DIA 20 DE OUTUBRO - Redetec
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É diferente de hoje, em que os processos são muito mais burocratizados e possuem um viés<br />
típico brasileiro de beneficiar apenas as grandes empresas. Sobre o voucher, perguntamos<br />
a Irlanda e Holanda adotaram a proposta. A resposta foi que eles não têm mais tempo para<br />
“patinar” e têm que agilizar a atuação das empresas de todas as maneiras possíveis. Aqui<br />
no Brasil, enquanto ainda discutimos se é válido investir recurso público nas empresas, os<br />
países que já são inovadores investem ainda mais em inovação. E, com isso, aumentam a<br />
distância que têm conosco. Não se trata de dar dinheiro para as empresas, mas de investir<br />
em tecnologia, em inovação, e obter como retorno mais e melhores empregos, maior<br />
competitividade daquela empresa e da economia. Isso porque a idéia que ao se deflagrar os<br />
processos de geração de conhecimento e os processos de inovação, temse o que se<br />
chama de spillover, um transbordamento de conhecimento para a sociedade, você tem a<br />
capacitação de outras empresas, você tem a qualificação de pessoas, você tem, portanto,<br />
um ganho social superior àquilo que foi investido publicamente. Essa é uma questão chave<br />
que está colocada, e que no Brasil marcamos passo nas universidades, no governo, nas<br />
instituições públicas. É só olhar os entraves existentes para se aplicar a Lei de Inovação. O<br />
artigo que permite a transferência de recursos públicos para a iniciativa privada é<br />
questionado abertamente. Talvez tenhamos até de escrever uma nova lei por conta desse<br />
artigo.<br />
Para terminar a discussão sobre a questão de infraestrutura. A primeira distinção<br />
que apresentei, o primeiro slide é chave. O que se espera do Estado? Se a procura é pelo<br />
conhecimento novo, precisamos de um tipo determinado de infraestrutura. Nos últimos<br />
trinta o Brasil construiu uma estrutura de pósgraduação, uma estrutura de pesquisa, de<br />
competências, que é muito grande. Poucos países no mundo têm o que o Brasil tem. Mas<br />
temos uma dificuldade gigantesca de utilizar, de colocar essas capacidades para<br />
movimentar a economia. Por que se preocupar em movimentar a economia? Porque<br />
precisamos melhorar a qualidade de vida da população, precisamos de melhores empregos,<br />
de renda, para acabar com a miséria e diminuir as desigualdades. Ao pensarmos na<br />
estrutura de geração de conhecimento, teremos necessidade de um tipo de infraestrutura.<br />
Se pensarmos no sistema de inovação, teremos necessidade de outro tipo de infra<br />
estrutura. O Brasil tem pesquisa básica de qualidade. E precisa continuar tendo. Mas o<br />
Brasil também precisa de inovação. E o nosso calcanhar de Aquiles é esse, não o primeiro.<br />
Como ainda há muita confusão sobre esse assunto, as políticas públicas são ambíguas,<br />
quando não, dúbias. O tropeço acontece quando se tenta dançar duas músicas diferentes.<br />
Na última reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, novamente foi<br />
reafirmado o que é um motivo de orgulho para todos nós , que o Brasil está formando<br />
mais de dez mil doutores por ano, que estamos alcançando mais de dois por cento da<br />
produção científica internacional. Tudo isso é relevante. Mas eu não satisfeito com a notícia<br />
de que formamos dez mil doutores por ano e fui olhar mais de perto os dados. O número<br />
geral está correto, mas quarenta e dois por cento dos nossos doutores estão na área de<br />
humanas. Eu sou da área de humanas, sou sociólogo, não tenho nada contra a área de<br />
humanas. Mas tenho certeza que para construir um país e sustentar crescimento,<br />
precisamos de mais engenheiros, físicos, químicos, biólogos. Nós não somos a China, nem<br />
a Coréia do Norte. Não vamos orientar quem vai fazer engenharia ou antropologia, pois<br />
vivemos e queremos um país democrático. Mas temos a obrigação de despertar em todas<br />
as instituições brasileiras o gosto pela ciência, pela matemática, pela física, pela química,<br />
pela engenharia. Se nós não ampliarmos o escopo dos nossos doutores para essas áreas,<br />
estaremos fadados ao fracasso. Os dados da área de engenharia no Brasil dizem que seis<br />
por cento dos graduandos brasileiros são engenheiros, só que ainda existem os arquitetos<br />
dentro dessa estatística. A Coréia tem trinta e dois por cento de engenheiros sendo<br />
formados a cada ano, a China com vinte e seis por cento e o Japão com mais de vinte por<br />
cento. Vivemos num país democrático, por isso temos de fazer debate público. A realidade<br />
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