Edição 32 - Revista Algomais
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Memória Pernambucana<br />
A vida de bailarina,<br />
a dor, o humor<br />
Uma música dos anos 1950, então cantada<br />
por Ângela Maria e, anos depois, por<br />
Elis Regina, já na primeira estrofe desfiava<br />
um drama: Quem descerrar a cortina | Da<br />
vida da bailarina | Há de ver cheio de horror<br />
| Que no fundo do seu peito | Abriga um sonho<br />
desfeito | Ou a desgraça de um amor.<br />
Mesmo com a leveza de cambrés e<br />
entrechats, pois, pode-se concluir que movimentos<br />
tão graciosos como os da bailarina<br />
podem encerrar contradições abissais em<br />
uma espécie de baile mal-amanhado com a<br />
dor, a solidão, o dissabor.<br />
Com os humoristas a dança não tem<br />
sido diferente. Eles fazem rir, sim, sabem levar<br />
platéias às gargalhadas, sim, conquanto<br />
muitas vezes sejam presas de uma incontrastável<br />
tristeza interior.<br />
O pernambucano<br />
Péricles Maranhão ainda<br />
adolescente chegou<br />
ao Rio de Janeiro, trazendo<br />
na bagagem um talento<br />
extraordinário e a disposição de vencer. Em<br />
junho de 1942 começou a trabalhar nos Diários<br />
Associados, onde era o funcionário mais<br />
jovem, e nove meses depois seu primeiro<br />
personagem cômico – Oliveira, o Trapalhão<br />
– já fazia sucesso, divertindo os leitores do<br />
Diário da Noite.<br />
Algo muito maior, no entanto, ainda viria.<br />
O começo foi uma piada.<br />
Conta-se que dois caçadores em plena<br />
floresta começaram a conversar:<br />
− O que você faria se uma onça aparecesse<br />
agora na sua frente?<br />
− Daria um tiro nela.<br />
− E se você não tivesse espingarda?<br />
− Eu a mataria com facão.<br />
− E se você estivesse sem o facão?<br />
− Pegaria um pedaço de pau.<br />
44 > > novembro<br />
− E se não tivesse nenhum<br />
pau por perto?<br />
− Eu subiria na árvore<br />
mais próxima.<br />
− E se não houvesse<br />
árvore?<br />
− Eu sairia correndo.<br />
− E se você estivesse<br />
paralisado pelo medo?<br />
− Afinal de contas,<br />
você é meu amigo ou<br />
amigo da onça?,<br />
perguntou.<br />
Foi inspirado nessa anedota<br />
que nasceu o personagem o Amigo<br />
da Onça, prévio nome de batismo<br />
atribuído por Leão Gondim de Oliveira,<br />
importante dirigente dos Diários<br />
Associados, à figura<br />
que viria a<br />
ser criada pelo<br />
cartunista pernambucano.<br />
Um sucesso<br />
retumbante.<br />
Nascido na<br />
prancheta de Péricles<br />
Maranhão,<br />
o Amigo da Onça estreou no<br />
dia 23 de outubro de 1943 e<br />
se despediu em 3 de fevereiro<br />
de 1962. Foi um reinado de<br />
quase vinte anos em O Cruzeiro,<br />
a maior revista brasileira<br />
da época. Registre-se que se<br />
ainda circulasse nos dias de<br />
hoje provavelmente estaria no<br />
topo, lado a lado com a Veja.