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Política e Gestão da Educação - UFPB Virtual - Universidade ...

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<strong>Política</strong> e <strong>Gestão</strong> <strong>da</strong> <strong>Educação</strong><br />

priva<strong>da</strong> e a segurança jurídica foram os primeiros direitos reconhecidos, proclamados e<br />

protegidos. Ocorre que a educação, apesar de sua enorme importância, só veio incorporar-se a<br />

esse importante grupo com relativo atraso, por meio de um processo lento, ambíguo e<br />

contraditório.<br />

O direito à proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> concepção de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia burguesa,<br />

só poderia ser assegurado se a igual<strong>da</strong>de jurídica, portanto, formal, fosse estendi<strong>da</strong> a todos os<br />

membros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Entretanto, esta igual<strong>da</strong>de formal, numa socie<strong>da</strong>de marca<strong>da</strong> pela<br />

desigual<strong>da</strong>de social e política, torna-se anacrônica e, por vezes, investe contra os que não<br />

possuem os bens materiais. Assim, a força material economicamente dominante é, ao mesmo<br />

tempo, a força social espiritualmente dominante (MARX, 1987). E, na medi<strong>da</strong> em que alguns são<br />

mais iguais do que outros, a educação, nesse contexto, fará também esta distinção entre os<br />

“ci<strong>da</strong>dãos”. A escola constitui, pois, um dos principais elementos dessa dominação espiritual,<br />

sobretudo porque o Estado, hegemonizado pela classe materialmente dominante, procura<br />

implementar sua própria concepção de socie<strong>da</strong>de e educação.<br />

Ocorre que, como mostra Miguel Arroyo (1987, p. 36), a configuração <strong>da</strong> educação<br />

moderna vai se <strong>da</strong>ndo nos conflitos sociais e políticos, “ora como um instrumento de conquista <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> participação e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia (...), ora como um dos mecanismos para controlar e<br />

dosar os graus de liber<strong>da</strong>de, de civilização, de racionali<strong>da</strong>de e de submissão suportáveis pelas<br />

novas formas de produção industrial e pelas novas relações sociais entre os homens”.<br />

Gramsci mostra que o movimento de hegemonia <strong>da</strong> burguesia vai se configurando em<br />

dois pólos: controle ou dominação e direção ou convencimento. Ou seja, ain<strong>da</strong> que se mantenha,<br />

de um lado, o papel coercitivo do Estado, este só é acionado quando o elemento do<br />

convencimento deixa de surtir efeito. Logo, na socie<strong>da</strong>de capitalista moderna, o elemento <strong>da</strong><br />

direção antecipa-se ao elemento <strong>da</strong> dominação. É neste sentido que Gramsci (1987, p. 37) afirma<br />

que “to<strong>da</strong> relação de ‘hegemonia’ é uma relação pe<strong>da</strong>gógica”.<br />

A educação passa, então, a ser incorpora<strong>da</strong> como um espaço de luta, de disputa de<br />

concepções de mundo, de construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia efetiva, de participação social e política e, em<br />

última análise, <strong>da</strong> construção do próprio processo de humanização dos homens e mulheres, que<br />

se dá pelo trabalho, mas que é mediatizado pela compreensão do mundo do trabalho, <strong>da</strong> política,<br />

<strong>da</strong> cultura, etc. A extensão <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de básica, e sua definição como obrigatória, assume,<br />

assim, uma perspectiva de luta contra-hegemônica no contexto <strong>da</strong> atual socie<strong>da</strong>de. A<br />

refuncionalização do conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, ca<strong>da</strong> vez mais integra<strong>da</strong> ao espaço do consumo, não<br />

obscurece o sentido geral que lhe é peculiar; significa tão somente que seu próprio conceito e<br />

apreensão constituem etapa dessa luta pelo controle dos corações e mentes.<br />

Organismos internacionais têm, na atuali<strong>da</strong>de, incentivado reformas educacionais que<br />

caminham no sentido de articular a educação escolar ao novo patamar de acumulação de capital,<br />

denominado, grosso modo, como reestruturação produtiva. Retoma-se, assim, a função<br />

a<strong>da</strong>ptativo-educativo do Estado na qual os ci<strong>da</strong>dãos, ca<strong>da</strong> vez menos definidos em relação aos<br />

direitos sociais, políticos ou econômicos e, mais, em função de suas potenciali<strong>da</strong>des de consumo,<br />

articulam sua inserção no mercado de trabalho a partir de uma suposta capaci<strong>da</strong>de “camaleônica”<br />

de acompanharem as mu<strong>da</strong>nças no mundo do trabalho.<br />

Generalizou-se, pois, um novo conceito explicativo <strong>da</strong> situação de exclusão de grandes<br />

parcelas <strong>da</strong> população do mercado de trabalho (e, em consequência, dos bens de consumo reais<br />

ou imaginários): a empregabili<strong>da</strong>de. Note-se que, muito além de uma mera capaci<strong>da</strong>de físicointelectual,<br />

este conceito resulta em uma nova filosofia do trabalho social. Ao trabalho humano,

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