passeios culturais. “Na semana passada foram para Olinda, andaram nas ladeiras com um guia turístico explicando sobre a história da cidade. Informação é uma coisa que você tem que passar, eles têm que conhecer a cidade deles, inclusive o lado cultural. Eles vão para o Museu do Estado, Museu da Cidade do Recife, aonde tem cultura a gente está levando”, explica Demetrio. A casa da CPP tem locais para descanso, porque muitos atendidos chegam drogados da rua, e nestes espaços eles se recuperam para as atividades do dia. O banho de manhã e o café reforçado com leite, cuscuz, sopa, macaxeira e inhame trazidos do sítio, também ajudam na recuperação deles. O primeiro andar tem uma área reservada só para as meninas, não tem a presença masculina. “Muitas das nossas meninas, a partir de sete anos já estão na prostituição, elas fazem sexo oral, às vezes por um prato de comida, então lá é um espaço onde elas podem se sentir meninas, mulheres entre elas,” diz Demetrio. Tendo em vista toda desordem emocional que esta rotina de incertezas acarreta, a ONG possui uma equipe de psicólogos que prestam atendimento individual e em grupo, e de assistente social. “Quando os meninos chegam na instituição, nós fazemos uma ficha com eles, procuramos buscar o máximo de informação. A gente explica as regras da casa: não pode entrar com arma, não pode entrar com droga, tem que respeitar os colegas e os educadores, não pode ter violência verbal nem corporal. Eles respeitam estas regras porque isso é trabalhado diariamente e também nas assembléias,” explica a assistente social Silvânia Carrilho. Com as informações repassadas pelas crianças e adolescentes, a equipe da CPP faz uma visita domiciliar para conversar com os pais e tentar resgatar o vínculo da família, mas nem sempre isso é possível. “O principal problema é a violência familiar, porque a base de tudo é a família; muitas vezes quando a gente chega na casa deles, observa o motivo porque estão na rua, existe a questão do alcoolismo, desemprego dos pais, violência masculina contra a mulher, e consequentemente contra as crianças também. Geralmente eles moram em um cubículo com oito, dez pessoas; tem uma cama, às vezes não tem nem fogão. Também existe muito preconceito contra os homossexuais. Quando eles não têm condições de voltar para a família, a gente tenta convencê-los a ir para o abrigo público, mas lá nem sempre oferece a retaguarda necessária”, diz Silvânia. 42 > > novembro Alexandre Albuquerque n Jovens recebem assistência social e psicológica Gilson, mais conhecido como Sabrina, é um dos jovens atendidos no programa. “Eu gosto de fazer arte, eu faço também alfabetização. Da alfa vou para o artesanato, aula de dança, percussão e de cada uma eu participo um pouco. O melhor é que o tempo que a gente está aqui não usa droga, não tem a violência das outras pessoas da rua. Eu vivia roubando muito, tirando muita onda. Depois que eu vim pra CPP resumi as drogas e a violência. O meu sonho é ser educador da ONG.” O trabalho procura englobar o público atendido como cidadãos de fato. “Procuramos cadastrá-los no Programa Bolsa Família, matriculamos na escola, encaminhamos para cursos profissionalizantes, retiramos os documentos deles, porque a maioria ou nunca tirou ou já perdeu. Levamos pro Gouveia de Barros onde é feita a vacinação. Duas vezes por ano eles fazem o teste de HIV. As meninas vão para o ginecologista fazer o preventivo, e as grávidas Alexandre Albuquerque fazem o pré-natal,” explica Demetrio. Apesar de desenvolver um trabalho que seria responsabilidade dos órgãos públicos, a ONG tem que pagar R$ 1.200,00, por mês, de IPTU à prefeitura do Recife, valor que poderia ser revertido para o público atendido na casa. A isenção já foi solicitada, mas ainda não foi concedida. Enquanto os entes públicos abandonam estes meninos e meninas à própria sorte, trabalhos como o da CPP tentam resgatar a dignidade e a esperança perdidas. “Nós queremos que as crianças acreditem que é possível sonhar, que é possível ser criança, que é possível sobreviver sem violência e espancamento”, concluiu Demetrio. n Serviço Comunidade dos Pequenos Profetas End: Rua Imperial, nº 185, São José, Recife-PE Telefone: (81) 3424-7481 e-mail: cppclarion@uol.com.br n Na oficina de arte, meninas aprendem a fazer bonecas de papel machê
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