12.04.2013 Views

O Mulato, de Aluísio de Azevedo Fonte - Canal do Estudante

O Mulato, de Aluísio de Azevedo Fonte - Canal do Estudante

O Mulato, de Aluísio de Azevedo Fonte - Canal do Estudante

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

equebrarem as chandangas na dança!...<br />

— Ah, um bom chicote!... disseram as duas velhas ao mesmo tempo<br />

— E elas dançam direito?... perguntou a <strong>do</strong> Carmo,<br />

— Se dançam!... O serviço é que não sabem fazer a tempo e a horas! Lá para dançar estão sempre<br />

prontas! Nem o João Enxova!<br />

A indgnação secava-lhe a voz.<br />

— Até parecem senhoras, Deus me per<strong>do</strong>e! Todas a se fazerem <strong>de</strong> gente! os negros a darem-lhe<br />

excelência “E porque minha senhora pra cá! Vossa Senhoria pra lá!” E uma pouca vergonha, a senhora neo<br />

imagina!... Uma vez, em que fui espiar um chinfrim, porque me disseram que o meu <strong>de</strong>funto estava lá meti<strong>do</strong>,<br />

fiquei pasma! E o melhor é que os <strong>de</strong>scara<strong>do</strong>s não se tratam pelo nome <strong>de</strong>les tratam-se pelo nome <strong>do</strong>s seus<br />

senhores!... Não sabe Filomeno?... aquele mulato <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte?... Pois a esse só davam “Sr. Presi<strong>de</strong>nte!”<br />

Outros são “Srs. Desembarga<strong>do</strong>res, Doutores, Majores e Coronéis!” Um <strong>de</strong>saforo que <strong>de</strong>veria acabar na<br />

palmatória da polida!<br />

Ana Rosa terminou a sua polca.<br />

— Bravo! Bravo!<br />

— Muito bem, D. Anica!<br />

E estalaram palmas.<br />

— Tocou às mil maravilhas!...<br />

— Não senhor foi uma polca <strong>do</strong> Marinho.<br />

Correram a cumprimentar a pianista. O Freitas profetizou logo “que ali estava um segun<strong>do</strong> Lira!”<br />

Raimun<strong>do</strong> foi o único que não se abalou. Estava fuman<strong>do</strong> à janela, e fuman<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou-se ficar. Ana Rosa,<br />

sem dar a perceber, sentiu por isso uma ligeira <strong>de</strong>cepção. Esforçara-se por tocar bem e ele, nem assim! “Até<br />

parecia não ter nota<strong>do</strong> nada!... E um malcria<strong>do</strong>!” concluiu ela, <strong>de</strong> si para si. E, com uma pontinha <strong>de</strong> mau<br />

humor, assentou-se ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lin<strong>do</strong>ca. Eufrásia correu logo para junto da amiga.<br />

— Que tal o achas?... perguntou em segre<strong>do</strong>, assentan<strong>do</strong>-se, com muito interesse.<br />

— Quem? disse Ana Rosa, fingin<strong>do</strong> distração e franzin<strong>do</strong> o nariz.<br />

A outra indicou misteriosamente a janela com um <strong>do</strong>s polegares.<br />

— Assim, assim...<br />

E a filha <strong>do</strong> negociante fez um bico <strong>de</strong> indiferença. - Nem por isso!...<br />

— Um peixão! opinou Eufrásia com entusiasmo.<br />

— Gentes!... Que é isto, Eufrasinha?...<br />

— É uma tetéia!<br />

E a viúva mordia os beiços.<br />

— Sim, ele neo é feio... tornou Ana Rosa, impacientan<strong>do</strong>-se, Mas também não é lá essas coisas!...<br />

— Que olhos! que cabelos! e que gestos!... olha, olha, menina! como ele brinca com o charuto!... olha<br />

como ele se encosta à gra<strong>de</strong> da janela!... Parece um fidalgo, o diabo <strong>do</strong> homem!...<br />

Ana Rosa, sem <strong>de</strong>sfranzir o nariz enviesada os olhos contra o primo e Sentia melhor <strong>do</strong> que a amiga a<br />

evi<strong>de</strong>ncia <strong>do</strong> que esta lhe dizia. “Raimun<strong>do</strong> era com efeito elegante e bem bonito mas, que diabo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

chegara ainda lhe não tinha dispensa<strong>do</strong> uma única palavra <strong>de</strong> distinção, um só gesto que a especializassem,<br />

quan<strong>do</strong> ali, no entanto, era ela, incontestavelmente a mais chique, a mais simpática, e, além disso - sua prima!<br />

(Ana Rosa pouco ou nada sabia ao certo <strong>do</strong> grau <strong>do</strong> seu parentesco com ele) Não! Não fora correto! Falara-lhe<br />

como às outras, igualmente frio e reserva<strong>do</strong>; não fizera como os rapazes <strong>do</strong> Maranhão, que, mal se<br />

aproximavam <strong>de</strong>la estavam <strong>de</strong>sfeitos em elogios e protestos <strong>de</strong> amor!” Aquela indiferença <strong>de</strong> Raimun<strong>do</strong> <strong>do</strong>ía-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!