três fatores. O regime de apropriabilidade é<br />

formado, na explicação do Teece, por dois elementos. Primeiro, ele considera a natureza da<br />

tecnologia, que são os conhecimentos embutidos numa tecnologia. A literatura<br />

Schumpeteriana discute muito isso. Esses conhecimentos podem ser tácitos ou codificáveis.<br />

Os conhecimentos codificáveis são aqueles que são facilmente transmissíveis, enquanto<br />

que os tácitos são aqueles que os agentes só aprendem fazendo, são os conhecimentos<br />

que não podem ser passados, ou que são dificilmente passados por uma receita, são<br />

aspectos da capacitação tecnológica dificilmente transmissíveis. Além do conhecimento<br />

tácito, compõe o regime de apropriabilidade a eficácia da proteção a propriedade intelectual.<br />

Quando o autor fala da eficácia é no sentido substantivo, não é só ter uma lei de proteção, é<br />

uma eficácia, é a lei somada à sua implementação. Pode­se ter um enunciado normativo<br />

ineficaz e uma proteção fraca, pode haver várias combinações. Esses dois elementos<br />

compõem o regime de apropriabilidade. O regime de apropriabilidade pode ser<br />

caracterizado como mais forte ou mais fraco. O mais forte vai existir se os conhecimentos<br />

forem tácitos, difíceis de imitar, mesmo sem proteção e/ou uma proteção legal mais eficaz. E<br />

o contrário, um conhecimento mais codificado, é facilmente imitável, e o custo de imitação,<br />

uma vez inventada a tecnologia, é mais baixo, o que aumenta a importância de proteger<br />

aquela tecnologia via instrumentos legais. Naturalmente, o quadro de análise coloca essas<br />

duas situações polares, podendo haver várias situações intermediárias em termos de regime<br />

de apropriabilidade.<br />

O segundo conjunto de fatores, que Teece coloca pesando decisivamente no<br />

resultado do inovador, é o estágio em que se encontra o design dominante do produto.<br />

Antes que se fixe um padrão dominante, existe a maior possibilidade de o imitador tomar<br />

mercado do inovador, caso o padrão que se firme como preponderante não seja aquele<br />

padrão seguido pelos produtos do inovador. Esse fator é importante porque dá a medida do<br />

quanto o imitador tem de chance para abocanhar o mercado do primeiro inovador. Isso<br />

também é interessante por explicar a lógica econômica de uma estratégia de propriedade<br />

intelectual que consiste em licenciar o produto e não restringir ou garantir a exclusividade.<br />

Não é tão raro que o detentor de um direito de propriedade intelectual tenha interesse em<br />

licenciar amplamente, às vezes a preço baixo, às vezes até gratuitamente. Para que ele faz<br />

isso? Ele tem interesse em que aquele seu padrão seja o dominante. Isso também é um<br />

32


exemplo de como a propriedade intelectual não é usada estrategicamente apenas para<br />

excluir concorrentes, às vezes ela é usada como mecanismo de difusão.<br />

O terceiro grupo de elementos diz respeito à posição dos agentes inovadores em<br />

relação aos ativos complementares, que são aqueles ativos necessários para a<br />

comercialização de uma inovação. O problema é que esses ativos nem sempre são detidos<br />

pela firma inovadora, e aí se coloca o problema. Se a firma inovadora não detiver esses<br />

ativos, ela tem que comprá­los no mercado, ficando dependente do mercado, ou internalizá­<br />

los à sua produção, fazendo uma integração vertical. Quanto mais especializado for o ativo<br />

necessário para comercializar uma inovação, mais o agente inovador, vai ficar dependente<br />

dele. Isso, portanto, influencia as possíveis estratégias, as melhores alternativas<br />

estratégicas do inovador em relação a esses ativos. Quando o ativo é genérico, é muito fácil<br />

encontrá­lo no mercado. Isso não gera nenhum problema especial, mas quando o ativo é<br />

especializado, numa abordagem da teoria dos custos de transação de Williamson, é muito<br />

mais difícil adquirir esses ativos no mercado. Por conta disso, a firma busca algum tipo de<br />

controle sobre esses ativos. O maior controle de todos é a integração. Se ela integra<br />

verticalmente, ela passa a produzir os ativos e não depende de outros parceiros, não<br />

depende do mercado para adquiri­los. Mas ela pode também fazer variados tipos de<br />

alianças estratégicas para adquirir esses ativos, fixando algumas formas de colaboração<br />

entre as firmas em torno dos direitos, inclusive os direitos de propriedade intelectual. Nesse<br />

sentido, existe uma opção estratégica das firmas de contratar no mercado ou integrar­se<br />

verticalmente para adquirir esses ativos. A alternativa de mercado está de um lado, a<br />

alternativa da integração vertical está do outro, e pode haver várias situações intermediárias.<br />

Elas se justificam pela finalidade de economizar custos de transação, que são custos<br />

envolvidos nas barganhas necessárias para aquisição desses ativos.<br />

Resumindo a idéia do Teece: ele coloca que a combinação desses fatores,<br />

particularmente a combinação do regime de apropriabilidade e do controle de ativos<br />

complementares, permite identificar as melhores alternativas estratégicas para as empresas.<br />

Inclusive, a importância dos direitos de propriedade intelectual é vista no contexto dessas<br />

estratégias, que podem ser diversificadas, que não são estratégias necessariamente<br />

voltadas para a exclusão de concorrentes, não são estratégias necessariamente voltadas<br />

para aquisição de um monopólio sobre o uso da inovação, mas que tenham relação com<br />

esses outros elementos. A estratégia das empresas é uma estratégia que visa maior lucro.<br />

Nem sempre elas acertam, nada garante que ela consiga o sucesso desejado, mas aposta<br />

um pouco nisso em função da sua posição em relação aos ativos complementares e do<br />

regime de apropriabilidade no meio no qual ela se move. É um quadro analítico útil para<br />

explicar as diferentes estratégias dos agentes econômicos, vis à vis a propriedade<br />

intelectual.<br />

Essa abordagem tem implicações para a defesa da concorrência. Para a questão<br />

antitruste é muito comum que as pessoas coloquem a propriedade intelectual como um<br />

instrumento que restringe a concorrência. Será que ele restringe mesmo ou não? A<br />

explicação do Teece e a identificação que ele faz dessas estratégias de alianças entre<br />

agentes para garantir o sucesso de uma inovação, para garantir a apropriação dos<br />

resultados de uma inovação, são questões que se explicam pela necessidade de<br />

economizar custos de transação, e podem vir a justificar uma série de condutas que<br />

poderiam ser questionadas do ponto de vista da Lei Antitruste. Ainda existem implicações do<br />

quadro analítico para consideração dos efeitos da propriedade intelectual. A propriedade<br />

intelectual não deve ter o seu papel exagerado. Eu tenho a impressão de que as pessoas<br />

exageram a importância e o peso da propriedade intelectual, seja para incentivar a<br />

inovação, seja para adquirir poder de monopólio. Eu acho que não existe isso. A<br />

33


propriedade intelectual, na verdade, tem um papel muito localizado como um dos elementos<br />

que compõem o regime de apropriabilidade nesse resultado final do inovador.<br />

Só mais duas questões rápidas. Eu acho muito interessante essa discussão e coloco<br />

esses dois slides finais por conta disso. Em <strong>20</strong>06, a revista Research Policy, a mesma<br />

revista que publicou o artigo original, fez uma edição comemorativa de vinte anos do artigo.<br />

O artigo do Teece foi um dos artigos mais citados ao longo de todo esse tempo nesta revista<br />

em particular. Eles fizeram uma edição especial, onde vários autores da área destacaram,<br />

comentaram a contribuição do Teece. Nesse número especial, há uma contribuição<br />

interessante de Pisano, que usa a idéia de Teece sobre o regime de apropriabilidade e da<br />

posição dos ativos complementares, e inverte os termos da questão. Em vez de considerar<br />

que o regime de apropriabilidade é dado e que a empresa, então, busca a melhor estratégia<br />

em relação aos ativos complementares, ele descreve e explica o inverso. Os agentes<br />

constatam a sua posição em relação aos ativos complementares, e em função dessa<br />

posição, eles buscam fazer uma estratégia de propriedade intelectual de apropriabilidade.<br />

Essa é uma discussão bem interessante para localizar o fato de que um regime de<br />

propriedade intelectual fraco não necessariamente é ruim do ponto de vista privado, porque<br />

ele pode ser bom para o imitador, por exemplo, e vice­versa. O regime de apropriabilidade<br />

forte não é necessariamente ruim do ponto de vista do interesse público. Esse artigo de<br />

Pisano coloca questões bem interessantes para se discutir com mais profundidade o papel<br />

da propriedade intelectual e como ela pode ser usada.<br />

Enfim, era isso que eu queria passar para vocês, as mais variadas espécies de<br />

estratégias das empresas, cujos efeitos não podemos, de modo algum, tomar como<br />

absolutos, destacando a ambigüidade dos efeitos da propriedade intelectual. Muito obrigada.<br />

JOSÉ LAVAQUIAL<br />

Boa tarde. É um prazer estar aqui expondo um pouco do que estamos fazendo para<br />

vocês. Meu nome é José Lavaquial, sou gestor de uma parcela do Fundo Criatec,<br />

especificamente da parte que está aqui no Rio, e vou mostrar um pouco do que fazemos e<br />

no quanto acreditamos ser importante a questão da propriedade intelectual nos<br />

investimentos que fazemos.<br />

Antes de começar, eu queria colocar a visão central de propriedade intelectual para o<br />

Criatec, que é uma ferramenta pela qual garantimos ou tentamos garantir o controle sobre o<br />

conhecimento que está contido naquela empresa em que estamos pretendendo investir. De<br />

forma nenhuma ela é um fim, mas é com certeza um meio através do qual procuramos<br />

proteger o conhecimento. Acreditamos que nesse mundo da tão falada economia do<br />

conhecimento, da importância do conhecimento, fabricar alguma coisa é cada vez mais uma<br />

commodity e dominar o conhecimento que permite essa fabricação é a nossa questão<br />

estratégica.<br />

O fundo Criatec dedica­se à compra de participação em empresas, em empresas<br />

novas, empresas nascentes, inovadoras, operando através de regionais. Operamos no<br />

Brasil inteiro, centrado nos lugares onde acreditamos existir uma boa relação entre<br />

produção de conhecimento e ausência de investidores.<br />

As nossas áreas de interesse são agronegócios, biotecnologia, energia, tecnologia<br />

da informação, nanotecnologia e novos materiais. Somos um fundo de dez anos, cujos<br />

cotistas são dois: o BN<strong>DE</strong>S e o Banco do Nordeste. Nosso compromisso é de investir cem<br />

milhões de reais em cinqüenta empresas pelo Brasil. Desses dez anos, durante os primeiros<br />

34


quatro, faremos os investimentos. O investimento pode ser de até cinco milhões de reais por<br />

empresa, limitado a uma primeira tranche de até um milhão e meio de reais. Podemos<br />

investir no Brasil inteiro, em empresas que, se já existirem, tenham faturado no máximo seis<br />

milhões de reais, e se ainda não existirem, ajudamos a constituir a empresa.<br />

Pelo perfil de investimento do fundo, não faz sentido investirmos em todas as fases<br />

de desenvolvimento da empresa. Acreditamos que investiremos em três fases, função da<br />

quantidade de dinheiro disponível no fundo e da importância desse dinheiro na fase do<br />

projeto na empresa: desenvolvimento de um protótipo, decolagem, que é transformar esse<br />

protótipo em uma coisa comercial, e expansão, que é transportar a tecnologia para uma fase<br />

de produção mais massificada. São nessas três fases que podemos investir.<br />

Acreditamos que para fazer o investimento e ter sucesso nesses investimentos,<br />

precisamos aportar muito mais que dinheiro. Precisamos aportar muita mão na massa,<br />

muita disposição para ajudar a empresa a se desenvolver, principalmente ajudando em<br />

vendas. Pelo perfil do investimento que fazemos, a experiência tem mostrado, não só desde<br />

que o fundo funciona, mas desde que estamos nesse meio, que vender não é uma<br />

característica principal dos empresários que montam estas empresas. Com freqüência são<br />

grupos de pesquisa de universidades onde vender o produto nunca foi prioridade.<br />

Acreditamos que aqui precisamos aportar muita energia. Ajudamos na formação da<br />

empresa, trazendo características e habilidades que ela não tenha eventualmente.<br />

Pensamos nos três pilares para a formação de uma empresa de sucesso: inovação, dinheiro<br />

e gestão. Em muitos casos precisamos trazer a gestão em níveis diferentes, dependendo de<br />

cada oportunidade.<br />

O gestor regional, o meu caso aqui no Rio de Janeiro, com freqüência atua muito<br />

próximo da empresa, ajudando a desenvolver a empresa, a gerar rendas, a trazer parceiros<br />

de negócio, com a certeza de que sem esse acompanhamento próximo, não conseguiremos<br />

desenvolver as empresas na medida em que queremos. Somos uma rede que opera através<br />

do Brasil, e cooperamos entre os gestores para disseminar as melhores práticas, para dividir<br />

as experiências de sucesso, de fracasso, que encontramos em cada uma das regionais.<br />

Atração e promoção de oportunidades de negócio. Aqui existe uma primeira sinergia<br />

com o assunto central deste evento. Partimos de uma idéia central de conhecimento nas<br />

empresas que recebem os investimentos, mas essa idéia central, obviamente, é<br />

desenvolvida ao longo dos anos. Atrair e promover oportunidades de negócio, com certeza,<br />

estão ligados a esse desenvolvimento da propriedade intelectual, outra vez como<br />

ferramenta, mas existe uma grande importância na questão da experiência de várias formas<br />

de se proteger o conhecimento existente.<br />

Com relação ao nosso centro do investimento, entramos num investimento,<br />

formamos uma empresa ou investimos numa empresa quando percebemos valor ao vender<br />

esta empresa. Os nossos cotistas nos deram o compromisso de investir em uma<br />

oportunidade e ter lucro com essa oportunidade. A nossa remuneração está estreitamente<br />

relacionada a essa lucratividade, e acreditamos que para fazer o investimento precisamos<br />

olhar de forma muito próxima para o desinvestimento, para quem venderemos nossa<br />

parcela da empresa lá na frente. Isso também, em muitos casos, está ligado à capacidade<br />

de proteger o conhecimento na empresa, além de se ter um fluxo de caixa previsto, orçado e<br />

acompanhado de perto, além de estar sempre de olho em cenários de expansão do<br />

negócio, da oportunidade em si e do mercado onde ela está inserida, fazer novos aportes.<br />

Ou seja, nosso objetivo é investir em uma empresa e levá­la de um ponto A a um ponto B.<br />

35


A forma como olhamos para cada uma das oportunidades está ligada a cinco esferas<br />

diferentes. Elas estão colocadas aqui ao acaso, mas a tecnologia, que é a primeira, outra<br />

vez, é o centro deste evento. Quando olhamos para uma tecnologia, uma inovação,<br />

procuramos uma inovação que tenha um grande diferencial que seja competitivo em relação<br />

aos concorrentes. Isso significa não a empresa, mas a tecnologia. Esse conhecimento de<br />

que estamos tentando nos apropriar através do investimento concorre com quais outras<br />

tecnologias, concorre com quais outros conhecimentos? E olhamos isso de forma antenada<br />

aos vários mercados e às várias tecnologias no Brasil e fora do Brasil. Fazemos<br />

investimentos em empresas pequenas na certeza de que elas têm possibilidade de terem<br />

sucesso no mundo.<br />

Olhamos para várias dimensões diferentes do mercado, se o mercado é doméstico,<br />

se ele é mundial, se ele crescente, consolidado, fragmentado, como é a cadeia de valor de<br />

compradores e fornecedores da empresa. Olhamos para a equipe e perguntamos se ela<br />

está disposta a receber um sócio financeiro que, em última análise, é aquele cara chato que<br />

vai cobrar os resultados, mas que também é um cara que pode ajudar a desenvolver a<br />

empresa. Olhamos para essa equipe e perguntamos se ela tem experiência em empreender<br />

ou não, ou se ela está disposta a dividir a gestão ou não. O resultado financeiro que a<br />

empresa já esteja experimentando, se ela existir, ou que isso seja projetado nos vários<br />

exercícios que fazemos para tentar projetar o resultado da empresa.<br />

A necessidade de capital é uma questão importante. Para uma empresa que precisa<br />

de mais de dez milhões de reais para sair do estágio atual e passar para o próximo estágio<br />

provavelmente não faz sentido se associar ao Criatec. Queremos ter a possibilidade de<br />

ajudar a empresa a crescer de forma muito próxima e influenciando esses resultados. Se ela<br />

precisar de muito mais dinheiro que pretendemos prover, é possível que ela não seja uma<br />

boa parceira.<br />

O processo de seleção de empresas é bastante simples. Ele parte de uma proposta<br />

que o empreendedor coloca no nosso website, www.fundocriatec.com.br. A partir dessa<br />

proposta, fazemos uma análise bastante superficial de três itens: a equipe, o que é a<br />

tecnologia e onde é o mercado. Essa primeira análise é levada a um comitê interno. No que<br />

diz respeito à tecnologia, nos perguntamos onde está a proteção do conhecimento, onde<br />

está a propriedade intelectual nesse estágio. Uma vez que a oportunidade passa pelo<br />

comitê interno, então negociamos todas as condições de investimento, e levamos para um<br />

comitê de investimento que é quem, em última análise, decide pelo investimento na<br />

empresa ou não. Assim que fazemos o investimento, começamos o trabalho, que é a<br />

execução do plano de negócios da empresa.<br />

Esse slide provavelmente é o slide mais importante da minha apresentação. Ele<br />

reflete duas condições muito importantes. Uma é que a empresa que está recebendo o<br />

investimento tenha domínio do conhecimento e utilize isso como barreira de entrada para<br />

novos entrantes. Isso pode sim significar patente, mas não necessariamente. Nesse quadro<br />

do lado direito, essas três primeiras empresas são empresas em que já investimos, já<br />

aportamos os recursos na empresa e estamos trabalhando em parceria com elas. Essas<br />

outras cinco empresas são as que já estão aprovadas para investimento, mas ainda<br />

estamos fazendo a diligência para anunciar os resultados nos próximos dias. Eu separei<br />

essas empresas por setor, e por razão óbvia, se elas têm ou não uma patente para proteger<br />

o conhecimento. Das oito, seis possuem patentes, patentes em vários estágios, pedidos de<br />

patente e patentes concedidas. A existência da patente também não significa que ela é o<br />

centro da tecnologia que estamos investindo. Por exemplo, a empresa Subsin, que recebeu<br />

investimento aqui no Rio, tem duas patentes de processo concedidas, mas esses dois<br />

processos não estão no centro dos serviços que a empresa presta. De qualquer maneira,<br />

36


isso com certeza foi importante na nossa decisão de investimento. A empresa Rizoflora tem<br />

como centro de prestação de serviço a biotecnologia para agronegócios. Já as empresas 5,<br />

7 e 8 que possuem patentes de produtos têm como centro de serviços exatamente os tais<br />

produtos protegidos que queremos comercializar. A empresa 4 tem uma patente de<br />

processo, que caracteriza o centro do negócio da empresa. Até hoje já recebemos 450<br />

propostas, que estão divididas naqueles segmentos já mencionados, e mais ou menos<br />

essas propostas refletem essa proporção de seis para oito. Quase todos os negócios que<br />

olhamos têm alguma proteção através de patente.<br />

Existe uma questão importante para discussão que é o fato de existir uma tendência<br />

em grandes empresas, que têm ultimamente a tendência de solicitar patentes com o objetivo<br />

de despistar o centro da sua linha de pesquisa. Temos olhado para um negócio bastante<br />

específico na área de energia e percebemos que outras empresas no mundo, parecidas<br />

com esta empresa, têm solicitado patentes para identificar a linha de pesquisa que a<br />

empresa vem seguindo. Em alguns casos, notamos que o sucesso da empresa não tem<br />

qualquer relação com a linha de pesquisa da solicitação da patente. Isso talvez mostre que<br />

a empresa vem solicitando patentes em áreas que não são o foco específico do seu<br />

negócio, com o objetivo de despistar quem é seguidor daquela empresa. Esse negócio que<br />

estamos olhando no Rio tem essa característica.<br />

A última questão a respeito dessas empresas é que a proporção de 8 para 450 não é<br />

a proporção de bons negócios que recebemos. Estamos operando há quase um ano e ainda<br />

não tivemos como digerir essas 450 propostas. Ainda tem muita proposta boa que está<br />

sendo avaliada. Essas oito empresas são as que já passaram pelo comitê de investimento<br />

do fundo e foram aprovadas. Eu acredito que das 450, tenhamos negado 400<br />

oportunidades, ou seja, ainda estamos avaliando umas 40 oportunidades.<br />

O ponto que eu queria focar aqui é que, apesar dessa proporção de seis para oito ser uma<br />

proporção muito grande, não operamos com a pura verdade de que é necessário existir<br />

patentes nos negócios em que investimos. O que precisa ter é a proteção e o domínio do<br />

conhecimento.<br />

Uma última mensagem. Nós assumimos com os dois cotistas, BN<strong>DE</strong>S e BNB, o<br />

compromisso de investir em 50 negócios ao longo de quatro anos. Na nossa indústria quem<br />

mais investiu em negócios com essas características no Brasil, investiu em 50 negócios ao<br />

longo de 25 anos. Nós nos comprometemos em investir em quatro. Então, precisamos de<br />

projetos e quem tiver um projeto legal pode mandar para o e­mail<br />

contato@fundocriatec.com.br. Obrigado.<br />

ARMANDO CLEMENTE<br />

Obrigado, Lavaquial. É estimulante ver a criação do Criatec, que em um ano já<br />

aportou negócios para oito empresas, coisa rara entre os fundos existentes no Brasil de<br />

capital de risco. Poucos fundos têm essa capacidade de investimento, de em tão pouco<br />

tempo ter oito empresas investidas.<br />

Outra questão antes de passar para perguntas. Foi interessante essa mesa aqui, em<br />

que a Professora Maria Tereza apresentou o Teece. Fiquei curioso com os conceitos do<br />

Pisano. Eu acho muito interessante quando ele cria um conjunto de variáveis para discutir a<br />

questão da apropriabilidade, e a propriedade intelectual como um desses elementos. E<br />

vendo a apresentação do Lavaquial, percebemos que isso está contido no centro de análise<br />

do investimento na empresa, onde a propriedade intelectual é um dos fatores que garante a<br />

titularidade de determinada tecnologia, mas está dentro na questão do desenvolvimento de<br />

37


estratégias de expansão e de criação daquela empresa quando ele analisa aquele conjunto<br />

de itens.<br />

Eu gostaria que vocês comentassem essa questão do Pisano, essa questão da<br />

estratégia e desse conjunto de variáveis fundamentais para se avaliar uma empresa<br />

inovadora.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

ALEJANDRO ROCA CAMPAÑÁ<br />

Yo tengo una cuestión a la profesora Maria Tereza, y es como decir que concordé y<br />

no concordé con ella al mismo tiempo. Voy explicar y quisiera hacer un comentario. Ella dijo<br />

que los efectos de la propiedad intelectual son ambiguos por su naturaleza y que la<br />

protección de la propiedad intelectual impide la difusión de la innovación. Yo tengo mis<br />

dudas con respecto a eso, porque precisamente una de las características del sistema de<br />

propiedad intelectual es que el Estado otorga un derecho exclusivo, no para impedir que la<br />

tecnología se difunda, si no es un derecho exclusivo el uso de esta tecnología en el mercado<br />

en ciertas determinadas condiciones. Recuerden que las patentes se publican y todo el<br />

mundo tiene derecho a eso conocimiento. Eso por una parte. Por otra parte, el sistema de<br />

patentes tiene dentro de si mecanismos construidos de poner limitaciones a eso derecho<br />

exclusivo, que de alguna manera puede tratar de frenar un poco los efectos que pueda tener<br />

el sistema en materia de difusión de la innovación. Por ejemplo, es la excepción a la<br />

investigación, el uso de la tecnología anterior a eso refiriese a todas aquellas limitaciones<br />

que, de alguna forma, regulan los derechos de los titulares.<br />

Yo diría que hoy en día hay que ver el sistema no como una forma de incentivo, ni<br />

tampoco como una forma de restricción de la competencia, si no como una forma de<br />

cooperación tecnológica entre empresas y entre empresas y universidades. Es como una<br />

infraestructura básica, un modelo de innovación abierta que cada vez más se ve no sólo en<br />

los países en desarrollo, pero también en los mismos países industrializados. Ustedes,<br />

seguramente, habrán leído los artículos científicos y las noticias de empresas que tienen a<br />

disposición yo no se cuantas patentes, y ven tratar de involucrar la empresa desarrolladora<br />

que trabaja con un modelo de innovación abierta, y se desarrollan soporte lógico de código<br />

abierto. Muchas veces ven me decir que la retribución de presentar solicitudes de patentes<br />

no era para restringir la concurrencia en el uso de eso conocimiento, si no también como<br />

una forma de que la empresa pudiera saber que cosas estaban haciendo los competidores.<br />

Es decir que hoy en día esa teoría que el sistema de propiedad intelectual, de alguna forma<br />

o otra, restringe la difusión de la innovación y restringe la competencia, a mi modo de ver, se<br />

ha demostrado en la practica que no está así. Yo diría que es un sistema que estimula la<br />

competencia, porque cuando existe un derecho exclusivo y cuando se registra en un país,<br />

¿qué pueden hacer los competidores? Los competidores pueden pedir una licencia al titular<br />

con el objetivo de entrar en un proceso de cooperación para la producción del objeto para el<br />

uso exclusivo, y para determinadas condiciones del objeto de esa solicitud. O la otra<br />

alternativa es desarrollar esa tecnología por su parte, tratar de imitarla y después sacar un<br />

producto que tenga algo diferente a eso que ya tenia el titular de esa patente. Yo creo que<br />

hoy en día hay que verlo más como una forma de organización de la cooperación<br />

tecnológica.<br />

38


Y por ultimo estoy muy de acuerdo con lo que dijo la profesora de que hoy en día los<br />

activos de negocios complementarios pasan cada vez a ser el centro de la atención de la<br />

firma innovadora. Y construyen las estrategias de propiedad intelectual basadas en esos<br />

activos de negocios complementarios, porque la propiedad intelectual en eso caso, en ser<br />

una innovación, tiene un valor relativo. Una patente puede valer mucho para mí y no valer<br />

nada para otra persona que no tenga la posibilidad de plotarla. ¿Dónde están esas<br />

posibilidades de plotación? Están en esos activos de negocios complementarios, en eso<br />

conocimiento tácito que tiene la empresa y que es muy difícil de transmitir, y que se crea<br />

sabiendo hacer, no haciendo. Muchas gracias.<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES VIANNA<br />

Duas questões, uma para Maria Tereza e uma para Lavaquial. Uma delas é um<br />

pouco na linha do final do comentário do Alejandro Roca. Nós vemos estatísticas globais,<br />

um número crescente de depósito de patentes das economias consolidadas. China, Japão,<br />

Estados Unidos continuam sendo os primeiros a depositar. Por outro lado, pensando em<br />

estratégia de negócios, e estou misturando as duas coisas, penso no seguinte: será que em<br />

alguns casos poderíamos considerar a PI mais como um ativo complementar do que um<br />

ativo crítico do modelo de negócio, inclusive pensando nos modelos de negócio em que<br />

licenciar pode ser uma estratégia?<br />

A segunda questão é mais específica sobre investimento. Já ficou claro na fase do<br />

processo que o Criatec considera a questão de proteção do conhecimento, de tecnologia,<br />

mas de que forma isso pesa na avaliação do investimento, na decisão versus setor? E<br />

igualmente se vocês ao perceberem que as empresas não cuidaram disso, considerando<br />

que a estratégia do fundo tende a contemplar desde a empresa que não fatura, empresa<br />

muito nova que talvez não tenha tido oportunidade de tratar desse assunto, de que forma<br />

vocês orientam ou consideram estratégico que a empresa, a partir da entrada na carteira do<br />

fundo, e pensando no processo de crescimento, passe a orientar também no sentido de<br />

estratégia de proteção, seja ela central ou periférica complementar, se formos pensar pelo<br />

lado conceitual.<br />

EDUARDO PEREIRA DA SILVA<br />

A minha pergunta é para o José Lavaquial. Eu gostaria de saber se existe no fundo<br />

ou se ainda pretende existir, uma vez que o fundo tem apenas um ano, um setor ou<br />

departamento que seja responsável pela prospecção de oportunidades em empresas que<br />

venham colocar novas tecnologias, mas que por ventura não procuraram o fundo. Vocês<br />

pretendem criar um departamento responsável por isso?<br />

MARIA TEREZA LEOPARDI MELLO<br />

Eu acho que, de algum modo, todas as questões tocam no tema da importância da<br />

propriedade intelectual no comércio de tecnologia. O que é curioso é que existe um enorme<br />

debate, muitas vezes ideologizado indevidamente, sobre quais são os efeitos da<br />

propriedade intelectual. E nessa polarização ideológica muito comum, em que uns acham<br />

que sem propriedade intelectual não há desenvolvimento tecnológico, e outros acham que a<br />

propriedade intelectual é um mal que gera monopólio contra a concorrência, a minha<br />

posição é que não é nem uma coisa e nem outra. Eu acho que os efeitos são ambíguos e<br />

que o fato de não ser aos extremos não significa que não haja um efeito restritivo. Eu acho<br />

39


que há. A apropriabilidade é uma tentativa absolutamente legítima por parte dos agentes<br />

econômicos de reterem as suas vantagens, de impedirem a difusão. Esse efeito restritivo<br />

existe em princípio. Até que ponto? No caso da propriedade intelectual, existem vários<br />

estudos empíricos mostrando que ela nunca é absolutamente eficaz. Primeiro que ela é<br />

muito diferenciada setorialmente. Por exemplo, costuma­se dizer que o setor farmacêutico é<br />

o setor onde a propriedade intelectual é mais eficaz, porque tem conhecimentos codificados,<br />

e ela é importante para proteger produtos principalmente. Mesmo nessa indústria onde os<br />

agentes privilegiam a propriedade intelectual como meio de apropriação, a proteção nunca é<br />

100% eficaz. Não estou falando apenas do tempo, mas muitas vezes a eficácia real da<br />

patente é menor que o seu tempo de concessão. Ou porque existem imitações, ou porque<br />

as empresas contornam, porque elas fazem pequenas inovações incrementais, ou porque<br />

substituem um produto por outro, com isso o produto patenteado fica obsoleto. Não adianta<br />

nada ter patente de produto obsoleto, porque na prática você tem a exclusividade, mas<br />

aquilo não gera rendimentos. Essa restrição nunca é absolutamente eficaz. Obviamente a<br />

sociedade dosa os mecanismos de limitação aos direitos. Isso acontece em todos os<br />

sistemas de propriedade intelectual.<br />

O que eu queria dizer um pouco com relação às outras questões? Nos trabalhos<br />

empíricos que tentaram de algum modo medir os efeitos da propriedade intelectual, esses<br />

efeitos são muito variáveis e pequenos na maioria dos casos. Mas se existe um efeito<br />

importante da propriedade intelectual, que aparece em todos os trabalhos, é o papel não<br />

desprezível da propriedade intelectual na contratação de tecnologia. Nem sempre ela é<br />

importante para excluir, nem sempre ela é usada em várias estratégias, mas na<br />

comercialização de tecnologia ela é importante, ou em algum negócio que tenha tecnologia<br />

como objeto de preocupação. Isso se dá porque ela define o valor do objeto, ela serve como<br />

instrumento de medida. Eu não sei exatamente o que é essa tecnologia, mas aqui nós<br />

temos uma patente, então deve existir algo de concreto por baixo dessa forma jurídica. A<br />

propriedade intelectual atua como um instrumento de medição e definição do seu objeto,<br />

dos limites do seu objeto, e no processo de contratação de tecnologia, isso é importante<br />

para as atrativas das partes. Dizemos, no ambiente dos economistas, que a propriedade<br />

intelectual economiza os custos de transação, no caso, os custos de definir os objetos do<br />

contrato. Quando existe uma patente essa definição é mais fácil. Isso é um pouco do que foi<br />

colocado, você tem objetivação, ela é importante para sinalizar para os investidores.<br />

Inclusive há vários estudos que relacionam patentes com valor de mercado. É algo que os<br />

investidores apontam.<br />

Eu gostaria de fazer apenas mais uma observação. Nesses vários usos estratégicos<br />

da propriedade intelectual, a estratégia de licenciar é uma estratégia que tem lógica<br />

econômica. Ela não é nova forma de cooperação, ela é uma forma de aumentar lucro. Existe<br />

uma lógica econômica, e eu acho que não mudou fundamentalmente, as empresas não<br />

deixaram de concorrer, ou elas não estão abrindo suas tecnologias só porque estão<br />

licenciando amplamente algumas coisas. O que eu acho interessante do quadro conceitual<br />

do Teece, um pouco por conta dessa questão de que existe uma estratégia de difusão da<br />

tecnologia, que é interessante para que os inovadores ganhem com aquilo – a estratégia de<br />

restrição não é única – é que ele permite dar conta das diversas situações, não explica só<br />

num sentido. Você sempre tem que ter um trabalho empírico que comprove essas coisas.<br />

JOSÉ LAVAQUIAL<br />

Na nossa visão existe uma questão social muito importante de que participamos, que<br />

é gerar lucro. Existem várias formas de se olhar para questões sociais. Uma que é central é<br />

que precisamos gerar emprego, renda e lucro. É esse nosso mandato, dos nossos cotistas.<br />

40


Essa geração de emprego, de renda e de lucro passa por modelo de negócio para cada um<br />

dos negócios. Em alguns dos negócios que temos avaliado e investido, licenciar aquela<br />

tecnologia é a forma de competir; em outros negócios, nós entramos usando aquela<br />

tecnologia. Isso vai depender de cada modelo de negócio.<br />

Em relação à pergunta da Ada sobre o peso da patente, nós não temos um número<br />

de 0 a 10. O que fazemos, que é central, é garantir a possibilidade de gerar emprego, renda<br />

e lucro, conseguindo fazer com que a empresa seja a única naquele segmento de mercado.<br />

Então queremos limitar que outros entrem. Isso pode ou não ser feito através de patentes.<br />

Pode ser feito também através de uma parceria com alguém que tenha patente e, ao final,<br />

entreguemos uma determinada tecnologia. Mas é essencial que consigamos barrar, ou pelo<br />

menos tentar evitar que outros competidores entrem no nosso segmento. Outra vez isso<br />

passa pelo modelo de negócio na hora de usar a propriedade intelectual.<br />

Em dois dos oito negócios que receberam investimentos, um passa por vender a<br />

tecnologia e o outro, depois do investimento, estão sendo solicitadas duas novas patentes.<br />

Isso está completamente alinhado com o fato de que para dominar aquela tecnologia<br />

específica, precisamos continuar solicitando patentes, pois o mercado vem se<br />

desenvolvendo de forma muito rápida, e existem coisas periféricas que também queremos<br />

proteger.<br />

Com relação à prospecção, nós somos um fundo ainda muito novo, num mercado<br />

muito inexplorado no Brasil. E, para o bem ou para o mal, a lei de oferta e demanda<br />

funciona. Sem termos que ir ao CENPES da Petrobras toda semana, por exemplo,<br />

recebemos 450 propostas ao longo de um ano. Por acaso, sou eu o responsável por ir ao<br />

CENPES procurar coisas que possam ser desenvolvidas com o fundo Criatec em conjunto<br />

com a Petrobras. Mas temos sido muito mais reativos que pró­ativos na busca por novas<br />

oportunidades. No mundo capitalista, o subsegmento que trabalhamos tem uma infinidade<br />

de investidores. No Brasil somos praticamente o único. Isso faz com que possamos escolher<br />

os negócios que chegam até nós e investir em parte desses que chegam. Nós ainda somos<br />

muito pouco pró­ativos. Apesar disso, estamos sempre fazendo palestras, visitando as<br />

incubadoras, visitando grupos de pesquisa, laboratórios, com objetivo de levar a mensagem<br />

de que precisamos fazer investimento em boas tecnologias. Acho que dificilmente vamos ter<br />

um departamento de prospecção no Criatec. A prospecção é parte importante do meu<br />

trabalho cotidiano, mas ainda vivemos com a situação de que como somos um dos<br />

pouquíssimos fundos existentes, e por isso podemos ser bastante reativos.<br />

Faltou falar de um detalhe importante, que passa exatamente pela última parte da<br />

minha resposta sobre prospecção. As três empresas em que investimos, não por acaso,<br />

eram projetos incubados. Os dois primeiros de Minas Gerais, um veio de um grupo de<br />

pesquisa da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e o outro da Universidade Federal de<br />

Minas Gerais (UFMG). O projeto do Rio de Janeiro veio da Incubadora do Exército. A nossa<br />

prospecção passa por lugares onde acreditamos que será mais eficaz a nossa busca, e<br />

nesses lugares, com freqüência, as empresas que são incubadas trazem no bojo a proteção<br />

da tecnologia de alguma forma. Outra vez, como ainda somos um dos pouquíssimos fundos,<br />

nos damos o direito de procurar onde acreditamos que será mais eficaz a nossa procura.<br />

Isso é o que acontece nas incubadoras. Sabemos que quando uma empresa entra na<br />

incubadora, ela já passou por toda uma fase de qualificação, que é particular de cada uma<br />

das incubadoras, mas que certamente já tem ali uma seleção. Obrigado.<br />

41


MARIA TEREZA LEOPARDI MELLO<br />

Acho que na minha resposta não falei exatamente das idéias do Pisano, mas acho<br />

que é interessante ver como ele consegue explicar as diferentes estratégias. Eu acho que<br />

isso é a grande contribuição do seu trabalho. O Pisano inverte os termos da questão. Então,<br />

dada a posição da empresa em relação aos ativos complementares, ela busca influenciar o<br />

regime de apropriabilidade. Dessa forma se explicam as mais variadas estratégias de<br />

proteção à propriedade intelectual. O que é curioso também é que colabora no sentido<br />

daquela conclusão de que a propriedade intelectual não serve só para restringir, talvez nem<br />

principalmente para isso, e que mesmo naqueles setores em que a propriedade intelectual<br />

não é vista como eficaz, as empresas protegem. Isso explica o crescente número de<br />

pedidos de proteção e de novas formas de proteção, inclusive não só por patentes.<br />

Realmente é algo que já está incorporado nas estratégias das empresas e que não tem um<br />

sentido somente estratégico. Muito obrigada.<br />

42


MESA­REDONDA<br />

PROPRIEDA<strong>DE</strong> INTELECTUAL, INOVAÇÃO E <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO<br />

Coordenação:<br />

Guilherme Ary Plonski, Presidente da ANPROTEC.<br />

A Dinâmica da Propriedade Intelectual nos Países da América Latina<br />

Alejandro Roca Campañá, Diretor do Escritório de Assistência Técnica e Capacitação para<br />

América Latina e Caribe, OMPI.<br />

O Estado da Arte dos Marcos Regulatórios da Propriedade Intelectual e Implicações<br />

Atuais no Comércio Internacional<br />

Jorge Ávila, Presidente do INPI.<br />

Propriedade Intelectual e Inovação na Indústria: Como Empresas podem se beneficiar<br />

das Oportunidades<br />

Diana Jungmann, Gerente de Desenvolvimento Empresarial, IEL.<br />

A implementação da Agenda para o Desenvolvimento: Desafios e Oportunidades<br />

Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega, Chefe da Divisão de Propriedade Intelectual do<br />

Itamaraty.<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Estamos neste momento dando início a mesa redonda “Propriedade Intelectual,<br />

Inovação e Desenvolvimento”. Esta mesa está alinhada ao escopo da décima primeira<br />

edição da REPICT, que trata com particular destaque dos assuntos voltados ao uso<br />

estratégico da propriedade intelectual como ferramenta de inovação, e inovação como<br />

estratégia de desenvolvimento. Eu sou Guilherme Ary Plonski, presidente da ANPROTEC.<br />

Agradeço a gentileza do convite da Rede de Tecnologia. A razão do convite, penso que é<br />

uma combinação de uma admiração pela Rede e pelo trabalho feito por ela. Estava<br />

comentando na hora do almoço com Armando Clemente que se fizermos uma curva de<br />

participantes desde o encontro de 1998 – e eu tive o prazer de estar em quase todos até<br />

agora – <strong>20</strong>14 precisará certamente de um “Maracanã” para abrigar todos os participantes. A<br />

segunda razão é porque a ANPROTEC é a associação nacional das incubadoras e dos<br />

parques tecnológicos. A justificativa nesse sentido já foi dada pelo José Lavaquial no final de<br />

sua apresentação, quando ele comentou sobre o fato de que boa parte dos negócios feitos<br />

pelo Criatec tem sua gênesis em incubadoras de empresas. E, se bem me lembro, os três<br />

projetos que foram fechados no âmbito do Criatec foram gerados nesse ambiente. A Rede<br />

de Tecnologia também abriga no Rio de Janeiro a Rede de Incubadoras ReINC, de maneira<br />

que, no sentido positivo do termo, estamos todos em família. Portanto, agradeço o convite.<br />

E sempre um privilégio estar aqui, primeiro pela importância do evento e segundo pela<br />

diferenciação dos participantes desta particular mesa­redonda: Alejandro Roca Campañá,<br />

que é diretor do Escritório de Assistência Técnica e Capacitação para a América Latina e<br />

Caribe da OMPI; nosso amigo Jorge Ávila, Presidente do INPI; Diana Jungmann do IEL, que<br />

integra o sistema da CNI; e Kenneth Félix da Nóbrega do Itamaraty. Nos estamos prevendo<br />

<strong>20</strong> minutos a, no máximo, 30 minutos por apresentação, e em seguida haverá um espaço<br />

destinado a questões e respostas e esperamos no horário previsto concluir esta sessão com<br />

um aprendizado coletivo importante. Nos seguiremos a ordem prevista na programação<br />

original das apresentações, o primeiro tema e “A Dinâmica da Propriedade Intelectual nos<br />

43


Países da América Latina”. Portanto, eu convido nosso expositor internacional Alejandro<br />

Roca Campañá.<br />

ALEJANDRO ROCA CAMPAÑÁ<br />

Buenas tardes a todos. El objetivo de la presentación mía en el día de hoy es darles<br />

una panorámica de cual es la dinámica de la propiedad intelectual no solo en particular en<br />

los países de América Latina, si no más bien a nivel internacional en general, sobretodo en<br />

el tema de patentes y innovación.<br />

Como ustedes conocen, la propiedad intelectual ha adquirido una importancia<br />

considerable, y el poder que tiene el sistema de convertir estos activos económicos<br />

intangibles en activos económicos tangibles también ha adquirido una importancia<br />

primordial. ¿Cuales son los cambios a nivel mundial que han coadyuvado a este papel<br />

preponderante de la propiedad intelectual? Acá hay diversas consideraciones de tipo<br />

económico, de tipo político, de tipo legal, de tipo geográfico y de tipo tecnológico que han<br />

promovido o estimulado este cambio. En materia de tipo económico, el papel que cada vez<br />

más está jugando la propiedad intelectual en la economía del conocimiento es producto de<br />

la tensión que existe por la explosión de la demanda en algunas modalidades de la<br />

propiedad intelectual y por cambios radicales en los modelos de negocios de muchas firmas<br />

a nivel internacional y por las practicas de propiedad intelectual que siguen entre las<br />

consideraciones de tipo político. En este sentido, están los desafíos formales como es el<br />

acuerdo ADPIC, el TRIPS. Los desafíos informales son que la sociedad de hoy en día cada<br />

vez está más en red, y hay una amplia participación de la sociedad civil en general. En las<br />

discusiones de política, el foco se sitúa cada vez más en la calidad, en el acceso al dominio<br />

publico, en los modelos alternativos y en el over­reach, es decir la revisión de muchas<br />

decisiones por parte de los similares. Después hay consideraciones de tipo legal y<br />

geográfico. También vamos ver como hay un crecimiento explosivo de la demanda de<br />

algunos países, en particular del Noreste Asiático. Por ultimo vienen las consideraciones de<br />

tipo tecnológico, donde el problema fundamental es la cantidad de solicitudes y sus<br />

implicaciones en la calidad de la protección y la convergencia cada vez mayor entre la<br />

ciencia y la tecnología.<br />

Este cambio radical y rápido del papel de la propiedad intelectual en el mundo ha<br />

generado un estrés severo para lograr una base de consenso. El progreso, el avance de la<br />

negociación internacional de la propiedad intelectual es inversamente proporcional a la<br />

velocidad en que suceden los desarrollos económicos y tecnológicos. Cada vez más se<br />

corre el peligro de que estas discusiones a nivel internacional pierdan el sentido de la<br />

realidad, y el fracaso en la solución de aspectos internacionales del sistema va a impedir<br />

que se preste mayor atención al uso y a la gestión de la propiedad intelectual. Existen dos<br />

agendas paralelas: los países industrializados están cada vez más preocupados por la<br />

cuestión de la gestión y por el estrés funcional del sistema; y los países en vía de desarrollo<br />

están cada vez más ocupados por el impacto. Es decir que a nivel internacional en estos<br />

momentos se está viendo que hay una necesidad cada vez más creciente de intensificar la<br />

cooperación internacional para resolver estos problemas.<br />

¿Cuales son las fuerzas motrices de esa necesidad? Primero que hay una<br />

expansión de la demanda, y después vamos a ver los números. Segundo que hay un<br />

cambio en la composición geopolítica y en la diversidad lingüística. Y el ultimo es que hay un<br />

uso cada vez mayor de la tecnología. Con esto, hay que superar tres dificultades<br />

fundamentales. La primera es la capacidad de absorción en la transición hacia la economía<br />

del conocimiento. Vamos a ver como en el mundo en desarrollo todavía no se ha absorbido<br />

realmente lo que significa la economía del conocimiento. Vemos las diferencias grandes que<br />

44


existen en esto, y por eso la gestión de los diferentes niveles de desarrollo de los países,<br />

sea económico, científico o tecnológico, es un problema, es una cuestión importantísima a<br />

nivel internacional para poder hacer avanzar el progreso en los temas de las negociaciones<br />

y intensificar la cooperación internacional. Y por ultimo, la metodología multilateral.<br />

Como ustedes ven allí, estas son las tendencias en el total de solicitudes de patentes<br />

presentadas desde 1985 al <strong>20</strong>06. Cada vez hay un volumen más creciente de solicitudes de<br />

patentes, mas o menos 850 mil presentaciones por ano, 1.8 millones de solicitudes vigentes<br />

a nivel mundial en el <strong>20</strong>06 y 4.9% de crecimiento en comparación con el <strong>20</strong>05. También<br />

unido a todo esto crece la cantidad de literatura científica y técnica que no está asociada a<br />

las patentes, pero es la literatura conexa que tiene también que ser revisada por los<br />

examinadores en la oficinas de patentes. Acá ven la gráfica del total de presentaciones<br />

desde 1985 al <strong>20</strong>06 y su distribución por residentes y no residentes. Aquí constatamos una<br />

tendencia importantísima, que cada vez más el numero de no residentes aumenta. El<br />

numero de residentes se ha mantenido, pero aumenta por supuesto fundamentalmente en el<br />

mundo industrializado y eso no hace nada más que hablar de la internacionalización y la<br />

globalización de la economía. Para que ustedes tengan una idea, en ese periodo la taza de<br />

crecimiento anual promedio de las presentaciones de patentes fue de 5.3%, y para el<br />

comercio internacional esta cifra es de 7.2%, si bien es mucho menor, la tendencia es ir en<br />

aumento cada vez mayor.<br />

Acá vemos las tendencias en materia de solicitudes PCT, más de 158,000 en el <strong>20</strong>07<br />

y aproximadamente 1.5 millones desde que el sistema empezó a funcionar. Lo que les<br />

decía del establecimiento de nuevas áreas geotecnológicas en el mundo, el mapa<br />

geográfico en materia de patentes está cambiando y han aparecido tres regiones<br />

geotecnológicas bien marcadas. La primera es los EE.UU., la segunda es la Oficina Europea<br />

de Patentes (los países europeos) y la tercera es el Noroeste Asiático. El Noroeste Asiático,<br />

en la que antes estaba solo el Japón, ahora tiene las Repúblicas de Corea y China. ¿Y que<br />

significa esto? Significa que algo como 25% de la producción de conocimiento a nivel<br />

mundial se está generando en el Noroeste Asiático, y eso por supuesto trae problemas a la<br />

hora de poder utilizar y participar de ese flujo de conocimiento que se está generando allí,<br />

por problemas de tipo lingüístico. Como ustedes saben, ha crecido el numero de<br />

presentaciones de China y Corea.<br />

Ahora vamos a ver que pasa en la América Latina y el Caribe. En este ano, la<br />

presentación de solicitudes de patentes se ha mantenido más o menos estable con Brasil en<br />

primer lugar. Pero lo que pasa es que la América Latina representa solo 0.54% de las<br />

solicitudes en comparación al resto del mundo. En este gráfico vemos como las solicitudes<br />

internacionales de la América Latina están en un leve aumento, pero podríamos decir que<br />

este aumento es constante y lento. A su vez, vemos de que valores estamos hablando para<br />

todos los países de América Latina que son miembros del PCT. En el <strong>20</strong>07 fueran 854<br />

solicitudes de América Latina contra 156 mil del resto del mundo. Acá están las solicitudes<br />

por algunos países como Brasil, Colombia, México y Cuba. Vean como el aumento, aunque<br />

si bien hay una ligera tendencia, es bastante constante y muy lento. Lo que pasa es que hoy<br />

en día el desarrollo científico y tecnológico del comercio se han convertido en fuerzas<br />

motrices del desarrollo del sistema en que los mercados globales aumentan, en que la<br />

demanda en tecnología también aumenta, y esto mismo hace a creer la necesidad de una<br />

convergencia entre los diferentes enfoques internacionales. Y acá lo que notamos es que<br />

cada vez más hay una separación o dislocación entre la velocidad del mercado y el uso de<br />

la tecnología. En este ámbito, la velocidad del sistema de propiedad intelectual y la<br />

capacidad de este sistema proveer respuestas rápidas a lo que está ocurriendo son<br />

producto de la existencia de múltiples jurisdicciones, producto de que a nivel internacional,<br />

todavía, queda mucho que hacer en materia de normalización.<br />

45


Pero hay muchos problemas además. Por ejemplo, para el sector de la telefonía y las<br />

tecnologías de comunicaciones, el mercado mundial es de 2.5 miles de millones de<br />

suscriptores, hay más de dos mil familias de patentes declaradas solamente en la tecnología<br />

de tercera generación, que comprenden seis mil patentes individuales de más o menos 50<br />

firmas. Es decir, hay una concentración importante de donde se produce el conocimiento en<br />

este sector, y esto hace que muchas veces esas solicitudes de patentes no son publicadas<br />

cuando la tecnología es evaluada para su inclusión en normas técnicas. Lo que podemos<br />

decir es que este fenómeno se está viendo todavía mucho más porque la importancia de la<br />

propiedad intelectual aumenta a medida que aumenta el grado de funcionalidad de la<br />

tecnología, a medida que esta pasa a ser más sofisticada.<br />

Los desafíos del incremento de la cooperación internacional en este contexto son<br />

que la transición hacia esta economía todavía no ha sido absorbida en el mundo en<br />

desarrollo. Hay grandes diferencias en los niveles de desarrollo, y es por eso que el desafío<br />

fundamental es poner la propiedad intelectual en el contexto determinado. No se puede<br />

seguir generalizando porque las condiciones económicas y de desarrollo científico y<br />

tecnológico son diversas, y es esencial tomar en cuenta muchas veces la base de recursos<br />

en los países en desarrollo, como es la diversidad biológica, los conocimientos tradicionales,<br />

las expresiones culturales.<br />

Así se ve el mundo. Si tomamos en cuenta las regalías y tazas por exportaciones de<br />

licencia, vean que América Latina casi no existe, así como Africa y Asia. Y miren como se ve<br />

si tomamos en cuenta las exportaciones de petróleo en crudo.<br />

Acá son unas tablas, más bien para información, que muestran estos niveles<br />

diferentes de desarrollo económico, científico y tecnológico que incluso fueron publicados en<br />

un estudio que hizo el Banco Mundial en enero de este ano. El Banco Mundial dice que el<br />

progreso tecnológico es la causa de la diferencia en materia de crecimiento económico de<br />

los países. Esto es una realidad, es una verdad, y esta tabla muestra como se distribuye el<br />

ingreso per capita medio anual y el factor total de crecimiento productivo. Esto es una<br />

medida común, pero a su vez indirecta del progreso tecnológico, donde se amputa la<br />

tecnología, todo lo que no puede ser amputado a las inversiones y al crecimiento de la<br />

fuerza laboral. Por supuesto, se dice que el desarrollo de la tecnología, es decir el progreso<br />

tecnológico, va aumentar los ingresos por donde va a reducir la pobreza. Acá vemos en esta<br />

tabla como este progreso tecnológico, que se mide directamente por el factor total del<br />

crecimiento de la productividad, retiene hoy en día el factor que marca la diferencia entre<br />

países ricos y países pobres. Y acá, para aumentar la productividad, para aumentar los<br />

ingresos, el desarrollo tecnológico juega un papel fundamental. De otra forma fuera<br />

imposible explicar las tazas de crecimiento anuales de muchas economías que existen hoy<br />

en día, las brechas persisten en el uso de muchas tecnologías.<br />

Esto aquí también forma parte de este estudio del Banco Mundial que definió la<br />

tecnología de manera tal que tuviera algún significado para los países en desarrollo. Esto<br />

habla de la tecnología no nueva para el mundo, si no la tecnología nueva para un mercado y<br />

nueva para una empresa. Dice que esta tecnología es que importa en estos momentos a los<br />

países en desarrollo porque se encuentran en esa frontera. La innovación hoy en día en los<br />

países en desarrollo es un proceso no de desarrollo de tecnología nueva para el mundo, si<br />

no un proceso de adaptación y de implementación de productos nuevos para el mercado,<br />

técnicas de difusión tecnológica que pasa por un proceso de adaptarlas a los procesos y<br />

productos que son nuevos para las empresas. Y por esto tanto es importante la tecnología<br />

como tal. Es decir que las nuevas soluciones técnicas también son importantes como se<br />

pueden organizar la producción, saber bien donde están los clientes, como se puede<br />

46


vender. Para los países en desarrollo esto es tan relevante tanto como la importancia que<br />

tiene los diversos elementos que conforman una tecnología. Es por eso que este estudio<br />

hace una diferencia entre aquellas tecnologías viejas que están viejas para la frontera<br />

tecnológica en el día de hoy, que están penetrando en los países en desarrollo, como es la<br />

electrificación, el consumo de electricidad, el aumento de las redes de telefonía publica, el<br />

grado de penetración de tecnologías más recientes, como es el uso de computadoras<br />

personales, telefonía celular, usuarios de Internet per capita.<br />

Vemos aquí como los países en desarrollo, de acuerdo a varios indicadores, artículos<br />

científicos, regalías y tasa por licencias – como porcentaje del PIB – consumo de energía<br />

eléctrica per capita y muchos otros han todavía una marcada diferencia. Esta brecha<br />

tecnológica se acorta cada vez más, pero todavía es ancha, porque aunque en los últimos<br />

quince anos, el progreso tecnológico ha sido fuerte en los países en desarrollo, yo diría que<br />

más fuerte en términos relativos que en los países desarrollados. Es decir de ingresos altos<br />

y medios. El problema es que esta frontera también se ha movido, no se ha quedado<br />

estática, y la brecha, el gap, sigue siendo alta, por que si bien ha habido un aumento de<br />

varios factores.<br />

El Banco Mundial dice que la difusión depende no solo de la exposición a la<br />

tecnología extranjera, si no de la capacidad interna que exista para absorberla. En los<br />

indicadores vemos como los países en desarrollo han aumentado hasta en dos veces en<br />

porcentaje del BIP, por ejemplo, la importación de bienes de alta tecnología. Hemos visto un<br />

aumento de la inversión extranjera. También analizan la influencia que ha tenido la diáspora.<br />

La diáspora representa las poblaciones de inmigrantes que existen en países<br />

industrializados. Por ejemplo, dice este estudio que en China casi la mitad de los 41 mil<br />

millones que se recibieron en el ano <strong>20</strong>00 en materia de inversión extranjera directa se<br />

originaron por los nacionales que vivían en el extranjero. Ahora vemos como cada vez más<br />

se adjudica una importancia crucial para la capacidad de absorción interna de la tecnología<br />

extranjera en un país que, como ustedes pueden ver en estos anillos del medio, incluyen<br />

condiciones macroeconómicas estables, clima de inversión, habilidad de la población de<br />

poder medir y entender nuevas tecnologías, lo que se habla como alfabetizo tecnológico, el<br />

financiamiento de las firmas innovadoras, el desarrollo del mercado de capital de riesgo y<br />

políticas proactivas y productivas que puedan estimular la difusión.<br />

La tecnología en los países en desarrollo no se explota como se explota en los<br />

países desarrollados, por lo cual la brecha todavía existe en los países en desarrollo en un<br />

grado, pero las mismas tienden a ser usadas con un nivel bajo de intensidad. Más del 40%<br />

de los países en desarrollo usan las tecnologías recientes solamente entre 0 y 5% con una<br />

intensidad tal en la que es usada en los países desarrollados. Esto es otro cuadro que<br />

muestra que esta capacidad de absorción débil podría a nivel interno comenzar a obstruir el<br />

progreso tecnológico futuro. Todo esto se ve en las estadísticas, por ejemplo, si analizamos<br />

las familias de patentes, vemos como 24% y 10% respectivamente de las familias de<br />

patentes son presentadas en dos o más oficinas y en cuatro más oficinas respectivamente.<br />

La mayoría de estas familias originadas en la Federación Rusa, en China y en Brasil son<br />

familias de patentes nacionales extranjeras. Son pocas aunque se están incrementando,<br />

pero su participación compartida, imaginen ustedes, es de menos del 1%. Para Holanda,<br />

Suiza, Italia, Francia y Alemania son familias de patentes extranjeras.<br />

Ahora vemos en el marco del PCT como si que el numero total de familias en el<br />

<strong>20</strong>05, lamentablemente el ultimo informe del World Patent Report, estamos llegando hacia<br />

casi un millón por ano. La OMPI hace dos anos hizo un estudio acerca de la actividad de<br />

patentamiento en América Latina. El uso de las patentes como indicador económico hay que<br />

tomarlo con cierto cuidado. Pero acá lo que tratamos de hacer fue analizar las citas de<br />

47


patentes, que muchas veces se usan para medir el valor económico y tecnológico de una<br />

patente. Son las que delimitan el alcance del derecho de que menciona el estado de la arte<br />

previo que existe. Tiene un cierto valor legal, porque si una patente A cita una patente B,<br />

significa que la patente B es un antecedente tecnológico de la patente A, y el conocimiento<br />

contenido en B, de una forma o de otra, se originó o fue desarrollado por A. Esto hace así<br />

que exista una relación directa entre la cantidad de citas en una patente y su valor<br />

económico y muchas veces este indicador se usa para trazar los flujos y derrames del<br />

conocimiento.<br />

En este estudio donde se analizó el flujo de las citas de patentes de América Latina,<br />

tomando como de origen la base de datos de los EE.UU. y la base de datos de la Oficina<br />

Europea de Patentes, que tienen algunas diferencias en los procedimientos de presentación<br />

de solicitudes. En esos procedimientos hay unas diferencias en materia de reglamentación<br />

de la cita. Hay una participación baja en las citas de patentes de América Latina en la<br />

USPTO, por ejemplo, 4.29%, y en la EPO 6.21%. Esto es similar con lo que ocurre en otros<br />

países como China y India. Esta analice se había hecho anteriormente. Si vemos los datos<br />

de la oficina americana, vemos como más de unos 70% de las patentes en esa oficina<br />

tienen las citas hechas y recibidas de patentes norte americanas. Así mismo ocurre con la<br />

oficina de patentes europea, y así se ha visto que la participación de los países de América<br />

Latina y de algunos países de área geográfica. Aunque esta información sea un poco vieja<br />

porque llega hasta el ano 1999, todavía en algunas áreas están muy por debajo de lo que<br />

son otras áreas a nivel mundial.<br />

Esto no lleva al final a caracterizar un poco que es lo que pasa con los procesos de<br />

innovación en América Latina. Hay un escaso aporte del sector privado, y esto no es un<br />

secreto para nadie. El predominio de la actividad innovativa es de carácter incremental. Las<br />

estructuras productivas con escasa presencia en los sectores de alta tecnología ocurren<br />

porque hay fallas de mercado, porque el capital humano es escaso, porque el tamaño del<br />

mercado es reducido y los vínculos dentro del sistema nacional de ciencia y tecnología,<br />

entre las instituciones que conforman este sistema y el sector privado, son inexistentes.<br />

En unas encuestas que se hicieron en América Latina en el ano <strong>20</strong>00 sobre<br />

innovación, se señalaban cuales eran los obstáculos principales a la innovación declarados<br />

por empresas latinoamericanas: alto riesgo / incertidumbre, períodos de retorno largos,<br />

costos elevados, dificultades para acceder al financiamiento, falta de información, falta de<br />

apoyo publico, sectores productivos poco dinámicos, y sólo en Argentina y en Uruguay se<br />

menciona la facilidad de imitación por parte de terceros como un obstáculo medianamente<br />

relevante.<br />

Las pequeñas y medianas empresas (PyMEs) innovan menos, y por en tanto<br />

protegen menos la propiedad intelectual menos. Acá hay unos datos de Brasil. Como ven, a<br />

medida que crece el tamaño de la firma, crece la tendencia a usar las patentes como<br />

mecanismo de apropiabilidad. Como pueden ver, la mayoría de las empresas usan como<br />

mecanismo de apropiabilidad fundamentalmente las marcas. Muchas firmas usan el tiempo<br />

de liderazgo sobre los competidores y algunas pocas el secreto industrial.<br />

La conclusión es la brecha tecnológica se está acortando, pero todavía es grande. El<br />

progreso tecnológico refleja la absorción de tecnología pre­existente y no ocurre en la<br />

frontera del paradigma tecnológico global. La globalización ha sido una fuerza importante,<br />

pero no es la que está determinando este proceso, porque el ritmo de difusión tecnológica<br />

dentro de los países en desarrollo, no entre, es todavía lento y las tasas de penetración son<br />

particulares. La capacidad de absorción tecnológica ha avanzado relativamente despacio –<br />

esto se ve en el sistema de patentes – y hay la preocupación de que esto ya pueda empezar<br />

48


a obstaculizar el progreso tecnológico futuro. Lo más importante, el foco más importante en<br />

materia de política tecnológica, es la difusión y la adaptación de tecnología extranjera.<br />

Muchas gracias a todos.<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Agradeço a gentileza da exposição feita pelo Dr. Alejandro Roca Campañá, que nos<br />

apresentou um contexto mundial e regional para o tema propriedade intelectual, inovação e<br />

desenvolvimento. Ele levantou algumas questões que certamente serão objetos do debate.<br />

Apenas me permito antecipar a última frase do seu último slide, trazendo que o foco deve<br />

ser de exposição maior à tecnologia estrangeira, à sua difusão, que certamente merecerá<br />

uma reflexão em momento oportuno.<br />

E com particular alegria que eu passo a palavra ao Dr. Jorge Ávila, conhecido de<br />

todas e todos, ex­diretor da FINEP, atual presidente do INPI que, junto com a OMPI, a<br />

RE<strong>DE</strong>TEC e a REPICT, é realizador deste grande evento.<br />

JORGE AVILA<br />

Boa tarde a todos. Farei uma apresentação comentando o marco normativo brasileiro<br />

e os impactos que ele tem no comércio internacional do País. É uma discussão bastante<br />

relevante dentro do contexto da XI REPICT. Como vocês devem ter observado, este<br />

encontro está muito orientado para os aspectos internacionais.<br />

Acreditamos que haja no momento, no país, o pensamento de como vencer a<br />

barreira da exportação da propriedade intelectual brasileira, ou seja, como proteger o<br />

conhecimento brasileiro lá fora e como extrair valor desse conhecimento protegido. Esse é o<br />

tema que tentarei de alguma maneira abordar. Procurei fazer uma apresentação<br />

sistemática. Vamos ver se eu serei bem sucedido.<br />

A primeira questão é que há um debate internacional importante sobre esse tema. Eu<br />

acho importante que contextualizemos essa discussão nesse debate. Essa discussão talvez<br />

possa ser simbolicamente, mas de maneira realista, resumida em torno da Agenda para o<br />

Desenvolvimento proposta pelo Brasil e outros países à OMPI. Daqui a pouco o nosso<br />

colega Kenneth da Nóbrega terá a chance de trabalhar esse tema com mais detalhes.<br />

O aspecto fundamental dessa discussão gira em torno de promover a inclusão dos<br />

países em desenvolvimento na economia globalizada do conhecimento. A pergunta é: que<br />

sistema de propriedade intelectual é capaz de promover essa inclusão e que sistema de<br />

propriedade intelectual afasta ou poderia afastar novos entrantes, novas empresas,<br />

empresas dos países em desenvolvimento, dos benefícios desse sistema?<br />

Essa questão se organiza em torno da própria discussão do mandato de uma<br />

organização do sistema das Nações Unidas, que tenha por propósito regular o ambiente de<br />

propriedade intelectual ao redor do mundo. Acredito que uma questão que precisa ser<br />

explorada, para que essa missão possa ser cumprida de maneira adequada, é a do<br />

significado que “harmonização” possa ou deva ter nesse campo.<br />

O princípio básico (de uma agenda pró­desenvolvimento) é que qualquer iniciativa de<br />

harmonização deve ser concebida de modo a produzir um ambiente inclusivo. Há, talvez,<br />

nos países em desenvolvimento uma tensão entre as posições que rejeitam a harmonização<br />

49


e as discussões sobre que tipo de harmonização poderia ser desejável. Na verdade, por<br />

vezes, prevalece uma visão de que qualquer tipo de harmonização seria indesejável.<br />

Teremos que desconstruir isso nos próximos anos se, de fato, pretendermos fazer com que<br />

a Agenda para o Desenvolvimento se reflita em bem­estar, desenvolvimento econômico e<br />

inclusão social. Se partirmos do pressuposto de que o objetivo maior é permitir a inclusão de<br />

cidadãos e empresas do mundo em desenvolvimento no sistema de propriedade intelectual,<br />

a assistência técnica que é oferecida pela OMPI e por outros organismos internacionais<br />

deverá ter como foco central a geração de propriedade intelectual por residentes nos países<br />

em desenvolvimento, e a sua mais ampla comercialização mundo afora.<br />

É importante tentar, até para poder avançar um pouco nessa discussão sobre<br />

propriedade intelectual, marco regulatório e comércio, voltar às origens e entender porque<br />

TRIPS foi necessário, ou seja, porque na Rodada Uruguai do GATT, na rodada que levou à<br />

constituição da Organização Mundial do Comércio (OMC), o tema de propriedade intelectual<br />

foi colocado sobre a mesa. Há uma explicação, que vou chamar de explicação contingente,<br />

no sentido que ela expressa uma parte da realidade muito atada ao momento da negociação<br />

per se, que associa a inclusão desse tema a uma necessidade específica dos países<br />

desenvolvidos. Para os países em desenvolvimento, quando embarcamos nessa explicação<br />

contingente, a propriedade intelectual fica parecendo um preço que foi cobrado para<br />

participar da economia globalizada. Essa explicação traz embutida uma visão muito negativa<br />

do sistema de propriedade intelectual. Nela, a propriedade intelectual seria o preço que<br />

teríamos que pagar para podermos participar de um ambiente econômico mais rico.<br />

Felizmente não é única explicação possível para a existência de TRIPS. TRIPS surge no<br />

contexto do comércio internacional, na Rodada Uruguai do GATT, também porque os ativos<br />

intensivos em conhecimento começaram a ter muito mais importância na cena econômica.<br />

Então, falar de livre comércio, de liberalização do comércio, não é falar mais só da<br />

liberalização da circulação de bens materiais. Há todo um comércio de bens intangíveis que<br />

se associa ou está intimamente relacionado com o comércio de bens materiais. Todo<br />

produto material embute, em maior ou menor quantidade, ativos intangíveis. A propriedade<br />

intelectual vai embarcada nos produtos e ativos materiais. Se um produto material é muito<br />

bem definido pela sua própria constituição, ou seja, qualquer um olha e sabe dizer o que é<br />

aquele determinado produto, com seu conteúdo intangível não é tão simples assim. Então,<br />

deve haver um mínimo marco delimitador comum do que seja o conteúdo intangível<br />

embarcado. E este requisito tornou­se absolutamente fundamental para facilitar as<br />

transações. Se, por exemplo, a extensão dos direitos de propriedade intelectual embarcados<br />

num produto material fosse definida de maneira distinta em cada um dos países de América<br />

do Sul, ficaria extremamente mais complicado regular esse comercio, ao ponto desse<br />

comércio deixar de ser livre. Quando, por exemplo, não há respeito às marcas do Brasil por<br />

um país vizinho, o comércio de produtos brasileiros no país vizinho fica extremamente<br />

prejudicado. Além da propriedade intelectual embarcada em produtos materiais, ainda<br />

existe a questão da propriedade intelectual autônoma, que cada vez mais também é<br />

constituída como mercadoria. Conhecimentos, ativos intangíveis de per si, são<br />

comercializados hoje em todos os mercados. É preciso, da mesma maneira que é preciso<br />

haver um marco regulatório para definir as transações comerciais internacionais envolvendo<br />

ativos físicos, que haja algum tipo de marco regulatório para as transações comerciais<br />

envolvendo o conteúdo intelectual dos ativos materiais e os ativos puramente intelectuais.<br />

Quanto à questão dos sinais distintivos, eu acho que ela pode ser usada para ilustrar<br />

isso muito bem. O reconhecimento de marcas e indicações geográficas é fundamental para<br />

viabilizar extensas categorias de comércio. Não há comércio possível entre produtos que<br />

tenham na marca a sua maior agregação de valor, se não houver registrabilidade dessas<br />

marcas nos diferentes mercados. É obvio que marcas podem ser, por características<br />

50


peculiares de cada cultura, irregistráveis em determinado país. Mas isso pode e deve ser<br />

uma camada muito fina sobre o conjunto amplo de produtos da economia que podem sim ter<br />

suas marcas reconhecidas por toda parte.<br />

A importância, em uma economia aberta, de se ter algum regime que permita a<br />

proteção de marcas entre países é fundamental, não só para proteger os produtores, como<br />

também os consumidores. Numa economia onde a informação flui de maneira muito rápida,<br />

aonde todo mundo consegue saber tudo sobre qualquer marca com uma velocidade muito<br />

grande, se um ator econômico se apropria localmente de uma marca que é conhecida<br />

internacionalmente, acaba­se criando uma desinformação do público consumidor e práticas<br />

desleais de concorrência que lesam tanto consumidores como produtores. Entender essa<br />

complicação nos faz ver que o sistema de propriedade intelectual, na sua normativa<br />

internacional, não deve ser visto como um objetivo que é perseguido apenas por países<br />

desenvolvidos, ou seja, é preciso ter um marco institucional bem desenvolvido que permita<br />

que transações envolvendo ativos e produtos mais complexos circulem com facilidade, e<br />

este é sim um dos objetivos a serem perseguidos pelos países em vias de desenvolvimento.<br />

Com relação às marcas, a forma de se enfrentar esse problema, que afeta países<br />

desenvolvidos e países em desenvolvimento, é atacar a questão da registrabilidade, e não<br />

apenas do ponto de vista de harmonização legislativa – pois essa harmonização é sempre<br />

um processo complexo que implica mudanças de muito mais que apenas da legislação.<br />

Devemos entender que as diferenças entre normas legais residem hoje, após TRIPS,<br />

apenas na margem, e que existe uma esmagadora maioria de processos de marca que<br />

podem ser trabalhados internacionalmente com o provável nível de 98% de harmonização<br />

normativa e legal já presente no sistema. Então, todo um trabalho de integração de sistemas<br />

de informação, de cooperação entre os países, se torna possível, e nele reside uma nova<br />

forma de se entender a harmonização, centrada nos aspectos operacionais do sistema. É<br />

nessa grande massa de manobra que os países têm tentado se mover mais. E o Brasil não<br />

é uma exceção.<br />

Com relação ao conhecimento tecnológico em si, é bom que existam certos pontos<br />

nos quais poderíamos nos concentrar para pensar quais seriam os impactos da proteção do<br />

conhecimento no campo do comércio internacional para, daí, poder derivar políticas de<br />

inovação e de comércio. O primeiro ponto que vale a pena levantar é a própria<br />

transnacionalização do desenvolvimento tecnológico. O conhecimento hoje circula de uma<br />

maneira muito rápida, e a produção de inovação se dá cada vez mais de forma cooperativa<br />

entre uma multiplicidade grande de atores. Esses atores têm diferentes naturezas<br />

institucionais: são universidades, institutos de pesquisa, empresas, diferentes tipos de<br />

empresas, cooperativas, todo um conjunto amplo de formas organizacionais que cooperam<br />

na produção de inovação. E essa cooperação não respeita fronteiras. A cooperação<br />

tecnológica ocorre entre quem precisa de algum conhecimento e quem tem condição de<br />

aportar subsídios para o desenvolvimento desse novo conhecimento, independente de onde<br />

cada ator se encontra. Existe uma globalização não apenas do uso do conhecimento, como<br />

da sua produção. As redes cooperativas são transnacionais.<br />

Para haver redes cooperativas transnacionais de inovação, deve­se ter algum tipo de<br />

marco regulatório que seja comum e que permita um mapeamento dos resultados e uma<br />

distribuição desse resultado entre as partes cooperantes. Um sistema que seja capaz de<br />

organizar internacionalmente essas trocas é absolutamente necessário, e representa, sim,<br />

um fim que deve ser perseguido em si mesmo por todos os países que pretendam participar<br />

ativamente da economia do conhecimento, que pretendam produzir conhecimento. O que<br />

observamos hoje é que o conhecimento em si, uma vez empacotado na forma de algum<br />

título de propriedade, se comporta como um objeto comercializável nos mercados. Então,<br />

51


uma maneira de acessar o conhecimento é desenvolver um mercado de conhecimento tão<br />

completo, tão aberto e tão acessível quanto possível. Essa é uma forma de pensar o acesso<br />

de conhecimento que é muito distinta daquela que informa os pensamentos antiproprietários<br />

no campo da produção científica e tecnológica. Imaginar que a apropriação não é apenas<br />

uma maneira de excluir terceiros – o objetivo da apropriação é, antes de qualquer questão, a<br />

exclusão temporária de terceiros – é fundamental para que se possa ter um mercado aonde<br />

o conhecimento seja demonstrado e circule de quem o produz para quem o necessita. O<br />

que está em oposição à propriedade intelectual não é o conhecimento livre, mas o segredo<br />

industrial. O segredo industrial é, na verdade, conhecimento que quase ninguém sabe onde<br />

está. Sob segredo, apenas aquele que o criou poderá dar uso econômico para o<br />

conhecimento. O sistema de propriedade intelectual cria uma vitrine onde o conhecimento<br />

pode ser posto em uso por outros atores, e não apenas por aquele que o gerou.<br />

O sistema de propriedade intelectual enfrenta hoje uma série de dificuldades, as<br />

quais já foram inclusive bem colocadas por Alejandro Roca. A dificuldade mais visível do<br />

sistema no plano internacional é a crise absoluta no sistema de patentes. O número de<br />

patentes que aguarda exame no mundo inteiro é imenso, e isso para mim, como presidente<br />

do INPI, não é de todo ruim, porque permite explicar um pouco o atraso do INPI, dizer que o<br />

Brasil não está sozinho. Mas, na verdade, isso é uma tragédia para o mundo inteiro que lida<br />

com inovação. O sistema é um sistema muito duro, pouco eficiente, no qual a qualidade das<br />

decisões e a segurança jurídica dos títulos de propriedade por ele emitidos ficam<br />

comprometidas toda vez que se tenta solucionar o problema por meio da aceleração do<br />

exame de patentes.<br />

Há no mundo inteiro uma discussão de como aumentar a eficiência de patentes, sem<br />

comprometer a qualidade e a segurança jurídica dos títulos que são produzidos por esse<br />

sistema. As patentes têm uma função fundamental no comércio internacional, às vezes<br />

muito maior do se imagina. Patentes podem constituir barreiras de entrada, mecanismos de<br />

isolamento, podendo responder a uma ampla gama de objetivos estratégicos traçados numa<br />

determinada política comercial. É muito interessante ver o uso que se dá das patentes, por<br />

exemplo, na China e nos Estados Unidos, e os conflitos que esses usos têm gerado. Hoje,<br />

advogamos que para os países em desenvolvimento a melhor coisa é um sistema de<br />

patentes que seja rigoroso, que ofereça patentes de qualidade, e qualidade aqui significa<br />

grande segurança jurídica, ou seja, patentes que, quando ameaçadas na Corte, resistem.<br />

Isso não é uma verdade 100% consensual. Quem olha o que está acontecendo na China<br />

percebe claramente que esse país adotou uma estratégia diferente: abriu mão, em grande<br />

medida, da segurança jurídica, em troca de uma maior inclusão dos chineses no sistema de<br />

patentes. Isso quer dizer que o nível de exigência para obtenção de uma patente foi<br />

diminuído e ficou semelhante ao nível de exigência para se conceder uma patente nos<br />

Estados Unidos durante a década de 1990. Hoje, nos Estados Unidos, esse nível de<br />

exigência está crescendo. É interessante tentarmos entender o porquê disso.<br />

Hoje temos no Brasil um sistema que apresenta vários problemas, mas acreditamos<br />

que a visão orientadora deva ser a de perseguir um sistema que emita patentes de alta<br />

qualidade. Quando começamos a discutir qualidade, níveis diferentes de qualidade, níveis<br />

diferentes de exigências, vale a pena colocar a seguinte pergunta: a harmonização faz<br />

sentido nessa discussão? Essa discussão é boa para quem? Alguma forma de<br />

harmonização centrada nessa idéia faria sentido para os países em desenvolvimento? O<br />

meu palpite é que sim. Mas ainda temos muito que discutir sobre isso. Um bom exemplo de<br />

discussão de natureza harmonizadora que teria impacto positivo para os exportadores<br />

brasileiros de tecnologia tem relação com a elevação do nível das patentes norte­<br />

americanas, pois patentes mal concedidas funcionam como barreiras ilegítimas ao<br />

comércio. Houve uma cobrança internacional por uma maior seletividade na concessão de<br />

52


patentes nos Estados Unidos. Essa cobrança se reverteu, no final das contas, em decisões<br />

da Suprema Corte que obrigaram o USPTO a aumentar o nível de qualidade das patentes.<br />

Com isso, o custo de exportar tecnologia para os Estados Unidos diminuiu, ou seja, há uma<br />

liberalização do comércio de bens intensivos em tecnologia quando se aumenta o nível de<br />

exigência no exame das patentes.<br />

Vamos falar um pouco do debate nacional. Primeiro, acho que vale a pena entender<br />

que a lei brasileira não está ainda totalmente instituída, no sentido de que não há<br />

jurisprudência firmada, ou seja, os primeiros casos julgados sobre a nova Lei de<br />

Propriedade Industrial começam só agora a chegar aos Tribunais Superiores. Estamos<br />

vivendo um momento crítico de institucionalização que está obrigando o sistema judiciário e<br />

uma série de atores a debaterem em mais profundidade as características e a natureza do<br />

sistema brasileiro de propriedade intelectual. Vários aspectos da lei terão que ser<br />

questionados em algum momento, inclusive a própria constitucionalidade das exceções à<br />

apropriabilidade. Há vários aspectos da lei que poderão ser discutidos proximamente.<br />

Evidente que um fórum como este evento deve, tanto quanto possível, participar dessas<br />

discussões e buscar entender o que faz e o que não faz sentido manter na lei atual. A lei<br />

brasileira é caracterizada por ter incluído tão somente a proteção daquilo que, sob o marco<br />

de TRIPS, é obrigatório proteger. Tudo aquilo que foi deixado a critério dos países proteger<br />

ou não, o Brasil decidiu que não protegeria. Temos que perguntar se isso é bom. Para se ter<br />

exemplo da exclusão que praticamos, os casos mais claros são: os programas de<br />

computador, e vamos ver que isso é relativo; toda matéria viva; e há uma séria dúvida e<br />

problemas generalizados ligados à proteção dos produtos farmacêuticos no Brasil. Há<br />

limitações também no campo marcário, e no Brasil temos um entendimento traduzido em lei<br />

muito restrito do que sejam marcas, ao contrário do resto do mundo, onde o conceito de<br />

marcas é um conceito mais amplo, e quase todas as legislações atuais reconhecem marcas<br />

sonoras e marcas olfativas. Além destas, há também um tratamento em muitos países do<br />

chamado business dress ou trade dress como marca, e há todo um conjunto de questões<br />

relacionadas a nomes de domínio na internet e a sua relação com o sistema marcário, que<br />

não é muito clara no mundo inteiro, mas que no Brasil é particularmente obscura. Portanto,<br />

há uma série de confusões no campo marcário que teremos que enfrentar. Deve estar claro,<br />

contudo que nada disso, no estágio em que nos encontramos, depõe contra a necessidade<br />

de que o Brasil tenha um sistema de propriedade intelectual autônomo e respeitado no<br />

plano internacional. Esse é um dos objetivos que temos buscado alcançar.<br />

O Programa de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Propriedade Intelectual é<br />

alicerçado sobre pilares básicos. Primeiro, a revisão da institucionalidade. Por revisão não<br />

queremos dizer mudança generalizada, mas o ato de rever, à luz de 10 anos de experiência<br />

com a nova lei, à luz de um contexto econômico diferente, à luz de uma política de<br />

desenvolvimento centrada na inovação, se o marco legal vigente, aprovado em discussões<br />

que se estenderam do fim da década de 80 ao meio da década de 90, requer ou não requer<br />

transformação e em que pontos ele pode estar a requerer transformações. Em particular, as<br />

restrições de apropriação são um ponto a se discutir. Há um trabalho bastante grande do<br />

fortalecimento do sistema, fortalecimento das decisões. Isso tem relação com oferecer à<br />

sociedade brasileira um sistema mais transparente, oferecer diretrizes de exame que sejam<br />

claras e facilmente compreensíveis, que tornem, por conseguinte, a obtenção de direitos em<br />

algo previsível, ou mais previsível do que vinha sendo.<br />

Pensando nos tratados internacionais, o Brasil historicamente desconfia de todos os<br />

tratados internacionais relativos à propriedade intelectual e, por conseguinte, participa muito<br />

pouco deles. Um dos poucos de que participamos é o PCT. Isso não faz muito sentido, por<br />

isso vale a pena pensar porque não participamos de tantos outros tratados, pensar se<br />

convém ou se não convém, de fato, ao país participar.<br />

53


A questão do software é muito complicada. Não vou entrar em detalhes, mas acho<br />

que ela vem se clareando. Eu li com satisfação que na Índia houve um esclarecimento sobre<br />

esse ponto. A Índia começou a ter um entendimento semelhante ao que o Brasil construiu<br />

nos últimos anos, de que o que não é patenteável é o código em si, entendimento este que<br />

já opera na Europa e nos Estados Unidos, mas que as funções que atendam aos critérios de<br />

patenteabilidade são sim patenteáveis. Na medida em que os critérios de patenteabilidade<br />

comecem a ser melhor entendidos, no Brasil estaremos avançando bastante. Lembro­me da<br />

minha primeira discussão sobre isso no INPI. Eu tinha uma dúvida imensa sobre isso, e os<br />

examinadores da área da tecnologia da informação questionavam que, se não fossem<br />

patenteáveis os inventos da tecnologia da informação, daqui a pouco nada mais seria<br />

patenteável, porque o mundo caminha rapidamente para a era da total digitalização. A<br />

virtualização nada mais é do que envolver funções em código que antes eram desenvolvidos<br />

pela junção de fios e outros equipamentos tangíveis. Não há diferença do ponto de vista do<br />

esforço inventivo, nem, por conseguinte, da necessidade da apropriação de um invento, pelo<br />

fato de ele ser físico ou virtual.<br />

A questão de todo ou de partes de seres vivos é dramática no Brasil. A lei continua<br />

gerando um impedimento rigoroso contra a apropriação de qualquer substância natural,<br />

mesmo quando isolada, mesmo quanto possui função definida. Qualquer pessoa que<br />

trabalha nessa área sabe que isolar e identificar funções é trabalho tecnológico complexo<br />

como outro qualquer que se protege sem problema, e por isso não há muito sentido em<br />

considerar natural esse tipo de vedação generalizada. Há quem diga mesmo que, ao vedar<br />

completamente a apropriabilidade de substâncias naturais, ter­se­ia que negar patente a<br />

qualquer tipo de substância, porque ninguém tem condição de provar que determinada<br />

substância sintética não exista na natureza de modo natural, de modo livre. Há uma<br />

contradição possível de ser apontada dentro do próprio sistema, quando este veda<br />

completamente a apropriabilidade de substâncias tais quais encontradas na natureza. O<br />

resultado dessa não apropriação é uma apropriabilidade muito restrita do que temos<br />

considerado um patrimônio nacional da maior importância, que é o patrimônio genético e a<br />

biodiversidade brasileira. A capacidade de apropriação desse patrimônio fica muito reduzida<br />

frente às limitações da Lei. Quando se combina essa dificuldade de apropriação com as<br />

discussões no campo farmacêutico, percebemos que, se não podemos nos apropriar de<br />

nenhuma substância natural pelo fato e que talvez não possamos nos apropriar de nenhuma<br />

aplicação de substância conhecida, resultará, no final das contas, da incapacidade de nos<br />

apropriarmos de qualquer coisa que seja derivada da biodiversidade brasileira. Isso me<br />

parece por si só um contra­senso absoluto. É evidente que, para o programa de<br />

desenvolvimento que traçamos para o Brasil, interessa que a biodiversidade possa ser<br />

traduzida em valor econômico. Consequentemente, a apropriação é absolutamente<br />

necessária.<br />

No campo farmacêutico há várias confusões que seguramente minam a segurança<br />

jurídica e tornam mais difícil a cooperação no campo da pesquisa farmacêutica no Brasil,<br />

lembrando que segurança jurídica é fundamental para que você abra o que você conhece<br />

para o parceiro potencial. Se eu tenho alguma dúvida da necessidade de aquele ator<br />

respeitar o contrato que ele firmou comigo, eu não vou abrir, eu não firmo esse contrato e<br />

não convido tal ator para ser meu parceiro.<br />

A exclusão do Brasil das redes de pesquisa em campos avançados onde não há<br />

jurisprudência firmada, onde a lei talvez não seja clara, onde haja ainda muita dúvida quanto<br />

à melhor maneira de se regrar as coisas no Brasil, tem como resultado o sub­investimento e<br />

a sub­participação dos brasileiros na produção de tecnologia nessas áreas. Se a idéia é<br />

não proteger determinado campo, a pergunta é: por quê? Porque não temos pesquisa<br />

54


elevante nesse campo? Ora, se não protegermos, o Brasil não terá uma pesquisa relevante<br />

nesse campo. Se não protegermos, não vai haver nunca, pois não vai ser possível participar<br />

de um ambiente cooperativo para o desenvolvimento desse tipo de pesquisa.<br />

Os tratados internacionais que hoje entendemos serem aqueles que merecem uma<br />

investigação imediata seriam o Protocolo de Madri e os Tratados de Haia, Nice e<br />

Budapeste. e devemos pensar em uma participação mais ampla do Brasil na discussão em<br />

torno do sistema internacional de patentes. O Protocolo de Madri visa facilitar o depósito de<br />

marcas entre países, o Tratado de Haia visa facilitar o depósito de desenhos industriais<br />

entre os países, e o Tratado de Nice visa à harmonização da classificação de marcas. Neste<br />

último caso, aconteceu algo muito curioso. É evidente que há imensas vantagens em se<br />

utilizar uma classificação que todo o mundo utilize frente a se ter a própria classificação<br />

absolutamente heterogênea e que ninguém fora do país e capaz de entender. O Brasil usa a<br />

classificação internacional. Mas como não participamos do Tratado de Nice, não opinamos<br />

sobre ela. Eu acho que este tratado é um dos casos típicos do que vem acontecendo e pode<br />

acontecer com muitas outras coisas no campo da propriedade intelectual. Nós já nos somos<br />

e vamos ser cada vez mais obrigados a nos posicionar frente à realidade de que o mundo<br />

se globaliza. Isso faz com que tenhamos que arcar com compromissos, porque não há outro<br />

jeito. Por outro lado, não se tem a menor possibilidade de opinar sobre a natureza desses<br />

compromissos porque o Brasil não se faz membro dos tratados que regulam esses<br />

compromissos, mas apenas opera como um “usuário­carona”. Nós hoje não opinamos de<br />

modo a tornar a classificação de marcas mais conveniente para os produtos brasileiros.<br />

O Tratado de Budapeste é o mais simples, acho que não deverá apresentar grandes<br />

problemas, embora me suscite certa preocupação, que é justamente a das patentes de<br />

matéria viva, ligada à questão dos centros depositários. Estamos hoje no Brasil construindo<br />

um centro depositário, portanto será absolutamente natural que participemos do Tratado de<br />

Budapeste, até para não gerar um tumulto muito grande no momento em que nosso centro<br />

depositário estiver pronto. Vale aqui lembrar que também pegamos carona nisso, porque<br />

como não temos um centro depositário no Brasil, tacitamente reconhecemos o resultado do<br />

depósito feito em outros países, quando formalmente somente poderíamos reconhecer se<br />

tivéssemos aderido ao tratado. Há um aspecto grave nesse “tacitamente”, que é a<br />

insegurança jurídica que isso traz para essas patentes no Brasil, que podem ser em algum<br />

momento ameaçadas ou desafiadas na justiça, porque não há um depósito no Brasil como<br />

prevê a lei. Ter o centro depositário é fundamental, mas aderir ao Tratado de Budapeste<br />

também me parece que seja.<br />

Em relação ao sistema internacional de patentes, eu tenho convicção de que exista<br />

sim uma harmonização no interesse de todos, mas é preciso discutir que harmonização é<br />

essa. Temos evitado durante muito tempo essa discussão. A posição de não negociar nada<br />

tem sido a posição prevalecente no campo do SPLT. Isso me parece uma escolha que não<br />

faz mais sentido. Talvez possamos negociar um pacote maior do que os critérios básicos de<br />

patenteabilidade. Mas quem trabalha no INPI sabe que trabalhar os critérios de<br />

patenteabilidade faz todo o sentido do mundo se estamos visando a uma cooperação<br />

internacional que aumente a eficiência e qualidade do sistema. Os temas básicos propostos<br />

no SPLT, ao meu ver, não são temas dos países desenvolvidos, mas sim temas que<br />

interessam a todos, inclusive aos países em desenvolvimento. Agora, dizer que discutir os<br />

critérios básicos de patenteabilidade ou as características centrais do sistema somente<br />

interessa aos países desenvolvidos é um erro absoluto.<br />

Muito rapidamente agora, falarei do fortalecimento do INPI e de sua participação nos<br />

debates. Já tivemos a oportunidade de comentar bastante sobre isso, e vale a pena falar<br />

que temos uma preocupação com prazo. No mundo inteiro essa preocupação com prazos<br />

55


existe. Portanto, também vamos enfrentá­la. Na medida em que se enfrenta a preocupação<br />

com os prazos, os processos caminham rápido. Há decisões, controvérsias e discussões na<br />

justiça. Eu acho que a aceleração dos trabalhos do INPI vai produzir nos próximos meses<br />

um aquecimento nesse debate. Isso é absolutamente natural, é muito bem­vindo para um<br />

país que quer avançar no seu marco institucional. Temos buscado fazer com que o sistema<br />

de propriedade intelectual não seja um sistema isolado do tecido de instituições brasileiras<br />

que trabalham para o desenvolvimento, e promovido a integração do sistema no contexto da<br />

Política de Desenvolvimento Produtiva. Temos trabalhado na difusão do conhecimento<br />

sobre o sistema em si com a nossa academia, muito proximamente das universidades e do<br />

sistema industrial. Daqui a pouco a Dra. Diana Jungmann do IEL (CNI) falará no sentido de<br />

levar essa cultura para o mais amplo conjunto de potenciais usuários no Brasil. No judiciário<br />

a discussão também avança. Temos nos preocupado bastante com isso.<br />

Advogamos um sistema que seja multipolar, não advogamos a instituição da patente<br />

mundial como solução para a crise de eficiência dos sistemas de patentes, pela<br />

concentração de poder em muito poucas mãos que seria induzida por uma patente mundial.<br />

No entanto, há muitas alternativas entre a patente mundial e 180 países decidindo<br />

autonomamente, ou fingindo que decidem ­ por que a maioria dos países não consegue<br />

examinar, porque de fato poucos países isolados têm estrutura para isso. Tem que haver no<br />

meio do caminho uma solução de equilíbrio, onde se tenha um número limitado de atores<br />

com estrutura, capacidade institucional, etc. para tomar decisões com peso, com acerto,<br />

com equidade, com eficiência e com qualidade.<br />

A regionalização do sistema nos parece uma estratégia correta. Temos trabalhado<br />

nisso muito pesadamente, partindo do pressuposto de que 95% do sistema já é<br />

naturalmente harmonizado em nossa região, deixando os 5% que não são para depois. Se<br />

conseguirmos trabalhar em harmonia, cooperando efetivamente como os demais países de<br />

América do Sul nos 95% que já são harmônicos, por enquanto, está muito bom. No<br />

momento em que os países, no processo de integração, resolverem atacar os 5% que<br />

restarem não integrados, isso vai ser atacado e vai ser mais fácil implementar, porque<br />

estará implementado sobre uma base comum aos 95% que já são naturalmente<br />

harmonizados. Esse trabalho está agora em curso. Tratamos de montar um consórcio com<br />

todos os países da América do Sul. Temos o apoio de organismos internacionais para fazer<br />

com que esse projeto avance mais rápido. O objetivo é montar uma estrutura coordenada<br />

que tenha a capacidade de desenhar o futuro da propriedade intelectual na América do Sul,<br />

e a partir daí influir na discussão global com mais consistência. Naturalmente, o Brasil tem e<br />

terá um papel de destaque nessa conformação, proporcional ao seu tamanho na economia<br />

do continente.<br />

Muito obrigado.<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Agradeço a exposição abrangente do Dr. Jorge Ávila, que nos apresentou pontos<br />

críticos e uma agenda estratégica tanto horizontal quanto de temas específicos. Conforme já<br />

anunciado pelo próprio Dr. Jorge, temos em seguida a apresentação da Diana Jungmann da<br />

CNI e IEL, que trará a percepção do mundo empresarial.<br />

56


<strong>DIA</strong>NA JUNGMANN<br />

Boa tarde a todos. Em nome do IEL e da CNI, agradeço aos organizadores do<br />

evento a oportunidade de estar aqui hoje e poder passar um pouco sobre nossa visão da<br />

propriedade intelectual.<br />

Vou comentar sobre o trabalho que estamos desenvolvendo. Eu coordeno o<br />

programa de propriedade intelectual para a indústria, uma parceria do IEL com o INPI e o<br />

SENAI. Portanto, mencionarei algumas das ações que estamos desenvolvendo de forma a<br />

dar o enfoque na minha apresentação da propriedade intelectual no âmbito do setor<br />

empresarial. Eu entendo que o público aqui seja na sua grande maioria acadêmico. Queria<br />

ter uma idéia de quem seria da área empresarial. É interessante porque nossos desafios<br />

são muito semelhantes ao mundo da academia, ao mundo da pesquisa. Então, eu acredito<br />

que tudo aqui seja totalmente pertinente ao mundo da pesquisa e desenvolvimento. O foco<br />

da minha apresentação será das oportunidades da propriedade intelectual principalmente na<br />

área da negociação e do licenciamento.<br />

Para um país ter crescimento econômico na era do conhecimento, a base desse<br />

crescimento está lastreada numa legislação forte, na área da propriedade intelectual. Isso é<br />

condição sine qua non para que tenhamos toda uma ambiência de estimulo à inovação.<br />

Portanto, onde não acontece a proteção e não existe o respeito à propriedade intelectual,<br />

não existe ambiente propício para inovar.<br />

O estímulo à inovação, por sua vez, gera um aumento de competitividade no âmbito<br />

empresarial, e o aumento da competitividade contribui para o aumento do desenvolvimento.<br />

Obviamente que à medida que uma empresa se desenvolve, a cadeia produtiva na qual ela<br />

está inserida também se desenvolve, aquele estado, aquela região, o país todo se<br />

desenvolve, e há um avanço com benefício para toda a sociedade. Essa é a visão geral que<br />

o sistema da indústria. Eu não sei se os senhores já tiveram a oportunidade de conhecer o<br />

mapa estratégico da indústria brasileira. Ele foi publicado pela CNI no ano de <strong>20</strong>06. Está<br />

colocada, de uma forma bastante evidente, a importância da propriedade intelectual e da<br />

inovação como fatores chaves para o desenvolvimento sustentável do nosso país. Isso se<br />

torna importante na medida em que leva as empresas a essa condição de ator principal e<br />

chave para o desenvolvimento. Passamos primeiramente por uma questão da área do<br />

direito, porque quando se fala em direito de propriedade, direito é um princípio socialmente<br />

estabelecido e chancelado pela ordem jurídica de cada país. Quando dizemos que existe<br />

direito de propriedade sobre alguma coisa, estamos falando do direito que uma pessoa<br />

física ou jurídica tem, dentro dos limites normativos da lei, onde ela pode ter, usar, gozar e<br />

dispor de um bem tangível ou não, assim como reivindicá­lo de quem justamente o detenha.<br />

No caso da propriedade intelectual, o direito de propriedade está localizado dentro<br />

dos direitos dos bens imateriais que são chamados de ativos intangíveis. Acho que todos já<br />

conhecem a definição de propriedade intelectual pela OMPI, que é a soma de todos os<br />

direitos inerentes às atividades intelectuais nos domínios industriais, científico, literário e<br />

artístico. No caso da propriedade intelectual, ela se divide no direito autoral e no direito<br />

industrial.<br />

No contexto da inovação relacionado à propriedade intelectual, existem vários<br />

conceitos. Eu escolhi aquele que se adapta mais ao ambiente empresarial, sendo a<br />

atividade que leva a idéia de um produto ou processo novo ou já existente, se tornar<br />

disponível no mercado. Eu escolhi esse conceito, porque não adianta nada se ter uma idéia<br />

muito boa para sua empresa ou seu laboratório, se ela não beneficia a sociedade. Então, a<br />

57


inovação dentro deste conceito tem que transbordar e gerar benefício para a sociedade. E é<br />

no mercado é onde acontece a relação de consumo.<br />

A importância da propriedade intelectual é imensa nos dias de hoje, porque temos a<br />

consciência de que vivemos na era do conhecimento, e a desproporção entre o<br />

desconhecimento sobre as leis que protegem o direito de propriedade intelectual e a<br />

importância da propriedade intelectual é imensa. Faz­se necessária a difusão de<br />

informações para que tanto as pessoas e organizações aprendam a lidar com isso.<br />

Em relação à comercialização da propriedade intelectual, à medida que se vincula<br />

propriedade intelectual ao um bem, ele passa a ser visto de uma forma diferente. No mundo<br />

dos negócios a criatividade humana é convertida como propriedade privada, que, portanto,<br />

passa a ser protegida por leis, através do sistema de propriedade intelectual. Como<br />

propriedade, elas passam a ser comercializadas como ativos. E na medida em que se<br />

tornam ativos, já passamos para outro nível de importância, o qual estes bens podem gerar<br />

riquezas. Não é mais simplesmente um conhecimento por si só, e sim um conhecimento de<br />

valor econômico para uma empresa ou instituição que deve ser transacionado de uma forma<br />

bastante diferente que os bens tangíveis tradicionais.<br />

Como vimos os diversos palestrantes anteriores apontarem, esses bens intangíveis<br />

estão colocados dentro dos escritórios de propriedade intelectual no mundo. Hoje os<br />

escritórios mais importantes são dos Estados Unidos, da Europa e do Japão, que<br />

apresentam a maior quantidade mundial desses ativos de propriedade intelectual, não<br />

somente restritos a patentes, mas também a marcas e desenhos industriais. Eles<br />

representam o “cofre­forte” da economia do conhecimento. Também temos o papel, como<br />

representantes da sociedade brasileira, de transformar o INPI em um cofre­forte tão<br />

importante para o nosso país quanto para a economia global.<br />

Para percebermos quais são as oportunidades, se estratificarmos o quantitativo de<br />

patentes brasileiras no INPI, isso gera cerca de 18%. O que significa isso? Significa que<br />

mesmo com todas as dificuldades e críticas, os estrangeiros sabem da importância que tem<br />

o Brasil diante do mercado global, e eles utilizam o nosso INPI, mas nós aqui dentro não o<br />

utilizamos. Temos uma enorme oportunidade que nossos empresários desconhecem, mas<br />

os estrangeiros sabem e usam muito. Somente os Estados Unidos utilizam 30% do nosso<br />

INPI. Portanto, temos que criar a oportunidade para melhorar essas estatísticas, fazendo o<br />

uso do INPI e assim conseguir reverter esses números. Já o panorama do uso do sistema<br />

internacional de propriedade intelectual pelo Brasil nos mostra que estamos muito mal. Não<br />

entendemos bem de propriedade intelectual dentro do próprio Brasil e menos ainda no<br />

exterior. Mais uma vez, nós temos a oportunidade de melhorar nossa posição aqui e fora. As<br />

empresas precisam se conscientizar da importância que existe da ferramenta da proteção<br />

que é dada por esses escritórios internacionais.<br />

Do ponto de vista da empresa, obviamente que isso passa primeiro por uma atitude<br />

empresarial. Este é o nosso grande desafio, da mesma forma que todo o trabalho e esforço<br />

existem por parte das universidades com a implantação dos NITs, para criar uma nova<br />

cultura de proteção e de comercialização de ativos de propriedade intelectual dentro do<br />

ambiente de pesquisa e desenvolvimento. Isso tem que ser feito dentro do ambiente<br />

empresarial com muito mais intensidade. A empresa tem que ter primeiro a percepção de<br />

que para inovar, ela tem que gerar ativos de propriedade intelectual. Portanto, a empresa<br />

tem que fazer o exercício sobre quais são os seus principais ativos. Quais são os ativos que<br />

ela desenvolve, adquire, e como ela gerencia? Ela tem que ter essa percepção. Como essa<br />

empresa cria e mantém vantagem competitiva? O que agrega valor a esses ativos de<br />

propriedade intelectual? A empresa tem que tratar isso de uma forma muito estruturada. São<br />

58


competências novas que são necessárias hoje ao gestor de uma empresa. Talvez antes,<br />

uma década atrás, qualquer um pudesse manter sua competitividade no máximo com o<br />

registro da marca da empresa e de alguns produtos que fossem seu carro­chefe. O<br />

excedente de tecnologia passava totalmente despercebido. Hoje essas questões são<br />

fundamentais na gestão de uma empresa.<br />

Como uma empresa gerencia os riscos sobre esses ativos? Não é somente o fato de<br />

ela manter o seu portfólio de propriedade intelectual. Em vários momentos o portfólio pode<br />

estar sendo ameaçado por concorrentes. Nesse sentido, a empresa tem que fazer a gestão<br />

ativa do seu portfólio em relação aos concorrentes. Há uma série de questões que hoje são<br />

necessárias para um gestor de uma empresa estar ciente da realidade de uma economia<br />

baseada no conhecimento.<br />

No que tange ao monitoramento da propriedade intelectual, várias são as questões<br />

que envolvem a área de informação tecnológica. Quantas empresas perdem a oportunidade<br />

de buscar soluções em bancos de patentes? Em grande medida as informações são<br />

gratuitas, mas o empresariado desconhece aquele tipo de informação, e principalmente<br />

como procurá­la de forma estruturada. Por meio de uma pesquisa estruturada em bancos de<br />

patentes, uma empresa pode identificar novas tecnologias para serem licenciadas, se essas<br />

tecnologias estiverem patenteadas e em vigor, novos parceiros, porque sabendo quem está<br />

desenvolvendo determinada tecnologia, ela pode identificar futuros parceiros para o<br />

desenvolvimento de tecnologias semelhantes. Ela pode monitorar o que os concorrentes<br />

estão fazendo na área que atua, pode verificar se alguém está violando o seu direito de<br />

propriedade intelectual, ou se ela está violando o direito de alguém. Se a empresa identificar<br />

que algo que ela está desenvolvendo já está patenteado, evita­se a perda de tempo e<br />

investimento. O uso de tecnologias em territórios onde aquela tecnologia foi patenteada fica<br />

disponível para os países onde não foi protegida. São inúmeras informações disponíveis<br />

que a empresa, por puro desconhecimento, não se apropria de uma forma competitiva.<br />

A prospecção de áreas tecnológicas de interesse futuro é, por exemplo, do interesse<br />

de governos. Isto pode ser feito pelo monitoramento dos bancos de patente para a<br />

prospecção de tecnologias futuras, ou seja, o que está se fazendo no mundo em termos de<br />

tecnologias X, Y e Z na área de energia? Isso é um importante estudo de observatórios<br />

tecnológicos que podem ser implantados dentro de uma empresa. Na medida em que ela<br />

toma conhecimento de como fazer, ela ganha em termos de conhecimento e de pró­<br />

atividade no sentido de buscar informações para o seu negócio de uma forma muito<br />

interessante.<br />

A maioria das informações contidas em bancos de patentes não está em outros<br />

lugares. No trabalho do IEL com o INPI e o SENAI, estamos capacitando nossos técnicos<br />

para prover esse tipo de serviço à indústria. É uma oportunidade muito grande para<br />

contribuir com o desenvolvimento tecnológico das empresas.<br />

As estratégias de comercialização dos ativos de propriedade intelectual são várias,<br />

como, por exemplo, por meio da venda e do licenciamento, de parcerias, de joint venture, de<br />

spin­off de empresa. Eu vou falar mais sobre o licenciamento, que foi colocado hoje pela<br />

manhã como uma das atividades que mais gera benefício, em termos de retorno do<br />

desenvolvimento de propriedade intelectual. O licenciamento é um direito concedido pelo<br />

proprietário detentor de um determinado ativo a um terceiro, para o uso do mesmo. Porém,<br />

o dono não perde o direito sobre aquela propriedade. É uma forma muito importante de<br />

gerar valor, retornos financeiros para aquele que detém a propriedade, e ampliar seu<br />

portfólio, inclusive de retornos financeiros. Ele pode atuar naquele território, mas pode<br />

licenciar para outros territórios na qual aquela empresa ainda não tenha chegado ou<br />

59


estrategicamente não deseje estar, mas possa licenciar para outras empresas. O contrato<br />

de licenciamento de propriedade intelectual é uma questão muito importante, porque define<br />

uma relação comercial de longo prazo, especialmente aqui no Brasil na relação com as<br />

ICTs. Ele requer suporte e envolvimento contínuo das partes. Um contrato de licenciamento<br />

é tão bom quanto a capacidade de negociação que as partes sejam capazes de fazer. Não é<br />

a conclusão de um relacionamento, e sim o seu início. Isso é especialmente importante para<br />

as universidades, porque existe um esforço muito grande por parte dos NITs de captar o<br />

parceiro empresarial. O esforço não termina quando se consegue o parceiro, mas sim<br />

começa quando esse parceiro é identificado. A manutenção de uma boa relação comercial<br />

deve ser conquistada quando se consegue atrair um bom parceiro comercial, por exemplo,<br />

para uma relação empresa­universidade.<br />

Aqui está o que eu estipulo como licença. Obviamente você tem um cardápio quando<br />

vai trabalhar com licenciamento, dependendo da conveniência da empresa. O pagamento<br />

de royalties é algo muito importante, delicado, e são poucas as pessoas sabem negociar<br />

royalties. Pagamento de royalties obviamente depende de uma negociação, e como<br />

qualquer negociação leva tempo. Tem que haver uma estratégia para se negociar royalties.<br />

Patentes e novas idéias. Isso é muito importante no ambiente acadêmico, porque<br />

quando se inventa alguma coisa, o inventor se apega à sua invenção igual mãe e filho. O<br />

inventor não é a pessoa adequada para negociar, porque ele tem envolvimento emocional<br />

com o invento. Patentes são moedas, o que interessa é a percepção de quanto ela agrega a<br />

um negócio.<br />

O royalty vai estar associado a quê? À extensão da vantagem competitiva que<br />

aquela patente pode vir a dar ao negócio? A duração dessa vantagem competitiva? A<br />

lucratividade da aquisição que aquela tecnologia pode vir a dar? E qual o tamanho do<br />

mercado ao qual ela está associada? A regra número um quando se está negociando<br />

propriedade intelectual e royalties é que a taxa de licenciamento é sempre determinada por<br />

cálculos. A regra número dois refere­se à habilidade de um amador conseguir fechar<br />

qualquer contrato bem sucedido de royalties, o que está associado à capacidade ou<br />

incapacidade de se fazer uma análise de mercado, de finanças. Se um amador vai fazer<br />

uma negociação sobre um contrato envolvendo royalties, a chance de ele ser bem sucedido<br />

na negociação é bem pequena. E a regra número três é que um contrato de licenciamento<br />

vai acomodar qualquer tipo de negociação desde que as partes estejam satisfeitas com o<br />

que foi decidido. O foco não deve ser no percentual de royalties e sim o que ficar definido<br />

nessa negociação que deve ser favorável para ambas as partes.<br />

Então, o resumo é que quem tem o ouro faz a regra. O ouro aqui não significa o<br />

poder econômico, pode ser uma boa tecnologia e as condições necessárias para se<br />

barganhar e negociar muito bem. Obviamente a pessoa que vai conduzir uma negociação<br />

na área de propriedade intelectual tem que entender muito de negócios, de comercialização<br />

e das oportunidades que envolvem esse negócio. Para concluir, a economia está baseada<br />

no direito de propriedade intelectual, e nunca estivemos tão necessitados de conhecimento<br />

sobre negociação na área do conhecimento. Obrigada.<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Agradeço à Diana pela apresentação em que ela reforça conceitos e mostra a<br />

importância da clareza na transmissão do tema propriedade intelectual para a comunidade<br />

empresarial.<br />

60


A última apresentação para encerrar com chave de ouro esse quarteto será feita pelo<br />

nosso diplomata Kenneth da Nóbrega, que trará a visão do Itamaraty novamente sobre o<br />

tema que emoldura esta edição da REPICT, o desenvolvimento da propriedade intelectual<br />

no contexto internacional.<br />

KENNETH FÉLIX HACZYNSKI DA NÓBREGA<br />

Boa tarde. Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer aos organizadores do evento<br />

pela oportunidade dada ao Itamaraty de fazer uma breve apresentação sobre a<br />

implementação da Agenda de Desenvolvimento.<br />

A minha apresentação vai focalizar a gênesis da Agenda do Desenvolvimento e seu<br />

processo de implementação, que apenas agora se inicia sob uma perspectiva política.<br />

Podemos entender a Agenda do Desenvolvimento como uma janela de oportunidades<br />

históricas. O qualificativo histórico traz uma dimensão de singularidade, mas também uma<br />

dimensão de transitoriedade. Em outras palavras, a incrementação da agenda representa<br />

uma oportunidade singular, mas que deve ser aproveitada em certo espaço de tempo.<br />

Quando me refiro à implementação da Agenda, tenho em mente duas vertentes. A<br />

primeira é a implementação da Agenda como um instrumento de diagnóstico do efeito das<br />

regras de propriedade intelectual sobre os países em desenvolvimento e também como<br />

desenvolvimento de uma base de conhecimento de estudos de impacto para que os países<br />

possam construir os seus regimes internos de acordo com as flexibilidades que o regime<br />

internacional de propriedade intelectual proporciona. A segunda vertente é a da<br />

implementação da Agenda como uma plataforma de negociação para os países em<br />

desenvolvimento em face das plataformas de negociação dos países desenvolvidos, hoje<br />

em dia concentrados na questão da harmonização patentária, como já foi explicado pelo Dr.<br />

Ávila. Eu usei o vínculo entre as duas agendas, as duas plataformas de negociação, uma<br />

em relação à outra, não por ser diplomata, mas porque não quero pré­julgar uma relação de<br />

oposição ou de cooperação, mesmo porque no mundo das negociações comerciais essas<br />

duas categorias não existem em estado puro. A cooperação e o confronto sempre coexistem<br />

e, em algum momento, um deles deixa de prevalecer.<br />

A Agenda do Desenvolvimento foi a resposta do Brasil e da Argentina, assim como<br />

de outros países em desenvolvimento, à outra agenda: a Agenda dos Países<br />

Desenvolvidos. Na época, as agendas chamadas digitais e de patentes visavam ao<br />

aprofundamento da harmonização internacional e ao aprofundamento dos direitos de<br />

propriedade intelectual para além dos padrões que já estavam estabelecidos no acordo de<br />

TRIPS na pós­Rodada Uruguai.<br />

A Agenda dos Países Desenvolvidos parte do pressuposto de que o fortalecimento<br />

dos direitos de propriedade intelectual seria uma finalidade em si mesma e que<br />

automaticamente levaria ao desenvolvimento tecnológico e socioeconômico.. O Conteúdo<br />

da agenda dos países desenvolvidos não esteve voltado ao sentido do fortalecimento do<br />

regime já existente, mas, sim, ao sentido do aprofundamento da harmonização dos regimes<br />

nacionais. Frente a esse pensamento, a Agenda do Desenvolvimento buscou expor as<br />

limitações desse enfoque. Os efeitos de indução de propriedade intelectual sobre o<br />

desenvolvimento tecnológico e socioeconômico dependem da existência de determinadas<br />

condições institucionais, culturais e educacionais nos países receptores e não são, portanto,<br />

automáticos.<br />

61


É por essa razão que os formuladores da Agenda de Desenvolvimento insistiram na<br />

manutenção, pelo menos nos primeiros anos de Rodada Uruguai, do regime internacional,<br />

tal como ele havia sido acordado ao final da rodada, com o Acordo de TRIPS. Os<br />

formuladores da Agenda do Desenvolvimento, entretanto, não tinham como objetivo<br />

confrontar o regime multilateral de propriedade intelectual. O que se almejava era corrigir os<br />

rumos da agenda internacional de aprofundamento e de disseminação desse regime. A<br />

atuação do Brasil buscou refletir nossas realidades nacionais. Apesar de a Agenda do<br />

Desenvolvimento ter uma vocação universal e ter sido, enfim, defendida ou colocada na<br />

OMPI como uma agenda de vocação universal, que atendia às aspirações dos países em<br />

desenvolvimento em seu conjunto, os Governos brasileiro e argentino cunharam esse<br />

processo. Os objetivos básicos foram dois: o primeiro foi dar às sociedades brasileira e<br />

argentina tempo para se ajustarem e avaliarem as novas regras introduzidas pelo acordo de<br />

TRIPS. Vale a pena lembrar que, durante a Rodada Uruguai, o Brasil vivia um momento de<br />

esgotamento do modelo de substituição de importações (que não tinha na inovação um foco<br />

principal), num momento de hiperinflação. Experimentávamos um processo de<br />

redemocratização com um passivo de exclusão social muito grande. Foi num momento em<br />

que não se conseguia, com base em debate qualificado, formular posições internacionais<br />

que refletissem alguma opção para o futuro do país e para o futuro do modelo econômico. O<br />

segundo objetivo foi muito ligado ao primeiro: evitar novos compromissos internacionais que<br />

retirassem do país a oportunidade de articular, dentro das regras do sistema internacional,<br />

um regime sintonizado com um novo modelo econômico, com uma eventual futura política<br />

industrial. Na verdade, o que se queria era que fizéssemos o dever de casa que os outros<br />

paises tinham feito, debatendo internamente as suas prioridades e desenvolvendo seus<br />

próprios modelos econômicos,<br />

Atualmente, o ordenamento jurídico de propriedade intelectual europeu pode se<br />

assemelhar, em muitos aspectos, ao norte­americano, mas não se sobrepõe a ele. Nesse<br />

sentido, vale aqui uma observação: nós temos consciência que não cabe aos formuladores<br />

de política externa definir a opção da sociedade brasileira quanto ao regime interno de<br />

propriedade intelectual, mas também temos a consciência da importância de garantir espaço<br />

para que esse debate seja levado à frente pela nossa sociedade e que ele possa definir<br />

nossas opções e também temos a disposição de assumir riscos em função de uma decisão<br />

estratégica de política industrial e de política de desenvolvimento.<br />

Como se sabe, a Agenda do Desenvolvimento foi aprovada na Assembléia Geral de<br />

<strong>20</strong>07, na forma de 45 recomendações que estão classificadas em seis grupos. No momento<br />

da aprovação dessas recomendações, foi criado o Comitê de Desenvolvimento de<br />

Propriedade Intelectual, para ter a função de desenvolver programas de implementação<br />

para monitorar e assegurar a coordenação entre os trabalhos deste comitê com a OMPI. As<br />

recomendações da Agenda não compõem um sistema de recomendações integradas. Elas<br />

foram negociadas uma a uma. No início, eram 111 recomendações que foram reduzidas<br />

para 45. Elas são, no entanto, mais do que uma mera lista de recomendações. A<br />

implementação de uma recomendação reforça outra recomendação. Um claro exemplo<br />

disso é o dos estudos de impacto que fornecerão subsídios para que os países façam<br />

propostas legislativas internas e desenvolvam as suas posições internacionais. A percepção<br />

do governo brasileiro é a de que a implementação da Agenda começou bem. São 13<br />

recomendações que foram discutidas já em profundidade. Para algumas recomendações, já<br />

há uma determinação de orçamento. O que se notou foi, nos primeiros meses, uma<br />

discussão avançada.<br />

Uma segunda vertente de implementação da Agenda é a criação de uma plataforma<br />

de negociação para os países em desenvolvimento, com resultados dos estudos e dos<br />

diagnósticos decorrentes da sua implementação: uma plataforma negociadora. Este é um<br />

62


desafio sistêmico maior trazido pela Agenda do Desenvolvimento, porque, para implementar<br />

essa plataforma negociadora, é necessário que os temas de desenvolvimento sejam<br />

discutidos simultaneamente não só no comitê de desenvolvimento, mas também nos<br />

comitês de patentes e de direitos de autor.<br />

Os países desenvolvidos se expressam, sobretudo hoje em dia, no comitê de<br />

patentes, no qual as negociações tendem a ser, em curto prazo, mais candentes. É um<br />

grande desafio ter uma discussão, lastreada não apenas nas experiências nacionais e nas<br />

prioridades de política industrial brasileira, mas também lastreada nos diagnósticos do efeito<br />

da propriedade intelectual sobre as suas economias, que associe esses lastros e que possa<br />

convergir para um consenso e para um desafio nesse sentido. Acho que temos alguns<br />

motivos para sermos otimistas no momento em que se possa identificar a convergência de<br />

interesses.<br />

A implementação da Agenda está no início, e não podemos avaliar ainda seus<br />

resultados. Podemos constatar que ela começou bem. Para substituir uma avaliação, que<br />

seria ainda muito embrionária para uma discussão em perspectiva, é importante falar sobre<br />

oportunidades e desafios.<br />

O objetivo principal da implementação da Agenda seria reverter essa tendência<br />

histórica, que foi tão bem expressa na palestra do Alejandro Roca, sobre a concentração em<br />

um punhado de países dos ganhos e das oportunidades oferecidas pelo sistema. Outro<br />

resultado da implementação seria os países começarem a participar desse jogo e participar<br />

da elaboração das regras do jogo, o que aumentaria sua capacidade de influenciar as<br />

negociações internacionais que discutem a evolução e os desafios do regime internacional.<br />

Como conclusão, gostaria de discutir a segunda vertente e o interesse do Brasil. O<br />

Brasil tem uma grande responsabilidade, porque foi um dos líderes do lançamento da<br />

Agenda, de fazer que ela seja implementada na sua parte técnica, mas que politicamente se<br />

transforme em um instrumento de diálogo. Naturalmente, para que possamos ter um<br />

instrumento de diálogo, precisamos saber o que queremos, precisamos fazer isso com um<br />

pragmatismo refinado, saber buscar o que queremos e em que ponto nós podemos ceder,<br />

em que ponto nós podemos assumir riscos. A melhor ilustração é exatamente o que Jorge<br />

Ávila mencionou sobre a harmonização patentária, tema no qual se identifica a demanda<br />

mais urgente e mais forte, nesse momento, dos países desenvolvidos. Esse é um trabalho<br />

interno, para que possamos construir o que chamamos de fichas negociadoras e para que<br />

possamos trocar uma ficha de mil por cinco de duzentos. Se tivermos o interesse<br />

monolítico, não poderemos ter flexibilidade na hora de negociar. Não são trata somente<br />

construir as fichas. Do outro lado da mesa, também deve haver disposição para o diálogo.<br />

Esse aspecto da Agenda de Desenvolvimento depende tanto dos países em<br />

desenvolvimento quanto dos países desenvolvidos, que devem buscar essa convergência e<br />

desenvolver um mecanismo crescente de confiança, um mecanismo de interesse comum, e<br />

manter a OMPI como centro das negociações multilaterais de propriedade intelectual. Se o<br />

diálogo se romper, a tendência é a fragmentação dos foros. Há um interesse tanto dos<br />

países desenvolvidos como dos países em desenvolvimento de manter o foro multilateral<br />

como o centro das negociações. Por um lado, os países em desenvolvimento têm a melhor<br />

oportunidade de influenciar a construção das regras do jogo. Por outro lado, os países<br />

desenvolvidos não têm uma plena preferência pelos foros restritos, porque naturalmente<br />

eles terão aplicação restrita e causarão a fragmentação do regime internacional de<br />

propriedade intelectual no mundo da economia globalizada, o que não interessa a ninguém.<br />

Essas são as minhas observações sobre a implementação da Agenda de Desenvolvimento.<br />

Muito obrigado.<br />

63


GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Agradeço ao Kenneth da Nóbrega pela apresentação na qual ele, em poucos<br />

minutos, conseguiu nos passar sobre a Agenda do Desenvolvimento, sua gênesis e o<br />

processo inicial de implementação. Isso nos permitiu também compartilhar um pouco a<br />

estrutura de raciocínio do Itamaraty com relação a essa complexa negociação internacional.<br />

Temos agora vinte minutos para perguntas e respostas.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Esta pergunta é para Diana Jungmann. Até que ponto, na sua leitura, esse interesse<br />

e essa compreensão apresentada sobre a propriedade intelectual, sobre sua gestão e suas<br />

oportunidades, estão se disseminando no setor empresarial? Você fez questão de mostrar<br />

que, dada a arquitetura dos eventos do IEL com poucas pessoas presentes, quais medidas<br />

o IEL vem tomando para incrementar?<br />

LÚCIA, INPI<br />

A minha pergunta é para o Dr. Jorge. Existe a conveniência de criar uma agência<br />

reguladora sobre propriedade intelectual e inovação que facilitaria não só o que o professor<br />

Glauco Arbix disse hoje pela manhã, sobre a dificuldade de se ter uma centralização nas<br />

decisões, mas também em facilitar qualquer atuação de fomento na área?<br />

CRISTIANO, AGÊNCIA UFRJ <strong>DE</strong> INOVAÇÃO<br />

A minha pergunta é também para Diana Jungmann. Na sua apresentação você fala<br />

bastante sobre patente, sobre a questão dos direitos de propriedade industrial, como uma<br />

forma de desenvolvimento tecnológico, mas o que observamos é que a maior parte das<br />

pesquisas tecnológicas no Brasil são realizadas dentro de universidades e centros de<br />

pesquisas. Poucas delas chegam à indústria, embora atualmente a Lei do Bem tenha<br />

melhorado um pouco isso. Queria saber qual é a opinião do IEL e da CNI. O que poderia ser<br />

feito para aumentar ainda mais essa transferência de tecnologia gerada numa universidade<br />

em direção a empresas privadas brasileiras, no sentido de fazer essa transformação de<br />

geração de emprego e de aumentar a produtividade nas indústrias nacionais e o<br />

desenvolvimento social no Brasil?<br />

<strong>DIA</strong>NA JUNGMANN<br />

Com relação à resposta para a primeira pergunta, o IEL, como todos devem saber, é<br />

o instituto da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que dentro de suas atividades é<br />

responsável pela integração entre a empresa e os centros de pesquisa. No âmbito da<br />

propriedade intelectual, agora mais do que nunca, depois do nosso trabalho intensificado<br />

com o convênio celebrado com o INPI, envolvendo o SENAI e o IEL, temos fortalecido<br />

bastante a parceria de nossas instituições, no sentido do fomento da propriedade intelectual<br />

64


como uma ferramenta muito importante para a competitividade das empresas. Isso, no<br />

âmbito do IEL, nos estados, reverte para as atividades de parcerias com os centros de<br />

pesquisa da sua região. Os resultados não são da noite para o dia, mas, aos poucos, vemos<br />

os eventos que começam a acontecer em que o tema da propriedade intelectual passa a<br />

estar presente não só no ambiente empresarial, mas também no ambiente que envolve a<br />

academia. Temos participado com os representantes dos NITs, por exemplo, com a nossa<br />

amiga do FORTEC na área de segurança jurídica, onde um dos temas é a área de<br />

propriedade intelectual. Então nós articulamos isso juntos. No caso estadual, isso tem sido<br />

fortalecido, e eu acredito que isso cause uma boa visibilidade para o trabalho que esta<br />

sendo realizado nos NITs. Em vários estados as parcerias já existiam.<br />

Com relação à segunda pergunta, sobre a baixa existência de transferência de<br />

tecnologia entre o meio acadêmico e o meio empresarial, isso se deve primeiro, por fatores<br />

históricos, porque esses mundos passaram a viver de formas distantes por muitos anos. A<br />

Lei da Inovação é muito recente, e esses dois mundos ainda não conhecem a fundo a sua<br />

aplicação. Isso causa uma insegurança muito grande nas relações. Ainda estamos<br />

aprendendo a conviver. Obviamente que é muito mais difícil que os resultados das<br />

pesquisas, que nascem de percepções dos cientistas, virem produtos, do que uma demanda<br />

que vem da indústria para ser desenvolvida dentro da universidade. Quando a empresa vai<br />

desenvolver alguma coisa dentro da universidade, alguma parte de uma tecnologia que<br />

esteja faltando para um processo produtivo ou a melhoria desse processo, ela já parte da<br />

demanda que ela conhece dentro do mercado. O ambiente acadêmico, pela sua própria<br />

natureza, não está em contato direto com o mercado. Isso torna muito mais difícil que um<br />

produto gerado no ambiente acadêmico tenha a chance de chegar ao mercado. E as<br />

relações contratuais nesses dois mundos ainda são difíceis. Estamos aprendendo ainda<br />

como lidar com isso. A tendência é que esse diálogo aumente com os trabalhos dos NITs,<br />

porque os NITs estão sendo implantados para dar o suporte na negociação. Eu acredito que<br />

quando a demanda vem do setor empresarial a chance dessas tecnologias voltarem ao<br />

mercado de uma forma bem sucedida seja muito maior.<br />

JORGE ÁVILA<br />

Com relação à questão de uma agência reguladora, ou seja, a pergunta poderia ser<br />

se o INPI deveria ser organizado como uma agência reguladora? Eu não sei se temos uma<br />

discussão em curso e se pretendemos aprofundá­la sobre a natureza jurídica do INPI. O<br />

INPI, eu acostumo dizer, é uma autarquia à moda antiga, ou seja, uma autarquia que foi<br />

idealizada na década de 60, institucionalizada no começo da década de 70, muito antes da<br />

discussão de outros modelos organizacionais do Estado que vieram a emergir após da<br />

Constituição de 1988. A própria lei da propriedade industrial foi discutida depois da<br />

Constituição de 1988 e não trouxe junto com ela uma rediscussão da natureza institucional<br />

do INPI. O legislador quis dar ao INPI uma autonomia grande, estabeleceu o artigo 239 do<br />

INPI. Mas isso não teve reflexo num projeto de lei que reformasse a natureza jurídica do<br />

INPI, ter o INPI com maior capacidade de gerir autonomamente os recursos de que<br />

necessita para garantir segurança jurídica da propriedade intelectual. Agora é preciso<br />

verificar de uma forma adequada de uma agência reguladora ou alguma outra modalidade<br />

institucional presente. Há varias sugestões. Quem tem nos sugerido um modelo semelhante<br />

é a CVM, uma autarquia especial com alguns atributos diferenciados. Acho que há que se<br />

estudar isso. De fato, a natureza jurídica do INPI é uma questão que a progressiva<br />

profissionalização do INPI vai obrigar fazer em algum momento. Queria somente<br />

complementar a resposta da Diana sobre a aproximação universidade­empresa e lembrar<br />

do que o Glauco Arbix falou de manhã. Há pontos da Lei de Inovação onde se identificam<br />

alguns conflitos de interpretação, em particular quando se confronta a Lei de Inovação com<br />

65


a Lei 8.666. Há todo um conjunto de regramentos das atividades de encomenda, de<br />

relacionamento entre Estado e empresa que afetam as universidades públicas, os institutos<br />

públicos de pesquisa. Isso, em algum momento, terá que ser clareado no âmbito do próprio<br />

judiciário, criando uma interpretação que prevaleça e que tire essa camada de insegurança<br />

através de reformas legislativas que introduzam com mais clareza as regras do jogo para<br />

esse tipo de operação. Isso gera uma segurança e um atraso, torna o processo muito lento,<br />

um processo relativamente arriscado do lado do investidor, que percebe aquilo como um<br />

risco do investimento que possa vir a ser perdido – o que diminui o número de transações –<br />

e, do lado da universidade, fica uma discussão que se alonga por meses com a<br />

Procuradoria. Agora, isso acontece com naturalidade pelo fato de a lei ser novo, ter sido<br />

regulamentada e estar sendo executada há apenas quatro anos. O aspecto que a Diana<br />

levantou, cuja discussão tem ocorrido nos órgãos de fomento, é como se faz para orientar<br />

um pouco mais o financiamento da pesquisa para a demanda. Não é a demanda como a<br />

academia esta acostumada a chamar, não é a demanda sobre o que deve ser pesquisado<br />

no âmbito do fomento de ciência e tecnologia no Brasil, ou seja, a vontade que os<br />

pesquisadores tem para ter dinheiro para suas pesquisas. Viemos de uma tradição de<br />

desenvolvimento econômico onde demanda é demanda, ou seja, aquilo que a sociedade<br />

quer que seja desenvolvido, pesquisado. A orientação para essa demanda da empresa tem<br />

um problema quanto ao aspecto financeiro, que é algo que precisamos atacar, mas também<br />

apresenta um aspecto cultural muito sério: ainda há uma subvalorização do trabalho de<br />

pesquisa aplicada. A pesquisa desenhada que emerge de uma demanda empresarial não é<br />

vista com o mesmo respeito com que se vê a pesquisa básica organizada a partir dos<br />

anseios dos próprios grupos de pesquisa. Há aí um problema cultural para ser enfrentado.<br />

Eu creio que todas essas questões vão inevitavelmente caminhar numa mesma direção de<br />

solução. Eu sou otimista e acho que temos que dar tempo para que as coisas possam<br />

funcionar. Sinceramente, eu acho que não estamos parados, o país está avançando, e a<br />

realidade vai nos mostrar isso no nosso tempo de atividade profissional com o país muito<br />

diferente nesse campo nos próximos anos.<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Vamos agora para a última rodada de perguntas. A primeira rodada focalizou nos<br />

temas internos ao Brasil, com Diana Jungmann e Jorge Ávila. Agora, na segunda rodada, se<br />

pudermos, vamos focar mais no ambiente internacional tratado por Alejandro Roca e<br />

Kenneth Félix da Nóbrega. A palavra está aberta.<br />

LEILA DA PETROBRAS<br />

É importante para nós como empresa entrar com o pedido de patente via PCT. Mas<br />

a participação dos países da América do Sul tem sido pequena. Eu queria saber o que a<br />

OMPI e o INPI vêm fazendo mais efetivamente para incluir a participação desses paises no<br />

PCT.<br />

GUILHERME ARY PLONSKI<br />

Ficamos, então, com esta única pergunta específica sobre a América do Sul, mas por<br />

outro lado abrangente, pegando o tema da internacionalização da questão. Eu peço que<br />

inicialmente o Alejandro responda como representante da OMPI.<br />

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LICENCIAMENTO EM CENA<br />

Licensing Executive Society (LES) Brasil<br />

Palestrantes:<br />

Tatiana Campello Lopes, sócia do Escritório Demarest & Almeida Advogados.<br />

José Carlos Vaz e Dias, sócio do Escritório Di Blasi, Parente, Vaz e Dias & Associados.<br />

João Marcelo de Lima Assafim, sócio do Escritório De Lima Assafim & Advogados<br />

Associados.<br />

DANIELA LIMA CERQUEIRA<br />

Boa tarde a todos. Daremos início à última sessão do dia de hoje antes do nosso<br />

tradicional coquetel. Licenciamento em Cena é um novo espaço concebido no âmbito da<br />

parceria da REPICT com a LES Brasil para divulgar o tema do licenciamento de tecnologia<br />

de maneira descontraída. Neste sentido, eu gostaria de apresentar­lhes os palestrantes que<br />

farão parte desta encenação.<br />

Tatiana Campello Lopes é graduada em direito pela Cândido Mendes em 1993,<br />

especializando­se em Direito Empresarial pela Faculdade de Direito da PUC de São Paulo<br />

em 1997. Atua nas áreas de propriedade intelectual, contratos, tecnologia, e­commerce e<br />

internet, esportes e entretenimento e societária e mercado de capitais. É membro da<br />

Diretoria da Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial (ABAPI), da<br />

Licensing Executive Society (LES) Brasil, na qualidade de Diretora de Estudos e Eventos. É<br />

co­coordenadora da Comissão de Transferência de Tecnologia e Franquia da Associação<br />

Brasileira de Propriedade Intelectual (ABPI).<br />

Marcelo de Lima Assafim possui doutorado em Direito pela Universidade Santiago de<br />

Compostela, com revalidação pela USP. Atualmente é professor permanente e coordenador<br />

do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes. É professor adjunto<br />

da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, Diretor de Estudos da ABAPI e da LES Brasil.<br />

Integra também a Rede Internacional de Pesquisa em Inovação MINDS. Tem experiência na<br />

área de direito, com ênfase em direito privado, atuando principalmente nos seguintes temas:<br />

transferência de tecnologia, restrições à concorrência, antitruste, know­how e licença de<br />

patentes.<br />

Por último, José Carlos Vaz e Dias, advogado atuante na área do direito de<br />

propriedade intelectual, possui especialidade em proteção de marcas e concorrência desleal<br />

e em assistência aos contratos comerciais de transferência de tecnologia e em Lei de<br />

Inovação. Formado pela Universidade de Brasília (UnB), é pós­graduado pela Universidade<br />

de Kent, na Inglaterra, onde obteve o título de mestre e doutor em direito da propriedade<br />

intelectual e investimento estrangeiro. É professor adjunto em direito da propriedade<br />

intelectual pela Faculdade de Direito da UERJ.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Boa tarde a todos. É uma honra estar participando do evento da REPICT deste ano.<br />

É também uma honra poder, talvez pela primeira vez, representar num evento dessa<br />

envergadura a Licensing Executive Society, mais especificamente a LES Brasil. Antes de<br />

iniciar essa nova dinâmica, que foge um pouco dos parâmetros tradicionais das palestras<br />

67


que comumente conhecemos, seja na academia, seja em eventos como este aqui, eu<br />

gostaria de falar um pouco da LES.<br />

Aliás, antes de falar da LES, eu queria consignar que a nossa vice­presidente,<br />

doutora Juliana Viegas, está presente aqui. Agradeço por estar nos prestigiando.<br />

Esperamos representar bem a nossa associação. Vou ler um pouco sobre o que é a<br />

LESI. A LESI é uma associação internacional. LESI é a sigla da Licensing Executive Society<br />

Internacional Inc. Em tradução literal significa Sociedade Internacional de Executivos de<br />

Licenciamento, ou seja, trata­se de uma sociedade que congrega profissionais atuantes na<br />

área de licenciamento, de direito de propriedade intelectual no sentido amplo, tais como<br />

patentes, marcas, direitos autorais, segredos de negócio, de fábrica, etc. A LESI, mais<br />

conhecida entre seus membros como LES, é composta de vinte e oito sociedades ou grupos<br />

nacionais e regionais, entre eles a LES Brasil. O nosso website www.lesi.org define a<br />

entidade, o que reproduzirei para vocês: uma associação de mais de trinta sociedades<br />

nacionais e regionais, cada uma composta de homens e mulheres que possuem interesse<br />

na área de transferência de tecnologia ou licenciamento de direitos de propriedade<br />

intelectual, desde know­how técnico e invenções patenteadas, até software, direitos de autor<br />

e marcas de indústria, comércio e serviço.<br />

A LES Brasil, que embora já participa das atividades no Brasil há algum tempo,<br />

acaba de viver um momento histórico ao tornar­se independente da sociedade mãe, a ABPI,<br />

representada por nossa presidente aqui presente, novamente a doutora Juliana Viegas.<br />

Convivemos em constante harmonia, mas os objetivos da LES são muito específicos.<br />

Temos um grande número de advogados envolvidos na LES Brasil, até por motivos<br />

históricos, mas o objetivo maior é alcançar os executivos de licenciamento, aqueles que<br />

trabalham ou vendendo ou comprando tecnologia. É bem verdade que outras redes de<br />

tecnologia com muita expressão já existem no Brasil, mas eu acredito que nenhuma com a<br />

abrangência internacional da LESI.<br />

Por fim, temos o caráter internacional da LES, que nos motiva estar aqui hoje, que se<br />

traduz pela realização de atividades e eventos nacionais, regionais, internacionais, tais<br />

como congressos, seminários, cursos e pesquisas. São cursos que ministramos no país,<br />

sobretudo conectados com os avanços do nosso sistema de inovação. Temos cursos<br />

introdutórios de um dia e cursos avançados de três ou quatro dias, conforme as<br />

necessidades. Recentemente ministramos um bom curso para a Agência Inova,<br />

Fundamentals 101 102 103. O terceiro curso está encomendado e deve acontecer em<br />

breve. No ano que vem, em abril, teremos encontros com cursos de apenas um dia e cursos<br />

mais avançados para aqueles que poderão ser, no futuro, nossos professores.<br />

Por fim, temos um grande atrativo para os novos membros, que é uma publicação<br />

que é chamada de Les Nouvelles, que reúne os artigos dos maiores especialistas no mundo<br />

inteiro da LES International. Temos aqui um representante da LES Germany, que já foi ex­<br />

presidente, o doutor Bertran Huber.<br />

Eu devo agradecer ao professor José Carlos Vaz e Dias pelo trabalho excepcional na<br />

conclusão dessa dinâmica, e como ele dedicou muitas horas do seu tempo nesse trabalho,<br />

vou passar a palavra para que ele possa nos mostrar como funcionará a dinâmica do dia de<br />

hoje.<br />

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JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Boa tarde. Agradeço as palavras. Depois dessa breve introdução sobre o que é a<br />

LESI e a LES Brasil, acho que vale a pena falar um pouco da formatação do caso que<br />

vamos apresentar agora. Aliás, fizemos essa proposta para a Rede de Tecnologia, que<br />

realmente comprou a idéia. Ela decorreu das oportunidades de negócio na área tecnológica,<br />

que cresceram substancialmente com a redução do Estado na economia. Se no passado o<br />

aspecto principal era o que o INPI ia tratar ou as exigências do INPI na averbação dos<br />

contratos, com a saída gradual do INPI nessa averbação, principalmente nos contratos entre<br />

empresas locais, contratos de parceria tecnológica, tornou­se indispensável o<br />

aperfeiçoamento em técnicas de negociação. Além do mais, é uma realidade encontrada<br />

pela LES quando fizemos os cursos na Agência Inova e em outros institutos e empresas, e<br />

também uma realidade que particularmente eu tenho encontrado quando sou chamado pelo<br />

INPI para ir às universidades, para ensinar sobre gestão tecnológica e técnicas de<br />

negociação, é que os pesquisadores das universidades têm uma vontade enorme em<br />

aprender, conhecem profundamente a legislação aplicável aos contratos de licenciamento,<br />

transferência de tecnologia e parceria tecnológica, mas não sabem negociar. A negociação,<br />

como em qualquer tipo de empreendimento, parte da formatação de um documento inicial,<br />

que é o que vamos discutir hoje, a chamada agenda de negociação. Se levarmos para o<br />

mundo empresarial, para o entendimento, isso se chamaria plano de negócios.<br />

Fizemos uma reformatação de um caso da LESI, e como é uma das obrigações da<br />

LES Brasil quando se traz para o Brasil algum caso hipotético, falarei um pouco de como ele<br />

foi concebido. Então, farei uma leitura. Esse caso refere­se à negociação de duas empresas<br />

sobre um licenciamento, da Ocker Ltda para a Uncle Sam Inc, empresa cujo nome que foi<br />

alterada para um melhor entendimento do público. Foi originalmente escrito por Crispin<br />

Marsh, com auxílio de John Terry e Alan Len Bourry, tendo sido recentemente revisado por<br />

John Stoner.<br />

A história foi baseada numa situação real fornecida por Lew Remen de Stanford<br />

University, primeiramente apresentada no primeiro encontro anual da LESI em Sidney,<br />

Austrália, em 1977. Tem sido, desde então, jogado nos Estados Unidos, na Alemanha e em<br />

diversos países da América Latina, incluindo o Brasil. Para esse XI Encontro da REPICT, a<br />

LES Brasil adaptou o jogo da LES Internacional à realidade brasileira, renomeado as partes<br />

contratantes como empresas brasileiras, sendo a Ocker Ltda a titular da tecnologia em uma<br />

negociação, e a Brasil Mineral S/A como parte interessada na contratação tecnológica.<br />

Teremos como licenciante a Ocker, titular da patente, e do outro lado, como licenciada<br />

interessada a Brasil Mineral S.A., uma empresa do Pará. Nessa negociação, a LES focou o<br />

jogo de licenciamento na estruturação de uma agenda de negociação. Isso é o básico para<br />

qualquer tipo de tratativa, para iniciar as conversas. Foram estabelecidos nessa adaptação<br />

alguns dos principais aspectos empresariais e jurídicos de uma negociação, e talvez<br />

controversos, que podem determinar uma polarização de posições entre os interesses do<br />

licenciante e do licenciado. Se não forem adequadamente abordados nessa agenda, esses<br />

aspectos podem emperrar uma negociação. Esse é o nosso caso, que no final acabou nos<br />

envolvendo, cada um representando uma empresa diferente. Os participantes são os<br />

advogados do licenciado e licenciante, que foram envolvidos logo no início das negociações,<br />

pela completa falta de técnica e competência em organizar uma agenda de negociação,<br />

necessária para racionalizar as discussões de pontos jurídicos.<br />

Os objetivos deste caso são, primeiramente, estimular os participantes em considerar<br />

profundamente uma situação de negociação hipotética, identificando as questões chaves do<br />

que for discutido para aprimorar a negociação, e, logicamente, buscar uma cooperação<br />

entre licenciado e licenciante, tendo aquele preâmbulo que a OMPI sempre traz – e a<br />

69


Beatriz Amorim sempre cita nos cursos – que é a situação win­win, ou seja, os dois lados<br />

saem satisfeitos de uma negociação. O segundo objetivo é compreender melhor a<br />

necessidade de estabelecer parâmetros para a discussão através de uma agenda de<br />

negociação.<br />

Eu passo a palavra ao João Marcelo Assafim para explicar o caso, e em seguida<br />

faremos aqui o nosso teatro.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Vamos ao caso. A hipótese tem a ver com a extração de cobre. Nessa exploração,<br />

na jazida de cobre, mais de 90% desse estoque de minério no mundo ocorre com potencial<br />

dano ambiental. Escapa para a atmosfera sulfeto de enxofre na hora da extração, que são<br />

recuperados numa concentração que normalmente contém <strong>20</strong> a 30% de enxofre.<br />

Convencionalmente essa concentração evapora e a maioria, se não todo o enxofre, é<br />

emitida na atmosfera como dióxido de enxofre (SO2). O SO2 é um químico muito tóxico e de<br />

conseqüências ambientais indiscutíveis. As administrações públicas ambientais dos<br />

principais países vêm se preocupando constantemente com esse impacto negativo. Países<br />

como Estados Unidos, Brasil, Austrália, Canadá e Peru vêm tomando algumas medidas e,<br />

sobretudo, têm sido menos tolerantes com a poluição através desse químico.<br />

Coincidentemente, os governos do Canadá, Peru e Brasil alcançaram um grande feito<br />

ambiental ao ter conseguido aprovação, junto ao Congresso Nacional de cada um desses<br />

países, leis federais que regulamentam a emissão dessa substância. Essas leis, que<br />

costumam limitar a emissão normalmente em torno de 10%, não mais do que isso, contido<br />

na concentração de minério, limitam a emissão desse dióxido de enxofre. Temos uma<br />

limitação legislativa que cria um problema técnico para a extração.<br />

Acredita­se que até meados de <strong>20</strong>09 leis mais rígidas sejam aprovadas nos Estados<br />

Unidos e no Chile, com a tolerância na emissão de no máximo 5% de enxofre na atmosfera.<br />

Cumpre ressaltar que no Brasil a adoção de leis ambientais nessa matéria decorreu da<br />

enorme jazida de cobre descoberta na Serra dos Carajás, no Pará, em <strong>20</strong>05. Um inventor<br />

individual, uma pessoa física, doutor Humberto, consultor químico independente, sem<br />

qualquer ligação com a universidade ou a indústria, com extenso conhecimento do estado<br />

da arte do processamento de cobre e minerais de sulfeto, descobriu um processo para<br />

utilizar uma reação química previamente conhecida, com o propósito de reduzir as emissões<br />

de dióxido de enxofre durante o refino dos minerais de sulfeto de cobre. Ao desenvolver<br />

esse processo químico industrial, esse pesquisador contatou uma indústria, a Ocker Ltda,<br />

empresa paraense, criada em <strong>20</strong>04, com o objeto social que compreende o<br />

desenvolvimento de intangíveis por meio de parcerias tecnológicas, bem como a compra e<br />

venda e o licenciamento de tecnologia. Ele transferiu os seus direitos sobre a invenção para<br />

esta empresa no mercado brasileiro. Para nós, advogados, há uma primeira diferença, não<br />

estou falando do direito de patente, que este não existe, mas o direito à patente. Esse é o<br />

direito que está em questão no primeiro momento. A transferência ocorreu por meio da troca<br />

de uma parcela de cotas da Ocker Ltda, que foi transferida ao Sr. Humberto, e o Sr.<br />

Humberto transferiria esse direito para a Ocker. É lógico que esse montante, num<br />

determinado momento, o inventor acha que não é o suficiente. Ele prefere então uma<br />

licença. E, no caso de licença, ele perceberia além do valor das cotas da indústria, uma<br />

remuneração mensal com base no faturamento. Não foi essa a negociação que prevaleceu.<br />

A Ocker Ltda aceitou, num acordo à parte, fazer um adiantamento no valor de 150 mil reais,<br />

em <strong>20</strong>06, ao Sr. Humberto, caso essa transferência de direito sobre a invenção ocorresse<br />

de forma definitiva à Ocker Ltda. Portanto, não estou falando de nenhuma hipótese de<br />

70


licença, não temos a patente, e falo de cessão do direito à patente e não do direito de<br />

patente.<br />

A intenção da Ocker Ltda era procurar parceiros para exploração no mercado<br />

internacional. Isso, em grande medida, é o que faz a LES. Assim, a Ocker Ltda depositou<br />

pedidos de patente, protegendo a invenção na Austrália, no Canadá, nos Estados Unidos,<br />

no mercado Europeu, no Peru, no Chile e, logicamente, no Brasil. Receberam um número<br />

de PI fictício 008008. Esses países são considerados os maiores produtores de cobre no<br />

mundo, onde o processo poderia ser amplamente utilizado.<br />

O Sr. Menezes, diretor administrativo da Ocker Ltda, conheceu o doutor Washington<br />

num recente encontro anual da LES. Nessa ocasião, um grupo de brasileiros se reuniu na<br />

LES Estados Unidos e Canadá, e nessa reunião, durante visita aos Estados Unidos, foi<br />

mencionado pelo senhor Menezes o trabalho realizado pelo doutor Humberto. O doutor<br />

Washington expressou interesse enorme na invenção, e mencionou que ele havia acabado<br />

de se tornar o coordenador de licenciamento da Brasil Mineral Ltda, empresa brasileira de<br />

grande porte e produtora de cobre, com aproximadamente 70% de marketshare no mercado<br />

brasileiro, 30% do mercado americano e 10% de mercado peruano. Ele solicitou ao Sr.<br />

Menezes que o deixasse ter mais detalhes sobre o processo.<br />

Ao voltar ao Pará, o Sr. Menezes enviou um acordo de confidencialidade para<br />

proteger toda essa informação, que foi prontamente assinado pelo doutor Washington, que<br />

assim detalhou todo o processo químico industrial e suas vantagens para o refino de sulfeto<br />

de cobre. Destaco aqui o acordo de confidencialidade nessa altura dos fatos. O doutor<br />

Washington respondeu demonstrando interesse no licenciamento, e sugeriu o início das<br />

negociações imediatamente em Belém do Pará, desde que o inventor, o doutor Humberto<br />

participasse de todas as fases da negociação. O envolvimento do doutor Humberto seria<br />

uma garantia da eficácia da exploração do processo, pois nessa fase pré­contratual, a Brasil<br />

Mineral não poderia obter todos os conhecimentos tecnológicos, objeto da invenção.<br />

Importante para nós, advogados, é a fase pré­contratual, instrumentos específicos de<br />

promessa podem existir nessa hora e também podem ser descartados pelos advogados<br />

durante a negociação.<br />

Prosseguindo, ocorre aí um obstáculo na negociação. O Dr. Humberto advertiu que<br />

tinha aceitado uma posição sênior no departamento de pesquisa da Vale do Rio Doce,<br />

embora mantivesse suas cotas da Ocker. Este fato foi considerado negativo pela Ocker<br />

Ltda, pois mesmo sendo acionista dessa empresa, o Sr. Humberto poderia se eximir de<br />

participar das negociações e assistir à Ocker Ltda na transação comercial. Além do mais, a<br />

Vale do Rio Doce poderia impedir, se souber que o Dr. Humberto pode transmitir qualquer<br />

informação adicional sobre a tecnologia, por ser empregado da Vale do Rio Doce, e por não<br />

ser mais titular do processo industrial em vias de patenteamento.<br />

Mesmo sendo a primeira negociação do Dr. Washington, ele realizou uma breve<br />

pesquisa no banco de patentes do INPI e do escritório americano de patentes, o USPTO,<br />

percebendo que a proteção estava adequada e as patentes estavam em vias de concessão<br />

tanto no Brasil como nos Estados Unidos, nos países do mercado Europeu, no Peru e no<br />

Chile até dezembro de <strong>20</strong>09.<br />

Não obstante o enorme interesse da Ocker Ltda em realizar o licenciamento do<br />

processo técnico para a empresa Brasil Mineral Ltda, um aspecto peculiar foi observado. Os<br />

sócios das respectivas empresas nunca haviam participado de uma negociação tecnológica<br />

até então. Essa inexperiência era flagrante e não havia sequer contatos com universidades<br />

brasileiras ou institutos de pesquisa. Para a Ocker o processo químico industrial seria a<br />

71


primeira oportunidade de negócio. Seguindo um intercâmbio de mensagens de telex entre<br />

as partes, tornou­se evidente uma série de desencontros e uma enorme confusão nas<br />

negociações. Isso às vezes acontece quando a formação dos interlocutores discrepa, um<br />

engenheiro com um advogado, um economista com um administrador, e assim por diante.<br />

Tudo isso por falta de experiência mais a falta de assessoria adequada.<br />

Seguindo orientações do assessor jurídico da Brasil Mineral Ltda – que poderia ser o<br />

meu papel enquanto mediador – após enorme pressão da área de novos negócios, o Dr.<br />

Washington sugeriu que seria melhor que os representantes das empresas se afastassem<br />

das negociações e que os advogados mais experientes que pudessem ser contratados<br />

viessem a trabalhar para uma melhor organização, especificamente em termos materiais<br />

dessa fase pré­contratual. Principalmente, o escopo seria chegar a um denominador comum<br />

sobre o que estariam as cláusulas relevantes do contrato, haja vista o fato de que o aspecto<br />

básico já havia sido resolvido – o enorme interesse da Ocker Ltda em realizar o<br />

licenciamento para a Brasil Mineral Ltda.<br />

Vamos apresentar nossos advogados. Ao contrário do que indagou a Dra. Luciana<br />

Amorim, não temos um mau e um bom, temos um interesse concreto e vamos tentar<br />

apresentar os advogados. Do lado esquerdo, temos a advogada da Ocker, a Dra. Tatiana<br />

Campello, que deverá conduzir as negociações, defendendo os interesses da detentora da<br />

tecnologia. Do lado esquerdo, o Dr. José Carlos Vaz e Dias defenderá a Brasil Mineral Ltda.<br />

O Dr. José Carlos Vaz e Dias terá um trabalho árduo, porque cabe a ele reconquistar o<br />

respeito e, sobretudo, o tempo perdido, dar dinâmica intensa às negociações, não perder o<br />

tempo da bola e, mais que isso, garantir a todo o tempo o interesse das partes.<br />

Ainda, a área de novos negócios está pressionando, pois está temerosa de que a<br />

Ocker licencie essa tecnologia para algum dos concorrentes da Brasil Mineral. Além disso, o<br />

Dr. José Carlos ficou sabendo que a postura inicial da Dra. Tatiana Campello será a de “wait<br />

and see”, ou seja, ela vai pagar para ver e vai ficar olhando apenas, não vai fazer as<br />

negociações progredirem enquanto ela não estiver convencida do profissionalismo e da<br />

seriedade da Brasil Mineral. Para a Ocker Ltda a ruptura das negociações não seria um<br />

prejuízo, pois esse enorme leque criado pela reforma das legislações ambientais e a<br />

pressão na redução da emissão de enxofre na atmosfera são grandes e visíveis<br />

oportunidades de negócio com outras empresas.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Boa tarde a todos. Boa tarde José Carlos. Fico feliz em saber que você está nessa<br />

negociação comigo. Eu confesso que estava totalmente desestimulada. Meu cliente está<br />

muito apreensivo, e estamos aguardando e tentando entender um pouco qual será a nova<br />

linha que a empresa que você representa vai tomar. Você sabe, as negociações foram<br />

intensas e conduzidas de forma que causou um desgaste para o meu cliente e para seu<br />

cliente. O fato de você estar aqui hoje representa um avanço. Por isso estou disposta a ouvir<br />

o que você vem contar sobre a retomada da negociação.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Tatiana, você sabe que eu não posso, enquanto advogado, participar de<br />

negociações. Eu tenho um viés judicial e começo sempre a querer ir para os Tribunais<br />

resolver a questão. Mas você é uma pessoa que tem bastante experiência, e tivemos uma<br />

experiência de negociação há um ano entre duas empresas de biotecnologia, que foi um<br />

72


grande sucesso. Eu estou vendo que as partes estão com uma grande pressão. Primeiro a<br />

pressão ambiental, principalmente do meu cliente que está querendo fazer o negócio. Eu<br />

conversei com meu cliente e senti que ele não foi muito bem, e eu achei que o<br />

representante da Ocker, seu cliente, ficou um pouco desapontado com a falta de<br />

experiência. Isso tudo, Tatiana, por falta de um acordo de negociação, de uma agenda de<br />

negociação.<br />

Quando ele disse que as tratativas iniciaram por meio de negociações de royalties,<br />

eu achei engraçado, porque sabemos que não é por aí. Então, eu trouxe para você uma<br />

proposta de agenda de negociação factível e progressiva, um esboço que eu queria que<br />

você analisasse e verificasse se está de acordo. Nosso interesse agora não é negociar<br />

diretamente para o cliente, mas formatar uma agenda, os termos materiais da essência de<br />

uma negociação.<br />

Farei um breve comentário e talvez já possamos iniciar algumas discussões com<br />

base na agenda. Minha proposta é, em primeiro, fazer uma compilação e revisão dos pontos<br />

discutidos e dos encontros que ocorreram. Em segundo, identificar o motivo empresarial, o<br />

que é fundamental. Talvez não seja o ponto essencial, porque está claro para o seu cliente o<br />

que ele quer, para o meu cliente também, e o meu cliente tem uma atuação em vários<br />

mercados. Portanto, talvez seja um ponto de discussão para daqui a quinze dias, quando os<br />

clientes voltarem a se reunir. Em terceiro, as vantagens básicas auferidas por ambas as<br />

partes. Em relação ao período desejado para as negociações, eu vi que elas se arrastaram,<br />

está em mais de quatro ou cinco meses, não tem perspectiva. Depois disso, é interessante<br />

que as partes comecem a discutir sobre as possibilidades delas entrarem num acordo, tendo<br />

como pontos básicos os termos materiais, objeto da licença, escopo e limite da licença, o<br />

território, prazo contratual, o compromisso de exclusividade. Eu adianto que o meu cliente<br />

quer é exclusividade para todos os países, posteriormente os royalties, os<br />

aperfeiçoamentos, direitos complementares, como assistência técnica e treinamento. O que<br />

vocês acham dessa agenda?<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Eu acho que está bem razoável, é nessa linha que estamos pensando. Eu conversei<br />

com meu cliente, mas tem um ponto que é importante acrescentar que seria a proteção da<br />

confidencialidade. Muito embora inicialmente tenha sido enviada uma minuta, ela não<br />

chegou a ser assinada pelo seu cliente. Então, precisamos firmar um acordo de<br />

confidencialidade, e também determinar quais são as restrições pós­contratuais. Esses dois<br />

itens são importantíssimos para o meu cliente, e devemos colocar na pauta.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Você não acha que valeria a pena discutirmos essas questões das restrições pós­<br />

contratuais, royalties, num segundo momento?<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Sem dúvida, mas você deve colocar para mostrar a intenção do cliente. Outro ponto<br />

que foi solicitado é a colocação de um pagamento lump sum.<br />

73


JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Vou levar as anotações ao cliente, mas esse lump sum vai depender de como as<br />

negociações com o cliente vão se desenvolver, principalmente tendo em vista a questão da<br />

exclusividade para alguns mercados em que o cliente tem atuação.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Eu poderia fazer uma interrupção para dois pontos iniciais aqui. O objeto da licença<br />

não esteve claro em nenhum momento na primeira fase, não se precisou em qual campo de<br />

atuação a tecnologia estaria restrita. São para todos os campos? Apenas para cobre? Para<br />

outras áreas da mineração? Não houve essa preocupação que causou turbulência, de certa<br />

maneira, na negociação. Outro ponto: escopo e limites da licença. Haverá algum limite para<br />

exportação? Isso não ficou claro, sobretudo, a questão do território, pois vários territórios<br />

estão envolvidos, e em nenhum momento, nenhuma das partes havia discutido até então,<br />

para efeitos de licenças, que territórios estavam em questão. No que diz respeito ao<br />

compromisso de exclusividade, também temos possibilidade de briga muito grande, porque<br />

o licenciador tende a não querer licenciar a um licenciado que poderá ser um concorrente<br />

potencial ou efetivo. Sempre que existir aquela possibilidade de uma exclusividade, procura­<br />

se resguardar o mercado de origem. Na União Européia, por exemplo, algumas tecnologias<br />

não seriam licenciadas se não fosse a cláusula de exclusividade.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Então resumindo, José Carlos, entendemos que, além dos pontos que você<br />

mencionou, colocaríamos essa questão do lump sum, um pagamento mínimo inicial, e<br />

também a questão das restrições pós­contratuais e das cláusulas de confidencialidade, ou<br />

até um acordo de confidencialidade, que seria o ideal, anterior ao início efetivamente da<br />

revelação das informações confidenciais.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Será que a turma aqui conhece a cláusula de grant­back? Essa cláusula no início era<br />

muito complicada, uma vez que não é a atual cláusula de comunicabilidade. No passado<br />

existiam situações extremas, onde às vezes um licenciador titular da tecnologia exigia que<br />

qualquer aperfeiçoamento realizado pelo licenciado fosse protegido no nome do licenciador.<br />

E existem proibições na nossa lei brasileira que pode violar a legislação antitruste, não<br />

obstante haver qualquer problema numa clausula de comunicabilidade. O aperfeiçoamento<br />

deve ser comunicado ao licenciador, e este terá o direito de prioridade. Então, nesse<br />

sentido, não há nenhuma ilicitude. Podemos até chamar de grant­back, sem<br />

necessariamente violar qualquer legislação.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Tatiana, você pode me falar um pouco sobre o que o seu cliente vislumbra na<br />

questão do objeto da licença? E só para refrescar um pouco a minha memória, sobre a<br />

questão dos aspectos importantes da tecnologia.<br />

74


TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Claro. O primeiro aspecto é que a nossa tecnologia é pioneira, já testada tanto em<br />

laboratório como fora. Já temos o teste, o desempenho da tecnologia já avaliada, ou seja,<br />

não é uma tecnologia que ainda será testada no futuro, o que causa uma diferença<br />

significativa. A nossa tecnologia efetivamente reduz a emissão do gás, e com isso<br />

conseguimos performance ainda melhor do que o governo está querendo, quer dizer, os<br />

governos dos países aos quais solicitamos proteção têm como marco regulatório uma<br />

emissão zero, buscando da melhor maneira possível uma redução. Com essa tecnologia,<br />

isso vai além do parâmetro mínimo que os respectivos governos estão exigindo. O que é<br />

importante é que o motivo da assinatura da licença por parte do meu cliente seria conseguir<br />

a exploração desse processo químico industrial desenvolvido para reduzir as emissões de<br />

dióxido de enxofre durante o refino dos minerais do sulfeto de cobre. Isso é uma vantagem<br />

competitiva muito grande, possibilitando uma capacitação de quem vai receber essa<br />

tecnologia. Já depositamos patentes na Austrália, Canadá, Brasil, Chile, Estados Unidos,<br />

Europa e Peru, sendo que no Brasil e nos Estados Unidos as patentes já foram concedidas,<br />

na Austrália e no Canadá estão sendo concedidas nos próximos meses, e no final de <strong>20</strong>09<br />

teremos a concessão no Peru. Em termos de proteção patentária, estamos seguindo o<br />

caminho correto, conseguindo todas as patentes nos determinados países. Imagino que isso<br />

seja de uma valia muito grande para o seu cliente.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Essas informações batem com o que o meu cliente falou no tocante ao<br />

licenciamento, mas você falou algo interessante, que o seu cliente tem o desejo de focar o<br />

licenciamento na exploração e refino de cobre. Por quê?<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Exatamente. Porque essa tecnologia inclui outras aplicações também. Então, o<br />

nosso objeto de contratação está sendo para esse uso específico. Caso o seu cliente tenha<br />

interesse em outros usos, em outras formas de utilização da tecnologia, evidentemente,<br />

podemos expandir essa licença para outro uso desde que seja com uma remuneração<br />

compatível e com uma remuneração expressa.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

O que é importante colocar aqui é a dificuldade muitas vezes do advogado brasileiro<br />

em induzir o próprio cliente a prover uma proteção mais completa para a sua propriedade<br />

intelectual. Pode­se observar que provavelmente a negociação já estaria solapada nesse<br />

ponto se não houvesse uma proteção adequada para os países de interesse, e essa<br />

negociação não avançaria sem isso. Na maioria dos casos bastaria, talvez, um depósito<br />

PCT, com um prazo de trinta meses, que nos permitiria negociar a possibilidade de termos<br />

que incentivar a proteção nacional pelo menos naqueles países de interesse.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

É Engraçado, o patenteamento nesses países que você mencionou está justamente<br />

batendo com a atuação do meu cliente. Ele tem uma atuação forte no Brasil, no Peru e no<br />

75


Canadá, com um grande interesse em entrar mais pesado nos mercados dos Estados<br />

Unidos, Austrália e Chile. Adiantando, o nosso cliente, para esses mercados dos Estados<br />

Unidos, Austrália e Chile em que ele deseja atuar e ainda está naquela fase de avaliação<br />

sobre entrar mais a fundo no investimento estrangeiro, ele terá que fazer a contratação de<br />

algumas empresas locais. Possivelmente o cliente vai desejar um sublicenciamento dessa<br />

tecnologia.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Isso é um dado novo, uma vez que havíamos marcado um escopo de atuação em<br />

território, de uso da patente no Brasil e nos Estados Unidos. Caso o seu cliente queira<br />

utilizar essa tecnologia em outros territórios, seja diretamente ou através do<br />

sublicenciamento, evidentemente temos que colocar isso em pauta. A princípio, o<br />

sublicenciamento não seria permitido pelo meu cliente, mas nada impede que ele seja<br />

estudado, até porque meu cliente quer expandir, fazer novas parcerias. Ele quer estar tanto<br />

no Brasil quanto no exterior, com expansão tecnológica através de parcerias. Talvez, se<br />

fizermos o licenciamento para vocês e vocês fizerem o sublicenciamento, este seja um<br />

caminho a ser percorrido, mas temos que colocar isso em pauta.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

O sublicenciamento é um ponto importante. Como os senhores podem perceber, no<br />

direito brasileiro há várias correntes, mas em regra o sublicenciamento é uma faculdade que<br />

não se presume na nossa lei de patentes. Temos um único artigo que trata de licença e não<br />

há uma dicotomia entre licença e licença exclusiva, como existe, por exemplo, no direito<br />

alemão, onde às vezes se presume na licença exclusiva a transferência de um pedaço<br />

inteiro desse domínio. Nos países que têm origem francesa e segundo, sobretudo, parte<br />

importante da doutrina no nosso país, o sublicenciamento não se presume, portanto convém<br />

licenciar.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Tatiana, além do sublicenciamento nesses países que eu mencionei, Estados<br />

Unidos, Austrália e Chile, o cliente tem interesse do envolvimento direto do pesquisador<br />

Humberto no treinamento e na prestação de assistência técnica. Ele é o maior conhecedor<br />

da tecnologia, e para uma absorção da tecnologia maior e eficaz, somente nesses países<br />

em que meu cliente ainda não é competitivo, é imprescindível o envolvimento do<br />

pesquisador independente nessa transferência tecnológica.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Pois é, José Carlos, mas aí a coisa fica difícil. Conforme você foi informado, o Sr.<br />

Humberto está trabalhando atualmente na Vale do Rio Doce. Apesar de continuar como<br />

cotista da Ocker, ele é um funcionário dedicado à pesquisa. Provavelmente eu não vou<br />

conseguir a participação dele nessa fase de treinamento. Temos uma questão que envolve<br />

um terceiro, que no caso é a Vale do Rio Doce. O que eu posso assegurar, e talvez até<br />

possamos colocar isso contratualmente, é que a equipe técnica que hoje faz parte da Ocker<br />

já absorveu essa tecnologia inicialmente trazida pelo Sr. Humberto. A empresa está<br />

totalmente capacitada para prestar assistência técnica e o suporte necessário ao seu<br />

76


cliente. Agora, colocar como uma condição da negociação o Sr. Humberto, eu acho que<br />

ficará quase impossível.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Mas vamos ver se existe um jeito de envolvê­lo, ou pelo menos colocar uma equipe<br />

mais forte nessa situação tecnológica. Uma questão que eu tenho observado nos contratos<br />

que tenho negociado para as universidades e empresas locais é o fato das especificações<br />

não estarem claras. Primeiro, a definição da tecnologia, apesar de que neste caso estamos<br />

falando de uma patente concedida em alguns países, na maioria das vezes é inadequada no<br />

contrato, uma falta de informação. Será que você poderia trabalhar com o seu cliente uma<br />

melhor definição da tecnologia?<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

José Carlos, esse é um ponto importante. O que tínhamos pensado é em colocar<br />

uma cláusula de definições. Em todo e qualquer contrato, o ideal é ter uma cláusula de<br />

definições com os itens mais importantes do contrato. Um deles evidentemente é a própria<br />

descrição da tecnologia, que pode ser parte do anexo do contrato. Mas não é simplesmente<br />

citar o número da patente, e sim descrever melhor sobre o que aquela tecnologia diz<br />

respeito, obviamente, colocar na outorga de licença exatamente o uso para que será feita a<br />

tecnologia, como já falamos aqui anteriormente. Caso tenha necessidade de um uso<br />

estendido ou outro uso, expandir, isso também tem que estar refletido no contrato, senão<br />

estaria vedado. Para qualquer outra necessidade de prévia autorização fazemos através de<br />

um aditivo contratual.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Em alguns contratos, principalmente em língua inglesa, esse ponto vem com o título<br />

de field of use restriction, ou restrição ao campo de uso. Para nós isso é muito importante,<br />

sobretudo na indústria química e farmacêutica, até porque existe um contraponto bastante<br />

relevante que são as invenções incrementais, que os senhores já devem ter acompanhado<br />

em algum debate. Recentemente tivemos uma grande discussão sobre a possibilidade de<br />

patenteamento de polimorfos, ou seja, aquelas variações cristalizadas, em estado sólido, de<br />

produtos químicos e farmacêuticos, e também o segundo uso médico. É muito importante na<br />

negociação que exista clareza quanto ao campo de uso, se houver, da tecnologia licenciada.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Se eu pude entender bem, se fizermos um resumo, o que o seu cliente quer? Ele<br />

quer Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Peru como território de atuação. O escopo<br />

seria uma licença exclusiva para esses países com direito de sublicenciar para a Austrália e<br />

os Estados Unidos, tendo em vista que ele não conseguirá diretamente explorar a patente<br />

lá.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Você esqueceu o Chile, não?<br />

77


TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Não, o Chile eu coloquei aqui. Você está pedindo o direito de uso, mas o Chile é um<br />

país que, até pela política local atual, essa tecnologia será muito utilizada. Então queremos<br />

aguardar um pouco para ver quais serão as perspectivas com relação ao mercado do Chile.<br />

O que talvez possamos dar a vocês é um right of first refusal, ou right of priority, algo nesse<br />

sentido, ou seja, um direito de preferência, mas caso decidamos não explorar diretamente,<br />

podemos dar esse direito de preferência caso venhamos decidir a fazer a exploração<br />

através de um terceiro.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Talvez para alguns de nós isso não esteja claro. Direito de preferência? Bem, ele<br />

funciona não só nesse campo onde você separou da negociação, mas pode funcionar em<br />

conjunto com a cláusula de comunicabilidade de aperfeiçoamentos. É uma obrigação de<br />

fazer.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Além de tudo isso, os serviços complementares. Você demonstrou a importância do<br />

treinamento, da assistência técnica. Essas são condições que constarão no contrato. Agora,<br />

eu te: e a questão do prazo contratual? O que eu tinha entendido do meu cliente é que o<br />

prazo seria de cinco anos para a exploração dessa patente.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Não, de jeito nenhum. O cliente pediu pelo prazo de validade da patente, vinte anos.<br />

E algo que você esqueceu: o cliente foi bastante taxativo sobre a possibilidade de que no<br />

licenciamento, no sublicenciamento, na assistência técnica imprescindível para absorção<br />

tecnológica e nos os treinamentos, de se poder fazer pesquisa e desenvolvimento a partir do<br />

processo químico e industrial.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

A questão do aperfeiçoamento, até onde eu entendi do meu cliente, obviamente até<br />

pelo que reza a lei, no artigo 63, se houver algum melhoramento, sua titularidade é de quem<br />

o faz. Muito embora eu ache muito difícil convencer meu cliente de que ele vai querer<br />

remunerar o seu cliente. O seu cliente é o titular, mas ao permitir o uso desse melhoramento<br />

para o meu cliente, o meu cliente dificilmente vai querer pagar por esse melhoramento.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Vamos adotar um grant­back provision. Acho que assim todos ficarão satisfeitos.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Tudo bem, me parece razoável.<br />

78


JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Tatiana, já temos aqui uma agenda formada.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Não entendi. Esse grant­back provision que vocês desenvolveram é de que maneira?<br />

A Brasil Mineral vai proteger em nome da Ocker todos os desenvolvimentos?<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Na verdade, a titularidade dos desenvolvimentos fica sendo da Brasil Mineral, mas<br />

ela autoriza o uso pela Ocker. Só que, nesse caso, como meu cliente não quer remunerar,<br />

ela vai receber autorização de uso e não vai efetuar pagamento para isso.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Talvez algo interessante que possamos fazer com relação ao grant­back provision,<br />

tendo em vista que não sabemos os termos que vão regulamentar esse licenciamento da<br />

tecnologia da minha empresa para a sua empresa, é que podemos estabelecer um pré­<br />

contrato. Se o grant­back vai gerar royalties, se serão royalties free.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Exatamente, mas é muito importante que assinemos um contrato de<br />

confidencialidade, porque eu não posso começar a revelar a minha tecnologia, até para<br />

vermos se vamos ou não chegar num contrato definitivo de licenciamento de patente, sem<br />

assinarmos um contrato de confidencialidade. Vale dizer que poderíamos também assinar<br />

um memorando de intenções, carta de intenções ou memorando de entendimentos, que<br />

seria um contrato no qual estaríamos prevendo essa relação de fase pré­contratual, mas já<br />

definindo um prazo para essa negociação acabar.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Para os advogados, o pré­contrato acabou deixando de existir com esse nome. O<br />

novo código civil chama de contrato preliminar. No antigo código civil, nós tínhamos outra<br />

possibilidade. A primeira era a possibilidade da promessa e a segunda era do compromisso.<br />

A diferença é que na promessa funciona mais ou menos como a promessa de compra e<br />

venda de um bem imóvel. O sinal que existe, se o promitente comprador desistir, ele perde o<br />

sinal, e se quem der motivo à desistência for o promitente vendedor, ele devolve em dobro.<br />

Era mais ou menos essa lógica, ao passo que no caso do termo de compromisso, caberia a<br />

adjudicação compulsória. Se existe uma obrigação de sentar e redigir um contrato de<br />

licença, cabe a adjudicação compulsória até pela mão do juiz. O que nós, advogados, não<br />

entendemos é porque a lei de arbitragem revogou por completo tudo que dizia respeito a<br />

compromisso, porque toda a arbitragem parte de um compromisso, mas nem todo<br />

compromisso é só arbitragem. De qualquer maneira, é muito importante para os senhores<br />

79


se puderem partir direto para um contrato. É melhor, porque muitas das vezes a frustração<br />

na fase negocial após um pré­contrato pode levar a uma briga judicial quase sem fim. Uma<br />

dessas brigas paradigmáticas que muito dos senhores conhecem é a briga entre o inventor<br />

do BINA (B identifica A) e o empresário que assinou com ele um pré­contrato, um termo de<br />

compromisso, que após o primeiro desencontro o empresário não pensou duas vezes em<br />

tentar averbar no INPI, como se contrato de transferência de tecnologia fosse. A partir da<br />

primeira averbação e da primeira revogação, uma chuva de brigas judiciais, a partir de um<br />

primeiro mandado de segurança, foram sem fim até o presente momento. Então, melhor<br />

para ambas as partes optar direto por um contrato de licença.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Temos uma agenda de negociação, e vamos repassá­la. Temos a compilação,<br />

revisão, identificação do motivo empresarial, vantagens básicas por ambas as partes,<br />

período desejável para as negociações, acordo de confidencialidade, cumprimento dos<br />

acordos preliminares. E aí estão os termos essenciais, que são objeto da licença, ou seja,<br />

qual o uso que está sendo feito da tecnologia e a finalidade, escopo e limites da licença, se<br />

ela é exclusiva para Brasil, Canadá, Peru, se pode ou não sublicenciar, o território, o direito<br />

de preferência de expansão, prazo contratual, se será ou não atrelado à patente e,<br />

evidentemente, se houver patentes em países diferentes, obviamente tem que ser<br />

observado também se há ou não compromisso de exclusividade, pagamento inicial e<br />

royalties, que seria uma intenção no caso do meu cliente, se vai haver ou não performance<br />

mínima.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Importante a performance mínima na maioria das vezes onde a tecnologia é<br />

explorada no mercado interno. Às vezes, essa performance mínima pode implicar num<br />

patamar de royalties que, desde o início, pode inviabilizar o negócio. Muitas das vezes<br />

convém contratar uma consultoria externa para saber se o custo Brasil, o custo dos<br />

impostos e o valor dos concorrentes ou dos produtos similares praticados no mercado<br />

nacional vão permitir que a função econômica do contrato seja exercida. Por isso que nesse<br />

momento não basta só uma agenda, se não um plano de negócios como mencionou o Dr.<br />

José Carlos Vaz e Dias.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

E aí vem a questão dos aperfeiçoamentos e grant­back provision, direitos<br />

complementares, treinamento e assistência técnica durante o prazo contratual, verificação<br />

se existe ou não a necessidade de um técnico específico ou se pode ser algo genérico,<br />

restrições pós­contratuais e confidencialidade. Esses seriam os tópicos básicos num<br />

contrato de licenciamento e mais que isso, na agenda, que seria essa organização para<br />

elaboração do contrato.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

As conclusões da negociação. A primeira é que o licenciamento de tecnologia só<br />

ocorre quando uma das partes possui bens intangíveis protegidos pelo direito de<br />

propriedade industrial, seja na forma de patentes, segredos de negócio e bens protegíveis.<br />

80


A segunda conclusão é que negociações de licenciamento são como todas as negociações,<br />

possuem lados, são as partes, cujos interesses são distintos, mas que procuram coincidir<br />

em vista das perspectivas da lucratividade de uma e outra empresa. Deve­se adotar sempre<br />

a postura ou atitude win­win, ganha­ganha. Terceira conclusão: a identificação do motivo<br />

comercial para licença é essencial para identificar o interesse de cada parte na negociação,<br />

bem como a compreensão de cada uma dessas necessidades. Quem sabe, no direito<br />

italiano isso seria a identificação da prestação essencial de cada necessidade, que seria a<br />

causa do contrato. Mas isso vai além, existe a percepção socioeconômica do objetivo de<br />

cada uma das partes. Portanto, a perspectiva comercial e a identificação da forma de<br />

licenciamento são também relevantes. A quarta conclusão é que as assinaturas de contratos<br />

preliminares, tais como o acordo de confidencialidade e o memorando de entendimento, são<br />

importantes para manter as partes em negociação e evitar a divulgação da tecnologia<br />

protegida e da tecnologia não protegida por exclusivos, e protegida, portanto, por segredo<br />

de negócio, ou segredo industrial, conforme o caso, o trade secret. Quinta conclusão: a<br />

agenda de negociação dá o direcionamento às partes nas tratativas e evita a perda de<br />

tempo com discussões irrelevantes. A sexta conclusão diz que o acordo dos termos<br />

materiais iniciais é de importância para as negociações da parte financeira. Esses termos<br />

materiais podem ser agrupados em três categorias, quais sejam: objeto da licença; escopo<br />

do direito; e prazo do contrato e regras pós­contratuais.<br />

Assim senhores, com a estipulação da agenda de negociação, as partes podem<br />

desenvolver­se naturalmente e ter os advogados sempre como suporte e aconselhamento<br />

complementar, sem a necessidade de haver uma adversidade intransponível ou uma guerra<br />

entre as partes. Muito obrigado.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

NA<strong>DIA</strong> MORENO<br />

Trabalho na Petrobras há vinte anos negociando contratos de tecnologia, e para a<br />

Petrobras se configurou diferente a questão do grant­back. O grant­back na literatura é<br />

polêmico, ele pode ser maléfico, como benéfico. Existem até teóricos coreanos e asiáticos<br />

que defendem o grant­back em benefício do licenciado. Entretanto, existem legislações que<br />

o colocaram como prática de concorrência desleal. Na nossa legislação, o que ela tem de<br />

bom é exatamente o artigo 63, que garante ao licenciado a propriedade do aperfeiçoamento<br />

e garante também a preferência do licenciamento ao licenciador. Agora, a discussão<br />

internacional que existe mostra também que o próprio grant­back pode ou não significar uma<br />

perda da propriedade, pode ou não significar que aquele que detém a patente básica tem<br />

uma extensão do tempo de validade da patente. Em nossos contratos, em que licenciadores<br />

exigiram grant­back, nós negociamos até o fim, inclusive fizemos a leitura pelos nossos<br />

legisladores, que anulam as cláusulas de grant­back, e assim espero que o INPI o faça em<br />

sua força de procuradoria. Existem aperfeiçoamentos que são necessários, não só a<br />

retenção da propriedade, assim como não concede full license para o licenciador. Essa é<br />

uma questão que eu queria levantar, porque eu acho que é muito a contribuir. Na indústria<br />

farmacêutica parece que é benéfico, mas na indústria de petróleo não concordamos.<br />

A outra questão é dos pré­contratos. Nós o chamamos de Memorandum of<br />

Understanding (MOU) ou de acordo de confidencialidade de pré­contrato como instrumentos<br />

preliminares das tratativas. O pré­contrato tem outro estatuto e eu deixaria nosso advogado<br />

falar.<br />

81


JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

O papel nosso aqui nessa mesa hoje não foi de acadêmicos, apesar de o Dr. José<br />

Carlos ser um acadêmico conhecido. Eu tenho esse trabalho que foi objeto de tese doutoral,<br />

enfrentou os efeitos concorrenciais em relação à lei antitruste de eventuais restrições<br />

anticompetitivas de alguns contratos de transferência de tecnologia. E a Dra. Tatiana tem<br />

um trabalho muito destacado como diretora de estudos da LES, além de ser professora de<br />

pós­graduação e professora de nossos cursos na LES.<br />

Nesse momento procuramos não emitir uma opinião muito concreta ou dogmática,<br />

mas eu posso dizer que o grant­back é polêmico sim. Ao grant­back do artigo 63 o legislador<br />

brasileiro deu uma solução, só que a legislação brasileira aplica predominantemente ou<br />

essencialmente, se não exclusivamente no Brasil. Um contrato desse tem normalmente<br />

maior envergadura e pode gerar algum efeito, como por exemplo, esse grant­back na nossa<br />

legislação: açambarcamento da tecnologia. Se houver essa possibilidade de<br />

açambarcamento, ou tomar tudo para si, ou impedir o desenvolvimento tecnológico, pode<br />

além de violar o artigo 63 na legislação brasileira, violar normas antitruste ou de defesa da<br />

concorrência, no caso brasileiro o artigo <strong>20</strong> e especificamente o artigo 21 da Lei 8.884 de 11<br />

de junho de 1994.<br />

Nesse livro não conseguimos sequer mostrar muito contundente, porque o nosso<br />

CA<strong>DE</strong> não tem se aventurado muito nessa interseção entre concorrência e propriedade<br />

intelectual. Na maioria das vezes, parece até um bunker de defesa isolada da análise<br />

econômica e, portanto, é difícil para um advogado dizer que isso é proibido. No meu ponto<br />

de vista acadêmico, há condutas que eu vejo como proibidas, mas que na prática, muitas<br />

vezes, o judiciário tem consagrado. Então, advogados como o José Carlos e a Tatiana<br />

teriam que dizer que isso é proibido por convicção acadêmica, e depois chega a Petrobras e<br />

pergunta se eles estão trabalhando para o inimigo, uma vez que falam que não podem e no<br />

outro dia a legislação dá apoio, o TJ apóia e o CA<strong>DE</strong> diz que está certo. Então, é importante<br />

esse debate, porque precisamos de segurança jurídica, e cabe à universidade, à sociedade<br />

civil, a discussão desses temas. Eu agradeço a presença de todos.<br />

ANGELA ULLER<br />

Eu quero parabenizar os três doutores e a Rede pela realização dessa mesa, que foi<br />

extremamente interessante. Acho que nós que somos de universidade, mesmo já tendo<br />

negociado milhares de projetos, estamos entrando num mundo novo, que é o de<br />

licenciamento.<br />

Eu queria uma sugestão de vocês. Por exemplo, quando negociamos o<br />

licenciamento, e depois o cliente diz que quer interromper o contrato, porque não está mais<br />

usando aquele processo, de que forma podemos nos proteger no contrato de licenciamento<br />

para evitar que isso ocorra? Isso aconteceu realmente na UFRJ. Tivemos o licenciamento, e<br />

depois de três ou quatro anos a empresa disse que não estava mais usando a tecnologia.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

Na condição de licenciante, primeiro teria que pensar se no contrato existe alguma<br />

cláusula que obrigue o uso da tecnologia. Todo contrato de licenciamento de patente deve<br />

82


ter uma cláusula que obrigue o uso da patente, até para você não correr risco daquela<br />

patente ser declarada caduca, não sendo utilizada. Se a empresa tiver alguma justificativa<br />

econômica de porque ela interrompeu o uso, ou seja, o licenciado interrompeu o uso por<br />

alguma razão, a situação muda um pouco, mas se foi simplesmente descumpriu o contrato,<br />

quis rescindir antecipadamente, acho que vocês teriam um bom ponto de briga com eles. Se<br />

existir a clausula que obrigue a usar, tem o prazo contratual, tem todas as condições e tudo<br />

começou como antes e ele quis simplesmente interromper o uso sem nenhum problema<br />

técnico da tecnologia, sem nenhuma justificativa, nenhuma falta do licenciante.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Eu vou um pouco na linha da Tatiana, eu acho que a questão não é porque envolve<br />

a tecnologia, na verdade ninguém é obrigado a ficar num contrato. Existe um contrato, se a<br />

pessoa decidir unilateralmente sair de uma relação comercial, ela pode sair, desde que a<br />

outra parte seja devidamente ressarcida. Isso é uma regra que existe no Código Civil.<br />

Logicamente você pode reforçar esse tipo de cláusula, colocando multas, estimulando a<br />

outra parte à produção tecnológica, a colocar a tecnologia no mercado. Por outro lado se a<br />

outra parte perdeu o interesse, talvez para o licenciante, detentor da tecnologia, o ideal seria<br />

buscar uma indenização em juízo e concomitantemente buscar um novo parceiro.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Eu complementaria olhando para o direito civil tradicional, já que meus colegas já<br />

esgotaram a questão tecnológica. Estudamos um autor que escreve o que se chama direito<br />

civil patrimonial e percebemos que o contrato tem duas fases. A fase preliminar ou subjetiva<br />

que é a negociação, e a fase objetiva que é após a conclusão do contrato. Costuma­se dizer<br />

em sala de aula que após a conclusão, a fase objetiva gera lei entre as partes. A fase<br />

anterior, embora não gere lei entre as partes, existe a questão da responsabilidade civil. Se<br />

eventualmente, em conseqüência de um passo atrás numa fase ou noutra, este passo atrás<br />

implicar num dano quantificável, como, por exemplo, a perda de uma oportunidade de<br />

negociação, em que você ficou com uma tecnologia sem uso por qualquer motivo e não<br />

conseguiu voltar a negociar, aí cabe a questão da composição desse dano. Dessa forma dá<br />

para brigar, mas é uma questão de quantificar esse dano. E o mais complicado para nós<br />

numa briga judiciária é comprovar o dano e quantificá­lo.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Apesar de que hoje num contrato você tem no direito brasileiro, que vem do direito<br />

americano, a multa punitiva, onde você tem a lesão, não pode estipular um dano, então<br />

você coloca uma cláusula – isso é muito comum em cláusula de confidencialidade ou<br />

cláusula de know­how – onde você tem o licenciamento de uma tecnologia não patenteada,<br />

sendo que ela é em grande parte protegida pelo segredo de negócio. Sendo eu o titular,<br />

estou temeroso do meu licenciado divulgar essa tecnologia para o mundo. O que eu faço?<br />

Para desestimular, estipulo uma cláusula punitiva, ou seja, se ele violar ou divulgar a<br />

tecnologia, sofrerá uma multa punitiva de seiscentos mil reais, ou um milhão de reais.<br />

83


WILSON MAGELA<br />

Eu gostaria de fazer uma observação e uma sugestão. A primeira observação é que<br />

quando vocês colocam que sempre se busca um resultado ganha­ganha, tenho defendido<br />

que é preciso tomar cuidado com essa apologia. Todo o processo de negociação envolve<br />

duas partes, o interesse no relacionamento e o interesse pelos resultados. Se eu não tenho<br />

interesse pelo relacionamento, posso praticar um ganha­perde sem nenhum drama de<br />

consciência ou de qualquer outro tipo de dúvida. Então, eu sempre tomo cuidado com a<br />

questão da apologia de que todas as negociações podem e devem ser ganha­ganha.<br />

A sugestão seria no sentido de deixar clara a diferença entre arbitragem e<br />

negociação. No decorrer da dinâmica, vocês apresentam elementos de arbitragem e<br />

elementos de negociação. Para um público leigo, isso seria importante para as próximas<br />

apresentações.<br />

JOSÉ CARLOS VAZ E <strong>DIA</strong>S<br />

Eu acho que, e não é apologia, todas as negociações deveriam ser ganha­ganha<br />

sim. Nem sempre na minha posição de licenciante o que eu quero como licenciante é<br />

diferente do licenciado. Se eu sou licenciante e estou cedendo uma cláusula, certamente na<br />

negociação estou sabendo onde estou ganhando. Por isso tem que se buscar uma<br />

composição. Não é você ficar preocupado com o licenciado que vai ganhar, mas sim estar<br />

preocupado em não trapacear, ou não dar um tiro no pé do seu próprio negócio que o<br />

licenciado está levando. Se eu coloco cláusulas onerosas de royalties, estou matando o meu<br />

negócio em determinado país ao celebrar com meu licenciado. O importante no ganha­<br />

ganha é que as duas partes em negociação, licenciado e licenciante, têm objetivos<br />

diferentes. Eu, como licenciado, posso aceitar uma cláusula de 30% de royalties e ser<br />

esperto no sentido de saber que eu vou ganhar em outras coisas. Essa que é a negociação,<br />

você poder ceder, levar e ter consciência na negociação.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Não é uma apologia ao ganha­ganha, ao contrário. Quando eu comecei a minha<br />

carreira de jovem pesquisador, eu tinha sempre a impressão de que havia uma parte boa e<br />

uma parte ruim. Na verdade, eu tinha um preconceito, os meus textos eram viciados, eu<br />

sempre partia do princípio de que havia uma parte menor que tinha que ser protegida contra<br />

um gigante tubarão que ia jantá­la. Isso é ruim, porque você chega com o espírito armado<br />

para uma negociação. E no primeiro barulho que você ouve, já dá tiro e já mata desde o<br />

início.<br />

Li outro dia no caderno Verso e Prosa do Jornal O Globo uma expressão de um<br />

escritor: generalizações levianas. Como se toda a generalização fosse leviana. Não posso<br />

partir do princípio de que toda negociação tem um pólo positivo e um pólo negativo, eu parto<br />

do princípio de que as partes estão trabalhando e devem chegar num consenso porque o<br />

negócio será bom para ambas. Existe sim distorção, mas como estou falando é exceção, no<br />

caso de exceção, por exemplo, a imposição unilateral forçosa, eu já não tenho contrato,<br />

tenho um vício da formação de contrato, e esse contrato pode ser anulado pelo direito civil.<br />

Se essa cláusula “goela abaixo” tiver efeito no mercado, posso usar o direito de<br />

concorrência, antitruste, eu faço investigação e procuro trabalhar nesse sentido. Então, não<br />

é conveniente, se quiser chegar num ponto comum e partir do princípio que uma parte é boa<br />

e uma parte é ruim. É melhor trabalhar desarmado no ganha­ganha, e no caso de uma<br />

84


uptura vocês terão mais que elementos que vão demonstrar que uma parte não é seria e<br />

que isso deverá levar ao fim da negociação.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

O que eu acho que tentamos demonstrar aqui hoje, num primeiro exemplo em que as<br />

partes estavam diretamente tentando negociar e não chegaram à lugar nenhum, só criaram<br />

atritos entre elas. Justamente a agenda de negociação é um caminho em que tentamos<br />

convergir interesses. Às vezes um quer uma coisa, outro quer outra coisa, mas estamos<br />

tentando convergir os pontos e ver como trabalhar até com opções. Por exemplo, no caso<br />

do território do Chile, que demos o exemplo hoje, eu não tinha interesse em ceder o território<br />

do Chile, mas criamos um mecanismo que atendia ambos os lados. Eu acho que temos que<br />

convergir para tentar fechar o negócio.<br />

Outro ponto, só para tentar responder o colega, a questão da arbitragem. Na verdade<br />

tentamos com esse jogo hoje, na verdade o moderador servia apenas para pontuar os<br />

pontos mais importantes no decorrer do jogo do licenciamento. Nós não tínhamos pretensão<br />

de esgotar nenhum assunto, muito menos de decidir o que é certo ou errado, apenas<br />

tentamos trazer os pontos para podermos refletir quais seriam os itens principais no início de<br />

uma negociação.<br />

SHIRLEY COUTINHO<br />

Complementando e sendo solidária com Angela Uller, eu vivo esse problema todos<br />

os dias ao tentar uma negociação. Por isso, eu queria parabenizar. Realmente vocês<br />

fizeram de uma maneira muito didática a apresentação da essência de um contrato, de um<br />

processo de negociação. Dentro desse aspecto levantado pela Angela, eu tenho uma<br />

pergunta. Se definirmos royalties mínimos durante um prazo, mesmo considerando aspectos<br />

da tecnologia de obsolescência muito rápida, o royalty mínimo presume uma sobrevida da<br />

tecnologia. O licenciado poderia alegar que por obsolescência ele fica livre dessa<br />

obrigação?<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

No direito depende muito do caso concreto. Em linhas gerais, na hora em que você<br />

faz um licenciamento mínimo, um royalty mínimo, você já faz um cálculo e uma projeção<br />

durante o prazo de validade do contrato e da patente, quando o contrato for do prazo de<br />

validade da patente. Então me parece um pouco difícil uma alegação do licenciado<br />

simplesmente porque ficou obsoleto. Primeiro teria que se provar se está ou não obsoleto, e<br />

depois o contrato fez uma previsão econômica durante o prazo de validade. Eu acho difícil<br />

uma alegação como essa, agora, evidentemente, depende muito de uma análise mais<br />

específica das outras questões que envolvem.<br />

JOÃO MARCELO <strong>DE</strong> LIMA ASSAFIM<br />

Os advogados dizem que acabou essa história, ou seja, se houver algum<br />

desequilíbrio entre as prestações, pode o juiz restabelecer esse contrato, ou até mesmo<br />

anulá­lo. Até mesmo porque hoje temos a função social do contrato e não só da<br />

propriedade. Seja como for, nunca vi, estou para ver e acho muito difícil, um juiz que faça<br />

85


um cálculo financeiro dizendo que aquela prestação está desequilibrada. É temerário dizer<br />

isso, até porque não vi nenhum de nossos peritos declarar alguma tecnologia como<br />

obsoleta.<br />

TATIANA CAMPELLO LOPES<br />

E tem outra implicação. Na hora em que calculamos o prazo do contrato, aquela<br />

tecnologia podia ser muito boa durante um determinado tempo, mas você calculou pagá­la<br />

progressivamente. Então, ter uma declaração de que ela é obsoleta pode causar um dano<br />

para a licenciante.<br />

Muito obrigada e boa noite a todos.<br />

86


PARTE II<br />

COMO EMPRESAS SOFISTICADAS RECONHECEM E EXTRAEM VALOR DO ATIVO PI<br />

Coordenação:<br />

Sonia Tuccori, Diretora da ANPEI<br />

Palestrante:<br />

Eusebi Nomen, Diretor da Disciplina de Análise de Ativos Intangíveis, Universitat Ramón<br />

Llull, Espanha<br />

Debatedores:<br />

Ada Gonçalves, Coordenadora da REPICT<br />

José Fernando Perez, Diretor Presidente da Recepta Biopharma S/A<br />

Helena Tenório, Chefe do Departamento de Políticas e Programas do BN<strong>DE</strong>S<br />

SONIA TUCORI<br />

Bom dia a todos, bem­vindos ao segundo dia do XI Encontro de Propriedade<br />

Intelectual e Comercialização de Tecnologia. A nossa manhã de hoje promete. Temos um<br />

tema bastante interessante sobre a questão da valorização e do impacto da proteção e<br />

gestão da propriedade intelectual nas empresas, nos negócios. Eu me sinto muita honrada.<br />

Quero agradecer o convite de estar aqui representando a ANPEI, que é a Associação de<br />

Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras do país, que aposta<br />

bastante na importância e na contribuição da inovação para promoção do nosso<br />

desenvolvimento econômico e social.<br />

Quero apresentar nosso convidado para a palestra dessa manhã, o professor Eusebi<br />

Nomen. Muito obrigada por estar aqui conosco compartilhando sua vasta experiência na<br />

área. Já tive um pouco de adiantamento da experiência do professor, tanto na parte de<br />

administração de empresas, de projetos ligados à construção de valor a partir de uma boa<br />

gestão de propriedade intelectual.<br />

Eu queria dividir com vocês o currículo do professor Eusebi Nomen. Ele é diretor da<br />

disciplina de Análise de Ativos Intangíveis da Escola de Negócios da Universitat Ramón<br />

Llull, na Espanha. É membro do Comitê de Valoração do Instituto de Análise de Ativos<br />

Intangíveis, e por dez anos foi delegado técnico dos Comitês Permanentes Especiais da<br />

OMPI. No campo dos negócios, ele já gerenciou ativos intangíveis complexos, como o<br />

desenvolvimento do mascote dos jogos olímpicos de Barcelona em 1992, quando participou<br />

de diversas negociações e valorações de ativos intangíveis. Sei que foram muitos milhões a<br />

partir de um pequeno desenho.<br />

Eu vou deixar o espaço para o professor Eusebi nos contar toda a sua experiência.<br />

EUSEBI NOMEN<br />

Não autorizado.<br />

SONIA TUCCORI<br />

Dando continuidade, eu gostaria de apresentar o professor José Fernando Perez. Ele<br />

é engenheiro eletrônico pela Escola Politécnica, possui bacharel em física pela Universidade<br />

87


de São Paulo, PhD pela Escola Politécnica de Zurique. É professor titular da Escola de<br />

Física da USP, na verdade foi até <strong>20</strong>04. É Diretor­Presidente da Recepta Biopharma desde<br />

abril de <strong>20</strong>05. Foi diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São<br />

Paulo (FAPESP), grande companheiro da Natura em várias iniciativas. Foi membro da<br />

Academia Brasileira de Ciências e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia,<br />

de <strong>20</strong>01 a <strong>20</strong>07.<br />

JOSÉ FERNANDO PEREZ<br />

Bom dia a todos, é um prazer participar do evento da REPICT. A minha apresentação neste<br />

evento talvez se justifique porque a Recepta Biopharma é uma empresa de biotecnologia<br />

que está desenvolvendo produtos para tratamento de câncer. É uma empresa de<br />

biotecnologia que, embora esteja no Brasil, embora exista essa teoria de que o Brasil deva<br />

se dedicar a desenvolver tecnologias exclusivamente ligadas ao nosso meio­ambiente, não<br />

lida com a biodiversidade brasileira e nem com doenças negligenciáveis. Temos a ambição<br />

de ser uma empresa como a Embraer, que é também uma empresa que não se imagina<br />

somente no Brasil. Nessa questão do modelo econômico, temos que tomar um pouco de<br />

grão de sal, porque às vezes há coisas que não cabem naquilo que se imagina que seja um<br />

modelo econômico que pode dar certo, por uma série de circunstâncias que viabilizam uma<br />

iniciativa como a da Recepta.<br />

Uma breve história sobre como fui parar nisso? Sou engenheiro e diretor científico da<br />

FAPESP durante doze anos. Lá eu tive a oportunidade de me envolver com biotecnologia,<br />

genoma e também com inovação tecnológica. Lançamos programas para pequenas<br />

empresas, fomos precursores do PAPPE na FINEP. Eu tinha muitas vezes vontade de estar<br />

do outro lado da mesa. Embora eu tenha tido uma carreira de físico teórico, eu provava<br />

teoremas, ou seja, muito longe de qualquer aplicação prática.<br />

O que aconteceu foi que o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, instituição<br />

internacional que tem uma presença no Brasil e em vários outros países, como Austrália,<br />

Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Suíça, tem uma filial em São Paulo e foi parceiro da<br />

FAPESP em projetos de genoma do câncer. Foi um parceiro agressivo, investiu sete<br />

milhões de dólares a fundo perdido, que foram casados com mais sete milhões de dólares<br />

da FAPESP. Dessa relação de confiança institucional emergiu uma relação de confiança<br />

pessoal, em que eu fui convidado por eles em janeiro de <strong>20</strong>04 a considerar a hipótese de<br />

liderar um processo de criação de uma empresa de biotecnologia no Brasil, que fosse lidar<br />

com ativos intangíveis de propriedade intelectual, desenvolver esses produtos e levá­los ao<br />

mercado. O Instituto Ludwig estava moldando seu modelo internacional e sempre acreditou<br />

no potencial que havia no Brasil para esse tipo de projeto. Eu aceitei porque achei que era<br />

um desafio que fazia todo sentido no Brasil. A nossa gestão na FAPESP sempre primou<br />

pela crença obsessiva de que podíamos fazer coisas mais ousadas do que vinham sendo<br />

feitas, principalmente em termos de ciência e tecnologia.<br />

Eu tive a felicidade de conseguir dois investidores brasileiros, e isso tem a ver<br />

também com o nosso valuation model, que são Emilio Odebrecht, da Construtora Odebrecht<br />

e da Braskem, e Jovelino Mineiro, que eu conhecia porque tinha financiando com a FAPESP<br />

um projeto de genoma do boi. Então, criamos a nossa empresa PR&D Biotech exatamente<br />

para fazer todo o modelo de negócios, inclusive, definir os termos da parceria com o Instituto<br />

Ludwig. Acabamos criando a Recepta Biopharma. Vale ressaltar que o Instituto Ludwig tem<br />

uma participação como sócio juntamente com a PR&D na Recepta Biopharma, sendo que a<br />

PRD tem maioria das ações.<br />

88


Por que uma empresa como essa pode dar certo no Brasil? O primeiro fato é que<br />

sabemos que tem gente altamente qualificada para tocar esse projeto. Esse é o principal<br />

recurso. Interessante que temos hospitais, muito curioso isso, existe uma infra­estrutura<br />

nesse país que foi criada por multinacionais, multinacionais farmacêuticas, que realizam<br />

testes clínicos aqui. Ao realizarem esses testes aqui, criaram uma competência nos<br />

hospitais. Os hospitais estão equipados, tem médicos, técnicos, competência para a<br />

realização de testes clínicos e tem também uma excelente infra­estrutura de serviços. Por<br />

exemplo, para se fazer um teste clínico do tipo o que Recepta faz hoje, faz­se necessário<br />

contratar uma clínica, uma empresa, para coordenar um teste clínico em mais de seis ou<br />

sete hospitais multicêntricos. Ao conversar com muitas dessas empresas, pelo menos duas<br />

delas disseram frases desse tipo: “professor, é uma emoção falar de teste clínico em<br />

português”. Isso porque realmente foi uma realidade criada por instituições multinacionais<br />

que está ociosa para inovação aqui no Brasil. Os custos são muito mais baixos e o Brasil<br />

tem um acesso fácil a pacientes, ao contrário dos países desenvolvidos, onde os testes<br />

clínicos competem por pacientes.<br />

Aqui no Brasil é uma questão humanitária oferecer teste clínico. Aqui neste país só<br />

quem é rico, quem esgota as opções terapêuticas, pega um avião e vai participar de um<br />

teste clínico no exterior. Na realidade, é importante que o Brasil ofereça esse tipo de tese.<br />

Inclusive isso vinha ocorrendo apenas por multinacionais.<br />

O ponto importante é que também existe uma nova cultura no país. Esse evento da<br />

REPICT testemunha isso de forma muito enfática. Existe uma cultura no país que mudou<br />

em relação à inovação, vários atores mudaram, vários agentes – como FINEP, BN<strong>DE</strong>S,<br />

FAPESP – estão empenhados em ativamente financiar inovação tecnológica em empresas.<br />

Um projeto como o nosso está dentro das prioridades da política industrial do Governo, foi<br />

referendado no PDP – o desenvolvimento de drogas e também a biotecnologia – como uma<br />

área portadora de futuro. E, também, a questão do tratamento do câncer no Brasil, mesmo<br />

em países ricos como o Reino Unido, é um problema crescente do sistema de saúde. No<br />

país é também um problema para a balança comercial. Ou seja, estamos fazendo uma coisa<br />

onde existe uma oportunidade e uma necessidade aqui no país.<br />

A parceria com o Instituto Ludwig ficou interessante, porque o Ludwig nos licenciou<br />

quatro anticorpos monoclonais, patenteados por eles, mas a parceria com eles envolve mais<br />

do que esse licenciamento. É uma transferência de conhecimento muito importante, onde<br />

muitos dos nossos cientistas e técnicos estão treinando nos diversos centros espalhados no<br />

mundo inteiro. Essa parceria é muito importante. Além disso, dá uma validação científica e<br />

tecnológica dupla para os nossos procedimentos. Quando o teste clínico é desenhado, nós<br />

discutimos com uma rede de pesquisadores que o Ludwig tem nos hospitais de excelência<br />

no mundo.<br />

O que faz a nossa empresa? Fazemos anticorpos monoclonais, que são proteínas<br />

que se ligam a outras proteínas específicas que estão nos tumores, que são chamadas<br />

alvos, são os antígenos. Tive que aprender um pouco dessa linguagem. Eu como físico tive<br />

que aprender genômica. Eu tive que absorver para me comunicar em público, e mais<br />

importante, com meus investidores.<br />

Temos que gerar novos anticorpos, além dos anticorpos que nos foram licenciados.<br />

Não estamos só trabalhando com os anticorpos gerados pelo Ludwig, mas a própria<br />

empresa está desenvolvendo e gerando seus anticorpos. Os anticorpos não são moléculas<br />

que podem ser sintetizadas. É uma proteína, fruto de uma produção biotecnológica, uma<br />

forma de expressar um gene numa célula animal. Estamos fazendo o desenvolvimento da<br />

droga para produzir em escala piloto, para fazer testes pré­clínicos com animais in vitro, e<br />

89


finalmente testes clínicos de fase 1 e fase 2 em humanos. Não pretendemos fazer fase 3,<br />

pelo menos não por agora, mas pretendemos licenciar nossa tecnologia para a indústria<br />

farmacêutica.<br />

Temos quatro anticorpos monoclonais, eu não vou falar sobre eles, mas para um<br />

deles já tinha sido feito o teste clínico de fase 1, então já podemos fazer o teste clínico de<br />

fase 2. A Recepta é a primeira empresa brasileira a fazer um teste clínico de fase 2,<br />

inteiramente desenhado no país e sendo conduzido nos hospitais brasileiros. Os três outros<br />

anticorpos estão em estágio anterior, mas temos que gerar antes essas moléculas para<br />

depois fazer os testes pré­clínicos e clínicos. E mais quatro anticorpos estão sendo gerados<br />

no país.<br />

A empresa tem duas divisões: uma divisão faz pesquisa e desenvolvimento com<br />

anticorpos, identifica alvos, gera anticorpos, produz as células e gera as moléculas; e uma<br />

divisão de oncologia que desenha os protocolos, que faz imuno­histoquímica. Isso é muito<br />

importante porque tem a ver com informação científica, uma informação que entra na<br />

valoração da empresa de forma decisiva. Ela dimensiona o mercado que você pode tratar,<br />

por exemplo, temos um anticorpo cujo antígeno se expressa em tumor de ovário, é uma<br />

informação importante obtida em laboratório, saber qual o percentual de tumores em ovário<br />

que expressam aquele antígeno. Imuno­histoquímica em escala é feita pela empresa, além<br />

dos testes clínicos fase 1 e fase 2.<br />

Nós fizemos um modelo totalmente baseado em parcerias. A natureza humana é<br />

muito virtuosa e nada como a necessidade para obrigá­la a tal. O fato é que essa<br />

competência que existe no Brasil muitas vezes não está disponível no mercado. A maioria<br />

das pessoas que faz isso está nas universidades ou nos institutos de pesquisa. Não há<br />

como tirá­las do ambiente acadêmico, a não ser a preço de ouro, o que uma empresa start­<br />

up como a nossa não possui para pagar. Portanto, resolvemos trabalhar com esses<br />

pesquisadores dentro das universidades, dentro dos laboratórios de pesquisa. Mas isso<br />

requer que a empresa tenha uma equipe interna de qualidade que possa dialogar, definir, e,<br />

ao mesmo tempo, uma equipe da empresa dentro do laboratório para acompanhar<br />

minuciosamente a execução do projeto. Vocês sabem que a universidade tem o seu ritmo<br />

próprio, então é necessário garantir que esse processo tenha um duplo controle. Na<br />

verdade, fala­se muito de parceria universidade e empresa, mas eu tenho uma idéia muito<br />

clara. A função da universidade é formar gente, e parcerias desse tipo tem que ser do tipo<br />

ganha­ganha. Em imuno­histoquímica, por exemplo, o que ganha a universidade na relação<br />

com a Recepta? Ela publica papers, que é o que uma universidade tem que fazer, e quanto<br />

mais papers publicar, melhor para eles e melhor para nós. Nós temos dentro do laboratório<br />

de uma faculdade de medicina uma equipe da Recepta trabalhando com pesquisadores.<br />

Temos também uma equipe externa que envolve vinte e dois pesquisadores que<br />

trabalham nos laboratórios de pesquisa das instituições parceiras. Além disso, há o teste<br />

clínico também, que é algo muito complexo. Poucos médicos entendem a complexidade de<br />

se fazer um teste clínico, mesmo os comitês de ética dos hospitais muitas vezes não<br />

entendem tamanha complexidade da realização de um teste clínico de fase 2. Na verdade, é<br />

necessário ter um protocolo muito bem preparado de um teste clínico para registrar no US<br />

Food and Drug Administration, FDA americano. Nenhuma empresa quer fazer um teste<br />

clínico aqui para depois sair correndo atrás e verificar se o FDA vai reconhecê­lo ou não.<br />

Tem que se ter o protocolo, uma logística muito boa, por exemplo, para transportar os<br />

anticorpos a ­80 graus centígrados da Austrália para São Paulo, que devem ser<br />

transportados de forma rastreável e documentada, porque a ANVISA pode querer verificar.<br />

90


Temos seis hospitais parceiros em São Paulo, no Rio de Janeiro – onde o INCA está<br />

dando uma colaboração muito importante – e em Belo Horizonte. Somo uma das poucas<br />

empresas que possui um protocolo registrado no National Cancer Institute (NCI), por<br />

exigência do FDA.<br />

Nós nos beneficiamos de vários programas federais, sendo dois programas da<br />

FINEP, um para financiar parcerias universidade­empresa. É o caso do financiamento de<br />

uma parceria com o Instituto Butantan, onde desenvolvemos a biotecnologia em parceria<br />

com a faculdade de medicina. Também fomos uma das primeiras empresas a ser<br />

contemplada pelo programa de subvenção econômica, e também, como não pode deixar de<br />

ser, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.<br />

Esqueci de ressaltar uma questão importante ainda sobre parcerias, que foi uma<br />

parceria que com o MIT. Isso é muito importante e falta no nosso ecossistema. O MIT me<br />

mandou quatro estudantes de MBA, que vieram de graça. A Recepta pagou duas<br />

passagens aéreas e o MIT pagou mais duas. Eles fizeram um valuation model para a<br />

empresa, em relação a cada um daqueles anticorpos do nosso portfólio. A valoração disso é<br />

muito sofisticada. O processo de geração desse produto, de agregação de valor, até chegar<br />

ao produto final que vai para o mercado, tem que ser dividido em etapas. Cada etapa tem<br />

uma meta muito claramente definida. Por exemplo, um este clínico de fase 1, um teste<br />

clínico de fase 2, aprovação pela ANVISA ou FDA são etapas muito bem definidas. Cada<br />

uma dessas etapas tem um custo, que você tem que saber calcular, e um tempo de<br />

execução. Aí se tem uma probabilidade de sucesso ou de fracasso. Isso enriquece muito o<br />

modelo, porque você incorpora o elemento de risco associado. Depois dessa probabilidade<br />

você verifica como vai vender o seu produto, olhando os comparáveis que existem no<br />

mercado. Os comparáveis dos anticorpos monoclonais que estão no mercado são apenas<br />

oito. O nono entrou no mercado no ano passado. Existem, portanto, nove anticorpos<br />

monoclonais no mercado para tratamento de câncer. Esses dados são públicos. Quanto<br />

custa um tratamento, qual é a incidência da doença, qual é a fração de pacientes com<br />

determinado tipo de tumor que expressa o alvo que a empresa vai tomar, são questões de<br />

mercado que devem ser pesquisadas. Basta você saber este quantitativo, valores e número<br />

de unidades, que consegue chegar ao valor presente, ponderando tudo com as<br />

probabilidades, e consegue, a qualquer momento, dar o expectation value da sua molécula<br />

em cada instante. São instantes diferentes para a empresa. Um instante foi aquele em que<br />

eu tive que negociar com os investidores, outro instante é aquele em que tive que negociar<br />

com a segunda rodada de investidores para financiamento da empresa, outro é quando eu<br />

tiver a molécula testada depois da fase 2 e negociá­la com a indústria farmacêutica para<br />

resolver os problemas discutidos aqui, para saber para quem vou vender e distribuir bem.<br />

Isso tudo tem a ver com o que foi levantado por Eusebi.<br />

A Recepta tem que fazer isso, uma questão de gestão da propriedade intelectual. A<br />

empresa nasce licenciando e tem que saber atribuir valor. Isso é algo que falta aqui no<br />

Brasil. Na FAPESP eu tive oportunidade de acompanhar vários projetos de inovação<br />

tecnológica, que são idéias boas, com grande potencial, mas em que falta essa dimensão<br />

de negócio. Essa questão é fundamental. Na FAPESP foi feita uma análise que verificou<br />

que essas empresas têm um excelente portfólio tecnológico, mas não sabiam gerir a<br />

inovação, desde questões de management até valor para conseguir atrair o investidor. Isso<br />

tudo é central, algo que acho que as escolas de administração no Brasil teriam que fazer. As<br />

agências de fomento deviam estimular e cobrar que as escolas de administração façam<br />

esse papel que o MIT fez de graça para nós, porque para eles é academicamente<br />

importante, fazer com que a escola de administração participe desse processo da gestão da<br />

inovação, em particular nessa questão central da valoração. Existe mais dinheiro para<br />

financiar inovação do que projetos bons. Não que não existem idéias boas, existem idéias<br />

91


muito boas, se todas essas idéias se transformassem em bons planos de negócios, o<br />

dinheiro seria pequeno. Na realidade existe mais gente no mercado, mais angel investors.<br />

Eu tive uma conselheira importante nesse processo, a Marilia Rocca da Endeavor, que é<br />

uma ONG que envolve empreendedorismo no Brasil. Quando eu criei a empresa, eu estava<br />

indo pegar dinheiro de capital de risco, e ela me disse para não pegar dinheiro de capital de<br />

risco naquele momento, porque o capital de risco no Brasil não tem uma vocação tão alta<br />

para o risco de longo prazo. Biotecnologia é algo importante a observar, inclusive é bom<br />

porque o capítulo de inovação, e biotecnologia é um capítulo de inovação muito diferente<br />

dos outros capítulos de inovação, tem especificidades que ainda não estão sendo<br />

contempladas nos diversos programas. Os programas são genéricos. A inovação<br />

tecnológica em embriologia tem três ingredientes. Eu recomendo um livro muito bom,<br />

denominado Science Business, o autor é Gary Pisano, professor da Harvard Business<br />

School. Ele analisa, em particular, o caso da biotecnologia na área de saúde humana. A<br />

biotecnologia não é muito atraente para o investidor, por três razões fundamentais. Primeiro,<br />

porque o investimento é maior que em outras áreas; segundo, por causa do tempo de<br />

maturação, ou seja, o tempo que você leva para ter retorno é muito maior que em outras<br />

áreas; e terceiro, pior de tudo, é o grau de risco, ele nem usa a palavra risco, ele usa<br />

incerteza, porque risco é quantificável. Quando você faz um projeto de um avião, os<br />

elementos de viabilidade técnica do projeto estão definidos a priori, você sabe que seu avião<br />

vai voar. Se vai vender ou não, isso é uma outra história. Na biotecnologia até o último<br />

momento, até o último teste clínico da fase 3, e mesmo depois do teste clínico, o FDA pode<br />

dizer não. Como aconteceu no caso concreto da Genentech, que tinha um remédio para<br />

asma maravilhoso, passou na fase 3, mas o FDA falou que havia muitos pacientes no<br />

mundo inteiro e com isso o teste clínico precisa de um número maior de pessoas para<br />

avaliar. Então, em biotecnologia, até o último passo você não sabe se vai voar, porém se<br />

voar, voa alto, tem um risco comercial menor, como é o nosso caso.<br />

Estou fazendo esses comentários porque a Recepta é uma empresa que desenvolve<br />

a propriedade intelectual, e no final das contas, tem que saber quanto vale a propriedade<br />

intelectual após a agregação de valor que se faz nesse processo. Como eu disse, é<br />

incerteza total, e não escondemos isso de nossos investidores, tampouco dos nossos<br />

financiadores. É um momento especial que nós vivemos no Brasil e sou uma pessoa<br />

excessivamente otimista. Por enquanto tenho conseguido transmitir esse otimismo aos<br />

nossos investidores, e espero que isso continue ainda por um tempo. Muito obrigado.<br />

SONIA TUCCORI<br />

Gostaria de agradecer o professor José Fernando Perez pela exposição e convidar<br />

Helena Tenório. Helena é do BN<strong>DE</strong>S, formada em economia, possui mestrado em economia<br />

pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), administração na COPPEAD também<br />

na UFRJ. Há dez anos trabalha no BN<strong>DE</strong>S. Atualmente é chefe do departamento que cuida<br />

da criação de novas políticas e programas do Banco. Também coordenou o projeto de<br />

avaliação de intangíveis com a COPPE e é membro dos comitês do SIBRATEC, INT e<br />

FINEP.<br />

HELENA TENÓRIO<br />

Bom dia a todos. Eu vou falar um pouco desse projeto de avaliação dos intangíveis<br />

no BN<strong>DE</strong>S. Acho que posso fazer um paralelo com muito do que o professor Eusebi falou. O<br />

departamento do qual eu sou chefe é um departamento que cuida de novas políticas e<br />

novos programas. Essa nova visão do BN<strong>DE</strong>S sobre intangíveis está no cerne da discussão<br />

92


desta manha. Estamos ainda implementando, ainda está numa fase de novidade, de modo<br />

que o que eu vou falar aqui para vocês é um pouco do projeto, de como foi sua criação. Eu<br />

queria destacar primeiramente duas coisas que vão diferenciar um pouco a minha<br />

apresentação do que o professor Eusebi falou. Primeiro: eu não vou falar de valoração de<br />

intangíveis, ou seja, não vou falar de determinação de valor, mas sim de avaliação, que é<br />

um ponto diferente, mas muito importante para o BN<strong>DE</strong>S porque imaginar que um banco de<br />

desenvolvimento vai dar valor a um intangível de uma empresa é complicado. Daqui a<br />

pouco sairia uma notícia dizendo que o BN<strong>DE</strong>S determinou que o valor do intangível tal, que<br />

a propriedade intelectual vale tanto. Não fazemos isso, o que fazemos é na hora da<br />

avaliação do crédito, na hora da avaliação da empresa, começamos a considerar quais são<br />

os ativos ou os recursos intangíveis das empresas. Um segundo ponto que eu queria deixar<br />

muito claro aqui na apresentação é o porquê do BN<strong>DE</strong>S estar preocupado e estar<br />

trabalhando neste assunto. A resposta a essa pergunta parte da noção do que é<br />

desenvolvimento.<br />

Um banco de desenvolvimento, cuja missão é desenvolver, tem que ter a noção e o<br />

conceito de desenvolvimento. Esse conceito tem mudado durante o tempo. O<br />

desenvolvimento não é simplesmente crescimento, não é simplesmente crescimento do PIB,<br />

não é simplesmente mais do mesmo. O desenvolvimento está associado a fazer mais sobre<br />

o diferente. Além disso, o desenvolvimento está relacionado a um problema que temos aqui<br />

no Brasil, que é a questão da desigualdade social. Esse é um ponto absolutamente<br />

polêmico, mas que eu não poderia deixar de mencionar, porém vou me concentrar no outro<br />

lado, ou seja, no desenvolvimento em termos de conhecimento, de inovação, de dinâmica e<br />

dos fatores intangíveis.<br />

Qual o contexto desse novo desenvolvimento? O contexto da passagem de uma<br />

sociedade, que chamamos de industrial, para uma sociedade do conhecimento. Todos<br />

vocês aqui conhecem muito bem esse contexto e entendem que hoje em dia estamos<br />

vivendo uma sociedade do conhecimento. Essa passagem não é tão simples. Se pararmos<br />

para pensar, o BN<strong>DE</strong>S foi criado no berço da sociedade industrial, na era de Vargas,<br />

quando foi criada a Petrobras, a CSN, para financiar a infra­estrutura e a indústria brasileira.<br />

Eu gosto de falar isso porque dá a noção do quanto é difícil um banco que foi criado dentro<br />

dessa estrutura de ativos tangíveis, de máquinas, de equipamentos, de infra­estrutura,<br />

migrar para a sociedade do conhecimento, onde não temos máquinas, mas gestão de<br />

conhecimento, idéias é que são predominantes. Eu voltei domingo de uma missão à<br />

Finlândia e à Irlanda, onde fomos entender como é que esses dois países deram um grande<br />

salto. Pelo que eu pude constatar é algo recente. A Finlândia, por exemplo, é um país de<br />

base florestal, madeira, borracha. Em muito pouco tempo ela deu um salto para essa<br />

sociedade do conhecimento, muito levado pela Nokia, que, aliás, era uma empresa<br />

madeireira e deu seu salto tecnológico. Então, não é um processo tão lento assim, o que<br />

precisamos é nos engajar.<br />

Dentro dessa sociedade do conhecimento, o que muda? Por que é tão importante<br />

conhecermos esse contexto? Eu vou destacar cada um desses pontos aqui apresentados. O<br />

primeiro é a ruptura do conceito de valor, que acho que o professor Eusebi deu uma aula<br />

enorme dizendo que a geração do valor é diferente. E é diferente mesmo, e as firmas têm<br />

que estar atentas a isso. O novo ambiente de negócios também é diferente, existe a<br />

crescente competição. Isso é a dinâmica das inovações. Quais são os determinantes do<br />

valor? Conhecimento, posicionamento estratégico e capacidade de atuação em redes. A<br />

formação de redes também é um destaque da nossa programação, estar dentro de redes é<br />

um grande intangível, é formação de valor. Outro ponto interessantíssimo é que os ativos<br />

intangíveis tornam ultrapassado o conceito de setor tradicional. Não existe mais setor<br />

tradicional, e com isso um país como o Brasil, essencialmente ligado a setores tradicionais e<br />

93


a commodities, perde nesse contexto. Levar inovação a diferentes setores tradicionais torna­<br />

se extremamente relevante. E a propagação de conhecimento é totalmente diferente da<br />

sociedade industrial. Na sociedade industrial você tinha os valores e eles eram divisíveis.<br />

Agora, na sociedade do conhecimento, eles podem ser multiplicados, sem que se tenha<br />

nenhum impacto em termos de produção e consumo. É uma lógica diferente de produção.<br />

Por que isso é importante para o Brasil? Por que isso é importante para as<br />

empresas? Por que o BN<strong>DE</strong>S está nisso e considera um dos itens mais importantes de<br />

visão de futuro. Para o Brasil é buscar o desafio, é se comparar a países como Irlanda,<br />

como Finlândia, não deixar que esse fosso aumente e, principalmente, não deixar os nossos<br />

cérebros saírem daqui, que é algo que acontece. A atração de pessoas formadas, com<br />

conhecimento, hoje em dia acontece. Se dermos valor a isso, a tendência é que esses<br />

cérebros e esse conhecimento fiquem no Brasil.<br />

As empresas estão ligadas à competitividade. Elas precisam cada vez mais dar esse<br />

salto de competitividade. É algo como avaliar seus intangíveis, deixar isso transparente,<br />

mostrar para a sociedade e, como isso, ter o menor custo de captação e a maior confiança<br />

dos seus investidores. Para o BN<strong>DE</strong>S, que é principal fonte de financiamento de longo prazo<br />

da nossa economia e banco de desenvolvimento, ter essa nova visão de desenvolvimento e<br />

olhar sempre para o futuro é muito importante.<br />

Vou citar aqui alguém que tem uma enorme credibilidade internacional e que<br />

reafirmou recentemente a importância do valor das idéias e dos ativos intangíveis – Alan<br />

Greenspan. Entretanto, ao mesmo tempo em que ele afirma isso, ele deixa um grande<br />

desafio, que é o que estamos aqui discutindo, que é o desafio dado aos economistas – que<br />

não é só deles, mas de toda a sociedade – de como medir e avaliar o resultado desse novo<br />

complexo panorama. Ele ainda diz que muitos problemas ocorrerão no futuro ou já estão<br />

ocorrendo.<br />

Rapidamente eu vou qualificar um pouco a questão de intangíveis que o BN<strong>DE</strong>S está<br />

trabalhando. Trabalhamos muito com a definição do professor Baruch Lev da New York<br />

University, que dá ênfase a questão da combinação das fontes de geração de intangíveis. É<br />

a inovação, são as práticas organizacionais, é o capital humano, mas é muito mais a<br />

interligação entre todas essas fontes de geração de valor.<br />

O desafio e a motivação do BN<strong>DE</strong>S é como olhar para isso. Esses projetos são<br />

únicos, eles não geram garantias reais e envolvem avaliação de intangíveis. Como eu posso<br />

avaliar corretamente uma empresa que chega ao BN<strong>DE</strong>S? Esse gráfico é o gráfico do nosso<br />

diretor Eduardo Rath Fingerl. A primeira vista parece um pouco complexo, mas é<br />

interessantíssimo, porque dá a real visão do que acontece dentro de um banco. Estou<br />

supondo uma empresa A, que é a linha verde, e a empresa B, que é a linha azul. Ambas as<br />

empresas partem do mesmo ponto, que é a relação lucro com despesas em intangíveis. Só<br />

que a empresa A começa a fazer investimentos, que não são vistos como investimentos,<br />

são vistos como despesa dentro do seu balanço. Ela começa a ter redução desse valor, ela<br />

investe num Balance Scorecard (BSC) e depois investe numa plataforma maior, investe em<br />

P&D, investimento em relacionamento com o cliente através de Customer Relation<br />

Management (CRM) e investe em design. No momento quatro, ambas as empresas vêm ao<br />

BN<strong>DE</strong>S. Se um banco fizer uma análise de crédito baseada apenas nos seus balanços<br />

contábeis e olhar as duas empresas, a decisão será pela empresa B. Só que infelizmente<br />

não conseguimos ver do momento quatro em diante, o longo prazo. Mas se<br />

conseguíssemos avaliar isso, conseguiríamos ver que a empresa A, apesar dos seus dados<br />

financeiros restritos demonstrarem que ela está bem mais preparada para o futuro. Esse é o<br />

desafio, o desafio de não olhar somente o retrato financeiro, indicadores financeiros, e olhar<br />

94


o que está por trás dessa empresa, como essa empresa trabalhou na criação de ativos que<br />

vão criar valor no futuro.<br />

Dada essa preocupação, dado esse fato de chegarem duas empresas que podem<br />

ser avaliadas, dado o novo conceito de desenvolvimento que envolve a avaliação e a<br />

criação de ativos intangíveis, o BN<strong>DE</strong>S firmou um contrato com a COPPE/CRIE, em abril de<br />

<strong>20</strong>07, para desenvolver uma metodologia de avaliação de intangíveis. O professor José<br />

Arnaldo está aqui e foi o nosso consultor nesse projeto. Ele dará um mini­curso hoje de<br />

tarde sobre como a COPPE tem essa metodologia que foi incorporada ao BN<strong>DE</strong>S. Isso<br />

envolve três aspectos. Um deles é o relatório de capital intangível, que é estimular as<br />

empresas a relatarem isso, um benefício que a empresa tem. E ao relatar isso ela ganha<br />

mais confiança de seus investidores. O rating de CI, que é o gráfico anterior, de como duas<br />

empresas que chegam ao BN<strong>DE</strong>S são avaliadas, como qualquer outro banco, isso ocorre<br />

através de rating, dando uma nota comparativa para essas empresas. Então, incorporamos<br />

na nossa metodologia de rating a avaliação dos intangíveis. Fizemos um grande seminário<br />

internacional, em outubro do ano passado. A conscientização é também estar aqui, é falar,<br />

mostrar que estamos dando muita importância, estamos fazendo parte dessa rede de troca<br />

de idéias e conhecimento. Além disso, o BN<strong>DE</strong>S participa junto com o CRIE de um grande<br />

fórum internacional, chamado Novo Clube de Paris, onde as idéias sobre essa questão de<br />

valoração, de avaliação de intangíveis, são trocadas em nível mundial.<br />

Este é o modelo que José Arnaldo vai falar no curso de tarde, um modelo do CRIE<br />

que foi a base para a criação do rating de intangíveis. O capital estratégico está acima de<br />

todos os capitais. Isso é importantíssimo, porque a visão estratégica e a questão da<br />

capacitação dinâmica fazem com que todos os outros capitais estejam diretamente<br />

relacionados ao capital estratégico. Ou seja, cada um dos processos, das inovações, das<br />

marcas, tem que ter uma relação direta com a sua estratégia, uma relação dinâmica. A partir<br />

do momento em que a estratégia muda, os capitais também têm que ser adaptados. Você<br />

tem o capital ambiental em torno, que é onde a empresa está, é tudo que está em volta da<br />

empresa e que gera valor por ela estar nesse ambiente.<br />

Esse conceito que usamos de capacitação dinâmica é fundamental. Uma das<br />

questões que precisa ser avaliada é o capital estratégico da empresa, é a competência<br />

dessa empresa em monitorar o ambiente externo percebendo as oportunidades. Nessa<br />

sociedade do conhecimento, a empresa tem que estar o tempo todo ligada e monitorando,<br />

uma vez que as mudanças são muito rápidas, e a partir daí formular e reconfigurar as<br />

estratégias, protegendo seus ativos e competências. Uma empresa que gera uma inovação,<br />

que fique somente nessa inovação e se sinta proprietária daquilo porque tem sua<br />

propriedade, sua patente, não percebendo o que está acontecendo em volta, pode ser<br />

rapidamente ultrapassada por isso. Portanto, é fundamental essa visão.<br />

Esses são os capitais que obtivemos dessa metodologia – capital estratégico, capital<br />

financeiro, capital estrutural, capital de relacionamento, capital humano e capital ambiental –<br />

cada um com a sua visão, mais uma vez, alinhado à questão de ser dinâmico, alinhado à<br />

estratégia e centrado no valor das firmas, que é o que queremos ver como resultado final. O<br />

modelo ficou assim, com esses seis capitais, com alguns indicadores e competências. E um<br />

conjunto de perguntas é formulado à empresa, como por exemplo: a empresa possui um<br />

mecanismo eficiente que a permita monitorar o seu ambiente externo (mercadológico,<br />

político, social, demográfico e tecnológico)? A partir dessa pergunta, por exemplo, é dada<br />

uma nota de um a sete. Depois, de acordo com os pesos – na verdade, um total de<br />

cinqüenta e três perguntas – se tem como resultado o rating dessa empresa de avaliação de<br />

intangíveis.<br />

95


Essa metodologia, junto com o CRIE, foi aplicada a quatro empresas da carteira do<br />

BN<strong>DE</strong>S, empresas parceiras muito fortes em intangíveis: a Embraer, a Suzano, a Totvs e a<br />

Genoa, esta última sendo a única pequena empresa, uma start­up na área de biotecnologia.<br />

Terminando essa fase de teste inicial, em março, mais trinta e seis empresas da<br />

carteira do BN<strong>DE</strong>S foram testadas com essa metodologia. Em julho já adotamos a<br />

metodologia e em setembro começou a ser implementado um novo conceito setorial para<br />

fazer parte dessa nova metodologia de inovação. Se já ampliamos o conceito de intangíveis,<br />

agora estamos melhorando e vendo como cada empresa se insere dentro do seu setor,<br />

dentro do seu padrão de concorrência.<br />

Eu teria mais para falar, como isso impacta em políticas, em programas do BN<strong>DE</strong>S<br />

de inovação, mas acho que vou ficar por aqui, porque o central era falarmos da metodologia.<br />

Essa apresentação estará na Internet. Eu concluo a minha apresentação falando das ações<br />

práticas, das primeiras respostas aos desafios. O grande desafio, como eu mencionei, é a<br />

economia do conhecimento versus a economia industrial. Portanto, a maior ênfase no futuro<br />

e na avaliação dos intangíveis na hora em que você avalia o risco de crédito; o foco na<br />

estratégia empresarial, que toma uma dimensão importantíssima; e diferentes formas de<br />

apoio à inovação, diferentes conceitos de inovação, um conceito de inovação muito mais<br />

amplo e também relacionado à novas formas organizacionais de comercialização de<br />

produtos.<br />

Uma das respostas do BN<strong>DE</strong>S é o Criatec, que é o nosso fundo de seed money, que<br />

já adota essa metodologia de avaliação de intangíveis quando faz a avaliação de uma<br />

pequena empresa. Uma nova linha de inovação denominada Linha de Capital Inovador,<br />

onde a visão do projeto é substituída por uma visão de empresa, então o financiamento é<br />

para planos estratégicos de inovação dessa empresa. E o projeto de avaliação de<br />

intangíveis, que foi o foco da minha apresentação. Muito obrigada.<br />

SONIA TUCCORI<br />

Helena, muito obrigada, foi muito interessante e estimulante essa nova iniciativa do<br />

BN<strong>DE</strong>S em nos apoiar no caminho da inovação, evolução, economia do conhecimento. Eu<br />

queria dar agora espaço à Ada da FINEP para debater o tema.<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES VIANNA<br />

Eu queria comentar alguns pontos. Eu pessoalmente comecei a olhar com mais<br />

atenção a questão de propriedade intelectual quando coordenava uma agenda de capital de<br />

risco, percebendo por parte do mercado de investidores como a valoração do negócio. Isso<br />

também passava muito pela questão tecnológica, um ponto importante de decisão para o<br />

investimento. Já atuando na FINEP, inclusive, isso de alguma maneira me chamou atenção.<br />

De alguma forma, eu trago aqui três comentários ou reflexões.<br />

Naquele momento, e de um tempo para cá, comecei a tentar fazer alguma analogia,<br />

não completa e nem automática, com relação aos métodos de valoração com abordagens<br />

mais financeiras, tradicionais, com a tentativa de valorar tecnologias e a partir daí decidir<br />

investimentos, projetando ganhos econômicos para os investidores, para os<br />

empreendedores. Isso para um viés. Para o lado da ação de fomento, percebemos hoje, e<br />

eu me remeto à apresentação do Glauco Arbix ontem de manhã. Ele fez um painel de vários<br />

sistemas de inovação em vários países, onde a referência da atuação da universidade, além<br />

96


da geração de conhecimento, está sendo revista ou revisitada, na medida em que se<br />

assume que a geração de conhecimento é a principal atividade das universidades e<br />

instituições de pesquisa. Mas no mundo em que vivemos hoje é uma condição que precisa<br />

ser trabalhada a serviço da sociedade. A partir daí o envolvimento com empresas. Num<br />

terceiro ponto, vemos as agências de fomento e a necessidade de rever os conceitos e<br />

metodologias de avaliação de fomento, já que pretendemos dizer que estamos atuando no<br />

melhor apoio à inovação, mesmo sabendo que ainda temos que melhorar muito. Do lado da<br />

REPICT, o último comentário, por enquanto, na medida em que o papel da propriedade<br />

intelectual, que de alguma forma é o eixo dessa programação, tenta exatamente explorar<br />

um pouco mais. A questão da propriedade intelectual não deve ser vista por todos os<br />

agentes como um referencial somente jurídico e legal de proteção, mas como uma condição<br />

estratégica do modelo de empresas de vários tipos, de vários setores e de vários mercados.<br />

Na verdade, eu queria somente colocar essas reflexões e podemos comentar, para<br />

não tomar o tempo de vocês. Eu acho que não me cabe fazer apresentações ainda, mas<br />

acho que dadas todas as informações e conceitos que olhamos e revisamos foram muito<br />

interessantes. Eu gostaria mesmo de deixar espaço para debatermos. Da parte da REPICT,<br />

que tem parceria com a OMPI e outros grupos, temos uma perspectiva que precisa ser<br />

discutida e bem estruturada, de oferecer outras atividades relacionadas a essa discussão no<br />

próximo período, através de cursos, seminários, com as pessoas aqui presentes e outros<br />

que já estão atuando nesse assunto, para que consigamos melhorar o patamar de<br />

conhecimento e de informação sobre esse novo olhar sobre a questão de patentes, não só<br />

para ações de fomento, de investimento e até mesmo de percepção das universidades e<br />

das empresas sobre valoração de conhecimento. Obrigada.<br />

SONIA TUCCORI<br />

Obrigada, Ada. A Ada é nossa grande sponsor aqui, está nos apoiando muito para<br />

organizar esse evento, é muito solidária nessa questão da gestão do conhecimento,<br />

estímulo à inovação, como nos apoiar na organização, ou então em termos de rede, com<br />

fomentos, e com inspiração para desenvolvermos empresas e para as instituições se<br />

articularem melhor para desenvolvimento de inovação e contribuição para a sociedade, para<br />

o desenvolvimento econômico do nosso país.<br />

Eu aqui hoje, representando a ANPEI, gostaria apenas de destacar o que é a ANPEI.<br />

É uma associação nacional de pesquisa, desenvolvimento e engenharia, e hoje colocamos<br />

mais um “i”, de inovação, que congrega empresas brasileiras que apostam na inovação,<br />

instituições de pesquisa, ciência e tecnologia também, que apostam na inovação como um<br />

valor fundamental para diferenciação e sustentação dos negócios, tanto nacionais quanto no<br />

cenário global. A ANPEI tem feito esse trabalho. Nossa missão é estimular, dentro de um<br />

grupo de instituições preocupadas e que acreditam no valor da inovação, os processos de<br />

inovação no país, participando de várias associações e várias organizações que trabalham<br />

com essa mesma finalidade.<br />

Aqui temos uma relação das formas de atuação junto às empresas, instituições de<br />

ciência e tecnologia, junto aos órgãos de governo, junto aos órgãos de fomento à inovação.<br />

Estamos trabalhando em diversas frentes, temos vários parceiros nacionais, vários parceiros<br />

internacionais, participamos de associações similares na Ásia, nos Estados Unidos, na<br />

Europa. Promovemos cursos associados à difusão da inovação: como investir em P&D,<br />

como montar áreas de P&D na empresa. Temos grupos temáticos discutindo como<br />

promover a interação entre ICTs e empresas com foco em promover trabalhos em parceria,<br />

buscando essa relação ganha­ganha, citada aqui por várias das pessoas que falaram.<br />

97


Enfim, temos muito na parte de capacitação, de como trabalhar com os ativos intangíveis,<br />

com PI. São várias iniciativas, e acredito que haja espaço junto ao BN<strong>DE</strong>S, junto à FINEP e<br />

junto à REPICT, como a Ada colocou, trabalhar nesses cursos que tenham objetivos<br />

comuns, para nos preparar para atuarmos com a vista da economia do conhecimento, com<br />

atuação global, com atuação de proteção dos nossos ativos.<br />

Como o professor Eusebi comentou também, eu gostaria de fazer um rápido<br />

comentário sobre a preocupação de trabalharmos a inovação num contexto mais amplo, nas<br />

suas diversas definições de produtos, processos, conceitos, utilidades emocionais, sociais, e<br />

com a preocupação de buscar geração desse valor econômico, que é maior que o custo<br />

econômico. Acho que a PI assegura às empresas competitividade no mercado nacional,<br />

internacional, remete segurança de que possamos nos desenvolver num mercado de<br />

diferenciação, não apenas de commodities, onde a guerra pelos custos e preços acaba<br />

muitas vezes derrubando as empresas.<br />

Eu queria retomar ao ponto de tolerância zero para a pirataria, que foi muito bem<br />

colocado pelo professor Eusebi também. Acho que eu gostaria apenas de adicionar um<br />

comentário, para que o professor possa fazer conosco uma rica troca de informações, visto<br />

a experiência que ele desenvolveu no projeto Panamá, com as comunidades indígenas de<br />

lá, é muito interessante. Nós também podemos contar um pouco das nossas experiências<br />

aqui. Acho que aqui no Brasil já possuímos contratos aprovados pelo CGEN de autorização<br />

ao acesso à biodiversidade e ao conhecimento tradicional. Eu trabalho na Natura, eu posso<br />

dizer que já temos contratos aprovados, e acredito que outras instituições também tenham.<br />

Aqui no Brasil estamos avançando na questão da proteção ao conhecimento tradicional da<br />

biodiversidade. É muito importante que isso tenha uma proteção de escopo internacional,<br />

porque, de fato, temos que proteger nossos ativos intangíveis para evitar que a pirataria<br />

ocorra, e outros países se utilizem os nossos bens, da nossa riqueza da biodiversidade.<br />

Sobre a apresentação do professor Fernando Perez, sobre a cultura da inovação que<br />

está se desenvolvendo aceleradamente no país, percebemos isso em eventos como este<br />

REPICT. Acho que a questão das parcerias e do estímulo à interação entre empresa e<br />

universidades vem acontecendo muito. Eu falo isso também porque, na ANPEI, o nosso<br />

Comitê de ICT e Empresa tem desenvolvido atividades que tem nos ajudado bastante.<br />

Em relação ao BN<strong>DE</strong>S, eu acredito que nessa nova abordagem de apoiar o conceito<br />

da inovação, desenvolvendo uma metodologia para realizar avaliação dos ativos intangíveis,<br />

é um desafio para todos. Acho que essa discussão é saudável para isso.<br />

Agradeço os comentários da Ada sobre a questão do apoio que os órgãos de<br />

fomento tem nos dado para desenvolvimento na área de inovação e proteção dos ativos<br />

intangíveis.<br />

Agora temos um tempo para perguntas da platéia.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

EDUARDO PEREIRA DA SILVA<br />

A minha pergunta é para o professor José Fernando Perez. Em primeiro lugar,<br />

parabéns pela brilhante apresentação. Segundo, em relação aos conceitos colocados pelo<br />

98


professor Eusebi, o valor agregado seria a utilidade percebida menos os custos econômicos.<br />

Como inferir o valor econômico de um anticorpo contra o câncer, por exemplo, uma vez que<br />

a utilidade percebida desse anticorpo seria semelhante à utilidade percebida da água no<br />

deserto?<br />

JOSÉ FERNANDO PEREZ<br />

O câncer é um desafio enorme. Eu não sou médico, não faço exercício legal da<br />

profissão, estou apenas citando fontes respeitáveis. A visão atual sobre tratamento de<br />

câncer diz que ele será cada vez mais personalizado, mais individual. Os anticorpos<br />

monoclonais, que falamos aqui, ilustram muito bem isso. Na verdade, estamos tratando<br />

pacientes com tumor de ovário – fazendo testes clínicos – e não é simplesmente tumor de<br />

ovário. Antes de o paciente ser elegível para o teste, você precisa verificar se o tumor desse<br />

paciente expressa o antígeno, se ele tem o alvo. Cada tipo de tumor tem a sua coleção<br />

específica de alvos, é algo bastante personalizado. A visão que existe é de que o câncer é<br />

uma doença que não será curada, ela será controlável, assim como é controlável a<br />

hipertensão, o colesterol, a diabetes. É uma doença que será tratada para o futuro, assim<br />

como a AIDS, com um coquetel de drogas.<br />

Existe um estado interessante do Grupo Goldman Sachs que mostra porque o<br />

câncer é uma excelente oportunidade para a área de biotecnologia. Há necessidades<br />

médicas muito claras, existe uma demanda de mercado muito forte. É água no deserto<br />

realmente, mas, pelo contrário, cada vez mais existirão mais drogas, muitas vezes para o<br />

mesmo tumor. Só para dar exemplo, existe um anticorpo monoclonal muito bem sucedido no<br />

mercado. Chama­se Herceptin, reproduzido pelo Genentech e distribuído pela Roche no<br />

Brasil. Ele é usado para tratamento de câncer de mama, mas não são todas as pacientes<br />

que tem tumor de mama que podem usar esse anticorpo, só 22% dos tumores expressam<br />

esse antígeno. Portanto, tem o alvo a que se liga esse anticorpo. Desses 22% que tem o<br />

antígeno, somente 25% respondem ao tratamento. Ou seja, estamos falando da ordem de 5<br />

ou 6% de pacientes que são tratados.<br />

Na realidade, embora seja água no deserto, isso permite que sejam feitos valuation<br />

models muito precisos. Agora, é um problema sério, até para países ricos. Para você ter<br />

uma idéia, no Reino Unido, o Herceptin é um modelo importante para o nosso valuation<br />

model, onde o testamos inclusive. A droga está aprovada desde 1997, mas o Reino Unido e<br />

a Austrália só aprovaram o uso da droga em <strong>20</strong>06, por questões de preço, porque realmente<br />

é um tratamento muito caro.<br />

Eu acho que o nosso projeto tem um potencial muito grande se for bem sucedido em<br />

suas metas, de poder fazer um tratamento a um preço muito mais baixo do que vem sendo<br />

praticado por essas drogas que estão no mercado. Para você ter uma idéia, um tratamento<br />

com o Herceptin, a cada três semanas o paciente tem que receber uma dose que custa oito<br />

mil reais. E se o tratamento for bem sucedido, o paciente continua com isso até o resto da<br />

vida, porque o anticorpo é usado não para tratar o tumor, mas tratar a situação de<br />

metástases.<br />

Embora o câncer seja um desafio enorme para a sociedade, o investidor só vai<br />

colocar o recurso ali se ele tiver um valuation model muito bem elaborado.<br />

99


EUSEBI NOMEN<br />

Não autorizado.<br />

JOSÉ FERNANDO PEREZ<br />

Tenho mais um comentário a respeito disso. Eu mencionei um estado do Sachs, que é<br />

relevante ser comentado. A Goldman Sachs denuncia quatro aspectos relevantes de porque<br />

o câncer representa uma oportunidade para a biotecnologia moderna. Primeiro, como eu<br />

disse, há necessidades médicas. Segundo, pela natureza da doença, a aprovação pelo FDA<br />

é mais rápida, existe o fast track para muitas dessas situações. Em terceiro, em países<br />

como os Estados Unidos, não em países como o Reino Unido, o mercado é pouco sensível<br />

a preços, uma vez que o paciente está desesperado. Em quarto, muito interessante, o<br />

marketing desse tipo de droga é diferente do marketing usado no lançamento de um<br />

antiinflamatório, um analgésico novo, um Viagra novo. Para se conseguir uma fração de<br />

mercado, é necessário nesses casos um marketing muito grande. Aqui já é diferente. Os<br />

oncologistas estão ansiosos, os próprios pacientes estão muito bem informados. Há busca<br />

de novas opões. O câncer é uma oportunidade muito importante para o desenvolvimento da<br />

biotecnologia. Especialmente, esse campo de monoclonais é interessante porque, ao<br />

contrário da quimioterapia e embora ele não substitua, ele não tem efeitos adversos tão<br />

agressivos, porque ele é muito direcionado. Se ele não encontrar a molécula em que ele se<br />

associa (o alvo), é como mecanismo chave e fechadura, se ele encontrar a fechadura, ele<br />

gruda, se não, ele vai embora do organismo. Tem um estudo muito interessante na Revista<br />

Nature do ano passado que diz que o anticorpo é uma antidroga. Na realidade, a indústria<br />

farmacêutica não gosta disso, porque é difícil se preparar, você tem que fazer um processo<br />

biotecnológico, e é uma molécula muito grande que não pode ser sintetizada, mas tem essa<br />

vantagem de ter efeitos colaterais muito mais suaves que outros métodos. É quase que<br />

indecente se falar de negócios num contexto desse, por outro lado há um aspecto<br />

humanitário muito grande. A intenção é gerar novas opções de tratamento para pacientes.<br />

PLATÉIA<br />

Quero fazer uma pergunta ao professor Perez. O senhor mostrou um conjunto de<br />

fatores bastante interessante na sua empresa, justamente porque vem do licenciamento,<br />

vem do conjunto com a universidade e vem também do uso dos fomentadores. Na verdade,<br />

eu gostaria de perguntar como o senhor está trabalhando a Lei de Inovação com as<br />

universidades. E gostaria de perguntar também, embora o senhor tenha dito que não é<br />

médico, se esses anticorpos são marcadores para a radiação. E qual é o futuro da empresa,<br />

tendo em vista que o senhor falou no início, que são quatro anticorpos monoclonais que<br />

foram licenciados? A idéia é trabalhar só a reprodução ou a produção de novos<br />

marcadores?<br />

JOSÉ FERNANDO PEREZ<br />

A empresa começou com quatro anticorpos que foram licenciados. Curioso que nas<br />

nossas primeiras apresentações, dizíamos que no futuro nós pretendíamos ter outros alvos<br />

que fossem gerados pela pesquisa feita aqui no Brasil. Nós já geramos dois anticorpos<br />

novos e mais dois alvos foram identificados, frutos de um projeto de pesquisa, uma parceria<br />

da USP com o Hospital Albert Einstein, em que foram identificados dois alvos muito<br />

interessantes. Estamos gerando esses anticorpos e nossa idéia é gerar um pipeline. Não<br />

100


queremos ser uma empresa só de quatro anticorpos iniciais, e sabemos que existe um<br />

potencial muito grande de identificação de alvos. A pesquisa é muito intensa no Brasil e<br />

queremos na verdade estimular mais, fazendo com que universidades brasileiras se<br />

dediquem a essa questão de identificação de alvos. Nós queremos ser os portadores,<br />

porque nosso sonho como empresa é ser a empresa brasileira que pega esses alvos,<br />

desenvolve e os coloca no mercado.<br />

Essa questão de marcações é muito importante, porém é uma tecnologia que ainda<br />

não existe no Brasil, de marcação de anticorpos com metais radioativos. As nossas<br />

parcerias não só geram um produto importante para a empresa, mas desenvolvem novos<br />

conhecimentos com as instituições parceiras que enriquecem também. Na FAPESP, fui<br />

responsável por colocar o nome empresa no dicionário. A fundação só financiava pesquisa<br />

acadêmica. Nós criamos um programa de parceria universidade e empresa, mas sempre<br />

anunciamos claramente que não é para que a universidade seja uma prestadora de serviços<br />

da empresa, mas para fazer parcerias em que as universidades, de fato, se beneficiam. No<br />

caso do Instituto Butantan, que é um dos grandes produtores de vacina aqui no país, eles<br />

querem dominar a tecnologia de gerar anticorpos. O nosso projeto permite que eles<br />

controlem essa tecnologia de importância estratégica para o país. No caso de marcação,<br />

estamos montando uma parceria com o IPEN, para que ele domine essa tecnologia que<br />

envolve fazer a marcação, detalhe técnico de fazer uma quelação prévia do anticorpo, para<br />

pendurar nele um marcador radioativo. Isso é algo que queremos fazer no Brasil também, é<br />

uma tecnologia que estamos fazendo, que não é uma inovação, é uma inovação em termos<br />

de país. Estamos trazendo esse controle, esse domínio tecnológico, para as nossas<br />

instituições, e pretendemos fazer testes clínicos com anticorpo com marcador radioativo, de<br />

maneira que ele possa associar ação imunológica com ação radioterápica.<br />

JORGE ÁVILA<br />

Queria fazer uma pergunta ao professor Perez, mas antes gostaria de fazer uma<br />

observação sobre a questão da valoração da droga. Às vezes as pessoas pensam em<br />

valoração de patente com mentalidade de quem está valorando monopólio. Isso não é<br />

verdade na maioria esmagadora das situações. Porém, no caso de uma droga única para<br />

uma determinada finalidade, você tem sim um regime de monopólio. Extração máxima de<br />

valor em regime de monopólio, na verdade você conseguiria cobrando de cada um o preço<br />

mais alto que aquele um pudesse pagar. Por exemplo, vale infinito, mas eu não disponho de<br />

infinito, então eu abro mão do que para pagar isso? Gerenciar essa questão é algo<br />

impossível. Você não estabelece preço um a um. Em cada mercado você tende a encontrar<br />

aquele preço que multiplicado pela demanda àquele preço dá um maior valor. O que você<br />

tenta maximizar é o produto de preço vezes a quantidade vendida, porque o custo de<br />

produção é fixo. Para sair desse sistema que poderia jogar o preço para uma altura muito<br />

elevada, o governo norte­americano, ao fazer um sistema de encomenda, obriga o<br />

licenciamento das tecnologias que foram financiadas com recursos públicos, com recurso do<br />

Tesouro, a pelo menos uma empresa, para que se estabeleça algum nível de concorrência.<br />

Porém, o governo americano não permite que o licenciamento ocorra de maneira a fazer<br />

com que o preço se pareça com um preço de livre concorrência. Isso minaria totalmente o<br />

estímulo à inovação.<br />

O que eu queria perguntar ao Perez diz respeito à participação da FAPESP na<br />

propriedade intelectual gerada com o financiamento da pesquisa. Isso vale para a FAPESP<br />

e para outras agências. Eu tenho a intuição, não tenho certeza, de que isso diminui o valor<br />

da PI gerada, devido à burocracia que essa questão provavelmente enseja no<br />

licenciamento, nos controles que virão ao longo do tempo.<br />

101


JOSÉ FERNANDO PEREZ<br />

Muito interessante ver a paisagem do outro lado. Passando doze anos como gestor<br />

público, você fica muito ocioso do recurso do contribuinte. Eu comecei a pensar diferente<br />

quando criamos o programa de pequenas empresas. Nesse programa tomamos a decisão<br />

de seguir o modelo americano do Small Business Innovative Research (SBIR). O modelo<br />

francês é um modelo mais católico, ele preserva o direito do Estado. A França tem um<br />

modelo parecido, a ANVAR, que se a empresa tiver sucesso, o Estado vira sócio dela. Na<br />

FAPESP seguimos o modelo americano, se a empresa tiver sucesso, isso será uma alegria,<br />

que bom para o país, ela vai pagar impostos. Queremos muito sucesso e nenhuma<br />

participação na propriedade intelectual, embora à época tenha havido muita resistência<br />

ideológica a isso.<br />

Outro dia fiquei emocionado porque vi uma empresa financiada pela FAPESP, que<br />

se chama Adespec Adesivos Especiais. Eu fiquei emocionado de ver a palestra da<br />

representante da empresa, porque ela mostrou o quanto a empresa estava dando de retorno<br />

de impostos e a projeção do retorno de impostos para frente. O que ela recolheu de<br />

impostos pagou de longe o investimento que a FAPESP fez, não só nela, mas em todo o<br />

sistema de inovação tecnológica. Na verdade, sobre essa questão, as agências de fomento<br />

têm que ter essa visão do retorno social. Olhando lá de dentro, às vezes ficamos<br />

preocupados, temos projetos com a FINEP e no fim tem uma cláusula que aceitamos,<br />

porque é um recurso muito expressivo. Temos financiamentos pesados da FINEP, tenho<br />

muito orgulho disso, mas no fim tem uma cláusula que pode inibir o investidor para uma<br />

segunda rodada de negociação. Eu acho que as agências de fomento têm que ter uma<br />

visão mais generosa sobre a questão do retorno. No BN<strong>DE</strong>S é diferente, o BN<strong>DE</strong>S é um<br />

banco e tem que ter participação no lucro, mas também acho que precisa aprender a<br />

assumir riscos nessas áreas.<br />

Na realidade nós temos um processo de aprendizado, todos os atores. Um grande<br />

progresso que foi feito no país nos últimos dez anos foi que o papel de cada um dos atores<br />

nesse processo de inovação tecnológica foi entendido nesse país. Mesmo os programas de<br />

subvenção econômica foram lançados, mas o dinheiro que entra na empresa para financiar<br />

a inovação tecnológica é visto pela Receita Federal como receita da empresa. A empresa<br />

imediatamente tem que pagar dez por cento de PIS e COFINS. Esse é um problema, vai ser<br />

resolvido, mas mesmo assim foi dado um passo para se resolver até esse tipo de problema.<br />

SHIRLEY COUTINHO<br />

Nós temos contratos onde a FINEP entrou com uma parte do dinheiro, uma empresa<br />

parceira entrou com uma parte, vamos dizer, um terço da FINEP e dois terços da empresa.<br />

A PUC­Rio entrou com professor, com mão­de­obra, infra­estrutura, conhecimento<br />

acumulado. O professor é um professor emérito, recebendo prêmios nacionais e<br />

internacionais. Na divisão dos resultados gerados com o contrato, dois terços da empresa,<br />

um terço da FINEP e zero para a PUC­Rio.<br />

JOSÉ FERNANDO PEREZ<br />

Falando sobre propriedade intelectual, tenho um comentário muito sério a ser feito,<br />

ainda sobre parceria universidade­empresa, que tem a ver com o nosso projeto. Há uma<br />

102


insegurança jurídica muito séria nessas parcerias entre universidades e empresas. Ao fazer<br />

um projeto de parceria com uma universidade, ao dar o seu recurso, mesmo que você tenha<br />

um contrato dizendo que a propriedade intelectual é da empresa, ou que a empresa terá um<br />

licenciamento exclusivo, isso é ilegal, principalmente se for uma universidade pública. O<br />

Ministério Público diz que esse contrato não vale nada. Então, uma empresa que fará uma<br />

parceria com uma universidade corre o risco de gerar uma inovação tecnológica e depois,<br />

na hora de licenciar, vir uma grande empresa multinacional, num processo de licitação, e<br />

pagar mais do que aquilo que você desenvolveu. Esse é um problema muito sério que a Lei<br />

de Inovação melhorou, permitindo o licenciamento sem exclusividade. Por outro lado, o<br />

licenciamento com exclusividade precisa ser estudado melhor, porque é um sério inibidor da<br />

relação universidade­empresa. A Recepta somente faz parceria com universidades em<br />

projetos que não têm como objetivo a geração de propriedade intelectual. Quando tivemos o<br />

objetivo de gerá­la, fizemos parceria com instituições privadas, porque nesses casos não<br />

tem o Ministério Público para dizer que aquele contrato não tem valor. Eu acho que os<br />

problemas com universidades passam por uma questão de contratos mal feitos. O grande<br />

problema é que as universidades brasileiras não têm essa cultura de propriedade intelectual.<br />

Tem que ser preservado o direito das universidades, mas tem que preservar também o<br />

dinheiro da empresa que é colocado ali. É um momento de se rever a Lei de Inovação.<br />

SHIRLEY COUTINHO<br />

Só acrescentar que o contrato original é anterior à Lei de Inovação, embora a FINEP<br />

ainda continue com essa cláusula do um terço, que acabou agora recentemente.<br />

EUSEBI NOMEN<br />

Não autorizado.<br />

SONIA TUCCORI<br />

Agradeço a todos aqui na mesa e a todos que contribuíram com as questões<br />

relevantes. Acho que esse é de fato um processo de aprendizado, mas eu vejo com muito<br />

otimismo como esses debates têm avançado. A cada encontro percebemos que a lei já<br />

esclareceu, o contrato já foi superado, enfim, a relação entre empresas e universidades têm<br />

acontecido de maneira mais eficiente. Acho que com esse debate aberto, com<br />

conhecimento de compartilhar para evoluir, é dessa forma que vamos conseguir resultados<br />

mais positivos para todos que participam dessa cadeia de valor da inovação no mercado.<br />

Muito obrigado a todos.<br />

103


PARTE III<br />

FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO <strong>DE</strong> PROFISSIONAIS PARA A ÁREA <strong>DE</strong> PI E INOVAÇÃO:<br />

<strong>DE</strong>SAFIOS PARA A ESTRUTURAÇÃO <strong>DE</strong> PROGRAMAS ACADÊMICOS E<br />

TREINAMENTOS GERENCIAIS<br />

Coordenação:<br />

Ada Cristina Gonçalves, Analista de Projetos da FINEP e Coordenadora da REPICT<br />

Palestrante:<br />

Maria Beatriz Amorim­Borher, Responsável pela Divisão de Propriedade Intelectual e Novas<br />

Tecnologias, OMPI.<br />

Debatedores:<br />

Ana Célia Castro, Professora e Coordenadora do Projeto Multidisciplinary Interinstitucional<br />

Networks on Development Strategies (MINDS), UFRJ.<br />

Maria Beatriz Bonacelli, Professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica<br />

(DPCT) e Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da<br />

Inovação (GEOPI), UNICAMP.<br />

Rita Pinheiro­Machado, Coordenadora da Academia de Propriedade Intelectual e Inovação,<br />

INPI.<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES<br />

Bom dia. Dando início ao terceiro dia do evento, teremos um painel dedicado às<br />

questões de capacitação em matéria de propriedade intelectual. Eu gostaria de chamar<br />

Maria Beatriz Amorim.<br />

Maria Beatriz tem graduação em Relações Internacionais pela UnB, especialização<br />

em Comércio Exterior, mestrado em Tecnologia e Desenvolvimento pela Universidade de<br />

Sussex e doutorado em Educação para Ciência na Universidade da Califórnia. Foi diretora<br />

de articulação e informação tecnológica do INPI, e atualmente é responsável pela Divisão de<br />

Propriedade Intelectual e Novas Tecnologias da OMPI, além de ser nossa amiga, parceira e<br />

conselheira.<br />

MARIA BEATRIZ AMORIM­BORHER<br />

Bom dia a todos. É um prazer enorme estar aqui de novo. Primeiro, eu gostaria de<br />

agradecer à Rede de Tecnologia, ao Armando, à Paula e à Ada, pelo convite, em meu nome<br />

e em nome do meu colega Alejandro Roca da OMPI. Mais uma vez, a OMPI colabora com<br />

este evento da REPICT. Paulo Alcantara, na mesa de abertura, ressaltou o fato de que esta<br />

sala está cada vez menor para o evento da REPICT, porque mais pessoas têm participado<br />

do evento a cada ano. Minha primeira participação foi em <strong>20</strong>00. Enfim, sou testemunha<br />

dessa evolução, não só em relação ao número de participantes, mas também aos temas<br />

abordados. É interessante ver que neste ano conseguimos identificar novas fisionomias aqui<br />

presentes. É uma segunda geração de profissionais da área de propriedade intelectual. São<br />

gestores de PI que vêm sendo treinados. Por isso, gostaria também de parabenizar à Rede<br />

de Tecnologia por estar cumprindo essa difícil missão de formação de pessoas. Esse<br />

processo começou com dificuldade ainda maior, porque eram poucas instituições que<br />

lidavam com a questão de treinamento e capacitação. Esse esforço tem sido um grande<br />

104


sucesso, não só aqui na REPICT, como também em diversos outros fóruns que estruturam<br />

cursos em PI.<br />

Este painel tratará da formação de profissionais para a área de propriedade<br />

intelectual. Vou falar de maneira geral sobre esse tema, trazendo informações sobre<br />

possibilidades de cursos – não todos, claro, porque não esgotarei aqui informações sobre<br />

todos os cursos de propriedade intelectual e transferência de tecnologia que existem mundo<br />

à fora – mas procurarei trazer informações nesse contexto. Trabalharei um pouco a idéia de<br />

que tipo de conteúdo programático deve estar presente em um curso de propriedade<br />

intelectual. Espero que durante o debate possamos contrastar essas informações com a<br />

realidade nacional através da contribuição das minhas colegas Ana Castro e Rita Pinheiro<br />

Machado, com as quais trabalhei em tantos programas no INPI, assim como da professora<br />

Beatriz Bonacelli, da Unicamp. Conheci o Jorge Ávila do INPI numa banca de doutorado,<br />

onde estávamos juntos como examinadores. Tratava­se da defesa de tese do atual Diretor<br />

de Articulação Institucional do INPI, Sérgio Paulino. Então, era uma comunidade muito<br />

pequena que hoje, felizmente, já tem um número maior de pessoas crescendo a cada dia.<br />

Abordarei o tema passando pelos pontos que se seguem. Primeiro falarei um pouco<br />

sobre os antecedentes da criação do sistema de propriedade intelectual e de como a<br />

educação em PI foi evoluindo junto com o seu uso, no início, muito baseado na área jurídica,<br />

em escolas de direito. Depois falarei sobre a mudança de paradigma no pós­Segunda<br />

Guerra, justamente quando o conhecimento passa a ser central para a competitividade<br />

econômica e social. Isso também tem um reflexo grande no uso do sistema de propriedade<br />

intelectual e no tipo de profissionais necessários para atuar nesse sistema. Darei destaque,<br />

em seguida, à formação de gestores, que compõem o público maior da REPICT. Nesse<br />

âmbito, trarei informações sobre alguns programas que a OMPI oferece. Passo, em seguida,<br />

a discutir exemplos de cursos de PI localizando­os em duas fases: fase 1, em que surgiriam<br />

os cursos mais tradicionais da área de propriedade intelectual, localizados, em sua grande<br />

maioria, em escolas de direito; e fase 2, ainda em construção, em que temos o desafio de<br />

criar cursos multidisciplinares que envolvem várias áreas – administração, economia,<br />

engenharia, além do direito. Em seguida, veremos o conteúdo didático que deveria fazer<br />

parte das ementas dos cursos de propriedade intelectual, quem poderia ensinar e que tipo<br />

de perfil deveria ter os professores. Finalmente, finalizo com sugestões e recomendações<br />

que poderão ser discutidas no debate.<br />

Todos os senhores já devem ter passado por cursos básicos de propriedade<br />

intelectual e, de alguma maneira, já foram expostos a questões históricas, de como surgiu o<br />

sistema. É um sistema muito antigo. No século XIII, já existia concessão de direitos na área<br />

de direito de autor. Depois, no século XV, em Veneza, uma outra concessão de<br />

exclusividade para exploração de uma tecnologia. De 1623 a 1700, surgiram leis nacionais<br />

para regular privilégios de propriedade intelectual na Inglaterra, nos Estados Unidos e em<br />

outros países. O Brasil foi um pioneiro na criação de um sistema de propriedade intelectual.<br />

Veio com o príncipe regente Dom João VI, em 1809.<br />

Com a intensificação das relações comerciais, tornou­se logo necessário pensar em<br />

convenções internacionais que facilitassem a troca de produtos, mercadorias e tecnologias<br />

que estivessem protegidas pelo sistema de propriedade intelectual em territórios nacionais.<br />

Nesse momento, aparecem as Convenções de Paris e de Berna. É interessante notar que<br />

isso terá um rebatimento na formação de profissionais para área de propriedade intelectual,<br />

que já se inicia como um tema muito internacionalizado. Para ensinar propriedade<br />

intelectual, necessariamente tem que se pensar em propriedade intelectual contextualizada<br />

num sistema internacional, e não só levar em conta as leis nacionais. Em 1967, a OMPI foi<br />

criada. Trata­se da agência da ONU especializada em propriedade intelectual. Em 1994, foi<br />

105


estabelecido o Acordo TRIPS, o qual, no âmbito da OMC, surge como um importante marco<br />

regulador para as transações na área de propriedade intelectual. Nos anos subseqüentes,<br />

outros tratados que conhecemos, como o Patent Cooperation Treaty (PCT) e o Protocolo de<br />

Madri para marcas, dentre outros, foram também estabelecidos. São tratados gerenciados<br />

pela OMPI.<br />

Nesse contexto inicial, os profissionais que atuavam na área de propriedade<br />

intelectual tinham formação jurídica. Também, o treinamento se dava “on the job” . Não<br />

existia muita oferta de cursos e disciplinas na área propriedade intelectual, mesmo na área<br />

de direito. Até hoje não é muito comum que as escolas de direito tenham disciplinas de<br />

propriedade intelectual. Normalmente a matéria está inserida em direito comercial ou em<br />

outras áreas do direito. A falta de oferta para formação é também um problema mesmo no<br />

setor jurídico, apesar de existir um número maior de programas na área de direito do que<br />

em outras áreas, como economia ou engenharia.<br />

Nessa época, todo esse esforço econômico de trocas comerciais, era ainda baseado<br />

em vantagens comparativas relacionadas a: terra, equipamentos, mão de obra barata, e não<br />

tanto a conhecimento. Mais recentemente, assistimos a uma diminuição muito grande do<br />

tempo de desenvolvimento tecnológico e de difusão de inovação tecnológica. Eu trago um<br />

trecho de um documento publicado pelo Escritório Europeu de Patentes (EPO), o qual<br />

recomendo como leitura e que está disponibilizado on­line. Chama­se Scenarios for the<br />

Future, publicado em <strong>20</strong>07. Nele estão descritos os desafios para o sistema de propriedade<br />

intelectual, desafios tecnológicos, jurídicos, de natureza política, para que o sistema de<br />

propriedade intelectual se ajuste a todas essas mudanças mais recentes ocorridas no<br />

âmbito econômico, social e até cultural. O trecho diz o seguinte: “Os primeiros passos<br />

tecnológicos da espécie humana foram a produção de instrumentos afiados, o controle do<br />

fogo, a invenção da roda. Nossa espécie levou alguns mil anos para o alcance de cada uma<br />

dessas descobertas vitais. No entanto, por volta de mil anos depois de Cristo, cada<br />

mudança de paradigma inventivo levou apenas em média um século para ocorrer. A<br />

velocidade, desde então, tem sido exponencial. Nos primeiros vinte anos do século XX,<br />

avanços tecnológicos superaram todos os alcançados no século XIX”. Essa é uma nova<br />

realidade. Que tipo de profissional na área de propriedade intelectual será necessário para<br />

resolver desafios nesse contexto?<br />

Reforçando essa idéia de avanço e de mudança tecnológica, chamo a atenção para<br />

o estudo de Manuel Castells, que é um professor de Berkeley, da área de planejamento<br />

urbano. Castells é um dos intelectuais que trabalhou na teorização do termo globalização.<br />

Ele atribui a rapidez das relações humanas e do movimento da informação ao surgimento de<br />

tecnologias da informação. Ele argumenta que a informática influi decisivamente em como o<br />

mundo se tornou tão globalizado e em como o ritmo de poder decisório se modificou. O<br />

mercado financeiro hoje opera de maneira diferente. As pessoas se comunicam de uma<br />

forma muito mais rápida. Com isso, o ciclo de produtos diminuiu. Está aí o exemplo do<br />

telefone. O telefone levou cinqüenta anos para ser adotado por um quarto da população<br />

americana, enquanto que para o celular o mesmo nível de difusão demorou sete anos para<br />

ser alcançado. Precisamos de pessoas para atuar nesse contexto.<br />

Essa slide monstra o dilema e os desafios da minha geração. Eu passei por um<br />

telefone preto, depois me lembro que era moda ter um telefone colorido em casa, de disco.<br />

Era o máximo ter um telefone vermelho em casa. Depois passamos para as teclas e, em<br />

seguida, para o telefone sem­fio. Por acaso, eu estava lendo uma revista espanhola que<br />

chama a minha geração de geração “x” e a geração dos meus filhos, que não conheceram<br />

nada disso, de geração Einstein. Eu comecei minha vida profissional com a máquina de<br />

escrever. Logo depois veio a máquina elétrica que permitia apagar, que já era o máximo. E<br />

106


toda essa evolução do vinil para o CD, que hoje não existe mais na vida de nenhum jovem<br />

com o boom da tecnologia do MP3. E todas essas mídias estão compactadas hoje no<br />

Iphone, que integra telefonia, video e áudio. Hoje eu não consigo usar tudo que oferecem.<br />

Então, a capacidade de absorção das novas tecnologias tem sido um desafio para a minha<br />

geração, por exemplo.<br />

Toda essa história de avanço tecnológico, de intensificação do comércio, é<br />

comprovada por vários dados. Apresento aqui um gráfico que mostra o crescimento do<br />

volume de comércio exterior no período de 1950 a <strong>20</strong>02. Cada vez mais estabelecemos<br />

relações comerciais, que se intensificam fortemente em áreas tecnológicas, mais que em<br />

outras áreas. Este outro gráfico mostra o crescimento de vendas em todas as áreas<br />

industriais e dá destaque às áreas de alta tecnologia, onde o crescimento é mais acentuado.<br />

O valor do conhecimento nesse contexto tem outro patamar. O valor dos intangíveis cresce<br />

à medida que o tempo passa, ou seja, cada vez mais ouvimos que o intangível é o que mais<br />

vale numa empresa. É toda uma realidade nova. A receita de propriedade intelectual a partir<br />

das relações econômicas também cresce intensamente. Enfim, o conhecimento passa a ser<br />

elemento central.<br />

O professor Glauco Arbix trouxe o exemplo justamente de governos líderes no<br />

comércio internacional, que colocam inovação como elemento chave de suas políticas<br />

industriais. Assim, os governos e as empresas passam a considerar recursos humanos,<br />

capital intelectual, como fundamentais em suas estratégias para crescimento.<br />

Esse slide traz um trecho da revista The Economist, de <strong>20</strong>06, que diz que o sucesso<br />

das economias avançadas encontra­se cada vez mais dependente não mais do seu capital<br />

físico, mas de suas capacidades de mobilizar o poder intelectual de seus nacionais.<br />

Que tipo de trabalhador é mais necessário? Isso também foi falado na REPICT. Foi<br />

colocada a deficiência do Brasil em formar engenheiros. Esse gráfico mostra o avanço dos<br />

Estados Unidos na formação de profissionais nas áreas de ciência e engenharia, como uma<br />

prioridade para este país fazer frente aos desafios do novo mundo baseado em<br />

conhecimento. Outro indicador que se usa muito é o investimento em P&D. Eu chamo<br />

atenção para a China como um novo ator, crescendo muito. O seu investimento em P&D, a<br />

partir de <strong>20</strong>00 e <strong>20</strong>01, deu um salto. O Alejandro Roca trouxe muitos dados sobre<br />

patenteamento por parte de países asiáticos, que também é um indicador que cresce nessa<br />

região.<br />

Aqui vemos dados dos três maiores Escritórios de Propriedade Industrial no mundo –<br />

Europa, Estados Unidos e Japão – com curvas crescentes em depósito de patentes. Esses<br />

já são dados do escritório americano, o USPTO. No contexto do USPTO, houve crescimento<br />

para vários países, mas especialmente um crescimento muito acentuado para países da<br />

Ásia, como Coréia e China. São novos atores entrando para competir num mundo<br />

globalizado. O Brasil não apresenta estatísticas tão boas na área de patentes.<br />

O PCT também é uma fonte de avaliação para depósitos de patentes e tecnologia,<br />

onde os depósitos também têm crescido. Dentro do PCT, dois países cresceram muito mais.<br />

O PCT como um todo tem crescido mais ou menos uma média de 6% ao ano, mas o<br />

crescimento de países como Coréia e China têm sido mais elevados. A China, de <strong>20</strong>03 a<br />

<strong>20</strong>07, cresceu 38%, enquanto a Coréia cresceu 18%. São países que estão numa curva<br />

exponencial de crescimento. Aqui se vê uma tabela de países em desenvolvimento, onde o<br />

Brasil aparece depois da China, Índia, Coréia e África do Sul, com um total em <strong>20</strong>07 de 394<br />

patentes no PCT. Isso é pouco, se comparado à Índia, por exemplo, com 880. No entanto,<br />

107


vale observar que o Brasil praticamente dobrou, de <strong>20</strong>03 a <strong>20</strong>07, o número de patentes no<br />

PCT.<br />

No atual contexto, vemos os países começarem a se organizar para terem seus<br />

sistemas nacionais de inovação, suas políticas indústrias. Para possibilitar um maior<br />

desenvolvimento tecnológico, uma série de medidas são tomadas. No Brasil, recentemente<br />

se lançou a Lei de Inovação e uma política industrial baseada em desenvolvimento<br />

tecnológico. Entretanto, notamos que as políticas ligadas aos sistemas de inovação não vêm<br />

acompanhadas de políticas educacionais. O Brasil tem tomado uma série de medidas que<br />

não estão atreladas à formação de pessoal para responder aos desafios necessários ao<br />

desenvolvimento tecnológico. Faltam sobretudo engenheiros e, apesar do esforço histórico<br />

do país, ainda faltam pessoas na área também em ciências. É muitíssimo reduzido o<br />

número de gestores de tecnologia e de propriedade intelectual. Também é uma capacitação<br />

necessária que não existe no Brasil. Tenho conhecimento de que a CAPES tem um plano<br />

de desenvolvimento de pós­graduação atrelado à política industrial. No entanto, nunca<br />

soube de nenhuma ação concreta para a formação de pessoas que venham trabalhar nos<br />

NITs. A estruturação dos NITs é uma obrigação agora no âmbito da Lei de Inovação. Que<br />

eu saiba, não há uma política formal para formação de pessoal que vai trabalhar com essas<br />

atividades de transferência de tecnologia. Há iniciativas como a da Rede de Tecnologia, do<br />

INPI, mas não uma política oficial atrelada a esse tipo de capacitação.<br />

Vamos abordar um pouco a Lei de Inovação no Brasil. Há a necessidade de criação<br />

dos NITs. Há uma série de tarefas específicas que são atribuídas às pessoas que estão<br />

trabalhando nesses núcleos. A pergunta que eu deixo para o debate: qual é o profissional<br />

adequado para esses núcleos? Há no Brasil programas de capacitação para esse tipo de<br />

profissional? Há algo mais formal em termos de treinamento no âmbito das universidades e<br />

instituições educacionais no país?<br />

Só para reforçar a idéia de que o capital humano é central, eu cito duas fontes: uma<br />

é o relatório anual da AUTM <strong>20</strong>07, que traz uma pesquisa cuja conclusão é que o elemento<br />

central para o sucesso de atividades de licenciamento em universidades e centros de<br />

pesquisa depende exatamente do profissional que trabalha nesses escritórios. Tal relação é<br />

confirmada em outro relatório de <strong>20</strong>06, elaborado pelo Milken Institute, em que também se<br />

confirma que o capital humano dentro dos escritórios de transferência de tecnologia<br />

apresenta­se fundamental para o sucesso não só na área de licenciamento, mas em outros<br />

acordos de colaboração.<br />

Esse mesmo trabalho do Milken Institute chega à conclusão de que para cada dólar<br />

investido em pessoal de núcleos, a universidade ganha pouco mais de seis dólares em<br />

renda proveniente de licenciamento. Ele conclui que existe uma relação forte entre<br />

capacitação e número de pessoal empregado para esse tipo de trabalho, além dos<br />

resultados que eles conseguem em termos de royalties e licenciamento.<br />

A evolução de emprego nos Estados Unidos para esse tipo de profissional tem<br />

crescido conforme demonstra o gráfico. Essa última linha é a soma de quem trabalha com<br />

licenciamento e com outras áreas dentro de um NIT nos Estados Unidos. Em 1997 eram<br />

mais ou menos 800 pessoas, e em <strong>20</strong>06 passaram a ser 1800 pessoas.<br />

O profissional que trabalha com gestão de tecnologia tem que ter, muitas vezes, uma<br />

base técnica combinada com capacitação em business, e ainda dominar noções mínimas de<br />

direito de propriedade intelectual. Vocês tiveram oportunidade de participar de mini­cursos<br />

ontem, e hoje pela manhã houve uma conferência de valoração de intangíveis. Este é outro<br />

tipo de requisito profissional necessário, porque passa pela questão matemática, contábil.<br />

108


Enfim, é um desafio formar uma equipe que possa responder a todas essas necessidades<br />

dentro de um NIT e de um departamento de transferência de tecnologia de qualquer<br />

empresa.<br />

Gostaria de dedicar um tempo aos programas da OMPI para gestores. Muitos dos<br />

senhores eu já conheço, inclusive através desses cursos. Vou descrever especificamente<br />

dois cursos. O primeiro é um curso de licenciamento de tecnologia que se chama Successful<br />

Technology Licensing (STL). A OMPI já trouxe esse programa para o Brasil umas cinco<br />

vezes, e vai ocorrer novamente uma edição, de 15 a 18 de dezembro, na área de energias<br />

renováveis. Esse curso abordará não só licenciamento, mas também acordos de<br />

colaboração e acordos de pesquisa patrocinada. Serão abordadas várias modalidades de<br />

parceria e de transferência de tecnologia. Quem fez o STL tradicional pode até se interessar<br />

em fazer este de dezembro, porque ele será um pouco mais amplo em termos de<br />

abordagem de tipos de parceria. O STL tradicional é um curso de quatro dias, dois dias para<br />

conceitos teóricos ligados ao tema e dois dias de práticas, em que um grupo de mais ou<br />

menos cinqüenta pessoas se divide em cinco grupos de dez e negociam acordos de<br />

licenciamento. Ao final, esses acordos são apresentados, todos baseados numa história<br />

fictícia. É uma dinâmica bastante interessante. Tem sido um sucesso em vários países.<br />

O segundo curso voltado para a formação de pessoas que trabalham com<br />

transferência de tecnologia é o Patent Drafting, redação de patentes. Redigir bem uma<br />

patente é um primeiro passo para o sucesso no licenciamento e em outros tipos de<br />

negociação que os profissionais têm que enfrentar nessa área. Esse curso foi desenvolvido<br />

por consultores e resultou na elaboração de um manual. Já foi realizado no Brasil duas<br />

vezes. A terceira edição será em outubro do ano que vem, na Bahia, voltado para<br />

tecnologias na área de petróleo e gás e energias alternativas. Será uma parceria com o IEL<br />

da Bahia. Esse é um curso que originalmente foi concebido para ser ministrado em duas<br />

semanas. Era muito complexo e denso, e tirar as pessoas duas semanas dos seus postos<br />

de trabalho nunca foi muito fácil. Nós fizemos a primeira edição no Brasil dessa forma, em<br />

duas semanas. A partir de conversas com participantes, optamos por algumas alternativas.<br />

Em alguns países fazemos o curso em uma semana, depois dois meses de ensino à<br />

distância e, finalmente, mais uma semana de exercícios práticos para consolidação dos<br />

conceitos. O ensino à distância também é baseado em exercícios. O custo na América<br />

Latina para um curso fixo desse fica sempre caro, uma vez que os palestrantes<br />

normalmente vêm da Europa e dos Estados Unidos. A segunda edição, no Brasil, foi de um<br />

programa de dez dias de curso presencial e depois dois meses de ensino à distância. A<br />

turma, que fez esse curso na PUC­Rio, em agosto, iniciará agora a fase do ensino à<br />

distância. Tem funcionado muito bem e os resultados têm sido bastante interessantes.<br />

Gostaria de reforçar que uma boa redação de patentes é algo muito importante. Descreve­<br />

se a invenção, fazendo o melhor uso da terminologia técnica, com reivindicações de<br />

cobertura ampla, fechando as brechas para que outros inventores e engenheiros possam<br />

obter suas próprias patentes, possivelmente mais fortes do que as de seus concorrentes.<br />

Esse é um trecho de um livro que se chama The Patent Writer. Para esse curso, exigimos<br />

que se tenha formação técnica. Os participantes para “Redação de Patentes” podem ser um<br />

engenheiro advogado ou um biotecnólogo advogado, mas não pode ser só um advogado,<br />

porque para redigir patente é preciso ter formação técnica, fundamental para as<br />

reivindicações.<br />

Uma busca no Google resulta em uma série de links. No Brasil, chamou atenção o<br />

fato de que vários pesquisadores já colocam em seu Currículo Lattes que eles sabem redigir<br />

patente. Eu acho que isso já é resultado de um longo trabalho de disseminação de cultura<br />

PI que várias instituições fizeram no país. Há também várias ofertas de serviços para<br />

redação de patentes. No entanto, não existe nenhum curso de redação de patente ofertado<br />

109


ou que tenha sido ministrado no Brasil, a não ser com o envolvimento do INPI. É um<br />

exemplo de capacitação incipiente e que precisa ser reforçado.<br />

Esse slide mostra vários cursos que o INPI ofereceu ao longo dos anos. Um dos<br />

cursos, que foi realizado em <strong>20</strong>05, em Campinas, onde há um texto descrevendo o curso e<br />

as impressões sobre ele, retrata que, dos quase noventa participantes presentes, entre<br />

alunos e pesquisadores, apenas três afirmaram terem antes lido algum pedido de patente.<br />

Dirigindo­me ao Amazon.com e também a outras fontes, tentei achar algum outro<br />

tipo de referência bibliográfica em português para redação de patente, e não achei. Pode ser<br />

que exista algum. Chamo a atenção para a necessidade de desenvolvimento de material<br />

didático em redação de patentes em português.<br />

Algumas fotos de participante e de treinamentos. Esse é o grupo que fez o curso<br />

regional em Singapura. Várias pessoas de Singapura e de vários países da Ásia. Outro<br />

curso ocorreu na Tunísia.<br />

Deixo aqui informação para vocês de uma outra fonte que oferece capacitação na<br />

OMPI, o setor de ensino à distância, uma alternativa importante para o Brasil para otimizar<br />

custo e tempo. Os cursos em amarelo são os mais tradicionais, ligados à questão da<br />

proteção. Os cursos em vermelho são novos, estão saindo agora no website da OMPI. O de<br />

redação de patentes à distância já está disponível. Não sei o período de inscrição. Essa<br />

informação está disponível no website. Trata­se de um curso mais básico que aquele que<br />

descrevi antes. Este à distância é interessante fazer antes do curso presencial e do distance<br />

learning que vem depois dele.<br />

Agora vamos ver informações sobre programas de propriedade intelectual oferecidas<br />

mundo afora. Em uma fase inicial, que vou chamar aqui de fase 1, surgem cursos mais<br />

centrados nos conceitos básicos de propriedade intelectual, que foram oferecidos no âmbito<br />

de escolas de direito. INPIs, não só do Brasil, sempre tiveram e continuam tendo um<br />

protagonismo muito importante na oferta de cursos na área de propriedade intelectual. No<br />

Brasil, alguns cursos também foram e ainda são oferecidos por associações de classe. A<br />

ABAPI é um exemplo. Mesmo assim, no mundo, somente por volta de 700 universidades<br />

hoje oferecem disciplinas em PI. Esse foi um dado apresentado pela Academia da OMPI.<br />

Não é um número grande, afinal de contas, no mundo todo, 700 universidades é muito<br />

pouco.<br />

Esse curso do Franklin Pierce Law Center é bem tradicional na área de propriedade<br />

intelectual. Trata­se de uma escola com forte background na área de propriedade<br />

intelectual. Começou focada na área de direito e agora está mudando. Semana passada eu<br />

recebi mensagem de um professor que solicitava informações sobre os nossos cursos de<br />

comercialização de tecnologia, porque eles acabam de montar um programa de<br />

gerenciamento de propriedade intelectual, mais voltado para business. Então, mesmo os<br />

cursos relacionados ao que chamo aqui de fase 1 estão se adaptando e mudando. Como<br />

disse, esse é um curso muito bem conceituado, considerado um dos melhores dos Estados<br />

Unidos na área de propriedade intelectual.<br />

Outro exemplo é o programa da Universidade de Turim, que foi negociado pela<br />

OMPI, estruturado da seguinte forma: três meses de curso, em que as pessoas se<br />

inscrevem e seguem a partir de seus países. Mais três meses em Turim e depois três meses<br />

de volta para escrever o trabalho final nos países. É uma oportunidade interessante, porque,<br />

nesse contexto, as pessoas interagem com várias nacionalidades e há uma troca muito<br />

110


intensa e interessante. Esse também é um programa bastante baseado na visão jurídica.<br />

Coloquei­o na fase 1, porque segue um modelo bastante tradicional.<br />

Esse slide indica o curso do Munich Intelectual Property Law Center, que é um centro<br />

que criou um programa em parceria com outras universidades. É um curso que também<br />

pesquisei, conversei com várias pessoas. De acordo com uma pesquisa nos arquivos, os<br />

brasileiros que já passaram por esse curso, na sua maioria, são de escritórios de<br />

propriedade intelectual. Não é um curso antigo, é mais recente, bastante baseado na<br />

questão do direito, mas também aborda um pouco de visão técnica e econômica.<br />

O próximo é um curso que foi freqüentado por muitas pessoas do INPI. Havia um<br />

convênio com o Centro de Estudos de Propriedade Intelectual (CEIPI), em Estrasburgo,<br />

França, que foi reativado recentemente. Acabam de vir de lá dois servidores do INPI, e<br />

outros quatro irão. É um curso bastante tradicional na área de propriedade intelectual, que<br />

foca no aspecto legal e de procedimentos do sistema.<br />

No Brasil, há dois cursos de especialização oferecidos um pela UERJ e outro pela<br />

PUC­Rio, em direito de propriedade intelectual. Várias pessoas do INPI também já<br />

passaram por eles.<br />

Uma rede que se formou dentro do espírito da fase 1 chama­se International<br />

Association for the Advancement of Teaching and Research in Intellectual Property (ATRIP).<br />

É interessante dar uma olhada no seu website. É uma associação que concentra suas<br />

metas no campo jurídico. Talvez seja uma oportunidade se inspirar em algo assim para<br />

formar outro tipo de grupo ou associação mais multidisciplinar.<br />

Diante de todas as mudanças que discutimos, provocadas pelo aumento da<br />

presença do conhecimento e pela influência da tecnologia para o desenvolvimento<br />

econômico, tornam­se necessários novos atores. Para atender a essa demanda, há a<br />

necessidade de criação de programas que atendam também a profissionais não advogados,<br />

quer dizer, economistas, gestores públicos, gestores de tecnologia. Os cursos têm que ter<br />

formação multidisciplinar. Esse é um desafio enorme para quem lida com a área<br />

educacional. Ainda hoje, nos Estados Unidos, são muito poucas as universidades que<br />

oferecem cursos com tal perfil multidisciplinar, que visam atender aos desafios de avanço<br />

tecnológico. São programas que se criariam no contexto de uma fase 2 de treinamento em<br />

PI.<br />

Aqui está uma lista de atividades diárias, para as quais a formação de pessoal em<br />

propriedade intelectual é central. A área de litígios vem crescendo, porque quanto mais<br />

patentes, mais litígios, mais proteção, mais atividades na área jurídica. Precisa­se de mais<br />

gente atuando no setor jurídico. Não se esgota a necessidade no setor jurídico, ao contrário,<br />

ela vem crescendo. No setor judiciário, hoje no Brasil, só existe uma vara especializada em<br />

propriedade intelectual, aqui no Rio de Janeiro. Outras áreas importantes são as de<br />

negociação de acordos internacionais, de economia da inovação, políticas de saúde pública<br />

e sua relação com PI, PI e tecnologias de informação.<br />

Eu trago alguns exemplos de disciplinas que estão sendo montadas com um espírito<br />

mais multidisciplinar, sendo ofertadas fora de escolas de direito. A Valdosta State University,<br />

na Geórgia, oferece uma disciplina a alunos de química. Um livro da OMPI que saiu<br />

recentemente chama­se Teaching of Intellectual Property. Foi daí que retirei vários dos<br />

exemplos aqui apresentados. Recomendo muito este livro, porque são diversos professores<br />

escrevendo sobre esse tema e trazendo seus pontos de vista, questões e desafios.<br />

Seguindo, o Osaka Institute of Technology, no Japão, por exemplo, oferece uma disciplina<br />

111


de graduação que tem o objetivo central de treinar não­advogados. São vários os temas<br />

abordados, os quais eu cito aqui, porque acho interessante refletir sobre que tipo de<br />

conteúdo deve ser incluído numa disciplina de propriedade intelectual.<br />

O Projeto SPINNOVA reúne sete universidades na Europa que estruturam cursos, e<br />

todas elas usam o mesmo modelo, intercambiam professores para ministrarem esses<br />

cursos. Eu acho que é um modelo interessante para o Brasil, por ser um país grande com<br />

tão pouca gente nessa área. Poderia ser um projeto compartilhado para formação de<br />

disciplinas na área de propriedade intelectual. Os temas que eles abordam nesses cursos<br />

estão aí listados: direito de propriedade intelectual, negócios, criação de spin­offs, entre<br />

outros.<br />

A Universidade de Tulsa, nos Estados Unidos, tem um programa de dois anos de<br />

inovação e desenvolvimento de produtos. No âmbito desse programa, oferece uma<br />

disciplina especialmente de propriedade intelectual. É um curso multidisciplinar e que tem<br />

interesse, nesse caso específico, de treinar para não perderem a oportunidade de proteger e<br />

comercializar seus inventos no futuro. É voltado para engenheiros e pessoas na área<br />

técnica.<br />

A Universidade de Tóquio tem desde <strong>20</strong>01 uma rede, uma colaboração de quatro<br />

universidades que ofertam cursos de ciência e tecnologia e propriedade intelectual. Trata­se<br />

de uma metodologia baseada em problem solving, em prática, enriquecido por colocar<br />

pessoas com formações diversas na sala de aula.<br />

A China tem uma política muito agressiva na área de ciência, tecnologia e inovação.<br />

A política de inovação e de propriedade intelectual da China também passa pela questão<br />

educacional. Há políticas educacionais no Brasil que respondem aos desafios da política<br />

industrial? Na China, estão dando incentivos à criação de cursos de propriedade intelectual.<br />

Estão, com isso, surgindo vários cursos nessa área.<br />

A Universidade Nacional de Singapura também está dando uma importância muito<br />

grande ao tema, especialmente por intermédio de sua a escola de business que oferece<br />

disciplinas em PI: cyberspace, uso de e­business em PI, uma série de temas importantes<br />

correlacionados.<br />

Deixo o caso brasileiro para debatermos com minhas companheiras de mesa. Tenho<br />

certeza de que Ana Célia vai comentar iniciativas posteriores ao curso de pós­graduação do<br />

Instituto de Economia, oferecido em parceria entre UFRJ e INPI. Esse programa deu origem<br />

a um mestrado e um doutorado que atendem ao espírito da multidisciplinaridade. Chamo<br />

atenção também para o Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, que<br />

sempre teve uma linha de pesquisa em propriedade intelectual, no âmbito de um contexto<br />

mais multidisciplinar, em que entra forte a questão do agrobusiness, inovação, vários<br />

setores ligados à inovação tecnológica que sempre deram importância ao conhecimento de<br />

atrelar propriedade intelectual à inovação.<br />

Voltando às experiências de fora, a professora Ruth Soetendorp, do Reino Unido, fez<br />

doutorado na área de propriedade intelectual, tendo um especial interesse em temas de<br />

ensino e pesquisa. Ela tem um olhar bem didático. Apresenta uma lista de temas propostos<br />

para que todos os alunos no nível básico da universidade sejam expostos a esse tipo de<br />

informação, por exemplo, noções gerais na área de propriedade intelectual, relação entre PI,<br />

inovação e desenvolvimento. Seria uma série de temas que são importantes num curso<br />

básico, em geral para pessoas que vão atuar nessa área. Ela também lista outros temas<br />

para um curso avançado.<br />

112


Coloquei em amarelo os licenciamentos de tecnologia open source e outros regimes<br />

alternativos. É importante que quem milita na área de propriedade intelectual comece<br />

também a trabalhar com as alternativas que surgem com o uso do sistema e passem a<br />

discutir porque usar ou não usar a proteção que o sistema concede. É importante ter uma<br />

postura bem aberta nesse sentido para que não seja uma discussão muito dogmática, o que<br />

na área acadêmica nunca é bom.<br />

O professor Charles MacManis, da Universidade de Washington, em Saint Louis,<br />

oferece outro exemplo de formas de ensino da PI. Ele é um professor na área de direito<br />

internacional. Fala de propriedade intelectual no âmbito do sistema internacional. Ele<br />

chama, então, atenção para duas áreas muito importantes de serem abordadas em qualquer<br />

curso de propriedade intelectual: temas emergentes ligados à informática e temas<br />

emergentes ligados à biotecnologia. Coloquei estas estatísticas para reforçar a idéia do que<br />

vimos antes; a curva de depósito de patentes é crescente. Esse crescimento é ainda maior<br />

em áreas como biotecnologia e informática. Enquanto, no período mais recente de 1995 a<br />

<strong>20</strong>01, o total de crescimento de patentes foi de 8% para as áreas de biotecnologia, para as<br />

áreas de informática, foi de 12%. No total, essas são as áreas que mais têm recebido<br />

depósitos de patentes. Nesse sentido, há também um rebatimento no ensino, porque é<br />

importante abordar questões ligadas a proteção nessas duas áreas. Então o professor<br />

MacManis propõe que as instituições criem cursos de introdução ao sistema internacional de<br />

PI, explorando temas emergentes. A organização seria em três partes: PI e comércio<br />

internacional; tecnologia digital; e biotecnologia, biodiversidade, conhecimentos tradicionais<br />

e saúde pública. Eu também ponho referência aqui sobre sua proposta de ementa do curso.<br />

Quem tiver interesse poderá conseguir mais informações na fonte.<br />

Quem poderia ensinar propriedade intelectual? Foi feita pesquisa pela Universidade<br />

de Curtin, na Austrália. As pessoas que ensinam PI são geralmente das seguintes áreas:<br />

professores de escolas de direito, profissionais de núcleos atuando na prática da questão de<br />

transferência de tecnologia e propriedade intelectual, professores assistentes ou visitantes<br />

como profissionais, agentes de PI, advogados. Eu ainda incluiria os examinadores de<br />

patentes dos escritórios, professores da área de transferência de tecnologia e de business,<br />

professores que tenham tido experiência com patenteamento em engenharias e ciências da<br />

vida.<br />

O professor Joseph Strauss, que é muito conhecido nessa área, é pioneiro na área<br />

de ensino em propriedade intelectual. Ele é do Max Plank Institute e diz que todos que<br />

estejam envolvidos em educação sobre patentes, um tema estreitamente atrelado ao<br />

desenvolvimento de tecnologia, deveria se sentir obrigado a demonstrar na prática de suas<br />

atividades de ensino o quanto estão próximos da técnica e, ainda, a importância central de<br />

que inovação e patentes sejam tratadas e compreendidas como um todo orgânico. Essa é a<br />

definição de como deve se pautar um instrutor na área de propriedade intelectual,<br />

especialmente de patentes.<br />

Eu deixo aqui algumas idéias para incrementar essa área de PI. Na Inglaterra, existe<br />

atualmente uma exigência por parte de associações profissionais de conhecimento em PI:<br />

hoje, o engenheiro, para ter o direito de exercer a profissão, precisa demonstrar algum<br />

conhecimento em propriedade intelectual. Isso pode ser uma estratégia de indução e de<br />

estímulo ao ensino e ao conhecimento na área.<br />

A necessidade de um ensino deve sempre ter em mente a importância de um ensino<br />

contextualizado de PI para não­advogados. Não adianta começarmos a instituir disciplinas<br />

113


trazendo somente a parte teórica sem discutir situações. É importante que seja uma<br />

metodologia baseada em cases para motivação.<br />

A inclusão de PI como disciplina de graduação deve contar com forte apoio, sempre<br />

que possível, do poder central dentro da universidade. Isso sempre é uma luta, já é uma<br />

área multidisciplinar, é uma área nova dentro da academia. Se não houver engajamento<br />

dentro do conselho superior de ensino de uma universidade, dos reitores, as iniciativas terão<br />

dificuldade de serem concretizadas.<br />

As escolhas metodológicas devem levar em conta informações on­line, uma vez que<br />

existe muita informação on­line para a área de propriedade intelectual.<br />

Deve haver apoio para o desenvolvimento de material didático. Isso tem que se levar<br />

em conta em qualquer política educacional. Não existe material em português, por exemplo,<br />

principalmente fora do âmbito do direito. É importante também o estímulo à produção de<br />

revistas especializadas. Isso tudo passa por uma atuação forte de agências<br />

governamentais, que podem tomar medidas de indução. Por exemplo: a inclusão da<br />

disciplina em programas de mestrado e doutorado. Pode haver um incentivo por parte da<br />

CAPES, por exemplo, para inclusão dessas disciplinas. Estruturação de programas nessa<br />

área também é importante. Isso pode passar a ser um programa induzido dentro da CAPES.<br />

A concessão de bolsas para auxílio à pesquisa envolvendo PI é uma atuação que envolve<br />

CNPq, CAPES e outras agências que dão apoio à estudos na área. Abertura de concursos<br />

para professores especializados em PI. Eu conheço bem o Dr. José Carlos Vaz e Dias, que<br />

foi o primeiro a ocupar uma vaga específica na área de PI dentro de uma universidade – a<br />

UERJ. Também é necessária a abertura de novos concursos específicos para pessoas que<br />

vão atuar na área de propriedade intelectual. A UERJ é o único caso que conheço no país.<br />

Incentivo ao desenvolvimento de disciplinas seletivas em PI para estudantes de<br />

graduação. Isso foi feito muito bem na China e em Singapura, por parte de medidas de<br />

governo para incentivo de ensino tanto na graduação, como na pós­graduação.<br />

Continuidade e incremento da oferta de cursos profissionalizantes em<br />

comercialização de PI. Esse espaço já é bem ocupado pela REPICT, FORTEC, ABPI, LES,<br />

pelo próprio INPI, dentre outras instituições.<br />

E, por último, reforçar a profissionalização na área de PI e transferência de<br />

tecnologia.<br />

Eu deixo aqui uma lista de referências bibliográficas para quem se interessar e quiser<br />

se aprofundar na questão de construção de disciplinas e programas de propriedade<br />

intelectual e transferência de tecnologia. É uma lista de livros e capítulos e também material<br />

on­line que estão disponíveis, inclusive com ementas de cursos também on­line. Chamo<br />

atenção para o website do escritório britânico de propriedade intelectual, que tem um setor<br />

só dedicado à inovação. Dentro desse setor há uma parte destinada à área de educação e<br />

propriedade intelectual, com estruturas de disciplinas e vários modelos.<br />

Agradeço e espero que possamos trabalhar melhor essas reflexões e idéias durante<br />

o debate, contrastando o caso do Brasil com esses que apresentei. Muito obrigada.<br />

114


ADA CRISTINA GONÇALVES<br />

Dando prosseguimento ao painel, iniciado no começo dessa manhã, eu gostaria de<br />

convidar para a mesa as debatedoras e Maria Beatriz Amorim.<br />

A primeira debatedora é Ana Célia Castro, que possui graduação em Ciências<br />

Econômicas na UFRJ, mestrado em Ciências Econômicas na Unicamp e doutorado também<br />

em Ciências Econômicas na Unicamp. Possui pós­doutorado na USP e na Universidade da<br />

Califórnia. É professora titular, inclusive responsável pelos cursos de mestrado e doutorado,<br />

recentemente instalados na UFRJ e coordenadora do Programa MINDS.<br />

Maria Beatriz Bonacelli, economista formada pelo Instituto de Economia da Unicamp,<br />

mestre em Política Científica e Tecnológica e doutora em Economia Industrial pela<br />

Universidade de Toulouse, França. É professora assistente do DPCT da Unicamp e leciona<br />

disciplinas relacionadas a assuntos tratados aqui, como política científica e tecnológica na<br />

pós­graduação e graduação da Unicamp. Também é a atual vice­chefe do departamento e<br />

assessora da Agência de Inovação da Unicamp, a INOVA.<br />

Rita Pinheiro Machado, nossa terceira debatedora, graduada em Ciências Biológicas<br />

na Universidade Santa Úrsula, possui mestrado e doutorado em Química Biológica na<br />

UFRJ. Atualmente é pesquisadora do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).<br />

Começou a trabalhar como examinadora de patentes e na coordenação das áreas de<br />

cooperação nacional da diretoria do INPI. Atualmente atua na articulação de parcerias com<br />

os diversos atores dos sistemas nacionais de inovação internos, e articulando com a OMPI e<br />

outras agendas. Agora é responsável pela coordenação da atividade da Academia de<br />

Propriedade Intelectual, instalada no âmbito do INPI, e responsável pelos cursos de pós­<br />

graduação dentro dessa agenda.<br />

ANA CÉLIA CASTRO<br />

É sempre uma satisfação imensa receber um convite da Rede de Propriedade<br />

Intelectual e Comercialização de Tecnologia, REPICT. E é sempre uma surpresa muito<br />

agradável e até um certo espanto, perceber que há um número sempre muito grande de<br />

pessoas interessadas na temática e que lotam este salão. Desde logo, eu agradeço o<br />

convite.<br />

Também é uma grande satisfação debater com Maria Beatriz Amorim, porque ela<br />

sempre faz uma apresentação muito competente, muito informada, muito abrangente e<br />

muito reflexiva. Quero também parabenizá­la pelo excelente trabalho, e é possível ver que<br />

isso reflete a dedicação da Beatriz durante vários anos a essa temática, a preocupação e a<br />

construção de alternativas e iniciativas em auxílio e pesquisa em propriedade intelectual. É<br />

mais do que dedicação, uma verdadeira paixão o compromisso que ela tem com esse tema.<br />

Ela é uma interlocutora muito importante, sentimos a falta dela no Rio de Janeiro. Então, são<br />

momentos em que temos a possibilidade de fazer esse debate.<br />

Eu queria estruturar os meus comentários em duas partes. A primeira parte são<br />

comentários à palestra e a conferência em si, e a segunda parte, eu queria compartilhar com<br />

vocês a experiência do Instituto de Economia da UFRJ, de construção de um programa<br />

interdisciplinar em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, que constitui uma área<br />

de concentração do programa de mestrado e doutorado em Inovação, Propriedade<br />

Intelectual e Desenvolvimento.<br />

115


Em primeiro lugar, vou chamar atenção para algumas dimensões que eu considerei<br />

muito relevantes na apresentação da Beatriz, e que eu acho serem fundamentais para<br />

pensar essa abordagem interdisciplinar de capacitação. Estou falando de capacitação de<br />

alto nível, de mestrado e doutorado acadêmico. Logo no início de sua apresentação, Maria<br />

Beatriz comentou, à propósito da história da propriedade intelectual, que ocorreram<br />

transformações na própria estrutura de governança da propriedade intelectual. A<br />

propriedade intelectual é caracterizada por mudanças institucionais muito relevantes, que<br />

mudam os marcos regulatórios. Da Convenção de Paris à TRIPS, se observa que a<br />

estrutura de governança da propriedade intelectual não é imutável, muito pelo contrário, há<br />

uma permanente construção e reconstrução institucional, que mudam também marcos<br />

regulatórios. Mas a própria estrutura de governança, sempre centrada em estruturas de<br />

governança globais, como a própria OMPI, precisa acomodar tensões que vêm dos<br />

institutos nacionais de propriedade industrial, os INPIs. Esse é o primeiro ponto que queria<br />

ressaltar.<br />

O segundo é que essa estrutura institucional tende a modificar­se a partir de<br />

mudanças nas trajetórias tecnológicas. Isso também foi ressaltado na exposição. O conceito<br />

de trajetória tecnológica, que acredito que todos estejam familiarizados, de Giovanni Dosi<br />

mostra que as mudanças nas trajetórias tecnológicas estão, em geral, associadas a essas<br />

mudanças institucionais que redefinem a estrutura de governança da propriedade<br />

intelectual. Então, se no momento do paradigma fordista, tínhamos uma estrutura de<br />

propriedade intelectual de um determinado tipo, essa recente mudança nas trajetórias<br />

tecnológicas das biotecnologias de segunda geração às tecnologias de informação, alteram<br />

os sistemas de apropriação da propriedade intelectual. No final, quando ela fez referência à<br />

pesquisa, mostrando os vários modelos de propriedade industrial e intelectual que<br />

coexistem, modelos mais proprietários e mais comuns, vemos que na realidade isso está<br />

muito relacionado às mudanças que estão em curso nas trajetórias tecnológicas. A<br />

propriedade intelectual certamente encontra desafios a partir de mudanças nas trajetórias<br />

que redefinem as estruturas de governança. Nesse sentido, há também uma reflexão<br />

relevante que foi feita em algum momento da conferência, de que os recursos dos países<br />

são também muito variados. A propriedade intelectual, a despeito de ter uma estrutura de<br />

governança global e uma tendência mais isomórfica, aponta para a importância dos países<br />

que possuem recursos diversificados. A despeito de estarem integrados para uma mesma<br />

trajetória tecnológica que une os países, os recursos são diferenciados. Na dependência<br />

desses recursos diferenciados, realmente, as formas específicas da propriedade intelectual<br />

são também diferenciadas. Por exemplo, um país como o Brasil, que possui recursos<br />

naturais abundantes, água, terras agricultáveis, recursos energéticos muito diferenciados,<br />

tem também uma estrutura de propriedade intelectual tal que, a despeito de seguir um<br />

modelo, a mesma trajetória tecnológica tem especificidades que têm de ser tomadas.<br />

É um ponto fundamental da palestra a questão de que faltam capacitadores, ou seja,<br />

profissionais capazes de atender às múltiplas demandas de capacitação que estão<br />

presentes na discussão do ensino e da pesquisa em propriedade intelectual. Ela fez<br />

referência a duas fases de construção dessa ecologia dos cursos de propriedade intelectual.<br />

De fato, poderíamos classificar os interesses daqueles que vão tratar da propriedade<br />

intelectual em dois grandes tipos. Um grande bloco de gestores estaria ligado ao cotidiano<br />

da propriedade intelectual. Não estou dizendo que isso seja uma separação estanque, mas<br />

na realidade você poderia dizer que esses dois tipos estão presentes e muitas vezes se<br />

confundem. Um deles é de gestores propriamente ditos, e o outro é um núcleo estratégico<br />

do Estado e das empresas que tem que tomar decisões estratégicas. Isso certamente<br />

influencia o tipo de capacitação que se deseja fornecer.<br />

116


Depois disso, Maria Beatriz fez um levantamento sistemático e muito interessante<br />

sobre as universidades no mundo, os escritórios de propriedade intelectual, as academias<br />

de propriedade intelectual, os conteúdos, fez referência a Ruth Soetendorp, que mostra<br />

exatamente um cardápio muito variado de preocupações com propriedade intelectual, uma<br />

ecologia variada. Faz referência ao Brasil, que nesse panorama, fica muito bem num retrato.<br />

Acho que estamos muito avançados no entendimento do que a Maria Beatriz chamou de<br />

segunda fase do ensino e da pesquisa em propriedade intelectual. De fato, temos uma<br />

experiência muito rica nas escolas de direito, nos cursos – o curso da UERJ é certamente<br />

no Rio de Janeiro um curso importante nessa área – mas estamos muito avançados no<br />

entendimento interdisciplinar da propriedade intelectual.<br />

O que vemos é que há uma necessidade permanente de ampliação do escopo da<br />

reflexão acadêmica em PI, porque estão surgindo a todo tempo novas questões no cenário<br />

internacional que afetam os intangíveis, especialmente finanças e conhecimento, que<br />

tendem cada vez mais a andarem juntos, e que afetam, portanto, a regulação da<br />

propriedade intelectual. Até mesmo, e estamos num momento muito oportuno para falar<br />

isso, a crise atual certamente vai redefinir a governança financeira internacional e vai alterar<br />

as relações entre a esfera pública e a esfera privada, redefinindo, então, o papel do Estado.<br />

Num sentido, temos certa felicidade de estar construindo um programa que se chama<br />

Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, com três áreas de concentração, que<br />

são: Governança e Políticas Públicas; Instituições, Estratégias e Desenvolvimento; e<br />

Inovação, Propriedade intelectual e Desenvolvimento. São áreas que se apóiam<br />

mutuamente e que oferecem um conjunto de disciplinas, em que algumas são específicas<br />

das áreas e outras são o que chamamos de disciplinas nucleares – nucleares porque elas<br />

são o núcleo de reflexão de cada área, dentro de cada área são núcleos de reflexão das<br />

linhas de pesquisa da área. Essas questões mais gerais, de governança de propriedade<br />

intelectual, das trajetórias tecnológicas, em que eu faço uma ligação com a conferência da<br />

Maria Beatriz, na realidade é preciso ter alunos – estou falando mais da área de núcleo<br />

estratégico do Estado e das empresas – que estejam munidos de ferramentas teóricas para<br />

se posicionarem diante dessas novas questões que permanentemente estão presentes. Não<br />

é uma questão só de capacitação, mas sim de oferecer disciplinas que são mais gerais, mas<br />

que permitem posicionamento. Trazendo um exemplo que aconteceu ontem, eu havia<br />

pedido aos alunos de doutorado que pensassem nas metodologias para elaboração das<br />

suas teses, e um aluno me disse que não tinha a menor condição de fazer isso agora,<br />

porque ele havia começado a fazer o curso sobre teorias neo­schumpeterianas, e com isso<br />

ele descobriu que o Schumpeter é “o cara”. Então, ele está sendo submetido a alguns<br />

cursos mais teóricos, o do Schumpeter e o curso de governança municipal de<br />

sustentabilidade ambiental com ênfase na dimensão local. Essas duas disciplinas estão<br />

mudando o que ele pensa na tese de doutorado. Dessa maneira, ele não tem condições de<br />

falar de metodologia, ele quer falar de teoria. Estou chamando atenção desse exemplo para<br />

explicar que as teorias são muito relevantes, porque permitem o reposicionamento diante de<br />

questões que não estão dadas e que realmente implicam numa redefinição de pensamentos<br />

sobre essas questões.<br />

O curso, o programa, precisa redefinir em primeiro lugar, depois que ele define suas<br />

linhas de pesquisa, quais são as disciplinas nucleares. Isso aponta para o fato de que<br />

algumas disciplinas e conteúdos que foram mostrados por Beatriz Amorim são mais ou<br />

menos comuns. Por exemplo, nos diferentes programas de propriedade intelectual,<br />

globalização e harmonização da propriedade intelectual é certamente uma temática mais ou<br />

menos comum. Direito e economia, a construção das pontes entre elas é uma preocupação<br />

disciplinar muito importante. Direito internacional da propriedade intelectual, que foi<br />

oferecido pelo José Carlos Vaz e Dias no nosso programa. Economia da inovação, gestão<br />

pública da propriedade intelectual, economia e direito das marcas, sempre trazendo a<br />

117


construção dessas pontes interdisciplinares que são relevantes. É a história da propriedade<br />

intelectual. Eu queria chamar a atenção que os programas, principalmente quando eles<br />

elegem disciplinas nucleares, têm que acomodar o fato de que há disciplinas comuns, com<br />

conteúdos mais ou menos previsíveis, mas existem também disciplinas autorais, que não<br />

podem ser separadas de seus autores, os professores que inventam essas disciplinas. No<br />

nosso caso temos uma disciplina denominada “Instituições e Políticas de Desenvolvimento<br />

Industrial”, que não é da área de PI, mas é nuclear, e a disciplina “Teoria Revolucionária<br />

Neo­Schumpeteriana”. Manter essa diversidade me parece fundamental, ou seja, ter<br />

disciplinas previsíveis e, ao mesmo tempo, ter disciplinas autorais que existem porque<br />

aqueles professores estão no programa. É por isso que acho que os programas estejam<br />

mais interligados, porque essa diversidade é muito importante.<br />

E voltando a idéia de que os recursos são diferentes entre distintas instituições de<br />

ensino e pesquisa, é necessária uma maior circulação. Acho que nossa universidade é<br />

muito emparedada. Sempre digo que acho que precisamos derrubar paredes, ventilar o<br />

conhecimento e para isso seria necessário que a CAPES tivesse também um sistema de<br />

reconhecimento de créditos entre programas, porque acho isso absolutamente fundamental.<br />

Essa iniciativa precisava ser amparada pela CAPES, ela precisaria avaliar isso no seu<br />

sistema, não só ser um problema, mas muito pelo contrário, ser uma solução. Também acho<br />

que os programas deveriam dar mais acesso aos alunos ouvintes, que têm interesse no<br />

campo, mas que naquele momento não podem seguir o programa fechado de mestrado ou<br />

doutorado acadêmico. A idéia do aluno ouvinte tem que ser muito bem­vinda, porque ela<br />

ventila as idéias. A universidade gratuita tem uma certa obrigação de permitir que as<br />

pessoas entrem dessa maneira.<br />

As redes são muito importantes. A Beatriz Amorim falou da ATRIP, por exemplo. Nós<br />

criamos no Seminário de Propriedade Intelectual para Países de Língua Portuguesa, mas<br />

ainda não demos devida circulação a isso, a REPPI, que é a Rede de Ensino e Pesquisa em<br />

Propriedade Intelectual. Logo vai estar bem estruturada, nós até já votamos um estatuto,<br />

todos assinaram. A REPPI é essa rede que tem o propósito de identificar nos programas de<br />

pós­graduação disciplinas que interessem ao ensino de propriedade intelectual, e<br />

transformar essas disciplinas em disciplinas que possam ser intercambiáveis, justamente<br />

fazer disso uma proposta, que era também da GPPN, da Global Public Policy Network, da<br />

qual o nosso programa pertence. Nesse momento está acontecendo o seminário da GPPN<br />

na China. A proposta de nossa professora que está lá, a Lena Lavinas, é de trazer a REPPI<br />

no próximo ano para o Rio de Janeiro. Acho que eles estão aceitando a idéia de que a<br />

próxima reunião do GPPN será aqui, na verdade uma reunião conjunta da REPPI para<br />

então montar essa estrutura de cursos comuns, que são intercambiáveis entre alunos.<br />

Nessa montagem das disciplinas nucleares, vemos que elas desenvolvem uma<br />

reflexão sobre inovação, desenvolvimento, mudança institucional relacionada com a<br />

propriedade intelectual. Há uma tensão, que parece muito clara entre dois processos em<br />

curso: de um lado o isomorfismo normativo e de outro a idéia de variedades de capitalismo.<br />

Isso também é muito importante nessa construção mais conceitual, a idéia de que você tem<br />

essas duas tendências em tensão permanente. É uma tendência de homogeneizar, de<br />

harmonizar, e uma tendência de reconhecer essas variedades de capitalismo e soluções<br />

institucionais próprias. Então, para concluir essa reflexão sobre disciplinas nucleares, na<br />

linha de governança e políticas públicas, justamente essa disciplina “Estados Variedade de<br />

Capitalismo e Políticas de Desenvolvimento” é uma disciplina nuclear, serve para todas as<br />

áreas. “Governança e Accountability” representa outra disciplina relevante para tem em<br />

conta esses desafios. Na área de instituições, estratégias e desenvolvimento, nós temos<br />

três disciplinas nucleares: “Instituições, Organizações e Estratégias” “Teoria Neo­<br />

evolucionária Schumpeteriana” e “Instituições, Estratégias de Desenvolvimento Industrial”.<br />

118


Na parte de propriedade intelectual mesmo, nós temos o “Direito Internacional da<br />

Propriedade Intelectual”. Eu acho que deveríamos ter uma disciplina chamada “Ecologia da<br />

Governança Internacional da Propriedade Intelectual”. Temos uma disciplina já dada que foi<br />

muito bem­sucedida, que é “Gestão Pública, Propriedade Intelectual e Estratégias de<br />

Desenvolvimento” e sempre uma disciplina de “Organização Mundial do Mercado de<br />

Tecnologia”.<br />

O processo se dá da seguinte forma: essas disciplinas nucleares são fundamentais<br />

para nutrir a reflexão das linhas de pesquisa, em GPP temos “Estado, Variedade,<br />

Capitalismo e Políticas”, “Equidade, Governança e Políticas Públicas”, “Accountability e<br />

Esferas de Poder”. Em ED, “Instituições, Estratégias e Desenvolvimento” e “Instituições,<br />

Inovação e Desenvolvimento” e “Estratégias, Inovação e Desenvolvimento”. E no IPID,<br />

Inovação, Propriedade Intelectual e Desenvolvimento, “Políticas da Regulação da<br />

Propriedade Intelectual e Desenvolvimento” na primeira linha, e na segunda “Inovação em<br />

Estratégias Empresariais a partir do Conhecimento Proprietário”.<br />

Finalmente, é nessas linhas de pesquisa que as dissertações de mestrado e<br />

doutorado vão estar ancoradas, vão ser parte da definição de disciplinas nucleares. Isso<br />

está ligado às linhas de pesquisa de cada uma das áreas, e quando se vê, na realidade, as<br />

dissertações de teses estão ancoradas nessas linhas. Nesse sentido, as metodologias de<br />

dissertação e tese são cruciais, porque permitem ver como que a reflexão dos alunos vai<br />

virar tese, artigo, participação em seminários, como isso vai se estruturando de maneira a<br />

construir uma totalidade reflexiva. Isso que acredito que permitirá que o pensamento<br />

avance.<br />

Quando é possível ver claramente as disciplinas, as linhas de pesquisa e as teses e<br />

dissertações, então é hora de fazer o caminho inverso, de verificar se as disciplinas<br />

nucleares foram exatamente aquelas que os alunos escolheram. Se foi a partir dela que os<br />

alunos construíram essa reflexão.<br />

Por último, quero chamar atenção sobre seminários temáticos. Eu acho que os<br />

docentes precisam visitar permanentemente a fronteira do conhecimento. Isso pode ser feito<br />

num seminário temático, que una áreas de concentração do programa. Esse seminário deve<br />

ser dos professores, mas aberto aos alunos, de maneira a avançar o conhecimento. Eles<br />

devem ser visitados por professores externos ao programa, e deve haver uma programação<br />

para isso. Isso deve se tornar um hábito, uma rotina.<br />

Em primeiro lugar, escolher disciplinas nucleares e sinalizá­las, em segundo,<br />

estruturar as conexões entre ensino e pesquisa a partir dessas disciplinas e pensar as<br />

disciplinas a partir das linhas de pesquisa. Terceiro, buscar entender as teses e dissertações<br />

a partir das linhas de pesquisa e alocar os alunos nas linhas, entender a proposta do<br />

programa a partir da relação entre disciplinas e linhas de pesquisa, entre teses, dissertações<br />

e linhas. Construir a rede com outros programas de pós no país e no exterior, participar das<br />

redes, instituir os seminários temáticos para acompanhar a fronteira do conhecimento.<br />

Vou aproveitar para convidar todos para a programação que está na página do<br />

Instituto de Economia (www.ie.ufrj.br). São três conferências, a terceira é junto com a<br />

academia de PI e vai contar com Maria Helena Santana e o Presidente Jorge Ávila como<br />

comentaristas do Leonardo Burlamaqui. Muito obrigada.<br />

119


MARIA BEATRIZ BONACELLI<br />

Boa tarde. Também agradeço ao convite da REPICT, do INPI e da RE<strong>DE</strong>TEC. É<br />

uma satisfação participar deste debate. Eu vou praticamente fazer um depoimento,<br />

contando as experiências que estão ocorrendo na UNICAMP, no Departamento de Política<br />

Científica e Tecnológica (DPCT) e outras iniciativas na formação de alunos de graduação e<br />

pós­graduação nesta Universidade.<br />

Quando a Beatriz Amorim comentou o grande desafio da formação de gestores com<br />

perfil que inclui desde propriedade intelectual, gestão de contratos, transferência de<br />

tecnologia, empreendedorismo, estamos sentindo isso há muitos anos no país. Sou<br />

coordenadora do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação, o<br />

GEOPI, que é um grupo de pesquisas do DPCT, que já conta com treze anos de trabalhos.<br />

Num primeiro momento, a nossa linha de pesquisa principal era a reorganização de<br />

institutos públicos de pesquisa, essa foi a nossa origem. Desde aquele momento,<br />

percebemos, nos institutos públicos, a carência de gestores e de profissionais para trabalhar<br />

em áreas­meio, mas não menos importantes, nestas instituições. Naquele momento já<br />

falávamos que esse era um dos grandes desafios. Hoje, nas nossas experiências em<br />

desenvolvimento de projetos tanto com instituições públicas, como com empresas que nos<br />

procuram, é justamente saber onde buscar esse perfil. Desde aquele momento nós<br />

comentávamos isso e hoje vemos uma maior premência, dada a evolução do próprio<br />

sistema nacional de inovação, entre outros. Se nós podemos citar duas grandes barreiras<br />

para o desenvolvimento dessas instituições, principalmente as públicas, é encontrar esse<br />

profissional e também o marco legal regulatório que inibe muitas das iniciativas nessas<br />

organizações. Esse é aquele momento em que nos deparamos com aquela barreira e, nos<br />

nossos trabalhos mais atuais, ela continua sendo um desafio. Beatriz Amorim até comentou<br />

sobre a primeira pessoa que foi contratada na universidade, mas nas instituições públicas<br />

de pesquisa, diferentemente das empresas, mesmo com a obrigatoriedade de se criar NITs<br />

nessas instituições a partir da Lei de Inovação, é difícil se conseguir vaga para esse perfil<br />

contra o perfil mais técnico. No final, acaba que o pesquisador é quem cumpre esse papel.<br />

Por um lado, temos a carência do profissional e, por outro lado, há uma dificuldade para se<br />

profissionalizar esse trabalho junto a várias instituições. Esse é o contexto que percebemos<br />

quando realizamos as pesquisas junto a essas instituições.<br />

Em relação à formação, eu fiz um levantamento junto a UNICAMP. Lógico que meu<br />

maior conhecimento é das iniciativas do DPCT e da Inova; esse levantamento mostra<br />

iniciativas isoladas na Universidade. Aliás, peço desculpas de antemão, porque podem<br />

existir erros e omissões neste levantamento. Na graduação existe uma disciplina que foi<br />

criada neste ano, aliás, o responsável pela disciplina é o professor Roberto Lotufo, diretor­<br />

presidente da Inova. AM, que é uma atividade multidisciplinar, é uma disciplina que é ligada<br />

à Reitoria, que é “Propriedade Intelectual, Inovação e Empreendedorismo”. O importante é<br />

essa relação entre universidade e sociedade com um componente forte de propriedade<br />

intelectual, inovação e empreendedorismo. Ela é composta por palestras que vão muito<br />

nessa direção, mas não é só propriedade intelectual, são várias as temáticas que compõem<br />

esse conjunto, como a questão empreendedora, a importância da proteção da criação<br />

científica, empresas de base tecnológica. Essa é uma das disciplinas que conta com cerca<br />

de sessenta alunos de graduação por semestre 50% dos cursos da UNICAMP são<br />

representados pelos alunos da graduação que realizam esse curso.<br />

No levantamento junto à Diretoria Acadêmica da Unicamp, no curso de Arquitetura<br />

há uma disciplina que conta com direito autoral e plágio. Aqui temos a grade da disciplina,<br />

com direitos autorais em arquitetura, propriedade intelectual em arquitetura. Na Biologia e<br />

na Farmácia são quatro disciplinas, que também contam com aspectos éticos, legais de<br />

1<strong>20</strong>


direito de propriedade intelectual. Estas são de biotecnologia, legislação, biossegurança,<br />

noções de empreendedorismo e propriedade intelectual. Na Biotecnologia Microbiana<br />

também tem uma disciplina de patentes e proteção à propriedade intelectual e uma<br />

disciplina de empreendedorismo. Na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação,<br />

há duas disciplinas, que são de aplicações, também com uma preocupação com a<br />

propriedade intelectual e o direito autoral. Na de Engenharia Química, em projeto químico,<br />

existe uma parte voltada a patentes e royalties.<br />

Na pós­graduação temos algumas coisas interessantes. Na Biologia Molecular existe<br />

a disciplina de biossegurança, legislação e propriedade intelectual. Eu chamo a atenção<br />

para esses tópicos especiais em genética. Isso sim é uma disciplina sobre propriedade<br />

intelectual e patentes. Ela foi criada agora, é uma disciplina de pós­graduação para o<br />

doutorado, cujo professor responsável é o professor Marcelo Menossi, que hoje é o diretor<br />

de propriedade intelectual e parcerias da Inova. O DPCT está envolvido nessa disciplina ­ as<br />

primeiras aulas apresentam a concepção de sistemas nacionais de inovação e conceitos<br />

sobre ciência tecnologia e inovação. Dá para se perceber que existem oficinas de busca de<br />

patentes, como escrever uma patente, a questão do sigilo, enfim, essa é uma disciplina<br />

voltada a isso. O professor Marcelo Menossi tem essa visão e preocupação.<br />

Algumas iniciativas da Inova. A Inova realmente trouxe uma dinâmica diferente para<br />

a UNICAMP. Chamo atenção para esses aspectos. Ainda há barreiras a serem superadas e<br />

a Inova tem consciência disso. O que é interessante, fazendo até um parêntese, é que os<br />

alunos das engenharias, de graduação, começam a ter mais curiosidade para saber sobre<br />

esses assuntos. Porém, existem alguns cursos que ainda se mostram reticentes a essas<br />

discussões. Enfim, existem os prós e contras, e o importante é sabermos argumentar.<br />

Voltando a falar da INOVA, existe um curso avançado de PI para gestores de tecnologia em<br />

parceria com o INPI, o que Rita Machado deve comentar. Vale ressaltar o curso de<br />

estruturação de NITs, em que a Inova tem ministrado vários mini­cursos, disseminando a<br />

cultura dos NITs. Lógico que propriedade intelectual é um dos assuntos em pauta.<br />

Aqui introduzo nossas disciplinas, do DPCT, dentre as quais, as que têm auxiliado a<br />

Agência de Inovação da Unicamp (INOVA) na disseminação deste conhecimento. Na<br />

graduação, a disciplina “Ciência, Tecnologia e Sociedade”. Temos cerca de cinqüenta<br />

alunos por semestre. Aqui temos uma aula no semestre sobre propriedade intelectual, na<br />

qual percebemos como os alunos se posicionam frente a essas discussões. Junto ao<br />

Laboratório de Jornalismo Científico da UNICAMP, no mestrado de Divulgação Científica e<br />

Cultural, temos uma aula sobre propriedade intelectual, e na especialização, também no<br />

LABJOR, temos cerca de cinqüenta alunos por turma a cada dois anos, também temos aula<br />

sobre propriedade intelectual numa das disciplinas oferecidas pelo DPCT.<br />

A disciplina “Instrumentos de Gestão e Política em CTI”, é ministrada pelo professor<br />

Sergio Salles, que há sete anos criou essa disciplina. São cerca de quinze alunos por ano,<br />

está estruturada em quatro módulos: avaliação em CTI, prospecção em CTI, financiamento<br />

à inovação e propriedade intelectual. O módulo de propriedade intelectual apresenta um<br />

histórico sobre PI, introdução à PI, experiências nacionais e internacionais e uma aula<br />

dedicada à oficina em PI. Em cada um desses módulos tem essa oficina, que é quando os<br />

alunos são incentivados a montar um projeto que componha esses quatro temas. Essa é<br />

uma disciplina do DPCT.<br />

Estamos apoiando a Inova no curso “Gestão Estratégica de Núcleos de Inovação<br />

Tecnológica”. Esse é um projeto da Inova com financiamento da FINEP, que existe desde o<br />

ano passado, e nesse projeto a idéia era oferecer um curso de estruturação de NITs. A<br />

Inova é um dos NITs mais bem estruturados no país, e a proposta é trocar experiências e<br />

121


ajudar na estruturação de outros NITs. Já oferecemos duas edições desse curso e está<br />

prevista a terceira edição para fevereiro de <strong>20</strong>09. São cerca de vinte e cinco alunos por<br />

edição, a preferência é para pessoal de NIT, mas tem também alunos que se interessam, e<br />

a procura é bem grande. São cinco módulos, desde a idéia do que é um NIT, a cultura de<br />

inovação, introdução ao planejamento e à gestão em CTI – que são conceitos mais gerais<br />

de CTI, sistema nacional de inovação – empreendedorismo e negócios tecnológicos,<br />

propriedade intelectual e comercialização de tecnologias e financiamento a CTIs. Esse é<br />

bem voltado para esse perfil de profissional.<br />

O DPCT tem, com essas aulas e cursos principalmente na pós­graduação, algumas<br />

teses e dissertações já defendidas neste tema: três teses defendidas e três dissertações em<br />

propriedade intelectual, apropriação de conhecimento na indústria de software e na<br />

agricultura, uma delas de Sergio Paulino de Carvalho, do INPI,. Uma das dissertações<br />

acabou de ser defendida é sobre o Nuplitec, o Núcleo de Propriedade Intelectual da<br />

FAPESP.<br />

Estamos distantes do contexto mostrado por Beatriz Amorim, mas passos vêm sendo<br />

dados na direção de se colocar em pauta nas discussões um ponto central: quem se<br />

apropria do conhecimento gerado nas instituições públicas. Muitas das nossas discussões<br />

em salas de aula colocam essa reflexão sobre a apropriação do conhecimento. Estamos<br />

numa instituição pública, então muito do que fazemos aqui deve ser, necessariamente, de<br />

domínio público? Mas quem vai ter mais chances de se apropriar destes conhecimentos? A<br />

sociedade em geral ou aquele que tiver mais recursos e mais competência? No instante T0<br />

pode ser de domínio público, mas no instante T1 alguém já se apropriou desse<br />

conhecimento. A universidade tem a obrigação de fazer essa reflexão, de saber para onde<br />

estão caminhando os resultados dos nossos trabalhos, saber quem está se apropriando<br />

desses resultados, para ser capaz de gerar maiores e melhores benefícios a toda a<br />

sociedade. Muito obrigada.<br />

RITA PINHEIRO MACHADO<br />

Bom dia a todos. Gostaria de externar a minha satisfação em estar numa mesa como<br />

esta. Eu vou fazer meus comentários em cima daquilo que o INPI vem fazendo.<br />

Para contextualizar esse problema, lembro o que ouvimos no primeiro dia, o Brasil<br />

tem méritos de desenvolvimentos científicos enormes, boa produção científica – 2% no ano<br />

passado, e número de doutores crescente. Tudo isso é muito importante, mas acaba não<br />

impactando toda essa ciência bem desenvolvida nas universidades, que não está sendo<br />

transportada para o mercado. Não temos um grande número de depósitos de residentes ou<br />

patentes concedidas em número proporcional ao nosso desenvolvimento científico. É<br />

extremamente importante pensarmos que nenhum de nós saiu da universidade sabendo<br />

algo sobre propriedade intelectual, em qualquer universidade, com exceção das escolas de<br />

direito e algumas iniciativas mais recentes. O público que está aqui certamente não viu essa<br />

matéria na universidade. Isso é uma questão importante, como pegamos pessoas que estão<br />

saindo da universidade, sem a menor noção do que seja propriedade intelectual, do que<br />

seja empreendedorismo, e esperar que acabe acontecendo alguma coisa.<br />

Além disso, uma questão importante é ensinar o empreendedorismo desde a escola.<br />

Eu estive recentemente na Coréia e fiquei bastante espantada com o trabalho que eles vêm<br />

desenvolvendo com as crianças. A mesma coisa vem acontecendo na China. Um trabalho<br />

importante de mostrar para as crianças a questão da criatividade, a importância de gerar<br />

novas idéias e tentar ser empreendedor.<br />

122


Eu agora vou falar um pouco sobre o INPI. Todos sabemos que o INPI foi<br />

reestruturado em <strong>20</strong>04, e a partir de <strong>20</strong>05 foi criada a Diretoria de Articulação e Informação<br />

Tecnológica, que Beatriz Amorim nos deu a honra de ter sido diretora. Desde essa época, o<br />

INPI vem trabalhando fortemente na questão da disseminação da cultura da propriedade<br />

intelectual e da capacitação de pessoal. Há seminários de sensibilização que ocorrem pelo<br />

país inteiro, e as pessoas que estão aqui do INPI, em grande parte, viajam muito em função<br />

desses eventos. Seminários temáticos têm acontecido em áreas específicas, como<br />

biotecnologia, indicações geográficas, moda, diversos setores. Esses seminários temáticos<br />

estão se alinhando mais com os focos da nova política industrial, além dos seminários<br />

temáticos que o INPI faz em parceria com a OMPI, que são muito importantes. Fora isso,<br />

ainda existem os seminários dos diversos parceiros em todo o país.<br />

Com relação ao treinamento por meio de cursos, desde <strong>20</strong>05 os cursos vêm<br />

acontecendo, imagino que boa parte das pessoas que se encontram aqui já passou por um<br />

curso do INPI. São aqueles cursos básico, intermediário e avançado para gestores de<br />

tecnologia. Esses cursos, considerando de <strong>20</strong>05 a <strong>20</strong>07, capacitaram mais de três mil<br />

pessoas, ou seja, muita gente está sendo capacitada, mas claro que isso tinha um foco e<br />

esse foco acabou ficando mais nos gestores de tecnologia. Principalmente, conseguimos<br />

nos aproximar das universidades.<br />

Vale ressaltar também os cursos com a OMPI. Os cursos que Beatriz Amorim<br />

mencionou na sua apresentação, o de licenciamento, de redação de patentes, também são<br />

extremamente importantes para aumentar a massa crítica que entenda do assunto. É claro<br />

que se olharmos no contexto do país isso ainda é pequeno, os especialistas do INPI sentem<br />

isso na carne, que estão se deslocando para todos os lados, num país de dimensões<br />

continentais, sendo bastante complicado o gerenciamento disso. Mesmo assim isso vem<br />

trazendo muitos resultados positivos.<br />

Esses cursos acabaram criando uma nova cara, isto é, voltados para a capacitação<br />

dos NITs e das pessoas que lá trabalham. Claro que isso acaba gerando um retrabalho,<br />

porque todos nós sabemos que os NITs são baseados principalmente em mão de obra de<br />

bolsistas, e nós sabemos que essas pessoas acabam migrando para outras áreas. Eu<br />

estava comentando no intervalo com a Maria Beatriz, que é verdade que estamos colocando<br />

pessoas no mercado que tem conhecimento diferenciado que para os NITs acaba gerando<br />

um impacto, mas para o INPI gera retrabalho de treinar de novas pessoas. Nessa questão é<br />

muito importante que todos nós briguemos por vagas para os NITs, pessoas que fiquem nas<br />

universidades, não só professores, mas vagas específicas.<br />

Em todo esse movimento que está acontecendo e não somente com relação ao INPI,<br />

mas de todos os parceiros, Secretarias de C&T, SEBRAE e outras instituições articuladoras<br />

e fomentadoras de propriedade intelectual pelo país todo, acabou gerando reflexos<br />

positivos. O primeiro deles é a questão da visibilidade do INPI. Todos nós sabemos que o<br />

INPI não é muito conhecido, mas essa visibilidade aumentou muito. A imagem do INPI<br />

frente a sociedade vem se modificando e isso é bastante interessante. A questão do<br />

aumento de depósitos das universidades, como falei anteriormente, pois conseguimos<br />

chegar mais perto das universidades. Isso é muito positivo, temos um aumento de<br />

depósitos. Estive recentemente numa avaliação de edital da FINEP para NITs, em Belo<br />

Horizonte, e fiquei bastante feliz em ver os resultados de depósitos de patentes já feitos na<br />

gestão destes. Claro que existem diferenças, NITs muito bem estruturados como o caso da<br />

Inova, NITs que estão começando, mas existe um movimento forte de depósitos de<br />

patentes, que mostra uma mudança de comportamento dentro da academia.<br />

123


Outra questão importante é o aumento de tópicos ou disciplinas nas universidades.<br />

Todos nós sabemos que temos uma carência, mas isso vem aumentando. Beatriz Bonacelli<br />

acabou de nos colocar a experiência da UNICAMP, aonde diversos cursos vem<br />

acontecendo. Assim como vemos o surgimento de diversos cursos espalhados pelo país. A<br />

UFBA criou uma disciplina para graduação extremamente interessante, está no website da<br />

UFBA o material e a metodologia. Eles estão levando para a graduação a questão da<br />

redação de patentes. Claro que tudo isso ainda precisa crescer muito, como a Ana Célia<br />

mencionou, a massa de profissionais nessa área ainda é muito reduzida. É extremamente<br />

importante a circulação dessas pessoas pelos programas que já existem para arejar o<br />

conhecimento e trocar experiências.<br />

Outro ponto importante, já mencionado por Beatriz Amorim, é o mestrado<br />

profissional, mais especificamente a estruturação de Academia de PI dentro do INPI onde<br />

temos o mestrado profissional. Vale destacar também os cursos de curta duração em<br />

andamento pelo país e algumas linhas de pesquisa que estão sendo iniciadas. Tudo é muito<br />

embrionário, mas existe uma tendência de se estabelecer parcerias com as diversas<br />

universidades, centros de pesquisa, para fortalecer o que está acontecendo no INPI que é<br />

extremamente importante. Precisamos aumentar o nível de conhecimento, de discussão em<br />

temas importantes para o desenvolvimento do país.<br />

Sinto que esse movimento vem crescendo, temos resultados positivos, os NITs<br />

mostram que realmente estamos gerando frutos, por meio disso tudo que INPI e os<br />

parceiros estaduais vêm fazendo pelo país. Muita coisa ainda precisa ser feita, como eu<br />

falei, a primeira é a inserção da temática não só de PI, mas de empreendedorismo nas<br />

universidades, graduação e pós­graduação. Não vamos conseguir virar o jogo se não<br />

tivermos pessoas sabendo o que é isso. O que acontece hoje é que estamos apagando<br />

incêndio, existe a necessidade de informação, há um forte aumento na demanda, e<br />

precisamos de pessoas sendo formadas com essa noção.<br />

Conseguimos acessar a universidade, mas ainda não conseguimos acessar de forma<br />

adequada a indústria. Isso é algo que temos como meta, principalmente micro e pequenas<br />

empresas, justamente levando esse conhecimento para dentro do seu ambiente. Porém,<br />

isso é mais complicado. A dinâmica é diferente. O pequeno empresário não consegue ficar<br />

uma semana fora do seu negócio, então temos que encontrar uma outra formatação para<br />

acessar esse público. Existe essa demanda não só para sensibilizá­los sobre a importância,<br />

mas também capacitá­los sobre como utilizar o sistema de forma estratégica.<br />

Só para reforçar, a questão de apoiar a estruturação dos NITs e na capacitação dos<br />

seus quadros é meta fundamental, e o INPI está sempre disposto a trabalhar em parceria<br />

para atacar questões como essa.<br />

Algo extremamente interessante também é fortalecer a academia de PI. Isso vem<br />

sendo feito por meio de parcerias. Assinamos o acordo de cooperação do INPI com a<br />

COPPE. Diversos acordos vêm sendo assinados e estamos nos inserindo em projetos que<br />

estão sendo desenvolvidos. Você vê em muitos países o surgimento de academias, ou seja,<br />

existe um movimento forte mundial, o Brasil está dentro dele. Uma das coisas que estamos<br />

fazendo é estudar esse movimento, a característica das academias, isso é tema de uma<br />

dissertação do mestrado profissional do INPI.<br />

Eu gostaria de lembrar a todos que existe um edital aberto para um concurso de<br />

especialista sênior, para seis vagas. Se alguém estiver interessado ou conhecer alguém<br />

interessado, entre no website do INPI. O edital está na página principal, seis vagas com<br />

áreas específicas. Isso vai ajudar a fortalecer, porque a academia e o mestrado estão<br />

124


engatinhando. Ele foi autorizado pela CAPES em <strong>20</strong>06, tudo muito recente, e estamos na<br />

seleção da terceira turma com, ao todo, cinqüenta e dois alunos nas duas primeiras turmas.<br />

Precisamos trazer competências para dentro do INPI porque sabemos que o INPI não é<br />

uma instituição de educação em si, está entrando nessa seara agora, então se tivermos o<br />

apoio de especialistas seniores será muito interessante para o fortalecer o mestrado e as<br />

linhas de pesquisa.<br />

Beatriz Amorim mencionou algo muito importante que é a questão do material<br />

didático. Nós precisamos desenvolver material didático. O INPI vem trabalhando junto ao<br />

IEL e ao SENAI, desenvolvendo uma cartilha que será disponibilizada para professores,<br />

técnicos e alunos do SENAI, mas isso é muito pouco. Precisamos ter mais material didático<br />

que possa estar disponível para as pessoas.<br />

Quanto a uma revista especializada, o INPI tem o projeto de criar uma revista<br />

eletrônica em PI. Infelizmente, neste ano esse projeto não sairá do papel.<br />

Uma última coisa que o INPI vem tentando trabalhar, e que provavelmente ano que<br />

vem conseguiremos implementar, é o ensino à distância. Nós temos um país de dimensões<br />

muito grandes e com isso fica difícil e cada vez mais complicado, com as atividades que o<br />

INPI tem, deslocar especialistas para falar nos diversos lugares. Se uma parte, como um<br />

curso básico, pudesse ser dada à distância, diminuiria os custos e acessaríamos muito mais<br />

pessoas. Muito obrigada.<br />

ANA CÉLIA CASTRO<br />

Eu queria deixar claro que como eu comecei fazendo comentário do depoimento da<br />

Maria Beatriz Amorim, na realidade o ensino de PI na UFRJ não se limita de maneira<br />

nenhuma ao PPED. Há vários cursos e programas que têm a questão da propriedade<br />

intelectual. Ressalto a Escola de Química, que tradicionalmente tem pesquisa e oferece<br />

disciplinas, a COPPE, o Museu Nacional. Vários programas de engenharia na COPPE têm a<br />

dimensão e discussão de propriedade intelectual, empreendedorismo. Esqueci de dizer que<br />

a nossa área de concentração é em associação com a FIOCRUZ, que nossa coordenadora<br />

é a Claudia Chamas e Carlos Morel, também num papel muito importante na pós­<br />

graduação. As disciplinas nucleares são desses professores, Claudia Chamas, Carlos<br />

Morel, Mario Posas, Antonio Barros de Castro, Eli Diniz, Charles Peçanha. Estamos<br />

pensando também na construção de uma graduação curta em propriedade intelectual, que<br />

está sendo negociada com a Faculdade Nacional de Direito.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES<br />

Está aberta a sessão de perguntas.<br />

125


CARLA RIBEIRO<br />

Como examinadora de patentes do INPI, eu queria colocar para a mesa duas<br />

iniciativas que estão dentro do contexto abordado, que são simples, e por isso acho que<br />

poderiam ter um alcance nacional. Eu ainda não as vi acontecer. A primeira, eu estava<br />

comentando com a Beatriz Amorim, que seria junto às agências fomentadoras, como CNPq,<br />

CAPES e FINEP, de inclusão no formulário de pedido de fomento, um item para falar sobre<br />

anterioridade, fazer um panorama das buscas naquele determinado assunto. Eu acho que<br />

isso complementaria a ação feita em parceria com a CAPES de incluir no seu portal a base<br />

Derwent. Não adianta oferecer a ferramenta. Tem que cobrar o uso. Eu acho que assim teria<br />

um alcance muito grande.<br />

O outro é frente a essa iniciativa que a Rita Machado falou, do INPI fazer parcerias,<br />

não começar um ensino à distância sozinho, mas procurar parceria com o CE<strong>DE</strong>RJ, por<br />

exemplo, que já tem um programa de ensino à distância amplo, com uns dez anos de<br />

implementação e que está indo muito bem. Seria importante aproveitar esse gancho do<br />

CE<strong>DE</strong>RJ para poder junto com essa instituição que já trabalha com ensino à distância em<br />

várias áreas de graduação.<br />

Seriam duas iniciativas simples e que teriam um alcance muito grande nesse grande<br />

desafio de trabalhar com propriedade intelectual no Brasil, e principalmente disseminar essa<br />

cultura.<br />

LILIANA MEN<strong>DE</strong>S<br />

A minha pergunta é para Beatriz Amorim. Li um autor americano chamado Peter<br />

Drahos, que fala da estratégia americana na construção de TRIPS. Uma das questões que<br />

ele apontou foi que a não resistência dos países em desenvolvimento com relação à<br />

elevação dos padrões em propriedade intelectual, sendo esses países importadores de<br />

tecnologia. Ele aponta como falta de cultura em propriedade intelectual. Ele disse que, à<br />

época, os Estados Unidos estavam negociando com a Coréia e nela não existia nenhuma<br />

faculdade de direito que tratasse do tema da propriedade intelectual. Hoje a Rita mostrou<br />

que existem escolas com crianças tratando da questão da propriedade intelectual na Coréia.<br />

Nós sabemos que a partir de TRIPS houve um esforço enorme, e a OMPI tem um<br />

papel fundamental nisso. A OMPI talvez tenha tido a primeira academia de propriedade<br />

intelectual, em 1998, Há uma década apenas. Daí para frente muitos outros países estão<br />

desenvolvendo suas academias. Hoje a própria OMPI anima uma rede de mais de quatorze<br />

países com academias de propriedade intelectual, e outros tantos escritórios regionais na<br />

área de propriedade intelectual. Eu queria saber sobre a Agenda de Desenvolvimento, que<br />

foi falada aqui no primeiro dia, com suas 45 recomendações, qual seria o seu papel na<br />

questão da disseminação de uma cultura de propriedade intelectual através de políticas, ou<br />

de fortalecimento, ou de assistência aos países em desenvolvimento, para a formação de<br />

profissionais na área de PI.<br />

ANA LUCIA, CNPq<br />

Eu gostaria de ouvir as palestrantes da mesa sobre qual seria o formato mais<br />

adequado para formação desses profissionais que possam trabalhar com gestão de<br />

inovação, a questão mais prática do dia­a­dia, essa demanda enorme de pessoas<br />

capacitadas com a formação multidisciplinar necessária para atuar na área de transferência<br />

de tecnologia, seja na iniciativa pública ou privada. Seria uma graduação rápida? Seriam<br />

126


cursos de especialização? Mestrados profissionalizantes? Porque aqueles profissionais<br />

voltados mais para o núcleo estratégico, como a professora Ana Célia colocou, é o pessoal<br />

que será formado em cursos de mestrado e doutorado mesmo. Porém, aquele pessoal que<br />

vai trabalhar mais no dia­a­dia, qual seria o formato que daria um resultado mais rápido?<br />

Outra pergunta é para Rita Machado. Gostaria de saber qual o foco do curso de<br />

mestrado do INPI? Mais focado para a formação desse profissional envolvido na questão<br />

prática ou mais voltado para a questão de gestor estratégico?<br />

MIGUEL <strong>DE</strong> SARGADA<br />

Quanto aos professores das universidades, principalmente quem dá cursos de pós­<br />

graduação, como está o conhecimento deles com relação ao empreendedorismo? Às vezes<br />

temos professores que já estão na academia há muito tempo, e dentro da política de<br />

governo antiga, não estão muito relacionados com essa nova tendência de patentes. Afinal<br />

de contas, são eles que formam os mestres e doutores que podem guiar um pouco mais a<br />

produção científica mais ligada às empresas. Muitas vezes as empresas procuram na<br />

academia novas tecnologias, e as patentes que estão no portfólio dos NITs, em geral, são<br />

um tanto vagas, amplas, básicas demais para que as empresas possam querer licenciar.<br />

MARIA BEATRIZ AMORIM­BORHER<br />

Primeiro, eu vou rapidamente comentar o que a Carla falou. Eu acho super<br />

importante essa questão da indução por parte das agências de fomento. As agências de<br />

fomento têm um papel fundamental em qualquer mudança que venha ocorrer de ensino e<br />

pesquisa em qualquer área, inclusive na área de propriedade intelectual. Já aconteceu em<br />

outras áreas no passado, quando o Brasil resolveu dizer que biotecnologia era importante.<br />

Para qualquer exigência que venha a ser feita para uma concessão de auxílio, de bolsas, no<br />

âmbito das agências de fomento, para criar uma cultura de, por exemplo, “busca” e outras<br />

idéias nesse sentido, acho fundamental haver critérios. Isso foi discutido uma vez quando eu<br />

estava no INPI, com o Carlos Henrique de Brito Cruz, que era, na época, da FAPESP. Ele<br />

pretendia colocar exatamente essa exigência na hora da avaliação dos pedidos de projetos<br />

na FAPESP. Num segundo momento, eu cheguei a discutir muito isso com o presidente da<br />

CAPES, Jorge Guimarães, que é um pesquisador da área de bioquímica e que sempre fez<br />

pesquisa em banco de patentes em sua atividade acadêmica. Ele teve uma briga muito<br />

forte, brigou pela permanência da base da Derwent no portal CAPES, que representa um<br />

custo elevado ao portal. Estava convicto de que a informação patentária deveria fazer parte<br />

da vida acadêmica dos pesquisadores antes mesmo da pesquisa começar. Estamos tendo a<br />

felicidade de trabalhar com a Liliane Mendes nesse tema de ensino e pesquisa em um<br />

mestrado sobre academias de propriedade intelectual.<br />

A Agenda de Desenvolvimento foi aprovada na OMPI, e o comitê que está<br />

implementando essa agenda chama­se Comitê de Propriedade Intelectual e<br />

Desenvolvimento, que vai para sua terceira reunião no começo do ano que vem. As duas<br />

primeiras reuniões foram justamente em cima de como implementar as 45 recomendações<br />

da Agenda, no âmbito de vários temas, inclusive transferência de tecnologia, entre outros.<br />

Cada recomendação vem sendo discutida, mas essa discussão ainda não se concluiu. É um<br />

trabalho bem lento e de muito detalhe. Agora a fase é de apontar quais atividades deverão<br />

ser implementadas para que se traduzam em ações tais recomendações. Eu diria que mais<br />

de 80% das atividades propostas tem a ver com capacitação e treinamento. Algumas outras<br />

dizem respeito à questão de, por exemplo, uso de banco de dados de patentes, infra­<br />

127


estrutura, etc. Isso é uma discussão com os Estados membros da OMPI, ou seja, é uma<br />

proposta em que a OMPI apresenta a implementação de atividades. A grande maioria das<br />

recomendações passa por treinamento e capacitação na área de transferência de tecnologia<br />

e em áreas como licenciamento, contratos de desenvolvimento de tecnologia, treinamento<br />

em valoração de intangíveis, temas abordados ontem e também nos mini­cursos. Se você<br />

tiver mais interesse em detalhes dessas atividades, a cooperação internacional do INPI tem<br />

informação sobre as ações já aprovadas.<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES<br />

Bem, nos já passamos da hora e por isso eu vou endereçar as perguntas que já<br />

foram feitas às debatedoras das mesas.<br />

ANA CÉLIA CASTRO<br />

Eu vou responder a pergunta da doutora Ana Lúcia do CNPq sobre o formato mais<br />

adequado dos cursos para profissionais em gestão da inovação. Eu acho que a graduação<br />

curta pode ser muito interessante, porque são profissionais que têm maturidade, estão em<br />

outras áreas. Uma graduação curta seja na área de direito, seja nas áreas profissionais,<br />

acrescentariam muito valor. Em segundo lugar, os cursos lato sensu, tanto presenciais<br />

quanto semipresenciais, em relação à idéia de fazer um módulo presencial, depois um<br />

módulo à distância, e depois a questão das monografias, podem dar muito resultado. São<br />

duas metodologias de ensino, sem dúvida alguma, mais adequadas para um formato de<br />

gestor, além de toda a dimensão de empreendedorismo que está presente em algumas<br />

poucas universidades, como é o caso da PUC­Rio. Os cursos de empreendedorismo são<br />

muito localizados. Acho que eles precisam ampliar o escopo, mudar um pouco a ênfase, ser<br />

mais abrangentes e disseminados em mais universidades.<br />

RITA PINHEIRO MACHADO<br />

Com relação ao foco do curso de mestrado que foi perguntando, ele é um mestrado<br />

profissional. A idéia dele é ter pessoas que já estão no mercado de trabalho e que trazem<br />

um problema prático e tentam desenvolver alguma coisa em cima disso. Ele não tem um<br />

foco específico para olhar estratégia. Ele tem um formato mais abrangente, é<br />

multidisciplinar, tem pessoas das mais diversas formações, como biólogos, jornalistas,<br />

advogados. A idéia é essa, trazer um problema e tentar investigar aquilo, em geral algum<br />

tipo de solução para aquele problema.<br />

Concordo com a Ana Célia com relação à questão da formação dos profissionais.<br />

Essa questão da graduação curta é bastante interessante. Ela mencionou que temos uma<br />

tratativa com o reitor da UFRJ justamente no sentido de tentar criar uma graduação curta<br />

que possa beneficiar os examinadores de patentes do INPI, mas não descartando a questão<br />

de cursos de especialização, que são sempre muito bem­vindos, e mestrados profissionais<br />

que estão se proliferando no país. Todas essas instâncias são interessantes e podem gerar<br />

massa crítica rapidamente.<br />

128


MARIA BEATRIZ BONACELLI<br />

Procurando responder ao Miguel, eu acredito que muitos dos professores que<br />

ministram aulas, que tenham um conteúdo relacionado aos temas que tratamos aqui,<br />

ensinam em cima de experiências próprias. Aqueles que já tiveram patentes ou procuram se<br />

interar desses assuntos, procuram também passar isso aos seus alunos. Na Unicamp,<br />

vemos a experiência do Marcelo Menossi, professor de biologia, que é diretor de<br />

propriedade intelectual da Inova. Ele tem esse perfil e sempre procurou passar esses<br />

conteúdos para seus alunos, e hoje tem essa disciplina formalizada na pós­graduação.<br />

Existem outros professores na Química, na Engenharia Mecânica e na Elétrica, para citar<br />

alguns, com essa preocupação. A minha experiência é que isso vem das experiências e<br />

preocupações das pessoas. Eu não sei o quanto isso bom e até onde podemos chegar<br />

assim, mas certamente para algo mais estruturado, como disciplina mesmo, certamente<br />

teremos que envolver mais pessoas que tenham esses conhecimentos, e não como cursos<br />

e aulas dispersos.<br />

ADA CRISTINA GONÇALVES<br />

A Shirley me passou informação sobre uma outra proposta da PUC­Rio, do MBA<br />

Empreendedor Inovador. É um conjunto dos cursos de administração, engenharia industrial<br />

e incubadora da PUC­Rio. Foi recentemente aberto, mas não teve demanda para a<br />

formação da primeira turma. A partir do comentário da Beatriz Amorim, encerraremos esta<br />

sessão. Agradecemos muito pela atenção de todos vocês.<br />

MARIA BEATRIZ AMORIM­BORHER<br />

Sobre a pergunta da Ana Lúcia do CNPq. Eu tive a oportunidade de visitar, no ano<br />

<strong>20</strong>00, cinco NITs nos Estados Unidos, e uma das perguntas era exatamente sobre o perfil<br />

de profissionais que eles buscavam. Eu fui à Berkeley, Stanford, UCLA, Caltech e San<br />

Diego. A resposta foi muito comum. O ideal é um grupo multidisciplinar, mas se houvesse<br />

que escolher seria uma pessoa com perfil técnico, formação técnica, químico, engenheiro,<br />

com MBA com alguma experiência em business. Essa foi a resposta que eu tive desses<br />

cinco NITs. Eles tinham uma equipe de químicos, biólogos, engenheiros, todos com um ano<br />

de MBA focando em propriedade intelectual e gestão de tecnologia. Obrigada.<br />

129


ESPAÇO FINEP: RESULTADOS <strong>DE</strong> AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DOS NITs NO<br />

BRASIL<br />

Apresentação:<br />

Edgar Rocca, Chefe do Departamento de Institutos de Pesquisa, Área de Institutos<br />

Tecnológicos e de Pesquisa, FINEP.<br />

DANIELA LIMA CERQUEIRA<br />

Eu gostaria de chamar Edgar Rocca da FINEP, que apresentará o resultado da<br />

avaliação dos NITs no Brasil e também falará do novo edital Pró­Inova que tem prazo final<br />

na próxima segunda­feira, dia 27 de outubro.<br />

EDGAR ROCCA<br />

Eu queria agradecer o convite do INPI, da RE<strong>DE</strong>TEC e especialmente da REPICT<br />

pela concessão deste espaço especial à FINEP. Essa parceria já vem de longa data e tem<br />

aumentado bastante, nos últimos anos, nessa questão de propriedade intelectual. Queria<br />

fazer uma saudação especial a nossa colega Ada Gonçalves. É uma satisfação para a<br />

FINEP vê­la como atual coordenadora da REPICT. A Ada é uma colega que tenho de<br />

muitos anos na FINEP e gostaria de parabenizá­la pelo trabalho que ela vem fazendo nessa<br />

rede.<br />

A idéia é que apresentemos resumidamente, até pelo tempo, um histórico da relação<br />

da FINEP e do MCT com a questão de propriedade intelectual. Deixaremos para o final a<br />

questão mais latente que é a chamada pública que está vigente. Inclusive, a nossa<br />

apresentação, num primeiro momento, seria com a chamada já terminada, mas uma vez<br />

que ela foi prorrogada, ainda poderemos dar alguns esclarecimentos.<br />

O que pretendemos aqui, como falei, é apresentar o histórico da FINEP e do MCT<br />

com relação à propriedade intelectual, a formação e implantação de núcleos. Vamos<br />

comentar também sobre a primeira ação em que a FINEP se envolveu diretamente, que foi<br />

a chamada pública de <strong>20</strong>06. Vamos comentar algumas ações que após isso, nos últimos<br />

dois anos, <strong>20</strong>07 e <strong>20</strong>08, nós implantamos. E vamos terminar com a chamada para<br />

esclarecer mais uma vez algumas questões, que eventualmente ainda estejam com dúvidas.<br />

Relembrando, essa questão de propriedade intelectual já vinha sendo apoiada, no<br />

âmbito do MCT pelo CNPq, desde <strong>20</strong>02 através do programa TIB, nas vertentes de núcleos<br />

de apoio ao patenteamento e de escritórios de transferência de tecnologia. Foram duas<br />

chamadas, onde foram apoiados trinta e seis núcleos de patenteamento e dezesseis<br />

escritórios de transferência de tecnologia. Em <strong>20</strong>04 foi promulgada a lei, em <strong>20</strong>05 ela foi<br />

regulamentada, e aparece a figura do núcleo de inovação tecnológica como sendo<br />

responsável por uma série de atividades dentro das suas respectivas ICTs. Em <strong>20</strong>05 vem a<br />

Lei do Bem, que do ponto de vista da empresa abre caminhos para a questão da inovação.<br />

Em função da Lei de Inovação, em março é lançada a chamada pública de <strong>20</strong>06, que visava<br />

ao apoio à implantação, implementação e fortalecimento dos NITs. Foram vinte e dois<br />

projetos aprovados, mas somente vinte e um efetivamente contratados. No final de <strong>20</strong>07 é<br />

lançado o Plano Nacional de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, no contexto<br />

desse plano é lançado também o SIBRATEC para o novo instrumento do Ministério para o<br />

apoio à inovação. O destaque que eu queria dar é que os NITs aparecem como pré­requisito<br />

130


para um dos componentes do SIBRATEC, que são os centros de inovação. O NIT, dentro<br />

das diretrizes estabelecidas pelo comitê gestor do programa, é pré­requisito para integração<br />

dessas instituições a essas redes. É um destaque que o próprio governo coloca em relação<br />

aos núcleos.<br />

Em termos de recursos, em <strong>20</strong>02 foram destinados em torno de um milhão para os<br />

núcleos de apoio à patenteamento e um milhão para os escritórios de transferência de<br />

tecnologia. Isso se repetiu em <strong>20</strong>04 com o advento da Lei de Inovação, quando esse apoio<br />

ao NITs aumentou para algo em torno de nove milhões, compostos de uma chamada de oito<br />

milhões e um apoio à três núcleos privados. Em <strong>20</strong>08 estamos com essa chamada de dez<br />

milhões, ainda vigente. Em termos de recursos, isso não era o que imaginávamos e<br />

havíamos proposto, mas foi o possível nessas condições. Enfim, temos tentado sempre<br />

fazer um trabalho de sensibilização para que tenhamos realmente os recursos necessários<br />

para que os núcleos possam vir a ter um papel relevante em relação à expectativa de todos,<br />

inclusive do próprio governo com a Lei da Inovação.<br />

É importante tocarmos rapidamente na chamada pública, porque ela mostra um<br />

pouco a evolução da nossa visão em relação a essa questão. No planejamento da<br />

chamada, tínhamos destacado três requisitos que julgamos importantes de serem avaliados:<br />

disponibilidade e adequação de pessoal do quadro próprio da ICT para o NIT; capacitação<br />

técnica da equipe; e a estratégia de sustentabilidade desse núcleo após o projeto. Eu queria<br />

destacar esses dois primeiros porque na mesa redonda anterior, ficou claro que são o<br />

grande desafio e, talvez, o determinante da velocidade com que a própria Lei da Inovação,<br />

no que se refere à questão da propriedade intelectual, ao depósito de patentes,<br />

transferência de tecnologia, vai se dar. Vemos também essa relação direta com a<br />

capacitação da equipe e a questão do pessoal de quadro próprio da ICT. Isso no<br />

planejamento era uma preocupação.<br />

Após as propostas encaminhadas, em relação às competências mínimas previstas<br />

na Lei de Inovação, a interpretação nossa, num primeiro momento, seria um baixo<br />

comprometimento dos núcleos com o exercício de todas as competências da lei. Também<br />

se mostrou visível a clara necessidade de capacitação para os NITs. A partir do momento<br />

que passamos a ter uma relação mais próxima na ponta, com os núcleos e com as<br />

instituições, vendo as dificuldades que cada um passa, principalmente se pensarmos dentro<br />

das universidades, a questão não é um comprometimento, é uma dificuldade estrutural e<br />

cultural que existe e precisa ser superada.<br />

Em relação à disponibilidade de pessoal próprio, o que percebemos nas propostas é<br />

que era um número reduzido de pessoal próprio, acho que continua assim até hoje. A<br />

qualificação inadequada. Mesmo existindo pessoal próprio, a dedicação era baixa. Muitas<br />

vezes o próprio pesquisador acaba tendo que se envolver nessas atividades, nessas<br />

funções. É um pouco o quadro que vimos em <strong>20</strong>06 na avaliação das propostas.<br />

Em relação a estratégia de sustentabilidade, identificamos falta de política de<br />

inovação nas ICTs. Não existia previsão orçamentária para os núcleos, não existia um plano<br />

de negócios para receitas para o núcleo. Uma fraca inserção dos núcleos nas estruturas<br />

organizacionais das ICTs.<br />

Essas duas questões nos chamaram atenção e nos fizeram implementar algumas<br />

ações que independessem de um montante muito grande de recursos.<br />

Inicialmente fizemos um seminário em <strong>20</strong>07, que chamamos de seminário de<br />

orientação, em parceria com o MCT e com o INPI. Basicamente, o objetivo desse seminário<br />

131


era de orientar os núcleos, uma vez que os projetos tinham acabado de ser contratados, os<br />

recursos estavam sendo desembolsados, e percebíamos um desconhecimento em muitos<br />

núcleos de como aplicar esse recurso de forma mais adequada. Foi um seminário para<br />

orientar os NITs sobre sua estruturação implementação, promover um intercâmbio e colher<br />

subsídios para futuras ações de fomento e articulação. Tivemos como resultado desse<br />

seminário uma série de recomendações, muitas delas estão sendo buscadas de alguma<br />

forma. Incentivar a ação pró­ativa para promover o estudo de implementação de política<br />

para fixação do quadro, em relação ao quadro permanente. Incentivar a participação em<br />

eventos das empresas que precisam saber que as instituições de pesquisa estão se<br />

estruturando para essa negociação. Criar um grupo de trabalho com MCT, educação,<br />

planejamento, fazenda, muito na linha das dificuldades estruturais do próprio governo para<br />

que se consolide esse agente dentro das instituições. Contatar a Casa Civil, o Ministério da<br />

Justiça, sobre a grande questão das procuradorias das ICTs, tentando sensibilizá­las e<br />

trazê­las para a realidade da propriedade intelectual. Incluir algum tipo de cláusula<br />

contratual ou uma referência nas chamadas em relação à questão da Lei da Inovação.<br />

Realizar seminário de inovação junto à alta direção das ICTs públicas e privadas, no sentido<br />

de sensibilização. Incentivar adoção de políticas de inovação e propriedade intelectual nas<br />

ICTs de um modo geral. Com base nessa idéia da adoção de políticas de inovação e<br />

propriedade intelectual, também apoiamos um programa de capacitação que foi chamado de<br />

Inova NIT, pelo Inova da Unicamp. Em termos do universo que foi alcançado, 667 treinados<br />

e 175 instituições envolvidas dentro desses cursos aqui. O de estruturação sem dúvida foi o<br />

mais procurado e relevante porque esse é o estágio dos núcleos no país. Dos núcleos que<br />

apoiamos, alguns ainda não participaram desse treinamento por algum motivo. E dos<br />

núcleos que apoiamos, foram treinadas 78 pessoas.<br />

Uma outra ação que implementamos foi a criação de um grupo de trabalho voltado<br />

para buscar orientações e premissas para que as ICTs pudessem elaborar suas políticas de<br />

inovação e propriedade intelectual. Esse trabalho tinha o objetivo de ser um roteiro<br />

orientador para contribuir para que a instituição tivesse uma ferramenta para promover sua<br />

discussão interna em relação a essas duas políticas. É uma questão que está colocada no<br />

âmbito da Lei de Inovação. Ele abrange os principais aspectos para discussão da política de<br />

inovação e propriedade intelectual. O escopo da política, as regras que precisam ser<br />

discutidas. Uma sugestão de metodologia para ser utilizada para implantação dessas<br />

políticas é que essa elaboração seja feita através de um processo amplamente participativo,<br />

e discutível em todos os níveis da instituição. De certa forma, tem algumas discussões das<br />

quais não podemos fugir, mais cedo ou mais tarde teremos que trazê­las à tona para<br />

efetivamente conseguirmos dar passos adiante.<br />

Mais recentemente realizamos um seminário de avaliação de resultados no início de<br />

julho, no núcleo da UFMG, do CT&IT. Foi bastante interessante porque contamos com cem<br />

por cento das instituições coordenadoras de projetos, e contamos com 21 núcleos que<br />

apresentaram projetos individualmente e três projetos de redes. Os núcleos individuais<br />

envolviam 23 ICTs e os projetos de redes envolveram 18 ICTs. Tivemos um total de cem<br />

pessoas e a idéia foi apresentar através de um modelo padrão destinado às apresentações,<br />

e podermos colher informações para trabalhar esses dados.<br />

Vou apresentar alguns dados que pudemos estudar. Não nos aprofundamos muito,<br />

contamos com três consultores fundamentais para nos ajudar a entender alguns resultados.<br />

Aqui mostra como os recursos foram distribuídos em relação aos núcleos individuais e em<br />

rede. Os núcleos individuais mobilizaram 6,5 milhões de reais e 23 instituições. Os núcleos<br />

em rede mobilizaram 2,4 milhões, envolvendo 18 instituições. Além desses 9 milhões,<br />

fizemos apoios não para estruturação dos núcleos, mas para capacitação dos núcleos.<br />

Apoiamos a estruturação do FORTEC, que envolvia dois treinamentos básicos no seu<br />

132


contexto e um grande apoio ao Inova da Unicamp, que ainda está vigendo segundo dados<br />

do Lotufo que me foram passados anteriormente. Além desses 8,9 milhões, investimos em<br />

<strong>20</strong>06 e <strong>20</strong>07, cerca de 1,2 milhões para benefício dos núcleos.<br />

A primeira questão que nos chamou atenção foi a relação de custo dessas duas<br />

ações. Isso nos fez pensar algumas coisas que mais a frente outros indicadores vão nos<br />

ajudar. Eles foram importantes para definirmos a chamada que abrimos esse ano.<br />

Em relação à criação dos NITs, de um modo geral, só um parêntese, muitas dessas<br />

perguntas não foram muito bem entendidas, e com isso as respostas foram inadequadas, ou<br />

fora da nossa expectativa, principalmente no caso dos núcleos que estavam vinculados às<br />

redes. Após <strong>20</strong>06, começamos a estreitar uma relação com Lei de Inovação. Havíamos feito<br />

um esforço inicial em <strong>20</strong>02 e em <strong>20</strong>04, mas, após <strong>20</strong>06, quase metade dos núcleos que<br />

foram apoiados se formalizaram. Já é um reflexo da Lei de Inovação.<br />

Outra relação que percebemos, em termos de formalização e comissionamento, que<br />

são formas de consolidar mais os núcleos dentro das instituições. Isso fica mais<br />

preponderante dentro dos núcleos que apresentaram projetos individualmente.<br />

Agora eu falarei do número de NITs capacitados em determinadas competências,<br />

que foram julgadas como questões importantes para o núcleo dominar: legislação de<br />

propriedade intelectual, busca de anterioridade, redação de patentes, estudos de mercado,<br />

análise econômica e modelos de contrato. Percebemos de novo uma preponderância bem<br />

maior dessas competências nos projetos que foram apresentados individualmente em<br />

relação aos que foram apresentados em rede. Isso nos remete a uma conceituação sobre o<br />

que chamaríamos de núcleo mais consolidado e núcleos que estão em estruturação. Essas<br />

competências, se você domina todas elas, realmente você está bem mais preparado que<br />

quem ainda tem dificuldade em alguma delas.<br />

Em relação a sustentabilidade, a fonte de recursos, tanto para dotação orçamentária<br />

por transferência, novamente os projetos que foram apresentados individualmente têm<br />

condição muito mais favorável em relação à captação e obtenção de recursos.<br />

No que diz respeito às políticas já implantadas nos núcleos, estratégias, políticas de<br />

difusão de propriedade intelectual, a própria política de propriedade intelectual, a política de<br />

inovação, se existe alguma política de fixação de recursos humanos, se existe uma política<br />

de portfólios de tecnologias. Mais uma vez eles sugerem que os núcleos que apresentaram<br />

projetos individuais tenderam a estar mais consolidados na época.<br />

Isso ficou claro naqueles indicadores, e quando a gente entra em algum resultado<br />

parcial – esse foi um quadro que exploramos pouco porque as respostas não foram muito<br />

adequadas ou fora da nossa expectativa. Tínhamos perguntado antes e depois da Lei de<br />

Inovação ou do próprio projeto se houve algum tipo de impacto. As respostas foram<br />

complicadas, e então optamos por pegar somente os valores totais de cada núcleo em<br />

relação aos depósitos das principais criações. O que nos chamou atenção nesse caso, e é<br />

uma questão já esperada, a questão da patente, mas o surgimento desse número em<br />

relação às marcas. Também não conseguimos ter uma avaliação mais específica, mas foi<br />

marcante tanto para os NITs em rede quanto para os NITs individuais.<br />

Outra coisa que eu gostaria de chamar atenção é que enquanto que nos outros<br />

indicadores a diferença era bastante significativa, é claro que aqui também percebemos uma<br />

diferença, mas ela tão significativa quanto observamos nos outros indicadores. Aqui temos<br />

os NITs em rede. Em relação à transferência de tecnologia, de um modo geral, isso ainda é<br />

133


o grande gargalo. Em relação ao depósito, vemos que os NITs em rede e os NITs<br />

individuais estão na mesma ordem de grandeza. Esse também foi um indicador que nos<br />

ajudou a tentar formular a chamada.<br />

Também, no âmbito desse seminário, algumas sugestões e necessidades foram<br />

apresentadas: continuidade dos editais; ampliação do prazo de execução dos convênios;<br />

aumento do apoio às bolsas; limite de bolsas maior que 36 meses, que é uma questão<br />

específica do CNPq; apoio a eventos de avaliação de transferência de tecnologia; apoio à<br />

formação de recursos humanos em propriedade intelectual e transferência de tecnologia;<br />

melhoria de infra­estrutura; e simplificação do Formulário de Apresentação de Proposta<br />

(FAP) da FINEP. Sobre o FAP, isso é uma questão da casa que a FINEP ainda tem<br />

algumas amarras. Hoje a FINEP está num processo de planejamento estratégico, e uma das<br />

questões que está sendo vista com muita ênfase é um novo sistema. Com isso esperamos<br />

ter um formulário mais adequado. A continuidade dos eventos periódicos de avaliação dos<br />

núcleos e o financiamento ao processo de geração e atualização de implementação de<br />

políticas e normas relativas à inovação também fazem parte dessa série de sugestões e<br />

necessidades. Algumas delas também são utilizadas na própria chamada.<br />

Vou resumidamente colocar as linhas básicas da chamada. Tínhamos feito essa<br />

apresentação para um outro contexto, de uma chamada já encerrada. Mas como ela ainda<br />

está em aberto, por conta da prorrogação, estamos aqui para tirar todas as dúvidas. A<br />

divulgação do resultado está prevista para o dia primeiro de dezembro. Os objetivos da linha<br />

1 saíram do seminário. Duas questões ficaram claras no seminário de avaliação. A primeira<br />

é que há necessidade de continuar aumentando a base de núcleos apoiados. Como eu<br />

disse, apoiamos 41 núcleos de forma direta. Entretanto, em <strong>20</strong>06, o MCT já havia recebido<br />

mais de 70 relatórios das ICTs, que são obrigadas a encaminhar todos os anos. Com isso<br />

percebemos que não tínhamos coberto grande parte dos núcleos que aparentemente hoje<br />

existem. Essa é uma questão básica que ficou colocada. Por outro lado, a outra questão era<br />

de que os núcleos mais avançados precisavam de novos horizontes e novas metas para<br />

atingir. Em razão disso, uma característica da linha 1 é a de que só estamos apoiando<br />

custeio. Na linha 2, estamos apoiando custeio e capital, porque entendemos que quem está<br />

se estruturando ainda pode necessitar de alguma infra­estrutura. Em termos de<br />

elegibilidade, estão contempladas as ICTs públicas e privadas. Com relação à definição de<br />

NIT individual e arranjo de redes de NITs, na verdade, não conseguimos ser explícitos por<br />

conta dessa dificuldade de definição, mas isso seria uma linha para núcleos mais avançados<br />

e mais consolidados e outra linha para os novos núcleos, para os núcleos que ainda estão<br />

em implantação e para aqueles que já estão implantados, mas que ainda precisam de<br />

alguma formalização dentro da sua instituição.<br />

Essa é a razão da distribuição dos recursos, da ordem de 6,5 milhões para a linha 2,<br />

e de 3,5 milhões para a linha 1. Estamos imaginando que a maioria dos projetos deve ser de<br />

núcleos individuais, o valor mínimo é de 500 mil, definido pela Diretoria e no caso das redes<br />

o valor mínimo de 1 milhão.<br />

A questão das bolsas também é um reflexo do seminário, foi uma demanda total,<br />

embora todo esse esforço de internalização dessa competência nas instituições, mas as<br />

bolsas ainda são fundamentais para a subsistência desses núcleos. Conseguimos aumentar<br />

de certa forma em relação aos padrões normais de chamadas FINEP. Não só aumentamos<br />

o percentual, mas também aumentou a possibilidade de execução do projeto para 36<br />

meses.<br />

Estamos pedindo que quem consiga aportar recursos para o projeto, terá uma certa<br />

vantagem.<br />

134


Vou deixar algumas dicas importantes que têm sido observadas ao longo do tempo<br />

em relação às chamadas. É necessário que todos leiam os documentos referenciais da<br />

chamada, que são: a própria chamada, o manual de preenchimento do formulário e,<br />

eventualmente, algum outro documento que seja explicitado na referida chamada, bem<br />

como algumas notas. A chamada sempre vai prevalecer em relação ao manual de<br />

preenchimento nos casos em que houver dúvida. Por quê? A chamada é o documento<br />

público, o manual é um padrão e precisa ser customizado para as chamadas. Em função<br />

disso, eventualmente algumas discrepâncias e incoerências podem ocorrer, e aí a chamada<br />

é o elemento que prevalece. No caso de dúvidas, estaremos sempre disponíveis para<br />

esclarecer.<br />

Os resultados vêm melhorando ao longo dos últimos anos, mas a desatenção<br />

estabelecida nas chamadas ainda é um dos principais fatores da rejeição de propostas, seja<br />

por desqualificação, seja por ter uma pontuação abaixo do que a proposta poderia ter em<br />

função de se deixar de apresentar alguma informação que está sendo solicitada claramente.<br />

Isso acaba dificultando a avaliação. Ainda não temos um mecanismo de cada um defender<br />

sua proposta. A FINEP tem que contar com um advogado num comitê de avaliação. Então,<br />

a idéia é apresentar uma proposta mais clara possível para que esse advogado possa<br />

defendê­la efetivamente. A idéia não é de ensinar como elaborar um projeto, mas para a<br />

FINEP, uma vez elaborado o projeto dentro dos formulários da FINEP, temos alguns<br />

elementos que são fundamentais e que precisam estar interligados para que o advogado<br />

possa entender bem a proposta. Tem a questão do cronograma físico, a questão de relação<br />

de itens, a coerências dos resultados com os impactos e com a metodologia, os<br />

mecanismos gerenciais que sempre são importantes para que possamos acompanhar o<br />

projeto de forma mais próxima da realidade.<br />

Era basicamente isso que eu queria apresentar e estamos disponíveis. Muito<br />

obrigado.<br />

135


PARTE IV<br />

MINI­CURSO<br />

VALORAÇÃO E GESTÃO <strong>DE</strong> INTANGÍVEIS VISANDO À COMERCIALIZAÇÃO <strong>DE</strong><br />

TECNOLOGIA<br />

Parte 1 – Gerenciamento de Intangíveis como Estratégia de Valoração da Tecnologia<br />

Coordenação:<br />

Shirley Coutinho, Coordenadora do Escritório de Negócios em Propriedade Intelectual, PUC­<br />

Rio.<br />

Instrutor:<br />

José Arnaldo Deutscher, Doutor em Engenharia de Produção – Avaliação de Ativos<br />

Intangíveis, COPPE/UFRJ<br />

SHIRLEY COUTINHO<br />

Boa tarde. Eu queria dizer que depois desta manha tão rica onde tivemos a<br />

oportunidade de ouvir e compartilhar experiências, conhecimento e sensibilidade muito<br />

importantes na área de valoração de tecnologias de intangíveis, sobretudo quaisquer sejam<br />

as tecnologias, para mim será uma honra e um desafio coordenar esta primeira parte do<br />

curso de valoração e gestão de intangíveis visando à comercialização de tecnologia. Eu<br />

acho que não poderia deixa de dizer que para nós que trabalhamos nesse assunto, por mais<br />

que estudemos, é sempre um desafio. Não basta uma abordagem na avaliação de<br />

intangíveis, é preciso ter uma visão abrangente, uma flexibilidade e uma receptividade para<br />

novas idéias, novas perspectivas. Eu tenho certeza de que o professor José Arnaldo<br />

Deutscher trará uma grande contribuição. Ele é economista, com doutorado em Engenharia<br />

de Produção pela COPPE/UFRJ, com tese defendida em avaliação de ativos intangíveis. É<br />

também professor do MBA da FGV­RJ, nas disciplinas de gestão do conhecimento e<br />

avaliação de ativos intangíveis, e consultor em desenvolvimento de planos de negócios e<br />

avaliação de empresas. É diretor da empresa Antera, que faz gestão de recursos.<br />

JOSÉ ARNALDO <strong>DE</strong>UTSCHER<br />

Eu acho importante dizer que eu sou economista, antes de qualquer outra<br />

qualificação. Minha formação é em economia e minha primeira pós­graduação foi em<br />

finanças. Isso é importante, porque eu vou tratar aqui da avaliação de ativos intangíveis. Ela<br />

foge um pouco ao que vocês provavelmente estão esperando. Tratarei dos ativos<br />

intangíveis de uma maneira que nós, da Engenharia de Produção da COPPE, entendemos.<br />

Esse trabalho, apesar de ser uma tese de doutorado, teve uma aplicação prática já<br />

falada hoje de manhã pela Helena Tenório, que foi o desenvolvimento de uma metodologia<br />

para o BN<strong>DE</strong>S. Essa metodologia está sendo hoje implantada dentro do BN<strong>DE</strong>S.<br />

O primeiro bloco de questões a serem abordadas aqui são os elementos críticos do<br />

diferencial competitivo da empresa. Não adianta entender de ativos intangíveis enquanto<br />

entidade isolada. Dificilmente um ativo intangível é negociado isoladamente. Pode­se até<br />

negociar uma patente, uma marca, mas em geral negocia­se uma empresa. Precisamos<br />

entender um intangível dentro de uma lógica maior da empresa, ou seja, o intangível está<br />

136


dentro da empresa, entretanto a empresa está inserida num contexto muito maior, onde<br />

existe uma oportunidade, onde existe um mercado, onde existe a própria empresa com a<br />

sua visão, missão, seus ativos e competências que a levarão o diferencial competitivo. Isso<br />

tudo vai gerar uma proposição de valor e uma estratégia que acaba derivando um plano de<br />

ação, um plano de investimento e um fluxo de caixa. A visão do intangível é uma visão<br />

subordinada à oportunidade de mercado e à proposição de valor. Ela está entrelaçada.<br />

A primeira questão que vamos examinar é a oportunidade, o que está mudando do<br />

lado de fora da empresa. Examinamos vários ambientes – tecnológico, demográfico, social,<br />

regulatório e econômico. O que está mudando no ambiente tecnológico? Se eu olhar para<br />

TI, eu vou dizer que hoje todo o desenvolvimento é web. Se eu estiver olhando para a área<br />

de medicina, eu vou verificar aquilo que foi dito pelo José Fernando Perez, terapia molecular<br />

e celular. Quer dizer, eu vou buscar, ao invés de drogas, outras formas de terapia, ou então<br />

nanotecnologia, ou tecnologias ligadas a energias limpas, que têm uma série de rupturas,<br />

uma seria de mudanças tecnológicas. No aspecto demográfico e social, quais são as<br />

demandas da sociedade? Primeiramente a expectativa de vida. Vocês já pensaram na<br />

expectativa de vida? Hoje o brasileiro vive em media 72 anos, a família média brasileira caiu<br />

de quatro pessoas para 2,8 pessoas. O que isso modifica na demanda dos produtos? Os<br />

planos de saúde estão completamente perturbados com essa questão. O sistema de<br />

previdência também está com o cálculo atuarial totalmente arrebentado, pelo fato de a<br />

família brasileira estar diminuindo de tamanho. A empresa Sadia percebeu isso e começou a<br />

lançar embalagens quase individuais. Antigamente você comprava uma embalagem para 6<br />

pessoas, e hoje você compra uma embalagem para duas.<br />

A percepção de energias limpas. Eu analiso permanentemente os investimentos<br />

feitos pelos investidores norte­americanos, e o que mais cresce hoje é o investimento em<br />

clean technologies ou energias limpas. Isso é uma demanda da sociedade que está gerando<br />

uma ruptura, gerando uma oportunidade.<br />

Quanto ao aspecto regulatório, o que as agências estão fazendo? O que a Lei da<br />

Inovação trouxe? Como fica a questão da transferência de tecnologia, que é um ponto<br />

importantíssimo para nossas discussões? Como se dá nesse contexto o crescimento de<br />

renda e consumo? Um dado relevante é que a expectativa atual é de que o consumo vai<br />

desabar. Quais são as oportunidades e ameaças que surgem no momento em que o<br />

consumo venha a cair? Nitidamente, o consumo estava inchado por conta do excesso de<br />

crédito, especialmente nos Estado Unidos. Qual é o impacto que isso traz?<br />

A primeira questão a ser examinada na hora em que pensamos em inovação, em um<br />

plano de negócios voltado para a inovação, é: o que está acontecendo do lado de fora da<br />

empresa? Esse lado de fora da empresa é fundamental para começarmos a perceber as<br />

mudanças existentes. As oportunidades existem porque existem rupturas. Essa é uma visão<br />

Schumpeteriana. Existe uma mudança de plataforma, seja ela econômica ou demográfica,<br />

que também impacta uma mudança sob o ponto de vista dos aspectos regulatórios e<br />

econômicos. O que acontece é que há uma possibilidade de reposicionamento dos players.<br />

Em segundo lugar, o que o mercado está pedindo? Quais são as novas demandas do<br />

mercado? Vamos falar em mercado ou em nicho? Segmentação, nicho, como é que os<br />

players estão se movimentando em função dessas novas demandas de mercado, quer<br />

dizer, em função das novas proposições de valor? Qual é nova proposição de valor? Eu não<br />

vou falar em produto, vou falar o tempo inteiro aqui em proposição de valor, porque o que eu<br />

entrego ao cliente é valor. Qual é o serviço que o cliente está querendo? Por exemplo, meus<br />

filhos casaram, saíram de casa, eu moro com minha esposa e, volta e meia, preciso de um<br />

serviço de suporte da NET. Eu ligo para a NET que me diz: “Perfeitamente, está marcado<br />

para quinta­feira”. Eu pergunto: “A que horas?”. E a NET responde: “Não podemos marcar<br />

137


hora”. Então, eu trabalho fora, minha mulher trabalha fora. Não podemos ficar aguardando o<br />

dia inteiro a NET chegar. A NET não se deu conta ainda que as casas ficam vazias durante<br />

o dia e não atende sábado ou domingo. Portanto, isso não me interessa, quer dizer, eu<br />

preciso de um serviço que me atenda. As famílias de hoje, com uma média de 2,8 pessoas<br />

por família, ficam o dia inteiro fora de casa trabalhando. Isso vai me obrigar a prestar um<br />

serviço diferente. Será que já tem alguém da NET atendendo à noite? Será que o<br />

concorrente da NET já está atendendo à noite? Quem lançar esse serviço primeiro vai<br />

marcar o novo padrão de mercado. Isso, por sua vez, gera ameaças e oportunidades de se<br />

prestar um serviço melhor, de lançar um produto melhor.<br />

Como eu percebo essas oportunidades? Eu entro nos websites e olho o seguinte:<br />

onde os investidores estão investindo. Aqui, por exemplo, no website da<br />

PricewaterhouseCoopers, estão os investimentos que ocorreram no segundo trimestre de<br />

<strong>20</strong>08. Só para vocês ficarem com um pouco de inveja, aqui estão todos os investimentos da<br />

indústria norte­americana. Se vocês multiplicarem por quatro, terão todos os investimentos<br />

de capital de risco no Estados Unidos. O dinheiro inicial é 10% desse valor. Esse valor está<br />

consistente em torno de US$ 30 bilhões por ano. A indústria de capital semente nos Estados<br />

Unidos tem mais ou menos US$ 3 bilhões por ano. Querer competir fica um pouco difícil. Eu<br />

estou na direção do grupo do Criatec, que é um grupo de capital de semente que<br />

orgulhosamente tem R$ 100 milhões, mas é o único. Estive num congresso em Detroit sobre<br />

capital semente, e esse valor do nosso fundo foi considerado um valor alto. Os fundos de<br />

capital semente nos Estados Unidos são de menor valor, só que em cada cidade existe um<br />

fundo, toda universidade tem o seu fundo, tudo para fomentar o desenvolvimento<br />

tecnológico da universidade. Imaginem vocês a Universidade de Stanford. Só com a<br />

empresa Google ela ganhou US$ 270 milhões. Ela negociou a transferência de tecnologia<br />

da Google em participação acionária. Na hora que a Google fez sua oferta inicial na bolsa<br />

de valores norte­americana, o IPO, e com a valorização da empresa Stanford embolsou US$<br />

270 milhões. Apenas em biotecnologia médica foi investido US$ 2 bilhões no segundo<br />

trimestre de <strong>20</strong>08. A bolsa vai cair, mas os fundos não tem nada a ver com a bolsa. Eles são<br />

recursos que estão lá para P&D básico. Durante o congresso em Detroit, houve um jantar<br />

com a governadora do Estado de Michigan, e ela disse que estava montando um fundo de<br />

seed money de US$ 100 milhões, porque precisava melhorar o desempenho da Ford e da<br />

GM por estarem defasadas tecnologicamente. É um investimento que faz sentido. Então, eu<br />

espero que com o Criatec comecemos a ter novos fundos de capital semente. É importante<br />

que esses fundos sejam de grande porte. Depois eu explicarei como o Criatec funciona para<br />

vocês terem uma idéia do que se está fazendo e quanto custa fazer um negócio desse.<br />

Perguntaram para Peter Drucker: “Como é que você prevê o futuro?”. Ele respondeu:<br />

“Eu não sou profeta, eu olho para uma floresta e vejo as árvores grandes e as pequenas. As<br />

pequenas serão as grandes de amanhã”. Então, eu procuro copiar um pouco Peter Drucker.<br />

Estou olhando aqui onde está o investimento seed money nos Estados Unidos, que totaliza<br />

quase US$ 8 bilhões em <strong>20</strong>08. 25% dos recursos estão indo para biotecnologia e 12,5%<br />

para software. Temos que começar a perseguir essas áreas. O que as empresas estão<br />

fazendo? Aqui está uma lista de empresas norte­americanas onde o dinheiro da<br />

biotecnologia foi investido. Eu posso olhar em todas as regiões e verifico que a primeira<br />

empresa dessa lista é a Five Prime Therapeutics, que desenvolve proteínas e anticorpos<br />

para tratamentos clínicos. Ela recebeu US$ 40 milhões no que eles chamam de sétima<br />

seqüência do financiamento, ou seja, já ocorreram outras seis seqüências anteriormente.<br />

Hoje em dia é muito fácil pesquisar com Internet e verificar o que o mercado está querendo,<br />

onde os investidores estão depositando as suas fichas.<br />

Aqui está outro investidor MDV Ventures, de Bill Davidow. Ele foi vice­presidente de<br />

marketing da Intel. Saiu de lá e criou essa empresa de venture capital. Onde ele está<br />

138


investindo? Em medicina personalizada. Tem uma empresa em São Paulo que visitamos<br />

junto com o BN<strong>DE</strong>S chamada Genoa Biotecnologia, que está trabalhando exatamente em<br />

medicina personalizada. Ela faz uma parceria com o laboratório, e quando uma pessoa for<br />

ao médico, ele vai colher seu material, vai mandar para esse laboratório onde será feita uma<br />

análise, que dirá qual é a dosagem ideal para cada paciente, para um é uma cápsula por<br />

dia, para outro são duas cápsulas por dia. Então, cada um vai ter um tratamento<br />

personalizado. Vale a pena entrar no website da MDV, www.mdv.com. Lá estão todas as<br />

empresas onde a MDV está investindo. Vocês vão reparar que cada uma tem a sua história.<br />

Uma delas é a empresa da esposa de um dos donos da Google, que examina tolerância<br />

genética. Outra área onde a MDV investe é em Driving Digital World, tudo que diz respeito à<br />

mobilidade digital, além da área de energias, Powering the Planet, e em pesquisas<br />

embrionárias, Initiating Innovation.<br />

Gosto muito de olhar a empresa Sequoia Capital, que investiu no Google. A empresa<br />

está nos Estados Unidos, na China, na Índia e em Israel. O que faz a empresa nesses<br />

lugares? Seed money. Aqui estão as empresas onde a Sequoia está investindo. Uma delas<br />

é a Comformia. E vocês podem ver o que ela faz. Assim que pesquisamos. Não adianta ficar<br />

olhando muito paper, tem pesquisar no mercado. Isso aqui é uma finte riquíssima de<br />

informação. Sigam os investidores que vocês terão uma boa pista.<br />

Olhar a empresa como um repositório de recursos. Na apresentação de hoje pela<br />

manhã do Eusebi Nomen ele falou de VBR, que é o valor baseado em recurso. É uma<br />

escolha de estratégia que costuma olhar a empresa como um repositório de recursos, uma<br />

empresa que possui uma missão e visão, uma trajetória, e isso acaba criando seus<br />

recursos. A trajetória implica na criação de recursos, quer dizer, à medida que a empresa vai<br />

percorrendo seu caminho, ela vai criando os ativos tangíveis e intangíveis e as<br />

competências. E aqui está o tema do nosso assunto de hoje, ativos intangíveis e<br />

competências, que são construídos a partir da trajetória da empresa.<br />

Aqui eu apresento uma nova proposição de valor. Por exemplo, Google contra<br />

Microsoft representa uma batalha interessante. Já houve uma batalha antes em que a<br />

Microsoft ganhou da Netscape. Na batalha da Microsoft contra Google, a maioria quer que o<br />

Google ganhe. Eu já disse que o meu próximo laptop vai vir com o sistema operacional<br />

Google, não tenho a menor dúvida. A estratégia usada foi muito interessante. A Google foi<br />

comendo pelas beiradas.<br />

A Genentech é uma empresa de biotecnologia que surgiu dentro de uma<br />

universidade que fatura US$ 10 bilhões por ano, com lucro de US$ 3 bilhões por ano. É<br />

claro que Pfizer fatura muito mais do que isso, mas olha aqui uma primeira empresa de<br />

biotecnologia aparecendo. Qual é a nova proposição de valor? O que é uma proposição de<br />

valor? Estou falando muito em proposição de valor, mas não estou explicando. Proposição<br />

de valor, por um lado, significa qual é o valor que eu proporciono ao cliente e, por outro lado,<br />

qual é o preço que eu cobro. Um bom exemplo é a rede de hotéis Accor. Você pode ficar<br />

num hotel Sofitel e pagar caro, mas você tem bons atributos de valor lá dentro. Ou você<br />

pode, em outro momento, dizer que não vai passar uma noite numa cidade e não precisa de<br />

academia, geladeira, na verdade só precisa de um lugar para dormir e tomar banho. Aí você<br />

vai para o hotel Ibis da rede Accor, que tem uma outra proposição de valor. Agora, se eu<br />

sou o hotel das estrelas e fiquei perdido no meio disso, eu tenho que tomar uma decisão. Eu<br />

não posso querer ser o hotel das estrelas e cobrar a mesma coisa que o Sofitel cobra e<br />

oferecer menos. Nitidamente isso significa que se perdeu o passo do mercado. Não existe<br />

nesse caso proposta de valor. Eu costumo dizer o seguinte. Não existe uma questão de<br />

preço. Não tem preço caro e preço barato. O que existe são preços associados a<br />

proposições de valor. Você pode dizer que um determinado hotel, para o que ele oferece, é<br />

139


caro. Claro que se for no Sofitel, eu vou pagar US$ 500, mas eu pago porque eu quero,<br />

porque eu posso ou porque estou representando a minha empresa, por exemplo, e não<br />

posso ficar no Ibis. Se eu optar pelo Ibis, não posso reclamar que o valor proporcionado é<br />

baixo. Eu o escolhi por questão de preço.<br />

Hoje de manhã foram mostrados aqueles quadrados onde se tem o mercado de<br />

diferenciação e o mercado de preço. Isso funciona perfeitamente, quer dizer, eu posso<br />

querer ter preço baixo. Mas para ter preço baixo tem que ter bons processos. O fato de ter<br />

preço baixo não significa que a empresa terá prejuízo. Se eu tiver preço baixo baseado num<br />

bom processo, eu vou ganhar dinheiro. Se eu tiver um preço alto baseado na diferenciação,<br />

da mesma maneira, não quer dizer que vou ganhar dinheiro. Se eu tiver um processo ruim,<br />

eu vou perder dinheiro. Hoje de manhã eu estava assistindo àquele Programa Mundo S.A.,<br />

estavam falando que a empresa Yves Saint Laurent estava quebrada há seis anos e<br />

cobrava caro. Não quer dizer nada cobrar caro. O que importa é o modelo de negócios.<br />

Existem empresas que cobram barato que são mais rentáveis. Então, muitas vezes é uma<br />

questão de vocação. E a pergunta é: para onde eu vou agora? Por exemplo, caneta Bic ou<br />

Mont Blanc? Qual é o grande diferencial da caneta Bic? Ela é descartável. Qual é o atributo<br />

da caneta Bic? Escreve bem, é barata, mas o seu grande atributo é que se domingo de<br />

manhã eu precisar de uma caneta Bic, eu vou à esquina e compro. O grande ativo da<br />

caneta Bic é o seu canal de distribuição. Já o grande ativo da MONT BLANC não é o canal<br />

de distribuição. Até poderia ser um canal de distribuição, mas montado por lojas exclusivas<br />

com um bom design. A marca tem que pensar nisso.<br />

Não existem produtos de boa qualidade nem de má qualidade, o que existe são<br />

produtos que tenham uma boa proposição de valor e um bom acordo do nível de serviços<br />

oferecidos. Se eu combinar que vou atender uma pessoa na quinta­feira às cinco horas da<br />

tarde e eu estiver lá no horário, eu estou cumprindo meu acordo de nível de serviço. Não<br />

adianta essa história de surpreender o cliente. Não surpreenda o cliente, apenas entregue<br />

no tempo combinado. Qualidade é uma questão de combinação. Ao contratar, por exemplo,<br />

um serviço de suporte de Internet para uma casa de duas pessoas que trabalham em casa,<br />

e ficamos sem Internet à noite, vamos precisar de um suporte 24 horas. Agora, para o<br />

escritório que fica fechado aos sábados e domingos e trabalha durante a semana por oito<br />

horas por dia, é melhor contratar um suporte de oito horas durante cinco dias por semana.<br />

Eu vou querer pagar menos. Então, qual é a melhor proposição? Vinte e quatro horas por<br />

sete dias da semana ou oito horas por cinco dias na semana? As duas são boas, mas a<br />

melhor vai depender da minha necessidade de suporte. Esse é o conceito de que trata a<br />

nova proposição de valor.<br />

A nova proposição de valor e o tal negócio diferencial competitivo. O que é esse<br />

diferencial competitivo? O diferencial competitivo tem duas condições: a primeira condição é<br />

o diferencial ser conhecido pelo cliente como importante. O cliente tem que achar que é<br />

importante. Nice to have ou must have? O cliente não compra nice to have. Isso tem a ver<br />

com os produtos no estágio pré­paradigmático e paradigmático.<br />

Agora vamos chegar ao tema da proteção da inovação, da patente, difícil de ser<br />

imitado e como proteger. Se eu tenho essa combinação, se o cliente acha importante e<br />

consegue proteger, começa a existir uma condição de sustentabilidade de longo prazo.<br />

Justamente o que se quer é o diferencial competitivo e sustentável no longo prazo. Caso<br />

contrário, não é diferencial competitivo. A empresa Gol, quando entrou no mercado, lançou<br />

o sistema de vendas dos bilhetes pela Internet. Eu fui convidado para dar consultoria para<br />

uma empresa de reserva de passagens, e esses computadores que ficavam naquelas<br />

agências eram de propriedade dessa empresa. Estavam todos detonados, estavam<br />

buscando financiamento para trocar todo o parque de máquinas. Quando a Gol entrou no<br />

140


mercado e disse que não precisava de máquinas ou de agente de viagem, era só entrar<br />

direto na Internet e comprar o bilhete, ela conseguiu desintermediar esses serviços, tirou<br />

10% do seu custo e entrou no mercado já com preço mais barato. Depois de um ano, a TAM<br />

conseguiu a mesma coisa. Quando é fácil de ser imitado, perde­se muito o valor. Quanto<br />

vale um ativo intangível? É sustentável no longo prazo? É fácil de ser imitado? Como eu o<br />

protejo? A resposta é andando rápido, por que as tecnologias hoje em dia avançam rápido.<br />

Você usa seu conhecimento, e só mais adiante você trata de protegê­lo, porque no<br />

momento em que você deposita a patente, você já mostra ao mundo o que você está<br />

fazendo. Basta você entrar em qualquer base de dados pública de patentes, ou no website<br />

da Thomson, por exemplo, que é uma base privada, paga, e você tem acesso a todas as<br />

patentes que estão sendo solicitadas.<br />

Essa proposição de valor deve atender às demandas de mercado respeitando os<br />

ativos e competências da empresa e, ainda, tem que ser suportada pelo diferencial<br />

competitivo. Isso é o que vale dentro da empresa, quando ela consegue ter o diferencial<br />

competitivo. O seu diferencial competitivo tem que ser reconhecido pelo cliente como<br />

importante. Para isso você tem que monitorar o ambiente externo, criar intimidades para o<br />

cliente e construir redes. O que vale hoje não é a empresa, mas a rede. A empresa tem que<br />

estar inserida numa rede, porque o processo de criação hoje é um processo de co­criação.<br />

Eu crio olhando para a demanda do meu cliente, eu procuro trabalhar sendo puxado pelo<br />

mercado. Os processos geram barreiras de entrada e sustentabilidade. Isso aqui são os<br />

ativos intangíveis. Esses são os conjuntos de ativos intangíveis que vão gerar a<br />

sustentabilidade de longo prazo da empresa.<br />

Os recursos fundamentais da organização e os papéis dos intangíveis. Esta parte<br />

aqui tem todo o interesse acadêmico. Eu deixo à disposição uma revisão bibliográfica que<br />

se inicia em 1959 com a senhora inglesa Edith Penrose, que escreveu o livro “A Teoria do<br />

Crescimento da Firma”. Foi a primeira vez que alguém falou explicitamente da firma como<br />

uma coleção de recursos. Depois entra David Teece, em 1986, quando ele fala dos ativos<br />

complementares. Ele já muito citado hoje aqui na REPICT. Ele escreveu o artigo “Profiting<br />

from Technological Innovation”. Nem sempre as firmas inovadoras são aquelas que se<br />

apropriam do fruto da inovação. Ele cita alguns exemplos muito interessantes. Um deles é<br />

sobre o cara que criou o CAT scanner que não foi inventado pela GE, foi inventado por um<br />

físico inglês. Ele desenvolveu uma máquina de tomografia muito grande e não tinha a menor<br />

intimidade com os hospitais. Quando a GE viu aquilo se interessou e comprou do inventor. A<br />

GE acabou dominando o mercado, porque tinha o ativo complementar necessário para<br />

entrar no mercado, o seu canal de distribuição. Em 1993, vem a turma da Suécia, o autor<br />

Edvinsson, e um pouco depois, em 1997, Sveiby. Eles batizam o nome ativo intangível e<br />

criam um modelo que vou mostrar daqui a pouco. Em 1994 aparece Teece novamente com<br />

Pisano, falando das capacitações dinâmicas, Essa linha de tempo é bem interessante e<br />

culmina neste ano de <strong>20</strong>08, quando eu, Marcos Calvacanti do CRIE da COPPE/UFRJ e<br />

Helena Tenório do BN<strong>DE</strong>S estivemos em Paris apresentando esse trabalho no Clube de<br />

Paris do Banco Mundial.<br />

Como eu disse, vou falar um pouco mais sobre o trabalho de Edvinsson. Ele<br />

apresenta algo muito estático, muito chapado, nada muito interligado. Para ele, o que<br />

explica a diferença entre o valor de mercado e o valor do patrimônio liquido contábil é o<br />

capital intelectual. E uma simplicidade boba é que ele também explica o valor de mercado e<br />

a liquidez, especulação, expectativa de crescimento, etc. Dizer que o Google tem mais<br />

capital intelectual do que uma outra empresa, não tem. O Google tem uma enorme<br />

expectativa de crescimento. Isso vocês podem ler na revista Intellectual Management<br />

Journal, que diz isso até hoje. O Sveiby vai pelo mesmo caminho e trabalha indicadores<br />

externos e internos e indicadores de competência individual.<br />

141


Kaplan e Norton dizem em 1996 que Porter nos levou até estratégia, mas não levou<br />

ao plano de ação. O importante dessa contribuição foi o atrelamento do que é visão e<br />

estratégia. Eles disseram que a visão de top down é dada pelos acionistas e quem<br />

determina a estratégia é a diretoria da empresa. Construímos os atributos em função da<br />

visão e da estratégia da empresa. Outro autor, o norte­americano Lev, em <strong>20</strong>01, começou a<br />

falar de lucros excepcionais, posições competitivas dominantes e até monopólios<br />

temporários. Tudo o que as empresas querem na vida é um monopólio. Isso é conquistado<br />

através do desenvolvimento dos ativos intangíveis. Lev diz que o valor do intangível é a<br />

diferença do resultado que a empresa obteria com e sem aquele ativo intangível. Isso é a<br />

forma lógica de trabalhar, quer dizer, falta um ativo complementar à empresa.<br />

O Banespa foi a leilão. O Unibanco, Itaú ou Bradesco, um deles, ofereceu cerca de<br />

US$ 2 bilhões pela rede do Banespa. De repente, chegou o banco Santander e ofereceu<br />

US$ 7 bilhões. São dois valores completamente diferentes. Por quê? Porque o Itaú ia<br />

comprar <strong>20</strong>0 agências que praticamente eram em cima das agências que ele já tinha. Isso<br />

não acrescentaria nada para ele. Para o Santander era algo binário, ou entrava ou não<br />

entrava. Então, a estratégia para o Santander entrar no varejo valia, para ele, US$ 7 bilhões.<br />

Eu fui diretor de petroquímica. Qual era a garantia que a empresa dava ao pegar dinheiro<br />

emprestado no BN<strong>DE</strong>S? A própria petroquímica. Então, se o negócio desse errado, daria<br />

errado duas vezes. Carlos Lessa disse que se a Embraer quebrar teria que construir um<br />

aeroporto para disponibilizar todos os aviões que a empresa deu como garantia ao BN<strong>DE</strong>S.<br />

Ativo real ou ativo intangível? Os dois valem a mesma coisa. Vamos imaginar que eu<br />

tenha uma fábrica de goiabada com uma formula muito especial. Eu fabrico mil latas de<br />

goiabada por mês. Aí chega a Nestlé e descobre minha fabrica, só que ela tem escala e<br />

pode produzir um milhão de latas por mês. Quanto vale a minha fórmula? Eu ganho com a<br />

produção de mil latas de goiabada R$ 5 mil por mês. Se a Nestlé me oferece R$ 100 mil, eu<br />

vendo na hora, mas para a Nestlé isso vale R$ <strong>20</strong>0 milhões. Obviamente, a Nestlé não vai<br />

oferecer esses R$ <strong>20</strong>0 milhões. O quanto vale para mim e o quanto vale para a Nestlé é que<br />

no meio existe um gap de negociação. Eu vou querer saber quem é o comprador, ele vai<br />

querer se esconder e vai mandar um terceiro comprar. É preciso ter malícia nessas<br />

negociações. Então, quanto vale o intangível? Vale a liquidez, o que vale é saber qual é<br />

oferta e qual é a demanda.<br />

Quando Teece trata das capacitações dinâmicas em 1998, ele define a possibilidade<br />

da empresa integrar, construir e reconfigurar os ativos e as competências internas e<br />

externas para atender às rápidas mudanças do ambiente. Ele apresenta este desenho e ele<br />

fala dos ativos complementares e tecnologias.<br />

Em 1999, quando o CRIE realizou o seu primeiro seminário sobre gestão do<br />

conhecimento, Verna Allee esteve no Brasil e trouxe os seguintes negócios. Ela considerou<br />

visão e valores no centro dos capitais intelectuais, um pouco na linha do que o Kaplan tinha<br />

feito, considerando o capital humano, o capital estrutural interno e capital de relacionamento,<br />

e lança dois novos capitais: o capital social e o capital ambiental. Marcos Cavalcanti, em<br />

1999, escreve um livro sobre gestão do conhecimento junto com André Pereira e Elizabeth<br />

Gomes, em que ele fala dos quatro capitais do conhecimento: o capital de relacionamento, o<br />

capital estrutural, o capital humano e o capital ambiental. Eu estava junto com ele e Cláudio<br />

Hipólito no dia em que surgiu essa história de capital ambiental. O Cláudio Hipólito pegou<br />

uma revista Business Week, que tinha uma foto com vinte “nerds” e diz assim: esses nerds<br />

aqui com cara de idiota são riquíssimos, e nós aqui com cara de inteligente somos todos<br />

duros. Eu respondi que isso não era uma questão de ser mais ou menos inteligente, mas<br />

uma questão de ambiente. Eles estão no Vale do Silício, com a Universidade de Stanford,<br />

142


cheios de investidores em volta. Aqui no Brasil ainda não existe esse ambiente. Até um ano<br />

atrás, não tinha dinheiro de capital semente, não existia um ambiente favorável à inovação.<br />

Isso tudo para nós é muito novo. O que estamos fazendo aqui agora no Brasil é construir um<br />

ambiente. A REPICT é muito importante para a construção do ambiente de inovação.<br />

Os outros trabalhos que eu vou comentar são trabalhos da comunidade européia. O<br />

Ricardis é a principal referência para o estudo de intangíveis. Ele está na direção do Clube<br />

de Paris. Tem uma cadeira de ativos intangíveis na Universidade de Paris Sul. O Bounfour<br />

também trabalha nessa mesma linha de recursos do conhecimento de ativos<br />

complementares e capacitações como elemento da vantagem competitiva. Finalmente o<br />

Edvinsson ressurge e reincorpora agora o modelo de negócios. Ele pediu, em maio, no<br />

Clube de Paris, para desenvolver um modelo de opções reais para ativos intangíveis. O<br />

importante nessa linha de tempo é que a questão tenha convergido para um modelo de<br />

estratégia. Finalmente, o modelo migra de um sistema estático para um modelo dinâmico<br />

alinhado à estratégia e centrado na criação de valor. É este modelo que vocês estão vendo<br />

hoje, pela segunda vez. A Helena Tenório apresentou isso ontem, capital estratégico, capital<br />

estrutural, capital financeiro, não no sentido do dinheiro, mas no sentido da gestão, tudo isso<br />

aqui em cima de capital ambiental como elementos de criação de valor.<br />

Nada disso existe enquanto a entidade é isolada e não é tradeable. Eu não vendo<br />

uma governança corporativa, eu posso vender uma marca, uma patente. Eu marquei aqui<br />

inovação e governança corporativa, porque o BN<strong>DE</strong>S acha isso tão importante que eles<br />

criaram um capital de inovação e um capital de governança corporativa. Isso é fundamental.<br />

O Armando Clemente me falou outro dia que nós investidores de risco, ou Criatec, não quer<br />

correr riscos. Eu disse que não corremos riscos se a empresa chega com baixa governança.<br />

Hoje o Criatec quer investir, mas nós precisamos de regras claras de transferência de<br />

tecnologias e empresas que tenham um bom processo de governança, ou seja, não pode<br />

ser empresa com filial em Rio Bonito quando, na verdade, a filial é no Rio de Janeiro, não<br />

pode ter balanços completamente alucinados, nem office boy contratado como pessoa<br />

jurídica. São questões que tem que ser olhadas, caso contrário a empresa não passa no<br />

due dilligence, porque ela apresenta tanta contingência que acabamos desistindo de investir<br />

nela. O capital ambiental novamente está aqui. Sem ele não existe nada. Se o ambiente não<br />

estiver preparado, a flor não nasce na pedra. Acredito que exista o lado dos investidores<br />

querendo investir e o lado do ambiente influenciando nas condições de investimento.<br />

Os elementos críticos do diferencial competitivo. Passamos pela oportunidade, pelo<br />

mercado, pela empresa e pela proposição de valor. Este foi o evento que a Helena se referiu<br />

na parte da manhã, que foi realizado no ano passado, em outubro: “Avaliando os Capitais<br />

Intangíveis no Brasil”. Eu acho fundamental que um banco como o BN<strong>DE</strong>S, que é um banco<br />

criado na época industrial, habituado a financiar a indústria, esteja investindo nessa questão.<br />

Eu costumava dizer para o BN<strong>DE</strong>S, quando lançou o Prosoftware, que ele parecia o<br />

Bradesco com o lema “confiamos em Deus, mas exigimos avalista”. Trabalhar em cima de<br />

não­garantias, concedendo dinheiro para inovação, o BN<strong>DE</strong>S começa a dar dinheiro sem<br />

garantias reais. É fundamental entender o momento que estamos vivendo como marco<br />

importante. Afinal de contas, é o banco que empresta R$ 60 bilhões por ano.<br />

Competência em formular e implementar estratégia. Sistema de financiamento,<br />

ambientes regulatórios, ambientes de inovação, empreendedorismo, infra­estrutura e<br />

logística, relacionamento estrutural, sistema de governança corporativa, processos e<br />

capacidade de inovação. Dentro da capacidade de inovação, toda parte de proteção legal,<br />

capital humano, grau de comprometimento de operadores e gestores, capacitação,<br />

empowerment e a parte financeira. Como estabelecer as competências e os ativos<br />

adequados a serem construídos? A segunda parte do trabalho que fizemos para o BN<strong>DE</strong>S e<br />

143


o relatório de capitais intangíveis. Fizemos a parte do rating de capital intangível e agora<br />

estamos fazendo a parte do relatório. Dada a estratégia, quais recursos são necessários<br />

para o sucesso do empreendimento? Qual é o gap de recursos? Como resolver isso? Ou<br />

seja, se eu fizer uma viagem à Paris, está frio agora, começou o inverno lá, eu vou levar<br />

meu sobretudo, mas se eu for fazer uma viagem para Fortaleza, vou levar o meu calção de<br />

banho e meu chinelo, porque estou indo à praia. Com o ativo intangível ocorre a mesma<br />

coisa. Como eu começo a construir os ativos intangíveis da minha empresa? Isso tem a ver<br />

com a minha viagem, com meu plano de ação, minha proposição de valor. Esse foi o<br />

modelo apresentado por nós. Em determinado momento, a governança corporativa, que não<br />

é tão importante no início, começa a se tornar importante quando aparece o investidor. E no<br />

momento em que eu quiser abrir o capital da minha empresa no novo mercado isso fica<br />

mais importante ainda.O método dos capitais intangíveis, que é um método de ponderação,<br />

vai levar em consideração que dividimos pequenas empresas em grandes empresas.<br />

Para finalizar, a aplicação do Criatec representa um fundo de capital semente que<br />

vale R$ 100 milhões. Ele pretende fazer a passagem da ciência para o mercado. São quatro<br />

anos para investir e seis para desinvestir. Ele está presente em oito estados brasileiros, são<br />

oito gestores regionais. Eles entram desde a pesquisa finalizada até a expansão. Já foram<br />

aprovadas oito empresas, e em três já foi completado o investimento. Finalmente, o que os<br />

investidores querem saber? Qual é a oportunidade? Que problema é resolvido: Por que<br />

esse problema surge agora? Qual é o tamanho do mercado? Qual foi a sua trajetória? Quais<br />

são os ativos e as competências com que você contribuiu? Muito obrigado.<br />

SHIRLEY COUTINHO<br />

Gostaria de agradecer ao José Arnaldo pela primeira aula deste curso sobre ativos<br />

intangíveis. Temos apenas uma pergunta da platéia.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

PLATÉIA<br />

Este curso é sobre valoração e gestão de ativos intangíveis. Eu entendi bem a<br />

metodologia e me pareceu ser uma metodologia voltada para rating. Qual é o método que<br />

você propõe para realmente achar o valor de um intangível?<br />

JOSÉ ARNALDO <strong>DE</strong>UTSCHER<br />

É uma boa pergunta. Eu não proponho método nenhum. A questão é que o valor do<br />

ativo intangível se estabelece na negociação. Ele trata do quanto vale para mim e quanto<br />

vale para você. Se eu sou o comprador, eu vou olhar e perguntar para que eu quero esse<br />

intangivel. Então, no exemplo fictício da fábrica de goiabada, a Nestlé comprou a Arisco,<br />

porque é a marca famosa de molho de tomate. Quanto é que a marca Arisco vai trazer de<br />

venda adicional para a Nestlé? Trará um milhão de unidades a 10 reais cada uma. Eu vou<br />

faturar por mês R$ 100 milhões. Tenho um custo de R$ 80 milhões, e sobram R$ <strong>20</strong><br />

milhões. Eu faço um fluxo de caixa descontado. Para mim, a Arisco vale, no máximo, o fluxo<br />

de caixa descontado de R$ <strong>20</strong> milhões por mês, em 60 meses, com uma taxa de desconto<br />

de <strong>20</strong>% ao ano. A Nestlé olha dessa maneira. Já a Arisco pensa que está vendendo a sua<br />

144


marca, só que ela produz 100 mil unidades. Então, fazendo a mesma conta para a Arisco,<br />

vale R$ 1 milhão. Chegamos à seguinte situação. Eu sou o vendedor Arisco, vale R$ 1<br />

milhão para mim. Eu sou o comprador Nestlé, vale US$ 10 milhões para mim. Vamos nos<br />

sentar à mesa para negociar o preço da negociação. Entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões<br />

qualquer valor vale. O método é sempre o fluxo de caixa descontado. Quanto vale esta<br />

determinada patente? Cada empresa tem a sua estratégia.<br />

145


Parte 2 – Gestão Tecnológica visando à Colaboração e Competitividade<br />

Coordenação:<br />

Marinilza Bruno de Carvalho, Coordenadora do Programa de Propriedade Intelectual e<br />

Transferência de Tecnologia, UERJ.<br />

Instrutor:<br />

Maria Ester Dal Poz, Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde<br />

(CDTS), FIOCRUZ.<br />

MARINILZA BRUNO <strong>DE</strong> CARVALHO<br />

Boa tarde a todos. É com prazer que vamos dar início à segunda parte do curso de<br />

Valoração e Gestão de Intangíveis. O tema é muito interessante e propicia uma importante<br />

discussão. Eu quero apresentar a vocês Maria Ester Dal Poz, doutora em política científica e<br />

tecnológica pela UNICAMP e consultora sobre dinâmica de mercado e organização de P&D<br />

para empresas do setor agrícola e de saúde. Ela tem experiência na área da economia da<br />

inovação e atua nos seguintes temas: redes, política científica e tecnológica, sistema<br />

nacional de inovação e direitos de propriedade intelectual. E atualmente pesquisadora do<br />

Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da FIOCRUZ.<br />

MARIA ESTER DAL POZ<br />

Agradeço o convite da REPICT, da RE<strong>DE</strong>TEC, e principalmente a presença dos<br />

senhores. Eu não entendo bem por que motivo nós temos tanto interesse por algo que tem<br />

tamanha complexidade, quando falamos em gerir informação tecnológica.<br />

Eu gostaria de começar minha apresentação dizendo o seguinte. Fizemos hoje a<br />

opção, como mini­curso, de fazer uma demonstração bastante panorâmica de um conjunto<br />

de instrumentos, de ferramentas, para gestão da informação. O vice­presidente da<br />

FIOCRUZ diz que eu sou uma ferramenteira. Esse conjunto de ferramentas não está<br />

desvinculado, é um conjunto de ferramentas que precisa ser adaptado às realidades,<br />

citando inovação aberta, porque as estratégias de inovação das empresas muitas vezes<br />

envolvem algo que a economia nunca tinha pensado: competir para colaborar e colaborar<br />

para depois competir. A dinâmica de geração de novos processos e produtos, em que<br />

durante o ciclo de pesquisa e desenvolvimento de ativos que podem dar um chute na porta<br />

da concorrência e desmontá­la, durante esse ciclo, requer colaboração. Ao mesmo tempo,<br />

depois, há ciclos de competitividade. É um ponto de vista interessante do ponto de vista<br />

econômico.<br />

Esta aula de agora tem quatro temas que estão no portfólio da REPICT. No<br />

planejamento de ações para gestão, eu vou adotar o esforço de P&D. Qual é esse esforço?<br />

Essa definição é essencial da gestão de tecnologia, é definir os campos de investimento e<br />

quais os esforços que a empresa ou instituição pública vai aplicar para alcançar novas<br />

formas de competitividade. Se elas são de oportunidades, vamos selecionar dentro de um<br />

conjunto de possibilidades em quais vamos apostar. Há um alto grau de subjetividade dos<br />

agentes econômicos quando eles apostam e escolhem a frente de pesquisa e<br />

desenvolvimento. Isso acontece muito ao tempo com aquilo que chamamos de mapeamento<br />

de competência para o estabelecimento de parceria, elaboração de carteira de projetos e<br />

oportunidades, que e realmente ir atrás do funding. Eu tenho muito prazer de fazer parte de<br />

um grupo da UNICAMP que, em 1997, pensou que o sistema de funding no Brasil precisava<br />

146


ser melhorado, e por conta disso, muitas linhas de financiamento da FINEP e algumas do<br />

BN<strong>DE</strong>S, a própria Lei de Inovação e a Lei do Bem vieram nessa carreira.<br />

Dois aspectos centrais que já citei, que a competitividade baseada em inovação<br />

requer dois grandes aspectos. O primeiro é que ela se organiza previamente para P&D,<br />

obviamente porque se busca eficiência comercial. O outro aspecto essencial é o que<br />

chamamos de awareness, ou seja, é melhor estar antenado para saber como o mercado, o<br />

que o ambiente externo à minha empresa está demandando. Nós fazemos essa antenagem<br />

via patente. É isso que vou apresentar aqui. Há várias formas de fazer antenagem, por<br />

exemplo, fazer antenagem de como os sistemas de propriedade intelectual estão sendo<br />

combinados com as estratégias de P&D. Isso tudo é permanente, por isso que eu disse que<br />

todos nós temos um trabalho de múltiplas dimensões. Pretensiosamente a aula pretende<br />

mostrar como essas dimensões se integram. Gerir o portfólio de inovação, dois ou três<br />

projetos, mapear concorrente, desenhar estratégia e buscar financiamento seriam as quatro<br />

fases da antenagem.<br />

Quais são os desafios o gestor de tecnologia sempre enfrenta? Ele sempre enfrenta<br />

o fato de que alguém está inventando algo que pode simplesmente desfazer o meu negócio.<br />

A mudança técnica vem sempre dar um chute na minha porta, portanto preciso estar<br />

rastreando onde ela está, com quem ela está e se ela pode ser adquirida ou absorvida. As<br />

políticas de ciência e inovação não dependem diretamente de nós, mas a REPICT, por<br />

exemplo, tem sido um pólo de discussão para o INPI melhorar suas práticas, e assim por<br />

diante.<br />

Hoje, o mercado de biotecnologia, por exemplo, de fármacos está esgotado nas suas<br />

trajetórias tecnológicas. A chamada farmoquímica está baseada em outros conjuntos de<br />

tecnologia. E por falar em biotecnologia, esse foi o primeiro produto agrícola transgênico, de<br />

1984, da empresa Calgene, que foi comprada pela Monsanto. Isso que trata de estrutura de<br />

mercado, uma empresa com a Calgene, que era um empresa de P&D, desenvolve uma<br />

maneira de retardar o amadurecimento do tomate. Esse tomate tem tempo de chegar à<br />

indústria sem apodrecer, e isso muda toda a trajetória do mercado de ketchup, de molho de<br />

tomate industrializado, e a brincadeira é que, no final, todos os países querem fazer catchup<br />

tecnológico, se apropriar de inovações tecnológicas.<br />

Sendo bem fundamentalista, é bom lembrar que existem três mundos que estão<br />

sempre muito integrados nos países desenvolvidos, cujas economias são baseadas em<br />

conhecimento, os mundos da ciência, da tecnologia e do mercado. Desses três pólos, o da<br />

ciência produz conhecimento certificado e deve conversar com o pólo da tecnologia, que é<br />

aquele em que o conhecimento da origem é um artefato técnico, então eu posso proteger<br />

com patente, protótipo, qualidade de cultivo, e assim por diante. Uma tecnologia é uma<br />

solução técnica para um problema técnico. Sabemos que fazer os produtos circularem por<br />

esses três mundos não é uma questão simples. A Monsanto, nos últimos dez anos, comprou<br />

esse pool de empresas que eu mostro aqui neste slide sobre a estrutura da indústria de<br />

sementes. Então, a empresa de tecnologia start up nasce, alguém a compra e não se pode<br />

dizer que não pode. Ou melhor, o CA<strong>DE</strong> no Brasil pode dizer: não faça se isso não for de<br />

interesse nacional. Olhar para a estrutura de mercado não precisa ser especificamente o<br />

gestor quem faz isso. Pode ser um consultor ou alguém na sua equipe que, de vez em<br />

quando, tente fazer uma breve análise, que entre nos websites das companhias para ver se<br />

elas compraram alguma nova empresa, qual é o seu atual portfólio. Esse é um trabalho<br />

contínuo. Para selecionar as oportunidades de inovação, vamos dizer que hoje eu resolvi<br />

que vamos fazer um projeto de P&D.<br />

Eu tenho um negócio. O que eu posso incorporar de tecnologia que melhora o meu<br />

produto? Qual é o mercado para este produto e onde vou buscar financiamento? E como<br />

147


vou gerenciar isso? Na medida em que se dá origem a uma tecnologia, uma nova estratégia<br />

tecnológica é adotada. É simplesmente um filho que nasceu, e esse filho precisa ser<br />

cuidado. Então, os instrumentos de gestão são úteis para deixar a criança forte, fazê­la<br />

crescer saudável. Como financiar e reduzir as incertezas? Essas incertezas de mercado são<br />

maiores em alguns setores. Na área da biotecnologia, eu as considero bem maiores.<br />

Financiar é sempre um mercado futuro. O que será que o mercado vai querer? Isso fica<br />

muito claro quando falamos da trajetória da Tecnologia da Informação, principalmente dos<br />

celulares. Comparando os celulares de dez anos atrás e os celulares de hoje, achamos que<br />

agora eles estão entrando numa composição tecnológica muito mais madura, não no<br />

sentido de que as tecnologias sejam maduras, mas no sentido da composição de artefatos,<br />

ou seja, celular que tira foto, manda e­mail, vira televisão, etc. Então, financiar mercados<br />

futuros, em alguns casos é mais simples, em outros casos não é tão simples, como no caso<br />

de saúde humana.<br />

Eu sempre sigo essas perguntas. Elas são singelas, mas eu sempre escrevo com os<br />

clientes e nas instituições públicas onde eu trabalho. Portanto, planejamento de P&D e<br />

gestão de portfólio de inovação, o negócio tem tendência nova? Escreva qual é a nova<br />

tendência para meu negocio. Eu posso ser motor do novo, porque muitas vezes um<br />

pequeno incremento faz toda a diferença. Eu posso simplesmente fazer inovação<br />

organizacional? O que é que aponta para o nome, para essa estrutura do mercado? Tem<br />

alguma empresa comprando outra empresa?<br />

Novas trajetórias tecnológicas não são simples de detectar. Como a empresa se<br />

posiciona para novos cenários? Que tipo de profissional eu tenho ou não tenho para fazer a<br />

antenagem? Em resumo, financiar o quê? Entre ontem e hoje pelo menos três pessoas que<br />

são gestores de fundos me disseram o seguinte: “Por favor, vamos fazer uma reunião,<br />

porque o fundo tal tem dinheiro e não temos recebido projetos”. Em compensação, a<br />

subvenção econômica da FINEP teve neste ano 2.800 aplicantes. Estar antenado também<br />

para fundos de financiamento depende muito da seleção prévia dos seus esforços de P&D,<br />

e quando se justifica bem consegue­se em geral o financiamento. Então, aqui fica uma lista<br />

ou um check list do que observar se eu quiser começar a gerir um portfólio de P&D ou um<br />

simples projeto de P&D.<br />

Desenhar o regime tecnológico específico. O regime tecnológico da farmoquímica<br />

realmente está bastante esgotado. A identificação de características inovativas vai ficar mais<br />

clara quando eu começar a mostrar os instrumentos. Oportunidades tecnológicas. Onde<br />

está o conhecimento de que preciso? Qual é a base dos conhecimentos de que preciso?<br />

Quem acumula conhecimentos para melhoria de processos? Esse padrão de<br />

conhecimentos científicos e tecnológicos em TI, principalmente na área de celulares, parece<br />

que já está num pico de amadurecimento. Por outro lado, a ABINEE, por exemplo, tem<br />

agora um movimento de institutos de pesquisa, e o desafio é tentar ver, na área de<br />

televisores, porque a LG tem um padrão de acumulação de tela de plasma, de LCD. Eles<br />

estão desconstruindo todo o mercado de hoje em subcomponentes tecnológicos para poder<br />

entender o conjunto de tecnologias que estão nos diferentes produtos, e aí não existe<br />

apenas uma linha de produtos. Esse trabalho de desconstrução do produto alheio do meu<br />

competidor também é necessário e muito saudável.<br />

O padrão de apropriabilidade, quem é dono do que, lembrando que existe TRIPS,<br />

mesmo quando se trata dos comércios nacionais. O padrão TRIPS, hoje em dia, é algo de<br />

que nós falamos muito pouco. A ABIMO tem atualmente uma trajetória em que suas<br />

empresas conseguiram, apesar de serem somente montadoras, se manter no mercado<br />

muito bem e conseguiram exportar para países como China e Índia, porque elas<br />

conseguiram fazer engenharia reversa, olhando para o padrão TRIPS e, ao mesmo tempo,<br />

148


aseados em TRIPS, conseguiram padrão de certificação de produtos e uma forma de<br />

governança de rede de P&D.<br />

Vamos começar, então, com o mapeamento de competências. Onde está o<br />

conhecimento de que eu acho que preciso? Vou começar a desenhar um cenário de<br />

trajetórias tecnológicas para a minha empresa e depois vou pensar nessa antenagem. Essa<br />

atividade será o primeiro instrumento que chamamos de foresight, ou monitoramento<br />

tecnológico. Isso significa lidar com o que os outros concorrentes e o mercado têm de<br />

tecnologia. Para isso usamos bastante a patente. Por quê? Porque a patente é um<br />

monopólio do novo. O foresight se baseia na proteção dos ativos intangíveis. A patente é um<br />

bom instrumento, ela não é um instrumento maravilhoso, porque a inovação às vezes está<br />

na forma de segredo industrial, às vezes ela está no saber­fazer da empresa. A empresa<br />

tem simplesmente um jeito de fazer que não está escrito, ele é um conhecimento tácito. A<br />

patente é uma boa forma de mensurar os esforços de pesquisa e desenvolvimento. Agora<br />

vamos partir para a parte mais prática.<br />

O que fazemos: entramos na base Derwent, na base do USPTO ou do EPO<br />

(Espacenet). Neste caso entramos na base do escritório norte­americano de patentes, o<br />

USPTO. Você pode buscar patente por título, que tenham no seu título, por exemplo, a<br />

palavra “omics”, porque estávamos procurando patentes cujo conhecimento protegido é da<br />

parte de “genomics”, “proteomics” ou “lipidomics” em planta. Então, a nossa pergunta para a<br />

busca foi: quem tem a palavra “omics” no título? E quem tem a palavra “plant” no quadro<br />

reivindicatório da patente? O resultado foi de 38 mil patentes no período de 1996 a <strong>20</strong>04.<br />

Essa é uma metodologia de monitoramento, mas eu tenho de ter uma pergunta, tal<br />

como eu acabei de fazer. Um outro caso de diagnóstico é a FIOCRUZ. A FIOCRUZ tem hoje<br />

em dia um esforço institucional chamado CDTS. Ele já vem sendo construído pelo seu<br />

coordenador Carlos Morel há vários anos, mas definitivamente o prédio do CDTS tem vinte<br />

mil metros quadrados de plataforma tecnológica mais dois biotérios. Sendo uma instituição<br />

de tamanho porte, a FIOCRUZ não pode deixar de utilizar um sistema de monitoramento de<br />

foresight. Ela terá que lidar, por exemplo, com proprietários de vírus­vetores para vacinas.<br />

Ela precisa saber o que está sendo apropriado na forma de patentes. Fazer a pergunta certa<br />

para retornar um bom mapa tecnológico não é simples. Estamos fazendo um outro caso<br />

para o mercado de diagnósticos, que envolve a empresa Abbott Diagnostics e uma miríade<br />

de empresas que são detentoras de patentes do subcomponentes de diagnósticos.<br />

Neste caso aqui, essa busca por patentes agrícolas foi filtrada pelo menos pela<br />

busca da palavra “plant” no quadro reivindicatório. Como eu já disse, o resultado foi de 38<br />

mil patentes. O texto completo dessas patentes é baixado para dentro do computador.<br />

Antigamente eu lia muita patente, hoje em dia continuo lendo, mas agora eu tenho um<br />

sistema informatizado que faz a busca que eu desejo dentro da patente, pode ser no título,<br />

no abstract ou no quadro reivindicatório, ou também pode ser na patente inteira. Quais são<br />

as palavras mais freqüentes? Qual é a semântica ou tema tecnológico mais freqüente?<br />

Existem duas maneiras. Na primeira, eu olho para o céu e digo que quero achar uma estrela<br />

em especial que tenha um brilho X, um tamanho Y e que esteja a uma distância Z para<br />

procurar e encontrar especificamente essa estrela. Na segunda, eu olho para o universo e<br />

tento identificar o conjunto de estrelas, mapeá­las e dizer que existem 10% de estrelas com<br />

um brilho X, tamanho Y a uma distância Z, 15% de estrelas com outro brilho, tamanho e<br />

distância, e assim por diante. Neste caso, fizemos uma busca que significa qual era o<br />

padrão de tecnologia, quais tecnologias estão presentes nessas 38 mil patentes. Qual foi o<br />

resultado? Este determinado pico, esta paisagem vista de cima, possui todo um grupo de<br />

patentes cujo tema central é plasmid vector. Este pico está separado somente por um vale,<br />

e esse vale é o grão de amido, o grão de starch, para os mercados agrícolas. Por exemplo,<br />

149


se eu posso aproximar esse mecanismo com a plataforma aberta, eu aproximo meu cursor<br />

aqui e ele recorta quais são as tecnologias, as patentes. A EMBRAPA, por exemplo, teria<br />

interesse nisso, porque ela pode saber quem é detentor de plasmid vectors para<br />

desenvolver novas variedades de milho que, por exemplo, tenham mais amido ou menos<br />

amido, ou que sejam mais resistentes a pragas, e assim por diante. Eu trouxe aqui esse<br />

exemplo agrícola, porque eu tenho feito muito trabalho com esse tipo de monitoramento. A<br />

utilidade dessas técnicas de foresight é justamente o fato de que não damos tiro no escuro.<br />

Não vamos ler patentes, vamos ler um pouco menos, mas vamos acertar o alvo. No caso do<br />

governo brasileiro, se a EMBRAPA quiser investir num vale, aqui tem um vale. Isso quer<br />

dizer que nos temas deste vale ninguém está investindo muito. Então eu posso optar por<br />

concorrer com a Monsanto, por exemplo. Os players internacionais de plasmid vectors não<br />

são muitos. Eu posso simplesmente fazer esforços de P&D onde não tem muitas empresas<br />

fazendo. Neste caso aqui, o filtro foi feito para dois grupos de patentes C07H21, porque<br />

como era “omics”, são temas de biotecnologia desse grupo de patentes de DNA e RNA.<br />

Outra forma de fazer prospecção é o que temos feito na FIOCRUZ. A FIOCRUZ está<br />

montando uma estrutura para usar essas ferramentas ativamente e permanentemente, que<br />

é a prospecção de patente por grau de citação. E aí passamos para o valor de mercado.<br />

Quanto mais citada uma patente, maior é seu valor de mercado, e maior é o valor de<br />

mercado desta empresa na Nasdaq. Por exemplo, a Bosch, no ano passado, teve uma<br />

aceleração dos seus esforços internacionais de P&D, e com isso, ela ganhou seu stock<br />

market, ou seja, seu valor nos mercados financeiros também aumentou. Isso não é muito<br />

freqüente no Brasil, mas cada vez mais pretendemos que seja ainda mais com o<br />

financiamento a empresas de base tecnológica e projetos de inovação. Dessa forma,<br />

abrimos a patente, clicando aqui onde mostra quem é que referencia essa patente. Isso<br />

muda, porque essa patente já está concedida, e amanhã minha patente cita essa. Isso é<br />

trabalho de chinês. E aqui o número de citações de uma patente origina redes. Cada vértice<br />

é uma patente. Esse é um caso também de patente “omics”, com espectro um pouco mais<br />

longo, de 1976 a <strong>20</strong>04. A base foi o USPTO, e as patentes se citam mutuamente. Claro que<br />

existem patentes aqui que são muito citadas. Com isso eu não apenas seleciono quais são<br />

os detentores de grupos de tecnologia que interessam, mas também a força de mercado<br />

desses players, que geralmente são internacionais. Por incrível que pareça, a EMBRAPA é<br />

um deles, não nesse caso. Eu tenho outro exemplo de rede, ou seja, é possível que uma<br />

instituição pública se transforme. É um detentor de alto valor agregado para o mercado.<br />

Obviamente que seria necessário verificar qual é a centralidade de cada um desses atores.<br />

As densidades da rede são importantes. Isso representa quem é que está entrando como<br />

player desse negócio, quem está interessado, quem é que cita quem. Como uma empresa<br />

cita outra empresa, em geral, existe um jogo de interesses. Eu cito outra empresa,<br />

Innogenetics, que é detentora de vários kits de diagnóstico para diversas doenças de grande<br />

importância pública. Ela cita muito uma outra empresa que fica numa cidade belga que fica<br />

ao lado, mas tem interesses comerciais muito próximos. Eles compõem uma trajetória<br />

tecnológica. Identificar essa trajetória é essencial para quem quer investir. Então, eu sei que<br />

vou contratar X e Y ou vou bater de frente e tentar outra trajetória.<br />

Isso aqui é a mesma rede anterior. Apenas mapeamos, por exemplo, entre a patente<br />

1 e a patente 2. Existe um grupo de pessoal que gosta tanto de 1 como de 2. Assim é que<br />

se começa a fazer correlações de grupos de tecnologias que são essenciais para este<br />

negócio. Qual é este negócio? É o pequeno[Dal Poz1] negócio de drogas anti­hipertensivas,<br />

que é hoje o maior mercado de saúde humana em termos de volume total. Aqui, apenas por<br />

curiosidade, são duas patentes. Uma delas faz modelagem de molécula, e a outra é um<br />

teste clínico da ação desta molécula. O que fazemos com esses grupos de conectores aqui?<br />

Fazemos uma análise de mercado quem está nesse mercado, quem está investindo nisso,<br />

quem está interessado em quem.<br />

150


Esse instrumental de foresight tem se mostrado muito capaz de monitorar, planejar e<br />

antecipar tecnologias. Os exemplos aqui colocados são muito baseados na FIOCRUZ e na<br />

Unicamp. No Instituto de Economia da Unicamp, temos um núcleo de pesquisa sobre<br />

tecnologias agrícolas, inovação agrícola. Eu sou muito mais da área de biotecnologia, mas<br />

serve para qualquer outro setor. Outro exemplo de como selecionar e planejar o portfólio é<br />

utilizar o velho e bom roadmap, o bom mapa de ações que deve ser feito para seu projeto<br />

de pesquisa e desenvolvimento realmente contemplar todas as questões que ele precisa<br />

contemplar. Aqui também trouxe um exemplo em biotecnologia. Esse gene de floculação<br />

hoje é a tateia do projeto de Etanol brasileiro. As leveduras, depois que acaba todo o açúcar<br />

da fermentação, continuam flutuando. Existe uma maneira de ligar e desligar o gene que faz<br />

com que elas floculem. Ao acabar o açúcar, todas as leveduras se unem, pesam mais e<br />

afundam. Isso representa um diferencial, porque não é necessário filtrar nem 10% do que se<br />

filtrava. Isso economiza água, energia, custo de produção, e ainda não utiliza filtro. Isso é<br />

extremamente importante no projeto Etanol com a escala que se pretende ter no Brasil.<br />

Fazer o roadmap disto é muito interessante. Nem preciso dizer que a empresa Alfa Laval,<br />

líder mundial de fabricação de centrífugas, está bastante preocupada com a adoção do<br />

Gene FLO pelo Brasil, porque ela vai deixar de vender pelo menos 95% do seu sistema de<br />

centrífugas. Aqui temos a primeira prancha do roadmap. Quer dizer como a tecnologia FLO<br />

elimina parcialmente a filtragem, como em termos de produto e processo as centrífugas são<br />

diferentes. Precisa­se de centrífugas, mas são outras centrífugas, que gastam muito menos<br />

energia. Até chegar ao mercado quanto eu poupo de energia e água? Qual é o impacto<br />

ambiental quando não se usa água para lavar o filtro de etanol nessa escala? É claro que<br />

outros projetos menores de uma empresa de menor porte também precisam desse impacto,<br />

porque pode­se, às vezes, dar um tiro no pé do próprio negócio.<br />

Onde está o conhecimento necessário? Eu preciso de conhecimento necessário para<br />

o meu projeto? A empresa ou instituição tem competências organizacionais? Ela tem um<br />

sistema de proteção aos ativos intangíveis? Ela tem boa assessoria jurídica? Tem<br />

pesquisadores que cumprem prazos? A primeira questão é detectar onde está o<br />

conhecimento de que eu preciso e colocar no roadmap onde vou adquirir esse<br />

conhecimento. Quem é que trabalha hoje com vetores de vírus de sarampo para o<br />

desenvolvimento de vacina para malária? Quem trabalha com resistores orgânicos? A<br />

ABINEE está hoje muito interessada numa nova trajetória tecnológica em que os<br />

transistores não funcionam mais como os da década de 60. É uma outra trajetória baseada<br />

em moléculas orgânicas. Quem trabalha com isso? Quando não tem no Brasil, eu vou<br />

buscar aonde? Como investigamos isso? Nesse caso, são bases de dados científicos em<br />

geral, a base de dados dos indicadores de produção científica mundiais ou base de papers<br />

de artigos científicos. No Brasil, temos a melhor maneira de investigar, porque felizmente a<br />

CAPES o CNPq inventaram a plataforma Lattes, que tem os currículos dos pesquisadores.<br />

Investigar os conteúdos da plataforma Lattes também permite que se detecte bons<br />

parceiros, bons produtores de conhecimento. Aqui um exemplo em que eu usei a plataforma<br />

Lattes.<br />

Existe um software que foi desenvolvido na Unicamp e permite a leitura de textos<br />

muito longos. Na verdade é inteligência artificial que lê as relações das palavras. Por<br />

exemplo, o quanto que a palavra “resistor” e a palavra “orgânico” aparecem nas patentes de<br />

novos transistores, dessa nova geração de chips para aparelhos de eletroeletrônicos. Esse<br />

software facilita, dá um fôlego, mas ainda dá muito trabalho. Você pode ficar expert nisso,<br />

mas é necessário que você tenha os instrumentos mais precisos para não ficar investindo<br />

em nada. Um dos resultados desse software seria, por exemplo, olhar para a FIOCRUZ,<br />

baixar todos os artigos científicos da FIOCRUZ num determinado ano e fizer uma análise de<br />

quais são os temas de pesquisa mais presentes. Biologia molecular e tratamento em<br />

151


terapêutica aparecem numa média correlação. O que isso quer dizer? Que a pesquisa da<br />

FIOCRUZ não está se importando tanto com os produtos terapêuticos. Isso é bom? Não sei<br />

se é bom ou ruim, mas a vice­presidência de pesquisa tomou isso e disse que vamos fazer<br />

uma política interna para alcançar mais um passo em desenvolvimento tecnológico, que<br />

seria alcançar produtos terapêuticos baseados em biologia celular e molecular. Esses<br />

instrumentos também são de política institucional. Eu sempre olho muito do lado da<br />

organização das instituições. Por exemplo, doença de Chagas é terapêutica de baixa<br />

correlação, os pesquisadores não estão pesquisando isso agora. Se você precisar de algum<br />

pesquisador que esteja trabalhando com resposta imune de doenças, em geral, a FIOCRUZ<br />

é um bom agente, consegue vários mapas quentes deste aqui. Você pode combinar temas<br />

para entender o padrão do seu parceiro em potencial.<br />

Essa é uma outra forma também de se verificar quem está trabalhando com quem,<br />

só que é uma rede. Não é uma rede de citação de patentes, mas uma rede de cooperação<br />

científica. Isso aqui é como a FIOCRUZ e a UFBA colaboram muito entre si. Depois você<br />

pode abrir os temas e entender que precisa de alguém que esteja trabalhando com<br />

fornecimento de imunoglobulinas para o mercado de saúde, Por exemplo, existe uma<br />

empresa de sacos de sangue, e eu quero detectar quais são os possíveis fornecedores de<br />

uma determinada molécula que vai revestir a bolsa de sangue. Com isso é possível detectar<br />

as forças dos potenciais parceiros para dar conta do seu projeto.<br />

Por último, conhecer o conjunto de instrumentos de financiamento, conhecer que<br />

cada instrumento financia um conjunto de características que a sua proposta deve ter. Eu<br />

sei que os recursos ainda são pequenos e que nem todos recebem, mas realmente quando<br />

você ajusta o seu projeto ao que o BN<strong>DE</strong>S, a FINEP, o CNPq ou o seu parceiro de venture<br />

capital deseja, em geral conseguimos o financiamento. O BN<strong>DE</strong>S tem hoje uma linha<br />

operacional, que são as linhas tradicionais para produção (TJLP + juros), e o FUNTEC, que<br />

é um conjunto de investimento em P&D. Eu acho que neste ano foram três ciclos do<br />

FUNTEC. A FAPESP, de três anos para cá, tem promovido o PITE, que começou com a<br />

pequena empresa procurando recursos. Hoje o PITE da FAPESP, eu acho que é um bom<br />

modelo, vem trazendo financiamento para projetos mais ambiciosos, como a biorefinaria da<br />

Oxiteno. Só para P&D do projeto foram US$ 15 milhões, US$ 5 milhões do BN<strong>DE</strong>S, US$ 5<br />

milhões da própria empresa e US$ 5 milhões da FAPESP. Com isso ela contratou uma<br />

série de tecnologias para a biorrefinaria. Para começar uma biorefinaria, ela pode, por<br />

exemplo, querer usar o Gene FLO. Aí temos uma biorrefinaria que faz álcool e reduz o custo<br />

de produção. A Lei Federal de Inovação prevê que essas soluções sejam de socialização de<br />

riscos e custos. Eu acho que a difusão da lei está acontecendo muito bem. Até o ano<br />

passado eu achava meio complicado, mas hoje os NITs têm utilizado todos os instrumentos,<br />

como estratégia de concessão direta de recursos financeiros e de uso estratégico dessa<br />

capacidade inovadora das empresas. Para conseguir financiamento e utilizar os incentivos<br />

fiscais da Lei do Bem, se você apresenta no projeto monitoramento tecnológico, a chance<br />

de conseguir financiamento aumenta, porque você está mostrando que você reduziu seu<br />

risco associado ao esforço de pesquisa e desenvolvimento. A Lei do Bem associa estímulos<br />

diretos ao setor privado com a concessão direta e com alianças estratégicas do setor<br />

privado. Aqui eu deixo neste slide as características da Lei do Bem para quem quiser<br />

consultar. A subvenção econômica à inovação, que é não reembolsável, parece ser muito<br />

interessante, mas não se esqueçam que várias linhas de financiamento do BN<strong>DE</strong>S são<br />

renegociáveis, ou seja, você pode tomar o crédito, deixar o pagamento de um montante lá, e<br />

se tiver um impacto público ou impacto no dinamismo da empresa, dá para renegociar,<br />

ficando inclusive não reembolsável. Claro que isso precisa de um controle e não apenas de<br />

caixa, mas um controle do sistema de P&D muito mais apurado. Isso aqui é um resumo da<br />

disponibilidade atual dos diferentes tipos de financiamento, bolsas para empreendedorismo,<br />

152


para instalação inicial da empresa. Não é apenas se está sendo concedido, mas é quanto<br />

existe de recursos em linhas de financiamento no Brasil.<br />

E para fechar a apresentação, eu acredito que esses instrumentos possam garantir a<br />

redução dos riscos inerentes à P&D quando se tem um projeto de inovação. Aplicar<br />

esforços, investimento e recursos humanos com o mínimo de certeza. Eu acredito que eles<br />

induzem muito interesse pelo negócio. Quando você chega para um parceiro e mostra o que<br />

você tem, mesmo não tendo certeza de tudo, você mensura o seu risco. Em geral, o<br />

financiador olha com olhos melhores, e seu parceiro de negócios também faz a parceria. Eu<br />

acredito que seja um instrumento antropológico você demonstrar que está coordenando sua<br />

rede de investimento em inovação, até porque acredito em governança de rede. Muito<br />

Obrigada.<br />

MARINILZA BRUNO <strong>DE</strong> CARVALHO<br />

Eu queria agradecer à Ester Dal Poz pela excelente palestra, e vamos manter o<br />

padrão que tem sido feito até agora, três perguntas de cada vez.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

CARLA, INPI<br />

Boa tarde. Minha pergunta é mais uma curiosidade sobre o software. Ele é comprado<br />

ou foi desenvolvido para esse trabalho específico?<br />

PLATÉIA<br />

Na verdade, não seria uma pergunta, mas sim um esclarecimento. Eu sou um aluno<br />

do FUNTEC. Na realidade existe sim um projeto que foi proposto pela RE<strong>DE</strong>TEC junto com<br />

a UERJ e a incubadora de empresas da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) para<br />

o desenvolvimento de materiais alternativos à base de resíduos da indústria de álcool e para<br />

o revestimento de aeronaves. É um projeto que envolve a EMBRAER, a UERJ, e a<br />

RE<strong>DE</strong>TEC.<br />

RUTH EPSZTEJN<br />

Primeiro eu queria parabenizar a Ester Dal Poz pela explanação tão clara. Eu tenho<br />

uma curiosidade também. Você mencionou a respeito das rotas que vocês fazem,<br />

identificam as empresas que estão desenvolvendo determinada tecnologia e depois vocês<br />

fazem um acompanhamento, um monitoramento. Queria saber qual é freqüência desse<br />

acompanhamento.<br />

MARIA ESTER DAL POZ<br />

Esses instrumentos de monitoramento realmente utilizam plataformas<br />

informatizadas. Usamos essencialmente três. Uma delas se chama Vyger. Foi desenvolvido<br />

na Unicamp junto com a SOFTEX, porque tínhamos o problema de busca de informações.<br />

153


Ele não é um software proprietário. Pode ser disponibilizado a pedido do demandante, como<br />

um software acadêmico. Apenas são solicitadas referências para quem está utilizando que é<br />

para nutrir a própria pesquisa. Ele tem internamente indicadores de quantas palavras<br />

aparecem. O segundo é o software Vantage Point, de um grupo de pesquisa americano do<br />

Georgia Institute of Technology, liderado por Alan Porter. Este é um software proprietário,<br />

mas não é caro. A FIOCRUZ tem usado muito para esse esforço de technology<br />

management. Ele também agrega dizendo quem são os proprietários e relaciona com os<br />

focos tecnológicos. Então, dá para mapear o mercado muito bem e fazer rede. Por exemplo,<br />

quem é que está em co­autoria daquela patente do transistor baseado em matéria orgânica?<br />

Quem está patenteando? Existe mais de um detentor? Se não, você faz aquela rede de co­<br />

citações, baixa todas as patentes e vê quais são somente conteúdos. Dessa forma você<br />

penetra ainda mais. Isso pode ser bastante útil. O terceiro software chama­se Pajek. Este<br />

software é livre. Quem procurar pela palavra Pajek, isso significa aranha em ucraniano,<br />

porque os desenvolvedores são da Ucrânia. É um software muito interessante que dá para<br />

modelar muitos interesses em tecnologia e é de graça. Também o utilizamos para fazer<br />

rede. Outro software de rede é o Ucinet, que é barato, custa US$ 40 anuais. Este é um<br />

software proprietário de dois matemáticos americanos do MIT. Vocês também podem baixar<br />

e depois pagar a licença, porque existe um trial grátis. Aqueles landscapes que eu mostrei<br />

anteriormente já são produzidos por um software mais pesado, na verdade uma plataforma.<br />

A sua venda está vinculada a um uso institucional, até porque é uma plataforma bastante<br />

cara. É um software proprietário da Thomson, que é proprietária da Derwent Innovation<br />

Index. Ele tem representante aqui no Brasil, quem tiver interesse, por favor, entre em<br />

contato. O representante chama­se José Cláudio. Ele fica aqui no Rio de Janeiro. Eu<br />

consegui utilizar em casos para a FIOCRUZ e para a UNICAMP, antes delas terem, dois<br />

trials muito bons. Dá para aprendermos e vermos se vale a pena. Eu acho bastante útil,<br />

porque com a plataforma aberta, você pode clicar nessas áreas e investigar especificamente<br />

o seu foco. Obviamente que esses sistemas informatizados não dão boas respostas se você<br />

não souber perguntar para eles o que você quer. Nesse caso, a expertise do gestor de<br />

tecnologia aponta a questão do diferencial.<br />

MARINILZA BRUNO <strong>DE</strong> CARVALHO<br />

E a manutenção desse software que é proprietário?<br />

MARIA ESTER DAL POZ<br />

Essa plataforma é comprada através de uma licença, porque não é um software, é<br />

uma licença para você entrar nas bases de dados e utilizar o sistema da Derwent e utilizar o<br />

sistema de agregação de dados. Mandamos um projeto para eles, porque o projeto precisa<br />

ser consistente. Essa plataforma é utilizada pela National Science Foundation (NSF), nos<br />

Estados Unidos, para ela saber onde ela vai aplicar recursos de pesquisa. É um pouco mais<br />

institucional, e é institucional porque é caro. Naturalmente se a empresa tem dinheiro, eu a<br />

aconselho licenciá­lo. Eu acho que a licença está em US$ 45 mil. Existem uns formatos<br />

mais simples com menos recursos que são mais baratos. No entanto, existe o seguinte. A<br />

Thomson fica sabendo qual é a pesquisa que você esta fazendo, porque é uma plataforma<br />

direta com o sistema deles. Se você entrou na base Derwent e extraiu o tema X, eles ficam<br />

sabendo qual é o tipo de tema em que você está interessado e qual é a agregação daquele<br />

tema. Eles fazem o monitoramento em cima do que estamos monitorando. Isso é inevitável.<br />

O que estamos pensando no Brasil é criar uma plataforma semelhante, não sabemos<br />

quando, mas já existem dois grupos de computação de instituições públicas brasileiras<br />

pensando em desenvolver um sistema assim. Mas teremos que pagar a extração de dados<br />

154


das bases de dados de qualquer maneira. No entanto, é algo que a CAPES deve pagar.<br />

Usamos outros softwares para coisas semelhantes, mas estes têm sido os de maior uso.<br />

A outra pergunta, da Ruth, é muito interessante, porque não temos séries históricas<br />

ainda. Por exemplo, o projeto de biorefinaria da Oxiteno já é bastante ambicioso de utilizar<br />

100% da cana de açúcar, inclusive matéria não sacarificada, ou seja, bagaço de cana mais<br />

o caldo de cana para fazer álcool. E esse projeto não tem só essa dimensão de fazer álcool,<br />

mas também a parte de escolher a fazenda, de verificar os incentivos fiscais dos estados, a<br />

guerra fiscal, questões trabalhistas, variedades de cana, etc. Então, esses instrumentos<br />

foram aplicados para esse grande projeto. Não que eles não sejam úteis para pequenos<br />

projetos. Eles são. Mas as séries históricas de grandes projetos são as que poderão dizer<br />

que os instrumentos foram úteis, balizaram ou não. Infelizmente, a avaliação está prevista<br />

quando fazemos o planejamento anual, avaliação tecnológica e, inclusive, a avaliação de<br />

impacto econômico, social e ambiental. É que, por exemplo, se você adota uma cana que<br />

cresce em pé, você somente promove corte de cana com máquinas. Se ela nascer deitada,<br />

você emprega gente que é cortador de cana, que vai cortar com facão. Então, isso tudo<br />

precisa ser bem pensado pelo projeto. Não tem nada de tecnológico, é social mesmo. São<br />

as outras dimensões. Essas avaliações estão incluídas, mas a avaliação da eficiência do<br />

uso dos instrumentos, eu tenho alguns em pequenos projetos. Eu posso lhe dizer que, pelo<br />

menos, em termos da obtenção do financiamento, que é a primeira parte essencial, porque<br />

sem o financiamento não tem projeto, nós já conseguimos. Mas os três grandes projetos em<br />

que utilizamos um conjunto desses instrumentos, infelizmente eu ainda não tenho<br />

historicidade para responder. O dia que eu tiver gostaria de compartilhar.<br />

NELSON, PUC­Rio<br />

Eu queria ter uma idéia se, por exemplo, um bom indicador de obsolescência de uma<br />

tecnologia seria a quantidade de citações dividida pela idade da patente. Isso é usado?<br />

MARIA ESTER DAL POZ<br />

Sim. Hoje na FIOCRUZ nós tivemos uma reunião que falava justamente disso. Eu<br />

não mencionei isso, falha minha. Obrigada pela observação. Quanto mais citada uma<br />

patente, realmente maior é a parte de difusão da tecnologia. É uma proxy, é uma medida<br />

indireta da taxa de uso da tecnologia, o quanto ela é citada. Então, a obsolescência das<br />

tecnologias pode ser medida por citações. Obviamente existem vários problemas<br />

metodológicos, de ordem econométrica. Eu não os conheço tanto assim, mas eles existem.<br />

A literatura do Narin, que é um dos grandes consultores do governo americano para esse<br />

tipo de monitoramento e para valoração de patentes, inclusive para as instituições públicas<br />

americanas, que são os maiores agentes de apropriação econômica de intangíveis, mostra<br />

isso. Não sei se você lida com esse tipo de literatura, mas eu comecei a ficar um pouco mais<br />

envolvida agora, por incrível que pareça, nos últimos dois meses.<br />

NELSON, PUC­Rio<br />

Desculpe, eu falei citação dividida pela idade, porque isso cria uma noção de<br />

densidade relativa. Quanto mais você cita, e a patente é curta, significa que é uma patente<br />

vigorosa. Se você tem muita citação ao longo de dez anos, essa densidade cai, demonstra<br />

que a patente esta deixando de ser citada ao longo do tempo.<br />

155


MARIA ESTER DAL POZ<br />

Como eu lhe disse, eu comecei a estudar isso há pouco tempo. Parece que é um<br />

padrão setorial. Em termos de economia industrial, os setores têm padrões e picos mais ou<br />

menos semelhantes. Em biotecnologia, as citações começam por volta de dois anos. Aliás,<br />

as patentes quase não são citadas antes de dois anos. É um tempo que o Narin já provou,<br />

já fez estudos desde a primeira patente do mundo. Antes de dois anos raramente uma<br />

patente é citada. Dos dois aos cinco anos as patentes de biotecnologia têm picos. Isso<br />

mostra que essas biotecnologias normalmente são incrementais e são absorvidas pela P&D<br />

mais rapidamente. É todo um campo de estudo bastante interessante, principalmente para<br />

quem trabalha com indicadores e com esses instrumentos de gestão, porque para se usar<br />

esses instrumentos, é necessário saber a vida média dessas patentes, o tempo de citação,<br />

o valor de mercado, etc.<br />

Bom, eu queria finalizar a minha parte dizendo que tivemos uma aula bem cansativa,<br />

existem muitos instrumentos de apoio à prospecção tecnológica que parecem pretensiosos<br />

e são pretensiosos. Eu agradeço a atenção de todos.<br />

MARINILZA BRUNO <strong>DE</strong> CARVALHO<br />

Eu gostaria de agradecer à Ester Dal Poz e ao público que está aqui conosco. Muito<br />

obrigada.<br />

156


Parte 3 – Gestão de Competências em Rede com Foco em Propriedade Intelectual<br />

Coordenação:<br />

Ricardo Pereira, Coordenador da Agência UFRJ de Inovação.<br />

Instrutor:<br />

Rafael Clemente, Pesquisador da COPPE/UFRJ e Professor da UERJ.<br />

RICARDO PEREIRA<br />

Vamos agora iniciar a terceira parte do curso de gestão e valoração de intangíveis<br />

com a apresentação do Rafael Clemente. Eu conheço o Rafael há bastante tempo. Ele é<br />

formado em Engenharia de Produção pela UFRJ, tem mestrado em Ingegneria Gestionalli<br />

no Politecnico di Torino e mestrado em Engenharia de Produção também pela UFRJ. Ele é<br />

doutorando pela COPPE em Engenharia de Produção e é professor da UERJ.<br />

Antes de começar, eu queria ressaltar que ele falará de redes e aplicação de redes<br />

na gestão da inovação. Eu, durante muito tempo, até o ano passado, participei de uma rede<br />

muito interessante, que é chamada COEP, uma rede nacional de mobilização social. Ela<br />

começou como um comitê de entidades no apoio do combate à fome pela vida. Foi criada<br />

pelo Betinho, pelo professor Pinguelli da COPPE e pelo Dom Mauro Morelli. É uma rede<br />

fantástica de mobilização social, que hoje se espalhou pelo Brasil, e existe em todos os<br />

estados. Agora ela começou a se multiplicar em COEPs municipais. É uma rede que pode<br />

servir de exemplo para todos.<br />

Outra questão que tenho visto com muitos bons olhos é a articulação de Minas<br />

Gerais, as redes mineiras e o resultado que isso está gerando. As universidades atuam em<br />

rede, tem a rede mineira de inovação, a rede mineira de incubadoras. O mineiro não só<br />

trabalha em silêncio, mas trabalha em rede. Isso deve ser olhado com muita atenção.<br />

RAFAEL CLEMENTE<br />

Eu vou falar um pouco dessa discussão de redes, com uma ênfase muito forte na<br />

discussão de redes para desenvolvimento, para inovação. Vou associar um pouco essa<br />

discussão de redes com a discussão de inovação tecnológica. Como o meu viés é muito<br />

focado em Engenharia de Produção, eu tendo sempre a buscar alguns frameworks, alguns<br />

métodos para tentar, de alguma forma, projetar, organizar e controlar um pouco melhor o<br />

mundo. Vocês verão que na minha apresentação eu tentarei trazer um modelo de como<br />

essas redes de desenvolvimento, essas redes de inovação, podem ser projetadas e geridas<br />

ao longo de todo o seu ciclo de vida. Para tentar ajustar a encomenda que me foi feita, eu<br />

dei uma enxugada rápida no material, mas para quem me conhece ou já participou de algum<br />

dos meus cursos, essa enxugada significa que ainda ficaram mais de sessenta slides. Isso<br />

significa que temos muita coisa para falar. Eu coloquei alguns slides já com a intenção de<br />

não passar falando, não explicar com detalhes, mas muito para que vocês possam ter o<br />

material e possam consultá­lo em outras ocasiões.<br />

Primeiro, vou falar bem rápido sobre alguns conceitos básicos para que possamos<br />

uniformizar a linguagem, saber o que era dito de redes e como essa discussão está sendo<br />

abordada atualmente. Depois vou falar um pouco sobre algumas motivações para atuação<br />

em redes, especialmente nas redes de desenvolvimento e inovação. Em seguida, falarei<br />

sobre as discussões que estão na moda nessa linha de redes. Muitos de vocês já conhecem<br />

sobre um conceito que atualmente vem sendo muito trabalhado, que é o conceito de<br />

157


inovação aberta. Há outro conceito que também vou comentar e que tem muitos nomes, o<br />

último que saiu foi crowdsourcing, que é o uso das multidões, das massas de colaboração<br />

para gerar um conjunto de inovações, de novos produtos. Essas duas discussões têm uma<br />

relação muito forte com a discussão de propriedade intelectual. A primeira que coloca<br />

propriedade intelectual como algo central na comercialização e na troca entre as várias<br />

empresas que vão interagir. E, na segunda, onde essa questão da propriedade intelectual<br />

passa a ter outro tipo de papel, onde as empresas vão enfrentar um desafio muito grande,<br />

ajustar seus modelos de negócio para que a questão da propriedade intelectual possa ser ali<br />

trabalhada dentro dessas redes de colaboração, com muitas pessoas e clientes.<br />

Vou falar sobres essas duas vertentes e depois vou entrar numa discussão um<br />

pouco mais prescritiva. Vou apresentar a vocês um modelo de como uma rede de inovação,<br />

uma rede de pesquisa, pode ser montada. Esse modelo é fruto de pesquisas que se<br />

iniciaram na Europa, um consórcio entre várias universidades européias, mais aplicações<br />

em centenas de empresas. Esse modelo é muito interessante, porque traz discussões muito<br />

relevantes na hora de se pensar em como montar e gerir uma rede, em especial a visão<br />

dessas redes a partir de uma perspectiva de ciclo de vida. Vocês verão que essa<br />

perspectiva de um ciclo de vida de uma rede será muito relevante para os vários aspectos<br />

que serão geridos. Mostrarei esse modelo e depois falarei de uma aplicação específica, que<br />

na verdade eu generalizei, mas no fundo é um caso onde o roadmap tecnológico passa a<br />

ser usado não só como um instrumento para pensar o futuro, o desenvolvimento, a<br />

perspectiva de evolução de uma determinada tecnologia, mas também passa a ser utilizado<br />

como uma ferramenta de governança de uma rede. Eu não vou citar o nome da empresa<br />

por questões de sigilo, não posso falar explicitamente sobre este caso, então por isso eu<br />

generalizei.<br />

Vamos começar com conceitos bem básicos para uniformizar a linguagem. Peguei<br />

duas rápidas definições que trabalham muito forte a questão de estrutura da rede. Esse<br />

conceito de redes foi, ao longo dos anos, estudado a partir de duas perspectivas. Uma<br />

perspectiva é da economia, que trabalha a questão dos vários atores que estão ali inseridos<br />

e as relações entre esses atores. Essa perspectiva apresenta toda a discussão das teorias<br />

de custo de transação que o pessoal da área de economia vai lembrar. A outra perspectiva<br />

é mais ligada à sociologia. Como ocorre a interação e a relação entre aquelas pessoas? De<br />

um tempo para cá não faz mais sentido estudar as redes a partir de uma ou outra<br />

perspectiva. Isso já começou a ser trabalhado a partir de uma lógica conjunta entre essas<br />

duas idéias. Isso é central em tudo que vamos falar daqui para frente.<br />

Pegando rapidamente dois pontos importantes nessas definições. A rede é muitas<br />

vezes posicionada no meio de um extremo entre duas formas de organização: a de mercado<br />

e a de hierarquia. Nas redes teremos um conjunto de atores, e esses atores terão relações<br />

de troca, que não são como no mercado, onde a relação de troca específica é momentânea.<br />

São relações de prazo mais longo, mas não existe uma autoridade, um poder formal entre<br />

os atores. Essa lógica, que está no meio dessas discussões, precisa ser bem entendida.<br />

Quando estamos falando de rede, temos um conjunto de mecanismos sociais que vão<br />

garantir a relação e a estabilidade daqueles vários atores que estão sendo trabalhados.<br />

Nessa linha, esse entrelaçamento social faz com que, por um lado, eu tenha um conjunto de<br />

motivadores que levam a atuar em rede. Então, se eu tenho uma demanda muito incerta,<br />

relações que não consigo prever antes que aconteçam, se eu tenho ativos específicos<br />

importantes construídos, esses são vários fatores que me levam a atuar em rede. Esse<br />

entrelaçamento social é muito importante, porque vai conseguir desenvolver um conjunto de<br />

mecanismos de controle. Como os vários membros da rede vão combater um<br />

comportamento oportunista? Se alguém dentro daquela rede tem um comportamento<br />

oportunista, como a cultura que está presente naquele conjunto de atores vai responder<br />

158


àquilo? Estou ressaltando bastante essa lógica social, esse aspecto cultural, esse<br />

entrelaçamento necessário na gestão de uma rede.<br />

Além disso, há outras discussões importantes ainda nessa linha teórica. Quando<br />

vocês ouvirem falar de rede, verão que existem diversas formas pela qual alguém se refere,<br />

estrutura ou caracteriza uma determinada rede. No momento em que estivermos falando,<br />

teremos alguma coisa em comum, um conjunto de nós e um conjunto de relacionamentos<br />

entre esses nós. Só que diversos aspectos precisam ser pensados quando objetivamos<br />

montar uma rede. Por exemplo, quais são as características dos atores? Eu quero montar<br />

uma rede com atores que têm o mesmo tipo de característica que eu, ou seja, eu e meus<br />

concorrentes? Ou quero montar uma rede com atores complementares? Ou seja, ninguém<br />

tem o mesmo tipo de conhecimento ou mesmo ativo que eu. São duas redes com<br />

características e lógicas de gestão completamente diferentes. Qual é a força de cada um<br />

desses relacionamentos? Terei relacionamentos mais fracos? Ou seja, vão perdurar por um<br />

determinado período de tempo, mas o tipo de amarração não é muito forte. Qual é o tipo de<br />

mecanismo de coordenação que vou usar? Eu terei algum ator que vai trabalhar a gestão<br />

dessa rede? Esse relacionamento será balanceado? Cada ator fala com todos os outros<br />

atores daquela rede ou cada ator fala apenas com mais um ator? Como se dá esse<br />

relacionamento entre esse conjunto de atores? Qual é o grau de centralização? Ou seja,<br />

tenho um ator que seja predominante em relação aos outros? Todos os atores têm o mesmo<br />

grau de importância, o mesmo grau de poder dentro da rede? Qual é o grau de formalização<br />

da rede? Serão redes verticais ou horizontais? Essas redes terão que tipo de densidade?<br />

Essas redes terão mais flexibilidade? Existe uma série de características que vocês verão<br />

quando estiverem falando conceitualmente sobre redes.<br />

Redes, nos dias de hoje, representam algo bastante complexo. De uma maneira<br />

muito genérica, vamos ouvir falar de rede toda vez que tivermos um conjunto de atores e<br />

esses atores tiverem um conjunto de relações entre si. Isso abre um espectro enorme. No<br />

nosso caso aqui, vamos ficar mais focados em alguns subconjuntos desse universo enorme<br />

de redes. Primeiro, são redes de atores que têm como objetivo central o desenvolvimento de<br />

inovações, de tecnologias.<br />

O que faz com que busquemos atuar em redes de desenvolvimento? Primeiro que<br />

hoje a competição está globalizada. Então, quando você olha e fala que quer atuar na<br />

China, quem será melhor para desenvolver um produto que será direcionado àquele<br />

determinado mercado? Um centro de pesquisa, um pesquisador que está lá, ou alguém dos<br />

Estados Unidos, do Brasil, olhando para aquele mercado sem conhecer muito bem a cultura,<br />

sem conhecer muito bem como funcionam as coisas por lá? Essa globalização faz com que<br />

você precise ter uma capilaridade muito maior do ponto de vista de desenvolvimento, do<br />

ponto de vista de pesquisa.<br />

A explosão do conhecimento. Hoje, por mais que se queira, é impossível fazer tudo<br />

dentro do seu centro de P&D ou dentro de sua organização. É necessário lidar com<br />

conhecimentos que são diferentes daqueles conhecimentos internos à sua empresa.<br />

Imaginem o que era um carro há trinta anos e o que é produzir um carro hoje. Hoje essa<br />

produção passa por nanotecnologia, por eletrônica embarcada de alta complexidade. Lá<br />

atrás esses conhecimentos eram mais restritos à mecânica, portanto era razoável ter aquilo<br />

tudo dentro da minha organização.<br />

A convergência tecnológica. Hoje, até discutir setores começa a ser algo complicado.<br />

O setor de telecomunicações é o quê? Internet, telecomunicações, mídia, conteúdo digital?<br />

Para eu acessar esse conjunto de competências, preciso acionar outros parceiros. Criar<br />

tudo isso dentro da minha única organização será algo que vai exigir comprometimento e vai<br />

levar um tempo muito grande até que eu alcance.<br />

159


A descentralização do conhecimento. Hoje eu não tenho mais locais que<br />

representem a única referência onde os ativos de conhecimento estarão disponíveis. Tenho<br />

infinitos centros de pesquisa distribuídos por todo o mundo. É importante que eu consiga<br />

acessar e acionar esses ativos de conhecimento de diversas maneiras possíveis. Eu vou<br />

falar mais para frente de alguns portais que estão surgindo que acionam diferentes<br />

profissionais, em diferentes empresas, em qualquer lugar do mundo, para resolver<br />

problemas tecnológicos. Isso já começou a ser uma prática utilizada por várias<br />

organizações.<br />

O aumento dos custos de P&D. Fazer P&D hoje fica cada vez mais caro. Se<br />

estivermos pensando hoje na indústria farmacêutica, temos a proporção de a cada dez mil<br />

oportunidades que começam a ser trabalhadas, uma será aprovada pela FDA americana.<br />

US$ 1,2 bilhões é mais ou menos a estimativa de cálculo de custo de desenvolvimento de<br />

uma nova droga no mercado, quinze anos depois. Esses custos começam a ser custos<br />

complicados para uma empresa assumir sozinha. A redução dos ciclos de inovação faz com<br />

que as empresas precisem colocar essas inovações de forma cada vez mais rápida no<br />

mercado.<br />

Outra questão importante é a aceleração da difusão. Você coloca um produto no<br />

mercado, e o tempo que leva para alguém copiá­lo e ter um produto semelhante é muito<br />

menor. Eu estava vendo aquela tela do Iphone. Vocês já viram quantos celulares tem aquela<br />

mesma tela? Hoje todos os outros fabricantes têm produtos muito parecidos. E há quanto<br />

tempo eles lançaram aquilo? Um ano? Ou seja, essa difusão se dá muito rápido. Isso passa<br />

a exigir que as empresas tenham uma lógica de pesquisa e desenvolvimento muito mais<br />

forte.<br />

Se estivermos pensando em como essas empresas têm suas motivações para entrar<br />

em redes de pesquisa e desenvolvimento, há duas questões que são chaves. A primeira,<br />

formalmente, é uma questão crítica. As empresas sempre vão buscar ativos diversos de<br />

conhecimento e redução dos custos de desenvolvimento. Algumas pesquisas mostram que<br />

outras questões chaves para isso. Muitas vezes a questão mais apontada pelos<br />

participantes é que participar da rede coloca você numa posição tal que você consegue ter<br />

uma visão, um sentido de alerta em relação àquele ambiente que lhe permite aproveitar<br />

muito melhor, identificar muito melhor as oportunidades que estão por vir e o que cada um<br />

dos atores está desenvolvendo. Ou seja, ela coloca o indivíduo numa posição em que a sua<br />

visão vai estar muito mais ampla do que se ele estiver atuando isoladamente.<br />

Nessa linha, várias dessas são motivações para que se atue numa rede de<br />

desenvolvimento: o compartilhamento de incertezas; as fertilizações cruzadas, onde<br />

pesquisadores combinam competências, geram novas idéias; a redução do ciclo de<br />

desenvolvimento; o monitoramento de novas oportunidades; a identificação de mudanças no<br />

ambiente tecnológico, regulatório, na necessidade dos consumidores; o compartilhamento<br />

de competências entre as diversas empresas; o acesso a novos mercados e<br />

posicionamentos diferentes nesses novos mercados. São inúmeras motivações para que se<br />

passe a atuar nessa lógica.<br />

Com relação a alguns dados um pouco mais recentes, este é o resultado de uma<br />

pesquisa feita pela IBM. Ela entrevista diversos presidentes e executivos de grandes<br />

empresas. Nesse caso a amostra foi de 765 pessoas. Se vocês olharem a posição de P&D<br />

do centro de pesquisa como fonte de idéias para geração de inovações, reparem que esses<br />

modelos onde as idéias são acessadas externamente passam a ter posições cada vez mais<br />

relevantes. Os parceiros de negócios e os consumidores são atores que vão passar a ter<br />

participação cada vez mais ativa e cada vez mais relevante dentro desse processo, dentro<br />

160


dessa lógica de desenvolvimento de inovações e de tecnologias. Esse tipo de fenômeno<br />

precisa ser observado e as empresas precisam começar a se adaptar a esse tipo de<br />

evolução.<br />

Antes de entrar no framework especificamente, de como pensar e desenvolver uma<br />

rede de pesquisa, eu vou falar de algumas tendências. Eu peguei duas discussões que hoje<br />

são as mais relevantes quando estamos falando de redes, de propriedade intelectual e de<br />

inovação. Essas duas tendências apontam para lógicas diferenciadas de qual é o papel da<br />

propriedade intelectual nessa discussão toda. A primeira delas é a inovação aberta. Levante<br />

a mão quem já é bastante familiar com esse conceito de inovação aberta. Não é muita<br />

gente, e por isso eu vou falar com um pouco mais de calma sobre esse conceito de<br />

inovação aberta.<br />

Esse é um conceito que foi introduzido, teve uma virtude e cunhou um termo muito<br />

interessante: open innovation. É um termo interessante para as empresas se conectarem,<br />

comercializarem suas tecnologias, suas inovações, junto a outros atores. Esse conceito foi<br />

introduzido por um professor da Universidade da Califórnia em Berkeley. O nome dele é<br />

Henry Chesbrough. Esse conceito foi bastante difundido no seu primeiro livro, que é<br />

chamado Open Innovation. Hoje ele já desenvolveu alguns outros livros. A idéia é bastante<br />

interessante. Por trás dessa idéia está uma passagem, uma mudança de modelo das<br />

empresas, do que antes era chamado de modelo de inovação fechada. E o que se entende<br />

por modelo de inovação fechada? Um modelo em que a empresa se sente responsável pelo<br />

desenvolvimento desde a idéia inicial até a colocação daquele desenvolvimento no<br />

mercado. Ela é responsável por todas as fases, desde a pesquisa até a comercialização<br />

daquele determinado produto. Esse modelo era bastante razoável na seguinte lógica. Se<br />

uma empresa colocava um produto novo no mercado, aquilo lhe permitia ganhar um retorno<br />

bastante elevado. Aquele retorno era reinvestido no centro de P&D da empresa. Com esse<br />

reinvestimento a empresa conseguia gerar mais tecnologia. Essas tecnologias seriam a<br />

base para geração de novos produtos, e esses ciclos se tornavam um ciclo virtuoso, ou seja,<br />

mais investimento em P&D significava mais produtos no mercado, mais recursos, um ciclo<br />

que girava de maneira positiva. Só que esse modelo começou a se mostrar não mais muito<br />

razoável. Lá atrás, tínhamos uma receita muito elevada gerada por aquele determinado<br />

produto e um custo de desenvolvimento não tão alto assim. Se fizermos uma conta, um<br />

menos o outro, vemos um saldo bastante positivo na operação. Porém, olhando para esse<br />

modelo fechado, começamos a perceber que dado que um determinado produto tem um<br />

ciclo de vida cada vez mais curto, ele vai gerar cada vez menos receita depois que ele entra<br />

no mercado. Dado que aquele produto se torna cada vez mais complexo de ser<br />

desenvolvido, isso vai custar cada vez mais para desenvolvê­lo. Quando fazemos a mesma<br />

conta, receita menos custo, já começamos a ficar na dúvida se aquilo está danado para<br />

cima ou para baixo. Ou seja, o modelo fechado, dado aquele conjunto de fatores, aquele<br />

conjunto de evoluções que falei agora, começa a se mostrar um modelo não mais tão<br />

razoável assim.<br />

Para onde isso avança? Para a proposição de um modelo chamado de modelo de<br />

inovação aberta. O que é esse modelo de inovação aberta? É um modelo em que as<br />

fronteiras da empresa passam a ser vistas como uma membrana um pouco mais porosa. Ou<br />

seja, eu tenho outras fontes de idéia, outras fontes de tecnologia para desenvolver meus<br />

produtos e colocá­los no mercado, não mais apenas o meu centro de pesquisa. Eu posso ter<br />

tecnologias desenvolvidas externamente, incorporar essas idéias e fazer com que isso<br />

reduza o custo de desenvolvimento, fazer com que isso acelere o tempo de colocação do<br />

produto no mercado. Eu posso aproveitar aquilo que está sendo desenvolvido externamente<br />

e internalizar essas tecnologias, idéias, e com isso aumentar minha eficiência na geração de<br />

inovações e tecnologias lá na outra ponta. Por outro lado, também existe outra vertente.<br />

Algumas tecnologias desenvolvidas podem, para a minha empresa, não fazer sentido para<br />

161


colocação no mercado, porque não tenho canais de distribuição adequados, capacidade de<br />

investimento para terminar o desenvolvimento, ou seja, não tenho outros ativos necessários<br />

para fazer com que aquilo chegue até um estágio de produto. Mas aquela tecnologia não<br />

precisa mais ficar esquecida na prateleira, eu posso usá­la e comercializá­la para que outras<br />

empresas a coloquem no mercado. Isso vai fazer com que, além das receitas da venda dos<br />

produtos do meu core business, eu tenha também receitas relacionadas à comercialização,<br />

aos royalties, aos novos negócios gerados a partir daquelas tecnologias desenvolvidas. A<br />

idéia da inovação aberta tem essas duas perspectivas. A perspectiva de fora para dentro é<br />

quando eu utilizo conhecimentos e tecnologias desenvolvidas externamente. A perspectiva<br />

de dentro para fora é quando eu passo a explorar aqueles ativos de conhecimento como<br />

algo a ser comercializado para outras empresas. Essas alternativas começaram a mudar um<br />

pouco aquela lógica que vimos. Estávamos falando do modelo fechado, onde a receita era<br />

suficiente para pagar todos os custos. Mas agora estamos vendo que quando passamos a<br />

usar o modelo aberto, temos novas fontes de receitas relacionadas às vendas, aos spin­offs<br />

que são gerados a partir daquelas tecnologias, ao licenciamento, aos royalties. Além disso,<br />

eu tenho uma redução do custo de desenvolvimento, porque agora terei um conjunto de<br />

tecnologias que não vou mais precisar desenvolver, vou acessá­las externamente e,<br />

certamente, isso vai reduzir não só meus custos, mas todo o tempo de desenvolvimento.<br />

Essa lógica começou a ser adotada por diversas empresas. O caso mais conhecido<br />

na aplicação dessa discussão de inovação aberta é o caso da Procter & Gamble, que criou<br />

um modelo chamado connected and developed, onde ela passou a olhar para o seu centro<br />

de pesquisa não mais limitado àquele conjunto de pesquisadores que eram funcionários da<br />

empresa. A Procter & Gamble fez algumas estimativas. Para cada cientista existente dentro<br />

da empresa, ela estima que existam duzentos outros pesquisadores de igual capacidade<br />

externamente. Ou seja, têm um milhão e meio de pessoas no mundo externo da<br />

organização que poderiam ser usados para desenvolver produtos e que não estão sendo<br />

utilizados. Como podemos montar algum tipo de modelo de gestão de relacionamento<br />

desses vários pesquisadores para que seja utilizado em próprio benefício? A empresa criou<br />

esse modelo chamado connected and developed. Se vocês repararem, olhem o quantitativo<br />

de patentes que a Procter & Gamble possuía em comparação ao que era utilizado, que era<br />

transformado em algum produto que efetivamente ia para o mercado. Uma taxa muito baixa.<br />

Trouxe aqui algumas figuras do website da Procter & Gamble. Reparem na lógica pela qual<br />

você pode se tornar um parceiro e passar a estar engajado nos desenvolvimentos que a<br />

empresa está fazendo. Ela coloca um conjunto de necessidades que ela tem hoje em<br />

desenvolvimento tecnológico e que qualquer pesquisador pode acessar, podendo assim se<br />

engajar para resolver aquele determinado problema. Se você tiver qualquer idéia que possa<br />

interessar a Procter & Gamble, você pode entrar ali e ofertá­la. O que a empresa lhe dará<br />

em troca? Alguma premiação em dinheiro sobre aquela determinada idéia que você<br />

entregou. Isso aqui é uma das listas de necessidades tecnológicas da empresa. Aqui temos<br />

todas as coisas que ela está procurando, parceiros para desenvolver algo relacionado aos<br />

snacks, alguma coisa relacionada à determinada comida, à escova de dente. Qualquer um<br />

pode acessar e tentar resolver. Isso significa que ela está gerando uma capilaridade do<br />

ponto de vista de quem pode trabalhar e desenvolver tecnologias para ela, que é algo<br />

bastante considerável.<br />

O que esse modelo trouxe como benefício? A Procter & Gamble tem como meta,<br />

dentro de alguns anos, oferecer metade dos produtos por ela colocados no mercado com<br />

algum componente externo. Hoje ela já tem trinta e cinco dos novos produtos tendo algum<br />

componente que veio dessa rede externa. Ela conseguiu uma redução nos investimentos de<br />

P&D de 4,8% das vendas para 3,4%. Calculem quanto é 1,4% de uma empresa que vale<br />

alguns bilhões de dólares. É uma economia considerável, mas mesmo assim ela aumentou<br />

em 60% a produtividade do seu P&D.<br />

162


Um caso interessante que mostra um pouco isso é o caso da batata frita Pringles<br />

Print, que é a batata frita com desenhos, perguntas e respostas. Numa seção de<br />

brainstorming, a equipe de desenvolvimento da procter & Gamble pensou em fazer essa<br />

batata frita, só que não tinha internamente na empresa a competência de como desenvolver<br />

isso, de como fazer com que esse tipo de produto chegasse rápido ao mercado, não tinha<br />

competência para estimar quanto custaria para desenvolver aquilo e não tinha competência<br />

para estimar quanto que aquilo poderia gerar a mais de venda da batata Pringles. A<br />

empresa colocou, então, essa necessidade na rede de prospecção e achou um professor<br />

italiano que tinha uma padaria e já tinha desenvolvido uma tecnologia semelhante.<br />

Licenciaram essa tecnologia do professor. Certamente, eu imagino que o professor tenha<br />

ganhado muito mais dinheiro com royalties pagos pela Procter & Gamble do que com as<br />

vendas dos produtos da padaria dele. Isso começa a ser uma rede que passa a acessar um<br />

conjunto de ativos de conhecimento de forma bastante interessante.<br />

A Procter & Gamble definiu também algumas políticas organizacionais que são<br />

bastante interessantes para a organização desses novos conhecimentos em rede. Hoje se<br />

você desenvolve uma tecnologia que gera uma patente e não é usada em cerca de três<br />

anos, aquilo é automaticamente colocado para ser licenciado para qualquer outra empresa.<br />

Isso gera uma pressão dentro da própria empresa em não desenvolver tecnologias se não<br />

sejam para colocar, de alguma forma, no mercado. Essa pressão faz com que toda a<br />

organização comece a olhar para propriedade intelectual, para patentes, para esses ativos<br />

intangíveis, de maneira diferenciada.<br />

Hoje começam a aparecer diversos atores que estão explorando esse tipo de lógica<br />

de inovação aberta. Este aqui deve ser um dos primeiros e um dos mais conhecidos. É um<br />

portal chamado InnoCentive. Esse portal se propõe a conectar quem está procurando<br />

tecnologia com quem está resolvendo problema tecnológico. Ele tem uma rede de mais de<br />

duzentos mil pesquisadores cadastrados em diversas áreas de competência, e dentro<br />

dessas áreas, vão sendo distribuídos para aqueles vários pesquisadores problemas que se<br />

encaixam nos seus perfis de competência e desenvolvimento. Por exemplo, se chega algo<br />

sobre biologia molecular, o portal sabe todos os pesquisadores que possuem competência<br />

naquilo. Eles enviam algo chamado technology briefing. Obviamente que não é tão simples<br />

como estou falando, existe toda uma consultoria por trás. O portal suporta todo esse<br />

processo, desde a identificação de quem pode resolver, os acordos de confidencialidade,<br />

até a resolução do problema em si. Em cima disso, eles concedem um bônus em dinheiro<br />

para o pesquisador. Reparem no potencial que isso tem, principalmente quem é de NIT.<br />

Como o InnoCentive, hoje existe uma infinidade de portais com esse tipo de proposta. Essa<br />

discussão da inovação aberta já não é tão nova assim, já vem sendo discutida há três ou<br />

quatro anos. É algo que começa a ganhar importância e relevância nas agendas das<br />

empresas.<br />

Outra discussão importante é o que é chamado crowdsourcing. Este nome ainda não<br />

está tão consolidado assim. Existem sinônimos como colaboração em massa. Isso começa<br />

a ser relevante agora. Começam a aparecer iniciativas de atividades de desenvolvimento.<br />

São atividades que envolvem muitas pessoas, e a capacidade de inovação,<br />

desenvolvimento, diversidade de olhares, faz com que aquele determinado produto, aquela<br />

tecnologia, tenha um potencial de evolução muito rápido. Hoje diversas empresas começam<br />

a explorar esse tipo de modelo de negócios. É um fenômeno em que começam a ter vários<br />

livros relacionados a isso. Hoje não existe muito conhecimento disso com rigor acadêmico<br />

maior. A maior parte desses livros é o que chamamos de livros de aeroporto, que você<br />

compra para ler no avião, não tem um rigor científico muito grande, mas são livros que<br />

começam a mostrar como esses fenômenos vêm sendo utilizados. Hoje começam a existir<br />

várias organizações que passam a utilizar isso.<br />

163


Esse é um exemplo de uma mineradora de ouro que tinha um problema que era<br />

achar as localizações a serem exploradas em uma mina que ela possuía. O que ela fez? O<br />

presidente dessa empresa viu uma palestra sobre o Linux quando participou de um curso no<br />

MIT e pensou: por que não fazer a mesma coisa? Ele criou um desafio em que qualquer<br />

geólogo do mundo podia baixar todos os dados geológicos dessa empresa e trabalhar em<br />

cima desses dados para indicar as melhores localizações a serem exploradas. Aquele que<br />

ganhasse receberia US$ 500 mil dólares de prêmio. Para a quantidade de ouro que eles<br />

acharam, essa quantia não é nada, até porque ele colocou centenas de pessoas<br />

trabalhando para resolver aquele problema específico, e o melhor, só pagaria se alguém<br />

resolvesse.<br />

A Netflix é uma locadora que está desbancando a Blockbuster. Ela fez a mesma<br />

coisa, desenvolveu um sistema de recomendações, que funciona da seguinte forma: a<br />

pessoa que alugou tal filme também gostaria de assistir aquele outro filme. Ela abriu esse<br />

código de algoritmo de recomendações. Então, qualquer pessoa que desenvolvesse aquilo<br />

e conseguisse um percentual de otimização ganharia um prêmio em dinheiro.<br />

Como estes exemplos, existem muitos outros exemplos como Wikipedia, Linux,<br />

Creative Commons, diversas comunidades, redes de profissionais que se engajam no<br />

desenvolvimento de produtos. A Lego já desenvolveu muita coisa nessa linha também, em<br />

especial o Lego Mindstorm, em que pessoas fazem programas para os robôs e divulgam na<br />

comunidade. A Doritos fez uma campanha superinteressante, no intervalo do Super Bowl,<br />

que é a final de futebol americano, o tempo de propaganda mais caro que existe no planeta.<br />

As empresas fazem campanhas milionárias para passar nesse intervalo. A Doritos fez uma<br />

promoção que se chamava Crash the Superbowl. Qualquer consumidor da Doritos podia<br />

criar uma propaganda e no final havia uma votação. Aquela propaganda eleita pelo público<br />

seria a propaganda que passaria no intervalo do jogo. A pessoa ganharia um ingresso para<br />

assistir ao jogo de camarote e mais US$ 5 mil, algo que postaria milhões se encomendado a<br />

qualquer agência. O que motiva as pessoas a atuarem nessa lógica? Será que a pessoa<br />

que fez essa propaganda, no dia seguinte, não estaria muito empregada em qualquer<br />

agência de publicidade do mundo? Ou vai abrir a sua própria agência e terá muitos<br />

contratos? Ou seja, existem lógicas e mecanismos de incentivo diferentes para que as<br />

pessoas se engajem nesses processos de desenvolvimento.<br />

Hoje já começam a existir diversas empresas que estão explorando esse tipo de<br />

modelo de negócio, em que a empresa não mais se coloca como a responsável por<br />

desenvolver tudo, mas como responsável por prover a infra­estrutura básica pela qual os<br />

diversos atores, de um lado, vão desenvolver aquilo, e os diversos consumidores, de outro<br />

lado, vão conseguir achar aquilo que eles gostariam. Esse tipo de integração e conexão<br />

entre quem quer ofertar e quem quer comprar passa a ocorrer de uma maneira mais natural<br />

e fácil. Isso tem aplicações em diferentes modelos de negócios.<br />

Estamos falando de um processo em que antes a inovação estava centrada na<br />

empresa, mudando para uma lógica onde esse processo de inovação passa a ser centrado<br />

no usuário. O que eu preciso mudar quanto a isso? Primeiro, tem que tornar aquele<br />

processo de inovar como prazeroso, ou seja, aquele usuário tem prazer em escrever o seu<br />

livro, aquele usuário tem prazer em fazer a sua música. Há uma relação de ganha­ganha na<br />

comunidade. Eu sei que se eu divulgar aquilo que eu conheço lá na Wikipedia, outra pessoa<br />

vai divulgar aquilo que ela conhece. Eu sei que se eu divulgar a melhoria que eu fiz no<br />

Linux, alguma outra pessoa vai divulgar também. No final, toda a comunidade sai ganhando.<br />

A idéia é explorar essa lógica de reconhecimento e projeção junto aos pares. Para dar um<br />

exemplo disso, várias empresas de informática usam um modelo de comunidades de<br />

desenvolvedores que resolvem problemas e aperfeiçoam um determinado sistema. Com<br />

isso, eles ganham uma projeção dentro da comunidade. Imaginem um programa de<br />

164


milhagem. A cada problema que você resolve, você ganha milhas. No final, quando alguém<br />

precisa contratar um daqueles membros da comunidade, aqueles com mais milhas terão um<br />

reconhecimento muito maior que os demais. A Ikea, uma loja muito famosa de móveis dos<br />

Estados Unidos, faz um modelo em que todo ano ela gera um concurso de design, e aquele<br />

design vencedor tem o seu o móvel produzido pela empresa. Esse profissional escolhido<br />

está ganhando reconhecimento.<br />

Nessa linha, algumas questões são muito importantes. Nesse campo do<br />

crowdsourcing, a questão da propriedade intelectual passa a não ser algo tão central. A<br />

maior parte desses usuários abre voluntariamente mão da propriedade intelectual, ou seja,<br />

desenvolvem, fazem suas melhorias e abrem aquilo para toda a comunidade. O potencial de<br />

criação desse tipo de rede é bastante considerável, primeiramente porque existe uma<br />

heterogeneidade muito grande. Pessoas das mais diversas origens, das mais diversas<br />

formações, estarão envolvidas naquele processo de desenvolvimento. Isso faz com que a<br />

capacidade de evolução seja incomparável frente aos modelos tradicionais. Onde está o<br />

desafio? Será que a questão central é realmente como você garante mecanismos de<br />

controle ou se é como pensar novos modelos de negócios que permitirão com que esses<br />

usuários possam contribuir e divulgar suas lógicas, e mesmo com isso eu consiga ter<br />

receitas que interessem àquela determinada organização? Isso é algo que está evoluindo<br />

bastante atualmente.<br />

Hoje existem diferentes empresas explorando esse novo tipo de modelo de negócio.<br />

Esta é uma empresa brasileira. Qualquer designer pode colocar a estampa na comunidade.<br />

Se alguém compra uma camisa com a estampa que você fez, você ganha um percentual da<br />

venda daquela camisa. Isso significa que não é mais a empresa que precisa fazer a<br />

estampa, qualquer um pode fazer e disponibilizar. Essa aqui é a Zupa, uma agência de<br />

publicidade em que as empresas colocam suas demandas de publicidade e qualquer<br />

pessoa do mundo pode entrar e fazer a campanha. A empresa seleciona a melhor<br />

campanha, e com isso a pessoa que fez a proposição terá algum retorno. Neste outro<br />

website, www.lulu.com, qualquer pessoa pode publicar um livro, tem todo o trabalho de<br />

consultoria de como você publica um livro. Qualquer pessoa acha os livros de interesse.<br />

Quem disse que o editor sabe melhor do que eu mesmo qual é o livro me interessa? Antes,<br />

o editor selecionava tudo que ia ou não chegar à mão do público. Hoje eu tenho aqui um<br />

lugar onde qualquer pessoa pode publicar seu livro e qualquer pessoa pode ter acesso<br />

aquele conjunto infinito de livros.<br />

Essas são duas tendências que eu queria ressaltar um pouco, que tem uma relação<br />

direta com essa discussão de redes e tem uma perspectiva interessante do ponto de vista<br />

de como elas estão trabalhando e tratando a propriedade intelectual.<br />

Agora vamos voltar para uma discussão mais conectada àquela idéia inicial e entrar<br />

para algo mais pragmático de como montaríamos uma rede de desenvolvimento. O que<br />

poderia ser um modelo de referência para que pudéssemos coordenar e orquestrar uma<br />

dessas redes? Primeiro eu queria comentar algumas características gerais. Esse modelo<br />

adota a perspectiva de quem vai gerir a rede. Esse é um aspecto central em todo o modelo<br />

que vou mostrar daqui para frente. Depois, ele tem uma perspectiva de ciclo de vida. Que<br />

premissa tem por trás disso? Uma rede é algo que tem características razoavelmente<br />

diferentes à medida que ela evolui no tempo. Ou seja, o estágio inicial exige um conjunto de<br />

preocupações do ponto de vista de quem está gerindo. O estágio em que ela está<br />

estabilizada exige um conjunto diferente de preocupações do ponto de vista de quem está<br />

gerindo. Ou seja, não dá para tentarmos fazer um tipo de modelo pelo qual uma rede será<br />

gerida e não diferenciar os momentos pelos quais aquela rede passa.<br />

165


A outra questão é que essa gestão da rede vai se dar em três níveis. O primeiro é o<br />

da rede em si, eu preciso olhar para a rede e gerar a rede, aquele conjunto de atores e as<br />

relações entre eles. Segundo, quanto às organizações participantes, aquela rede tem um<br />

conjunto de implicações nas organizações de que participam. Então, é importante que essas<br />

organizações adotem um conjunto de questões de gestão que precisam ser olhadas da<br />

perspectiva do gestor da rede, o ambiente e o contexto de operação, que vai estar ao<br />

mesmo tempo influenciando aquela rede e sendo fortemente influenciado por ela.<br />

O que esse modelo vai buscar tratar? Ele está preocupando em selecionar,<br />

combinar, alocar. O quê? Trabalho, reconhecimento, recursos, que vão gerar um conjunto<br />

de benefícios, resultados, problemas em relação a todos esses atores participantes. Com<br />

que ele está fortemente preocupado? Com a diferença entre os atores, uma vez que eles<br />

têm conhecimentos diferentes, históricos diferentes. Ele precisa buscar um ambiente em<br />

que a colaboração possa evoluir. Tal como falei no início, aqueles laços sociais passaram a<br />

ser críticos quando tratamos de rede. Ele deve buscar um alinhamento entre diferentes<br />

perspectivas estratégicas, organizacionais e tecnológicas, de cada uma das firmas<br />

participantes. Esse modelo precisa dar conta desses vários desafios.<br />

Como esse modelo evolui? Ele parte de uma visão dinâmica e é composto por esse<br />

conjunto de seis fases. Uma fase inicial, onde eu preciso pensar que tipo de rede é essa,<br />

quais são seus objetivos e seu escopo, quem são os atores que vão participar. Uma etapa<br />

de configuração, onde efetivamente vou desenhar como aquela rede vai funcionar. Uma<br />

etapa de implantação na qual tudo aquilo que eu projetei precisa ser colocado em prática.<br />

Esta etapa é crítica, porque aquilo que eu projetei e não deu certo precisa ser rapidamente<br />

tratado para que se impeça que problemas aconteçam e inviabilizem a rede como um todo.<br />

A etapa de estabilização é o momento em que a rede começa a ter um modus operandi que<br />

a caracteriza como uma instituição em si. A etapa de transformação é pertinente ao fato de<br />

que essa rede vai evoluir, o ambiente no entorno dessa rede também vai evoluir. E a etapa<br />

de dissolução é aquela que em algum momento faz com que a existência dessa rede não<br />

tenha mais sentido, em algum momento esses atores vão brigar e vão precisar terminar com<br />

essa rede. Todas essas etapas precisam ser consideradas.<br />

Aqui coloquei para vocês um conjunto de questões que são necessárias de serem<br />

respondidas a cada uma dessas fases. Vamos usar isso como um check list. O que eu<br />

preciso fazer nessa fase de iniciação para começar a pensar na rede? Eu já tenho um<br />

escopo definido? Eu tenho um propósito bem delimitado? Quais são as fronteiras? Como ela<br />

vai se relacionar com outras redes? Quais são os critérios para que alguém entre nessa<br />

rede? Quais são as capacitações esperadas daquela rede como um todo? Eu devo ter<br />

atores que garantam que todas aquelas capacitações vão estar cobertas. Qual o grau de<br />

diversidade? Eu quero ter concorrentes dentro da mesma rede? Eu quero fazer uma rede<br />

vertical, onde quem vai estar na rede serão apenas meus fornecedores e quem venha na<br />

minha frente na cadeia? Qual é a minha decisão a respeito disso? Para cada uma dessas<br />

etapas, temos um conjunto de questões que precisam ser respondidas. Essas questões vão<br />

influenciar fortemente em como essa rede vai evoluir ao longo do tempo. Essa fase de<br />

configuração é uma fase crítica, porque precisamos pensar quais são todas as relações que<br />

vão acontecer entre os membros da rede, quais são os mecanismos de incentivo que cada<br />

um desses atores terão para atuar em rede. Aqui vamos ter toda a lógica de governança.<br />

Aqui vamos ter todo o conjunto de regras que vão mover os vários membros naquela rede.<br />

Ponto central e questão chave para esse modelo é que ele parte de uma perspectiva<br />

dinâmica da rede. Outro ponto importante é que eu tenho um conjunto de questões que<br />

preciso discutir quando estou pensando e montando essa rede. Essas questões estão<br />

relacionadas a três grandes blocos. O primeiro diz respeito aos aspectos estratégicos. Qual<br />

a missão da rede? Quais são os objetivos pretendidos ao formar aquele conjunto de atores<br />

166


e os relacionamentos entre eles? Qual é o posicionamento dessa rede? Ela vai fazer que<br />

tipo de atuação? Vai ofertar produto em conjunto no mercado? Vai fazer pesquisa básica?<br />

Quais recursos estarão disponíveis? Serão os atores? Vamos criar ativos compartilhados?<br />

O que cada ator traz para aquela rede? É toda uma lógica do modelo de negócio,<br />

entendendo esse modelo como cada um daqueles atores, o que cada um aporta, quais as<br />

atividades relacionadas, quais os resultados e como aquele conjunto de atividades será<br />

financiado.<br />

Pensada a lógica da estratégia, é importante que se pense como aquela rede será<br />

organizada. Essa organização da rede tem duas vertentes. Uma é a organização formal e a<br />

outra é a organização informal. A organização formal vai influenciar fortemente a maneira<br />

pela qual esses atores se relacionam, qual a divisão do trabalho, qual a tarefa que cada um<br />

exerce, quais os vários papéis que serão realizados, quais as relações que esses atores<br />

terão com os outros membros da rede, quais os processos e fluxos de atividades que ali vão<br />

ocorrer. O ponto de vista informal refere­se a toda a lógica social que vai garantir com que<br />

todos aqueles atores se mantenham entrelaçados. Ou seja, como formo times, como crio<br />

laços sociais entre as pessoas que estão ali trabalhando, como eu seleciono pessoas, como<br />

faço com que as capacitações sejam distribuídas entre os vários atores da rede. Aqui vamos<br />

pensar toda a lógica estrutural de como aquela rede vai funcionar. O terceiro elemento<br />

importante é a lógica pela qual a informação nessa rede será gerida. Quais os recursos de<br />

informação que ali vão existir? Eu tenho os fluxos de informação, os conhecimentos que<br />

estarão disponíveis, quais são abertos, quais são fechados, quem pode acessar qual tipo de<br />

conhecimento. Isso precisa ser definido. Quais são os sistemas que garantirão a transação<br />

dessas várias pessoas, desses vários atores? Qual é a infra­estrutura que vai suportar isso<br />

tudo? Em cima desses três grandes elementos, vai ocorrer todo aquele ciclo de vida de uma<br />

rede. Eu preciso pensar todos esses elementos, evoluindo em cada uma dessas etapas do<br />

ciclo de vida de uma rede. Esse projeto será fundamental para que consigamos olhar para a<br />

rede e garantir que ela esteja evoluindo de forma tal que haja controle e gestão sobre como<br />

isso vai avançar.<br />

Outra questão importante é a perspectiva da organização. Mesmo que estejamos<br />

olhando isso somente pelo ponto de vista de quem está gerindo a rede, é importante que eu<br />

olhe e perceba como essa rede se relaciona com cada uma das organizações individuais<br />

que dali fazem parte. O que essa rede traz para as organizações? Ela traz um conjunto de<br />

impactos e implicações em função dessa empresa estar participando da rede. Por exemplo,<br />

eu preciso garantir como essa empresa acessa aquele conjunto de conhecimentos que está<br />

sendo gerado na rede e internaliza isso. Preciso garantir como essa empresa vai acessar as<br />

tecnologias que estão sendo desenvolvidas e vai integrar isso a sua base de recursos<br />

individual. Eu preciso garantir que essa organização defina o seu posicionamento na rede<br />

de forma tal que ela consiga se relacionar com os outros atores e consiga evitar um conjunto<br />

de conflitos que possam ocorrer. Por outro lado, essa organização terá um conjunto de<br />

influências na rede porque ela vai buscar acesso a novos mercados, redução de riscos, ter<br />

outros tipos de serviços em seu portfólio a partir daquele conhecimento que ela acessou<br />

junto à rede, aumento da eficiência das atividades ali desenvolvidas, acesso a novas<br />

tecnologias e competências. Eu tenho que acompanhar, ao longo da gestão de toda aquela<br />

rede, como cada uma das organizações está sendo influenciada e está influenciando aquela<br />

rede.<br />

O contexto em que essa rede se insere, o ambiente, tem um conjunto de fatores que<br />

vão levar mais ou menos aquelas organizações a buscarem uma associação em rede. Os<br />

fatores gerais são a globalização e as mudanças tecnológicas. Os padrões da indústria<br />

significam que se aquela determinada indústria como um todo está avançando numa<br />

determinada direção, as empresas passam, então, a buscar associações dessa maneira. O<br />

167


governo também define que algum tipo de serviço, algum tipo de tecnologia, tem que ser<br />

trabalhado a partir de uma rede de diversos atores.<br />

Existem condições mais específicas que vão direcionar as organizações a passarem<br />

a atuar nessa lógica de rede. Com isso esse simples frame fica da seguinte maneira. Esse<br />

frame vai ressaltar que a visão de ciclo de vida é fundamental para que se possa implantar e<br />

gerir bem uma rede. Quanto antes você começa a explicitar esse conjunto de questões, o<br />

quanto mais isso puder ser projetado – obviamente, isso nunca é exaustivamente projetado<br />

– menor a chance de geração de conflitos no momento em que aquela rede já estiver em<br />

operação. Descolar a gestão da rede dos atores específicos que estão ali participando e do<br />

contexto em que aquela rede está inserida é ignorar que essa rede muda ao longo do<br />

tempo. Essas várias perspectivas são importantes quando estamos pensando em gerir uma<br />

rede de desenvolvimento, uma rede de inovação.<br />

Vou exemplificar para dar um pouco mais de concretude de como um frame pode ser<br />

implantado e como isso pode ser trabalhado do ponto de vista de uma empresa inserida<br />

numa rede, que é característica por ter uma empresa que orquestra a rede como um todo.<br />

Não poderei citar o nome da empresa, mas é o caso de uma multinacional que usa esse tipo<br />

de mecanismo para acessar pesquisadores em diferentes universidades. Essa empresa<br />

utilizou a ferramenta do roadmap, uma ferramenta muito comum que está sendo trabalhada<br />

como uma ferramenta de planejamento tecnológico, de apoio à prospecção e evolução de<br />

determinadas tecnologias. Ela utilizou essa ferramenta de forma um pouco mais ampla, para<br />

servir como ferramenta de governança da rede que ela queria formar e gerir. Qual é o pano<br />

de fundo dessa empresa para formar essa rede e fazer sua governança? Primeiro está a<br />

alta dinâmica no mercado, em especial uma mudança muito grande do ponto de vista do<br />

que os consumidores querem e a regulação naquele determinado setor. Uma dinâmica<br />

tecnológica muito alta, um setor em que a tecnologia evolui muito rapidamente. Ele buscava<br />

identificar atores e acessar atores que pudessem ter competências complementares ao que<br />

a organização já possuía no desenvolvimento de novas tecnologias e novos produtos. Ela<br />

buscava um mecanismo de aumentar o seu comprometimento à medida que as incertezas<br />

sobre determinadas tecnologias fossem sendo reduzidas. Se uma tecnologia ainda estava<br />

numa maturidade muito inicial, ela preferia investir em financiar pesquisas junto a uma<br />

universidade do que montar um laboratório interno à empresa. Ela queria gerir bem esse<br />

tipo de comprometimento de recurso com a redução de certeza ali relacionada. Quais foram<br />

os objetivos pretendidos com esse tipo de instrumento como lógica de governança da rede?<br />

Primeiro, ela buscava antecipar e monitorar as tendências envolvidas no mercado. Ela<br />

queria acessar conhecimentos de pesquisadores, concorrentes e fornecedores. Ela queria<br />

comunicar e influenciar as trajetórias desejadas para o desenvolvimento tecnológico, ou<br />

seja, mostrar para uma comunidade acadêmica onde ela estava apostando e para onde ela<br />

queria ir do ponto de vista de desenvolvimento de determinadas tecnologias e, com isso,<br />

engajar vários pesquisadores naquele determinado tema. Isso para ajudá­la a formar mão<br />

de obra que, lá na frente, trabalharia para aquela determinada organização, para aquela<br />

determinada tecnologia. Ela queria integrar iniciativas de diferentes atores, gerir o risco a<br />

partir dessa decisão integrada entre quem vai investir em que tipo de tecnologia, em que<br />

momento e como isso se faz na lógica do comprometimento de recursos em investimento<br />

tecnológicos.<br />

O que ela usou para isso? O roadmap tecnológico. O roadmap vai ser o resultado de<br />

um método de planejamento. É um método, por natureza, bastante participativo. Ele tem<br />

como característica importante o fato de que trará pessoas de diferentes perspectivas, e<br />

essas diferentes perspectivas serão integradas ao longo do tempo. Olhar a evolução dessas<br />

tecnologias, mercados, capacitações, processos, produtos ao longo do tempo é uma<br />

questão chave quando estamos falando de um roadmap tecnológico. Uma vantagem muito<br />

grande desses roadmaps é que eles têm um poder de comunicação bastante interessante.<br />

168


Quais os componentes básicos de um roadmap? Ele é dividido em uma estrutura de<br />

camadas, e essas camadas podem ser customizadas de acordo com a necessidade e<br />

intenção da empresa. Ele terá uma estrutura temporal onde cada uma daquelas camadas<br />

será vista ao longo daqueles anos. Essas camadas serão integradas tanto numa lógica<br />

puxada pelo mercado, como numa lógica empurrada pela tecnologia. O que esse<br />

mecanismo traz? Primeiro, uma visão de vários atores sobre como é uma evolução dentro<br />

de uma determinada perspectiva. Segundo, uma necessidade de integração entre essas<br />

perspectivas, ou seja, se eu acho que tem alguma coisa que vai acontecer do ponto de vista<br />

regulatório aqui, como isso vai se desdobrar sob a forma de impacto no meu produto, na<br />

minha tecnologia ou em outros recursos?<br />

Esse tipo de lógica foi usado por essa empresa para criar uma visão de para onde<br />

aquele determinado setor estava evoluindo, ou seja, a partir da participação de diversos<br />

atores desses grupos, foram construídas visões estendidas de para onde aquele<br />

determinado setor estava evoluindo. E, a partir desse tipo de visão, aquela organização<br />

conseguiu fazer uma priorização de iniciativas sobre os tipos de mercados e de negócios ela<br />

queria entrar e quais ela não queria entrar, os projetos de desenvolvimento a serem<br />

desenvolvidos, internamente, junto à universidade, junto a um concorrente. Esses vários<br />

atores passaram a monitorar se aquela perspectiva de evolução estava efetivamente se<br />

confirmando, se as atividades desenvolvidas estavam ou não alinhadas àquela trajetória que<br />

foi traçada do ponto de vista de evolução. Esse instrumento passou a ser o elemento central<br />

pelo qual essa organização se comunicava com aqueles vários atores e traçava a estratégia<br />

de desenvolvimento tecnológico onde iria atuar e a estratégia pela qual ela iria se relacionar<br />

com seus pesquisadores, consumidores, do ponto de vista do desenvolvimento de<br />

tecnologias.<br />

Quais foram os benefícios gerados quando a empresa começou a usar esse<br />

método? Ela começou a assegurar, com mais de confiança, que as tecnologias estariam<br />

desenvolvidas a tempo. Ela passou a identificar e explorar oportunidades a partir da<br />

integração desses vários atores. Integrava, por exemplo, toda a cadeia de fornecimento.<br />

Esse instrumento passou a fornecer suporte à definição de toda a estratégia tecnológica, ao<br />

planejamento de evolução ao longo do tempo e à identificação de algumas necessidades e<br />

alguns gargalos importantes do ponto de vista do mercado. Uma das coisas que essa<br />

empresa percebeu foi que existia uma carência de formação que iria se mostrar daqui a<br />

cinco a dez anos. Isso iniciou todo um movimento de como ela capacitaria um conjunto de<br />

pessoas para atuarem naquele determinado campo lá na frente. A construção de<br />

comunicação entre os diferentes atores e a própria facilidade de comunicação daquele<br />

instrumento permitiram àqueles vários atores passarem a ter uma visão única de como<br />

aquele determinado mercado vai evoluir e servir de base para que aquela rede, com aquele<br />

determinado ambiente, também evolua. Qualquer pesquisador que percebesse uma<br />

tendência que tivesse um impacto no roadmap poderia trazer aquilo para a rede, e as<br />

atividades da rede seriam ajustadas.<br />

Alguns exemplos de roadmaps interessantes. Este roadmap foi feito através de uma<br />

parceria da Universidade de Cambridge e trabalhou o setor de embalagens. Todas essas<br />

tendências do ponto de vista de mercado estão sendo trabalhadas ao longo do tempo. A<br />

população está envelhecendo. Quais são as implicações que isso traz para o meu produto?<br />

Aqui tem toda a cadeia, desde quem está produzindo material até quem está reciclando<br />

aquela determinada embalagem. Como os meus produtos e processos precisam evoluir?<br />

Aqui está esse mapa. A partir dele, é fácil identificar quais atores precisam ser envolvidos e<br />

como realizar a distribuição de tarefas dentro daquela rede. Outro exemplo conhecido é o<br />

roadmap do setor de veículos. Isso aqui foi uma rede coordenada pelo governo. Junto com<br />

vários atores, mais de cento e sessenta organizações, construíram uma visão de para onde<br />

esse setor avançaria na Inglaterra. Com isso, essas tendências definiram um conjunto de<br />

169


metas e, a partir delas, foi definido um conjunto de projetos a serem financiados pelos<br />

fundos do governo para pesquisa e desenvolvimento. Foi uma rede orquestrada pelo próprio<br />

governo, onde todos esses atores se conectaram e usaram esse instrumento como um<br />

mecanismo de identificação de quais eram os gargalos e quais as necessidades a serem<br />

desenvolvidas.<br />

Para terminar, eu gostaria de colocar o que é importante para que isso seja<br />

implementado, para que essa metodologia de rede possa ser desenvolvida. É importante<br />

que se definam, com muita clareza, as áreas de interesse e o escopo de cada um desses<br />

roadmaps. Para onde vai essa visão e o que vai estar ali dentro? Definir os atores a serem<br />

contemplados, se toda a cadeia, se apenas os concorrentes, se apenas a universidade.<br />

Quais tipos de perspectivas eu quero trazer para a construção desse tipo de instrumento?<br />

Promover a construção coletiva do roadmap. Coletivo é uma palavra chave. O poder desse<br />

tipo de instrumento está em se trazer diversidade e integrar as diversidades ao longo do<br />

tempo. Definir o conjunto de iniciativas, metas e prioridades de ação que precisarão de<br />

desenvolvimento dentro daquela rede. E planejar os projetos, os recursos a serem alocados.<br />

Essa lógica é um conjunto de passos para que você possa utilizar esse instrumento<br />

como um mecanismo de governança de uma rede de desenvolvimento. Para isso, é<br />

importante tanto acompanhar a evolução desse ambiente, desse conjunto de iniciativas<br />

desenvolvidas, quanto executar e controlar esse conjunto de tarefas. Obviamente isso tem<br />

que se manter vivo. Ao longo dos anos, tem que se garantir que essa visão continua<br />

valendo, continua sendo atualizada.<br />

Quem quiser mais informação, aqui temos um blog sobre esse assunto que está<br />

sendo razoavelmente atualizado, ou também o meu e­mail para contato. Muito obrigado.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

RICARDO PEREIRA<br />

Achei a apresentação clara e didática, como são, em geral, as apresentações do<br />

Rafael. Seria muito interessante que o pessoal da FINEP estivesse aqui, já que eles estão<br />

estimulando a parceria dos NITs, uns com os outros, sob a forma de redes.<br />

Por estar aqui coordenando esta mesa, eu já queria fazer uma indagação ao Rafael.<br />

Logo no começo, você mencionou que, entre as características de rede, seria possível<br />

encontrar redes verticalizadas e redes mais horizontais. Para mim, como leigo, me parece<br />

que quanto mais horizontal a rede, mais fácil o fluxo de informações, ou mais efetividade ela<br />

consegue nas suas ações. O equilíbrio entre os nós das redes, entre os parceiros, isso faz<br />

algum sentido para uma rede ou você pode ter redes diferenciadas com parceiros grandes,<br />

pequenos e com vários níveis de hierarquização nas decisões? Como isso funcionaria?<br />

RAFAEL CLEMENTE<br />

Isso vai depender muito do propósito pelo qual aquela rede está sendo desenvolvida<br />

e da própria característica desses atores. Se imaginarmos o caso que todos usam para<br />

comentar, a Petrobras. É impossível fazer uma rede onde a Petrobras não tenha uma<br />

preponderância maior em relação aos outros atores colocados naquela rede? Aposto que<br />

vários fornecedores têm todo o interesse de estar numa mesma rede na qual eles possam<br />

170


acessar conhecimento. O que é chave para isso é a forma pela qual aquele determinado<br />

ator vai exercer poder. Existe um estudo muito interessante, de um autor chamado Jeffrey<br />

Dyer, que trata da lógica de como a Toyota gerenciava a sua rede de fornecimento, da qual<br />

participavam outras empresas e a própria Toyota. A General Motors, por exemplo,<br />

gerenciava essa rede. Ali tem algumas indicações muito interessantes do ponto de vista de<br />

como ela desenvolvia a confiança naquela rede. Uma das características que a Toyota<br />

usava para garantir a confiança naquela rede é que se algum fornecedor desenvolvesse um<br />

determinado componente para um veículo, ele tinha um contrato por todo o ciclo de vida<br />

daquele componente daquele determinado veículo. Isso era um mecanismo que estimulava<br />

o fornecedor a se engajar nas ações de desenvolvimento. Em outras montadoras, se a<br />

empresa âncora pedisse para os fornecedores desenvolverem algo, quando um<br />

determinado design era selecionado, ela falava que iria colocar de novo na rede para ver<br />

quem daria o menor preço. Quando isso era feito, os outros atores da rede pensavam: para<br />

que investir no desenvolvimento de algo se aquele ator vai adotar um comportamento<br />

oportunista? Uma questão chave nessa linha é como esses atores vão criar mecanismos de<br />

incentivo para que esses comportamentos oportunistas possam ser evitados. Sem dúvida,<br />

numa rede horizontal, a tendência é ter um fluxo maior de informação. Mesmo assim, ainda<br />

existe uma série de entraves. Isso, do ponto de vista de propriedade intelectual, tem várias<br />

implicações. O conhecimento gerado será dividido como? No momento em que essa<br />

colaboração acabar, quem tem direito ao quê? Com quem fica o nome e o direito de<br />

propriedade? São questões que devem ser definidas à priori.<br />

PLATÉIA<br />

Você tocou num ponto que me parece uma preocupação, não sei qual é a vivência<br />

da situação. Quando você diz que dentro da inovação aberta o pesquisador pode ser<br />

naturalmente procurado diretamente ou pode acessar alguma demanda. Isso é uma questão<br />

muito delicada no caso das universidades públicas, pela relação de trabalho que existe.<br />

Como você jogou a questão, isso suscitou que talvez alguma vivência do seu trabalho<br />

pudesse trazer uma luz nesse sentido, a par de todos os marcos regulatórios, de resoluções<br />

internas, mas como as coisas caminham na prática.<br />

RAFAEL CLEMENTE<br />

Eu lembro uma vez que eu estava dando aula sobre isso, e uma das pessoas que<br />

estava assistindo à aula me disse que tinha recebido um e­mail de um desses portais para<br />

que ela pudesse se inscrever como alguém para resolver problemas. A pessoa ficou super<br />

entusiasmada com isso. Ela não tinha parado para pensar em todas essas questões que<br />

você levantou agora. Eu quis saber quais eram os incentivos, e a pessoa me disse que as<br />

suas competências seriam muito melhor utilizadas. Ela tinha um leque de competências X<br />

em que usava um percentual disso, e ficou entusiasmada com a possibilidade de ter um<br />

desafio diferente. Mas onde ela vai resolver esse problema? Num laboratório público que é<br />

onde ela efetivamente trabalha. Quem vai pagar por aquele desenvolvimento que ela está<br />

fazendo? Ela vai utilizar recurso público para resolver um problema de uma determinada<br />

organização? Isso certamente é um problema, mas eu vejo isso muito mais como algo que<br />

precisa ter um papel de mostrar para o pesquisador que se ele acha que individualmente vai<br />

receber trinta mil dólares de recompensa e será algo muito relevante, isso na lógica geral<br />

pode ser muito mais se ele tiver alguém avaliando efetivamente aquilo que está sendo<br />

desenvolvido por ele, tendo um poder de negociar com competência maior com essa<br />

empresa. Isso não é tão problema das empresas que estão criando esse tipo de<br />

mecanismos, elas estão fazendo isso porque precisam acessar isso e estão criando<br />

soluções para tal, mas isso é muito mais um desafio para que as próprias instituições criem<br />

171


mecanismos de controle que façam com que esses pesquisadores possam identificar que é<br />

melhor ter alguém o representando, uma vez que terá alguém com muito mais competência<br />

para fazer isso do que eu lidando diretamente com uma multinacional. A evolução passa<br />

muito por essa linha. Nesse caso específico da pesquisadora que eu comentei, quando eu<br />

levantei essa questão, ela concordou comigo com o fato de que ela não podia resolver um<br />

problema de uma multinacional dentro de um laboratório público. Mas ela nem tinha dado<br />

conta desse tipo de questão. Acho que tem um papel de informação, convencimento, que<br />

precisa ser feito.<br />

LOURENÇA FRANCISCA DA SILVA<br />

Eu acho que esse tipo de inovação aberta, até pelo próprio livro, é muito mais<br />

desafiante para aluno. É uma ferramenta em que se descobrem novos talentos, Muito mais<br />

do que para um pesquisador empregado, que tem sua atividade cotidiana regular, seja<br />

dentro de um laboratório público ou privado. Para um aluno é uma ferramenta extremamente<br />

instigante. Também, para as empresas, uma parte é inovação aberta, mas aquela<br />

competência tecnológica que é crítica para isso, ela não faz. Eu queria que você abordasse<br />

um pouco mais sobre isso.<br />

RAFAEL CLEMENTE<br />

Essa questão de ser mais interessante para os alunos, pelo que eu tenho<br />

acompanhado, isso tem um espectro bem amplo. Existe uma série de casos de<br />

pesquisadores aposentados que montam laboratórios maravilhosos dentro de casa. O<br />

hobby dele é resolver problema tecnológico. Nesse caso, obviamente, o pesquisador não<br />

tem vínculo empregatício. Já vi casos de alguns professores que passaram alguns desafios<br />

desses como prova, questão, não sei se com intenção de ganhar algo. Nessa questão da<br />

inovação aberta, sem dúvida, existem duas questões que são chaves. Muitas vezes as<br />

pessoas entendem mal o que é fazer inovação aberta. Para conseguir fazer bem inovação<br />

aberta, você tem que ter muita competência de pesquisa interna. Para você identificar que<br />

alguma coisa no ambiente pode ser importante, você tem que conhecer muito daquilo. Só<br />

que isso muda a forma como você enxerga essa responsabilidade. Quando você coloca<br />

uma questão tecnológica nisso, você está explicitando quais são os seus problemas, e<br />

quando você explicita seus problemas, você está divulgando em que está trabalhando.<br />

Nisso, sem dúvida, tem que ser feito um filtro do que está se jogando para fora e o que eu<br />

quero deixar escondido para que nenhum dos meus concorrentes saiba. Isso é um aspecto<br />

crítico. A outra questão é que se deixar de fazer pesquisa interna, em pouco tempo você<br />

não consegue enxergar nada do que está do lado de fora. Isso não é uma alternativa, não é<br />

algo interno ou externo, é aberto ou fechado. É uma distinção importante para se entender<br />

bem o conceito.<br />

CARLOS ALBERTO, UERJ<br />

Em que medida a efetiva implantação da Lei de Inovação, na sua totalidade,<br />

restringe ou aprimora essa questão da inovação aberta? Você vê alguma relação? Em que<br />

sentido essa relação se apresenta?<br />

172


RAFAEL CLEMENTE<br />

Ela só tende a favorecer, na medida em que ela estimula a sair de questões mais<br />

clandestinas, uma série de relacionamentos que antes eram feitos assim, para um canal<br />

formal agora. Eu acho que a lei só cria mecanismos de incentivo para que esses dois lados<br />

possam se aproximar muito mais. Eu vejo isso como passos que tendem a evoluir<br />

positivamente.<br />

173


Parte 4 – Comercialização de Tecnologia no âmbito da Lei de Inovação<br />

Coordenação:<br />

Claudia Canongia – Pesquisadora da Diretoria de Inovação e Tecnologia do INMETRO.<br />

Instrutor:<br />

Lourença Francisca da Silva, Coordenadora de Propriedade Intelectual, CNEN.<br />

CLAU<strong>DIA</strong> CANONGIA<br />

Boa tarde. Daremos início ao grand finale deste mini­curso de valoração e<br />

comercialização de ativos intangíveis, agora na parte 4 com os aspectos da comercialização<br />

da tecnologia diante dos desafios da Lei de Inovação. Gostaria de registrar meu<br />

agradecimento aos parceiros RE<strong>DE</strong>TEC e REPICT pelo convite de coordenação desta<br />

mesa. Sou Claudia Canongia do INMETRO, pesquisadora de gestão da inovação e<br />

prospecção tecnológica. Atuo na Diretoria de Inovação e Tecnologia (DITEC). Hoje tenho a<br />

felicidade de ser brindada com o convite de estar no final deste curso com Lourença<br />

Francisca da Silva. Ela é uma grande colaboradora da REPICT, uma especialista desde<br />

1983 em propriedade intelectual e transferência de tecnologia. Sua formação básica é em<br />

engenharia elétrica pela Universidade Federal de Goiás. Ela tem mestrado em energia<br />

nuclear e pós­graduação em comércio exterior. Hoje ela atua como coordenadora da<br />

propriedade intelectual na Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e já teve atuação<br />

muito forte na própria Agência Nacional do Petróleo (ANP).<br />

Estou, portanto, honrada de estar aqui com Lourença, de forma que ela possa nos<br />

passar toda a sua experiência e conhecimento adquiridos ao longo do tempo. Eu vejo hoje<br />

um grande desafio. A palestra anterior do Rafael nos coloca um modelo de inovação aberta<br />

que está muito calcado em interação e colaboração, e quando se fala em comercialização<br />

de tecnologia, em aproximação de universidades, institutos de pesquisa e empresas, ainda<br />

temos muito a construir sobre as boas práticas dessas relações e governanças para<br />

traçarmos os pontos estratégicos de uma boa comercialização de tecnologia. Vamos<br />

receber carinhosamente Lourença e a sua experiência.<br />

LOURENÇA FRANCISCA DA SILVA<br />

Primeiramente eu queria agradecer à RE<strong>DE</strong>TEC, à REPICT particularmente por mais<br />

uma oportunidade de estar aqui, pelo desafio, e à Claudia Canongia pelas palavras. O meu<br />

desafio é em dobro, primeiramente porque depois de uma apresentação de um jovem como<br />

o Rafael Clemente, e eu fico super feliz pelos novos conhecimentos que ele transmitiu, será<br />

difícil falar de um tema tão árduo. O segundo é que, da mesma forma que ele deu uma idéia<br />

nova, eu levantarei os problemas. Espero que a gente possa formar uma rede de soluções<br />

aqui, porque na Lei de Inovação a temos somente questionamentos e pouca solução. Eu<br />

vou ajudar nessa discussão para tentarmos identificar o que podemos fazer dentro das<br />

nossas instituições. As soluções serão vocês, em rede, que darão. Eu acho que se criarmos<br />

uma rede para responder todas as indagações, o crescimento será muito maior para todos.<br />

Vocês já assistiram a diversas palestras sobre comercialização de tecnologia. Eu não<br />

tenho a pretensão aqui de ensinar nada além. A minha pretensão é justamente passar para<br />

vocês tudo o que já estudei de temas relacionados a comercialização de tecnologia e<br />

colocar os questionamentos relacionados à Lei de Inovação.<br />

174


Para começar, darei uma pincelada no sistema nacional de inovação. Vocês ouviram<br />

muito bem o que Rafael disse sobre o contexto em que a lei se encontra. Não adianta<br />

querer aplicar a Lei de Inovação fora do contexto dela. Ela não é uma lei como o Código<br />

Civil que é geral para a sociedade. Ela é uma lei inserida no contexto nacional. Sobre<br />

tecnologia em si, o que podemos considerar de tecnologias nas nossas ICTs? E o que é<br />

uma abordagem de comercialização de tecnologia, ou seja, o que tem dentro da Lei de<br />

Inovação que é comercialização de tecnologia? O que pode ser considerado<br />

comercialização de tecnologia? Qual é o contexto nacional de inovação onde está inserida a<br />

lei? E qual é esse contexto?<br />

O Brasil tem um grande arcabouço legal, toda a legislação de propriedade<br />

intelectual, com a recente lei sobre topografia do circuito integrado, a lei de inovação federal,<br />

as leis estaduais, muitas delas já aprovadas, que são o rebatimento da lei federal, a Lei do<br />

Bem, dentre outros instrumentos. A maioria das leis estaduais de inovação não apenas<br />

abrangem benefícios para as instituições estaduais, como também abrangem definições de<br />

ICT no âmbito federal e estadual. Por isso que todas as ICTs devem ler suas leis estaduais.<br />

Na relação da Lei de Inovação com a Lei do Bem também existe um casamento. Não<br />

adianta a Lei de Inovação incentivar os doutores nas empresas se a Lei do Bem não<br />

incentivar o investimento em P&D. Todos sabem que a última PINTEC mostrou que o Brasil<br />

avançou, mas ainda é muito pouco o investimento em P&D privado. A recente Política de<br />

Desenvolvimento Produtivo, lançada no final de maio a início de junho, trata das áreas<br />

complementares ao PAC e ao PADCT e ao SIBRATEC. Existe outra medida de incentivo<br />

nas áreas de petróleo, energia elétrica e telecomunicações. Nesse escopo também está<br />

inserida a Lei de Inovação, quer seja estadual, quer seja federal, porque dentro daquele 1%<br />

investimento de energia elétrica, petróleo ou telecomunicações, pode ser criado um novo<br />

produto ou processo.<br />

Aqui eu apresento um desenho sistemático mais adequado do sistema nacional de<br />

ciência, tecnologia e inovação. Eu acho que o mantra é aprendermos como está organizado<br />

o estado nacional, caso contrário, não teremos como aplicar qualquer lei, quanto mais a Lei<br />

de Inovação. Qual é o resultado esperado desse sistema nacional? Mais empregos, mais<br />

patentes – temos uma produção acadêmica grande, mas pouco desenvolvimento, poucos<br />

depósitos de patente – maior valor agregado nos produtos nacionais, principalmente nas<br />

exportações e mais riquezas para a sociedade e para o país. Isso é resultado de anos de<br />

colheita.<br />

Onde esta tecnologia dentro da ICT? A ICT tem um lado tangível e um intangível. O<br />

lado intangível é todo conhecimento e sua forma de apresentação. O intangível representa<br />

P&D, testes, tecnologia, assistência técnica, transferência de tecnologia, instalações, e por<br />

isso que a lei permite o compartilhamento das instalações da ICT, e protótipo. Eu faço uma<br />

ressalva de que todas essas caixinhas deste diagrama se referem a produto, processo e<br />

serviços. Eu assim desenhei porque, por exemplo, software hoje fica entre produto e<br />

serviço. É, na verdade, uma crise de identidades. Todas as tecnologias podem ser ou estar<br />

protegidas por confidencialidade, acordos, direitos autorais, marcas, patentes, desenho<br />

industrial, quase todas as naturezas de propriedade intelectual.<br />

Eu apresento duas abordagens. A visão mais clássica passa por P&D básico,<br />

pesquisa aplicada, avaliação e desenvolvimento de tecnologia, promoção e marketing e<br />

P&D incremental. A outra visão representa o processo de colocação de um produto novo no<br />

mercado e, dessa forma, para por uma visão de comercialização que conta com a<br />

imaginação de como ocorreria a incubação daquela sua idéia, passando pela sua<br />

demonstração, promoção e sustentação. Esses dois lados têm que conversar. Nesse<br />

sentido, a Lei de Inovação tem que fazer a ponte entre a abordagem de P&D linear e a<br />

abordagem mais atual.<br />

175


O que abrange a comercialização de tecnologia? Contratos de licença para usos de<br />

marca, contratos de fornecimento de tecnologia contratos de prestação de serviços técnicos<br />

e contratos de franquia, à averbação do INPI. O INPI fará o registro dos contratos que<br />

implique transferência de tecnologia para que produzam efeitos em relação a terceiros. Em<br />

geral, a averbação ocorre para contratos no exterior, ou seja, quando o contrato vai do<br />

nacional ao estrangeiro. Seria importante que todos os contratos nacionais também fossem<br />

averbados no INPI como forma de contabilizar o fluxo nacional de transferência de<br />

tecnologia. A comercialização de tecnologia ainda abrange os acordos de cooperação<br />

técnica. A Lei de Inovação tem um capitulo sobre acordos e contratos de pesquisa em<br />

movimento, transferência de pessoal qualificado, apresentação em conferências,<br />

consultorias, treinamento de recursos humanos, vendas diretas e convênios.<br />

Para realizar uma comercialização de tecnologia, o que precisamos perguntar como<br />

instituição? Quais são as alternativas para se criar valor naquela tecnologia? Que produto<br />

pode ser gerado? Para quem vender a tecnologia? Para qual segmento? Como será<br />

vendida? E qual é o seu grau de competição? É necessário ter as duas visões, caso<br />

contrário a análise de competitividade da tecnologia, toda aquela teoria de valoração não se<br />

concretiza. Como reconhecer se eu tenho um bom produto ou processo para poder vender?<br />

Essa pergunta é difícil de ser respondida por qualquer empresa. É melhoramento,<br />

aperfeiçoamento complementar ou invenção radical? A grande diferença de um projeto de<br />

P&D e um projeto de construção de uma ponte está nos diversos ajustes, nas adequações,<br />

que devem ser feitas desde a concepção do projeto, por conta de se ter uma multiplicidade<br />

de possibilidades, de resultados, e também a incerteza inerente, que pode simplesmente<br />

fazer resultar em nada. Isso muda o valor da tecnologia. Qual e o conhecimento próprio da<br />

ICT? Muitas vezes usamos o conhecimento de tecnologia ainda protegida, tem 5% de<br />

conhecimento tácito e 10% de tecnologias já patenteadas. Por isso, é importante o<br />

levantamento da informação tecnológica contida em patentes para depois não ser pego de<br />

surpresa.<br />

Quando o conhecimento é novo, com certeza, existe o objetivo defendê­lo com<br />

patente ainda em vigor. É tão radical que não se use nada, mas pode ser usado um novo<br />

material que ainda esteja em validade. A patente tem validade de <strong>20</strong> anos. Você pode usar<br />

uma válvula ou uma conexão que ainda está em vigor. Ou seja, você comprou, mas a<br />

patente ainda está em vigor. Se eu desenvolvi um produto com algo que eu comprei e vou<br />

ganhar dinheiro com aquilo, como se resolve isso? O que realmente é o conhecimento da<br />

ICT? Onde ela está nesse processo? Colocamos esses questionamentos, porque nossas<br />

instituições, principalmente as universidades, são grandes.<br />

Qual é fluxo de informação que existe dentro da ICT para agilizar esse processo?<br />

Pode ser protegida a tecnologia? Há múltiplos inventores ou colaboradores? A lei diz que<br />

pode pagar royalties à equipe envolvida, sendo o mínimo de 5% e o máximo de 1/3. Como<br />

se determina a equipe que participou de determinado projeto para não excluir ninguém?<br />

Houve divulgação pública antes? Qual é o objeto do acordo, convênio ou contrato? Há<br />

alguma disputa entre os envolvidos? Alguns dos envolvidos têm parte no direito de<br />

exploração? Há vários casos em que existe o financiamento de uma agência de fomento. No<br />

passado os contratos diziam que as agências eram detentora da propriedade intelectual,<br />

não só a instituição que era dona. Ela tem direitos de receber royalties, ou mesmo direitos<br />

sobre a propriedade intelectual gerada. É uma oportunidade de licenciamento? Vou licenciar<br />

ou vou vender? Ou seria uma oportunidade de colaboração? É uma oportunidade de uma<br />

empresa incubada ou venture capital? Como se comporta a indústria onde a tecnologia se<br />

insere? Ainda assim é desejável um conhecimento ou uma análise de porte. O NIT deve<br />

estar preparado para fazer essa estimativa, caso contrário ele terá mão de obra, homem­<br />

hora, pessoal, custo da proteção e não vai adiantar. A patente e uma faca de dois gumes,<br />

176


se você protegeu ótimo, mas se você protegeu e não acompanhou, não comercializou, ela<br />

rapidamente cai em desuso. Nesse cenário, por que uma empresa se interessaria em<br />

licenciá­la? Essa é pergunta que tem que ser feita. Que benefício e impactos ela traria?<br />

Quais são os impactos tecnológicos, econômicos e ambientais. O impacto é o efeito do<br />

benefício. Quais são os impactos positivos daquela tecnologia? Quem são os possíveis<br />

parceiros estratégicos? A Lei de Inovação diz que as ICTs podem participar de empresa<br />

minoritariamente para a produção de uma inovação. Todas essas perguntas têm que ser<br />

respondidas antes dede montar uma estratégia de comercialização. Não adianta a ICT sair<br />

com um portfólio de suas patentes, se ela não tiver um pequeno estudo de mercado, um<br />

estudo de vantagens competitivas para uma potencial empresa. A empresa, por princípio,<br />

gera lucro e, portanto, busca ter resultado positivo. A tecnologia deve ser transferida, ao<br />

menos que seja uma situação em que se precise, por exemplo, de uma tecnologia<br />

especifica para aeronáutica. Mesmo assim, vislumbra­se um ganho econômico sobre o uso<br />

dela.<br />

O mapeamento da tecnologia vai ajudar a valorizar a tecnologia. Tem que relacioná­<br />

la com outras famílias de patentes. O mapeamento tecnológico permite analisar as<br />

tendências, determinar como os mercados se comportam no curto e no médio prazo. As<br />

necessidades de desenvolvimento tecnológico para adequação da tecnologia identificam se<br />

a tecnologia é chave, identificam barreiras relacionadas às tecnologias de absorção e<br />

comercialização, identificam os concorrentes. Um exemplo disso seria uma equipe de um<br />

NIT que estivesse fazendo todo um trabalho junto com o pesquisador, e depois se estima o<br />

potencial comercial da tecnologia. Isso é a introdução para dizer na Lei de Inovação.<br />

Qual é o benefício gerado ao se comercializar determinada tecnologia? A ICT tem<br />

que fazer essa analise de benefício, porque como a grande maioria dos investimentos do<br />

país são públicos, isso tem que retornar para a sociedade de alguma forma. Os benefícios<br />

são de caráter tecnológico, disseminação dos resultados de pesquisa, geração de valor,<br />

relações universidade­indústria, reputação institucional e desenvolvimento econômico.<br />

Agora vamos abordar a comercialização e transferência de tecnologia no âmbito da<br />

Lei de Inovação.<br />

Eu tive o privilégio de acompanhar as discussões sobre a lei desde o ano <strong>20</strong>00.<br />

Foram inúmeras discussões até <strong>20</strong>02, e depois de <strong>20</strong>03 foi uma verdadeira correria o<br />

processo de discussão. Com a entrada do governo Lula, retirou­se o projeto de lei, depois<br />

outro foi encaminhado no final de <strong>20</strong>03, início de <strong>20</strong>04. Por isso ela foi aprovada em<br />

dezembro de <strong>20</strong>04. A lei inicialmente contemplava uma série de definições que foram<br />

enxugadas. Eu não vou entrar aqui no mérito do que seja instituição de apoio para legitimar<br />

as fundações, dentre outras questões.<br />

O artigo 4 é algo que todos conhecem, mas cada vez que lemos aparece um novo<br />

questionamento. Compartilhar laboratórios e instalações, por que isso foi colocado? As<br />

empresas brasileiras diziam que era muito difícil ter um departamento de P&D, algo muito<br />

caro, então isso foi colocado para aproveitar. Alem disso, como o Brasil estava com<br />

escassos recursos de P&D tendo em vista naquele momento ainda não existir o volume<br />

atual de fundos setorial, a idéia foi colocar à disposição da indústria a capacitação<br />

tecnológica que existia dentro das universidades. Mas não é fácil fazer isso, a relação<br />

público­privado não é trivial. Portanto, o compartilhamento de laboratórios e instalações da<br />

ICT representa também uma comercialização de tecnologia. É como um aluguel da<br />

capacidade instalada da ICT. Se todos olharem a PINTEC, um dos itens é modernização de<br />

inovação e modernização das instalações. A lei diz: compartilhar os laboratórios com<br />

microempresas e empresas de pequeno porte para incubação. Como se faz isso? E, ao<br />

mesmo tempo, a lei diz que isso deve ocorrer por contrato ou convênio, convênio por conta<br />

177


das incubadoras. Quanto a permitir a utilização, a lei diz que tem que ser mediante<br />

remuneração, prazo determinado, critérios, requisitos, prioridades aprovados, assegurada a<br />

igualdade de oportunidade das empresas e organizações interessadas. Em vez de a ICT<br />

licenciar sua patente por tempo determinado, ela vai licenciar suas instalações. Qual é esse<br />

tempo determinado? E tem que ter na norma da instituição. Quanto vale isso? Quanto a ICT<br />

vai cobrar? São tantas questões e aspectos envolvidos na Lei de Inovação. Por isso eu digo<br />

que vim aqui para levantar os problemas. As soluções serão compartilhadas como soluções<br />

abertas para todos. As regras de compartilhamento e utilização devem passar por uma<br />

ampla divulgação. Mas apenas no website vale? Tem que colocar no jornal? Como se faz<br />

isso? Critérios e condições das regras de compartilhamento: deve­se olhar o objetivo de<br />

uso. Imaginem se uma empresa procura o laboratório de química de uma ICT para fazer<br />

uma arma química. Como fica a instituição pública? Que nível de responsabilidade ela terá<br />

nisso? Quais serviços tecnológicos e testes podem ser realizados? Quantos profissionais<br />

podem atuar? Qual é o ideal? No que diz respeito ao seguro das instalações,<br />

confidencialidade, vai ter participação dos pesquisadores da ICT? Qual vai ser o horário de<br />

uso das instalações? Qual é o material a ser manipulado? Vamos estipular que não pode<br />

usar material explosivo, volátil? O armazenamento temporário do material do interessado.<br />

As nossas instalações já são pequenas para os nossos próprios materiais. Isso tem que<br />

estar no contrato ou convênio do uso das instalações. Por isso que novamente eu digo que<br />

teremos mais problemas do que soluções, na verdade como resolver o que está colocado<br />

aqui, como viabilizar isso dentro da instituição, e se isso é permitido. Eu acredito que grande<br />

parte das universidades, mesmo pelas incubadas, tem que observar isso. A ICT deverá<br />

saber a finalidade do uso das instalações por questão de segurança. O responsável final<br />

pela ICT é o gestor máximo. Sempre temos que ter em mente que o compartilhamento é a<br />

regra agora. Qual seria o prazo ideal que não caracterizaria o monopólio do uso do<br />

laboratório pela empresa? Como sugestão deveríamos fazer o seguinte: cada ICT tem, de<br />

antemão, uma regra abordando tudo isso. As regras para o laboratório de química, por<br />

trabalhar com determinadas coisas de processo, deve ser diferente das regras para o<br />

laboratório de mecânica. Para cada laboratório a regra e o critério da instituição devem ser<br />

distintos. E quais são os laboratórios que serão permitidos a se usar?<br />

O artigo 5, que é outra permissão de comercialização, diz que fica a União e as suas<br />

entidades autorizadas para participar minoritariamente do capital de uma empresa privada<br />

de propósito especifico que vise ao desenvolvimento de projeto científico e tecnológico para<br />

a obtenção de um produto ou processo. A ICT vai fazer a venda direta pela empresa? Ela<br />

poderá receber parte dos lucros? Ela poderá transferir tecnologia para a empresa da qual<br />

ela participa e receber royalties? Tem muita pequena empresa que está certa de que ela<br />

necessita se alavancar. Se há essa brecha, ou melhor, uma possibilidade, por que não<br />

participar? A instituição vai participar como? Com seu orçamento? Mas os orçamentos já<br />

são muito pequenos. Então, como vai ser? Como a ICT vai ser sócia de uma empresa se ela<br />

não tem orçamento suficiente para ela mesma?<br />

O artigo 6 fala exclusivamente em transferência de tecnologia, exclusividade<br />

precedida de publicação de edital e sem exclusividade com contrato direto. Aqui essa<br />

transferência de tecnologia pode ser por contrato de exploração de patente, licenciamento<br />

de patente, contrato de venda da patente. Será que a ICT pode vender a patente? A lei não<br />

esta dizendo que não, ela diz contrato de transferência de tecnologia e licenciamento. O<br />

servidor pode receber de 5% a 1/3 dos royalties, mesmo que a tecnologia não seja<br />

patenteada, porque a interpretação diz que é do criador intelectual, objeto da transferência<br />

de tecnologia. A lei define muito bem os ganhos econômicos como qualquer ganho que a<br />

instituição deve ter, inclusive licenciamento e exploração de patente. Se a ICT transferiu<br />

uma tecnologia, vai sim remunerar o pesquisador de 5% a 1/3, dependendo da regra de<br />

cada ICT. Não é somente quando o pedido de patente é depositado. E a lei ainda diz o<br />

seguinte: quando a ICT transferir tecnologia, a preferência, em caso de empate, é da<br />

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empresa de pequeno porte. É uma forma de valorizar o pequeno segmento. Quanto ao<br />

edital que deve ser publicado, o que contém um edital? O objeto, as regras de contratação.<br />

Para se montar o edital, a ICT tem que saber tudo da área da tecnologia e tem que fazer a<br />

valoração da tecnologia. Prazos, condições para comercialização e objetos de contrato.<br />

Sugerimos que as ICTs criem um ícone em cada website, na página principal, com a oferta<br />

de tecnologia ou a tecnologia disponibilizada, para que as pessoas possam de cara olhar,<br />

porque procurar dentro do website vai ser mais difícil. E qual é o nível de formação sobre<br />

seu produto que você deve fornecer no website? Somente o que está na patente ou<br />

possibilidades? A transferência de tecnologia depende do tipo de contrato, com ou sem<br />

exclusividade, assim como a natureza da PI, a titularidade. As ICTs têm bastante depósitos<br />

de patente com co­titularidade. O estágio do desenvolvimento, os testes operacionais, se é<br />

necessária uma norma técnica, alguma padronização. Tipos de inovação, facilidade de<br />

cópia, teste de validação da inovação, normas restritivas, se uma tecnologia está sujeita a<br />

alguma regulamentação de impacto ambiental. Investimento para implementação de<br />

tecnologia, demanda e tipo de mercado. Depende ainda das definições básicas do projeto,<br />

do sigilo e da proteção, da avaliação econômica e a forma de exploração. Na divisão dos<br />

ganhos, é importante verificar a titularidade, o prazo do contrato, os direitos de<br />

sublicenciamento, o campo de aplicação, a territorialidade do mercado, para avaliar e<br />

calcular a remuneração e a forma de pagamento. Observar o desempenho da empresa ao<br />

longo do tempo é importante também. Transferir tecnologia para uma empresa que já tem<br />

um histórico de mercado é bem diferente que transferir para uma empresa incubada. Neste<br />

último caso, o risco é seu e da incubada. Quanto à empresa, como ela vai ser selecionada?<br />

É necessário olhar a regularização e a legalidade da empresa, sua capacidade técnica, se<br />

ela tem um produto semelhante, se tem recursos humanos, a forma como que ela está<br />

organizada, controle de qualidade, design, canal de distribuição. Não dá para escolher<br />

qualquer empresa, a não ser que seja uma incubada, uma pequena empresa que cujos<br />

riscos têm que ser bem avaliados, dos dois lados. A eterna pergunta: como a ICT pode<br />

buscar a empresa interessada? Ou, como fazer a empresa chegar até a ICT? Estas são as<br />

perguntas que o NIT tem que ajudar a responder. Este ainda é o grande desafio das ICTs e<br />

um dos pontos críticos da Lei de Inovação. Um dos ganhos com a lei foi a preocupação com<br />

a proteção da propriedade intelectual.<br />

O artigo 8 fala da prestação de serviços. Isso é o mais complicado. O que permite<br />

artigo 8? Permite a possibilidade de remunerar o servidor ou empregado público com receita<br />

dos serviços, o que chamamos de remuneração pecuniária. Inclui contratos de prestação de<br />

serviços, de assistência técnica e científica, testes e ensaios aplicados a um novo produto<br />

ou processo. Qual é o limite dessa prestação de serviços voltados à inovação? Observamos<br />

que poucas instituições prestam serviços no âmbito da Lei de Inovação e pagam retribuição<br />

pecuniária. Eu quis caracterizar o contrato de prestação de serviços e assistência técnica.<br />

Eles são contratos que estipulam as condições de obtenção de técnicas, métodos de<br />

planejamento e programação, projetos destinados a execução de serviços especializados.<br />

Aí eu completo: aqueles voltados à inovação. Observar o valor de serviço, isso é<br />

levantamento de custo, de homem­hora, uso de equipamento, matéria­prima, custo<br />

administrativo. Tendemos a ver nos projetos o custo apenas daquele que precisamos para<br />

fazer o projeto, e não aquilo que precisamos a mais da empresa ou da agência de fomento.<br />

O custo do projeto é o custo da instalação onde se tantas horas serão utilizadas. O custo da<br />

equipe é parte do custo do projeto. Qual é o valor da retribuição pecuniária? O outro custo<br />

vai ser tirado do royalty, que e um ganho econômico. Qual é o ganho econômico que<br />

podemos cobrar para retirar retribuição pecuniária? E como vai ser? Devemos pensar nessa<br />

pergunta, porque sabemos que existem grandes instituições que prestam muitos serviços,<br />

mas como se paga essa retribuição pecuniária? Ela pode ser paga pela instituição de apoio.<br />

Num determinado contrato, acho importante colocar o custo total do serviço, feito na forma<br />

de projeto. No custo de uma prestação de serviço entra tudo, encargos, salários, etc.<br />

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O artigo 9 fala sobre os acordos de parceria. O acordo de parceria tecnológica é o<br />

que mais tem sido feito, por ser mais fácil, porque não tem pagar retribuição. Mas aqui tem<br />

que pagar bolsa de estímulo à inovação, tem que ter o nome, a duração, o tempo e a<br />

dedicação do projeto. Quanto à possibilidade de uso da fundação de apoio para pagar a<br />

bolsa, tem que estar previsto no contrato de titularidade a participação dos resultados na<br />

exploração das criações resultantes da parceria, assegurando ao signatário o direito de<br />

licenciamento. Já se parte do princípio o primeiro uso, o direito de quem está participando<br />

do licenciamento na proporção equivalente à parceria, na proporção equivalente ao<br />

montante do valor agregado aos conhecimentos já existentes na parceira dos recursos<br />

humanos, financeiros, materiais alocados pelas partes contratantes. Se existe um projeto,<br />

façam todos os custos dele. A maioria dos acordos de parceria tem plano de trabalho e não<br />

tem forma de projeto, porque é mais fácil na negociação. Para o levantamento dos custos, o<br />

custo da ICT envolve o custo da mão­de­obra da equipe envolvida, o custo do uso das<br />

instalações e equipamento, materiais e insumos já existentes na ICT, o custo das<br />

necessidades físicas do projeto, em geral nesse aqui é onde vai entrar o colaborador, o<br />

custo das bolsas de estímulo à inovação (tem que ter o valor de referência) e as despesas<br />

da fundação de apoio. A tendência das instituições é colocar apenas o que ela precisa. Isso<br />

aqui entra na hora de fazer aquela matriz de contribuição para propriedade intelectual. Não<br />

esqueçam de que até agora vocês não têm o valor da tecnologia e o valor do projeto para<br />

gerar, porque o que se tem é uma tecnologia, uma expectativa de resultado que pode não<br />

dar certo.<br />

Quais são os problemas freqüentes? Não mantemos o sigilo nas negociações, não<br />

assinamos acordo de confidencialidade de antemão, não registramos em atas as<br />

negociações, negociamos sem estarmos preparados, não protegemos bem. Este último<br />

ponto eu destaco, porque analiso vários relatórios de patentes. Para uma tecnologia bem<br />

protegida o valor é outro. Os relatórios têm ficado a desejar. É preciso depositar patente,<br />

mas é preciso depositar da forma adequada. A proteção é fundamental.<br />

Capacitação e competência do NIT. Para mapear o negócio, o NIT tem que investir<br />

em recursos humanos. A comercialização de tecnologia é um negócio do NIT, da ICT.<br />

Portanto, é importante desenvolver mecanismos de identificação e transferência da<br />

tecnologia, desenvolver habilidades da equipe em planejar o ciclo de vida da tecnologia e,<br />

também, ter uma equipe multidisciplinar.<br />

Valoração da tecnologia, condições de fazer estimativas de mercado, estrutura<br />

financeira para acompanhar se as empresas licenciadas estão pagando corretamente, para<br />

avaliar o resultado, para acompanhar o percentual de royalties recebidos, número de<br />

processos envolvidos, dentre outros.<br />

Queria lembrar que a Lei de Inovação tem um propósito, que é gerar riquezas e<br />

empregos, reduzir as desigualdades de classe, aumentar a competitividade dos produtos<br />

nacionais, incentivar o desenvolvimento tecnológico nas ICTs e a sua transferência para o<br />

setor privado, aumentar os bens de propriedade intelectual, incentivar a empresa inovadora<br />

a flexibilizar a gestão das ICTs públicas e gerar confiança e credibilidade. Muito obrigada.<br />

CLAU<strong>DIA</strong> CANONGIA<br />

Eu só tenho a parabenizar e agradecer. Não é à toa que a minha especialização é<br />

em prospecção e visão do futuro. Eu disse no início que seríamos brindados de uma<br />

excelente apresentação da Lourença. Para maximizarmos nosso processo, eu proponho<br />

que, a cada duas perguntas, retornemos à mesa. Peço que cada um se apresente,<br />

180


informando nome e instituição, e formule muito objetivamente a questão para que possamos<br />

atender ao máximo.<br />

<strong>DE</strong>BATE<br />

AYRTON, INPI<br />

Sou examinador de patentes do INPI. Meu comentário a respeito do que você falou<br />

do relatório descritivo das patentes é que vemos com muita freqüência que os pedidos<br />

nacionais são muito mal escrito, não só o pequeno invento, mas também as invenções<br />

geradas dentro das universidades. Os pedidos chegam às nossas mãos com a grande<br />

probabilidade de serem indeferidos, porque são mal descrito e mal reivindicados. Então,<br />

acho que o ponto que a senhora falou a respeito da descrição é muito importante. Eu<br />

gostaria que a senhora comentasse mais sobre isso. Quanto à divisão da lucratividade da<br />

comercialização de algum invento, existe uma divisão que pode ser de até a terça parte para<br />

cada um, para a equipe que está pesquisando da universidade como um todo e para o<br />

órgão de fomento. Não seria isso? Quem negocia isso? Obrigado.<br />

LOURENÇA FRANCISCA DA SILVA<br />

Vou comentar primeiro sobre os relatórios. Eu comecei em propriedade intelectual<br />

escrevendo relatório de patente. Os meus primeiros relatórios, de 1983, eram realmente<br />

vergonhosos, eram muito mal escritos mesmo. Hoje eu vejo que, depois de um<br />

amadurecimento, depois de muita leitura de patentes, o quanto se deixou de proteger.<br />

Escrever patente não é obvio, ainda mais quando se olha num pedido americano, ou mesmo<br />

num pedido alemão, o nível de detalhes solicitado. Eu tenho alertado para isso, porque eu<br />

tenho lido e visto que precisa sim melhorar. Um dos maiores problemas hoje dentro dos<br />

NITs é escrever patente, o que foi identificado até pela FINEP, e um dos treinamentos<br />

financiados pela FINEP para os NITs é justamente o de redação de patente. Eu sempre digo<br />

que o paper abre o conhecimento cientifico e a patente fecha a informação tecnológica. São<br />

completamente diferentes. A patente tem um foco, o paper não. No paper tem que se<br />

justificar tecnicamente para seus pares que aquilo que está se propondo é conceitual e<br />

novo. Eu sempre digo que tem que se fazer uma lista de tudo que é novo no pedido de<br />

patente, no projeto, para depois começar a fazer o relatório. Se você consegue identificar o<br />

que é novo, significa que você já fez uma busca anterioridade. Eu concordo com você, é<br />

fundamental, sem estar bem protegido, o produto se torna fraco para negociar.<br />

O segundo ponto, sobre a divisão de 1/3, a Lei de Inovação diz que tem que ser para<br />

o pesquisador, servidor público, no mínimo 5% e no máximo 1/3, dependendo de cada ICT.<br />

Essa distribuição é regra de cada ICT mediante seu regulamento interno. Tem ICT que pode<br />

dar 10%, por exemplo. A CNEN optou por dar 1/3, e deste, distribuir para a equipe direta no<br />

projeto, ou seja, os inventores diretos e a equipe de apoio, 80% e <strong>20</strong>%, respectivamente.<br />

CLAU<strong>DIA</strong> CANONGIA<br />

Como coordenadora desta mesa, eu tenho uma pergunta que não quer calar sobre<br />

negociação. Qual é a metodologia e quais são os indicadores usados para precificar uma<br />

tecnologia, principalmente com ICTs que trabalham com algo que eu chamo de expectativa<br />

181


de tecnologia? Que critérios ou metodologia, na sua experiência, vêm sendo adotados para<br />

precificar e chegar numa mesa de negociação para fazer transferência ou comercialização?<br />

Não e fácil, por que depende da área da tecnologia, do campo da tecnologia, por que não<br />

existe uma metodologia existem varias, qual e a melhor adotada: se e uma tecnologia<br />

emergente, se uma tecnologia que esta com o ciclo de vida, se uma tecnologia que e de<br />

grande escala, tem um preço. A metodologia de valoração varia muito, por isso que você<br />

tem que fazer todo o mapeamento da tecnologia. Não tem uma regra especifica.<br />

ELISA, INPI<br />

Eu queria apenas complementar um pouco sobre os pedidos de patentes. Sentimos,<br />

como pesquisadores do INPI, uma dificuldade muito grande em conceder uma patente<br />

nacional. Percebemos que o pedido tem invenção, mas muitas vezes o relatório descritivo é<br />

muito sucinto, então não temos a fundamentação necessária para julgar e conceder aquele<br />

pedido. O relatório descritivo deve conter tudo o que você inventou, da forma mais<br />

detalhada e explicada possível.<br />

ALLEGRA, CTEX<br />

Eu gostaria de aproveitar os dois comentários dos colegas do INPI e perguntar se<br />

não teria a possibilidade do INPI abrir uma caixa de diálogo com os inventores, porque<br />

depois que o processo entra, parece que ele entra numa caixa preta, você acaba<br />

dependendo de advogados, muitas vezes você perde os prazos por falta de experiência.<br />

Você comentou que muitas vezes não se têm todos os detalhes. Quando escrevemos a<br />

primeira patente do CTEX há dez anos, nós fomos muito bem orientado. Mas nem sempre é<br />

completo e suficiente. Então, isso acaba sendo muito desestimulante para os inventores.<br />

Estou sendo sincero, o inventor é criticado por todos os lados e fica sem identidade. Está na<br />

hora de abrir esse canal para o inventor poder defender o seu trabalho. Isso seria muito<br />

válido e muito rico. Não sei se seria possível.<br />

LOURENÇA FRANCISCA DA SILVA<br />

Entendo sua preocupação, mas também entendo o lado do INPI. É muito difícil dar<br />

atendimento individual. O que acho é que o INPI poderia ter uma central de atendimento<br />

para tirar dúvidas.<br />

SUELY, INPI<br />

Eu trabalho diretamente com o diretor de patentes, e o meu setor é de atendimento<br />

ao público externo, onde se respondem todos os e­mails da área de patente, qualquer<br />

dúvida sobre o assunto. Quando se têm dúvidas que estão em análise, elas são<br />

encaminhadas para o setor, e a qualquer momento você pode conversar com o técnico<br />

desde que você tenha um encadeamento conosco. Obrigada.<br />

182


PARTE V<br />

PROGRAMA 1º <strong>DIA</strong>:<br />

<strong>20</strong> de outubro SEGUNDA­FEIRA<br />

8h – 9h Credenciamento<br />

9h – 10h Cerimônia de Abertura<br />

RE<strong>DE</strong>TEC/REPICT, INPI, OMPI, ABPI, FINEP, CNPq, FAPERJ,<br />

PETROBRAS<br />

10h – 11h Palestra de Abertura “ Modelos de Inovação em Paises<br />

Desenvolvidos e Orientações para o Brasil” .<br />

Coordenação: Antonio José Junqueira Botelho, Professor do Mestrado<br />

em Metrologia, Qualidade e Inovação e Coordenador de Pesquisa do<br />

NEP Gênesis, PUC­Rio.<br />

Palestrante Especial:<br />

Glauco Arbix, Professor Pesquisador da Universidade de São Paulo<br />

(USP).<br />

[Debate]<br />

11h – 11h30min Coffee­break<br />

11h30min – 13h Painel “ O Impacto da Proteção da Propriedade Intelectual sobre as<br />

Relações com o Mercado e as Decisões de Investimento nas<br />

Empresas”<br />

Coordenação: Gina Paladino, Superintendente da Área de Pequenas<br />

Empresas Inovadoras, FINEP.<br />

Palestrantes:<br />

Maria Tereza Leopardi Mello, Professora do Instituto de Economia,<br />

UFRJ.<br />

José Lavaquial, Gestor do Fundo de Capital Semente Criatec.<br />

[Debate]<br />

13h – 14h ALMOÇO<br />

14h – 16h Mesa­Redonda “ Propriedade Intelectual, Inovação e<br />

Desenvolvimento” .<br />

Coordenação: Guilherme Ary Plonski, Presidente da ANPROTEC.<br />

• A dinâmica da Propriedade Intelectual nos países da América<br />

Latina – Alejandro Roca Campañá, Diretor do Escritório de<br />

Assistência Técnica e Capacitação para América Latina e Caribe,<br />

OMPI.<br />

• O Estado da Arte dos Marcos Regulatórios da Propriedade<br />

Intelectual e Implicações Atuais no Comércio Internacional –<br />

Jorge Ávila, Presidente do INPI.<br />

183


• Propriedade Intelectual e Inovação na Indústria: Como<br />

Empresas podem se beneficiar das Oportunidades – Diana<br />

Jungmann, Gerente de Desenvolvimento Empresarial, IEL.<br />

• A implementação da Agenda para o Desenvolvimento:<br />

Desafios e Oportunidades – Kenneth Félix Haczynski da<br />

Nóbrega, Chefe da Divisão de Propriedade Intelectual do<br />

Itamaraty.<br />

[Debate]<br />

16h30min – 17h Coffee­break<br />

17h – 18h Licenciamento em Cena – Licensing Executive Society (LES) Brasil<br />

As oportunidades de negócio na área tecnológica cresceram<br />

substancialmente com a redução do Estado na economia e a<br />

implementação de uma Política de Inovação Tecnológica baseada na<br />

liberdade de contratação entre empresas e instituições públicas de<br />

pesquisa. Tornou­se assim palavra de ordem o termo “negociação”, o<br />

que exige das partes contratantes um conhecimento mais aprimorado<br />

de técnicas de convencimento e das peculiaridades jurídicas dos<br />

contratos de tecnologia, incluindo o licenciamento e os acordos de P&D.<br />

Dessa forma, será disponibilizado um painel específico para abordar<br />

aspectos jurídicos relevantes à determinação de royalties, exercício de<br />

direitos de contratos tecnológicos e co­propriedade de direitos.<br />

Portanto, esse Painel tem por escopo relevar a importância de um<br />

aprofundamento maior da temática jurídica do licenciamento, para uma<br />

maximização das negociações e exploração tecnológica.<br />

Palestrantes:<br />

Tatiana Campello Lopes – Demarest & Almeida Advogados<br />

José Carlos Vaz e Dias – Di Blasi, Parente, Vaz e Dias & Associados<br />

João Marcelo de Lima Assafim – De Lima Assafim & Advogados<br />

Associados<br />

[Debate]<br />

18h Coquetel<br />

PROGRAMA 2º <strong>DIA</strong>:<br />

21 de outubro TERÇA­FEIRA<br />

8h30min – 12h Como Empresas Sofisticadas Reconhecem e Extraem Valor do<br />

Ativo PI<br />

As empresas inovadoras tomam variadas decisões estratégicas,<br />

necessárias para gerar o maior valor possível a partir dos recursos<br />

existentes. Com a economia cada vez mais baseada no conhecimento,<br />

ferramentas e capacitações avançadas estão crescentemente em<br />

demanda. Além disso, a valoração da propriedade intelectual depende do<br />

contexto em que se insere. Identificar o seu valor requer um entendimento<br />

do uso da PI em questão, assim como de fatores intrínsecos à tecnologia e<br />

ao mercado, como maturidade tecnológica (estágio de desenvolvimento) e<br />

risco tecnológico e comercial. Este tema explorará como a propriedade<br />

intelectual pode ser usada para extrair valor além da cadeia de valor<br />

tradicional da empresa, convertendo os ativos intelectuais em valor<br />

184


[ Debate ]<br />

12h – 13h30min ALMOÇO<br />

financeiro, como o gerenciamento do portfólio de propriedade intelectual<br />

pode gerar diferentes rotas de negócios, de acordo com os objetivos de<br />

negócio e de inovação da empresa, além dos fundamentos da valoração e<br />

precificação, bem como os desafios de se valorar tecnologia, para qual a<br />

percepção do risco é bem mais alta.<br />

Coordenação: Sonia Tuccori, Diretora da ANPEI.<br />

Tópicos:<br />

• Perspectivas sobre Capital Intelectual, Empresa Baseada em<br />

Conhecimento e Propriedade Intelectual<br />

• Como Criar Vantagem Competitiva a partir do Ativo PI<br />

• Otimizando o Retorno sobre Investimento (ROI): A Hierarquia de<br />

Valor da PI<br />

• Possíveis Rotas de Negócios relacionadas ao Valor da PI<br />

• Conceitos e Métodos de Valoração Estabelecidos para<br />

Licenciamento<br />

• Monitoramento de Risco Tecnológico<br />

• Fatores Determinantes na Valoração de Tecnologia: Maturidade<br />

Tecnológica e Risco Comercial<br />

Palestrante: Eusebi Nomen, Diretor da Disciplina de Análise de Ativos<br />

Intangíveis, Universitat Ramón Llull, Espanha.<br />

Debatedores:<br />

Jorge Ávila, Presidente do INPI.<br />

José Fernando Perez, Diretor Presidente da Recepta Biopharma S/A.<br />

Helena Tenório, Chefe do Departamento de Políticas e Programas do<br />

BN<strong>DE</strong>S.<br />

13h30min ­15h30min Mini­cursos em Gestão da Propriedade Intelectual, Transferência<br />

de Tecnologia e Comercialização (Parte 1).<br />

15h30min – 16h Coffee­break<br />

16h – 18h Mini­Cursos (continuação)<br />

PROGRAMA 3º <strong>DIA</strong>:<br />

22 de outubro QUARTA­FEIRA<br />

8h30min 11h30min Formação e Capacitação de profissionais para a área de PI e<br />

Inovação: desafios para a estruturação de programas acadêmicos<br />

e treinamentos gerenciais<br />

A OMPI está desenvolvendo um modelo para elevar a capacidade de<br />

universidades e institutos de pesquisa de países em desenvolvimento de<br />

alavancar o valor de seus resultados de pesquisa através do<br />

gerenciamento estratégico dos seus ativos de propriedade intelectual. No<br />

Brasil, a OMPI vem atuando em parceria com o Instituto Nacional da<br />

Propriedade Industrial (INPI) por meio de diversos seminários e de<br />

programas de capacitação, como o “Successful Technology Licensing”<br />

185


(STL) e o “Patent Drafting”. O objetivo é o apoio à estruturação e<br />

consolidação dos NITs, em especial o treinamento de recursos humanos<br />

sob a forma de cursos, seminários, workshops, estudos de caso e<br />

assistência técnica. Estas atividades focam no desenvolvimento de<br />

estrutura legal e administrativa, na observância de direitos e em políticas<br />

públicas na área de PI. Também se destina às ICTs interessadas no<br />

desenvolvimento de currículos e conteúdos de ensino em PI; no<br />

desenvolvimento de cooperação com outras Redes de PI pelo mundo; e a<br />

organização de conferências e seminários de alta qualidade e inovativos.<br />

Coordenação: Ada Cristina Gonçalves, Analista de Projetos da FINEP e<br />

Coordenadora da REPICT.<br />

Tópicos:<br />

• Globalização e conhecimento: novos campos, novos profissionais<br />

• Educação e inovação: desafios de políticas públicas<br />

• Tipos de competências requeridas para gerentes, formuladores de<br />

políticas, reguladores e negociadores<br />

• Modelos existentes de formação de profissionais para atuarem no<br />

setor de inovação e PI<br />

• Valorização do profissional de PI e inovação<br />

Palestrante:<br />

Maria Beatriz Amorim­Bohrer, Responsável pela Divisão de<br />

Propriedade Intelectual e Novas Tecnologias, OMPI.<br />

Debatedoras:<br />

Ana Célia Castro, Professora e Coordenadora do Projeto<br />

Multidisciplinary Inter­institutional Network on Development Strategies<br />

(MINDS), UFRJ.<br />

Maria Beatriz Bonacelli, Professora do Departamento de Política<br />

Científica e Tecnológica e Coordenadora do Grupo de Estudos sobre<br />

Organização da Pesquisa e da Inovação (GEOPI), UNICAMP.<br />

Rita Pinheiro­Machado, Coordenadora da Academia de Propriedade<br />

Intelectual e Inovação, INPI.<br />

[ Debate ]<br />

11h30min 12h30min Espaço FINEP: Resultados de Avaliação da Implantação de NITs<br />

no Brasil<br />

Apresentação:<br />

Edgar Rocca, Chefe do Departamento de Institutos de Pesquisa, Área<br />

de Institutos Tecnológicos e de Pesquisa, FINEP.<br />

12h30min 13h30min ALMOÇO<br />

13h30min 15h30min Mini­cursos em Gestão da Propriedade Intelectual, Transferência<br />

de Tecnologia e Comercialização. (Parte 2)<br />

15h30min – 16h Coffee­break<br />

16h – 18h Mini­Cursos (continuação)<br />

18h – 18h30min Encerramento<br />

186


PROGRAMA CURSO 1 – Proteção de Tecnologia da Informação nos Estados Unidos e<br />

na Europa<br />

O objetivo é fornecer informações relevantes para o setor de TI em relação à forma de<br />

proteção de Programas de Computador e Serviços de Tecnologia da Informação, em<br />

particular nos EUA e na Europa, tendo em vista que o curso será ministrado por<br />

especialistas do USPTO (Escritório Americano de Patentes) e do EPO (Escritório Europeu<br />

de Patentes). O curso se destina a gestores dos NITs, empresários do setor de TI<br />

interessados no tema “Propriedade Intelectual e Software: Desafios e Perspectivas para<br />

exportar seus serviços e produtos”, e gestores de instituições ligadas ao setor.<br />

Proteção de Tecnologia da Informação nos Estados Unidos – Parte 1<br />

21 de outubro – 13h30min às 18h<br />

Coordenação: Flavio Carazato, Gerente de Relações com Universidades, IBM Brasil.<br />

Tópicos: • O impacto econômico das patentes na indústria norte­americana<br />

de TI<br />

• Diretrizes de proteção de TI nos Estados Unidos: estratégias e<br />

tendências<br />

• Perfil das tecnologias e dos depositantes em TI: identificando<br />

oportunidades<br />

• O modelo comercial norte­americano em TI: como tratar as<br />

controvérsias e evitar litígios<br />

Instrutor: Jeff Siew, Especialista em Patente, United States Patent and<br />

Trademark Office (USPTO).<br />

Invenções Implementadas por Programas de Computador: Patenteabilidade na Europa –<br />

Parte 2<br />

22 de outubro – 13h30min às 18h<br />

Coordenação: Antônio Abrantes, Pesquisador em Propriedade Industrial da Diretoria de<br />

Patentes, INPI.<br />

Tópicos: • O impacto econômico das patentes na indústria européia de TI<br />

• Diretrizes de proteção de TI na Europa: estratégias e tendências<br />

• Perfil das tecnologias e dos depositantes em TI: identificando<br />

oportunidades<br />

• O modelo comercial europeu em TI: como tratar as controvérsias<br />

e evitar litígios<br />

Instrutor: José Santacroce, Diretor, Departamento de Informática,<br />

European Patent Office (EPO).<br />

187


PROGRAMA CURSO 2 – Licenciamento e Comercialização de Tecnologia no Setor de<br />

Energia (em parceria com a PETROBRAS)<br />

Trata­se da realização de um curso em parceria com o CENPES/PETROBRAS, para<br />

subsidiar a articulação entre a empresa e as redes temáticas de pesquisa acadêmica<br />

formadas em função da regulamentação da ANP para os gastos de P&D. Tem como<br />

objetivo trazer uma experiência internacional sobre licenciamento e comercialização de<br />

tecnologia ligados ao setor de energia. Também, pretende­se que seja um espaço de<br />

informação sobre o setor e as formas de relacionamento possíveis entre os produtores de<br />

conhecimento e a Petrobras, em especial os novos modelos de negócios baseados em<br />

conhecimento e de colaboração em P&D.<br />

Licenciamento e Comercialização de Tecnologia no Setor de Energia – Parte 1<br />

21 de outubro – 13h30min às 18h<br />

Coordenação: Fernando Baratelli Junior, Gerente de Propriedade Intelectual,<br />

CENPES/Petrobras.<br />

Tópicos: • Panorama mundial das tecnologias energéticas: uma revisão de<br />

tendências, barreiras e oportunidades de transferência de<br />

tecnologia.<br />

• Estratégias de comercialização: licenciamento, colaboração /<br />

cooperação para pesquisa, joint venture, criação de uma nova<br />

empresa e comercialização própria.<br />

• Desafios e métodos para gerenciar a comercialização bem­<br />

sucedida de uma tecnologia nascente.<br />

Instrutor: Bertram Huber – Chefe de Propriedade Intelectual Corporativa<br />

e Vice­Presidente Sênior, Robert Bosch GmbH, Stuttgart, Alemanha.<br />

Licenciamento e Comercialização de Tecnologia no Setor de Energia – Parte 2<br />

22 de outubro – 13h30min às 18h<br />

Coordenação: Fernando Baratelli Junior, Gerente de Propriedade Intelectual,<br />

CENPES/Petrobras.<br />

Tópicos: • Contratos de desenvolvimento, de pesquisa financiada e de<br />

licenciamento de propriedade intelectual: aplicação e adaptação<br />

de modelos de negócios para colaboração em P&D.<br />

• Pontos fundamentais para a negociação de licenciamento<br />

• Anatomia de um contrato de licenciamento: termos e cláusulas­<br />

chave<br />

Instrutor: Renée Ben­Israel, Vice­Presidente de Propriedade Intelectual,<br />

Companhia de Transferência de Tecnologia da Universidade Hebraica<br />

de Jerusalém (YISSUM).<br />

188


PROGRAMA CURSO 3 – Proteção e Comercialização de Biotecnologia no Brasil e nos<br />

Estados Unidos (em parceria com a Natura)<br />

Trata­se de um mini­curso em parceria com a Natura, para apoiar universidades, empresas,<br />

pesquisadores em biotecnologia e biodiversidade do país e gestores dos NITs sobre os<br />

desafios da biotecnologia, como se estrutura seu sistema de inovação e produção, os<br />

aspectos relacionados à legislação norte­americana e os aspectos técnicos sobre a<br />

elaboração de patentes em áreas específicas do conhecimento biotecnológico. Este curso<br />

será ministrado pela Natura e por especialista do USPTO (Escritório Americano de<br />

Patentes).<br />

O Sistema de Inovação e Produção em Biodiversidade: a visão de uma empresa brasileira<br />

– Parte 1<br />

21 de outubro – 13h30min às 18h<br />

Coordenação: Sandra Toshico Tahara, Pesquisadora em Propriedade Industrial da Diretoria de<br />

Patentes, INPI.<br />

Tópicos: • A cadeia produtiva e inovativa da biotecnologia com foco em<br />

áreas específicas: identificando potenciais parceiros para P&D.<br />

• Políticas e capacidades científicas e tecnológicas para parceiras<br />

de P&D com a Natura.<br />

• Formas de aproximação com a Natura e identificação de<br />

interesses e possíveis relacionamentos.<br />

Instrutor: Sonia Tuccori, Gerente de Gestão de Parcerias e Inovação<br />

Tecnológica, Natura.<br />

Proteção de Biotecnologia nos Estados Unidos – Parte 2<br />

22 de outubro – 13h30min às 18h<br />

Coordenação: Maria Helena Teixeira da Silva Gomes, Coordenadora do Escritório de<br />

Transferência do Conhecimento, UFF.<br />

Tópicos: • O impacto econômico das patentes na indústria norte­americana<br />

de biotecnologia<br />

• Diretrizes de proteção de Biotecnologia nos Estados Unidos:<br />

estratégias e tendências<br />

• Perfil das tecnologias e dos depositantes em Biotecnologia:<br />

identificando oportunidades<br />

Instrutores:<br />

Jeff Siew, Especialista em Patente, United States Patent and Trademark<br />

Office (USPTO).<br />

189


PROGRAMA CURSO 4 – Valoração e Gestão de Intangíveis visando à<br />

Comercialização de Tecnologia<br />

A inovação se dá pela segurança de que, se for incorporada a um produto, terá um valor.<br />

E os direitos de propriedade intelectual representam uma ferramenta crítica para a<br />

geração da inovação. Assim, o respeito à propriedade intelectual é central para que haja<br />

inovação. Inovar requer investimento e gera retorno no longo prazo, porém também<br />

pressupõe risco. Entender como a propriedade intelectual se enquadra no mais amplo<br />

contexto da inovação, passando pela pesquisa, pelo desenvolvimento, até chegar, ao<br />

final, a um produto, processo ou serviço, é fundamental para qualquer organização, seja<br />

pública ou privada. Além disso, é extremamente importante relacionar a PI aos demais<br />

ativos intangíveis da organização, de forma a criar valor e diferencial competitivo e<br />

conquistar resultados sustentáveis. Por último, compreender como a propriedade<br />

intelectual deve ser abordada num ambiente de colaboração de P&D vem sendo<br />

considerado o ponto chave de discussão e crucial para alcançar o equilíbrio entre os<br />

diversos atores do sistema de inovação.<br />

Gerenciamento de Intangíveis como Estratégia de Valoração da Tecnologia – Parte 1<br />

21 de outubro – 13h30min às 15h30min<br />

Coordenação: Shirley Coutinho, Coordenadora do Escritório de Negócios em Propriedade<br />

Intelectual, PUC­Rio.<br />

Tópicos: • O papel dos ativos intangíveis: estabelecendo competências e<br />

estratégia de longo prazo.<br />

• Avaliação qualitativa dos ativos intangíveis: determinando a<br />

capacidade competitiva de uma empresa.<br />

• Modelos de valoração de intangíveis: estudos/cases de<br />

empresas<br />

• Boas práticas em gestão de ativos intangíveis<br />

• Fatores que influenciam a medição do capital intelectual<br />

• Adequando as atividades de gerenciamento de ativos<br />

intangíveis para atingir as necessidades de diferentes<br />

estratégias de negócios.<br />

Instrutor: José Arnaldo Deutscher, Doutor em Engenharia de<br />

Produção – Avaliação de Ativos Intangíveis, COPPE/UFRJ<br />

Gestão Tecnológica visando à Colaboração e Competitividade – Parte 2<br />

21 de outubro – 16h às 18h<br />

Coordenação: Marinilza Bruno de Carvalho, Coordenadora do Programa de Propriedade<br />

Intelectual e Transferência de Tecnologia, UERJ.<br />

Tópicos: • Planejamento de ações para a gestão tecnológica: roadmap<br />

tecnológico, avaliação de impacto econômico, social e<br />

ambiental de novas tecnologias.<br />

• Seleção de oportunidades de inovação: gerenciamento do<br />

portfólio de P&D.<br />

• Inteligência Competitiva: mapeamento de competências para<br />

a identificação de fontes de conhecimento tecnológico,


parcerias tecnológicas e monitoramento tecnológico via<br />

patentes.<br />

• Orientações para apoio à elaboração de carteiras de projetos<br />

e ao seu financiamento<br />

Instrutor: Maria Ester Dal Poz, Pesquisadora do Centro de<br />

Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS), FIOCRUZ.<br />

Gestão de Competências em Rede com Foco em Propriedade Intelectual – Parte 3<br />

22 de outubro – 13h30min às 15h30min<br />

Coordenação: Ricardo Pereira, Coordenador da Agência UFRJ de Inovação.<br />

Tópicos: • Tipologias e Governança de Redes<br />

• As redes de interação universidade­empresa e redes<br />

cooperativas de pesquisa<br />

• A colaboração em rede como modelo predominante para a<br />

realização de P&D e o papel da Propriedade Intelectual<br />

• Otimizando os recursos relacionados à exploração dos ativos<br />

de PI: o modelo em rede.<br />

• Criação e consolidação de uma infra­estrutura de inovação e<br />

PI: convertendo P&D em valor.<br />

Instrutor: Rafael Clemente, Pesquisador da COPPE/UFRJ e<br />

Professor da UERJ.<br />

Comercialização de Tecnologia no âmbito da Lei de Inovação – Parte 4<br />

22 de outubro – 16h às 18h<br />

Coordenação: Claudia Canongia – Pesquisadora da Diretoria de Inovação e Tecnologia do<br />

INMETRO.<br />

Tópicos: • Condições gerais de comercialização de tecnologia;<br />

• O escopo da comercialização de tecnologia: principais<br />

contratos envolvidos<br />

• Aspectos técnicos e particularidades relacionadas aos<br />

diferentes contratos de tecnologia: licença para exploração de<br />

patentes, fornecimento de tecnologia e prestação de serviços<br />

tecnológicos (incluindo assistência técnica);<br />

• Os acordos de colaboração/cooperação técnica e a<br />

abordagem da co­titularidade<br />

Instrutor: Lourença Francisca da Silva, Coordenadora de<br />

Propriedade Intelectual, CNEN.<br />

191

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