14.04.2013 Views

abordagem humanista.pdf - Unijuí

abordagem humanista.pdf - Unijuí

abordagem humanista.pdf - Unijuí

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ<br />

VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG<br />

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA ADMINISTRAÇÃO – DEAd<br />

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD<br />

Coleção Educação a Distância<br />

Série Livro-Texto<br />

Marivane da Silva<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS:<br />

Abordagem Humanista<br />

Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil<br />

2009<br />

1


EaD Marivane da Silva<br />

2<br />

© 2009, Editora <strong>Unijuí</strong><br />

Rua do Comércio, 1364<br />

98700-000 - Ijuí - RS - Brasil<br />

Fone: (0__55) 3332-0217<br />

Fax: (0__55) 3332-0216<br />

E-mail: editora@unijui.edu.br<br />

www.editoraunijui.com.br<br />

Editor: Gilmar Antonio Bedin<br />

Editor-adjunto: Joel Corso<br />

Capa: Elias Ricardo Schüssler<br />

Designer Educacional: Liane Dal Molin Wissmann<br />

Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:<br />

Editora <strong>Unijuí</strong> da Universidade Regional do Noroeste<br />

do Estado do Rio Grande do Sul (<strong>Unijuí</strong>; Ijuí, RS, Brasil)<br />

Catalogação na Publicação:<br />

Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – <strong>Unijuí</strong><br />

S586e Silva, Marivane da.<br />

Estudos organizacionais : <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong> /<br />

Marivane da Silva. – Ijuí : Ed. <strong>Unijuí</strong>, 2009. – 122 p. –<br />

(Coleção educação a distância. Série livro-texto).<br />

ISBN 978-85-7429-819-1<br />

1. Administração. 2. Organizações. 3. Comportamento<br />

humano. 4. Paradigma <strong>humanista</strong>. 5. Desenvolvimento<br />

organizacional. I. Título. II. Título: Abordagem <strong>humanista</strong>.<br />

III. Série.<br />

CDU : 658<br />

658.3


Sumário<br />

Sumário<br />

EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

CONHECENDO A PROFESSORA...............................................................................................5<br />

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................7<br />

UNIDADE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DO PARADIGMA HUMANISTA .............................9<br />

Seção 1.1 – Retrospectiva do Paradigma Estrutural<br />

e Apresentação do Paradigma Humanista ........................................................... 10<br />

Seção 1.2 – Contexto Social da Época ...................................................................................... 22<br />

Seção 1.3 – Críticas aos Tecnicistas ........................................................................................... 24<br />

Seção 1.4 – Desenvolvimento: um olhar para o desenvolvimento humano ......................... 25<br />

UNIDADE 2 – PARADIGMA HUMANISTA ............................................................................. 27<br />

Seção 2.1 – Origem do Paradigma Humanista ......................................................................... 28<br />

Seção 2.2 – Contribuições dos Teóricos ao Paradigma Humanista....................................... 34<br />

Seção 2.3 – Críticas Gerais ao Paradigma Humanista ............................................................ 38<br />

Seção 2.4 – Teorias de Transição ................................................................................................ 40<br />

UNIDADE 3 – PARADIGMA COMPORTAMENTAL .............................................................. 43<br />

Seção 3.1 – Origem do Paradigma Comportamental ............................................................... 43<br />

Seção 3.2 – Contribuições do Paradigma Comportamental ................................................... 45<br />

Seção 3.3 – Críticas ao Paradigma Comportamental .............................................................. 49<br />

UNIDADE 4 – TEMAS DECORRENTES DO PARADIGMA COMPORTAMENTAL........ 51<br />

Seção 4.1 – O Indivíduo nas Diferentes Abordagens da Gestão............................................ 51<br />

Seção 4.2 – Grupo e Equipe ........................................................................................................ 61<br />

Seção 4.3 – Motivação ................................................................................................................. 67<br />

Seção 4.4 – Comunicação............................................................................................................ 78<br />

Seção 4.5 – Liderança, Poder e Autoridade ............................................................................... 83<br />

Seção 4.6 – Conflitos e Negociação ........................................................................................... 87<br />

3


EaD Marivane da Silva<br />

4<br />

UNIDADE 5 – DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL .................................................99<br />

Seção 5.1 – Origem, Conceitos, Pressupostos, Técnicas e Modelo de DO ...........................99<br />

Seção 5.2 – Apreciação Crítica do D.O ................................................................................... 110<br />

Seção 5.3 – Ressignificação do Trabalho e da Gestão ........................................................... 111<br />

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 119


Conhecendo Conhecendo a a Professora<br />

Professora<br />

EaD<br />

MARIVANE DA SILVA<br />

Natural de Jóia/RS, tenho 34 anos e moro em Ijuí desde 1989,<br />

quando concluí o primeiro grau. O segundo grau cursei na Escola<br />

Estadual de 2º grau Ruy Barbosa.<br />

Em 1993 ingressei na Universidade Regional do Noroeste do<br />

Estado do RS – <strong>Unijuí</strong> para cursar Administração de Empresas.<br />

Iniciei minhas atividades profissionais na <strong>Unijuí</strong>, em 1994,<br />

como técnico-administrativo e de apoio no Departamento de Es-<br />

tudos da Administração, atuando na área administrativa.<br />

Em 1998 cursei minha Pós-Graduação lato sensu em<br />

Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas, modalidade a dis-<br />

tância, na Universidade Federal de Lavras – Ufla/MG. Foi uma<br />

experiência única em termos de metodologia, aprendizado e socia-<br />

lização de experiências com uma grande diversidade de profissio-<br />

nais, que buscam agregar conhecimentos pela integração<br />

multidisciplinar.<br />

A partir de 2000 tive a oportunidade de participar do Conse-<br />

lho Regional de Administração – CRA/RS e decidi pela filiação. A<br />

partir deste período também integrei a discussão realizada na As-<br />

sociação dos Bacharéis em Administração de Ijuí (Abaí/RS).<br />

Em 2002 fiz concurso para docente colaborador horista ao<br />

Departamento de Estudos de Administração, tendo minha inser-<br />

ção acadêmica no curso de Administração da <strong>Unijuí</strong>, com atuação<br />

nas áreas de Estágios e Teorias da Administração.<br />

Ingressei no Mestrado em Desenvolvimento da <strong>Unijuí</strong> em<br />

2005, no qual a dissertação intitulada “O egresso como parceiro<br />

institucional numa Universidade Regional: o caso da <strong>Unijuí</strong>” tra-<br />

tou da relação universidade – sociedade, com a obtenção do título<br />

de mestre em Desenvolvimento em 2007.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

5


EaD Marivane da Silva<br />

6<br />

Minha experiência administrativa consolidada na Pós-Gra-<br />

duação do Departamento de Estudos da Administração (DEAd)<br />

habilitou assumir o cargo de assessora da Vice-Reitoria de Pós-<br />

Graduação, Pesquisa e Extensão (VRPGE), em 2005.<br />

Em 2006 assumi a função de secretária dos Conselhos da<br />

Universidade, cuja função é realizar estudo preliminar e preparar<br />

o expediente dos assuntos a serem submetidos à análise e discus-<br />

são dos órgãos colegiados superiores da Fundação de Integração,<br />

Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado do RS (Fidene)<br />

e da Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS (<strong>Unijuí</strong>):<br />

Assembléia Geral, Conselho Curador, Presidência, Conselho Dire-<br />

tor; Conselho Universitário (Consu) e Conselho de Gestão.<br />

Tenho conciliado minhas atividades acadêmicas e adminis-<br />

trativas, o que me permite ter uma interação maior com os diversos<br />

públicos da Universidade e construir uma caminhada profissional<br />

na academia.<br />

Na <strong>Unijuí</strong> constituí minha formação acadêmica e profissio-<br />

nal. Na instituição consolido minhas experiências de docência nos<br />

cursos de tecnólogos em Gestão Comercial, Gestão de Cooperati-<br />

vas, Gestão Pública, Marketing e Processos Gerenciais (modalida-<br />

de EaD) e bacharelado em Administração (no presencial e na EaD).<br />

Espero poder contribuir para a construção do seu conheci-<br />

mento nesta sua caminhada!


Introdução<br />

Introdução<br />

EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Estudos Organizacionais: <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong> é um componente curricular cujo foco<br />

central de discussão são as pessoas, a partir do estudo do comportamento humano nas<br />

organizações. Trata-se do segundo caderno com enfoque específico a ser discutido no rol de<br />

componentes que compõem o currículo de formação profissional.<br />

No primeiro caderno tratamos da <strong>abordagem</strong> estrutural, cuja centralidade está na<br />

racionalidade funcional (tarefas e estrutura) – nas concepções clássicas de Administração e<br />

de Gestão. Neste segundo caderno tratamos da <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong>, cuja discussão trata<br />

do paradigma <strong>humanista</strong>, comportamental e demais abordagens decorrentes deste modelo<br />

de gestão, e ainda, do modelo de desenvolvimento organizacional.<br />

O paradigma <strong>humanista</strong> foca as pessoas, considerando sua história, seu tempo e seu<br />

espaço específico, estudando o indivíduo enquanto sujeito de um processo em construção<br />

dentro das teorias administrativas, teorias organizacionais e, mais recentemente, dos estu-<br />

dos organizacionais. Essa discussão perpassa as contribuições multidisciplinares das áreas<br />

de Ciências Sociais, da Psicologia, da Sociologia e da Antropologia.<br />

Fazer uma reflexão mais aprofundada dos indivíduos com o olhar dos estudos<br />

organizacionais implica empreender uma viagem na própria história da Administração e,<br />

com base em autores clássicos e contemporâneos, proporcionar uma orientação mais espe-<br />

cífica ao processo de aprendizagem a partir da <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong>. Para tanto, o presen-<br />

te livro está dividido em cinco unidades:<br />

A Unidade 1 tem como propósito situá-lo na viagem que você está fazendo para con-<br />

solidar seus conhecimentos, habilidades e atitudes, à formação profissional. Os estudos<br />

organizacionais, focam a discussão de três abordagens – estrutural, <strong>humanista</strong> e, integrativa<br />

e modelos emergentes. A partir deste texto vamos ajudá-lo a resgatar o que aprendeu na<br />

<strong>abordagem</strong> estrutural e abrir o caminho para o estudo das contribuições da <strong>abordagem</strong><br />

<strong>humanista</strong>.<br />

Na Unidade 2, apresento o paradigma <strong>humanista</strong>, desde sua origem até as críticas, de<br />

forma a compreender suas contribuições e as razões do surgimento do paradigma<br />

comportamental.<br />

Já a Unidade 3 trata do paradigma comportamental, que representa o reflexo da ne-<br />

cessidade sentida pelos clássicos de um aprofundamento teórico-prático do que havia sido<br />

descoberto no paradigma <strong>humanista</strong>, desenvolvendo-o a partir da apresentação das suas<br />

origens, contribuições e críticas.<br />

7


EaD Marivane da Silva<br />

8<br />

A Unidade 4 focaliza as diferentes abordagens ou temas emergentes decorrentes dos<br />

estudos realizados no paradigma comportamental. Sabemos que não é possível esgotar to-<br />

das as contribuições dadas pelos clássicos e também pelos autores contemporâneos aos<br />

temas, mas esperamos, a partir desta <strong>abordagem</strong> específica realizada em cada seção, apre-<br />

sentar o caminho para o estudo. Aqueles que desejarem aprofundar seus conhecimentos<br />

encontrarão nas indicações bibliográficas o caminho para assim o fazerem com proprieda-<br />

de. Como este caderno está centrado nas pessoas, não poderia deixar de propiciar uma<br />

reflexão sobre o indivíduo nas diferentes abordagens da gestão. Em seguida apresenta-se<br />

uma pequena discussão teórica de grupo e equipe, de motivação, de comunicação, de lide-<br />

rança, poder e autoridade, conflitos e negociação.<br />

Por fim, na Unidade 5, vamos aprender sobre o Desenvolvimento Organizacional, mais<br />

conhecido como DO, tendo presente sua significação de mudança planejada no mundo da<br />

gestão. Ofereceremos, ainda, na última seção, uma discussão sobre a ressignificação do<br />

trabalho e da gestão propiciada pelas próprias mudanças que ocorreram ao longo da histó-<br />

ria da Administração, não apenas como conseqüência de uma aplicação de um modelo de<br />

gestão.<br />

O livro ainda apresenta as referências bibliográficas que deram sustentação teórica<br />

para sua elaboração, cuja representação significou uma releitura reflexiva das origens do<br />

tema estudado, em contraponto com a nova visão contemporânea do século 21. Precisamos<br />

estar conscientes, no entanto, de que não esgotamos neste material todas as contribuições<br />

que os estudos organizacionais nos proporcionam enquanto profissionais ou gestores de<br />

organizações. Como comentamos anteriormente, significa o começo de uma caminhada aos<br />

estudos e um caminho para sua iniciação.<br />

Da mesma forma, esperamos a partir deste livro atingir o objetivo de dar as diretrizes<br />

para que você consiga, de forma tranqüila, iniciar seus estudos e despertar o seu interesse<br />

na busca de aprofundar o tema que se refere ao estudo da <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong>, e propici-<br />

ar a base para seguir na sua caminhada, ao estudo da <strong>abordagem</strong> integrativa e modelos<br />

emergentes.<br />

Que sua viagem ao estudo do paradigma <strong>humanista</strong> seja prazerosa e instigante, des-<br />

pertando em você o espírito pesquisador!<br />

“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam<br />

apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é – ou deveria ser – a mais elevada forma de arte” (Charles<br />

Chaplin).<br />

Inspirado em Charles Chaplin, inicie sua leitura!


Unidade Unidade 1<br />

1<br />

EaD<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO DO PARADIGMA HUMANISTA<br />

OBJETIVOS DESTA UNIDADE:<br />

• Apresentar quais são os paradigmas tratados na <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong>,<br />

a partir da seqüência lógica do componente curricular – Estudos<br />

Organizacionais: <strong>abordagem</strong> estrutural.<br />

• Compreender o contexto histórico da época e os elementos que<br />

conduziram ao avanço dos estudos organizacionais.<br />

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Seção 1.1 – Retrospectiva do paradigma estrutural e apresentação do paradigma <strong>humanista</strong><br />

Seção 1.2 – Contexto social da época<br />

Seção 1.3 – Críticas aos tecnicistas<br />

Seção 1.4 – Desenvolvimento: um olhar para o “fator humano”<br />

Para estudar o paradigma <strong>humanista</strong> vamos dar seqüência à lógica iniciada no com-<br />

ponente Estudos Organizacionais: <strong>abordagem</strong> estrutural, em que adotamos os paradigmas<br />

explicitados por Nogueira (2007), Motta e Vasconcelos (2002), Motta (1998), Reed (1993<br />

apud Clegg; Hardy; Nord, 1998) e Morgan (1996) para compreender a Administração e a<br />

Gestão.<br />

Neste sentido, a Unidade 1 está subdividida em quatro seções e após estudá-las você<br />

deverá entender quais foram os avanços dos estudos organizacionais, considerando o con-<br />

texto histórico e o foco das “pessoas”.<br />

9


EaD Marivane da Silva<br />

10<br />

Eficiência<br />

É a melhor utilização dos<br />

recursos e ênfase nos<br />

processos.<br />

Seção 1.1<br />

Retrospectiva do Paradigma Estrutural<br />

e Apresentação do Paradigma Humanista<br />

Vamos resgatar os paradigmas de Nogueira (2007), Motta e<br />

Vasconcelos (2002), Motta (1998), Reed (1993 apud Clegg; Hardy;<br />

Nord, 1998) e Morgan (1996) para que você possa se situar ao<br />

longo dos seus estudos no recorte da <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong>.<br />

Você lembra o que significa paradigma?<br />

“Paradigma é uma forma de ver o mundo. É um padrão. Ele infor-<br />

ma às pessoas como analisar e interpretar fatos, eventos ou deter-<br />

minadas situações” (Araújo, 2001, p. 45).<br />

A proposta de Nogueira para explicar os paradigmas de<br />

Administração está dividida em dois blocos:<br />

a) os pilares da formação do pensamento administrativo e<br />

organizacional denominado “paradigmas formadores da Ad-<br />

ministração”, fundamentados nas dimensões técnico-adminis-<br />

trativa, psicossocial e organizacional;<br />

b) os “paradigmas contemporâneos da Administração”, que tra-<br />

tam da passagem de um sistema organizacional mecânico e<br />

fechado para um sistema adaptativo, flexível e aberto.<br />

Os paradigmas formadores são fundamentais para enten-<br />

der o objeto da Administração e da gestão em um período que vai<br />

do início até a primeira metade do século 20, quando ocorre a con-<br />

solidação e o declínio da segunda Revolução Industrial, enquanto<br />

os paradigmas contemporâneos se desenvolveram na segunda<br />

metade do século 20 até os dias de hoje, em que se verificam a<br />

emergência e a consolidação da terceira Revolução Industrial.<br />

Com base no que Nogueira (2007, p. 107) chamou de ma-<br />

trizes foi possível construir uma “visão relativamente consensual<br />

do significado da Administração e da gestão”. A formação do co-<br />

nhecimento administrativo se deu pelos paradigmas que enfatizam:<br />

a) os aspectos técnicos e administrativos (meios de produção,<br />

sistemas de controle, metas e objetivos, eficiência e produtivi-<br />

dade, etc.), que remetem às premissas econômicas, técnicas e<br />

racionais de seus fundadores no início do século 20;


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

b) o entendimento da organização no contexto social, econômico e político do pós-guerra<br />

(Segunda Guerra Mundial), que discute e complementa os paradigmas anteriores, cons-<br />

tituindo-se no período de maior estruturação e burocratização das organizações nas soci-<br />

edades capitalistas e socialistas;<br />

c) os elementos psicológicos, pessoais e sociais (como comportamentos, atitudes, formas<br />

de relacionamento no trabalho, grupos informais, motivação e liderança), que<br />

complementam o paradigma técnico-administrativo com experiências e propostas desen-<br />

volvidas a partir da década de 30 do século 20;<br />

d) as mudanças estruturais e os valores da sociedade – chamada de sociedade das organi-<br />

zações. Neste contexto, a noção de homem organizacional ganha espaço na teoria da<br />

Administração e o indesejável conflito de interesses dos paradigmas anteriores passa a ser<br />

encarado como natural e administrável. O homem organizacional é aquele que tem capa-<br />

cidade de formar uma visão múltipla e integrada das organizações e de ter habilidade nos<br />

relacionamentos interno e externo das diversas modalidades da organização.<br />

Em síntese, vamos apresentar no Quadro 1 a matriz dos paradigmas.<br />

Paradigmas<br />

formadores da<br />

Administração<br />

(como tudo iniciou)<br />

Paradigmas<br />

contemporâneos da<br />

Administração<br />

(evolução atual)<br />

Paradigma técnicoadministrativo<br />

Paradigma <strong>humanista</strong><br />

e comportamental<br />

Paradigma<br />

organizacional<br />

Paradigma sistêmico e<br />

estratégico<br />

Paradigma da<br />

qualidade e da<br />

participação<br />

Paradigma da<br />

reestruturação flexível<br />

Quadro 1: Paradigmas da Administração<br />

Fonte: Nogueira (2007, p. 106).<br />

Composto pelas contribuições de Taylor,<br />

Ford e Fayol<br />

Formado pelas contribuições iniciais de<br />

Elton Mayo e pelas abordagens<br />

psicológicas e sociais que influenciam as<br />

noções de motivação e liderança.<br />

Constituído pelas teorias e pelo estudo do<br />

poder, das modalidades e da dinâmica das<br />

organizações – Weber, Etzioni, Blau e<br />

Scott.<br />

Composto pela teoria dos sistemas, pela<br />

Administração estratégica e pela<br />

<strong>abordagem</strong> sociotécnica.<br />

Formado pela Administração da qualidade<br />

total, pela Administração participativa e<br />

pelo modelo japonês de Administração,<br />

que sintetizou de forma eficaz as duas<br />

noções no que se refere a resultados<br />

operacionais para o mundo global dos<br />

negócios.<br />

Originado fundamentalmente da extensão<br />

do modelo japonês para o mundo por meio<br />

da reestruturação produtiva, da busca da<br />

flexibilidade organizacional e da<br />

competitividade como diretriz estratégica.<br />

11


EaD Marivane da Silva<br />

12<br />

Simbólica<br />

É todo signo que a<br />

convencionalidade predomina<br />

possui uma relação símbolo,<br />

entendido como um elemento<br />

essencial do processo de<br />

comunicação, encontrando-se<br />

difundido pelo cotidiano e<br />

pelas mais variadas vertentes<br />

do saber humano. Exemplo<br />

disso é a paz mundial e a<br />

pomba da paz. A convenção<br />

fez da imagem semelhante a<br />

uma pomba branca um<br />

símbolo de paz. De acordo<br />

com a semiótica podemos<br />

resumir símbolo como alguma<br />

coisa que representa algo para<br />

alguém.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 12 mar. 2009.<br />

Dialética<br />

É a arte de raciocinar; lógica;<br />

arte de argumentar ou discutir;<br />

argumentação dialogada.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 10 jan.2009.<br />

A visão global dos paradigmas permite ampliar seu enten-<br />

dimento e fazer o recorte ao objeto de estudo – paradigma<br />

<strong>humanista</strong> e comportamental. Salienta-se que a ênfase desloca-<br />

se da recompensa material para a recompensa social e simbólica,<br />

sem uma ruptura drástica, como do paradigma técnico e admi-<br />

nistrativo. O trabalhador passa a ser visto como pessoa, com ne-<br />

cessidades que incluem relações interpessoais, o sentir-se bem no<br />

grupo e o reconhecimento social. Nesta fase se percebe uma evo-<br />

lução com relação ao trabalho e à natureza humana, ou seja, o<br />

comportamento individual passa a se adaptar ao comportamento<br />

organizacional.<br />

O conflito entre capital e trabalho passa a ser administrável<br />

e repercute numa mudança nas relações de trabalho, mais espe-<br />

cificamente nas formas de recompensas, aliando aos aspectos<br />

materiais também os aspectos simbólicos de reconhecimento, ati-<br />

tude e comportamento.<br />

Já a proposta de Motta e Vasconcelos (2002) para estudar<br />

a evolução do pensamento administrativo dá-se a partir das Es-<br />

colas de Administração. Estes definem a Teoria das Organiza-<br />

ções como um “mosaico” que evolui para os estudos<br />

organizacionais e preocupam-se em explicitar a evolução gradu-<br />

al das concepções sobre o homem, a organização, o meio ambi-<br />

ente e sua complexidade ao longo dos tempos.<br />

Os autores entendem que a classificação do conhecimento<br />

em Escolas de Administração nos permite visualizar cronologica-<br />

mente as etapas de sua evolução e ter claro que as escolas são<br />

complementares, pois evoluem a partir das críticas e de novas<br />

pesquisas empíricas que proporcionam um aperfeiçoamento a<br />

partir da evolução dialética.<br />

Na obra Teoria Geral da Administração (Motta, 1998) os<br />

pilares do pensamento administrativo foram divididos por três<br />

enfoques: a) prescritivos; b) explicativos; c) prescritivo-<br />

explicativo, explicitados na obra revisada e reeditada de Motta e<br />

Vasconcelos (2002) e também revisada por Nogueira (2007).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Cabe destacar que Motta e Vasconcelos revisam a primeira edição em 2002 e ressal-<br />

tam que os enfoques explicativos tratam de teorias formuladas com base em pesquisas<br />

empíricas – observações práticas; já os enfoques prescritivos são abordagens que propõem<br />

técnicas e ferramentas, visando a solucionar problemas específicos.<br />

Para delimitar os movimentos das Escolas de Administração, Motta (1998) definiu<br />

cinco categorias de análise teórica: 1) a concepção da organização; 2) as relações entre<br />

Administração e empregados; 3) sistemas de incentivos ou recompensas; 4) a concepção da<br />

natureza humana, e 5) os resultados.<br />

Administração<br />

Científica e<br />

Clássica<br />

Quadro 2: Escolas de Administração e suas características<br />

Fonte: Adaptado de Nogueira (2007, p. 111).<br />

É importante ter claro que não existe uma única forma de estudar e analisar os<br />

paradigmas da Administração. Iniciamos os estudos adotando a lógica de Nogueira (2007),<br />

depois a divisão proposta por Motta (1998), Motta e Vasconcelos (2002), e mais adiante,<br />

apresentamos as percepções mais críticas e complexas propostas por Reed (1993, apud Clegg;<br />

Hardy; Nord, 1998) e Morgan (1996).<br />

Reed (1993, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998), em sua proposta, revela que os modelos<br />

interpretativos formam o campo intelectual de conflitos históricos em que a análise<br />

organizacional se desenvolveu. “Um campo que deve ser mapeado e atravessado levando-se<br />

em consideração as inter-relações entre os fatores processuais e contextuais em torno dos<br />

quais a área emergiu” (p. 66).<br />

O modelo de metanarrativas interpretativas proporcionou o desenvolvimento dos es-<br />

tudos organizacionais, principalmente pela relação dialética construída com os processos<br />

históricos e sociais da época.<br />

Teoria<br />

Burocrática<br />

Relações<br />

Humanas<br />

Estruturalismo Comportamental<br />

Teoria dos<br />

Sistemas<br />

Foco/enfoque Prescritivo Padronizada Prescritivo Explicativo Explicativo Explicativo<br />

1) Conceito da<br />

Organização<br />

2) Relação<br />

3) Empresa –<br />

Trabalhador<br />

4) Incentivos e<br />

Recompensas<br />

5) Conceito<br />

de Homem<br />

Formal Formal Informal Mista Cooperação<br />

Identidade de<br />

Interesses<br />

Mecanicista e<br />

normativa<br />

Identidade de<br />

Interesses<br />

Conflito<br />

Inevitável<br />

Conflito Inevitável<br />

Sistema<br />

Aberto<br />

Conflito de<br />

papéis<br />

sociais<br />

Teorias da<br />

Contingência<br />

Prescritivo e<br />

Explicativo<br />

Situacional e<br />

variável<br />

Conflito variável<br />

Materiais Materiais Sociais Mistas Mistas Mistas Variáveis<br />

Econômico Burocrata Social Organizacional Administrativo Funcional Situacional<br />

6) Resultados Máximos Máximos Máximos Máximos Satisfatórios Máximos Variável<br />

13


EaD Marivane da Silva<br />

14<br />

A discussão inicia-se a partir do modelo de metanarrativas ou narrativas analíticas em<br />

análise organizacional (Quadro 3) por meio das quais o campo de estudos organizacionais<br />

é “constituído enquanto prática intelectual dinâmica, permeada de controvérsias teóricas e<br />

conflitos ideológicos em torno da questão de como a “organização” pode e deve ser” (Reed,<br />

1993, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 66).<br />

Modelo de<br />

metanarrativa<br />

interpretativa<br />

SAIBA MAIS:<br />

Problemática<br />

principal<br />

Racionalidade Ordem<br />

Integração Consenso<br />

Mercado Liberdade<br />

Poder Dominação<br />

Conhecimento Controle<br />

Justiça Participação<br />

Quadro 3: Metanarrativas propostas por Reed (Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 65).<br />

Fonte: Clegg, Hardy e Nord (1998, p. 65).<br />

Para aprofundar mais seus estudos e obter orientações teóricas<br />

sugiro a leitura das obras:<br />

• Clegg, S. R.; Hardy, C.; Nord, W. R. (Orgs.). Handbook de Estudos<br />

Organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos<br />

organizacionais. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 1998.<br />

• Clegg, S. R.; Hardy, C.; Nord, W. R. (Orgs.). Handbook de Estudos<br />

Organizacionais: ação e análise organizacionais. Vol. 3. São Pau-<br />

lo: Atlas, 2004.<br />

Perspectivas ilustrativas/exemplos<br />

Teoria das organizações clássicas,<br />

administração científica, teoria da<br />

decisão, Taylor, Fayol e Simon.<br />

Relações humanas, neo-RH,<br />

funcionalismo, teoria da<br />

contingência/sistêmica, cultura<br />

corporativa, Durkheim, Barnard, Mayo,<br />

Parsons.<br />

Teoria da firma, economia institucional,<br />

custos de transação, teoria da atuação,<br />

dependência de recursos, ecologia<br />

populacional, teoria organizacional liberal.<br />

Weberianos neo-radicais, marxismo<br />

crítico-estrutural, processo de trabalho,<br />

teoria institucional, Weber e Marx.<br />

Etnométodo, símbolo/cultura<br />

organizacional, pós-estruturalista, pósfordista/moderno,<br />

Foucault, Garfinkel,<br />

teoria do ator-rede.<br />

Ética de negócios, moralidade,<br />

democracia industrial, teoria participativa,<br />

teoria crítica, Habermas.<br />

Transições<br />

contextuais<br />

De Estado guardanoturno<br />

a Estado<br />

industrial.<br />

De capitalismo<br />

empresarial a<br />

capitalismo de bemestar.<br />

De capitalismo<br />

gerencial a<br />

capitalismo<br />

neoliberal.<br />

De coletivismo liberal<br />

a corporativismo<br />

negociado.<br />

De industrialismo/<br />

modernidade a pósindustrialismo/pósmodernidade.<br />

De democracia<br />

repressiva a<br />

democracia<br />

participativa.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Em síntese, Michael Reed (1993, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 46-47) é mentor<br />

das metanarrativas interpretativa como um modelo e uma explicitação de discursos éticos<br />

que moldam o desenvolvimento histórico da teoria das organizações.<br />

Sucintamente vamos apresentar as idéias centrais do que é trabalhado nas<br />

metanarrativas de Reed (1993, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998) a partir do Quadro 4.<br />

Modelo de<br />

metanarrativa<br />

interpretativa<br />

Quadro 4: Apresentação das metanarrativas propostas por Reed<br />

Fonte: Elaborado com base em Clegg, Hardy e Nord (1998, p. 66).<br />

Cabe destacar que este quadro oferece uma idéia geral do que é tratado na teoria das<br />

organizações pela visão das metanarrativas de Reed (1993, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998),<br />

porém vamos apresentar uma explicação mais detalhada daquelas que possuem relação<br />

direta com o foco de estudo deste componente curricular – uma <strong>abordagem</strong> humanística –,<br />

identificadas como sendo as metanarrativas de integração e poder.<br />

Analisando o contexto da sociedade organizacional podemos afirmar que houve um<br />

crescimento, representando avanços incríveis da ordem, do consenso, da liberdade e justiça<br />

e da possibilidade de, senão suprimir, pelo menos amenizar os índices da ignorância, coer-<br />

ção e pobreza.<br />

Problemática<br />

principal<br />

Racionalidade Ordem<br />

Integração Consenso<br />

Mercado Liberdade<br />

Poder Dominação<br />

Conhecimento Controle<br />

Justiça Participação<br />

Apresentação das idéias principais<br />

Aborda a perspectiva das organizações como instrumentos<br />

racionais.<br />

A redescoberta da comunidade e do lado orgânico e<br />

humanístico das organizações.<br />

Enfatiza o mercado, caracterizando a economia organizacional<br />

e a ecologia populacional.<br />

Revela as várias faces de poder ocultas em seus mecanismos<br />

ou dispositivos menos visíveis. A fusão do conhecimento e do<br />

poder.<br />

Ilumina os vieses institucionais que caracterizam todas as<br />

narrativas e teorizações. Destaca o poder disciplinar embutido<br />

nas microrotinas e microestruturas, mostrando como os<br />

significados que moldam nossas identidades, sejam como<br />

observadores ou participantes da vida organizacional, emanam<br />

desses microsistemas de poder.<br />

Foca as estruturas societais e institucionais que envolvem e<br />

permeiam as organizações, como a teoria institucional e a<br />

globalização, permitindo-nos reconectar o local e o global (...).<br />

O debate emerge nos pontos de interseção entre as narrativas.<br />

15


EaD Marivane da Silva<br />

16<br />

Racional<br />

Que se concebe segundo a<br />

razão. É ter na razão a única<br />

fonte de conhecimento e agir<br />

de acordo com o que se sabe<br />

por meio dela.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 12 mar. 2009.<br />

Racionalidade substantiva<br />

Está diretamente ligada à<br />

capacidade crítica que o<br />

homem tem para refletir sobre<br />

si mesmo e sobre suas ações.<br />

É exatamente esta capacidade<br />

de reflexão, de auto-observação<br />

e de avaliação da própria<br />

situação que permite ao<br />

homem estar constantemente<br />

a se reorganizar e a se<br />

preparar para enfrentar<br />

acontecimentos desconhecidos<br />

e imprevisíveis (...). A<br />

racionalidade substantiva<br />

implica o fato de que os<br />

indivíduos – portadores da<br />

razão – sejam os sujeitos do<br />

processo de aprendizagem<br />

(Caravantes, 2000, p. 60).<br />

Da mesma forma, se você voltar ao estudo da evolução dos<br />

paradigmas considerando o tipo de organização 1 da sociedade,<br />

perceberá que as organizações foram racionalmente projetadas<br />

para resolver conflitos permanentes entre as necessidades<br />

organizacionais e individuais que vinham obstruindo o progres-<br />

so social e evoluíram para uma racionalidade mais substantiva .<br />

Observando a linha do tempo do final do século 20 veremos<br />

que apresentou um contexto histórico e social em que as certezas<br />

ideológicas e a efetividade técnica começam a ser questionadas.<br />

O foco dos estudos organizacionais científicos se expande ao se<br />

constatar a necessidade de inclusão de outro elemento funda-<br />

mental no contexto da gestão.<br />

Você sabe o que os críticos<br />

dos anos 30 e 40 apontavam e co-<br />

meçaram a pesquisar?<br />

coberta!<br />

Vamos auxiliá-lo nesta des-<br />

Os críticos, indignados com a “incapacidade da organiza-<br />

ção racionalística em resolver problemas de integração social e<br />

as implicações desse fato para a manutenção da ordem social em<br />

um mundo mais instável e incerto” (Reed, 1993 apud Clegg;<br />

Hardy; Nord, 1998, p. 69), provocam outros estudos.<br />

Os pesquisadores alertavam para o excesso de racionalismo<br />

que até então imperava nas organizações e para a necessidade<br />

prática e teórica de se criar uma alternativa ao estabelecimento<br />

da ordem social, com base na cooperação para o gerenciamento<br />

de um projeto organizacional.<br />

Neste modelo se preconizava a idéia de que as organiza-<br />

ções deveriam combinar autoridade com o sentimento de comu-<br />

nidade entre seus membros, entendendo, portanto, que “a mis-<br />

1 Retomar Quadro 1 da Unidade 2 da Série Livro-Texto Estudos Organizacionais: <strong>abordagem</strong> estrutural, 2009, p. 47.


EaD<br />

são da organização é não apenas prover bens e serviços, mas tam-<br />

bém criar o companheirismo” (Wolin, 1961, apud Clegg; Hardy;<br />

Nord, 1998, p. 69).<br />

A Teoria de Relações Humanas ou paradigma <strong>humanista</strong><br />

nasce a partir da identificação do isolamento social e dos confli-<br />

tos como sintomas de uma patologia social. O conceito de socie-<br />

dade e de organização eficaz que se consolida é:<br />

(...) aquelas capazes de facilitar e sustentar a realidade<br />

sociopsicológica de cooperação espontânea e estabilidade social<br />

em face de mudanças econômicas, políticas e tecnológicas que<br />

ameaçam a integração do indivíduo e do grupo dentro de uma<br />

comunidade mais ampla (Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 70).<br />

Retomando, conlui-se que o pensamento que perpassava<br />

os estudos organizacionais naquele momento era baseado na<br />

crítica de que o racionalismo fornecia uma visão extremamente<br />

limitada e enganadora da realidade da vida organizacional e,<br />

mais, da superação da ênfase da ordem e do controle imposto<br />

mecanicamente, ao invés da integração, da interdependência e<br />

do equilíbrio, que deveriam estar presentes nos sistemas sociais<br />

em desenvolvimento orgânico. Surgiu, desta forma, um esforço<br />

científico para consolidar a idéia do consenso.<br />

Os estudiosos começavam a ter a percepção de que um sis-<br />

tema social facilitava a integração dos indivíduos em uma comu-<br />

nidade mais ampla, bem como a adaptação às condições técni-<br />

co-sociais de mudança. Essa idéia foi formulada por<br />

Roethlisberger e Dickson (1939), que já concebiam a organiza-<br />

ção industrial como um sistema social operante, que busca o equi-<br />

líbrio em um ambiente dinâmico.<br />

Salienta-se que esta concepção de organização como siste-<br />

mas sociais voltados para as necessidades de integração e sobrevi-<br />

vência das organizações societárias maiores só foi reconhecida como<br />

modelo teórico no final dos anos 40 e começo da década de 50.<br />

Outra metanarrativa importante para o estudo da aborda-<br />

gem humanística é a do poder, que representa as bases ideológi-<br />

cas e epistemológicas para uma teoria de organizações, que con-<br />

trasta com os modelos anteriores: racionalidade, integração e<br />

mercado.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Patologia<br />

(derivado do grego pathos,<br />

sofrimento, doença, e logia,<br />

ciência, estudo) é o estudo das<br />

doenças em geral sob aspectos<br />

determinados. Ela envolve<br />

tanto a ciência básica quanto a<br />

prática clínica, e é devotada ao<br />

estudo das alterações estruturais<br />

e funcionais das células,<br />

dos tecidos e dos órgãos que<br />

estão ou podem estar sujeitos<br />

a doenças. Disponível em:<br />

. Acesso em: 19 jun.<br />

2009.<br />

Ideologia<br />

É um conjunto de idéias,<br />

pensamentos, doutrinas e<br />

visões de mundo de um<br />

indivíduo ou de um grupo,<br />

orientado para suas ações<br />

sociais e, principalmente,<br />

políticas. A ideologia, segundo<br />

Karl Marx, pode ser considerada<br />

um instrumento de<br />

dominação que age mediante o<br />

convencimento (e não da<br />

força), de forma prescritiva,<br />

alienando a consciência<br />

humana e mascarando a<br />

realidade. Disponível em:<br />

. Acesso em: 12 mar.<br />

2009.<br />

Epistemológicas<br />

Que estuda a origem, a<br />

estrutura, os métodos e a<br />

validade do conhecimento; que<br />

se refere às bases que<br />

sustentam o conhecimento<br />

acerca do objeto de<br />

estudo.Disponível em: . Acesso em 12<br />

mar. 2009.<br />

17


EaD Marivane da Silva<br />

18<br />

Unitaristas<br />

Pregam a liberdade de cada<br />

ser humano para buscar a sua<br />

própria verdade e a necessidade<br />

de cada um buscar o<br />

crescimento espiritual sem a<br />

necessidade de religiões,<br />

dogmas e doutrinas.<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 20 jun.2009.<br />

Metáforas<br />

São artifícios para embelezar o<br />

discurso, mas seu significado<br />

implica um modo de pensar e<br />

uma forma de ver que permeia<br />

a maneira pela qual entendemos<br />

nosso mundo em geral<br />

(Morgan, 1996, p. 16).<br />

A perspectiva do poder “questiona os pressupostos<br />

unitaristas que são inerentes aos modelos racionalista, orgânico<br />

e de mercado, pois conceitua a organização como uma arena de<br />

interesses e valores conflitantes, constituída de luta de poder”<br />

(Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 74).<br />

Este modelo é fundamentado na sociologia de dominação de Weber<br />

em sua análise da burocracia e, complementado pelas teorizações<br />

de poder que se inspiram no interesse de Maquiavel pela<br />

micropolítica do poder organizacional e no trabalho de Foucault.<br />

As análises baseadas em Weber enfatizam o caráter relacional do<br />

poder como recurso ou capacidade distribuída de forma diferenci-<br />

ada e que, se empregado com o devido grau de habilidade estraté-<br />

gica e tática pelos atores sociais, produz e reproduz relações hie-<br />

rarquicamente estruturadas de autonomia e dependência (...). As-<br />

sim, a análise weberiana da dinâmica e das formas de poder buro-<br />

crático na sociedade moderna enfatiza a interação complexa que<br />

há entre a racionalização da sociedade e da organização, ambas<br />

reproduzindo estruturas institucionalizadas sob o controle de “es-<br />

pecialistas” e “peritos” (p. 75, grifos do autor).<br />

Exploradas um pouco mais as metanarrativas específicas des-<br />

ta <strong>abordagem</strong>, vamos agora revisitar o quadro das metáforas de<br />

Morgan (1996) e identificar quais delas representam a <strong>abordagem</strong><br />

humanística. Lembramos que esta é apenas uma forma para pensar<br />

a evolução dos estudos organizacionais, já estudados com base em<br />

Nogueira (2007), Motta e Vasconcelos (2002), Motta (1998) e Reed<br />

(1993 apud Clegg; Hardy; Nord, 1998) e Morgan (1996).<br />

Metáforas Fundamentos de sua dimensão<br />

Mecânica<br />

Orgânica<br />

Sua base é a racionalidade instrumental, utiliza concepções mecânicas e o<br />

desenho organizacional é comparado à máquina. As pessoas são valorizadas<br />

pelas suas habilidades instrumentais. Na definição das características<br />

organizacionais dá ênfase aos conceitos de estrutura formal e tecnológica. A<br />

organização é avaliada pela eficiência e vista como um sistema fechado.<br />

Valoriza os objetivos operacionais específicos e os princípios organizacionais,<br />

ou, em outras palavras, a maneira de administrar.<br />

As organizações são constituídas de partes mutuamente conectadas e<br />

dependentes para compartilhar uma vida em comum. Seu foco está em sua<br />

atividade vital, entendendo ser um sistema aberto, enfatizando as relações<br />

organização/ambiente e a continuidade da vida organizacional. Por ser<br />

considerada a organização uma entidade viva, compreende-se o fluxo constante<br />

de mudança e a interação com o ambiente. Enfatiza a flexibilidade gerencial, a<br />

importância do uso e da aquisição de recursos e a relevância do processo<br />

organizativo mais que o simples alcance dos objetivos organizacionais. Valoriza<br />

aspectos contingenciais na administração, com destaque à inovação como meio<br />

para atingir a flexibilidade e garantir a sua sobrevivência. Preocupa-se com a<br />

ecologia das organizações e com as relações interorganizacionais.


EaD<br />

Cérebro<br />

Cultural<br />

Política<br />

Prisão psíquica<br />

Fluxo e<br />

transformação<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

As organizações são sistemas de informações que dependem do seu<br />

processamento. Elas são vistas como cérebros processadores de informações<br />

e, ao mesmo tempo, sistemas de comunicação e sistemas de tomadas de<br />

decisão. Por meio do processamento de informações é possível compreender<br />

as organizações e identificar as formas organizacionais. Esta metáfora favorece<br />

o aprendizado organizacional e a compreensão das capacidades de autoorganização;<br />

contribuições da administração estratégica para o aprender a<br />

aprender; utilização dos meios para ir além da limitada racionalidade que<br />

caracteriza muitas organizações.<br />

A organização é vista como o lugar onde residem idéias, valores, normas, rituais<br />

e crenças que a sustentam como realidade socialmente construída. O contexto<br />

cultural é decisivo na natureza das organizações e sua cultura delineia o seu<br />

caráter organizacional. Sua ênfase está no significado simbólico ou em alguns<br />

aspectos racionais da vida organizacional. Centraliza sua atenção no lado<br />

humano da organização, que outras metáforas ignoram ou encobrem, e<br />

contribui para a compreensão da mudança organizacional.<br />

Uma organização política deve ser entendida como aquela que mensura os<br />

conflitos existentes e as várias maneiras de manifestação de poder<br />

consolidadas entre os grupos de interesses que a compõem. Esta metáfora<br />

possibilita avaliar o comportamento humano na organização baseada em<br />

interesses, conflitos e poder. Ajuda a aceitar a realidade da política como algo<br />

inevitável à vida organizacional, bem como reconhece as tensões entre os<br />

interesses dos indivíduos, dos grupos e das organizações, assim como<br />

reconhece as implicações sociopolíticas dos diferentes tipos de organizações e<br />

dos papéis que estas desempenham na sociedade.<br />

É entendida como os aspectos inconscientes, afetivos, defensivos,<br />

ameaçadores e individuais de cada um, entrelaçados com os conscientes e<br />

racionais, de forma que, muitas vezes, os primeiros criam “prisões” que<br />

influenciam diretamente as atividades e as direções das organizações. Esta<br />

metáfora apresenta perspectivas para a exploração do significado oculto dos<br />

nossos mundos tidos como verdadeiros. Encoraja a conhecer o mundo do<br />

inconsciente e respectivo modelo de controle que aprisiona as pessoas e as<br />

empresas em modelos não saudáveis. Alerta para a racionalização ocorrida em<br />

excesso nas organizações e chama a atenção para as bases éticas da<br />

organização ao reforçar que esta é humana no sentido mais complexo. Encoraja<br />

lidar com as relações de poder estabelecidas na vida organizacional e que<br />

todos nós desempenhamos um papel na construção destas relações<br />

inconscientes de poder e, ainda, como este conhecimento pode possuir um<br />

efeito fortalecedor. Ajuda a identificar as barreiras existentes ao caminho da<br />

inovação e da mudança.<br />

Significa compreender a lógica da mudança que dá forma à vida social. Enfatiza<br />

como as organizações são sistemas autoprodutores, que se criam nas suas<br />

próprias imagens. Propõe o entendimento da transformação ou da evolução dos<br />

sistemas vivos como resultados de mudanças geradas internamente. Enfatiza a<br />

maneira pela qual o sistema global de interações acaba por moldar seu próprio<br />

futuro. A outra lógica refere-se aos resultados de fluxos circulares de feedback<br />

positivo e negativo. Necessidade de pensar a mudança como círculos e não<br />

linhas e substitui a idéia da causalidade mecânica. A lógica seguinte sugere que<br />

a mudança seja o produto de uma lógica dialética por meio da qual todos os<br />

fenômenos tendem a gerar o seu oposto. Três princípios dialéticos podem<br />

explicar a mudança:<br />

1) processos de mudanças autogerados, em que os fenômenos mudam a si<br />

próprios como resultado de tensões perante seus opostos;<br />

2) explica como a mudança pode assumir um caráter de desenvolvimento, no<br />

sentido de que cada negação rejeita uma forma anterior (cultura anterior);<br />

3) os processos de mudança revolucionários, em que um tipo de organização<br />

social dá lugar a outro.<br />

19


EaD Marivane da Silva<br />

20<br />

Dominação<br />

As organizações são vistas como instrumentos de dominação, visando a<br />

satisfazer os interesses das elites à expensa da maioria. Há sempre um<br />

elemento de dominação em todas as organizações. Enfatiza as ligações<br />

existentes entre organização, classe social e controle organizacional. Esta<br />

metáfora questiona a ação racional e sugere ser a posse da racionalidade um<br />

modo de dominação. Salienta a importância dos valores e das premissas<br />

ideológicas na utilização de técnicas organizacionais. Valoriza a ação social.<br />

Quadro 5: Metáforas discutidas por Morgan<br />

Fonte: Construído com base em Andrade e Amboni (2007, p. 27-28).<br />

Saiba mais:<br />

Adizes, Ichak. Os ciclos de<br />

vida das organizações: como<br />

e por que as empresas<br />

crescem e morrem e o que<br />

fazer a respeito. São Paulo:<br />

Pioneira, 1990.<br />

Cultura<br />

Refere-se tipicamente ao<br />

padrão de desenvolvimento<br />

refletido nos sistemas sociais<br />

de conhecimento, ideologia,<br />

valores, leis e rituais cotidianos<br />

(Morgan, 1996, p. 115).<br />

Você conseguiu identificar na apresentação das oito metá-<br />

foras qual é o foco central de discussão deste componente<br />

curricular? Caso não tenha descoberto, vamos ajudá-lo:<br />

a) orgânica, que incorpora a flexibilidade nos sistemas abertos e a<br />

descoberta das necessidades nas organizações, o processo de adap-<br />

tação das organizações aos ambientes, os ciclos de vida<br />

organizacionais, os fatores que influenciam no desenvolvimento<br />

organizacional e o desenvolvimento das competências humanas;<br />

b) cerebrais, modelo das organizações em que a inteligência e o<br />

conhecimento estão em todos os lugares propiciando a apren-<br />

dizagem, porém focando em organizações como cérebros<br />

processadores de informações e tomadas de decisão;<br />

c) cultural, que permite ampliar a visão para além dos aspectos<br />

formais e racionais, mostrando as possibilidades de mudança,<br />

ou seja, de que a organização é em si mesma um fenômeno<br />

cultural que varia de acordo com o estágio de desenvolvimento<br />

da sociedade; de que a cultura muda de uma sociedade para<br />

outra e auxilia na compreensão das diferentes organizações<br />

vistas como realidades socialmente construídas;<br />

d) sistemas políticos, que focalizará diferentes conjuntos de in-<br />

teresses, conflitos e jogos de poder que moldam as atividades<br />

organizacionais. Significa entender as organizações como sis-<br />

temas de governo que variam de acordo com os princípios polí-<br />

ticos presentes na relação entre organização e sociedade.<br />

e) prisão psíquica, como as organizações são vistas e como as<br />

pessoas caem nas armadilhas dos seus próprios pensamentos,<br />

idéias e crenças ou preocupações que se originam na dimen-<br />

são inconsciente da mente.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Na seqüência dos estudos vamos focar nossa análise na apresentação da <strong>abordagem</strong><br />

<strong>humanista</strong> com base em Nogueira (2007), cuja proposta integra o eixo dos paradigmas for-<br />

madores da administração, com ênfase nos elementos psicológicos, pessoais e sociais (como<br />

comportamentos, atitudes, formas de relacionamento no trabalho, grupos informais, moti-<br />

vação e liderança), que serão aprofundados nas Unidades 2 e 3.<br />

O Quadro 6 leva você a retomar seus conhecimentos e ao aprofundamento teórico da<br />

<strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong> – foco deste componente curricular. Na estrutura do quadro apresen-<br />

to a especificidade em termos de escolas, paradigmas, metáforas e metanarrativas.<br />

Motta<br />

(1998, 2002)<br />

Reed (1993 apud<br />

Clegg; Hardy;<br />

Nord, 1998)<br />

Morgan (1996)<br />

Quadro 6: Foco de estudo<br />

Fonte: Elaboração da autora.<br />

Antes de começarmos os estudos do paradigma <strong>humanista</strong> e comportamental é impor-<br />

tante voltar na linha do tempo para compreender em que contexto histórico e social se<br />

configuraram os paradigmas com foco nas pessoas.<br />

PARADIGMA/ABORDAGEM<br />

ESTRUTURAL HUMANISTA<br />

Escolas:<br />

Administração Científica<br />

Administração Clássica<br />

Teoria Burocrática<br />

Teoria Neoclássica:<br />

Administração por Objetivos<br />

(APO)<br />

Metanarrativas:<br />

Racionalidade<br />

Poder<br />

Metáforas:<br />

Mecânica – as organizações<br />

vistas como máquinas – Ford<br />

Orgânica – as organizações<br />

vistas como organismos vivos –<br />

Toyotismo<br />

Cerebrais – organizações<br />

baseadas na inteligência e no<br />

conhecimento – Volvismo e<br />

racionalidade instrumental<br />

Escolas:<br />

Teoria de Relações Humanas<br />

Teoria Comportamental<br />

Desenvolvimento Organizacional<br />

Metanarrativas:<br />

Integração – consenso;<br />

Poder – dominação.<br />

Metáforas:<br />

Orgânica – as organizações vistas como<br />

organismos vivos e se relacionam com<br />

ambiente – ciclos de vida e D.O;<br />

Cerebrais – organizações baseadas em<br />

informação, aprendizado e inteligência;<br />

Cultural – análise de idéias, valores,<br />

normas e rituais;<br />

Sistemas políticos – analisa questões<br />

como interesses, conflitos e jogos de<br />

poder;<br />

Prisão psíquica – reconhecer a<br />

estrutura interna, psicológica, de cada<br />

pessoa.<br />

21


EaD Marivane da Silva<br />

22<br />

Crise de 29<br />

A crise de 29 foi um dos<br />

maiores choques que a<br />

economia mundial já atravessou<br />

e hoje é comparada a atual<br />

crise dos Estados Unidos. O<br />

capitalismo norte-americano<br />

da época seguia uma política<br />

liberal, ou seja, os empresários<br />

pagavam salários baixos,<br />

mantinham os preços elevados,<br />

aumentavam a produção<br />

e o Estado não intervinha.<br />

Quando não havia demanda<br />

suficiente para a produção,<br />

recorriam ao financiamento da<br />

estocagem. Quanto maiores os<br />

estoques, maior a paralisação<br />

da produção, maior o desemprego,<br />

menor o nível de<br />

consumo. A crise se refletia na<br />

Bolsa, onde havia maior<br />

número de vendedores do que<br />

compradores de ações,<br />

negociadas a preços cada vez<br />

mais baixos. Após a queda da<br />

Bolsa o governo assumiu uma<br />

postura intervencionista na<br />

economia, regulando a<br />

produção e fixando limites<br />

para preços e salários.<br />

Surgiram o salário mínimo, o<br />

limite máximo de trabalho<br />

diário, a previdência social e a<br />

legalização das organizações<br />

sindicais<br />

(Ferreira, 2002, p. 26).<br />

Seção 1.2<br />

Contexto Social da Época<br />

O início da <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong> ocorreu na década de 30,<br />

com raízes nos anos 20, principalmente com as contribuições pio-<br />

neiras de Mary Parker Follett, de Chester Barnard e de Elton Mayo.<br />

Silva (2002, p. 184) divide em dois enfoques a <strong>abordagem</strong><br />

humanística de estudo:<br />

a) enfoque no elemento humano (Psicologia);<br />

b) enfoque no comportamento coletivo (Sociologia).<br />

São duas áreas do conhecimento que passam a comandar o<br />

interesse dos estudiosos da administração das organizações.<br />

Esse período foi marcado pela retração da economia em fun-<br />

ção da crise de 1929, pois a indústria de guerra diminuía o ritmo<br />

de produção, assim como os soldados que voltavam da guerra<br />

não eram absorvidos pelo mercado de trabalho, fato registrado<br />

como paradoxal, em virtude de que justamente nesse período os<br />

estudiosos das organizações se preocupavam com o fator huma-<br />

no no trabalho (Ferreira; Reis; Pereira, 2002).<br />

Chiavenato (2000, p. 103) credita o surgimento da aborda-<br />

gem <strong>humanista</strong> ao desenvolvimento das Ciências Sociais,<br />

notadamente a Psicologia e, em particular a Psicologia do Traba-<br />

lho. Estes fatos contribuíram ao surgimento da Psicologia. Neste<br />

contexto pode-se constatar duas etapas:<br />

1º) a análise e a adaptação do trabalhador ao trabalho, com do-<br />

mínio do aspecto produtivo. O objetivo da Psicologia do Traba-<br />

lho – ou Psicologia Industrial – era a análise das característi-<br />

cas humanas que cada tarefa exigia do trabalhador e a seleção<br />

científica dos empregados baseada nessas características por<br />

meio de testes psicológicos.<br />

2º) a adaptação do trabalho ao trabalhador. A Psicologia Indus-<br />

trial está voltada para os aspectos individuais e sociais do tra-<br />

balho, que prevalecem sobre os aspectos produtivos. Os temas


EaD<br />

predominantes são o estudo da personalidade do trabalhador e<br />

do gerente, a motivação e incentivo ao trabalho, liderança,<br />

comunicações e as relações interpessoais e sociais dentro da<br />

organização.<br />

Entre os anos de 1919 e 1921 os EUA viveram um período<br />

de crescimento econômico e desenvolvimento tecnológico, mas<br />

também um surto especulativo que desencadeou a Grande De-<br />

pressão de 1929, com conseqüências tais como: conflitos contí-<br />

nuos capital-trabalho, bem como a penetração das idéias socia-<br />

listas contrapostas ao utilitarismo e darwinismo social no cam-<br />

po das Ciências Sociais, preocupação com o aumento da produ-<br />

tividade e redução dos custos, influenciando no surgimento da<br />

escola de relações humanas.<br />

Na verdade a <strong>abordagem</strong> humanística da Administração<br />

teve início logo após a morte de Taylor, mas foi somente a partir<br />

da década de 30 que começou a ter aceitação nos Estados Uni-<br />

dos, principalmente por suas características democráticas e im-<br />

pulsionada pelos resultados da pesquisa desenvolvida na Western<br />

Electric, no bairro de Hawthorne.<br />

No Brasil acontecia a Revolução de 1930, na era Getúlio<br />

Vargas, quando se consolidava a modernização industrial do país,<br />

ainda que de modo conservador. No governo Vargas foi criado o<br />

Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio, inauguran-<br />

do o corporativismo, fruto da legislação trabalhista e sindical.<br />

Com isso estabeleceu-se a regularização das relações entre tra-<br />

balho e capital, garantias importantes de direitos sociais e a ins-<br />

tituição do salário mínimo e dos impostos por meio da ação regu-<br />

ladora do governo.<br />

A partir destes fatos os cientistas passaram a se preocupar<br />

com o fator humano no trabalho, contrariando os pressupostos<br />

dos tecnicistas, que defendiam que a organização era uma má-<br />

quina desprovida de valores humanos. Sendo assim, vamos reto-<br />

mar na seção 1.3 as críticas que contribuíram para o estado em-<br />

brionário do paradigma <strong>humanista</strong>.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Utilitarismo<br />

Pode ser entendido como um<br />

princípio ético no qual o que<br />

determina se uma decisão ou<br />

ação é correta é o benefício<br />

intrínseco exercido à coletividade<br />

, ou seja, quanto maior o<br />

benefício, tanto melhor a<br />

decisão ou ação.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 20 jun. 2009.<br />

Darwinismo social<br />

Foi empregado para tentar<br />

explicar a pobreza pósrevolução<br />

industrial, sugerindo<br />

que os que estavam pobres<br />

eram os menos aptos (segundo<br />

a teoria de Darwin) e os<br />

mais ricos que evoluíram<br />

economicamente seriam os<br />

mais aptos a sobreviver por<br />

isso os mais evoluídos.<br />

Durante o século 19 as<br />

potências européias também<br />

usaram o darwinismo social<br />

como justificativa para o<br />

Imperialismo europeu.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 20 jun. 2009.<br />

23


EaD Marivane da Silva<br />

24<br />

Sócrates<br />

Contribuiu para os estudos<br />

organizacionais quando a<br />

valorização pelo diálogo, a<br />

adoção, pelos dirigentes, de<br />

uma postura aberta ao<br />

aprendizado constante e a<br />

percepção da existência de<br />

determinados padrões de<br />

comportamento em qualquer<br />

grupo social foram incorporadas<br />

à <strong>abordagem</strong> humanística.<br />

Seção 1.3<br />

Críticas aos Tecnicistas<br />

A teoria da Escola Clássica, marcada pela visão mecanicista<br />

do trabalho de Taylor e pela <strong>abordagem</strong> normativista da organi-<br />

zação de Fayol, não tardou a encontrar opositores preocupados<br />

em humanizar os princípios e as formas de administrar as organi-<br />

zações.<br />

“Muitos dos pensadores que formularam propostas<br />

<strong>humanista</strong>s o fizeram em reação às abordagens estruturais que<br />

marcaram a sociedade industrial” (Ferreira et al, 2005, p. 40),<br />

rompendo com a obsessão pelo racionalismo científico e, ao am-<br />

pliar as dimensões do papel do ser humano nas organizações,<br />

resgataram a base filosófica e de inspiração socrática.<br />

Entre as várias críticas apresentadas pelos estudiosos da<br />

Administração vamos encontrar em Motta e Vasconcelos (2002)<br />

uma síntese:<br />

a) a idéia do homem economicus, que foi contestada por sua na-<br />

tureza complexa e que considera apenas a variável econômica<br />

como determinante do comportamento humano;<br />

b) a famosa tese de Taylor de existir uma “única maneira certa de<br />

realizar um trabalho” (destaque do autor, Motta e Vasconce-<br />

los, 2002, p. 46) foi contestada tendo em vista o entendimento<br />

de que levaria à total desumanização do homem, além de não<br />

aumentar em longo prazo a produtividade do trabalho, pois<br />

provocaria o aparecimento de atitudes negativas com relação<br />

ao trabalho, à empresa e à administração;<br />

c) a idéia de que o homem só se mobilizava por incentivos monetá-<br />

rios, desconsiderando suas necessidades sociais e psicológicas;<br />

d) o excessivo controle sobre o trabalhador pela supervisão dire-<br />

ta, desconsiderando sua participação no processo e nas deci-<br />

sões e sua influência nos resultados. Passou-se a ter a percep-<br />

ção da necessidade de limites da regra e do controle burocráti-<br />

co como formas de regulação social.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Pouco a pouco, porém, os estudos organizacionais foram mostrando que o homem<br />

não é totalmente controlável e previsível e que ignorá-lo no ambiente da organização é um<br />

verdadeiro contra-senso. Há sempre certo grau de incerteza associado à gestão de pessoas,<br />

ou seja, as contradições do paradigma técnico-administrativo começam a ser reconhecidas<br />

e repensadas na gestão.<br />

Os elementos do modelo de gestão dos tecnicistas não sobreviveriam a um sistema que<br />

priorizasse a busca da sustentabilidade, compreendendo que “sustentabilidade não é ape-<br />

nas a maneira como as pessoas, projetos, entidades e organizações se sustentam financeira-<br />

mente” (Nogueira, 2007, p. 345).<br />

Neste viés, cabe repensar o conceito de sustentabilidade, agregando elementos mais<br />

substantivos ao processo, tais como: “(...) os compromissos com o desenvolvimento das pes-<br />

soas que empregam, com a segurança e a satisfação dos clientes e consumidores, com a<br />

preservação do meio ambiente e dos recursos não renováveis e com o bem-estar da comuni-<br />

dade” (p. 351).<br />

A seguir, vamos analisar a gestão para o desenvolvimento sustentável numa perspec-<br />

tiva alinhada aos desafios importantes para o futuro do trabalho, das organizações e das<br />

sociedades no século 21 à luz do paradigma <strong>humanista</strong> e comportamental.<br />

Seção 1.4<br />

Desenvolvimento Sustentável na Perspectiva Humanista<br />

Para entendermos a dimensão do desenvolvimento nos estudos organizacionais é neces-<br />

sário fazer uma reflexão mais profunda e, para tal, vamos nos reportar a Nogueira (2007, p.148):<br />

As dimensões técnico-administrativa e psicossocial da administração e da gestão complementam-<br />

se, pois administrar é garantir tecnicamente a realização dos objetivos tangíveis (produtos) e<br />

intangíveis (serviços) dos negócios, das empresas e das organizações por intermédio de seu po-<br />

tencial humano.<br />

Em outras palavras, significa a superação dos mecanismos de controle social e mani-<br />

pulação psicológica implícitos no paradigma <strong>humanista</strong> e comportamental, o que é um de-<br />

safio para a administração contemporânea.<br />

O foco principal do paradigma <strong>humanista</strong> e comportamental era que o fator humano<br />

deixasse de ser encarado como simples “fator de produção” ou “recurso humano”, deixando<br />

definitivamente de ser visto como mais um recurso a ser usado, manipulado e descartado.<br />

25


EaD Marivane da Silva<br />

Os objetivos e as formas de organização teriam outro caráter, o que pressupunha um novo<br />

paradigma de gestão para o desenvolvimento sustentável, que buscava melhorar as práticas<br />

de trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores.<br />

26<br />

SÍNTESE DA UNIDADE 1<br />

Ao concluir o estudo da Unidade 1 você deve ter presente a passa-<br />

gem que ocorre do paradigma técnico-administrativo e<br />

organizacional para o paradigma <strong>humanista</strong> e comportamental,<br />

que amplia o escopo de trabalho. Para tanto, resgatamos as con-<br />

tribuições de Morgan (1986), Reed (1993, apud Clegg; Hardy; Nord,<br />

1998) e Motta (1998, 2002).<br />

Também deve atentar para o fato de que o desenvolvimento do<br />

paradigma <strong>humanista</strong> se deu num contexto histórico marcado pela<br />

crise de 1930, época de grandes conflitos no sistema capitalista<br />

mundial. Nesse período os estudiosos das organizações começa-<br />

ram a se preocupar com o fator humano no trabalho. Mais tarde,<br />

com o paradigma comportamental, agregaram a concepção de que<br />

a satisfação do trabalhador gerava de forma intrínseca a eficiência<br />

do trabalho.<br />

A partir da crítica aos tecnicistas os aspectos organizacionais mais<br />

importantes passam a se concentrar no homem e seu grupo social,<br />

isto é, a preocupação passa dos aspectos técnicos e formais para<br />

os aspectos psicológicos e sociológicos, com ênfase nas pessoas.<br />

Pensar a gestão para o desenvolvimento requer compreender que<br />

as organizações precisam garantir primeiramente sua sobrevivên-<br />

cia e, posteriormente, sua sustentabilidade, sempre buscando um<br />

equilíbrio entre os aspectos econômicos (objetivos) e<br />

comportamentais (subjetivos).


Unidade Unidade 2<br />

2<br />

EaD<br />

PARADIGMA HUMANISTA<br />

OBJETIVO DESTA UNIDADE<br />

• Apresentar os fundamentos do<br />

paradigma <strong>humanista</strong> e suas contribui-<br />

ções à gestão.<br />

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE<br />

Seção 2.1 – Origem do Paradigma Humanista<br />

Seção 2.2 – Contribuições dos Teóricos ao Paradigma Humanista<br />

Seção 2.3 – Críticas Gerais ao Paradigma Humanista<br />

Seção 2.4 – Teorias de Transição<br />

O paradigma <strong>humanista</strong>, também conhecido como escola<br />

de relações humanas, consolidou-se em 1932. Com o avanço da<br />

industrialização e o crescimento da complexidade das empresas<br />

e das relações de trabalho, a Administração necessitou rever seus<br />

paradigmas e agregar as contribuições das outras Ciências Sociais<br />

– como a Psicologia e a Sociologia.<br />

À medida que os estudiosos passam a reconhecer que a<br />

empresa não é apenas um sistema econômico, mas um sistema<br />

social, eles começam também a repensar o conceito de homem,<br />

reconhecendo que o mesmo deixa de ser visto como homo<br />

economicus e passa a ser homem social, um ser complexo que<br />

tem comportamentos e sentimentos que mobilizam ações a partir<br />

de suas necessidades biológicas e psicossociais.<br />

Sendo assim, fica evidente que houve uma mudança<br />

conceitual na Teoria Administrativa, mais especificamente com a<br />

Teoria das Relações Humanas ou Paradigma Humanista, que “dá<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Ser complexo<br />

O ser humano torna-se<br />

complexo quando se percebe<br />

que ele não é totalmente<br />

controlável e previsível,<br />

havendo um certo grau de<br />

incerteza, que impõe limites à<br />

regulação social.<br />

27


EaD Marivane da Silva<br />

28<br />

Teoria Clássica de<br />

Aministração<br />

Caracteriza-se pela ênfase na<br />

estrutura organizacional, pela<br />

visão do homem econômico e<br />

pela busca da máxima<br />

eficiência nas organizações<br />

(Chiavenato, 2000).<br />

ênfase às pessoas que trabalham nas empresas como grupo social<br />

e em seus aspectos psicológicos e sociológicos” (Muniz; Faria,<br />

2007, p. 40), e ainda busca humanizar e democratizar a adminis-<br />

tração.<br />

Para que possamos aprofundar nossas descobertas com re-<br />

lação ao paradigma <strong>humanista</strong> vamos apresentar suas origens<br />

na seção 2.1.<br />

Seção 2.1<br />

Origem do Paradigma Humanista<br />

Como já ressaltamos na Unidade 1, a Teoria das Relações<br />

Humanas surgiu nos Estados Unidos, como conseqüência das<br />

conclusões da experiência de Hawthorne, desenvolvida por El-<br />

ton Mayo e colaboradores.<br />

Em outras palavras, foi um movimento de reação e oposi-<br />

ção à Teoria Clássica de Administração, que se preocupava com<br />

a máquina, o método de trabalho, a organização formal e os prin-<br />

cípios da Administração, os quais nem sempre foram pacificamente<br />

aceitos. Os sindicatos e trabalhadores passaram a visualizar e<br />

interpretar a Administração Científica como um meio sofisticado<br />

de exploração dos empregados a favor dos interesses patronais.<br />

Tente imagina como se dava o processo num período em<br />

que aumenta significamente o número das indústrias e as exi-<br />

gências com produtividade – Como ficam os trabalhadores neste<br />

processo? Você acreditaria que se sustentaria a lógica racional<br />

extremada de Taylor?<br />

Parece que o modelo clássico estava chegando ao seu limi-<br />

te. O próprio Chiavenato (2000, p. 108), ao definir a escola, afir-<br />

ma que esta “nasceu da necessidade de corrigir a tendência à<br />

desumanização do trabalho com a aplicação de métodos científi-<br />

cos e precisos”.<br />

Nogueira (2007, p. 133) apresenta um panorama sintético<br />

de como surgiu o paradigma <strong>humanista</strong>:


EaD<br />

a) num contexto de conflitos e insatisfação social, de expansão<br />

dos sindicatos e multiplicação de greves, de intensificação de<br />

posições contrárias ao sistema capitalista, de mudanças na<br />

postura da Igreja Católica sobre a valorização do trabalho e<br />

maior aproximação da classe operária;<br />

b) em meio a guerras mundiais e revoluções, culminando com a<br />

instauração do socialismo em países como Rússia e China.<br />

Já Chiavenato (2000, p. 108) apresenta quatro fatos que<br />

marcaram a origem do paradigma <strong>humanista</strong> ou Teoria das Rela-<br />

ções Humanas:<br />

1º) a necessidade de se humanizar e democratizar a Administra-<br />

ção, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas da Teo-<br />

ria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida do povo<br />

americano, ou seja, a teoria se revelou um movimento tipica-<br />

mente americano e voltado para a democratização dos concei-<br />

tos administrativos;<br />

2º) o desenvolvimento da Psicologia, bem como sua crescente<br />

influência intelectual e suas primeiras aplicações à organiza-<br />

ção industrial;<br />

3º) as idéias da Filosofia pragmática de John Dewey e da Psico-<br />

logia dinâmica de Kurt Lewin, fundamentais para o humanismo<br />

na Administração. Elton Mayo é o fundador do paradigma<br />

<strong>humanista</strong>, assim como a Sociologia de Pareto foi fundamen-<br />

tal às idéias de Mayo;<br />

4º) as conclusões da experiência Hawthorne, realizada entre<br />

1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo, que puseram<br />

em xeque os principais postulados da Teoria Clássica da Ad-<br />

ministração, ou seja, propunham estudar as condições que<br />

melhorariam o desempenho dos empregados nas organizações.<br />

Esta experiência é considerada o principal fato ou a causa<br />

imediata que desencadeou uma mudança de paradigma na<br />

Administração.<br />

Se nos apoiarmos em Motta e Vasconcelos (2002, p. 54),<br />

entretanto, agregamos mais dois fatos que mobilizaram mudan-<br />

ças significativas nesse período:<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

John Dewey<br />

(1859-1952), nascido nos<br />

Estados Unidos, criou a<br />

primeira instituição de<br />

pedagogia experimental da<br />

história – a Escola-Laboratório,<br />

na Universidade de<br />

Chicago (Nogueira, 2007, p.<br />

134).<br />

Kurt Lewin<br />

(1890-1947), psicólogo,<br />

nasceu em Mogilno, Alemanha.<br />

Desenvolveu a teoria do<br />

campo psicológico, em que<br />

afirma que as variações<br />

individuais do comportamento<br />

humano com relação à norma<br />

são condicionadas pela tensão<br />

entre as percepções que o<br />

indivíduo tem de si mesmo e<br />

pelo ambiente psicológico em<br />

que se insere, o espaço vital,<br />

onde abriu novos caminhos<br />

para o estudo dos grupos<br />

humanos. Dedicou-se às áreas<br />

de processos sociais, motivação<br />

e personalidade, aplicou<br />

os princípios da Psicologia da<br />

Gestalt, assim como a teoria<br />

de três etapas que revolucionou<br />

a idéia de mudança em<br />

organizações.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 4 maio 2009.<br />

29


EaD Marivane da Silva<br />

30<br />

Mary Parker Follett<br />

(1868-1933) nasceu em<br />

Quincy – Reino Unido. Autora<br />

que marcou o mundo da<br />

gestão pelas suas idéias,<br />

consideradas revolucionárias<br />

para seu tempo. Formou-se<br />

em Filosofia, Direito, Economia<br />

e Administração Pública.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 4 maio 2009.<br />

1º) modificações no sistema de equilíbrio entre empregados e empre-<br />

gadores, reconhecendo a existência de conflitos e os métodos de<br />

solução, explicitados por Mary Parker Follett, na verdade Follett<br />

defendia que a melhor solução seria por meio da integração dos<br />

interesses de ambas as partes, e antecipou as proposições sobre<br />

participação e liderança democrática. É importante ressaltar que<br />

Follett não teve reconhecimento e aceitação de suas teorias no pe-<br />

ríodo em que as defendia na escola de relações humanas.<br />

2º) ao mesmo tempo em que as idéias da Escola de Relações Huma-<br />

nas eram divulgadas e ganhavam impulso, elas enfrentavam as<br />

condições adversas da maior crise do mundo capitalista – a crise da<br />

Bolsa de Valores de Nova York de 1929. Nesse período a preocupa-<br />

ção dos gestores recaía sobre o aumento da produtividade e redu-<br />

ção dos custos. A Escola de Relações Humanas representou uma<br />

nova perspectiva para o reerguimento das empresas, além de “ser-<br />

virem de justificação para a negação da validade do conflito indus-<br />

trial, que essa escola atribuiu a indivíduos com problemas” (p. 56).<br />

Diante desta problemática, os pesquisadores e estudiosos<br />

da Psicologia do Trabalho e Psicologia Industrial reforçaram a<br />

importância da consideração conjunta dos fatores humano e<br />

material para a avaliação da produtividade no trabalho.<br />

Apropriando-nos das contribuições de Silva (2002, p. 199)<br />

apresentamos a Figura 1, que contempla os fatos anteriormente<br />

mencionados.<br />

Enfraquecimento<br />

do sindicalismo<br />

Movimento das<br />

Relações Humanas<br />

Filosofia do<br />

Humanismo<br />

Industrial<br />

Figura 1: Influências ao movimento das Relações Humanas<br />

Fonte: Silva (2002, p. 199).<br />

Estudos de<br />

Hawthorne


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Agora vamos detalhar um pouco mais os Estudos de Hawthorne. Você não tem curio-<br />

sidade de saber no que consistiam esses estudos? Quem era o coordenador deste projeto,<br />

sobre o qual existiam grandes expectativas em termos de resultados? Vamos auxiliar você<br />

nesta descoberta.<br />

Como você já deve ter percebido, a experiência ou os estudos de Hawthorne represen-<br />

taram um marco na evolução do pensamento administrativo.<br />

Nós, estudiosos da área de gestão, sempre nos questionamos: afinal, como esta expe-<br />

riência começou?<br />

Ferreira et al (2005, p. 76) nos dão essa resposta:<br />

A experiência começou porque a administração da fábrica de relés telefônicos Western Electric<br />

Company, localizada no bairro de Hawthorne, na cidade de Cícero, em Illinois, Estados Unidos,<br />

estava insatisfeita com a produtividade de seus empregados. Embora essa indústria oferecesse<br />

salários satisfatórios e boas condições de trabalho, os resultados não apareciam nos níveis dese-<br />

jados. Ficou decidido, então, em 1927, que seria empreendida uma pesquisa que pudesse indicar<br />

formas de aumentar a motivação para o trabalho. Para tanto foi contratada uma equipe da<br />

Universidade de Harvard, chefiada pelo professor Elton Mayo.<br />

Antes de explicitarmos as fases da experiência de Hawthorne, vamos apresentar o ci-<br />

entista Elton Mayo!<br />

George Elton Mayo (Adelaide, Austrália, 26 de dezembro de 1880<br />

— Polesden Lacey, Reino Unido, 7 de setembro de 1949) foi um<br />

sociólogo australiano, um dos fundadores e principal expoente do<br />

método da sociologia industrial estadunidense.<br />

Formou-se em Filosofia e Medicina na Universidade de Adelaide,<br />

trabalhou na África e lecionou na Universidade de Queensland.<br />

Ainda na Austrália, estudou as sociedades aborígenes, que o<br />

tornaram sensível às múltiplas dimensões da natureza humana.<br />

Durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou na análise<br />

psicológica de soldados em estado de choque. Também foi<br />

professor em Harvard.<br />

Chefiou a experiência na fábrica da Western Eletric Company,<br />

situada em Chicago, no bairro de Hawthorne.<br />

Disponível em: . Acesso<br />

em: 10 abr. 2009.<br />

31


EaD Marivane da Silva<br />

32<br />

As fases da experiência de Hawthorne serão descritas no Quadro 1.<br />

Para aprofundamento da experiência de Hawthorne, sugerimos<br />

ver o filme “O fator humano: os estudos de Hawthorne para os<br />

gerentes de hoje”, produzido por Salenger Educacional Media e<br />

distribuído pela Siamar – Treinamento e Desenvolvimento Ltda.<br />

1ª fase da experiência de Hawthorne<br />

OBJETIVO: Conhecer o efeito da iluminação sobre o rendimento dos operários.<br />

DESCRIÇÃO: Escolhidos dois grupos de operários que faziam o mesmo trabalho e em condições<br />

idênticas: a) um grupo de observação trabalhava sob intensidade de luz variável, enquanto o grupo<br />

de controle tinha intensidade constante. Os observadores não encontravam correlação direta entre<br />

ambas as variáveis, mas verificaram, desapontados, a existência de uma variável difícil de ser<br />

isolada, denominada fator psicológico<br />

DESCOBERTA: Preponderância do fator psicológico sobre o fator fisiológico: a eficiência dos<br />

operários é afetada por condições psicológicas. Reconhecendo o fator psicológico apenas quanto a<br />

sua influência negativa, os pesquisadores pretenderam isolá-lo ou eliminá-lo da experiência, por<br />

considerá-lo inoportuno.<br />

2ª fase da experiência de Hawthorne<br />

OBJETIVO: Determinar o efeito de certas mudanças nas condições de trabalho (períodos de<br />

descanso, lanches, redução do horário de trabalho).<br />

DESCRIÇÃO: Teve início de 1927. Foi criado um grupo de observação: cinco moças montavam os<br />

relés, enquanto uma sexta operária fornecia as peças para abastecer o trabalho. A sala de provas<br />

era separada do departamento (onde estava o grupo de controle) por uma divisão de madeira. O<br />

equipamento de trabalho era idêntico ao utilizado no departamento, apenas incluindo um plano<br />

inclinado com um contador de peças que marcava a produção em fita perfurada. A produção foi o<br />

índice de comparação entre o grupo experimental e o grupo de controle. O grupo experimental tinha<br />

um supervisor, como no grupo de controle, além de um observador que permanecia na sala e<br />

observava o trabalho e assegurava o espírito de cooperação das moças. Elas foram convidadas a<br />

participar na pesquisa e esclarecidas quanto aos seus objetivos. Da mesma forma eram informadas<br />

sobre o resultado e sobre as modificações, antes submetidas a sua aprovação. A pesquisa com o<br />

grupo experimental foi dividido em 12 períodos, para se observar a produção. Após um ano de<br />

pesquisas, identificaram fatores psicológicos que já havia aparecido na experiência sobre<br />

iluminação.<br />

DESCOBERTA: As participantes da pesquisa gostavam de trabalhar na sala de provas porque era<br />

divertido e a supervisão branda permitia trabalhar com liberdade e menor ansiedade. O ambiente era<br />

amistoso e sem pressões, com possibilidade de conversações, o que aumentava a satisfação no<br />

trabalho. Houve a construção de amizade e constituição de uma equipe, com objetivos comuns,<br />

como o de aumentar o ritmo de produção, embora fosse solicitado para trabalhar normalmente.<br />

3ª fase da experiência de Hawthorne<br />

OBJETIVOS: Afastaram-se dos objetivos iniciais de verificar as condições físicas de trabalho e<br />

passaram a aprofundar o estudo das relações humanas no trabalho.<br />

DESCRIÇÃO: Verificaram que no grupo de controle as moças consideravam humilhante a<br />

supervisão vigilante e constrangedora. Apesar de sua política pessoal aberta, a empresa pouco ou<br />

nada sabia acerca dos fatores determinantes das atitudes das operárias em relação à supervisão,<br />

aos equipamentos de trabalho e à própria organização.<br />

Com isso, em 1928, iniciou-se o Programa de Entrevistas com os empregados para conhecer suas<br />

atitudes e sentimentos, ouvir suas opiniões quanto ao trabalho e tratamento que recebiam, bem<br />

como ouvir sugestões a respeito do treinamento dos supervisores. Como teve boa aceitação entre os<br />

envolvidos, foi criada a Divisão de Pesquisas Industriais para ampliar o programa de entrevistas e<br />

entrevistar anualmente todos os empregados. Em 1931 adotou-se a técnica da entrevista nãodiretiva,<br />

que permitia que os operários falassem livremente, sem o desvio do roteiro previsto.<br />

DESCOBERTA: As entrevistas revelaram a existência da organização informal dos operários a fim


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

DESCOBERTA: As entrevistas revelaram a existência da organização informal dos operários a fim<br />

de se protegerem contra o que percebiam como ameaça da Administração. Por meio da organização<br />

informal os operários firmavam laços de lealdade, porém quando decidiam ser leais à empresa isso<br />

provocava um descompasso entre o grupo e a companhia, que gerava conflito, tensão, inquietude e<br />

descontentamento.<br />

Quadro 1: Descrição da experiência de Hawthorne<br />

Fonte: Elaborado a partir de Chiavenato (2000, p. 107-113).<br />

Sugestão de Leitura:<br />

Para obter mais detalhes sobre os experimentos de Hawthorne sugiro ler:<br />

• SILVA, Reinaldo O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira<br />

Thomson Learning, 2002.<br />

• MOTTA, F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. Teoria Geral da Administra-<br />

ção. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.<br />

As principais conclusões da experiência de Hawthorne sintetizadas por Ferreira et al<br />

(2005, p. 78) são:<br />

a) a importância dos grupos informais e a necessidade de ver o trabalho como um processo<br />

coletivo e como uma atividade cooperativa, instituindo suas próprias normas, valores e<br />

atitudes, que têm importância no desempenho;<br />

b) as pessoas sentem necessidade de reconhecimento, segurança e adesão ao grupo e possu-<br />

em expectativas, motivações;<br />

c) é preferível colaborar com os grupos informais do que eliminá-los. O comportamento do<br />

indivíduo se apóia no grupo.<br />

4ª fase da experiência de Hawthorne<br />

OBJETIVO: Analisar a organização informal dos empregados e a organização formal da fábrica.<br />

DESCRIÇÃO: Para estudar os conflitos gerados pela lealdade ao grupo e à companhia, foi escolhido<br />

um grupo experimental para trabalhar em uma sala especial com condições de trabalho idênticas às<br />

do departamento. Um observador ficava dentro da sala e um entrevistador do lado de fora<br />

entrevistava o grupo.<br />

O sistema de pagamento era baseado na produção do grupo, havendo um salário-hora com base em<br />

fatores e um salário mínimo horário, para o caso de interrupções na produção. Os salários só<br />

poderiam ser maiores se a produção total aumentasse. Os operários apresentavam uma certa<br />

uniformidade de sentimentos e solidariedade grupal. O grupo desenvolveu métodos para assegurar<br />

suas atitudes,considerando delator o membro que prejudicasse o colega e pressionando os mais<br />

rápidos para estabilizarem sua produção por meio da punições simbólicas.<br />

DESCOBERTA: Foi interrompida em 1932 por motivos financeiros, mas foi suficiente para abalar a<br />

tese da teoria clássica até então dominante.<br />

33


EaD Marivane da Silva<br />

34<br />

Considerando sua influência no pensamento administrativo é possível concordar com<br />

a tese de que Hawthorne significou o “divisor de águas”, revelando a importância dos as-<br />

pectos psicossociais do trabalho e como estes poderiam influenciar na produtividade.<br />

Ou ainda, como observa Nogueira (2007, p.133), “a conclusão, impressionante para<br />

os padrões da época, foi a de que a produtividade depende mais de aspectos informais e<br />

sociais dos grupos de trabalho do que de fatores físicos (iluminação, limpeza, máquinas,<br />

etc.)”.<br />

Sem dúvida foi importante reconhecer duas questões: 1) que além da face formal da<br />

fábrica havia outra face – a chamada organização informal – que engloba a cultura<br />

organizacional, os grupos e os líderes informais; 2) a especialização não era a maneira mais<br />

eficiente de divisão de trabalho.<br />

Foi a partir daí que teve início percepção das conseqüências da troca de posição dos<br />

operários na produção, tais como: variação e fim da monotonia do trabalho; elevação da<br />

moral do trabalhador; modificação na sua satisfação; importância do conteúdo do cargo<br />

(descrição das tarefas).<br />

Seção 2.2<br />

Sintetizando, o paradigma <strong>humanista</strong> foi estabelecido com base nas dimensões<br />

psicológicas, grupais e sociais e de organização informal.<br />

Contribuições dos Teóricos ao Paradigma Humanista<br />

Delineando uma linha do tempo e estudando os fatos, fica claro o avanço ocorrido na<br />

gestão a partir da perspectiva do paradigma estrutural, que evolui até obrigar os gestores a<br />

combinar elementos objetivos e subjetivos para responder às novas exigências da problemá-<br />

tica social daquele tempo.<br />

A nova concepção de gestão ou administração a partir deste paradigma passa a ser<br />

assim entendida:<br />

(...) o conceito de gestão ou administração como processo de decisão sobre o uso não apenas dos<br />

meios técnicos e administrativos, mas sobretudo dos meios sociais e comportamentais, para<br />

atingir resultados pela oferta de produtos ou serviços (Nogueira, 2007, p. 135).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Outro aspecto relevante resultante do surgimento do paradigma <strong>humanista</strong> foram os<br />

estudos sobre a motivação, o pressuposto do comportamento no trabalho e as necessidades<br />

sociais. Este novo modelo de gestão também propiciou uma releitura do conceito tradicio-<br />

nal de chefe, inspirado em Fayol (autoritário), e o aproximou da noção de líder, reforçando<br />

os estudos sobre os estilos de liderança.<br />

Veja, a seguir, os principais pressupostos da Escola de Relações Humanas:<br />

Participação<br />

nas decisões<br />

Homem social<br />

Figura 2: Pressupostos da Escola de Relações Humanas<br />

Fonte: Elaborado a partir de Ferreira, Reis e Pereira (2002, p. 27-28).<br />

Cabe destacar que outros pesquisadores também deram sua contribuição ao paradigma<br />

<strong>humanista</strong> e não poderíamos deixar de citá-los:<br />

Oliver Sheldon (1894-1951), filósofo britânico, apresentou em 1923 uma<br />

filosofia de administração enfatizando as responsabilidades sociais da<br />

empresa – oferecer produtos e serviços à comunidade, bem como zelar<br />

pelo seu bem-estar.<br />

Alfred J. Marrow (1905-1978), psicólogo especializado em Psicologia<br />

Industrial. Sua contribuição foi a introdução dos métodos de pesquisa<br />

da Psicologia aplicada à solução de problemas das organizações indus-<br />

triais, defendendo a criação de um clima de trabalho capaz de satisfazer<br />

às necessidades do trabalhador.<br />

Integração e<br />

comportamento<br />

sociais<br />

Conteúdo do<br />

trabalho<br />

35


EaD Marivane da Silva<br />

36<br />

Ordway Tead (1891-1973), naturalista e <strong>humanista</strong>, defendia a compre-<br />

ensão do comportamento administrativo a partir do conhecimento da<br />

natureza humana.<br />

Mary Parker Follett (1868-1933), apresentou seus escritos muito antes<br />

dos estudos de Hawthorne. Conhecida como “profeta do gerenciamento”<br />

pelo fato de ter sustentado idéias muito à frente do seu tempo em rela-<br />

ção à gerência, às formas de liderança e ao trabalho em equipe. Sofreu<br />

muitos preconceitos pelo fato de ser mulher e de suas idéias serem avan-<br />

çadas demais para seu tempo.<br />

Ela também propôs uma forma mais adequada para o exercício da auto-<br />

ridade, enfatizando a importância da tarefa. Formulou três métodos de<br />

solução de conflitos industriais: a dominação, a conciliação ou barga-<br />

nha e a integração. Defendia a integração como a melhor estratégia de<br />

solução dos conflitos e que a unidade da sociedade não se encontrava<br />

nos indivíduos, mas nos grupos sociais. Dependendo dos grupos aos<br />

quais pertencem, eles formam a sua identidade e desenvolvem o seu po-<br />

tencial humano. “Foi pioneira no desenvolvimento de uma <strong>abordagem</strong><br />

holística e ecológica” (Ferreira et al, 2005, p. 81).<br />

Roethlisberger & Dickson, destacaram-se pelo legado descritivo das pri-<br />

meiras experiências da Escola de Relações Humanas. Também propuse-<br />

ram um modelo de organização como sistema social. Segundo eles, a<br />

organização industrial tem duas funções: a) eficiência técnica: produzir<br />

o produto de modo eficiente a baixo custo; b) eficiência social: criar e<br />

distribuir satisfação e realização para os membros da organização. Com<br />

base nos escritos de Vilfredo Pareto analisaram o comportamento<br />

organizacional separando sentimentos e lógica.<br />

Vilfredo Pareto (1848-1923), foi político, sociólogo e economista italia-<br />

no. Para ele, o homem não é um ser racional, mas um ser que raciocina<br />

tão-somente. Tenta atribuir justificativas pretensamente lógicas para<br />

suas ações ilógicas, deixando-se levar pelos sentimentos.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Chester Irving Barnard (1886-1961), pensador da Escola de Relações<br />

Humanas, que deslocou a análise da organização formal para os grupos<br />

informais. Destacou-se pela sua experiência prática como gerente. Es-<br />

creveu a obra As funções do executivo, publicada em 1938, em que enfatiza<br />

as tensões entre o indivíduo e a organização. Reconhece a natureza<br />

única de cada indivíduo e a organização como um sistema cooperativo.<br />

Destacava que o controle e a integração necessária seria o desenvolvi-<br />

mento de valores comuns e de uma ética que gerassem comprometimen-<br />

to dos indivíduos com a organização. Formulou a chamada “teoria da<br />

aceitação da autoridade”. Também destacou-se na Escola do<br />

Behaviorismo, com o aprofundamento da autoridade e da liderança.<br />

Figuras disponíveis em: . Acesso em: 6 jun. 2009.<br />

Após conhecermos as contribuições e os principais autores que contribuíram com sua<br />

reflexão teórico-prática para o paradigma <strong>humanista</strong>, apresentamos o esquema da estraté-<br />

gia administrativa proposta por Motta e Vasconcelos (2002, p. 68) que sintetiza as idéias<br />

centrais dessa escola.<br />

Administração<br />

‘<br />

Indivíduo<br />

homo social<br />

Figura 3: Estratégia administrativa de relações humanas<br />

Fonte: Motta e Vasconcelos (2002, p. 68).<br />

Nesse contexto ainda é preciso destacar que a administração é formada por vários<br />

elementos, entre eles o subsistema de comunicações, que é essencialmente “um processo de<br />

interação humana que busca o entendimento comum nas relações entre indivíduos/homo<br />

social ou sujeitos, fundamental para a sobrevivência, o crescimento e a continuidade da<br />

organização” (Arantes, 1998, p. 260).<br />

Sistema de<br />

comunicações<br />

Grupo<br />

Informal<br />

Objetivos da<br />

organização<br />

formal<br />

Participação<br />

nas decisões<br />

Organização<br />

Informal<br />

37


EaD Marivane da Silva<br />

38<br />

As relações que se estabelecem entre os indivíduos no espaço da organização consti-<br />

tuem-se em função da proximidade, personalidades e necessidades, denominados de grupos<br />

informais. Esses grupos não são nem planejados nem sancionados pela organização – sur-<br />

gem espontaneamente.<br />

O propósito dos indivíduos é participar das decisões a partir de um foco – um objetivo<br />

estabelecido pela organização, que necessita ser compatibilizado com os objetivos individu-<br />

ais para estabelecer a estratégia administrativa do paradigma <strong>humanista</strong>.<br />

Em outras palavras, o paradigma <strong>humanista</strong> defendia a valorização dos grupos infor-<br />

mais dentro da organização como forma de combater a sensação de alienação dos indivídu-<br />

os e promover o equilíbrio das relações no espaço organizacional.<br />

Agora vamos conhecer na seção 2.3 as críticas dos autores que se envolveram no pro-<br />

cesso de construção de uma nova visão de homem, organização e sociedade.<br />

Seção 2.3<br />

Sugestão de Leitura:<br />

• Estude a partir de uma história. Leia o capítulo 10, “A um passo de<br />

relações humanas”, de Fava, Rubens. Caminhos da Administração. São<br />

Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.<br />

Críticas Gerais ao Paradigma Humanista<br />

Motta e Vasconcelos (2002) separam as críticas ao paradigma <strong>humanista</strong> em duas<br />

fases: a) Críticas à obra de Elton Mayo; b) Críticas ao movimento de relações humanas.<br />

a) Críticas à obra de Elton Mayo<br />

Origens Críticas<br />

Industriais<br />

Entendiam que as conclusões de Mayo eram verdadeiras, mas inaplicáveis.<br />

Não acreditavam na imparcialidade na pesquisa, dado que a própria<br />

administração da Western Eletric patrocinou os estudos de Mayo.<br />

Havia a percepção de que a valorização do trabalhador se dava em detrimento do<br />

consumidor, isto é, no momento em que a empresa passa a se preocupar com as<br />

necessidades sociais do trabalhador, de uma ou outra forma aumentam os custos<br />

em prejuízo do consumidor.


EaD<br />

Psicólogos<br />

Sociólogos<br />

Quadro 2: Críticas à obra de Elton Mayo<br />

Fonte: Elaborado com base em Motta e Vasconcelos (2002).<br />

b) Críticas ao movimento de relações humanas<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

No final da década de 50 a Escola de Relações Humanas entrou em declínio e passou<br />

a ser criticada. A principal crítica refere-se ao fato de resolver o conflito por meio da simples<br />

negação. Para os estudiosos, admitir o conflito significaria a legitimidade da diferenciação<br />

de metas e a aceitação da negociação como estratégia administrativa, o que implicaria uma<br />

redução do poder hierárquico, já estabelecido pelo modelo anterior – da burocracia.<br />

A negação do conflito excluiu qualquer possibilidade de resolução do impasse entre<br />

empresa e trabalhadores, o que se tornou uma situação confortável para a administração,<br />

assim como o problema da cooperação foi visto como uma conseqüência da especializa-<br />

ção. Muitos críticos afirmam que a Escola de Relações Humanas centrou-se em um cam-<br />

po muito restrito de variáveis e as estudou sem levar em conta as demais variáveis<br />

interdependentes.<br />

O paradigma <strong>humanista</strong> restringiu seu estudo a fábricas, impossibilitando a generali-<br />

zação de seus resultados a outros tipos de organização. Como conseqüência obteve a per-<br />

cepção de um homem social, em oposição ao homem econômico, porém com uma concep-<br />

ção ainda estreita:<br />

Entendiam que as conclusões de Mayo eram verdadeiras, mas também óbvias.<br />

Acreditavam que Mayo não foi o primeiro a falar em grupos primários, mas teve<br />

mérito em extraí-los das ciências comportamentais e aplicá-los à prática<br />

administrativa, especialmente aos problemas da indústria.<br />

As conclusões de Mayo não vão ao fundo do problema.<br />

Mayo investigou a indústria com a exclusão completa de seu back-ground social;<br />

apresentou uma tendência a favorecer a administração; no campo científico,<br />

ignorou a teoria e adotou uma postura que exalta o empirismo, a observação e a<br />

descoberta dos dados. Outras críticas são citadas, tais como: não demonstrou<br />

sentido crítico e encarou os trabalhadores como meios a serem manipulados e<br />

ajustados a fins impessoais; os fatos da pesquisa são indiscutíveis, porém sua<br />

interpretação não o é; não percebeu a existência de conflitos de interesses em<br />

uma sociedade dinâmica; a pesquisa de Mayo foi autorizada e financiada pela<br />

administração da Western Electric, como parte de uma assessoria para resolver<br />

problemas; ignorou a diferença entre ciência e tecnologia, tornando-se insensível<br />

a problemas de fins e valores.<br />

“O ser humano continuaria a ser passível e controlável por meio de estímulos, um ser<br />

simples e previsível. Além dos estímulos econômicos, deve-se levar em conta os estímulos<br />

psicossociais e as relações entre grupos informais” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 69).<br />

Você se deu conta do que faltava na análise do movimento? Vamos revelar!<br />

39


EaD Marivane da Silva<br />

40<br />

O grande pecado era não considerar o meio social como um dos fatores que influenci-<br />

avam no comportamento das pessoas na organização. Isso também permitia ter uma con-<br />

cepção utópica de trabalhador, que se baseava numa visão idealizada de um operário feliz e<br />

integrado ao ambiente de trabalho, ou seja, uma negação das constatações práticas segun-<br />

do as quais existiam operários infelizes e produtivos e outros felizes e improdutivos. Havia a<br />

negação de que ”felicidade e produtividade não são, portanto, diretamente proporcionais”<br />

(Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 32).<br />

Outro ponto ressaltado é a criação de uma dualidade: a organização formal e lógica<br />

de um lado e a organização informal e afetiva de outro, que mais tarde passam a ser integra-<br />

das em estruturas formais e informais da organização. Houve, porém, uma supervalorização<br />

da importância da integração grupal como fator de aumento da produtividade.<br />

Da mesma forma, o estímulo à participação dos indivíduos nas decisões empresariais,<br />

por intermédio da comunicação de baixo para cima, foi analisado como uma estratégia<br />

negativa aos objetivos declarados, ou seja, o espaço dado aos trabalhadores para opinar<br />

tornou-se uma forma de a administração detectar as idéias e suas insatisfações, inteirando-<br />

se previamente dos movimentos trabalhistas reivindicatórios.<br />

Resumidamente, o paradigma <strong>humanista</strong> foi criticado por não apresentar novos crité-<br />

rios efetivos de gestão, nem indicar de forma prática o que devia ou não ser feito para obter<br />

melhores resultados organizacionais.<br />

Cabe ressaltar que embora o paradigma <strong>humanista</strong> apresente uma série de limitações,<br />

continua sendo analisado e aperfeiçoado até hoje no mundo da gestão. A discussão sobre a<br />

relevância da criação e manutenção de um clima organizacional favorável aos trabalhadores<br />

deve-se a este paradigma. Nesse sentido, cabe compreender as razões das teorias de transição,<br />

que muitos autores clássicos consideram decorrentes da Escola de Relações Humanas.<br />

Seção 2.4<br />

Teorias de Transição<br />

O paradigma <strong>humanista</strong> vem sendo estudado desde o seu surgimento, na década de<br />

30, com raízes nos anos 20, principalmente por meio das contribuições pioneiras de Mary<br />

Parker Follett, de Chester Barnard e de Elton Mayo.<br />

Como já afirmamos anteriormente, várias abordagens são possíveis, e podemos encon-<br />

trar classificações diferentes de acordo com o autor consultado. Cabe destacar aqui que<br />

Silva (2002, p. 185) também propõe uma divisão diferenciada para a perspectiva humanística,<br />

que não pode ser desconsiderada nesse processo de estudo.


EaD<br />

escolas:<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Em seus estudos Silva (2002) apresenta a perspectiva humanística constituída de quatro<br />

1. as teorias de transição, de Follett e de Barnard;<br />

2. a Escola das Relações Humanas, de Elton Mayo;<br />

3. a Escola Comportamentalista, de Maslow, Herzberg e Likert;<br />

4. o Estruturalismo, de Etzioni e de Blau/Scott.<br />

Lembre-se: é uma questão de opção teórico-metodológica; de como apresentar ou fa-<br />

zer a leitura de sua <strong>abordagem</strong>. Você também não deve esquecer:<br />

(...) que o paradigma <strong>humanista</strong> nasceu com a descoberta da dimensão psicossocial e informal<br />

do trabalho, com base em estudos de desempenho e da produtividade, e não representava uma<br />

<strong>abordagem</strong> consistente da questão do comportamento na organização. Por isso, ele foi precursor<br />

do paradigma comportamental (...) (Nogueira, 2007, p. 131).<br />

Assim, novas indagações começam a exigir novas pesquisas e experimentos e deram<br />

origem ao avanço dos estudos sobre comportamento. Nogueira (2007, p. 131) analisa o<br />

avanço dos estudos a partir das seguintes questões: Como tornar o trabalho ao mesmo tem-<br />

po produtivo e socialmente integrador? Como garantir produtividade sem desumanizar o<br />

trabalho ou degradar a identidade profissional dos trabalhadores? Qual o papel dos grupos<br />

informais nos resultados da organização formal?<br />

Como restavam dúvidas nas conclusões da Escola de Relações Humanas ou paradigma<br />

<strong>humanista</strong>, abre-se o campo da Administração para a aplicação de pesquisas e experiências<br />

sobre o comportamento humano, que no Ocidente, especialmente nos Estados Unidos, fi-<br />

cou conhecido como Behaviorismo ou Escola Comportamental ou ainda Paradigma<br />

Comportamental, que será tratado na Unidade 3.<br />

SÍNTESE DA UNIDADE 2<br />

O estudo da Unidade 2 permitiu a você conhecer as bases do<br />

paradigma <strong>humanista</strong>, que teve seu início marcado no começo do<br />

século 20, mais precisamente nos 30, pelo desenvolvimento das<br />

pesquisas na Western Eletric Compay, fábrica no bairro de<br />

Hawthorne, em Chicago, conhecido como estudos de Hawthorne,<br />

coordenado por George Elton Mayo.<br />

41


EaD Marivane da Silva<br />

42<br />

A experiência de Hawthorne teve quatro fases, e seu objetivo era<br />

encontrar uma relação entre produtividade e condições físicas de<br />

trabalho, como luminosidade, ambiente, fadiga, etc. Suas conclu-<br />

sões permitiram afirmar que a produtividade depende mais de as-<br />

pectos informais e sociais dos grupos de trabalho do que de fatores<br />

físicos.<br />

Os principais autores que contribuíram com o paradigma <strong>humanista</strong><br />

foram George Elton Mayo, Mary Parker Follett e Chester Irving<br />

Barnard.<br />

As idéias centrais deste paradigma são homo social, grupo infor-<br />

mal e participação nas decisões.<br />

A organização é vista como um sistema social, cujo foco centra-se<br />

nos pequenos grupos, e na dimensão humana e emocional dos<br />

empregados.<br />

O paradigma <strong>humanista</strong> recebeu críticas gerais, bem como a obra<br />

de Mayo, realizadas por industriais, psicológicos e sociólogos. Tais<br />

críticas permitiram avançar nas pesquisas e dar origem ao<br />

paradigma comportamental, nosso próximo tema de estudo.


Unidade Unidade 3<br />

3<br />

EaD<br />

PARADIGMA COMPORTAMENTAL<br />

OBJETIVOS DESTA UNIDADE<br />

• Apresentar a origem e as contribuições de diversos autores ao<br />

paradigma comportamental.<br />

• Descrever as críticas ao paradigma comportamental.<br />

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE<br />

Seção 3.1 – Origem do Paradigma Comportamental<br />

Seção 3.2 – Contribuições do Paradigma Comportamental<br />

Seção 3.3 – Críticas ao Paradigma Comportamental<br />

Seção 3.1<br />

Origem do Paradigma Comportamental<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

O paradigma comportamental é um aprofundamento dos estudos da Escola de Rela-<br />

ções Humanas ou paradigma <strong>humanista</strong>. Para muitos, representa a aplicação da Psicologia<br />

Organizacional à administração e, para outros, uma tentativa de consolidar o enfoque das<br />

relações humanas nas teorias das organizações.<br />

Os estudiosos adotaram uma orientação mais psicológica, com foco no ajustamento<br />

pessoal do trabalhador na organização e nos efeitos dos relacionamentos intragrupais e<br />

estilos de liderança. O paradigma comportamental trata do comportamento organizacional,<br />

isto é, do estudo dos indivíduos e grupos nas organizações.<br />

O paradigma comportamental surgiu em 1957, e ficou também conhecido como Teoria<br />

ou Escola Comportamental ou Escola Behaviorista.<br />

43


EaD Marivane da Silva<br />

44<br />

Dica de leitura:<br />

BALESTRIN, Alsones. Uma<br />

análise da contribuição de<br />

Herbert Simon às teorias<br />

organizacionais. REAd –<br />

Revista Eletrônica de<br />

Administração, ed. 28, n. 4, v.<br />

8, set. 2000. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 14 fev. 2003.<br />

Polímata (do grego<br />

polymathçs, “aquele que<br />

aprendeu muito”) é uma<br />

pessoa cujo conhecimento não<br />

está restrito a uma única área.<br />

Em termos menos formais, um<br />

polímata pode referir-se<br />

simplesmente a alguém que<br />

detém um grande conhecimento.<br />

Muitos dos cientistas<br />

antigos foram polímatas pelos<br />

padrões atuais.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 1º jun. 2009.<br />

É possível elencar vários fatores propulsores ao surgimento<br />

do paradigma comportamental:<br />

a) Esgotamento do paradigma técnico-administrativo –<br />

taylorismo, fordismo e fayolismo – que não considera o fator<br />

humano na ótica da organização formal e a evolução de uma<br />

discordância da escola de Relações Humanas.<br />

b) Não aceitavam a visão romântica e ingênua dos estudiosos do<br />

paradigma <strong>humanista</strong>.<br />

c) Os problemas de administração e de gestão se avolumavam n<br />

mesma proporção que as organizações se expandiam – e, com<br />

elas, as demandas sociais.<br />

d) A escola comportamental é mais crítica no que se refere ao<br />

modelo de máquina adotado pela burocracia para representar<br />

a organização.<br />

e) A publicação, em 1947, do livro O comportamento administra-<br />

tivo, de Herbert Simon, cuja meta principal foi tentar desenvol-<br />

ver uma ciência do comportamento humano isenta da conside-<br />

ração de valores.<br />

Herbert Alexander Simon (1916-2001), economista, nasceu Milwaukee,<br />

Wisconsin (EUA). Foi um pesquisador nos campos de Psicologia Cognitiva,<br />

Informática, Administração Pública, Sociologia Econômica e Filosofia. Era<br />

considerado um polímata.<br />

Em 1933 entrou para a Universidade de Chicago, onde estudou Ciências<br />

Sociais e Matemática. Seu mentor mais importante na universidade foi<br />

Henry Schultz, que era um econometrista e economista matemático.<br />

Eventualmente seus estudos levaram-no ao campo da tomada de decisão<br />

organizacional, que se tornaria o tema de sua tese de Doutorado.<br />

Simon era conhecido pela sua pesquisa em organização industrial.<br />

Ele é responsável pelo conceito de tomada de decisão organizacional da<br />

forma como é conhecido atualmente. Foi também o primeiro a discutir este<br />

conceito em termos de incerteza; isto é, é impossível ter informação<br />

completa perfeita em qualquer tempo dado tomar uma decisão. Foi nessa<br />

área que ele recebeu o Prêmio Nobel em 1978.<br />

Disponível em: . Acesso em:<br />

10. abr. 2009.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

A visão da pessoa na perspectiva da Psicologia Social de Hans Gerth e Wright Mills<br />

ajudou a entender a complexidade do comportamento e da motivação no trabalho e possibi-<br />

litou avançar nas pesquisas.<br />

Segundo Hans Gerth (1908-1978) e Wright Mills (1916-1962), é possível relacionar a motivação<br />

com o organismo biológico e com a estrutura psíquica do ser humano, ou seja, com a estrutura de<br />

caráter, composta de percepções, emoções e impulsos. Em sentido estrito, de outro lado, as motiva-<br />

ções são vistas como justificativas sociais da conduta pessoal e como meio de persuasão para que<br />

os outros aceitem e aprovem nossa conduta (Nogueira, 2007, p. 138).<br />

Os autores explicam que o indivíduo é motivado a um desempenho tanto pela estru-<br />

tura de seu caráter quanto pela estrutura social (instituições econômicas, políticas, mili-<br />

tares, religiosas e familiares) da qual faz parte. O controle social se dá por meio destas<br />

instituições, pelas ocupações profissionais e pela classe social. Da mesma forma, chamam<br />

a atenção para o papel desempenhado pelas esferas simbólicas, que dizem respeito aos<br />

aspectos culturais, morais, éticos, religiosos; pelas esferas educacionais, que correspondem<br />

à formação das pessoas, e pelas esferas objetivas, que se relacionam com os equipamentos<br />

técnicos, com as tecnologias de produção e com os sistemas administrativos (Nogueira,<br />

2007).<br />

Depois de compreendermos como surgiu o paradigma comportamental vamos apre-<br />

sentar as contribuições dos teóricos e do próprio paradigma comportamental à gestão.<br />

Seção 3.2<br />

Contribuições do Paradigma Comportamental<br />

As grandes figuras ou teóricos do paradigma comportamental foram Herbert Simon (sis-<br />

tema de decisões), Abraham Maslow (necessidades humanas), Frederick Herzberg (teorias<br />

motivacionais), Douglas McGregor, Chester Barnard (cooperação) e Rensis Likert (estilos e<br />

sistemas de administração). 1<br />

Silva (2002) destaca que os estudiosos apontam duas linhas dentro do<br />

comportamentalismo, associada aos autores, tais como:<br />

a) ênfase no aspecto sociológico: Herbert Simon, Chester Barnard, Philip Selznick;<br />

b) ênfase no aspecto psicológico: Elton Mayo, Chris Argyris e Amitai Etzioni.<br />

2 Suas teorias serão aprofundadas na Unidade 4.<br />

45


EaD Marivane da Silva<br />

46<br />

Tendo como parâmetro o conjunto dessas ênfases, Silva (2002), Andrade e Amboni<br />

(2007) e Oliveira (2009) apresentam as principais contribuições do Paradigma<br />

Comportamental:<br />

a) Desenvolvimento da Psicologia Industrial<br />

Estudos que se consolidaram no final da década de 30, também chamados de Psicolo-<br />

gia Empresarial, entendida como “o estudo da interação e da interdependência entre a em-<br />

presa e os seus empregados, na busca da otimização das relações interpessoais e dos resul-<br />

tados empresariais” (Oliveira, 2009, p. 283).<br />

Na prática a Psicologia Empresarial ou Psicologia Industrial, ou, ainda, Psicologia<br />

Organizacional, está presente na análise do bem-estar das pessoas no ambiente de trabalho<br />

e atua, principalmente, nas atividades de recrutamento, seleção e treinamento de pessoas,<br />

bem como em diagnósticos realizados nas organizações.<br />

b) Movimento direcionado à qualidade de vida no trabalho<br />

Embora pareça um tema recente, cabe destacar que ele é pautado desde 1910, e nos<br />

permite afirmar que sofre influências de dois fatores:<br />

• nível de satisfação que as pessoas têm quanto ao trabalho realizado, correlacionado à<br />

contrapartida dos retornos financeiros recebidos (situação relativamente fácil de ser<br />

identificada e avaliada – mais objetiva);<br />

• nível de satisfação e de auto-realização pessoal e profissional quanto à própria realização das<br />

atividades, ou seja, o trabalho em si (situação mais difícil e subjetiva de ser identificada e avaliada).<br />

c) Estudos focados na dinâmica de grupo<br />

A dinâmica de grupo se consolidou na década de 30, com base nos estudos realizados<br />

pelo psicólogo alemão Kurt Lewin, que considerava os grupos de pessoas um conjunto<br />

interativo de percepções, ações e sentimentos. Em 1935 publicou sua obra Uma Teoria Dinâ-<br />

mica da Personalidade, na qual explicitou vários aspectos da dinâmica de grupo.<br />

Lewin conduziu experimentos nos grupos para analisar a liderança (nos três estilos:<br />

autocrático, liberal e democrático), que serão apresentados com mais detalhes na Unidade 4.<br />

d) Consolidação da importância do estudo do comportamento humano nas organizações<br />

As pesquisas sobre o comportamento organizacional ampliou os estudos da gestão,<br />

expandindo a atuação dos indivíduos e consolidando a idéia de serem disseminadores do<br />

conhecimento administrativo das organizações.


EaD<br />

e) Consolidação do indivíduo como catalisador do processo de tomada de decisão<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Uma boa tomada de decisão depende da qualidade das informações disponíveis, da<br />

qualidade do processo decisório em que as informações estão alocadas, e da qualidade do<br />

profissional decisor que é o responsável pela tomada da decisão – aspectos que precisam ser<br />

considerados numa análise organizacional.<br />

Em síntese, os aspectos organizacionais enfatizados pelo behaviorismo são expressos<br />

na Figura 1.<br />

Conflito de<br />

objetivos<br />

Processo<br />

decisório<br />

Figura 1: Aspectos organizacionais enfatizados no paradigma comportamental<br />

Fonte: Elaborado a partir de Ferreira, Reis e Pereira (2002, p. 40-43).<br />

Após conhecer um pouco dos aspectos acentuados no paradigma comportamental,<br />

vamos apresentar os diversos estudiosos que contribuíram com seus estudos para o desen-<br />

volvimento deste paradigma.<br />

Homem<br />

administrativo<br />

Liderança<br />

Autoridade e<br />

consentimento<br />

Abraham Harold Maslow (1908-1970), americano, psicólogo<br />

comportamental, concluiu seu Doutorado na Universidade de Columbia<br />

e foi professor de Psicologia Social na Universidade de Brandeis. Contri-<br />

buiu para o estudo das motivações humanas e destacou-se com o traba-<br />

lho sobre a hierarquia das necessidades, divulgado em 1943.<br />

47


EaD Marivane da Silva<br />

48<br />

Frederick Herzberg (1923-2000), nascido nos Estados Unidos, psicólo-<br />

go clínico e professor universitário. Contribuiu com os estudos sobre a<br />

motivação humana, em que procurou mostrar que ela se relaciona com<br />

os fatores não-monetários, como desenvolvimento e satisfação pessoal.<br />

Douglas McGregor (1906-1964), natural de Detroit, concluiu o Douto-<br />

rado em Harvard, onde foi professor de Psicologia Social. Seus estudos<br />

sobre motivação levaram à concepção das teorias X e Y. A obra que<br />

marca sua história denomina-se O lado humano da empresa.<br />

David Clarence McClelland (1917-1998), professor da Universidade<br />

Wesleyan, fez Doutorado em Psicologia, em 1941, em Yale. Em 1987 co-<br />

meçou a atuar na Universidade de Boston, na qual permaneceu até sua<br />

morte. Conhecido pelo seu trabalho de motivação e seu interesse pela<br />

investigação sobre personalidade e consciência. Suas idéias têm sido<br />

amplamente adotadas em muitas organizações e relacionam-se estreita-<br />

mente com a teoria de Frederick Herzberg.<br />

Chris Argyris, nasceu em 1923, Newark, Nova Jersey, e cresceu em<br />

Irvington, Nova Jersey. Durante a Segunda Guerra Mundial ingressou<br />

no Corpo do Sinal os E.U. No Exército acabou se tornando segundo<br />

tenente (Elkjaer 2000). Licenciou-se em Psicologia (1947). Ele cursou<br />

Mestrado em Psicologia e Economia na Kansas University (1949), e Dou-<br />

torado em Comportamento Organizacional na Harvard Business School,<br />

onde é professor desde 1971. Seu trabalho inicial centrou-se na área da<br />

ciência comportamental, segundo a qual o indivíduo não deve ser visto<br />

como mera acumulação de suas partes, mas dotado de personalidade<br />

própria. A obra que publicou em 1957, Personality and Organization,<br />

tornou-se um clássico. Foi o primeiro a defender as organizações em<br />

constante aprendizagem (learning organizations).<br />

William Ouchi, nascido em 1943 em Honolulu, Havaí. Fez Mestrado<br />

pela Universidade de Stanford e Doutorado em Administração de Em-<br />

presas pela Universidade de Chicago. Em seus estudos buscou as dife-<br />

renças entre as empresas americanas e japonesas e estilos de gestão.<br />

Seu primeiro livro, chamado Teoria Z foi lançado em 1981.


EaD<br />

Uma análise mais detalhada de cada um dos aspectos<br />

organizacionais do paradigma comportamental será realizada na<br />

Unidade 4, quando serão abordados item por item, de forma a<br />

explorar as diversas contribuições teóricas dos autores. Antes,<br />

porém, de conhecer as concepções teóricas que direcionaram a<br />

gestão de pessoas nas organizações, vamos apresentar as críticas<br />

ao paradigma comportamental.<br />

Seção 3.3<br />

Críticas ao Paradigma Comportamental<br />

O destaque centra-se na contestação da validade prática<br />

do paradigma comportamental, que apresentou uma proposta<br />

muito abstrata para resolver problemas práticos da organização.<br />

A preocupação básica foi explicar as origens e as características<br />

do comportamento humano nas empresas, desconsiderando sua<br />

aplicação prática.<br />

Outro aspecto levantado por Oliveira (2009) foi a falta de<br />

profundidade em algumas análises, além de análises incomple-<br />

tas dos fatores de influência das necessidades humanas,<br />

desconsiderando totalmente os fatores externos ou não contro-<br />

láveis pelas organizações.<br />

Apesar das críticas, cabe ressaltar que não se pode ignorar<br />

a sua contribuição para a evolução do pensamento administrati-<br />

vo, servindo de base para as novas abordagens ao estudo da ad-<br />

ministração, que serão apresentados na Unidade 4.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Sugestão de filme:<br />

Sinopse<br />

Laranja mecânica<br />

Num tempo futuro, Alex<br />

(Malcolm McDowell), líder de<br />

uma gangue de delinqüentes<br />

que matam, roubam e<br />

estupram, cai nas mãos da<br />

polícia. Preso, ele é usado em<br />

experimento destinado a<br />

refrear os impulsos<br />

destrutivos, mas acaba se<br />

tornando impotente para lidar<br />

com a violência que o cerca.<br />

Disponível em: .<br />

49


EaD Marivane da Silva<br />

50<br />

SÍNTESE DA UNIDADE 3<br />

O paradigma comportamental também é conhecido como Escola<br />

Comportamental ou Escola Behaviorista. Surgiu em 1947 com o<br />

livro O Comportamento Administrativo, de Herbert Alexander<br />

Simon, e se consolidou em 1957.<br />

Surgiu em oposição à Escola Clássica (ênfase nas tarefas e estru-<br />

tura) e à Escola de Relações Humanas (ênfase nas pessoas/gru-<br />

pos). Foi definido como um desdobramento do paradigma <strong>humanista</strong><br />

e superação das posições normativas e prescritivas das teorias an-<br />

teriores e adoção de posições explicativas e descritivas. Sua ênfase<br />

está no comportamento do indivíduo na organização.<br />

Os seguidores e as teses apresentadas no paradigma<br />

comportamental são: Abraham Maslow (necessidades humanas),<br />

Frederick Herzberg (teorias motivacionais), Douglas McGregor,<br />

Chester Barnard (cooperação) e Rensis Likert (estilos de adminis-<br />

tração e sistemas de administração), Chris Argyris (aprendizagem<br />

organizacional) e William Ouchi (Teoria Z).<br />

Recebeu poucas críticas, ressaltando-se a ênfase exagerada ao tra-<br />

tar aspectos organizacionais pela Psicologia, em que há uma pre-<br />

ocupação maior em explicar e descrever do que em construir mo-<br />

delos e princípios de aplicação prática no âmbito das organiza-<br />

ções.


Unidade Unidade 4<br />

4<br />

EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

TEMAS DECORRENTES DO PARADIGMA COMPORTAMENTAL<br />

OBJETIVOS DESTA UNIDADE<br />

• Apresentar os temas decorrentes do paradigma comportamental que se conso-<br />

lidaram em abordagens específicas – grupos, equipe, motivação, comuni-<br />

cação, poder, autoridade, liderança, conflitos e negociação, e que são<br />

trabalhadas até hoje no mundo da gestão das organizações.<br />

• Identificar as limitações do paradigma comportamental e as im-<br />

plicações para o entendimento do comportamento humano.<br />

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE<br />

Seção 4.1 – O Indivíduo nas Diferentes Abordagens da Gestão<br />

Seção 4.2 – Grupo e Equipe<br />

Seção 4.3 – Motivação<br />

Seção 4.4 – Comunicação<br />

Seção 4.5 – Liderança, Poder e Autoridade<br />

Seção 4.6 – Conflitos e Negociação<br />

Seção 4.1<br />

O Indivíduo nas Diferentes Abordagens da Gestão<br />

A partir do estudo do paradigma comportamental foi possível chegar ao entendimento<br />

de que nesse momento histórico os estudiosos conseguiram reconhecer a importância do<br />

indivíduo na organização, e mais, concentraram seus esforços na análise de variáveis espe-<br />

cíficas vinculadas ao comportamento do indivíduo, tais como motivação, processo decisório,<br />

cooperação, grupos e suas dinâmicas, comunicação, conflitos e negociação, poder, autori-<br />

dade e liderança, realizando pesquisas e estudos científicos que proporcionaram uma con-<br />

tribuição mais concreta à teoria administrativa.<br />

51


EaD Marivane da Silva<br />

52<br />

Sendo assim, vamos inicialmente compreender como ocorreu a constituição do indiví-<br />

duo enquanto sujeito, recorrendo à evolução histórica das teorias administrativas, além de<br />

demonstrar que com a interdisciplinaridade dos estudos organizacionais é possível compre-<br />

ender esse indivíduo a partir das contribuições da Psicologia, da Sociologia, da Antropolo-<br />

gia e da Ciência Política.<br />

Para auxiliar você nessa descoberta, vamos apresentar as diversas concepções de homem<br />

presente nas organizações, oriundas dos estudos das Escolas da Administração (Figura 1).<br />

Figura 1: Diversas concepções de homem nas organizações<br />

Fonte: Motta e Vasconcelos (2002, p. 284).<br />

Tendo por base o estudo das teorias da Administração é possível afirmar que o seu<br />

início deu-se pela <strong>abordagem</strong> clássica, em que o homem era considerado um ser simples e<br />

previsível, cujo comportamento não mudava em razão do trabalho altamente rotineiro e<br />

mecânico que desenvolvia. O comportamento humano, portanto, não se constituía num<br />

problema de gestão.<br />

Homo economicus<br />

Homem social<br />

Homem complexo: ator social<br />

Homem que decide: racionalidade limitada<br />

Homem organizacional: a dimensão política<br />

Homem funcional: os conflitos de papéis<br />

A Escola Clássica de Administração possuía o entendimento de que os problemas<br />

comportamentais e organizacionais que surgiam eram “fruto de difícil operacionalização<br />

dos princípios de uma ciência da Administração que estava sendo progressivamente<br />

construída” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 277). O importante era aperfeiçoar regras e es-<br />

truturas e, com isso, os problemas se resolviam.<br />

Em outras palavras, os sonhadores organizacionais da época acreditavam que aperfei-<br />

çoando o sistema o restante era conseqüência. Assim, oferecer incentivos financeiros ade-<br />

quados, estar em constante vigilância e treinamento seria suficiente para garantir o desem-


EaD<br />

penho das pessoas e a produtividade. Tratava-se do pressuposto<br />

da racionalidade absoluta, em que se consolidou o homem<br />

economicus e o foco nas estruturas organizacionais.<br />

Com o paradigma <strong>humanista</strong>, mais especificamente as ex-<br />

periências de Elton Mayo (como já detalhamos na Unidade 2) e<br />

os resultados empíricos de suas pesquisas, tornou-se possível re-<br />

conhecer a complexidade do comportamento humano nas orga-<br />

nizações, e esse comportamento transforma-se em foco das dis-<br />

cussões no campo da Administração, cujo mérito foi comprovar<br />

que:<br />

(...) o aumento da produtividade ou os bons resultados não depen-<br />

diam apenas da melhoria das regras, dos sistemas de trabalho e<br />

das estruturas formais. O aumento da produtividade dependia de<br />

elementos relacionados à afetividade e à melhoria do ambiente<br />

de trabalho (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 278).<br />

Retomando as contribuições da <strong>abordagem</strong> <strong>humanista</strong> te-<br />

mos presente que os fatores que explicavam o aumento de produ-<br />

tividade eram: 1) o estilo participativo de gerência no local da<br />

experiência, oposto ao restante do ambiente da fábrica; 2) a pos-<br />

sibilidade que foi dada às operárias de conversarem e interagirem,<br />

trabalhando em grupo, ao contrário do que ocorria no ambiente<br />

normal de trabalho.<br />

Estes indícios empíricos possibilitaram aos teóricos valori-<br />

zar a compreensão dos fatores afetivos e psicológicos no ambien-<br />

te de trabalho, formando o paradigma <strong>humanista</strong>. Em outras pa-<br />

lavras, a grande contribuição à gestão foi revelar a complexidade<br />

do comportamento humano nas organizações. A partir de então<br />

ficou claro que o homem não age apenas em função de estímulos<br />

econômicos, como defendiam os teóricos da Escola Clássica, mas<br />

também influenciado por fatores de ordem social e afetiva – sur-<br />

gindo o conceito de homem social.<br />

Em termos de concepção de homem, a Escola de Relações<br />

Humanas ou paradigma <strong>humanista</strong> aperfeiçoou elementos na his-<br />

tória, mas continuou pecando por perpetuar a mesma análise dos<br />

clássicos, de entender “o ser humano como um ser passivo, que rea-<br />

ge de forma padronizada aos estímulos aos quais eles são submeti-<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Racionalidade absoluta<br />

Entendida como o meio para<br />

alcançar a eficiência.<br />

53


EaD Marivane da Silva<br />

54<br />

Cecília W. Bergamini<br />

É graduada em Psicologia pela<br />

Faculdade de Filosofia, Ciências<br />

e Letras Sedes Sapientiae da<br />

Pontifícia Universidade Católica<br />

de São Paulo (PUC-SP) e<br />

mestre, doutora e livredocente<br />

em Administração pela<br />

Universidade de São Paulo<br />

(USP). Fez cursos de especialização<br />

em Psicopatologia e<br />

Psicologia Organizacional na<br />

Universidade de Paris,<br />

seguidos de estágios de<br />

atualização nos Estados<br />

Unidos, Canadá e Bélgica. É<br />

professora da Escola de<br />

Administração de Empresas de<br />

São Paulo, da Fundação<br />

Getulio Vargas<br />

(Eaesp/FGV-SP).<br />

do na organização” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 279). Nesse sen-<br />

tido, a Escola também negou o problema dos conflitos na organiza-<br />

ção, considerando-o disfuncional, mesmo com o alerta de Mary<br />

Parker Follett, que não teve suas teses reconhecidas nesse período.<br />

Já a teoria comportamental revela que o indivíduo tem<br />

capacidade de decidir, embora busque apenas a maneira<br />

satisfatória de desenvolver seu trabalho e não a melhor maneira<br />

de fazê-lo; não busca o lucro máximo, mas o lucro adequado,<br />

formando a idéia do homem complexo, aquele que visualiza as<br />

necessidades sociais e afetivas dos grupos organizacionais. En-<br />

tre os trabalhos desenvolvidos no paradigma comportamental des-<br />

tacaram-se os de Argyris, McGregor, Likert, Bennis e Maslow.<br />

O homem complexo “busca ativamente a realização e o<br />

autodesenvolvimento no ambiente de trabalho, tendo direito a<br />

mais autonomia, ao desenvolvimento de sua criatividade e à<br />

aprendizagem organizacional” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 280).<br />

Motta e Vasconcelos (2002) também nos informou que o<br />

movimento da humanização do trabalho teve seu apogeu na Fran-<br />

ça em meados dos anos 70, mas foi temporário, sofrendo o efeito<br />

dos modismos. O conceito de homem complexo foi criticado por<br />

postular um modelo ideal e único em termos de saúde psicológi-<br />

ca e moral, representado pelo modelo unidimensional do “homem<br />

que se atualiza”.<br />

A partir desse momento emerge a idéia de que o ser humano<br />

busca a sua realização e, necessariamente, constrói a sua identi-<br />

dade nas relações de trabalho, defendida por Argyris, Bennis e<br />

Vroom, com o mérito de “terem sido os primeiros a introduzirem a<br />

noção de homem complexo – ser que não é passivo em suas rea-<br />

ções e possui motivações múltiplas nas situações cotidianas de<br />

trabalho” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 280).<br />

Estudos sociotécnicos desenvolveram o “conceito de iden-<br />

tidade social e mostram como o ser humano constrói ativamente<br />

a sua identidade a partir do sentido que atribui à sua ação no<br />

ambiente de trabalho” (p. 280), o que consolidou a idéia de que<br />

“não é possível motivar ninguém”, defendida também por Cecí-<br />

lia W. Bergamini, que acredita que o potencial motivacional já


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

existe dentro de cada um. Assim, a motivação depende de fatores intrínsecos e identitários<br />

dos atores sociais. A partir de suas escolhas e do sentido que atribuem a sua ação, os indiví-<br />

duos agem em sociedade, interagindo com os outros e construindo o mundo social em que<br />

vivem a partir das interações. Assim são formuladas e institucionalizadas as regras que cons-<br />

tituem o sistema social. Tais regras também influenciam os mecanismos de decisão, os pa-<br />

drões culturais e as escolhas dos indivíduos.<br />

Pagès e Enriquez também contribuíram com seus estudos em Psicanálise desenvolvi-<br />

dos no Instituto Tavistock de Londres, nos quais denunciam os efeitos repressores das estru-<br />

turas organizacionais sobre a psique e as representações humanas. A intenção era desven-<br />

dar e analisar os procedimentos que conduziam à instrumentalização do comportamento<br />

humano nas organizações.<br />

Na continuidade da análise podemos fazer referência ao trabalho de Herbert Simon e<br />

ao grupo que ele coordenou e que apresentou o conceito de que a racionalidade é sempre<br />

relativa ao sujeito que decide, não existindo uma única racionalidade superior, como havi-<br />

am proposto os teóricos da Escola Clássica de Administração (Motta; Vasconcelos, 2002, p.<br />

281).<br />

O modelo do homem que decide: a racionalidade limitada, gerou estudos sobre as<br />

condições organizacionais e sociais do processo decisório. Toda decisão é uma aposta em<br />

relação a um futuro incerto e os indivíduos correm os riscos inerentes a cada ação. “A forma-<br />

ção dos critérios de decisão de um indivíduo é contingente e variável de acordo com o tipo<br />

de personalidade, de situação e de opções a ele oferecidas, o que destaca o caráter incerto e<br />

dinâmico do comportamento humano” (p. 282).<br />

Os estudos avançam e passam a analisar a estrutura organizacional, comparando as<br />

racionalidades existentes num sistema político, concluindo que não existe o conflito entre<br />

uma posição racional defendida por um grupo e a irracionalidade de outros grupos (homem<br />

funcional), ou seja, constatam que existe uma falsa dicotomia entre as estruturas formais e<br />

a organização informal, consolidando o homem organizacional.<br />

Ainda no campo da análise organizacional, vamos agregar a visão multidisciplinar,<br />

resgatando as dimensões antropológicas. Chanlat (1996) enfatizou que o homem é um ser<br />

único enquanto espécie e um ser de desejo, de pulsão e de relação. É por intermédio das<br />

relações que ele mantém com o outro um jogo de identificações, que ele vê seu desejo e sua<br />

existência reconhecidos ou não. Sua realidade social é um suporte da realidade psíquica.<br />

Chanlat (2000), entrando na discussão da gestão ou management, propõe um novo<br />

olhar sobre as dimensões humanas e sociais, definido como o retorno de dimensões conside-<br />

radas por ele fundamentais, numa conciliação dos aspectos objetivos e subjetivos ligados à<br />

condição humana. As dimensões fundamentais consideradas por ele são:<br />

55


EaD Marivane da Silva<br />

56<br />

Identidade<br />

A identidade pode ser classificada<br />

em pessoal (conformação<br />

do eu – processo de<br />

individualização), social<br />

(reconhecimento e vinculação<br />

social), no trabalho (contribui<br />

para a formação da identidade<br />

pessoal e atua como fator<br />

motivador – encontrar o<br />

sentido), organizacional<br />

(incorpora as instituições no<br />

imaginário, de forma a<br />

consolidar a identidade<br />

pessoal) (Machado; Kopittke,<br />

2002).<br />

a) retorno do ator e do sujeito: toda pessoa é um ator que a<br />

realidade das organizações produz, reproduz e transforma por<br />

meio da interação dos diferentes grupos e indivíduos que as<br />

compõem, compreendendo também aqueles e aquelas que es-<br />

tão no nível inferior da hierarquia. O sujeito está ao lado da<br />

imaginação, da criação, da crítica e da reflexão sobre si mes-<br />

mo, ou seja, participa da transformação do mundo, da cons-<br />

trução de sua história, mesmo tendo consciência de sua fragili-<br />

dade. Devemos ter presente que “não existe individualização<br />

sem socialização e que a ligação social é antes de tudo uma<br />

ligação afetiva”;<br />

b) retorno da afetividade: fundamental para o desenvolvimento<br />

de todo ser humano, assim como na formação de um grupo.<br />

Esta dimensão no mundo da gestão é na maior parte do tempo<br />

substituída pelo discurso racional. A separação entre razão e<br />

as paixões, herança do pensamento cartesiano, não é contes-<br />

tada ou questionada com muita freqüência. A questão da sub-<br />

jetividade precisa ser mais bem inserida na gestão, consideran-<br />

do que a construção de si é sempre resultante de relações<br />

afetivas e que esta história vai determinar as relações que tere-<br />

mos mais tarde com os outros, ou seja, somos “produtos de<br />

relações sociais, historicamente situadas, que vão condicionar<br />

nossas relações com o outro e contribuir para a construção de<br />

nossa identidade e da qualidade de vida organizacional. É a<br />

partir dessas relações que se estabelece o reconhecimento ou<br />

não;<br />

c) retorno da experiência vivida: a existência humana é uma<br />

experiência, ou seja, um reencontro entre o espírito e a reali-<br />

dade exterior por meio dos sentidos – é uma condição humana.<br />

No mundo da gestão dá-se mais ênfase ao conhecimento que<br />

se tem de uma atividade e pouca ao modo como a pessoa se vê.<br />

Existe certo distanciamento entre o que é concebido e o que é<br />

vivido cotidianamente. Quando a experiência vivida é negada<br />

no mundo das organizações tem-se como conseqüência o<br />

estresse e o sofrimento do indivíduo no trabalho. Reintroduzi-<br />

la na Administração significaria a humanização dos modelos<br />

de gestão.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

d) retorno do simbólico: a organização é um mundo de signos, um espaço no qual as<br />

diferentes linguagens aparecem, um teatro em que se desenvolvem comédias, tragédias<br />

e dramas, uma realidade mais ou menos imaginária, um universo de onde surgem signi-<br />

ficações múltiplas que dão um sentido às diversas ações. É estudar o “sentido” – cerne<br />

da existência;<br />

e) retorno da história: fundamental na existência dos indivíduos ou das sociedades. A His-<br />

tória é a cronologia, é a posição do passado, do presente e do futuro sendo construída.<br />

São os ritmos que marcam as sociedades e os diferentes tempos sociais e pessoais. “Blo-<br />

quear a história é esquecer quem se é e de onde se vem”. Valorizar a história é ter a memó-<br />

ria do passado;<br />

f) retorno da ética: é reconhecer o sentido da ética como uma acepção filosófica que busca<br />

interrogar as regras de conduta constitutivas da moral. A ética está presente em todas as<br />

ações. É pensar a ética da responsabilidade e avaliar os efeitos de suas ações sobre a<br />

comunidade. É agir enquanto cidadão, isto é, respeitando as regras instituídas pela soci-<br />

edade.<br />

Já na dimensão psicológica Freud (apud Aguiar, 1980), ao criar a teoria psicanalítica,<br />

mostrava que o indivíduo se constrói e desenvolve sua personalidade enquanto sujeito no<br />

processo de socialização. Cabe destacar, no entanto, que sua análise se restringiu às rela-<br />

ções do indivíduo com o grupo familiar e desconsiderou o contexto organizacional em que o<br />

indivíduo estava inserido. Mesmo assim, não podemos deixar de reconhecer que suas idéias<br />

auxiliaram nas pesquisas sobre o comportamento do indivíduo.<br />

Atualmente, ao analisarmos o contexto dos estudos organizacionais, em suas pesqui-<br />

sas empíricas percebemos nitidamente um avanço no sentido da valorização da subjetivida-<br />

de. Pode ocorrer, no entanto, que algumas organizações ainda não ofereçam ao indivíduo<br />

possibilidade de expressão plena de sua subjetividade e, ainda, oriente-o apenas à objetivi-<br />

dade. O que é ainda possível, se considerarmos que estamos no século 21 e ainda encontra-<br />

mos organizações que seguem o taylorismo puro como modelo de gestão.<br />

Chanlat (2000), ao apresentar a obra de Davel e Vergara (2001, p. 20), retoma suas<br />

crenças afirmando que “considerar a dimensão subjetiva no campo da administração é,<br />

então, restituir ao sujeito todo o seu espaço, sem o qual não existiria ator verdadeiro”.<br />

É importante termos clareza de que esse sujeito está presente em vários espaços, em<br />

tempos diferentes, e cuja atuação neste espetáculo da vida e do mundo das organizações<br />

depende também da evolução dos estudos organizacionais e do mundo. Em qualquer tempo<br />

e espaço, porém, ele está presente, seja nos pequenos grupos, nas organizações e/ou na<br />

sociedade, com sua cultura específica.<br />

57


EaD Marivane da Silva<br />

58<br />

Assim, enquanto sujeitos, estamos sempre nos moldando ou nos adaptando aos novos<br />

paradigmas de um mundo em transformação, descrito por Souza (apud Boog, 2002, p. 21) a<br />

partir da música de Raul Seixas:<br />

“Eu prefiro ser<br />

Uma metamorfose ambulante<br />

Do que ter<br />

Aquela velha opinião formada<br />

Sobre tudo.”<br />

Convido-os a refletir sobre a letra desta canção!<br />

Trata-se de um abandono às idéias do passado? Seria um re-<br />

construir a partir do velho? Ou seria aderir a uma flexibilidade<br />

necessária numa era marcada pelas experiências memoráveis<br />

ou também chamada era das sensações? Vamos recordar a evo-<br />

lução de nossa era e compreender o fato!<br />

Ao fazermos esse resgate histórico podemos perceber que o sujeito foi, ao longo dessa<br />

trajetória, se construindo, reconstruindo e constituindo-se como sujeito inteiro, ou seja,<br />

consciente da necessidade de um equilíbrio entre a objetividade e a subjetividade.<br />

Numa longa trajetória, evoluímos da era agrícola, quando predominava a atividade extrativa,<br />

para a era industrial, que inundou o mundo de bens produzidos em massa, filhos do paradigma-<br />

mor da economia em escala. Mais recentemente migramos para a era dos serviços – a qual<br />

muitos julgavam ser a parada final da corrida da competitividade –, baseada no paradigma da<br />

customização, que buscou personalizar o atendimento a cada cliente. Mas estamos ingressando<br />

na era do espetáculo, cuja alma é a experimentação, a encenação, a capacidade de criar sensa-<br />

ções memoráveis para as pessoas, e não “apenas” (grifo do autor) ofertar bens e serviços de<br />

qualidade comprovada e de forma customizada (...).<br />

Na era do espetáculo as empresas buscam identificar e realizar os sonhos dos clientes familiari-<br />

zando-se com o imaginário deles. Sabem que os clientes estão cada vez mais exigentes e não<br />

valorizam apenas qualidade, preço ou performance dos produtos. Valorizam também o intangí-<br />

vel, o simbólico atrelado a esses produtos (...).<br />

A “sociedade da experimentação” (grifo do autor) não aceita mais apenas o produto tangível,<br />

quer também o significado simbólico do produto. Quer o espetáculo. Cada negócio é um palco<br />

em que fornecedores, funcionários, investidores e sócios são “atores” (grifo do autor) que repre-<br />

sentam diversos papéis visando realizar o sonho dos clientes (...).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Na “sociedade da experimentação” (grifo do autor) os consumidores não perguntarão tanto “o<br />

que eu quero ter que ainda não tenho”?, mas questionarão “o que eu quero experimentar que<br />

ainda não experimentei?”. Essa será a essência da sociedade que valoriza a emoção, a sensação<br />

e o virtual em contraposição à sociedade do ter, do racional e do produto físico que caracterizou<br />

a era industrial (Souza, 2002).<br />

Nesta perspectiva, parece-nos uma luta pela busca da superação da objetividade, co-<br />

locando a subjetividade numa escala superior. Não podemos esquecer, contudo, que na<br />

prática da gestão o indivíduo é ao mesmo tempo objeto e sujeito de sua história; que a<br />

organização do trabalho é caracterizada pela formação e evolução de sua cultura ou com-<br />

plexo coletivo, constituído de representações mentais que ligam a instância material e<br />

imaterial numa relação de estreita interdependência (Boin, 2004), embora se tenha consci-<br />

ência de que isto está longe da percepção desejável.<br />

Vivemos numa dualidade entre objetividade x subjetividade, ou seja, “entre a geração e<br />

a distribuição de riquezas produzidas no mundo, convivemos com um elevado desenvolvi-<br />

mento tecnológico e um baixo desenvolvimento pessoal e interpessoal” (Vergara; Branco, 2002).<br />

Pouco conhecemos sobre nós mesmos e sobre os outros, mostrando, a todo tempo, a incapaci-<br />

dade de lidar com as diferenças individuais e conviver com as desigualdades sociais.<br />

Também é notório o descompasso que caracteriza as relações entre o ser humano e o<br />

ambiente natural, em que a nova ordem da sociedade consumista de produzir e atender às<br />

demandas do mercado é o fator propulsor de decisões, esquecendo-se do fato de que o nosso<br />

ecossistema é finito, e que no futuro tem-se como conseqüência as condições de vida impró-<br />

prias e comprometendo o futuro das novas gerações.<br />

É neste mundo que o indivíduo está inserido e é este mesmo mundo que o próprio<br />

sujeito precisa compreender e gerenciar em busca de desenvolvimento e qualidade de vida.<br />

Não nos esqueçamos, porém, que:<br />

(...) a existência de dados isolados a respeito de um determinado fato ou fenômeno é pouco<br />

significativo. E só começa a fazer sentido quando você estabelece relações e conexões entre<br />

eles. (...) Entretanto, se houver uma teoria que os integre, então poderemos ter uma visão do<br />

quadro geral e fazer conjecturas e previsões em termos de futuro (Caravantes; Panno; Kloeckner,<br />

2005, p. 39).<br />

Foi exatamente isso que autores <strong>humanista</strong>s e comportamentais fizeram ao descrever<br />

as observações da realidade, com sua fantástica perspicácia já naquele tempo são pesquisa-<br />

dores que foram além de seu tempo, trazendo importantes sistematizações de uma prática<br />

que perdura como referência teórica até o nosso século. Muitas dessas teorias insuperáveis<br />

até o presente momento.<br />

59


EaD Marivane da Silva<br />

60<br />

Considerando a visão de Reed (1993, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998), apresentamos<br />

no Quadro 1 a visão dos indivíduos a partir da releitura de Belato (2004) do modelo de<br />

metanarrativas interpretativas, para fins de uma reflexão temporal e histórica das mudanças<br />

ocorridas com os indivíduos nas diferentes ênfases lógicas da organização.<br />

O modelo de metanarrativas interpretativas proporcionou o desenvolvimento dos es-<br />

tudos organizacionais, principalmente pela relação dialética construída com os processos<br />

históricos e sociais da época.<br />

Modelo de Metanarrativa<br />

Interpretativa<br />

Racionalidade<br />

Integração<br />

Mercado<br />

Poder<br />

Conhecimento<br />

Justiça<br />

Visão dos Indivíduos<br />

• Visão Mecanicista<br />

- Homem eco nômico<br />

- Homem operacional<br />

- Homem controlado<br />

- Homem obediente<br />

- Homem padrão<br />

- Homem especializado...<br />

Homem Razão/força - física<br />

Orientado por Leis Científicas<br />

• Visão Orgânica<br />

- Homem socia l<br />

- Homem de papéis<br />

- Homem reativo<br />

- Homem interativo<br />

- Homem de necessidades<br />

- Homem de desejos<br />

- Homem de iniciativas<br />

- Homem de projetos<br />

Homem Subjetivo/emoção<br />

Orientado por Valores<br />

• Visã o Expansão do Mercado<br />

- Homem de transações<br />

- Homem custo/benefício<br />

- Homem da maximização<br />

- Homem competitivo<br />

- Homem negociador<br />

- Homem empreendedor<br />

Homem de Resultados<br />

Orientado pela Excelência<br />

• Visão/Lógica Projetos Políticos<br />

- Homem de interesses técnicos/sociais/<br />

políticos/econômicos<br />

- Homem de conflitos<br />

- Homem de alianças/estratégicas<br />

- Homem dominador/dominado<br />

- Homens que buscam a hegemonia<br />

Homem – ator social (desde os micro/poderes)<br />

Orientad o pela Estratégia do Poder<br />

• Visão/Busca da Autonomia e da Emancipação<br />

- Homem que aprende<br />

- Homem criativo/inovador<br />

- Homem que busca a autonomia<br />

- Homem com a uto - organização<br />

- Homem alianças/táticas<br />

- Homens “empoderado”<br />

- Homem parentético<br />

Orientado para Redes de Poder que são contingentes e<br />

fundamentadas em reservas localizadas de conhecimento e<br />

informações.<br />

Ênfase no “micro” onde há mais possibilidade de mudanç a<br />

e controle.<br />

• Visão de Processo Individual/Coletivo como Forma<br />

de Complementação – Visão dos D ireitos<br />

- Homem individualizado<br />

- Homem político<br />

- Homem ético<br />

- Homem participativo<br />

- Homem de responsabilidades<br />

- Homem holístico<br />

- Homem que enfrenta contradições<br />

- Homem fraternidade/solidário<br />

- Homem cidadão<br />

Homem - Sujeito histórico – ator coletivo na medida em<br />

que p articipa, que decide, que se responsabiliza.<br />

Orientado por subverter as convenções institucionalizadas<br />

e petrificadas em ortodoxias aceitas.<br />

O<br />

R<br />

D<br />

E<br />

M<br />

C<br />

O<br />

N<br />

S<br />

E<br />

N<br />

S<br />

O<br />

L<br />

I<br />

B<br />

E<br />

R<br />

D<br />

A<br />

D<br />

E<br />

D<br />

O<br />

M<br />

I<br />

N<br />

A<br />

Ç<br />

Ã<br />

O<br />

C<br />

O<br />

N<br />

T<br />

R<br />

O<br />

L<br />

E<br />

P<br />

A<br />

R<br />

T<br />

I<br />

C<br />

I<br />

P<br />

A<br />

Ç<br />

Ã<br />

O<br />

Ênfase na Lógica de<br />

Organização<br />

Racionalidade<br />

Administrativa<br />

Racionalidade Funcional<br />

Racionalidade<br />

Comunicativa<br />

Racionalidade Substantiva<br />

Racionalidade Econômica<br />

Racionalidade Limitada<br />

Racionalidade Legal<br />

Racionalidade<br />

Comunicativa/<br />

Dialógica e Relacional<br />

Integra as diversas<br />

racionalidades,<br />

dependendo do estilo de<br />

gestão. Dando ênfases<br />

diferenciadas, para um ou<br />

outro tipo de<br />

racionalidade.<br />

Racionalidade Subjetiva<br />

Racionalidade dos<br />

Direitos<br />

Observações:<br />

1. Onde consta a<br />

palavra homem<br />

leia-se também<br />

mulher, integrando<br />

o gênero feminino.<br />

2. Hoje essas<br />

metanarrativas são<br />

contadas por temas<br />

transversais: a<br />

questões de gêne-<br />

ro, das etnias, meio<br />

ambiente, da<br />

violência...<br />

3. Complementan-<br />

do a matriz origi-<br />

nal e buscando<br />

pontuar a visão dos<br />

indivíduos e a<br />

ênfase das lógicas<br />

de organização.<br />

Quadro 1:<br />

Visão dos indivíduos<br />

buscando seguir o<br />

caminho do modelo de<br />

metanarrativa<br />

interpretativa<br />

Fonte:<br />

Belato (2004).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Corroborando com a idéia do resgate histórico, apresento o conteúdo das próximas<br />

seções, pois é importante que você conheça as concepções teóricas de grupo, equipe, moti-<br />

vação, comunicação, conflitos e negociação, poder, autoridade e liderança, todos eles te-<br />

mas do paradigma comportamental.<br />

Seção 4.2<br />

Grupo e Equipe<br />

Poder<br />

Autoridade e<br />

liderança<br />

Negociação<br />

Equipe e grupo<br />

Temas<br />

decorrentes -<br />

paradigma<br />

comportamental<br />

Conflitos<br />

Motivação<br />

Comunicação<br />

Figura 2: Abordagens decorrentes do paradigma comportamental<br />

Fonte: Elaboração da autora.<br />

Antes de dar início à discussão, é preciso indagar: Você sabe o que é grupo? Quais são<br />

suas características e estágios de formação? Se não sabe, vamos descobrir juntos!<br />

“Um grupo são dois ou mais indivíduos interativos e interdependentes que se reúnem<br />

para alcançar objetivos específicos. Os grupos podem ser formais e informais” (Robbins;<br />

Decenzo, 2004, p. 180).<br />

Com base nestes autores, observe:<br />

61


EaD Marivane da Silva<br />

62<br />

Figura 3: Concepção de grupos formais e informais<br />

Fonte: Elaborado a partir de Robbins e Decenzo (2004, p. 180).<br />

É importante lembrar que a maioria das pessoas participa de grupos pela necessidade<br />

de segurança, auto-estima, afiliação, poder ou realização de metas, conforme expressa o<br />

Quadro 2.<br />

GRUPOS<br />

Quadro 2: Razões pelas quais as pessoas participam de grupos<br />

Fonte: Robbins e Decenzo (2004, p. 181).<br />

Lembramos que o “núcleo central da teoria de Kurt Lewin é o estudo dos pequenos<br />

grupos, enfatizando coesão grupal, padrões grupais, motivação, participação, processo<br />

decisório, produtividade, tensões, estilos de liderança, etc” (Silva, 2002, p. 218).<br />

Por sua vez, Silva (2002) explica que um grupo é constituído geralmente por um nú-<br />

mero restrito de pessoas (menos de sete) e que interagem por um longo tempo em torno de<br />

alguns elementos específicos: solidariedade, continuidade, duração da associação, tama-<br />

nho, papel e natureza das tarefas do grupo, objetivos e produção grupal, autonomia e aco-<br />

modação dentro da organização.<br />

Formais: são grupos de trabalho estabelecidos pela<br />

organização; eles recebem atribuições designadas e tarefas<br />

estabelecidas, e chamam-se equipes. Os comportamentos são<br />

estipulados por estes e direcionados para os objetivos<br />

organizacionais.<br />

Informais: são de natureza social. São ajuntamentos naturais<br />

que surgem no ambiente de trabalho em resposta à<br />

necessidade de convívio social. Os grupos informais tendem a<br />

se formar ao redor de amizades e interesses comuns.<br />

Razões Benefício percebido<br />

Segurança Ganhar força em números; reduzir a insegurança de ficar sozinho.<br />

Status Alcançar algum nível de prestígio por pertencer a um grupo específico.<br />

Auto-estima Realçar o sentimento de autovalor – especialmente a associação em um<br />

grupo altamente valorizado.<br />

Afiliação/proximidade Satisfazer as necessidades sociais pela interação social.<br />

Poder Alcançar algo, por meio de uma ação de grupo, que não é possível<br />

individualmente; proteger os membros do grupo das exigências excessivas<br />

dos outros.<br />

Realização de metas Proporcionar oportunidade de realizar uma tarefa específica quando é<br />

preciso talento, conhecimento ou poder de mais de uma pessoa para<br />

completar a atividade.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Tendo por base Gilbson et al (2006) e Montana e Charnov (2005) apresentamos a<br />

divisão dos grupos em tipos diferentes, considerando sua classificação, a saber:<br />

(1) Formais<br />

• Grupo de comando ou funcionais: especificado na estrutura hierárquica das relações de<br />

autoridade (organograma) da organização. É composto por subordinados que se repor-<br />

tam diretamente a um determinado superior.<br />

• Grupo de tarefas: é criado para fazer o que a própria denominação sugere – cumprir uma<br />

tarefa designada ou elaborar projeto específico.<br />

• Comitê: é criado pela organização e existe para uma finalidade específica – resolver confli-<br />

tos internos dentro da organização; recomendar decisões para a administração; gerar idéias<br />

e soluções inovadoras para a empresa; tomar decisões.<br />

(2) Informais<br />

• Grupos de interesse: não são criados pela organização, mas por indivíduos que se reúnem<br />

em torno de um interesse comum no local de trabalho. Ex: Comitê de Segurança dos<br />

Trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho. Possui duração limitada: uma<br />

vez alcançada a meta, o grupo se dissolve.<br />

• Grupos de amizade ou grupo social ou de colegas de trabalho: formam-se em decorrência<br />

de características comuns entre os membros, por exemplo, idade, crenças, política e ori-<br />

gem étnica. Muitas vezes estendem sua interação e comunicação às atividades fora do<br />

trabalho. Exemplo: atividade religiosa, cívicas, assistenciais, esportivas, recreativas, em<br />

partidos políticos, entre outras.<br />

Agora vamos entender como se dá o estágio de formação e desenvolvimento dos grupos.<br />

Montana e Charnov (2005), sistematizando o processo de constituição e desenvolvi-<br />

mento dos grupos, apresentam-no em estágios:<br />

1º) Formação e a primeira fase: designados os membros, buscam desenvolver seu próprio<br />

estilo de liderança e processo de participação – constituindo a identidade do grupo. Inici-<br />

almente buscam compreender a tarefa designada, conhecer um ao outro e descobrir as<br />

habilidades, os conhecimentos e a experiência que cada membro traz ao grupo. A primei-<br />

ra fase de um grupo após a sua formação é chamada de estágio de aceitação mútua,<br />

demandando tempo para de descobrirem e desenvolver intimidade e confiança uns nos<br />

outros. Nessa fase aparecem as diferenças pessoais e profissionais e há necessidade de<br />

uma forma adequada de conciliar personalidades e criar um consenso.<br />

63


EaD Marivane da Silva<br />

64<br />

Sugestão de leitura:<br />

Hall, Stuart. A identidade<br />

cultural na pósmodernidade.<br />

8. ed. Rio de<br />

Janeiro: DP&A, 2003.<br />

Eficácia<br />

É a valorização da realização<br />

dos objetivos, com ênfase nos<br />

resultados.<br />

2º) Solução de problemas e as tomadas de decisão: consolidada<br />

a identidade do grupo, conquistada a mútua confiança e de-<br />

pendência, compreendida a tarefa atribuída, é hora de pensar<br />

na solução de problemas e tomadas de decisão. Os membros do<br />

grupo se tornam uma equipe, com a interdependência e as con-<br />

tribuições individuais para a realização da tarefa. Nesse fase<br />

ocorrem testes de limites de recursos, de habilidades, de com-<br />

petências e experiências. O compartilhamento permite acirrar<br />

a competição ou substituí-la pela cooperação, e quando isso<br />

acontece o grupo passa para o estágio seguinte.<br />

3º) Maturidade do grupo: a substituição da competição indivi-<br />

dual pela cooperação indica que o grupo atingiu a maturida-<br />

de. Nessa fase a identidade do grupo se consolidou e todos<br />

estão trabalhando com o máximo de eficiência e eficácia. É<br />

também nessa fase que são amenizadas as diferenças por já<br />

terem um conhecimento mais amplo um do outro. A identidade<br />

do grupo é reforçada por experiências comuns e pela criação<br />

de lemas, frases e logotipos personalizados. Existe um senti-<br />

mento de compartilhar dos mesmos esforços, objetivos e res-<br />

ponsabilidades e um desejo de dedicar tempo extra, empenhar-<br />

se mais, dar o máximo de si.<br />

4º) Controle do grupo: todos aqueles que não se encaixaram<br />

saíram, e os que ficaram têm um senso profundo de identifi-<br />

cação com o grupo. O grupo se solidificou até o ponto no<br />

qual as normas corporificam os comportamentos esperados.<br />

O grupo aplica sanções quando essas normas não são cum-<br />

pridas.<br />

E então, agora que você conhece todas as fases, concorda<br />

ou discorda da minha metáfora de análise? Continuemos nossa<br />

reflexão.<br />

Faz-se necessário ainda apresentar quais são as caracterís-<br />

ticas específicas de um grupo:<br />

a) comportamento do grupo: expectativas de seus membros. Alto<br />

índice de desempenho e baixo índice de desempenho – defini-<br />

ção do padrão mínimo de desempenho.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

b) Tamanho do grupo: não existe um tamanho universalmente aceito, mas é importante<br />

seguir alguns critérios: não deve ser muito pequeno (recursos humanos suficientes para<br />

dar conta da tarefa); não deve ser muito grande, pois dificulta a comunicação e liderança;<br />

os membros devem sentir uma sensação de obrigação para com o grupo.<br />

c) Status do grupo: definido a partir de alguns elementos – a importância do grupo; o nível<br />

de êxito do grupo; a natureza das recompensas da organização aos seus membros; o status<br />

dos componentes; o status externo percebido pelo grupo.<br />

Cabe destacar que os estudos de Hawthorne deram uma contribuição importante para<br />

a nossa compreensão do comportamento grupal – especialmente sobre o papel significativo<br />

que as normas desempenham na determinação do comportamento individual no trabalho.<br />

A visão de organização conhecida como pino de articulação, explicitado por Rensis<br />

Likert, tratava-se de uma série de grupos inter-relacionados, cada nível articulado por meio<br />

do líder do grupo a um outro grupo. Para obter sucesso a administração precisa compreen-<br />

der como os grupos se relacionam entre si. Exemplos típicos são os círculos de qualidade<br />

(CQ) e gestão da qualidade total (TQM).<br />

Os grupos podem ser usados para desenvolver novas idéias, aplicando as técnicas:<br />

a) Brainstorming – é uma técnica empregada com freqüência num pequeno grupo de funci-<br />

onários (6 a 12 participantes) para gerar um número grande de alternativas em um curto<br />

período de tempo, que são anotadas em um quadro-negro. Cada solução potencial para o<br />

problema é avaliada em detalhes pelo grupo apenas quando os participantes já esgotaram<br />

suas idéias.<br />

b) Técnica de grupo nominal – usada em conjunto com as atividades de planejamento da<br />

administração. Conhecida pela alta geração de idéias e pelos níveis de inovação que são<br />

alcançados (6 a 12 participantes). Cada membro gera individualmente soluções em poten-<br />

cial para o problema apresentado, por escrito. Depois de um período curto (meia hora) os<br />

membros do grupo apresentam suas idéias. As idéias de cada relator são anotadas, e após<br />

concluída a apresentação (sem críticas), as idéias são discutidas e criticadas no conjunto.<br />

c) Técnica Delphi – identifica tendências futuras. A administração apresenta uma série de<br />

perguntas centradas em um problema identificado para um painel de especialistas. O foco<br />

é exclusivamente no mérito das idéias e nunca em uma personalidade individual. Cada<br />

resumo é chamado de ONDA. É uma técnica cara, por isso de difícil escolha.<br />

Depois de analisar as técnicas empregadas pelos grupos para contribuir com novas<br />

idéias ao mundo da gestão, pergunto: Grupos e equipes são a mesma coisa? Não, grupos e<br />

equipes não são a mesma coisa.<br />

65


EaD Marivane da Silva<br />

66<br />

Não poderia deixar de resgatar em Robbins (2005, p. 260) a nítida distinção:<br />

Um grupo é formado por dois ou mais indivíduos em interação e interdependência, que se reú-<br />

nem para alcançar determinados objetivos. Um grupo de trabalho é um grupo que interage<br />

basicamente para compartilhar informações e tomar decisões para se ajustarem mutuamente no<br />

desempenho em suas áreas distintas de atuação.<br />

Os grupos de trabalho não têm necessidade ou oportunidade de se envolverem em trabalho<br />

coletivo que exija esforço conjunto. Por isso, seu desempenho é meramente a somatória de todas<br />

as contribuições individuais de seus membros. Não há sinergia positiva, criando um nível global<br />

de desempenho que ultrapassa a soma das contribuições individuais.<br />

Uma equipe de trabalho gera sinergia positiva mediante o esforço coordenado. Seus esforços<br />

individuais resultam em um nível de desempenho que é maior do que a soma dessas contribui-<br />

ções individuais.<br />

Agora analise a Figura 4, que mostra a comparação entre grupos e equipes de trabalho.<br />

Grupos de Trabalho<br />

G E<br />

Compartilhar informações<br />

Neutra (às vezes negativa)<br />

Individual<br />

Aleatórias e variadas<br />

Meta<br />

Sinergia<br />

Responsabilidade<br />

Habilidades<br />

Figura 4: Comparação entre grupos e equipes de trabalho<br />

Fonte: Adaptado de Robbins (2005, p. 260).<br />

Num mundo globalizado e competitivo, os gestores descobriram que as equipes são<br />

mais flexíveis e receptivas a um ambiente de mudança do que os tradicionais departamentos<br />

ou grupos de trabalho. As equipes podem servir de fonte de satisfação no trabalho. Lembran-<br />

do que “nenhuma equipe nasce pronta, ela aprende e se desenvolve continuamente; só<br />

assim tornará excelente” (Reis et al, 2005, p. 18).<br />

Equipes de Trabalho<br />

Desempenho coletivo<br />

Positiva<br />

Individual e mútua<br />

Complementares


EaD<br />

O trabalho em equipe é um permanente processo de experi-<br />

mentação, troca e aprendizagem, quesitos fundamentais para o<br />

bom funcionamento da equipe (Macedo et al, 2003).<br />

Agora vamos fazer uma análise da implicação do tema “gru-<br />

po” para o indivíduo. Sabemos que vivemos em grupos e perten-<br />

cemos a um ou a vários deles. O primeiro que nos dá referência é<br />

a família (com ela aprendemos a representação dos papéis – de-<br />

pendência, autonomia e dimensões de limites nos diferentes ci-<br />

clos da vida). O segundo é o cenário das organizações no qual<br />

nos é apresentada a preocupação com a humanização do ambi-<br />

ente de trabalho.<br />

Também é importante alertar que não esgotamos o estudo<br />

do tema, que existem muitas outras questões que poderão ser<br />

aprofundadas ou pesquisadas, tais como: a influência da cultura<br />

e do clima organizacional sobre os grupos e/ou equipes de traba-<br />

lho, o paradoxo da competição e da cooperação; pontos que ne-<br />

cessitam ser acompanhados periodicamente, uma vez que sofrem<br />

mudanças constantes.<br />

Agora vamos tentar auxiliar você a descobrir os conceitos<br />

de motivação e principalmente entender a relação existente en-<br />

tre o homem e o trabalho há mais de um século, e que mereceu<br />

esforços de muitos pesquisadores para explicar o papel da satis-<br />

fação e da motivação no trabalho (leia a seção 4.3).<br />

Seção 4.3<br />

Motivação<br />

este tema?<br />

O que é motivação? Você já se perguntou o que sabe sobre<br />

Vamos apresentar algumas descobertas sobre motivação, um<br />

tema instigante enquanto pesquisa científica, que surgiu na dé-<br />

cada de 50 e que atualmente ainda desperta curiosidade de qual-<br />

quer público leitor.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Sugestões de Leitura<br />

Imperdível a leitura destas<br />

obras. Vale a pena!<br />

REIS, Ana Maria Viegas et al.<br />

Desenvolvimento de equipes.<br />

Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2005.<br />

HOUSEL, Debra J. Equipes:<br />

gerenciando para o sucesso. São<br />

Paulo: Cengage Learning, 2008.<br />

Assista ao filme:<br />

Sociedade dos Poetas Mortos<br />

Sinopse<br />

Em 1959, na Welton Academy,<br />

uma tradicional escola preparatória,<br />

um ex-aluno (Robin<br />

Williams) torna-se o novo<br />

professor de Literatura, mas<br />

logo seus métodos de incentivar<br />

os alunos a pensarem por si<br />

mesmos criam um choque com<br />

a ortodoxa direção do colégio,<br />

principalmente quando ele fala<br />

aos seus alunos sobre a<br />

“Sociedade dos Poetas Mortos”.<br />

Disponível em: .<br />

Este filme permitirá fazer uma<br />

reflexão sobre conceitos<br />

relacionados ao trabalho em<br />

equipe, tais como a importância<br />

da coesão, resolução de<br />

problemas, mediação, desenvolvimento<br />

de habilidades e atitudes.<br />

67


EaD Marivane da Silva<br />

68<br />

Silva e Rodrigues (2007, p. 7) consideram que “o estudo da motivação é uma busca de<br />

explicações para alguns dos mais intrincados mistérios da existência humana – suas própri-<br />

as ações”.<br />

A motivação é entendida como um fenômeno psicológico. Ao estudar o comportamen-<br />

to humano descobrimos que uma força interna impele as pessoas a agirem, seja no sentido<br />

de buscar, seja para fugir de determinadas situações.<br />

Sabemos que Freud foi um dos primeiros a reconhecer a importância da motivação<br />

inconsciente, e que grande parte do comportamento é influenciado por necessidades e mo-<br />

tivos também inconscientes.<br />

A motivação de uma pessoa depende da força de seus motivos. Os motivos são definidos como<br />

necessidades, desejos ou impulsos no interior do indivíduo. Os motivos são dirigidos para<br />

objetivos; fundamentalmente, os motivos ou necessidades são a mola de ação (Silva; Rodrigues,<br />

2007, p. 8).<br />

Nesse sentido, a motivação é uma força interior que se modifica a cada momento<br />

durante toda a vida, que direciona e intensifica os objetivos de um indivíduo. Dessa forma,<br />

a motivação é algo interior, está vinculada ao desejo, ou seja, está dentro de cada pessoa de<br />

forma particular. Assim, erramos em dizer que alguém nos motiva ou desmotiva, pois<br />

ninguém é capaz de fazê-lo. O máximo que conseguiria fazer é estimular nossa motivação.<br />

A motivação é um fenômeno que depende de numerosos fatores, dentre eles o cargo<br />

em si (a tarefa que o indivíduo executa), as características individuais e, por último, os<br />

resultados que este trabalho pode oferecer.<br />

O maior desafio dos gestores das organizações é estimular a motivação nos trabalha-<br />

dores, tornando-os comprometidos, canalizando suas energias para atingir objetivos pro-<br />

postos, incentivando-os o suficiente para desenvolverem o seu trabalho.<br />

Para refletir sobre a questão vamos nos reportar às indagações:<br />

O que o(a) motivou a cursar uma faculdade? Foi de fato um<br />

movimento interior, em busca de realização de seus desejos,<br />

vocações e expectativas? Ou foi uma decisão baseada em fa-<br />

tores externos, porque, afinal, ter curso superior é fundamen-<br />

tal para ingressar no mercado de trabalho e ganhar dinheiro?<br />

(Nogueira, 2007, p. 137).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Primeiramente, a motivação é vista como uma dinâmica própria do indivíduo para<br />

satisfazer o seu desejo, com o fim de realizar um objetivo autêntico. Na outra possibilidade,<br />

a motivação vem do condicionamento social: você decidiu fazer a faculdade porque todo<br />

mundo faz e, por isso, ela se torna uma necessidade.<br />

A motivação no trabalho não foge à regra geral. O trabalho é uma situação específica<br />

e intrincada, na qual as características pessoais defrontam-se com a natureza e as condi-<br />

ções de trabalho definidas pelas organizações. Muitas vezes torna-se difícil combinar o im-<br />

pulso e o desejo de cada pessoa com a situação do trabalho.<br />

O nível de motivação é influenciado por diversos fatores, como a personalidade da<br />

pessoa, suas percepções do meio ambiente, interações humanas e emoções.<br />

A Escola de Relações Humanas ou paradigma <strong>humanista</strong> pregava que a melhor ma-<br />

neira de motivar os empregados seria dar ênfase ao seu comportamento social, oferecendo-<br />

lhes oportunidades de se sentirem úteis e importantes no trabalho. Para isso deveria reco-<br />

nhecer o valor de cada pessoa e possibilitar um conhecimento mais amplo da organização,<br />

dando abertura para emitir opiniões a respeito de toda a estratégia produtiva, bem como das<br />

diretrizes administrativas da organização.<br />

Esteja atento, porém: o homem é bem mais complexo do que se imagina. O homem é<br />

motivado por uma infinidade de “fatores inter-relacionados, como salário, necessidades de<br />

afeição e de realização, desejo de um trabalho significativo, admitindo que as pessoas são<br />

diferentes entre si e, assim, têm objetivos diferentes no trabalho e diversidade de talentos”<br />

(Silva; Rodrigues, 2007, p. 21).<br />

A motivação, segundo o paradigma comportamental, necessita de estímulos externos<br />

para determinar o comportamento das pessoas. Cada estímulo corresponde a uma resposta<br />

ou a um tipo de comportamento, daí surgindo a idéia do condicionamento.<br />

Silva e Rodrigues (2007, p. 21) resgatam a tese de Skinner, que compara a personali-<br />

dade humana aos animais, na medida em que aprende as características comportamentais e<br />

mantém um controle das variáveis externas, o que nos possibilita ter uma ação reativa,<br />

implicando um comportamento manipulado.<br />

Com base nesta explanação, podemos ter claro que:<br />

Motivação: está ligada à responsabilidade, ao comportamento sadio e à mudança<br />

duradoura.<br />

69


EaD Marivane da Silva<br />

70<br />

Condicionamento: está vinculado aos fatores de satisfação, está sempre fora das<br />

pessoas e só pode ser entendido como reforçador de comportamento e como tal tem<br />

efeito passageiro, tratando o indivíduo como um ser passivo governado por estímulos<br />

externos. Nesta situação as pessoas tendem a perder a autonomia e a autenticidade.<br />

Qualquer teoria de motivação preocupa-se em determinar as razões pelas quais as<br />

pessoas adotam determinados comportamentos, e o processo que causa tais comportamen-<br />

tos. Sendo assim, Silva (2002, p. 228) esclarece que “aquelas teorias cujo foco está em “o<br />

que” motiva o comportamento são chamadas teorias de conteúdo e aquelas cujo foco está<br />

em “como” o comportamento é motivado, são chamadas teorias de processo”.<br />

Além destes tipos, existe a teoria de reforço, que tenta ajudar os administradores a<br />

entender como o comportamento dos indivíduos é influenciado pelo ambiente.<br />

Teorias de conteúdo<br />

Teorias de processo<br />

Teoria de reforço<br />

Quadro 3: Classificação das teorias em conteúdo, processo e reforço<br />

Fonte: Elaborado a partir Silva (2002, p. 228).<br />

Após compreender os conceitos iniciais e as classificações da motivação, vamos<br />

aprofundar nossos estudos conhecendo as teorias da motivação, que podem ser classifica-<br />

das como: 1) clássicas ou antigas e 2) contemporâneas.<br />

Teoria da hierarquia das necessidades – Maslow<br />

Teoria ERG – Alderfer<br />

Teoria de dois fatores – Herzberg<br />

Teorias das necessidades socialmente adquiridas – McClelland<br />

Teoria da expectativa – Victor Vroom<br />

Teoria da eqüidade – Stacy Adams<br />

Teoria de reforço – Skinner<br />

Teorias clássicas ou antigas Teorias contemporâneas<br />

1) Teoria da hierarquia das necessidades –<br />

Maslow<br />

2) Teorias X e Y – McGregor<br />

3) Teoria de dois fatores – Herzberg<br />

Quadro 4: Teorias da Motivação<br />

Fonte: Elaborado a partir de Robbins (2005).<br />

1) Teoria ERG – Alderfer<br />

2) Teorias das necessidades socialmente<br />

adquiridas – McClelland<br />

3) Teoria da avaliação cognitiva –<br />

4) Teoria da fixação de objetivos – Broadwater<br />

5) Teoria do reforço – Skinner<br />

6) Teoria da eqüidade – Stacy Adams<br />

7) Teoria da expectativa – Victor Vroom<br />

8) Teoria Z – Ouchi


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Com certeza não vamos esgotar nossas explicações sobre cada teoria, mas é importan-<br />

te apresentar uma pequena síntese de cada uma delas e principalmente das clássicas (por<br />

serem as mais conhecidas e consideradas mais consistentes para explicar o comportamento<br />

humano (Robbins, 2005).<br />

TEORIAS CLÁSSICAS OU ANTIGAS<br />

1) Teoria da hierarquia das necessidades (Abraham Maslow): a mais conhecida das teorias.<br />

Ele propõe que a correta teoria motivacional deveria presumir que as pessoas estão<br />

num estado contínuo de motivação, mas que a natureza desta é instável e complexa; além<br />

disso, os seres humanos raramente atingem um estado de satisfação total, exceto num breve<br />

período de tempo. Assim que um desejo é satisfeito, surge outro que lhe toma o lugar e,<br />

quando este é satisfeito, outro o substitui (Silva; Rodrigues, 2007, p. 26-27).<br />

Segundo Robbins (2005), dentro de cada ser humano existe uma hierarquia de cinco<br />

necessidades: fisiológicas (fome, sede, abrigo, sexo...); segurança (proteção contra danos<br />

físicos e emocionais); sociais (afeição, aceitação, amizade, pertencer a um grupo); estima<br />

(internos – respeito próprio, realização e autonomia; externos – status, reconhecimento e<br />

atenção); auto-realização (aquilo que a pessoa é capaz de ser; inclui crescimento,<br />

autodesenvolvimento e alcance do próprio potencial).<br />

Primárias<br />

Necessidades<br />

Necessidades<br />

auto-realização:<br />

conquistas, realizações e<br />

aprendizagem<br />

Necessidades de estima:<br />

reconhecido, valorizado, status<br />

Necessidades sociais:<br />

amor, afeição e participação<br />

Necessidades de segurança:<br />

desejo de alcançar estabilidade na vida pessoal e profissional<br />

Necessidades fisiológicas:<br />

alimento, água, repouso e bem-estar físico.<br />

Figura 5: Modelo de Maslow – Teoria das necessidades<br />

Fonte: Adaptado de Muniz e Faria (2007, p. 143).<br />

Secundárias<br />

Necessidades<br />

71


EaD Marivane da Silva<br />

72<br />

À medida que cada necessidade vai sendo atendida a próxima torna-se a dominante (o<br />

indivíduo move-se para o topo da pirâmide). Existem necessidades em patamares mais altos<br />

e mais baixos, sendo definidas como necessidades de nível baixo – as fisiológicas e de segu-<br />

rança, e necessidades de nível mais alto – as sociais, de estima e auto-realização (principal<br />

força motivadora). A teoria sustenta o comportamento motivacional pela correlação das<br />

necessidades humanas.<br />

Uma necessidade pode ser satisfeita, frustrada ou compensada. Muitas vezes, a tensão provocada<br />

pela necessidade encontra uma barreira. Não encontrando saída normal, a tensão represada<br />

procura um meio indireto de saída, seja por via psicológica (agressividade, tensão emocional,<br />

apatia, indiferença), seja por via fisiológica (tensão nervosa, insônia, repercussões cardíacas ou<br />

digestivas). Outras vezes, a necessidade não é satisfeita nem frustrada, mas transferida ou com-<br />

pensada. Isso se dá quando a satisfação de uma outra necessidade reduz ou aplaca a intensidade<br />

de uma necessidade que não pode ser satisfeita. É o que acontece quando o motivo de uma<br />

promoção para um cargo superior é contornado por um bom aumento de salário ou por uma<br />

nova sala de trabalho (Muniz; Faria, 2007, p. 142).<br />

Em outras palavras, a teoria da hierarquia das necessidades parte do princípio de que<br />

as pessoas são motivadas continuamente pela satisfação de suas necessidades, as quais<br />

obedecem a uma hierarquia – das básicas às mais subjetivas, principalmente a de auto-<br />

realização, explicada pelo desenho da pirâmide.<br />

2) Teoria X e Y (Douglas McGregor):<br />

Propõe duas visões do ser humano – uma negativa (teoria X) e uma positiva (teoria Y),<br />

consideradas como perspectivas conflitantes; respectivamente:<br />

Teoria Teoria X<br />

X Teoria Teoria Y<br />

Y<br />

As As pessoas são preguiçosas e<br />

indolentes;<br />

As As pessoas tendem a evitar o<br />

trabalho;<br />

As As pessoas evitam a<br />

responsabilidade para se sentirem<br />

seguras;<br />

As As pessoas são ingênuas e sem<br />

iniciativa.<br />

As As pessoas gostam do trabalho que<br />

exercem e são esforçadas e dedicadas;<br />

As As pessoas consideram o trabalho<br />

como algo natural a ser realizado;<br />

As As pessoas podem se controlar e<br />

assumir responsabilidades;<br />

As As pessoas são criativas e<br />

competentes.<br />

Figura 6: Quadro comparativo da Teoria X e da Teoria Y de McGregor<br />

Fonte: Motta e Vasconcelos (2002, p. 77).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

As crenças da Teoria X orientam os gerentes a pensarem em termos de direção e con-<br />

troles rigorosos dos subordinados, uma vez que as pessoas são vistas, em geral, como ine-<br />

rentemente indolentes, desprovidas de ambição e de desejo de assumir responsabilidade,<br />

egocêntricas e tendentes a agir contra os interesses da organização, além de serem resisten-<br />

tes à mudanças. Em contraste com essa visão um tanto negativa da natureza humana, a<br />

Teoria Y pressupõe que as pessoas se norteiam mais pelo crescimento e pelo desenvolvimen-<br />

to, e não são necessariamente irresponsáveis e naturalmente resistentes aos objetivos da<br />

organização. Fica implícita nas premissas da teoria X uma gestão autoritária, enquanto na<br />

teoria Y leva a uma gestão mais participativa.<br />

3) Teoria dos dois fatores (Frederick Herzberg):<br />

Também chamada de teoria motivação-higiene durante os anos 50 e 60 do século 20.<br />

Seu autor ficou conhecido como o pai do enriquecimento do trabalho, em virtude de subs-<br />

tituir as tarefas simples e elementares do cargo por tarefas mais complexas.<br />

A teoria faz a distinção entre satisfação no trabalho e motivação no trabalho. Os fato-<br />

res que levam à satisfação no trabalho são denominados de higiênicos, relacionados às con-<br />

dições em que o trabalho é realizado. Os fatores motivacionais são aqueles que estão direta-<br />

mente relacionados com a tarefa ou o trabalho, e influenciam diretamente a produtividade<br />

dos membros da organização.<br />

FATORES MOTIVACIONAIS<br />

(SATISFATÓRIOS – INTRÍNSECOS)<br />

Conteúdo do cargo – como o indivíduo se sente<br />

em relação ao cargo<br />

1. Trabalho em si<br />

2. Realização<br />

3. Reconhecimento<br />

4. Progresso profissional<br />

5. Responsabilidade<br />

Quadro 5: Fatores motivacionais x higiênicos de Herzberg<br />

Fonte: Silva; Rodrigues (2007, p. 39).<br />

FATORES HIGIÊNICOS<br />

(INSATISFATÓRIOS – EXTRÍNSECOS)<br />

Contexto do cargo – como o indivíduo se sente<br />

em relação à empresa.<br />

1. Condições de trabalho<br />

2. Administração da empresa<br />

3. Salário<br />

4. Relações com o supervisor<br />

5. Benefícios e serviços sociais<br />

A pesquisa realizada por Herzberg pressupõe que a motivação está ligada às condi-<br />

ções de trabalho oferecidas pela organização, envolvendo autonomia e autodesenvolvimento.<br />

A verticalização das funções foi atribuída a Herzberg por permitir que os funcionários tives-<br />

sem mais responsabilidade no planejamento e controle do próprio trabalho.<br />

73


EaD Marivane da Silva<br />

TEORIAS CONTEMPORÂNEAS<br />

74<br />

As teorias contemporâneas da motivação são as atuais teorias para explicar a moti-<br />

vação dos trabalhadores.<br />

1) Teoria ERC (Clayton Alderfer):<br />

Trabalhou em cima da hierarquia de Maslow, para alinhá-la melhor com a pesquisa<br />

empírica em três necessidades essenciais:<br />

a) existência: inclui o que Maslow chamou de necessidades fisiológicas e de segurança;<br />

b) relacionamento: o desejo de manter importantes relações interpessoais – desejo de status<br />

e sociabilidade; precisa da interação com outras pessoas para ser atendido (necessidades<br />

sociais de Maslow e de estima);<br />

c) crescimento: um desejo intrínseco de desenvolvimento pessoal (categoria estima e de auto-<br />

realização de Maslow).<br />

Além de diminuir a hierarquia de Maslow de cinco para três categorias, difere daquela<br />

na medida em que demonstra que mais de uma necessidade pode estar ativa ao mesmo<br />

tempo; e se uma necessidade de nível alto for reprimida, o desejo de satisfazer outra de nível<br />

mais baixo aumentará.<br />

Em outras palavras, a Teoria ERC traz o conceito de frustração-regressão, ou seja,<br />

quando uma necessidade de nível alto é frustrada, cresce o desejo de atender a uma neces-<br />

sidade de nível baixo.<br />

A incapacidade de satisfazer à necessidade de interação social, por exemplo, pode<br />

aumentar o desejo de ganhar mais dinheiro ou de ter melhores condições de trabalho. Assim,<br />

a frustração pode levar à regressão e a uma necessidade de nível mais baixo.<br />

Esta teoria está mais coerente com o nosso entendimento de que as diferenças entre os<br />

indivíduos são causadas por variáveis como a educação, antecedentes familiares e ambiente<br />

cultural que, por sua vez, têm uma grande influência e podem alterar a importância que<br />

cada um dos grupos de necessidades tem para cada pessoa.<br />

2) Teoria das Necessidades Socialmente Adquiridas (David McClelland):<br />

surge no final da década de 40 e enfoca três necessidades – realização (busca da exce-<br />

lência, de se realizar em relação a determinados padrões, de lutar pelo sucesso); de poder (de<br />

fazer as outras pessoas se comportarem de uma maneira que não o fariam naturalmente), e<br />

de associação (desejo de relacionamentos interpessoais próximos e amigáveis).


EaD<br />

Na pesquisa McClelland descobriu que os grandes realiza-<br />

dores se diferenciam de outras pessoas pelo seu desejo de fazer<br />

melhor as coisas; buscam situações em que possam assumir a<br />

responsabilidade de encontrar soluções para os problemas, nas<br />

quais possam receber rápido feedback para saber se estão melho-<br />

rando e para as quais possam estabelecer metas moderamente<br />

desafiadoras. Gostam de desafios com dificuldade moderada.<br />

A necessidade de poder é o desejo de impactar, de ter influ-<br />

ência e de controlar outras pessoas.<br />

A necessidade de afiliação ou associação recebeu menos aten-<br />

ção dos pesquisadores, e pode ser comparada aos objetivos de Dale<br />

Carnegie – o desejo de ser apreciado e aceito pelos outros.<br />

As três necessidades surgem no decorrer do tempo e represen-<br />

tam as experiências de vida de cada pessoa. Para tanto, elas podem<br />

ser aprendidas; logo, podem ser desenvolvidas ou ensinadas.<br />

3) Teoria da Avaliação Cognitiva:<br />

Surge no final da década de 60 e está relacionada com a<br />

forma como as pessoas são remuneradas nas organizações. De-<br />

fende a introdução de recompensas externas, tais como remune-<br />

ração pelo esforço, para um trabalho que já havia sido gratifica-<br />

do intrinsecamente pelo prazer do trabalho em si; de maneira geral<br />

tende a diminuir a motivação.<br />

Os teóricos da motivação têm assumido que as motivações<br />

intrínsecas, como realização, responsabilidade e competência, são<br />

independentes de motivadores extrínsecos – com alta remunera-<br />

ção, promoções, boas relações com a supervisão e condições agra-<br />

dáveis de trabalho.<br />

A teoria da avaliação cognitiva contesta, afirmando que<br />

quando as recompensas externas são usadas pela organização<br />

como forma de premiar desempenhos superiores, as recompensas<br />

internas, que resultam do fato de o indivíduo fazer o que gosta,<br />

são reduzidas. Esta teoria, no entanto, tem limitada aplicabilidade<br />

nas organizações e tem sido questionada, uma vez que as pes-<br />

quisas foram feitas com estudantes e não com profissionais re-<br />

munerados de empresas.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Dale Carnegie<br />

(24/11/1888 – 01/11/1955)<br />

foi autor de “best-sellers”<br />

como Como Fazer Amigos e<br />

Influenciar Pessoas e Como<br />

Evitar Preocupações e<br />

Começar a Viver. Graças ao<br />

sucesso obtido chegou a ser<br />

conselheiro de líderes<br />

mundiais.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 4 maio 2009.<br />

75


EaD Marivane da Silva<br />

4) Teoria de Fixação de Objetivos (Gene Broadwater):<br />

76<br />

Faça o “melhor de si”. É impressionante, em termos de efeitos sobre o desempenho,<br />

o fato de especificar o objetivo, o desafio e o feedback esperados de uma atividade ou<br />

tarefa.<br />

No final da década de 60 Edwin Locke lançou a idéia de que a intenção de lutar por<br />

um objetivo é a maior fonte de motivação do trabalho. Os objetivos específicos terão um<br />

desempenho superior do que a meta genérica do “faça o melhor que puder”. Quanto mais<br />

alto o objetivo, mais alto o nível de desempenho.<br />

As pessoas trabalham melhor quando têm feedback em relação ao progresso, ou seja,<br />

este funciona como um guia para o comportamento. Nem sempre, porém, o retorno tem a<br />

mesma potência. O fato de ser capaz de monitorar o próprio progresso tem se mostrado um<br />

fator motivador mais poderoso que o feedback externo. Na <strong>abordagem</strong> cognitiva percebe-se<br />

que os propósitos de uma pessoa orientam suas ações.<br />

5) Teoria do Reforço (Skinner):<br />

É uma <strong>abordagem</strong> comportamentalista, que defende que o reforço condiciona o com-<br />

portamento, como causa do ambiente. A teoria do reforço ignora sentimentos, atitudes,<br />

expectativas e outras variáveis cognitivas. Preocupados em modelar o comportamento, os<br />

estudiosos do behaviorismo, como são conhecidos, recomendavam gratificar os comporta-<br />

mentos supostamente adequados (reforço positivo) e punir os inadequados (reforço negati-<br />

vo). Por exemplo: se você for constantemente censurado por produzir mais que seus colegas,<br />

provavelmente vai reduzir sua produtividade. A baixa produtividade, no entanto, também<br />

poderia ser explicada em termos de metas, injustiças ou expectativas.<br />

6) Teoria da Eqüidade (Stacy Adams):<br />

Surge a partir de pesquisas desenvolvidas em 1965 para tentar mostrar como, a partir<br />

das relações entre as trocas socias, o comportamento do indivíduo é influenciado. Preconiza<br />

que os empregados fazem comparações entre seus esforços (esforço no trabalho, educação,<br />

tempo de organização, desempenho, dificuldades de trabalho, etc.) com os resultados obti-<br />

dos por intermédio da organização (salário, benefícios, recompensas sociais e psicológicas).<br />

A Teoria da Eqüidade pressupõe que os trabalhadores têm consciência da situação<br />

uns dos outros, e apresentam capacidade de comparar a sua situação com a dos outros.<br />

De acordo com a Teoria da Eqüidade, quando o trabalhador percebe uma injustiça,<br />

espera-se que ele faça uma das seis escolhas:


EaD<br />

1) modificar suas entradas (fazer menos esforço);<br />

2) modificar seus resultados (produzir mais peças com menos qualidade);<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

3) distorcer sua auto-imagem (achar que estava em ritmo moderado, mas percebe que traba-<br />

lha muito mais que os outros);<br />

4) distorcer a imagem dos outros (o trabalho do colega não é tão interessante como pensava);<br />

5) buscar outro ponto de referência;<br />

6) abandonar o terreno (deixar o emprego).<br />

7) Teoria da Expectativa (Victor Vroom):<br />

Este teórico foi o primeiro a mostrar de maneira clara o modelo cognitivo da motiva-<br />

ção no trabalho e a aplicar a análise de escolha profissional e do esforço dispensado para<br />

realização de uma tarefa, em 1964.<br />

As teorias cognitivas são também conhecidas como teorias da instrumentalidade para as quais a<br />

decisão de se engajar numa atividade depende do valor que se atribui àquilo que ela pode ofere-<br />

cer como resultado. Desta forma, a atividade em si é considerada recurso instrumental que<br />

permite chegar a algum resultado de valor (Silva; Rodrigues, 2007, p. 45).<br />

A Teoria da expectativa, reconhecida como um dos modelos de Teoria Cognitiva, pro-<br />

põe, por exemplo, que os conteúdos mentais mais importantes sejam os disparadores do<br />

comportamento motivacional que são representados pelos valores armazenados na mente<br />

(percepções individuais em termos de desejabilidade percebida quanto aos resultados que<br />

podem ser atingidos pelo desempenho).<br />

8) Teoria Z (William G. Ouchi):<br />

É uma variante da Teoria Y e defende que os trabalhadores têm um grau de envolvimento<br />

similar ao dos gestores quando existe um sistema eficaz de recompensas e incentivos. Foi<br />

formulada no início da década de 80 e apresenta um conjunto de idéias, experiências e<br />

princípios extraídos do estilo japonês de administração.<br />

Nesta teoria a produtividade é conseguida pelos métodos de confiança, sutileza, auto-<br />

nomia e intimidade com os empregados; o processo decisório é participativo, cada elemento<br />

terá responsabilidade por metas individuais que o grupo estabeleceu e o igualitarismo é a<br />

principal característica.<br />

Seus princípios são: emprego estável; avaliação e promoção (constante), trajetórias de<br />

carreiras não especializadas (visão do todo), tomada de decisão, valores coletivos e interesse<br />

holístico pelas pessoas. Defende a necessidade de um equilíbrio entre o trabalho em equipe<br />

e os esforços individuais.<br />

77


EaD Marivane da Silva<br />

78<br />

Sugestões de Leitura:<br />

FILHO, Jorge B. Motivação.<br />

Campinas, SP: Editora Alínea,<br />

2000.<br />

BERGAMINI, Cecília W. A difícil<br />

gestão das motivações. In:<br />

WOOD JR., Thomaz (Coord.).<br />

Gestão empresarial: o fator<br />

humano. São Paulo: Atlas,<br />

2002. p. 111-130.<br />

OUCHI, William. Como as<br />

empresas podem enfrentar o<br />

desafio japonês. Ed. Fundo<br />

de Educação Brasileira, 1982.<br />

CAVALCANTI, Vera Lucia e<br />

outros. Liderança e motivação.<br />

Rio de Janeiro: Ed. FGV,<br />

2005.<br />

BERGAMINI, Cecília W.<br />

Motivação. São Paulo: Atlas,<br />

1990.<br />

A Teoria Z é um modelo de administração participativa.<br />

Concluída a apresentação das teorias da motivação, reto-<br />

mamos a lição de Cecília Bergamini (apud Nogueira, 2007, p.<br />

143): “a motivação sempre foi e será uma indicação de que a vida<br />

psíquica se move em busca de algo e que é impossível conceber<br />

um ser humano integral sem tomá-la em consideração. Estar vivo<br />

é motivar-se, é estar a caminho de realizar alguma coisa”.<br />

No contexto do século 21, as organizações<br />

(...) não pensam mais em colaboradores que cumpram apenas<br />

suas obrigações. Querem muito mais: querem pessoas que criem,<br />

que ousem, que inovem, que desafiem os desafios, que sejam pura<br />

energia, que tenham “deuses” dentro de si (entusiasmo) (Oliveira,<br />

2002, p. 177).<br />

A gestão é responsável pelo desenvolvimento do potencial<br />

individual e organizacional e para tal conta com várias teorias<br />

motivacionais para proceder à análise organizacional para a di-<br />

mensão do comportamento humano. Os behavioristas reconhe-<br />

ceram que as pessoas raciocinam, têm opiniões, resolvem proble-<br />

mas e decidem em função não só de necessidades, mas principal-<br />

mente em função da percepção da situação percebida no espaço<br />

organizacional.<br />

Para que isso tudo aconteça, exige-se das pessoas um pro-<br />

cesso de comunicação que não depende da tecnologia, mas das<br />

forças atuantes nelas e no seu entorno. É um processo interno às<br />

pessoas. Sendo assim, vamos avançando em nossos estudos e<br />

vamos apresentar o tema da comunicação.<br />

Seção 4.4<br />

Comunicação<br />

Sabemos que nenhum grupo pode existir sem comunica-<br />

ção, ou seja, sem a transferência de significados entre seus mem-<br />

bros. É mediante esse processo de comunicação que as informa-


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

ções e as idéias podem ser transmitidas e compreendidas no seu contexto. O funcionamento<br />

de uma organização depende da comunicação e não pode ser evitada; o que pode ser evita-<br />

da é uma comunicação ineficaz.<br />

Robbins (2005) afirma que a comunicação tem quatro funções básicas dentro de um<br />

grupo: 1) controle; 2) motivação; 3) expressão emocional; 4) informação.<br />

A comunicação age no controle do comportamento das pessoas de diversas maneiras.<br />

As organizações possuem hierarquias e orientações formais que devem ser seguidas pelos<br />

funcionários. A comunicação informal, no entanto, também controla o comportamento.<br />

Quando um grupo de trabalho hostiliza ou reclama de um membro que está produzindo<br />

demais, esses indivíduos estão se comunicando informalmente e controlando o comporta-<br />

mento do colega.<br />

A comunicação facilita a motivação pelo fato de esclarecer aos funcionários o que<br />

deve ser feito, como está a qualidade do seu desempenho e o que pode fazer para melhorá-lo.<br />

Para muitos funcionários, o seu grupo de trabalho é sua fonte primária de interação<br />

social. A comunicação que ocorre dentro do grupo é um mecanismo fundamental para que<br />

seus membros expressem suas frustrações ou sentimentos de satisfação. A comunicação,<br />

portanto, fornece o meio para a expressão emocional de sentimentos e para a satisfação de<br />

necessidades sociais.<br />

Outra função da comunicação diz respeito ao seu papel como facilitadora de tomadas<br />

de decisão. Ela proporciona as informações de que as pessoas e os grupos precisam para<br />

tomar decisões ao transmitir dados para que se identifiquem e avaliem alternativas.<br />

As organizações precisam do processo de comunicação para se comunicarem com seu<br />

público interno e externo e desenvolver suas relações no processo de gestão. O subsistema<br />

de comunicação é um instrumento que dá suporte à administração em seu esforço de asse-<br />

gurar o entendimento comum e estabelecer relações internas e externas, necessárias para<br />

atingir os objetivos propostos.<br />

Chanlat (1996, p. 37) conceitua comunicação de forma tal que se possa compreender<br />

sua importância e dimensão:<br />

Como o ser humano dialoga, e todo comportamento é comunicação, toda interação, qualquer<br />

que seja, supõe por definição um modo de comunicação, isto é, um conjunto de disposições<br />

verbais e não-verbais que se encarregam de exprimir, traduzir, registrar, em uma palavra, de<br />

dizer o que uns querem comunicar aos outros durante uma relação. Ao mesmo tempo locutor,<br />

ouvinte e interlocutor, todo indivíduo exprime no quadro de interação ao mesmo tempo o que ele<br />

é, o que faz, o que pensa, o que sabe, o que deseja, o que gosta; assim agindo, ele se coloca cada<br />

vez mais como pessoa.<br />

79


EaD Marivane da Silva<br />

80<br />

Arantes (1998, p. 260) sintetiza o conceito de comunicação como “um processo de<br />

interação humana que busca o entendimento comum nas relações entre os indivíduos, fun-<br />

damental para a sobrevivência, o crescimento e a continuidade da empresa”.<br />

O processo de comunicação pode ser analisado numa perspectiva tanto organizacional<br />

quanto interpessoal.<br />

saber:<br />

Na perspectiva organizacional a comunicação flui no sentido vertical ou horizontal, a<br />

1) Descendente ou de cima para baixo: a comunicação flui dos níveis mais altos para os<br />

mais baixos.<br />

2) Ascendente ou de baixo para cima: dirige-se aos escalões mais altos do grupo ou da<br />

organização. Ex: relatórios de desempenho, caixas de sugestões, pesquisas de atitudes...<br />

3) Lateral: ocorre entre indivíduos ou departamentos diferentes que estão no mesmo nível<br />

hierárquico.<br />

4) Diagonal: envolve a comunicação entre dois níveis diferentes.<br />

tais como:<br />

Já a comunicação na perspectiva interpessoal apresenta várias formas de expressão,<br />

1) Comunicação oral: fala<br />

2) Comunicação escrita: memorandos, cartas, e-mails, fax, jornais, revistas, informativos...<br />

3) Comunicação não-verbal: olhar, gestos, linguagem corporal...<br />

Na seqüência vamos apresentar o processo de comunicação em síntese e posterior-<br />

mente expresso na Figura 7.<br />

O processo de comunicação começa com um estímulo (objetivo) para uma ou mais<br />

pessoas (emissor) que irão procurar interagir com outra(s) pessoa(s) (receptor). O<br />

emissor vai transmitir algo (mensagem) utilizando um ou mais recursos (meio) e<br />

espera que o receptor compreenda a mensagem no sentido correto (significado) e<br />

adote o comportamento (resposta) esperado por ele, emissor. Todo o processo de<br />

comunicação ocorre em circunstâncias específicas (situação), tem certa duração<br />

(tempo) e exige investimentos e gastos (custos) (Arantes, 1998, p. 265).


EaD<br />

OBJETIVOS<br />

Figura 7: Processo de comunicação<br />

Fonte: Arantes (1998, p. 264).<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

O emissor é quem fala; mensagem é o que se diz; meio ou canal (como, é o meio<br />

escolhido para fluir a mensagem); receptor (para quem); resposta é o feedback (efeito da<br />

mensagem); ruído (são as dificuldades de codificação ou decodificação), significado (senti-<br />

do = compreensão).<br />

Agora que conhecemos os processos técnicos da comunicação, vamos refletir sobre a<br />

sua dinâmica no mundo da gestão, considerando sua multiplicidade, velocidade de circula-<br />

ção da informação e a possibilidade de interatividade com a própria informação, que nos<br />

possibilita ampliar as relações empresariais.<br />

A finalidade básica da comunicação é “entender o mundo, relacionar-se com os ou-<br />

tros e transformar-se a si mesmo e a realidade” (Reis et al, 2005, p. 100).<br />

Diversas barreiras podem dificultar ou distorcer a comunicação. Com base em Robbins<br />

(2005), relaciona-se:<br />

a) Filtragem: refere-se à manipulação da informação pelo emissor para que ela seja vista de<br />

maneira mais favorável pelo receptor. Este elemento é importante na estrutura hierárqui-<br />

ca da organização.<br />

EMISSOR<br />

SITUAÇÃO<br />

SIGNIFICADO<br />

codificação decodificação<br />

MENSAGEM<br />

MEIO<br />

TEMPO<br />

CUSTO<br />

RECEPTOR<br />

RESPOSTA<br />

b) Percepção seletiva: considerando que o receptor vê e escuta seletivamente, com base em suas<br />

próprias necessidades, motivações, experiências, história e outras características pessoais.<br />

81


EaD Marivane da Silva<br />

c) Sobrecarga de informação: as informações excedem nossa capacidade de processar as<br />

82<br />

demandas. Ex: e-mails, telefones, reuniões e leituras profissionais. A tendência é selecio-<br />

nar, ignorar ou esquecer informações.<br />

d) Medo da comunicação: as pessoas preferem as mensagens escritas à comunicação oral e<br />

também evitam falar em público.<br />

e) Comunicação burocrática: uso de reuniões para repassar informações burocráticas que<br />

poderiam ser transmitidas por meio de uma comunicação escrita.<br />

f) Falta de clareza de objetivos: encaminhamentos por meio de reuniões em que falta objeti-<br />

vidade e um adequado planejamento da mensagem (conteúdo e forma), com a escolha de<br />

meios mais adequados, participação de receptores significativos, adequada consideração<br />

à situação e com dimensionamento do tempo e dos custos.<br />

g) Texto fora de contexto: os problemas de comunicação vem do fato de não ser explica-<br />

do com toda clareza o contexto em que um acontecimento ocorrei ou uma decisão foi<br />

tomada.<br />

h) Falta de rituais: rituais coletivos para socialização de informações com seu público inter-<br />

no e externo.<br />

i) Tempo adequado: a informação é transmitida sempre no tempo mínimo requerido para<br />

estabelecermos um processo de comunicação eficaz.<br />

j) Diferenças culturais: diferenças de linguagem entre as pessoas dificultam o entendimento<br />

da mensagem transmitida pelo emissor.<br />

Da mesma forma que os gestores se preocupam com a superação das barreiras da co-<br />

municação para prover um sistema organizacional eficiente, precisam se adaptar às mudan-<br />

ças e às tecnologias da informação disponíveis ao mundo da gestão.<br />

A tecnologia da informação alterou significativamente o processamento da informa-<br />

ção, conferindo agilidade, controle e segurança aos dados e, principalmente, propiciando o<br />

compartilhamento das informações para as tomadas de decisão. O uso da Intranet ou<br />

Extranets e da Internet está revolucionando o mundo da comunicação, disseminando infor-<br />

mações e conhecimento entre todas as pessoas.<br />

Você conseguiu dimensionar a importância da comunicação para o mundo da gestão?<br />

Não deixe de fazer sua reflexão e pesquisar em obras de Administração, resgatando as<br />

complementações ao estudo deste assunto.


EaD<br />

Seção 4.5<br />

Liderança, Poder e Autoridade<br />

Nesta seção vamos apresentar três conceitos que estão in-<br />

timamente interligados entre si no âmbito da gestão, mas que<br />

têm implicações diferentes na ação em si. São eles: liderança,<br />

poder e autoridade.<br />

Nesse sentido, Montana e Charnov (2005, p. 220)<br />

conceituam liderança como sendo “o processo pelo qual um in-<br />

divíduo influencia outros a realizar os objetivos desejados”. Já<br />

Hunter (2004, p. 25) corrobora com esta idéia quando explicita<br />

em seu best seller “O Monge e o Executivo” que é a “habilidade<br />

de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente vi-<br />

sando a atingir os objetivos identificados como sendo para o bem<br />

comum”.<br />

Liderança também é conceituada como “o processo de diri-<br />

gir e influenciar as atividades de grupos, no sentido do alcance<br />

de objetivos, em uma dada situação” (Silva, 2002, p. 252).<br />

O mesmo autor classifica a liderança em dois tipos:<br />

1) Formal: exercida por pessoa escolhida pela sua posição de au-<br />

toridade formal (hierarquia) nas organizações.<br />

2) Informal: exercida por pessoas que se tornam influentes pelas<br />

suas habilidades especiais, que servem às necessidades de outros,<br />

pelo seu carisma de conquistar uma liderança entre seus pares.<br />

McGregor (apud Silva, 2002, p. 253) explica que liderança<br />

não é propriedade de um indivíduo, mas um complexo relaciona-<br />

mento entre as quatro variáveis que influenciam a liderança:<br />

1) as características do líder;<br />

2) a atitude, as necessidades e outras características pessoais dos<br />

seguidores;<br />

3) a natureza da organização, seus propósitos, sua estrutura e as<br />

tarefas a realizar;<br />

4) o ambiente social, político e econômico.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Influência<br />

É entendida como mudanças<br />

no comportamento de uma<br />

pessoa ou grupo devido à<br />

antecipação das respostas dos<br />

outros. Compreende virtualmente<br />

qualquer transação<br />

interpessoal que apresente<br />

conseqüências psicológicas ou<br />

comportamentais (Kast;<br />

Rosenzweig, 1970).<br />

83


EaD Marivane da Silva<br />

84<br />

Rensis Likert (1903 – 1981), pesquisador do comportamento humano nas organizações,<br />

fundou o Instituto para Pesquisa Social. Seus estudos tiveram efeito duradouro sobre a teoria<br />

organizacional e o estudo da liderança. Ele propôs novos métodos de liderança baseados no<br />

comportamento humano, entendimento da motivação e potencial dos indivíduos.<br />

Os pesquisadores identificaram dois tipos de comportamento de liderança: voltado<br />

para o trabalho e voltado para o empregado.<br />

O comportamento centrado no trabalho é o comportamento de liderança focado<br />

nas tarefas, que se caracteriza por forte supervisão, pressão por melhor desempenho,<br />

atenção ao alcance de metas e uma forte avaliação dos resultados. O seu principal<br />

objetivo é a obtenção da realização do trabalho; para eles, os subordinados são<br />

instrumentos para alcance de metas ou realização de tarefas, mais do que pessoas<br />

com necessidades e emoções, semelhantes às deles próprios (Silva, 2002, p. 256).<br />

O comportamento centrado no empregado é o comportamento de liderança voltado<br />

para a pessoa, que se caracteriza por uma orientação em direção aos aspectos huma-<br />

nos no trabalho e em direção ao desenvolvimento eficaz de grupos de trabalho com<br />

altas metas de desempenho. Os líderes enfatizam seu comportamento na supervisão<br />

de pessoas, mais do que na obtenção de produção; eles estão cientes das necessida-<br />

des, do crescimento pessoal e profissional dos empregados (Silva, 2002, p. 256).<br />

Liderança é entendida como uma relação interpessoal e social que obedece a uma<br />

dinâmica complexa. Na posição de Gerth e Mills (apud Nogueira, 2007), é preciso observar<br />

os seguintes aspectos:<br />

a) traços e motivações pessoais do líder;<br />

b) conceito dos liderados sobre o líder e suas motivações para segui-lo;<br />

c) as atividades desempenhadas pelo líder e suas características;<br />

d) o contexto estrutural das atividades de líder e dos liderados.<br />

O fenômeno da liderança ganhou destaque no campo da Administração em razão de<br />

que o administrador tem de ser um líder para desempenhar melhor suas funções. O modo de<br />

administrar favorece determinados tipos de líderes e estilos de liderança: autoritário e demo-<br />

crático.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Liderança é a capacidade de motivar pessoas a realizar ações produtivas no ambiente de traba-<br />

lho por meio de um continuum cuja idéia pode ser representada por uma linha na qual em uma<br />

ponta está o poder atribuído de modo formal e autoritário e na outra o poder conquistado de<br />

maneira mais informal e democrática (Nogueira, 2007, p. 146).<br />

A liderança administrativa pode ser enquadrada nas seguintes linhas de estudo, se-<br />

gundo Nogueira (2007) e Macedo et al (2003):<br />

a) Teoria das características ou traços (centrada na figura do líder): enfoque mais próximo<br />

da noção cotidiana de liderança, com destaque nas décadas de 20 e 50. Foi impulsionada<br />

pelas pesquisas que procuravam descrever o líder ideal por meio de determinados traços<br />

característicos que os distinguiam das outras pessoas. Tratava-se de características físicas<br />

(aparência, estatura e força física); intelectuais (inteligência, autoconfiança, conheci-<br />

mentos); sociais e profissionais (espírito de cooperação, competências, etc.). Era preciso,<br />

porém, treinar e produzir lideranças, tendo em vista que as características intrínsecas<br />

eram vistas como imutáveis e imunes às pressões ambientais. Com o tempo esta teoria<br />

revelou-se equivocada, porque muitas das pessoas que não apresentavam as característi-<br />

cas revelaram-se bons líderes.<br />

b) Teoria dos estilos de liderança (centrada no líder e nos liderados): foco na busca do<br />

modelo ideal de comportamento para um líder, iniciando os estudos em 1940 e atingindo<br />

o apogeu em 1960 – trata-se do behaviorismo, teoria do comportamento humano aplicado<br />

à teoria da liderança, dando origem a dois estilos: o autocrático (orientado para a produ-<br />

ção) e o democrático (caracterizado pela preocupação com as relações humanas). O au-<br />

tor de destaque era Rensis Likert (1903 – 1981), que definiu os estilos de liderança de<br />

acordo com os sistemas administrativos (em um extremo está o sistema 1, no qual consta<br />

a liderança autocrática e autoritária, e no outro o sistema 4, em que se localiza a lideran-<br />

ça democrática e participativa; no campo intermediário, a liderança benevolente – siste-<br />

ma 2, e a liderança consultiva – sistema 3).<br />

c) Teoria situacional ou contingencial (centrada no líder, nos liderados e na situação):<br />

destaque na década de 70 e adotada até hoje. Prega que não há fórmula a priori para o<br />

exercício da liderança – uma ação bem-sucedida na situação A pode revelar-se totalmente<br />

equivocada na situação B. Os motivos seriam os fatores diversos: estrutura das tarefas;<br />

relação entre o líder e os subordinados; a posição hierárquica da liderança, as normas do<br />

grupo e a disponibilidade de informações. Há uma distinção entre a esfera do líder e dos<br />

liderados.<br />

Macedo et al (2003, p. 111) ressaltam que “poder, autoridade e responsabilidade são<br />

fatores intrinsecamente relacionados que se fazem presentes no exercício da liderança”.<br />

85


EaD Marivane da Silva<br />

86<br />

Katz e Kahn (apud Kast e Rosenzweig, 1970) definem que o poder é o potencial de<br />

influência caracteristicamente sustentado pelos meios destinados a forçar a sua aceitação.<br />

Já autoridade é o poder legítimo; é aquele agregado à pessoa em virtude de seu papel e da<br />

sua posição em sua estrutura social organizada.<br />

cepções:<br />

Contribuindo com esses conceitos, Hunter (2004, p. 26) apresenta as seguintes con-<br />

Poder: é a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou<br />

força, mesmo que a pessoa preferisse não fazer.<br />

Autoridade: a habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa<br />

de sua influência pessoal.<br />

Etzioni (apud Silva, 2002, p. 252) já argumentava que um administrador tem cinco<br />

tipos de poder que servem de base para o desenvolvimento da liderança:<br />

1) Poder de recompensa: capacidade de oferecer algo de valor, um resultado positivo como<br />

meio de influenciar o comportamento de outras pessoas.<br />

2) Poder coercitivo: capacidade de punir ou reter resultados positivos, como meio de influen-<br />

ciar o comportamento de outras pessoas.<br />

3) Poder de especialização: é a capacidade de influenciar o comportamento de outras pesso-<br />

as por causa do conhecimento específico ou do entendimento que alguém possui.<br />

4) Poder de referência: capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas por<br />

causa de seu desejo de se identificar pessoal e positivamente com alguém admirado.<br />

5) Poder legítimo: capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas em virtude<br />

dos direitos do cargo ou da função ocupada.<br />

Cabe destacar que os tipos de poder – recompensas, coercitivo e legítimo – estão rela-<br />

cionados à posição hierárquica, enquanto os tipos especialização e referência estão relacio-<br />

nados ao indivíduo e não dependem da posição ocupada na hierarquia da organização.<br />

Autoridade é o um direito institucionalizado de limitar escolhas ou servir-se do poder,<br />

especialmente em organizações formais.<br />

Chester Barnard (1886 – 1961) estudou a Teoria da Aceitação da Autoridade,<br />

enfatizando o esforço cooperativo e a motivação nas tomadas de decisão, na eficácia da<br />

comunicação e na importância de objetivos.<br />

Autoridade é o direito de comandar pessoas visando à obtenção de resultados. Já res-<br />

ponsabilidade pode ser entendida como a obrigação criada a partir do momento em que se<br />

aceita uma determinada parcela de autoridade (Macedo et al, 2003, p. 112).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Lembramos que as bases da autoridade são a formalidade e a aceitação. Os tipos des-<br />

critos por Max Weber estão expressos no Quadro 6.<br />

Tipos de Autoridade<br />

Tradicional<br />

Carism á tica<br />

Racional<br />

Caracter í sticas<br />

Não é racional. Poder herdado ou<br />

delegado. Baseado Baseada no “ senhor ”<br />

Não é racional, nem herdada, nem<br />

deleg á vel. Baseada no carisma.<br />

Racional, legal, impessoal, formal.<br />

Baseada no m é rito.<br />

Quadro 6: Tipos de autoridade<br />

Legitima ç ão<br />

Fonte: Adaptado de Faria (2002).<br />

Agora vamos tratar dos conflitos, considerados inevitáveis<br />

no mundo da gestão e, como Follett declarava: o conflito é cons-<br />

trutivo! No exercício profissional de um gestor é importante sa-<br />

ber negociar e enfrentar os conflitos, de forma a olhar os dois<br />

lados – positivo (potencial a criatividade) e negativo (forma de<br />

amenizar os ruídos e conseqüências) – da situação, de maneira<br />

a desenvolver suas competências essenciais.<br />

Seção 4.6<br />

Conflitos e Negociação<br />

Todas as organizações são uma combinação complexa de<br />

indivíduos e grupos buscando várias metas e interesses. Oliveira<br />

e Silva (2006) já alertavam que o conflito é resultante natural e<br />

inevitável da relação que se estabelece entre as pessoas que pos-<br />

suem diversas opiniões e valores, buscam diferentes objetivos e<br />

têm acesso diferenciado à informação e recursos dentro e fora da<br />

organização.<br />

Likert (apud Wahrlich, 1971, p. 113) já considerava “a ad-<br />

ministração como um processo que envolve sempre relações”.<br />

Temos de reconhecer que ao inserirmos as pessoas no contexto<br />

Tradi ç ão, h á bitos, usos e costumes.<br />

Caracter í sticas pessoais e carism á ticas<br />

do l í der.<br />

Justi ç a da lei. Promulga ç ão e<br />

regulamenta ç ão de normas legais<br />

previamente definidas.<br />

Sugestões de Leitura:<br />

Imperdível a leitura destas<br />

obras. Vale a pena!<br />

HUNTER, James C. O monge e<br />

o executivo: uma história<br />

sobre a essência da liderança.<br />

Rio de Janeiro: Sextante,<br />

2004.<br />

HUNTER, James. Como se<br />

tornar um líder servidor: os<br />

princípios de liderança de O<br />

Monge e o Executivo. Rio de<br />

Janeiro: Sextante, 2006.<br />

GRÜN, Anselm. A sabedoria<br />

dos monges na arte de<br />

liderar pessoas. Petrópolis,<br />

RJ: Vozes, 2006.<br />

CAVALCANTI, Vera Lucia e<br />

outros. Liderança e motivação.<br />

Rio de Janeiro: Ed. FGV,<br />

2005.<br />

CARVALHO, Cristina A.;<br />

VIEIRA, Marcelo M. F. O poder<br />

nas organizações. São Paulo:<br />

Thomson Learning, 2007.<br />

87


EaD Marivane da Silva<br />

88<br />

Personalidade<br />

É a organização dinâmica<br />

interna daqueles sistemas<br />

psicológicos do indivíduo que<br />

determinam o seu ajuste<br />

individual no ambiente. Em<br />

outras palavras, descreve o<br />

crescimento e o desenvolvimento<br />

de todo o sistema<br />

psicológico de um indivíduo;<br />

ou ainda, a soma total das<br />

maneiras como uma pessoa<br />

reage e interage com as<br />

demais<br />

(Robbins, 2005, p. 78).<br />

das organizações, conscientes de que os indivíduos são sistemas<br />

abertos e complexos (Mariotti, 1995), também há necessidade de<br />

reconhecimento das diferenças individuais, organizacionais e<br />

culturais, e que nem sempre são fáceis de compreender, entender<br />

e conviver harmonicamente.<br />

Pensando racionalmente parece fácil e prático, mas na or-<br />

dem natural das coisas, no dia-a-dia do trabalho, da convivên-<br />

cia, da decisão, da discussão e do próprio enfrentamento dos li-<br />

mites de cada um no seu espaço, ficamos diante de um desafio:<br />

conviver e gerenciar as tensões e os conflitos.<br />

São preocupações que persistem no cenário das organiza-<br />

ções no tempo e no espaço, porém com conotações e dimensões<br />

diferentes. Cabe aqui lembrar que já eram preocupações dos<br />

comportamentalistas: March e Simon (administração como to-<br />

madas de decisão), Elliot Jacques (problemas de tensão), Chris<br />

Argyris (conflito inevitável entre as necessidades individuais e as<br />

necessidades da organização), Gouldner (compreender a nature-<br />

za subjetiva), Katz e Kahn (autoridade), entre outros.<br />

Sabemos desde 1959, pelos comportamentalistas, o quan-<br />

to é “onipresente o conflito entre as exigências do indivíduo e<br />

as da organização” (Wahrlich, 1971, p.111). Certos conflitos entre<br />

personalidades, entre indivíduos e a estrutura, são prejudiciais<br />

e dispendiosos, mas para outros parece ser estimulante e até se<br />

revelar um motivo para crescimento. Se, porém, o conflito for<br />

eliminado, a organização, “despreocupada na certeza da acei-<br />

tação passiva de tudo por parte dos membros, não teria defesa<br />

contra seus próprios erros e não haveria a esperança de uma<br />

“centelha divina do descontentamento”” (grifo do autor,<br />

Wahrlich, 1971, p. 111).<br />

O conflito em demasia é prejudicial à organização, mas como<br />

Follett alertava no início dos estudos da Escola de Relações Hu-<br />

manas, ele existe e não pode ser negado, apenas precisa ser ad-<br />

ministrado de forma que possa contribuir para o desenvolvimen-<br />

to e crescimento de qualquer sistema social, familiar, político e<br />

organizacional.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Hoje, percebemos a grandiosidade das percepções que Follett (1997) tinha sobre o<br />

conflito e o quanto reconhecia a existência e a necessidade de existir os dois lados: o bom<br />

(construtivo) e o ruim (destrutivo), ou melhor, como a própria autora propõe:<br />

(...) gostaria de pedir que concordassem, por ora, em pensar no conflito como não sendo bom,<br />

nem ruim; que o considerassem sem prévios julgamentos éticos; encarando-o não como guerra,<br />

mas como o aprimoramento da diferença, de opiniões, de interesses (Follett, 1997, p. 71).<br />

Em seu conceito, conflito significa a diferença. Algo que se encontra no mundo e não<br />

podemos evitar, apenas “deveríamos utilizá-lo, em vez de condená-lo, deveríamos fazer com<br />

que trabalhasse a nosso favor. (...) que devemos saber o momento de eliminar o atrito e<br />

quando capitalizá-lo (...)” (p. 72).<br />

Difícil de internalizar?! Penso que sim, mas a existência é feita de polaridades.<br />

Não existe a luz sem a escuridão, o quente sem o frio, o bem sem o mal, o eu sem o não-eu. Não<br />

se pode pensar em vida sem pensar em morte. Não se pode falar em lazer sem falar em trabalho.<br />

É impossível falar em simplificação sem falar em complexidade (Mariotti, 1995, p. 111).<br />

É preciso saber conviver com a polaridade. É preciso saber lidar com o conflito. É<br />

preciso aprender a ser mediador neste processo para atender aos propósitos tanto da organi-<br />

zação quanto das pessoas envolvidas.<br />

Este conflito destrutivo age prejudicando a pessoa, o grupo e a organização. Pode<br />

reduzir a produtividade e a satisfação no trabalho e contribuir para aumentar as faltas e a<br />

rotatividade no emprego. A solução é buscar minimizar seus efeitos prejudiciais. Exemplos:<br />

dois funcionários não conseguem trabalhar juntos por causa de hostilidade interpessoal<br />

(um conflito emocional destrutivo) ou quando os membros de um comitê não conseguem<br />

agir porque nunca chegam a um acordo sobre as metas do grupo (um conflito substantivo<br />

destrutivo).<br />

Já o conflito construtivo é fonte de novas idéias, podendo levar a discussões abertas<br />

sobre determinados assuntos, o que se revela positivo, pois permite a expressão e exploração<br />

de diferentes pontos de vista, interesses e valores. O conflito no espaço organizacional desa-<br />

fia o status quo, conduzindo a mudanças.<br />

Antes de expor os métodos para lidar com o conflito, apresento uma retomada de con-<br />

ceitos que surgem teoricamente como anteriormente, nos exemplos de conflito destrutivo.<br />

O conflito pode ser emocional (baseado em sentimentos pessoais) ou substantivo (ba-<br />

seado em metas de trabalho).<br />

89


EaD Marivane da Silva<br />

90<br />

Conflito emocional envolve dificuldades interpessoais que surgem nos sentimentos<br />

de raiva, desconfiança, antipatia, medo, ressentimento, etc. Conhecido como choque<br />

de personalidades. Esse tipo de conflito pode drenar as energias das pessoas e dis-<br />

traí-las de outras prioridades importantes no trabalho. Situação comum entre cole-<br />

gas de trabalho, assim como na relação superior-subordinado (Schermerhorn Jr.;<br />

Hunt; Osborn, 1999, p. 268).<br />

Conflito substantivo é um desacordo fundamental com relação aos fins ou objetivos<br />

e aos meios para atingi-los. É comum as pessoas, às vezes, discordarem em questões<br />

como metas do grupo ou da organização, sobre a distribuição de recursos, distribui-<br />

ção de recompensas, políticas e procedimentos e atribuição de tarefas (Schermerhorn<br />

Jr.; Hunt; Osborn, 1999, p. 268).<br />

É importante salientar que no trabalho as pessoas podem encontrar estes conflitos no<br />

âmbito intrapessoal (conflito dentro do indivíduo), interpessoal (conflito indivíduo com in-<br />

divíduo), intergrupal (entre setores ou grupos), ou no nível interorganizacional (organiza-<br />

ções e sindicatos).<br />

A questão é: administrar o conflito obtendo resultados construtivos em vez de<br />

destrutivos é essencial para o sucesso organizacional.<br />

Ainda existe a distinção entre conflito vertical e horizontal na estrutura organizacional:<br />

a) conflito vertical é aquele que se verifica entre níveis hierárquicos; b) conflito horizontal,<br />

ocorre entre pessoas ou grupos do mesmo nível hierárquico (incompatibilidade de objetivos,<br />

escassez de recursos).<br />

Nesse viés cabe alertar que situações internas de conflito podem se transformar de<br />

disputas latentes em discórdias abertas, quando unidades e pessoas precisam cooperar para<br />

atingir objetivos difíceis.<br />

Antes, porém, de apresentar os tipos de conflitos, permita perguntar-lhe: Conflito e<br />

competição são a mesma coisa? Está em dúvida? Vamos ajudá-lo a entender:<br />

Não é a mesma coisa. O conflito é resultante da competição, po-<br />

rém mais grave. Competição significa rivalidade entre grupos na busca<br />

por um objetivo comum, ao passo que conflito pressupõe interferência<br />

direta na realização das metas.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Montana e Charnov (2005, p. 348) conceituam conflito no ambiente organizacional<br />

como a “divergência entre duas ou mais partes, ou entre duas ou mais posições, sobre como<br />

melhor alcançar as metas da organização”.<br />

Os conflitos envolvendo duas partes podem ser divididos em vários tipos, conforme as<br />

concepções de Montana e Charnov (2005):<br />

a) Conflito interno: um único indivíduo tem duas opiniões opostas; quando existem dois<br />

caminhos para se atingir uma meta organizacional; o indivíduo depara-se com duas esco-<br />

lhas igualmente ruins; estimula a inovação na resolução dos problemas e pode ser bené-<br />

fico para a organização.<br />

b) Conflito entre indivíduos: uma organização é conjunto de indivíduos. Os conflitos entre<br />

indivíduos são vistos como resultado de diferenças de personalidade; Solução: demissão<br />

ou transferência do funcionário de nível.<br />

c) Conflito entre indivíduos e grupos: não concordam com as normas do grupo e/ou a cultu-<br />

ra organizacional estará em conflito com o grupo de trabalho ou com toda a organização.<br />

d) Conflito entre grupos: a competição pelos recursos; os estilos gerenciais diferentes neces-<br />

sários para a operação eficaz de departamentos diferentes.<br />

e) Conflito entre organizações: iniciativa privada – competição rigorosa; competem entre si<br />

pelos mercados.<br />

Você sabe o que os teóricos pensam sobre a fonte do conflito? Vamos descobrir! Montana<br />

e Charnov (2005, p. 352) apresentam as fontes do conflito como sendo:<br />

a) diferenças nas metas;<br />

b) competição pelos recursos (financiamentos do projeto, espaço físico, tempo de consultoria,<br />

uso das instalações, ferramentas, equipamentos e outros;<br />

c) falta de comunicação e má interpretação da informação;<br />

d) divergências sobre os padrões de desempenho e<br />

e) incongruências da estrutura organizacional.<br />

Já descobrimos onde e como surgem os conflitos. Agora precisamos compreender quais<br />

são as estratégias para gerenciá-los.<br />

a) Afastamento: para que funcione é preciso dois fatores – a administração estar disposta a<br />

ignorar as causas do conflito ou se uma das conseqüências de se evitar o tratamento do<br />

conflito for prejuízo para a organização.<br />

91


EaD Marivane da Silva<br />

b) Abrandamento: começa com o reconhecimento de que existe um problema. A administra-<br />

92<br />

ção procura criar um consenso entre os dois grupos para eles perceberem que o que eles<br />

compartilham é maior do que suas diferenças.<br />

c) Dominação ou intervenção de poder: é a técnica de gerenciamento do conflito que tem como<br />

característica a imposição de uma solução pela alta gerência. É uma maneira rápida de resol-<br />

ver o conflito, mas provavelmente deixará um resíduo de ressentimento nos funcionários.<br />

d) Acordo ou concessão mútua: procura satisfazer pelo menos parcialmente a posição de<br />

cada parte. Não trata das causas do conflito.<br />

e) Confronto: as causas do conflito são consideradas. Enfatiza o entendimento e a obtenção<br />

das metas da organização em vez das metas individuais das partes disputantes. O conflito<br />

pode ser resolvido, mas muitas vezes à custa de explosões emocionais e de muita energia<br />

para a administração.<br />

Lembramos que Follett (1997), em sua tese, afirmava que existem três métodos para<br />

lidar com o conflito:<br />

a) Dominação: vitória de um lado sobre o outro. Dando uma rápida solução, porém uma<br />

solução instável, visto que criava ressentimento, e não-construtiva, porque suprimia pers-<br />

pectivas não-dominantes que tivessem o potencial de agregar valor.<br />

b) Conciliação: cada lado cede um pouco, a fim de se ter a paz. Provável que deixe ambas as<br />

partes insatisfeitas e resulte numa solução que não é a ideal.<br />

c) Integração: cria algo novo, uma maneira diferente de descarregamento. Considerado o<br />

único modo de resolução de conflito, acarretava a busca de uma solução inovadora, na<br />

qual ambos os desejos envolvidos encontrariam espaço. Única estratégia que deixava as<br />

partes satisfeitas e, ao mesmo tempo, promoveria a aprendizagem organizacional<br />

O conflito pode consumir energia gerencial e recursos organizacionais, mas também<br />

pode liberar a energia criativa e o potencial de inovação. Geralmente serão as habilidades<br />

do gerente e o compromisso da organização com o processo e os métodos de administração<br />

de conflito que determinarão o impacto que este terá sobre a organização.<br />

Pela iminência do conflito no espaço organizacional abre-se o caminho para a negoci-<br />

ação, em função de não mais ser possível usar o rigor da autoridade para resolvê-lo, existin-<br />

do a seguinte possibilidade:<br />

É uma forma de tomar decisão em que duas ou mais partes conversam entre si num esforço de<br />

resolver seus interesses opostos. Elas expressam as suas demandas contraditórias e se movem em<br />

direção a um acordo, através de um processo de fazer concessões e buscar novas alternativas, que<br />

ofereçam benefícios mútuos (Freitas, 1994, p. 13).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Vamos tentar explicar o conceito de negociação e sua implicação na Administração!<br />

Cohen (1980, p. 13) define negociação como a “utilização da informação e do poder,<br />

buscando influenciar o comportamento em uma rede de tensão”.<br />

“Negociação é o processo de tomar decisões conjuntas quando as partes envolvidas<br />

têm preferências diferentes. Pode ser considerada uma forma de conseguir o que você quer<br />

de outros no processo de tomada de decisões” (Schermerhorn Jr.; Hunt; Osborn, 1999, p.<br />

274).<br />

Negociação é o processo de buscar aceitação de idéias, propósitos ou interesses visando ao<br />

melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação consci-<br />

entes de que foram ouvidas, tiveram oportunidade de apresentar toda a sua argumentação e que<br />

o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais (Junqueira, 1995, p. 12).<br />

Junqueira (1995) em seu conceito apresenta uma tríade importante:<br />

Figura 8: Elementos importantes na negociação<br />

Fonte: Elaborado com base em Junqueira (1995, p. 12).<br />

Num processo de negociação é importante levar em conta o tempo (passado, presente<br />

e futuro), o poder e a informação disponível ao longo do processo, para que se possa avaliar<br />

o momento correto de se expor, de saber ouvir os argumentos, falar objetivamente. O proces-<br />

so de negociação requer habilidades em tomada de decisão, comunicação, motivação, ad-<br />

ministração de conflitos...<br />

Processo<br />

Sinergia<br />

Consenso<br />

Na gestão contemporânea a negociação é vista como uma das habilidades importan-<br />

tes do gestor. Esta visão permite compreender que o processo de negociação é algo que se<br />

aprende no dia-a-dia, exercitando-a de forma ativa e persistente. Negociação é encarada<br />

como uma arte, entendida como aquilo que se aprende e se aprimora na prática.<br />

93


EaD Marivane da Silva<br />

94<br />

Da mesma forma que no conflito, na negociação há objetivos substantivos (têm rela-<br />

ção com os resultados das questões de conteúdo) e relacionais (enfocam como os sujeitos<br />

envolvidos na negociação e os que os representam são capazes de trabalhar bem uns com os<br />

outros depois do processo concluído).<br />

Junqueira (1995, p. 28) explica que o processo de negociação se dá em sete etapas,<br />

segundo o modelo íntegro de Ronald Bates, no Quadro 7.<br />

ETAPA CARACTERÍSTICAS<br />

PREPARAÇÃO<br />

ABERTURA<br />

EXPLORAÇÃO<br />

APRESENTAÇÃO<br />

Outro negociador não está presente.<br />

a) histórico das relações: retrospectiva das negociações e contatos<br />

anteriores com a mesma pessoa e/ou sobre o mesmo assunto –<br />

subsídios comportamento/estratégia;<br />

b) objetivos ideais e reais: na distância entre um e outro está a “margem<br />

de negociação”;<br />

c) presunção da necessidade: ninguém compra ou aceita<br />

produtos/serviços/idéias de que não necessita; começar a pensar nas<br />

necessidades, motivações, expectativas da outra pessoa;<br />

d) planejamento das concessões antes do início da negociação e não<br />

durante o processo. Concessões mais importantes devem ser deixadas<br />

por último;<br />

e) conflitos potenciais: devem pensar em alternativas de solução de<br />

conflitos, antes de a negociação começar. Ex: humor, atividade social,<br />

concessão extra;<br />

f) expectativas positivas: contato com o outro negociador – abertura.<br />

Criar um clima propício ao desenvolvimento da negociação, deixando à<br />

vontade o outro negociador.<br />

a) redução da tensão: mostre interesse pelo outro, faça perguntas sobre o<br />

próprio local e ambiente de negociação; mencione algo que você viu/leu<br />

que possa interessar o outro;<br />

b) defina seu objetivo: resolver um problema, satisfazer uma necessidade.<br />

Destacar os benefícios mútuos do atingimento desse objetivo;<br />

c) concordância para prosseguimento (local, tempo e pontos a serem<br />

discutidos.<br />

Etapa muitas vezes esquecida pelos negociadores.<br />

a) detectar necessidades, expectativas, motivações da outra parte... o<br />

problema é que presume quais sejam as necessidades e age como se o<br />

outro possuísse os mesmos interesses;<br />

b) teste da necessidade presumida: quando verifica-se se e quanto a outra<br />

parte precisa do seu produto, serviço ou idéia;<br />

c) busca de identidade de interesses: encontrar os pontos em comum,<br />

entre suas idéias e posições;<br />

d) resumo das descobertas e concordâncias: é preciso confirmar se o que<br />

você entendeu foi realmente aquilo que a outra parte disse.<br />

Etapa em que apresenta ao outro negociador sua proposta.<br />

a) descrição dos seus produtos, serviços, idéias (características), sempre<br />

enfatizando aqueles pontos que o outro negociador considera mais<br />

importante;<br />

b) problemas resolvidos por sua proposta (solução);<br />

c) soluções e benefícios decorrentes de sua proposta (benefícios),<br />

inclusive de natureza pessoal. Evite achar que o que é importante para<br />

você será necessariamente importante para o outro.


EaD<br />

CLARIFICAÇÃO<br />

AÇÃO FINAL<br />

CONTROLE E<br />

AVALIAÇÃO<br />

Quadro 7: Fases do processo de negociação<br />

Fonte: Elaborado com base em Junqueira (1995).<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Esta etapa é o momento de esclarecimentos. Momento de assumir a postura<br />

de ouvinte.<br />

a) esteja preparado para responder às objeções sobre medo de cometer<br />

erros; falta de confiança; informações insuficientes, prioridades<br />

diferentes; levante previamente argumentos para contestá-las;<br />

b) evite frases perigosas, do tipo: Você não entendeu nada;<br />

c) aceite as razões do outro. Existem as objeções com base na lógica e no<br />

sentimento (feeling), portanto tente não ser contra o que o outro está<br />

dizendo, mas acrescente fatos/informações/depoimentos que possam<br />

fazê-lo concluir pelo seu ponto de vista;<br />

d) levante dúvidas potenciais. Antecipe-se às possíveis dúvidas, que não<br />

são questionadas e que poderiam ser objeto de dificultar o fechamento<br />

do negócio.<br />

Fase em que ocorre o fechamento do negócio.<br />

a) atenção aos sinais de aceitação;<br />

b) torne sua proposta reversível, que alivia o ônus da decisão;<br />

c) apresente opções;<br />

d) recapitule vantagens e desvantagens, enfatizando as vantagens para o<br />

outro negociador;<br />

e) proponha uma data para teste experimental;<br />

f) proponha o fechamento do negócio.<br />

Nem sempre esta fase é realizada, em muitos casos, consideram terminado<br />

na ação final.<br />

a) controle do que foi acertado;<br />

b) avaliação: comparação do previsto com o realizado; análise das<br />

concessões e suas conseqüências; notas e observações para a<br />

próxima negociação.<br />

El Sayed (2003, p. 42) faz referência em seu artigo ao que os filósofos gregos, em seus<br />

estudos de retórica, definiram como traços essenciais na personalidade dos negociadores:<br />

a) Ética ou ethos – conjunto de valores construtivos e presentes, como respeito, integridade,<br />

justiça, responsabilidade, digno de confiança, senso de humor e autodisciplina.<br />

b) Empatia ou pathos – forte emoção que comove a alma, o que inclui paciência, flexibilida-<br />

de, energia pessoal e ego suficientemente qualificado para uma disposição de ficar em<br />

segundo plano e saber lidar com as diferenças.<br />

c) Inteligência racional ou logos: característica resultante do processo de educação formal,<br />

da preparação do negociador e da sua capacidade de buscar o contínuo aperfeiçoamento.<br />

Cabe salientar que o maior pecado de um processo de negociação é a falta de planeja-<br />

mento do que deverá ser realizado durante os encontros realizados com essa finalidade.<br />

Depois de conhecer todos os temas ou abordagens decorrentes da Escola Behaviorista<br />

ou paradigma comportamental, é importante fazer referência às limitações apresentadas ao<br />

paradigma, entre elas que o comportamento não depende tanto dos estímulos quanto da<br />

história de aprendizagem ou da representação do ambiente do indivíduo.<br />

95


EaD Marivane da Silva<br />

96<br />

Sugestões de Leitura:<br />

MARTINELLI, Dante P.;<br />

ALMEIDA, Ana Paula de.<br />

Negociação e solução de<br />

conflitos. São Paulo: Atlas,<br />

1998.<br />

FISCHER, Roger; URY, William;<br />

PATTON, Bruce. Como chegar<br />

ao sim: a negociação de<br />

acordos sem concessões. 2.<br />

ed. Rio de Janeiro: Imago,<br />

2005.<br />

WANDERLEY, José Augusto.<br />

Negociação total: encontrando<br />

soluções, vencendo<br />

resistências, obtendo resultados.<br />

São Paulo: editora Gente,<br />

1998.<br />

SÍNTESE DA UNIDADE 4<br />

O problema que emerge na utilização do paradigma<br />

<strong>humanista</strong> e comportamental no campo administrativo são os<br />

mecanismos de controle social e manipulação psicológica neles<br />

implícitos, capazes de reduzir a riqueza do potencial humano a<br />

mero elemento instrumental.<br />

O desafio da administração contemporânea é “administrar,<br />

coordenar e gerenciar enfrentando a contradição e encontrando<br />

novos caminhos”, bem como tentar fazer com que o fator huma-<br />

no deixe de ser encarado como simples “fator de produção” ou<br />

“recurso humano”.<br />

Os gestores das empresas teriam de pensar maneiras dife-<br />

rentes de melhorar as práticas de trabalho e a qualidade de vida<br />

de seus funcionários e, se possível, encontrar um novo paradigma<br />

de gestão que priorize um desenvolvimento mais humanizado.<br />

Na seqüência, vamos apresentar na Unidade 5 o tema do<br />

Desenvolvimento Organizacional (DO), definido por seus propo-<br />

nentes como uma <strong>abordagem</strong> moderna, democrática e variada<br />

para o desenvolvimento planejado das organizações.<br />

O paradigma comportamental, cujo enfoque está no comportamen-<br />

to, por meio do estudo e análise das observações e verificações do<br />

comportamento humano a partir de várias pesquisas científicas,<br />

envolvendo o indivíduo e seu comportamento, o grupo e a organi-<br />

zação.<br />

As diversas visões de “homem” nas organizações são explicitadas<br />

para o conhecimento de todas as abordagens das teorias dos estu-<br />

dos organizacionais, aprofundando a análise do homem social e<br />

do homem complexo ou em outras literaturas, denominado de ho-<br />

mem administrativo, cuja dimensão centra-se no estudo do<br />

paradigma <strong>humanista</strong> e comportamental. Ao estudar o indivíduo<br />

recuperamos as contribuições da Antropologia (Chanlat) e da Psi-<br />

cologia (Freud).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

A proposta do paradigma comportamental contribuiu para a evolução<br />

do pensamento administrativo, servindo de base para o<br />

surgimento de novas abordagens ou temas decorrentes – grupos,<br />

equipe, motivação, comunicação, poder, autoridade, liderança, conflitos<br />

e negociação. Temas tratados no mundo da gestão desde suas<br />

origens, com seus diversos autores, até a gestão contemporânea.<br />

Kurt Lewin revela a importância de ver a organização como uma<br />

série de grupos interligados, sejam eles formais (são designados e<br />

sancionados pela organização) ou informais (criado pelos próprios<br />

funcionários e não sancionado pela organização). Detalhamos<br />

o processo de constituição e suas características (comportamento,<br />

tamanho e status). Da mesma forma, apresentamos as técnicas de<br />

brainstorming (conhecida como tempestade de idéias), grupo nominal<br />

e técnica Delphi. Com o avanço dos estudos revela-se a diferenciação<br />

entre grupo e equipe.<br />

Maslow como o mais conhecido autor da motivação, com sua hierarquia<br />

das necessidades. Entre os demais autores que tratam da<br />

temática são mais conhecidos: McGregor, ao delinear as teorias X<br />

e Y, e Herzberg, com sua teoria de dois fatores. As demais teorias<br />

são conhecidas como contemporâneas (ERC, necessidades socialmente<br />

adquiridas, avaliação cognitiva, fixação de objetivos, reforço,<br />

equidade, expectativa, teoria Z).<br />

Tendo presente que quando falamos em motivação, estamos nos<br />

referindo a um tipo de ação que vem dos próprios indivíduos – um<br />

tipo de ação qualitativamente diferente daquela determinada por<br />

prêmios ou punições oriundos do ambiente, ou seja, uma fonte de<br />

energia que é intrínseca do seu comportamento. A motivação pode<br />

ser vista como um motivo ou como um condicionamento à ação. A<br />

motivação é estudada a partir das teorias de processo (expressam<br />

o pensamento do indivíduo ou processos cognitivos que influenciam<br />

as decisões quanto ao comportamento no trabalho), de conteúdo<br />

(destacam as necessidades do indivíduo) e de reforço (focalizam<br />

que sempre é possível conseguir que as pessoas se comportem<br />

de acordo com padrões de conduta previamente estabelecidos).<br />

Da mesma forma, é importante compreender a tese de Cecília<br />

Bergamini de que “ninguém consegue motivar ninguém”.<br />

Ao estudarmos a comunicação como um processo de promover as relações<br />

e interações humanas que busca o entendimento comum nas relações<br />

entre indivíduos, fundamentalmente para a sobrevivência, o crescimento<br />

e a continuidade da organização. Apresentando os aspectos<br />

técnicos do subsistema da comunicação no ambiente interno e externo<br />

e sua funcionalidade quanto ao processo de comunicação, bem<br />

como suas implicações aos demais subsistemas de gestão quando apresentam<br />

limitações na prática da comunicação organizacional.<br />

97


EaD Marivane da Silva<br />

98<br />

Liderança, poder e autoridade são conceitos que estão intimamente<br />

interligados entre si no âmbito da gestão. Apresentam importante<br />

dimensão complementar ao paradigma comportamental. O<br />

modo de administrar favorece determinados tipos de líderes. Os<br />

estilos de liderança podem ser classificados entre dois parâmetros:<br />

o autoritário e o democrático. A liderança pode ser enquadrada<br />

nas diferentes linhas de estudo: a teoria dos traços, a teoria dos<br />

estilos de liderança e as teorias situacionais ou contingenciais. Já<br />

o poder é descrito como uma força pessoal capaz de ser base para o<br />

desenvolvimento da liderança: poder de recompensa, coercitivo,<br />

especialização, de referência e legítimo. Cada uma dessas fontes<br />

pode ser utilizada pelos indivíduos dentro das organizações. O<br />

poder é um fator intangível nas organizações. Ele não pode ser<br />

visto, mas seu efeito pode ser sentido. O conceito de autoridade<br />

está vinculado ao poder, porém seu alcance é mais estreito.<br />

Mary Parker Follett, principal expoente da temática do conflito<br />

como algo natural e inevitável ao espaço organizacional, embora<br />

no paradigma <strong>humanista</strong> o conflito tenha sido negado e considerado<br />

algo que necessitaria ser eliminado; no paradigma<br />

comportamental se amadurece enquanto concepções e entendimentos<br />

aceitando a dimensão que Follett, naquele tempo, já dizia<br />

ser algo construtivo. O conflito é algo que está dado e que precisa<br />

ser administrado sem prévios julgamentos éticos; encarando-o como<br />

a diferença de opiniões e de interesses. O conflito pode ser emocional<br />

(baseado nos sentimentos pessoais) ou substantivo (baseado<br />

em metas de trabalho). Existem várias estratégias para gerenciar<br />

os conflitos – abstenção, abrandamento, dominação ou intervenção<br />

do poder, acordo ou concessão mútua, e confronto. Pela tese<br />

de Follett, entre os três métodos defendidos por ela para lidar com<br />

o conflito, apenas a integração resolve definitivamente.<br />

Com o conflito surge a discussão da negociação como um processo<br />

pertinente à tomada de decisão conjunta entre as partes envolvidas.<br />

É algo que se aprende no dia-a-dia, com o exercício da prática.<br />

O processo de negociação é dado em sete etapas: preparação,<br />

abertura, exploração, apresentação, clarificação, ação final, controle<br />

e avaliação. É importante na personalidade do negociador –<br />

ética, empatia e inteligência racional.<br />

O desafio da Administração é gerenciar todos esses temas ou abordagens<br />

de forma sistêmica, de modo que todos possam contribuir para que<br />

o fator humano deixe de ser encarado como simples fator de produção<br />

ou recurso humano e passe a ser entendido como pessoas inseridas num<br />

contexto organizacional de objetividade e subjetividade.


Unidade Unidade 5<br />

5<br />

EaD<br />

DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL<br />

OBJETIVOS DESTA UNIDADE:<br />

• Apresentar a origem, os conceitos, os pressupostos básicos, as téc-<br />

nicas e modelos de DO<br />

• Permitir uma visão crítica do DO<br />

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE<br />

Seção 5.1 – Origem, Conceitos, Pressupostos, Técnicas e Modelo de DO<br />

Seção 5.2 – Apreciação Crítica do DO<br />

Seção 5.3 – Ressignificação do Trabalho e da Gestão.<br />

Seção 5.1<br />

Origem, Conceitos, Pressupostos, Técnicas e Modelo de DO<br />

Como o próprio Chiavenato (2000, p. 440) expressa em sua obra,<br />

o movimento de DO surgiu a partir de 1962, como um “conjunto de<br />

idéias a respeito do homem, da organização e do ambiente, no senti-<br />

do de facilitar o crescimento e desenvolvimento das organizações”.<br />

E você, tem idéia do que seja o Desenvolvimento<br />

Organizacional – DO?<br />

Pois bem, DO é um desdobramento prático e operacional da<br />

Escola Comportamental em direção à <strong>abordagem</strong> sistêmica. Salien-<br />

ta-se que não se trata de uma teoria administrativa, mas de um<br />

movimento congregando vários autores (em sua maioria consul-<br />

tores) com a finalidade de aplicar as ciências do comportamento –<br />

e principalmente a teoria comportamental – à Administração.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Abordagem sistêmica<br />

A <strong>abordagem</strong> sistêmica foi<br />

desenvolvida pelo biólogo<br />

alemão Ludwig von Bertalanffy,<br />

que elaborou por volta da<br />

década de 50 uma teoria<br />

interdisciplinar capaz de<br />

transcender os problemas<br />

exclusivos de cada ciência e<br />

proporcionar princípios e<br />

modelos gerais para todas as<br />

ciências envolvidas, de modo<br />

que as descobertas efetuadas<br />

em cada ciência pudessem ser<br />

utilizadas pelas demais –<br />

chamada Teoria Geral dos<br />

Sistemas.<br />

Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 17 jun. 2009.<br />

99


EaD Marivane da Silva<br />

100<br />

Chiavenato (2000) explica os fatores que deram origens ao DO:<br />

a) Dificuldade de operacionalizar os conceitos das diversas teorias administrativas pela di-<br />

versidade de abordagens. Sendo assim, o DO resultou dos esforços da Escola<br />

Comportamental no sentido de promover a mudança e a flexibilidade organizacional. O<br />

treinamento, por si só, não provoca mudança, é necessário estabelecer um programa co-<br />

erente de mudança em toda a organização.<br />

b) Os estudos sobre motivação permitiram concluir que se mostrava necessária uma nova<br />

<strong>abordagem</strong> da Administração que pudesse interpretar as diferentes concepções de homem<br />

e de organização. Os objetivos dos indivíduos nem sempre se conjugam com os objetivos<br />

organizacionais, levando as pessoas a um comportamento alienado e ineficiente que re-<br />

tarda ou impede o alcance dos objetivos traçados.<br />

c) A criação do National Training Laboratory (NTL), de Bethel, em 1947, e as primeiras pes-<br />

quisas de laboratório sobre o comportamento do grupo. O Treinamento da Sensitividade<br />

(ou educação em laboratório) por meio de T-Groups foi o primeiro esforço para melhorar o<br />

comportamento de grupo.<br />

d) A publicação do livro “T-Group Theory and Laboratory Methods”, em 1964, pelo coorde-<br />

nador Leland Bradford, importante para explicitar as pesquisas com T-Groups, os resulta-<br />

dos com o treinamento da sensitividade e as possibilidades de sua aplicação dentro das<br />

organizações.<br />

e) A pluralidade de mudanças no mundo: transformações rápidas e inesperadas do ambien-<br />

te organizacional; aumento do tamanho das organizações; diversificação e complexidade<br />

da tecnologia, exigindo integração entre atividades – pessoas especializadas –, compe-<br />

tências diferentes.<br />

O precursor do movimento teórico foi Leland<br />

Bradford (1905-1981), fundador e o primeiro diretor do<br />

National Training Laboratory (NTN), onde atuou durante 25<br />

anos. O DO foi uma das principais inovações sociais do<br />

século 20. Em 1939 concluiu seu Doutorado em Psicologia<br />

Educacional na Universidade de Illinois. Da mesma forma,<br />

que contribuiu com os processos de instrução e de<br />

reeducação, trabalhou as idéias: a integração da pessoa<br />

como um todo; o poder da aprendizagem experimental;<br />

redefinição da relação do professor-aprendizagem.


EaD<br />

f) Mudanças no comportamento administrativo devido a um novo<br />

conceito de homem baseado no conhecimento de suas mutáveis<br />

e complexas necessidades; novo conceito de poder, com base<br />

na colaboração e na razão; e novo conceito de valores<br />

organizacionais, baseado em ideais humanístico-democráticos.<br />

g) A grande invenção do século 20 – a inovação. Ela mudou a<br />

visão de mundo, as percepções das pessoas, dos grupos e modi-<br />

ficou a vida em sociedade. O DO é uma resposta às mudanças<br />

e à inovação.<br />

h) Fusão de tendências no estudo das organizações: análise da es-<br />

trutura e do comportamento humano nas organizações. Uma<br />

conciliação entre estrutura e processo. A estrutura corresponde<br />

aos elementos estáticos da organização (divisão do trabalho, au-<br />

toridade e responsabilidade, níveis hierárquicos,<br />

departamentalização, amplitude de controle). O processo é dinâ-<br />

mico e se refere às normas culturais, que determinam o ambiente<br />

da organização, a qualidade das comunicações humanas, as fun-<br />

ções assumidas pelas pessoas dentro de seus grupos, as maneiras<br />

pelas quais os problemas são interpretados e resolvidos e como as<br />

decisões são tomadas, os valores da organização, o estilo de lide-<br />

rança e autoridade, a competição e cooperação entre grupos. O<br />

DO exige mudanças estruturais e nos processos entre pessoas e<br />

grupos. É uma mudança de cultura organizacional.<br />

i) Os estudos sobre conflitos interpessoais, pequenos grupos, pas-<br />

sando à administração pública e outros tipos de organização<br />

(indústrias, serviços, organizações militares, etc.), recebendo<br />

modelos, processos, métodos de diagnóstico de situação e de<br />

ação. Afirma-se que o DO surgiu como uma especialidade da<br />

Psicologia e uma continuação do behaviorismo ou paradigma<br />

comportamental, e se consolidou com a Teoria dos Sistemas.<br />

j) Os modelos de DO baseiam-se em quatro variáveis – 1) ambi-<br />

ente, 2) organização, 3) grupo e 4) indivíduos – em processo de<br />

interdependência para diagnosticar a situação e intervir em<br />

aspectos estruturais e comportamentais para provocar mudan-<br />

ças que permitam a conciliação dos objetivos individuais e<br />

organizacionais.<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Cultura<br />

Entendida como o complexo<br />

dos padrões de comportamento,<br />

das crenças, das instituições<br />

e de outros valores<br />

transmitidos coletivamente e<br />

típicos de uma sociedade. É<br />

algo em constante mutação e<br />

sob influências das variáveis<br />

tecnológicas, políticas,<br />

econômicas, legais, sociais,<br />

demográficas e ecológicas<br />

(Muniz; Faria, 2007).<br />

101


EaD Marivane da Silva<br />

102<br />

Com base nos aspectos salientados anteriormente, você entendeu o conceito de DO?<br />

Caso não tenha conseguido, revelamos:<br />

Desenvolvimento Organizacional é uma resposta da organização às mudanças. É um esforço educa-<br />

cional muito complexo, destinado a mudar atitudes, valores, comportamentos e a estrutura da orga-<br />

nização, de tal maneira que esta possa se adaptar melhor às novas conjunturas, mercados, tecnologias,<br />

problemas e desafios que estão surgindo em uma crescente progressão (Muniz; Faria, 2007, p. 168).<br />

O DO é uma evolução em termos de gestão, uma vez que considera o ambiente inter-<br />

no e externo da organização perfeitamente adaptável às mudanças e conciliando as neces-<br />

sidades humanas com os objetivos e metas. Assim sendo, o DO exige a participação ativa,<br />

aberta e não manipulada de todos os elementos que estarão sujeitos ao seu processo e,<br />

essencialmente, considera a pessoa humana.<br />

Retomamos as variáveis básicas para a análise do DO.<br />

Ambiente<br />

Indivíduo<br />

Figura 1: Variáveis básicas para análise do DO<br />

Fonte: Elaborado a partir de Muniz e Faria (2007).<br />

Veja, a seguir, uma síntese explicativa a respeito dos quatro variáveis:<br />

Variáveis Foco no DO<br />

Meio<br />

Ambiente<br />

Quadro 1: Foco no DO<br />

Organização<br />

Grupo social<br />

Focalizando aspectos como turbulência ambiental, a explosão do conhecimento, a<br />

explosão tecnológica, das comunicações, o impacto das mudanças sobre as<br />

instituições e valores sociais.<br />

Abordando o impacto sofrido em decorrência da turbulência ambiental e as<br />

Organização características necessárias de dinamismo e flexibilidade organizacional para<br />

sobrevivência no ambiente.<br />

Considerando aspectos de liderança, comunicação, relações interpessoais,<br />

Grupo Social<br />

conflitos, etc.<br />

Indivíduo Ressaltando as motivações, atitudes, necessidades, etc.<br />

Fonte: Elaborado a partir de Muniz e Faria (2007).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Cabe destacar que mudanças na cultura refletem-se tanto nas normas e valores do<br />

sistema formal quanto na reintegração do sistema informal, bem como nas competições<br />

internas e externas, nos tipos de pessoas que a organização atrai, de seus processos de<br />

trabalho e distribuição física, nas modalidades de comunicação e no exercício da autorida-<br />

de. Neste sentido, este processo constitui um esforço planejado de mudança, envolvendo<br />

um sistema total durante certo período de tempo.<br />

Muniz e Faria (2007, p. 170) apresentam as características do DO:<br />

a) Visão global da organização.<br />

b) Orientação sistêmica.<br />

c) Utilização de agentes de mudança.<br />

d) Ênfase na solução de problemas.<br />

e) Aprendizagem experimental.<br />

f) Processos grupais.<br />

g) Retroação intensiva;<br />

h) Orientação contingencial.<br />

i) Desenvolvimento de equipes e enfoque interativo.<br />

Sobre o processo dialético de construção de mudanças, Peter M. Blau e Richard Scott,<br />

no livro Organizações Formais, abordam os três paradoxos básicos enfrentados pelas orga-<br />

nizações: 1) coordenação x comunicação; 2) disciplina burocrática x especialização profis-<br />

sional; e 3) planejamento administrativo x iniciativa.<br />

Os referidos autores tratam essa questão como dilemas que traduzem a inevitabilidade<br />

do conflito e da mudança. Argumentam, ainda, que a mudança organizacional é “um con-<br />

junto de alterações na situação ou no ambiente de trabalho de uma organização, entenden-<br />

do ambiente de trabalho como ambiente técnico, social e cultural – um passo para conceituar<br />

desenvolvimento organizacional” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 255).<br />

Nesse sentido, conceituamos desenvolvimento organizacional como “a mudança<br />

organizacional planejada” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 257).<br />

Warren G. Bennis (apud Motta; Vasconcelos, 2002, p. 256) conceitua desenvolvimen-<br />

to organizacional como “uma estratégia educacional adotada para trazer à tona uma mu-<br />

dança organizacional planejada, exigida pelas demandas às quais a organização tenta res-<br />

ponder e que enfatiza o comportamento com base na experiência”.<br />

103


EaD Marivane da Silva<br />

104<br />

Em decorrência de uma filosofia social compartilhada, os agentes de mudança (na<br />

maior parte dos casos externos à organização, trabalhando em colaboração com seus inte-<br />

grantes) participam de um conjunto de metas normativas: aperfeiçoamento das relações<br />

interpessoais; transformação nos valores para que o fator humano venha a ser considerado<br />

legítimo; aprimoramento do entendimento inter e intragrupal no sentido de reduzir tensões;<br />

desenvolvimento de uma equipe administrativa mais eficiente; estabelecimento de melhores<br />

métodos de solução de conflitos; substituição de sistemas mecânicos por orgânicos.<br />

As mudanças organizacionais repercutem em alterações no ambiente de trabalho de<br />

uma organização em termos estruturais e comportamentais (detalhadas mais adiante).<br />

O processo de mudança adotado pelo DO baseia no modelo de Lewin, mais tarde<br />

aprimorado por Schein e outros, que é aplicável a pessoas, grupos e organizações. O modelo<br />

envolve três fases distintas: descongelamento, mudança e recongelamento.<br />

Figura 2: Processo de mudança<br />

Fonte: Chiavenato (2000, p. 448).<br />

a) Descongelamento – significa tornar a mudança tão aparente que o indivíduo não consi-<br />

ga encontrar argumentos para evitá-la.<br />

b) A instituição das mudanças desejadas no comportamento é a segunda fase, em que os<br />

novos valores e atitudes (aprendidos e internalizados) são postos em prática e demons-<br />

tram melhores resultados.<br />

c) Recongelamento visa a consolidar o novo padrão de comportamento por meio de meca-<br />

nismos de reforço e apoiados nos resultados e benefícios obtidos com a mudança efeti-<br />

vada.<br />

Descongelamento Mudança Recongelamento<br />

Padrão atual do<br />

comportamento:<br />

velhas idéias e<br />

práticas são<br />

derretidas,<br />

abandonados e<br />

desaprendidas.<br />

Novas idéias e<br />

práticas são<br />

exercidas e<br />

aprendidas<br />

Novas idéias e<br />

práticas são<br />

incorporadas<br />

definitivamente ao<br />

comportamento.<br />

Identificação Internalização Suporte Reforço


EaD<br />

Motta e Vasconcelos (2002, p. 257) observam que “o de-<br />

senvolvimento organizacional depende da situação que requer e<br />

condiciona um determinado tipo de mudança”; é uma mudança<br />

de cultura organizacional. Os autores apresentam a forma de<br />

desenvolver o DO em quatro fases, a seguir explicitadas:<br />

O primeiro passo para iniciar os trabalhos de DO é a reali-<br />

zação do diagnóstico ou levantamento da situação, ou seja, le-<br />

vantamento das relações da organização com seu ambiente, que<br />

poderão dar origem às mudanças estruturais.<br />

O segundo passo é o “sociograma”, que consiste em fazer o<br />

levantamento das relações sociais entre grupos de participantes.<br />

O terceiro passo é a definição das alterações a serem per-<br />

seguidas tendo em vista os objetivos almejados, tanto em ter-<br />

mos estruturais quanto comportamentais, ou seja, é o levanta-<br />

mento das relações entre os participantes individuais e a organi-<br />

zação que podem originar as alterações comportamentais.<br />

O quarto passo trata-se da avaliação, proposta por Lawrence<br />

e Lorsch, em três etapas: a) planejamento da mudança, b) insti-<br />

tuição e follow-up e c) avaliação. Tal processo, porém, funciona<br />

como um circuito fechado.<br />

Esquematicamente, Ferreira, Reis e Pereira (2002) sinteti-<br />

zam as quatro fases apresentadas anteriormente.<br />

DIAGNÓSTICO<br />

Identificação do problema<br />

PLANO DE AÇÃO - SOCIOGRAMA<br />

Estratégia de implantação<br />

INTERVENÇÃO<br />

Implantação de mudanças<br />

AVALIAÇÃO E CONTROLE<br />

Comparar situação anterior e<br />

presente<br />

Figura 3: Processo do DO<br />

Fonte: Ferreira, Reis e Pereira (2002, p. 75).<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Follow-up<br />

Significa acompanhamento.<br />

105


EaD Marivane da Silva<br />

106<br />

Tendo como base as informações apresentadas por Silva (2002), a elaboração do diag-<br />

nóstico do Desenvolvimento Organizacional é uma tarefa difícil, porque deve ser realizada<br />

tanto com as informações visíveis quanto com as “escondidas”. O autor faz uma analogia<br />

da organização com um iceberg (Figura 4).<br />

Figura 4: O iceberg organizacional e os elementos de análise no diagnóstico<br />

Fonte: Silva (2002, p. 414).<br />

O objetivo de apresentar esta figura é ilustrar os elementos visíveis e invisíveis que são<br />

observados na organização ao elaborar o diagnóstico do DO, em que o foco principal está<br />

“em mudar as pessoas, a natureza e a qualidade de suas relações de trabalho” (Chiavenato,<br />

2006, p. 61).<br />

É importante salientar que neste processo faz-se uma análise da cultura e do clima<br />

organizacional. Entende-se cultura como sendo um sistema de valores, crenças, normas e<br />

hábitos compartilhados, que rege a interação dos elementos de uma organização (Silva,<br />

2002); e clima organizacional como sendo uma atmosfera psicológica, resultante dos com-<br />

portamentos, dos modelos de gestão e das políticas empresariais, refletida nos relaciona-<br />

mentos interpessoais para conectar ao seu objetivo principal – a mudança planejada, pen-<br />

sada e articulada.<br />

O DO é uma alternativa democrática e participativa interessante para a renovação e<br />

revitalização das organizações.<br />

Aspectos visíveis:<br />

• objetivos<br />

• políticas<br />

• tecnologia<br />

• estrutura e autoridade<br />

• canais de comunicação<br />

• procedimentos e regras<br />

• desempenho<br />

Aspectos escondidos<br />

• atitudes e opiniões<br />

• valores<br />

• sentimentos<br />

• política e poder<br />

• conflitos pessoais<br />

• conflitos intergrupais<br />

• problemas técnicos e de comportamento


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Tendo presente como se dá o processo de DO, vamos apresentar com maiores detalhes<br />

o que se analisa no campo das alterações estruturais e comportamentais.<br />

a) Campo das alterações estruturais<br />

Durante muito tempo o único tipo de estrutura existente era conhecido como “tipo<br />

ideal”, que Max Weber analisou e identificou como estrutura burocrática, que marcou a<br />

ascensão da racionalidade. Considerando as limitações da primeira estrutura proposta, sur-<br />

giu um segundo tipo que ficou conhecido como “linha-staff”, que tinha a função de<br />

aconselhamento em matéria especializada, sem nenhuma autoridade ou responsabilidade<br />

na execução, que mais tarde deu origem ao agrupamento de cargos relacionados a determi-<br />

nadas funções e denominado de estrutura funcional.<br />

Com o tempo, entretanto, percebeu-se a dificuldade do controle na estrutura funcional,<br />

já que algumas subfunções dependem de mais de uma função para um desempenho eficiente<br />

e em termos da organização como um todo, possibilitando a duplicação de funções e a dificul-<br />

dade de padronização. Embora haja contestação sobre sua eficiência, a estrutura funcional é<br />

a forma de organização mais difundida, tanto no setor privado quanto no público.<br />

Como se constata na análise de Weber, a estrutura mais burocratizada ou mecanizada<br />

não é compatível com a inovação. Por outro lado, se adotarmos uma estrutura funcional<br />

descentralizada, como a filosofia administrativa japonesa e a experiência da empresa Gene-<br />

ral Motors, tem-se um sistema hierárquico rígido acrescido de independência, criatividade e<br />

autocrítica local.<br />

Uma observação de Lawrence e Lorsch merece destaque, ou seja: “o desenvolvimento<br />

organizacional não é apenas uma estratégia educacional, mas também uma intervenção<br />

nos aspectos estruturais da organização, isto é, na divisão do trabalho, na rede de comuni-<br />

cações, etc., bem como na estratégia das transações com o ambiente”.<br />

Tomando como base a estrutura organizacional para apreciação, apresentam-se al-<br />

guns tipos de organizações para entendimento das suas principais diferenças:<br />

a) Technology, organization and administration, de Thompson e Bates: não só a elaboração<br />

da tecnologia leva a uma maior complexidade da organização que a utiliza, como tam-<br />

bém o tipo de tecnologia disponível (flexível e fixa) para o alcance de determinados obje-<br />

tivos condiciona os tipos de estrutura apropriados à organização, à formulação de sua<br />

política administrativa global e à administração de seus recursos, construindo dois tipos<br />

básicos de tecnologia (flexível e fixa) e produto (concreto e abstrato).<br />

b) Modelo de integração e diferenciação desenvolvido por Lawrence e Lorsch: parte da idéia<br />

de que o ambiente que opera uma organização é diferenciado.<br />

107


EaD Marivane da Silva<br />

c) Modelo de estrutura democrática de Katz e Kahn, considerado tipo ideal, cujas caracte-<br />

108<br />

rísticas são a promulgação de regras, o poder de voto e a admissão e demissão de pessoal<br />

nas mãos do conjunto de participantes.<br />

d) Estrutura matricial: caracteriza-se pela sobreposição de uma estrutura por projetos a<br />

uma estrutura funcional, isto é, os departamentos convencionais continuam a existir,<br />

servindo inclusive de estoques de especialistas para diversos projetos, que funcionam em<br />

uma base não-hierarquizada e congregam elementos advindos dos diversos departamen-<br />

tos, sob a liderança de um gerente. Terminado o projeto, o pessoal retorna aos seus seto-<br />

res, onde desempenha atividades preestabelecidas, participa de programas de treinamen-<br />

to e aguarda novas designações.<br />

b) Campo das alterações comportamentais<br />

As alterações comportamentais merecem destaque nos estudos e trabalhos de desen-<br />

volvimento organizacional. São dirigidas para o desenvolvimento da comunicabilidade e da<br />

criatividade para a formação de equipes administrativas coesas e homogêneas, para a que-<br />

bra de resistência à mudança e para a valorização dos aspectos humanos no trabalho.<br />

Cabe esclarecer que as alterações comportamentais também são limitadas, porém não são<br />

estáveis e sim circunstanciais. Têm interferência direta na eficiência real de uma organização,<br />

pelo fato de serem determinadas muito mais pelas pessoas do que pela própria estrutura. As<br />

técnicas de alteração comportamental apresentadas por Motta e Vasconcelos (2002) são:<br />

a) o suprimento de informações adicionais (supõe-se que quanto mais insumos cognitivos o<br />

indivíduo receber, maior será sua capacidade de organizar os dados e agir criativamente);<br />

b) a terapia e o aconselhamento individual (complemento à técnica anterior, com o desenvol-<br />

vimento da capacidade de insight e com mudança duradoura nas atitudes dos indivíduos);<br />

c) reforço do grupo de inserção principal: os “pares” e colegas de trabalho: difícil de ser<br />

posto em prática sem o surgimento de conflitos, que poderão ser solucionados no próprio<br />

grupo de pares e também, entendendo que o conflito pode ser, ele próprio, um agente de<br />

mudança.<br />

Edgar Schein descreve técnicas nas quais o principal ponto é a tarefa, ou seja, o referido<br />

autor sistematiza sua atuação em um continuum, que se inicia com o simples acompanha-<br />

mento de uma reunião com agenda, oportunizando um acompanhamento e intervenção, se<br />

necessário, tais como: colocação de questões que dirigem a atenção do grupo para aspectos<br />

interpessoais; criação de períodos para a análise do processo utilizado; revisão de agenda e<br />

teste de procedimentos; promoção de reuniões dedicadas aos processos interpessoais; apre-<br />

sentação e discussão de aspectos teóricos relevantes para a tarefa do grupo.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Conclui-se que uma simples modificação de agenda ou de procedimentos não vem a<br />

melhorar substancialmente os problemas analisados. Nesses casos, tratando-se de um gru-<br />

po maduro e bastante interessado no aperfeiçoamento de seus processos interpessoais, pode-<br />

se pensar em reuniões fora do local de trabalho, sem uma tarefa administrativa a ser desem-<br />

penhada – uma técnica de “laboratórios de sensibilidade”.<br />

d) Técnica dos laboratórios de sensibilidade: já descrita anteriormente, porém reforçando<br />

que é uma comunidade residencial temporária, estruturada de acordo com os requisitos<br />

de aprendizagem dos participantes. Significa dizer que é a inserção do indivíduo em uma<br />

comunidade dedicada a apoiar a mudança e a aprendizagem experimental. É uma inova-<br />

ção educacional chamada T-Group, no qual os membros precisam estabelecer um proces-<br />

so de investigação em que os dados acerca de seu próprio comportamento sejam coletados<br />

e analisados simultaneamente com sua experiência geradora. Os objetivos dessa técnica<br />

são o desenvolvimento do autoconhecimento, do conhecimento do impacto que o indiví-<br />

duo exerce sobre as outras pessoas e o aperfeiçoamento da comunicação em geral, devido<br />

à eliminação de suas barreiras.<br />

e) Outras técnicas terapêuticas: podemos citar a terapia grupal, avaliada pelos seus bons<br />

resultados. “Seu maior limite está no pressuposto de que os conflitos organizacionais são<br />

expressão de características e neuroses individuais”. Outra técnica aplicada são as famí-<br />

lias organizacionais, que consistem em cada superior reunir-se com seus subordinados a<br />

fim de receber o feedback de sua gestão.<br />

O desenvolvimento organizacional é uma subárea da teoria das organizações que pro-<br />

cura estudar a operacionalização dos seus conceitos. Chama-se a atenção para o fato de<br />

que “muitos autores consideram desenvolvimento e mudança como sinônimos; para outros<br />

(em sua maioria), desenvolvimento é tão-somente um processo de aplicação sistemática de<br />

técnicas de dinâmica grupal nas organizações” (Motta; Vasconcelos, 2002, p. 273).<br />

Fica claro que o processo de desenvolvimento organizacional envolve tanto alterações<br />

estruturais quanto comportamentais, embora no Brasil muito pouco tenha sido feito nesse cam-<br />

po, entendendo-se que há “uma potencialidade do novo campo, que contribuirá para tornar os<br />

instrumentos de administração mais adaptáveis a situações e condições diversas” (p. 274).<br />

Conclui-se que o DO tem importante papel nos estudos organizacionais, decorrência<br />

prática da <strong>abordagem</strong> comportamental, com o intuito de obter flexibilidade e mudanças –<br />

comportamentais e estruturais. Principalmente mudanças comportamentais, porque as or-<br />

ganizações só mudarão se as pessoas que a formam mudarem – é um processo planejado de<br />

mudanças estruturais e culturais, que visam à integração organizacional com o meio ambi-<br />

ente e à melhoria da qualidade de vida das pessoas dentro das organizações.<br />

109


EaD Marivane da Silva<br />

110<br />

A seguir, apresentamos na seção 5.2 as críticas ao trabalho de desenvolvimento<br />

organizacional.<br />

Seção 5.2<br />

Apreciação Crítica do DO<br />

DO sempre foi entendido como um rótulo utilizado para a embalagem de princípios do<br />

paradigma comportamental dentro de novas formulações. Com a crise da Escola de Rela-<br />

ções Humanas ou paradigma <strong>humanista</strong> e do behaviorismo, ou ainda paradigma<br />

comportamental, o DO passou a ser a saída para o aumento da eficácia organizacional.<br />

Chiavenato (2000, p. 484) relaciona como sendo as principais críticas ao DO:<br />

a) aspectos mágicos criados a partir de quatro mitos: 1) mito da disciplina delimitada, inde-<br />

pendente e baseada no método científico; 2) mito de variáveis não-pesquisáveis pela difi-<br />

culdade de mensurar; 3) mito da novidade, com a informação de que é uma nova técnica<br />

para facilitar a mudança – contudo o DO é criticado por ser entendido como métodos e<br />

processos relativamente antigos, apenas com rótulos novos; 4) mito da eficácia ampliada<br />

em função de técnicas que aumentassem a capacidade da organização para alcançar<br />

seus objetivos.<br />

b) Imprecisão no campo do DO: pela variedade de técnicas como treinamento da sensitividade,<br />

análise transacional, consultoria de processos, desenvolvimento de equipes, reuniões de<br />

confrontação, tratamento de conflito intergrupal e suprimento de informações.<br />

c) Ênfase na educação “emocional”, que focaliza o treinamento das habilidades no relacio-<br />

namento interpessoal, tendo por base as ciências de comportamento. O treinamento das<br />

habilidades é importante, mas não constitui a essência da administração.<br />

d) Os métodos de DO não são novos ou cientificamente válidos. Não se teve comprovação<br />

científica de que as técnicas melhoram a capacidade da organização de alcançar seus<br />

objetivos.<br />

Apesar destas críticas, entretanto, o DO afigura-se como a melhor opção <strong>humanista</strong><br />

de <strong>abordagem</strong> dos estudos organizacionais. Tanto que alterou significamente as relações<br />

que o homem estabelecia com o trabalho e com a organização, considerando os sistemas de<br />

trabalho e os processos inerentes à integração dos indivíduos e grupos.<br />

Sendo assim, trazemos como um desafio de pesquisa recuperar a significação do tra-<br />

balho e da gestão a partir do desenvolvimento organizacional. Na seção 5.3 apresentamos<br />

um pequeno ensaio da discussão desta temática.


EaD<br />

Seção 5.3<br />

Ressignificação do Trabalho e da Gestão<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

O trabalho sempre existiu na vida social, nas diferentes sociedades ao longo da Histó-<br />

ria, 1 mas gradativamente foi sendo limitado e modificado pelas condições sociais, econômi-<br />

cas, políticas, geográficas, culturais, entre outras.<br />

Vamos analisar a questão do trabalho em Ciências Sociais, na Sociologia, na Antro-<br />

pologia e na Psicologia. Chamamos a atenção entretanto, para o fato de que não será pos-<br />

sível esgotar as possibilidades de análise do tema nesta seção. É preciso uma série de leitu-<br />

ras complementares para o aprofundamento da temática.<br />

Como o próprio Oliveira (2002, p. 143) afirma, “o homem é produto e produtor da socieda-<br />

de em que vive e apresenta relações contraditórias entre os vários sistemas existentes”, porém<br />

sem dúvida o tempo e o espaço definiram uma história diferente em cada fase da sociedade.<br />

O homem sempre desenvolveu esforços conjugados para realizar atividades e suprir as suas<br />

necessidades básicas. A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, trouxe consigo transfor-<br />

mações vitais na sociedade com a aplicação de descobertas científicas, novos avanços tecnológicos,<br />

industriais, concentração das unidades produtivas, expansão de produção em áreas e setores<br />

estratégicos (Oliveira, 2002, p. 143).<br />

Realidade esta que sofre novas modificações com a terceira Revolução Industrial – a<br />

da informática, que na leitura de alguns autores chamo-se de sociedade do conhecimento,<br />

de acesso, de redes, cujo modelo produtivo seria radicalmente diferente do modelo que a<br />

precedeu – o fordismo.<br />

Para avançarmos nos estudos é importante compreendermos o conceito de trabalho,<br />

que na perspectiva de Bauman (2001, apud Fontenelle, 2008, p. 54) resgata suas origens<br />

como labour, que aparece em 1776 “atrelado ao esforço físico despendido em busca da rea-<br />

lização das necessidades materiais da comunidade. (...) ou como um conjunto de trabalha-<br />

dores e operários que participam da produção, um corpo de trabalhadores”. Na seqüência<br />

aparecem os sindicatos, e o termo passou a ter um sentido nitidamente político.<br />

As transformações do trabalho foram sucessivamente sendo vistas ao longo da própria<br />

transformação do capitalismo, e a relação de dependência entre capital e trabalho se dissolve,<br />

assumindo novos arranjos no campo do consumo, ou seja, “o capital passa a depender para<br />

sua competitividade, eficácia e lucratividade, dos consumidores” (Fontenelle, 2008, p. 55).<br />

1 Ver Caderno Estudos Organizacionais: <strong>abordagem</strong> estrutural, 2009, p. 47.<br />

111


EaD Marivane da Silva<br />

112<br />

O processo de racionalização da vida moderna, da sólida rotina de realização de ativi-<br />

dades no espaço organizacional do escritório ou da indústria, nos tempos áureos do fordismo<br />

ou da clássica formulação de Max Weber, cede lugar a um trabalho considerado “imaterial”<br />

e “fluido”, que requer um novo estilo de trabalhador:<br />

Organizações flexíveis também requerem trabalhadores flexíveis, tão “leves e voláteis quanto a<br />

nova economia capitalista que os gerou e dotou de poder” (...) e todos são afetados psicologica-<br />

mente, tendo em vista que ninguém pode se sentir seguro num mundo de desemprego estrutural,<br />

de formas organizacionais nas quais não há regras claras, em que se parece estar sempre à prova<br />

(Fontenelle, 2008, p. 56).<br />

As mudanças na instituição trabalho e seus impactos nas subjetividades dos trabalha-<br />

dores foram tratados com propriedade pelo sociólogo Richard Sennett nos seus livros A cor-<br />

rosão do caráter (2005) e em A cultura do novo capitalismo (2006). Entre as várias questões<br />

levantadas pelo autor chamam a atenção as três razões para o fim da burocracia:<br />

(...) a mudança do poder gerencial para o acionário; como conseqüência deste primeiro fator,<br />

uma pressão sem precedentes por resultados a curto prazo; e o desenvolvimento de novas<br />

tecnologias de comunicação e manufatura. Tais transformações geraram três déficits sociais:<br />

baixo nível de lealdade; diminuição da confiança informal entre os trabalhadores; enfraqueci-<br />

mento do conhecimento institucionalizado (Fontenelle, 2008, p. 57).<br />

Refletindo a questão do trabalho em uma nova dimensão que requer um ser humano<br />

capaz de prosperar em condições sociais instáveis e fragmentárias, ou seja, apto a atender<br />

às exigências do tempo, o que significa pessoas capazes de cuidar de relações de curto<br />

prazo e de si mesmas, e ao mesmo tempo ter sempre flexibilidade de migrar de uma tarefa<br />

para outra; do talento, que consiste em ser capaz de desenvolver novas habilidades e desco-<br />

brir capacidades potenciais, à medida que vão mudando as exigências da realidade, e a<br />

capacidade de abrir mão do passado, o que demanda um traço de caráter específico, capaz<br />

de descartar as experiências já vivenciadas.<br />

As novas formas de trabalho flexível seriam geradoras de uma ansiedade inédita, ou<br />

seja, apesar de todas as críticas ao aspecto burocrático e aprisionador feitas ao trabalho<br />

rotineiro, é forçoso reconhecer que as instituições eram geradoras de marca identitária e<br />

provedorasde inclusão social.<br />

Sennett em seus questionamentos revela dúvidas se esta identidade também não foi<br />

construída ao longo do tempo e se não estamos num processo de transição de um modelo para<br />

outro, e, portanto, as pessoas estariam despreparadas para as demandas do novo formato<br />

social, assim como estávamos despreparados quando surgiu a Revolução Industrial. “As no-<br />

vas gerações não estariam sendo “formatadas” – tal qual fomos formatados para o fordismo –<br />

para essa forma flexível de trabalhar, de viver e de se relacionar?” (Fontenelle, 2008, p. 58).


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

Essa discussão perpassa as obras de Gramsci (1991), Jeremy Rifkin (1995), Chanlat<br />

(1995), Bridges (1995) e Gorz (2005), as quais apresentam as novas visões sobre as transfor-<br />

mações no mundo do trabalho e seus impactos nas relações e na natureza do trabalho. Se<br />

você tiver oportunidade de adquirir tais obras e lê-las, certamente, ampliará seus conheci-<br />

mentos no assunto. Vale a pena!<br />

Rifkin (1995) adverte que as novas gerações denominadas “era do acesso” são caracteri-<br />

zadas por um novo tipo de ser humano que está sendo preparado para o século 21 – indivíduos<br />

cujo sentido do self está ligado menos a quanto resultado eles produzem e quantas coisas eles<br />

acumulam e mais a quantas experiências vividas e relacionamentos eles têm acesso.<br />

Neste novo paradigma, estar conectado ou desconectado será o novo modelo para se<br />

pensar a questão da exclusão social. Assim, para as novas gerações, já não fariam sentido<br />

dilemas identitários em torno da profissão ou da carreira. Surge a idéia da autogestão da<br />

carreira – flexibilidade do emprego, novas formas de trabalho baseadas na gestão do conhe-<br />

cimento, na perspectiva de curto prazo, bem como de toda a retórica da autonomia, de<br />

autoconhecimento e sucesso psicológico.<br />

Chanlat (1995) observa que a moderna idéia de carreira nasceu com a sociedade in-<br />

dustrial capitalista liberal, passando a significar a estrada para a progressão profissional ao<br />

longo de uma vida. O novo desenho da sociedade industrial proporcionou um conceito de<br />

carreira fundado nas idéias de igualdade, liberdade e êxito individual e progresso econômi-<br />

co e social.<br />

Surgindo no espaço da organização, a noção moderna de trabalho assalariado (em-<br />

prego) passou a ser uma das veias de ascensão social na era moderna. Modelo que tinha<br />

hegemonia e era marcado pela estabilidade no emprego e por uma progressão linear basea-<br />

da na descrição fixa e verticalizada dos cargos, na avaliação do desempenho e voltado para<br />

o êxito profissional.<br />

Bridges (1995) e Rifkin (1995) revelam que houve uma mudança na concepção de<br />

trabalho, emprego e carreira a partir das transformações socioeconômicas, que produzem<br />

uma nova forma de gerir a carreira – o fim do trabalho – como ficou conhecido ao longo do<br />

século 20, e o início do suso da expressão emprego, ou seja, deu-se início ao “trabalho<br />

assalariado”, que significou o nascer do desemprego e o surgimento de uma proposta de<br />

cunho social: o investimento no terceiro setor como forma de oferecer aos desempregados<br />

trabalho significativo em serviços comunitários. Exemplo: alternativa para ajudar a recons-<br />

truir seus próprios bairros e infra-estrutura locais.<br />

Os autores destacam que o “fim do trabalho” implicou uma mudança em sua própria<br />

natureza e que ainda haverá trabalho, embora em menor quantidade e com uma maneira<br />

inteiramente nova de realizá-lo e de geri-lo.<br />

113


EaD Marivane da Silva<br />

114<br />

Bridges (1995) em sua obra relata as macrotransformações ocorridas no mundo do<br />

trabalho e seu impacto nas organizações e para os profissionais. As novas organizações são<br />

desprovidas de cargos e todos passam a ser encarados como “trabalhadores contingentes”,<br />

no sentido de que o emprego é contingencial aos resultados que a organização atingir. Em<br />

sua <strong>abordagem</strong> revela que os trabalhadores devem adquirir a mentalidade de que precisam<br />

gerenciar suas próprias carreiras e abandonar a velha idéia de “empregado tradicional”.<br />

Gorz (2005) complementa explicando que vivemos em uma economia do conhecimen-<br />

to, que altera os três pilares estruturais da antiga economia industrial – o trabalho, o valor<br />

e o capital – para uma nova forma de trabalho, baseada na gestão de informações – o saber<br />

da experiência, do discernimento, da capacidade de coordenação, de auto-organização e de<br />

comunicação.<br />

Na nova forma de gerir o saber, toda produção passa a se assemelhar a uma prestação<br />

de serviço, posto que, mesmo na indústria, a informatização transforma o trabalho em ges-<br />

tão de um fluxo contínuo de informações. Neste cenário, o autor também apresenta o con-<br />

ceito de auto-empreendedor e da “vida como business”, na gestão de sua própria força de<br />

trabalho, considerada como seu capital fixo. E reforça com a seguinte afirmativa: “A pessoa<br />

deve, para si mesma, tornar-se uma empresa” (Gorz, 2005 apud Fontenelle, 2008, p. 63).<br />

Gorz (2005) deixa clara, a idéia de empregabilidade e de responsabilidade individual<br />

pelo próprio destino das pessoas, abrindo espaço para a “autogestão da carreira”, em que o<br />

mais importante não seria a busca da eficiência (capacidade de fazer mais e melhor) mas a<br />

busca do significado e da satisfação naquilo que o profissional realiza, eu se consegue a<br />

partir do desenvolvimento do autoconhecimento. Desenvolvimento do autoconhecimento<br />

significa que cabe a cada profissional saber o que realmente gosta de fazer e quais são suas<br />

reais habilidades; assim como saber exatamente a qual atividade se dedicará a partir da<br />

leitura do mercado.<br />

Hall (1996, apud Fontenelle, 2008, p. 65) também apresenta um novo contrato e uma<br />

nova gestão de carreira baseada em trabalhadores versáteis, flexíveis, adaptáveis, hábeis em<br />

planejar a carreira com base em uma visão de futuro compatível com seus objetivos de vida,<br />

capazes de mudar de emprego e de redefinir sua carreira se esses objetivos não forem alcan-<br />

çados. Este novo contexto explica o estudo da abrodagem da subjetividade.<br />

“As novas formas de trabalho estão surgindo a partir do momento em que as pessoas<br />

vêm sendo educadas para o trabalho, para o conhecimento, e não mais apenas para o em-<br />

prego” (Boog, 2002, p. 125).<br />

Conclui-se que o mercado de trabalho não é algo objetivo, mas subjetivo. O trabalho é<br />

“um bem imaterial produzido pelo homem para continuar a criação, para construir o seu<br />

mundo, desenvolver o seu bem-estar e o seu projeto existencial” (Volpi, 2004, p. 447). O


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

trabalho é uma das estradas para o desenvolvimento, não apenas da sociedade, mas sobre-<br />

tudo do indivíduo. O trabalho como desenvolvimento, como empowerment, como condição<br />

humana, é um desafio para a gestão do século 21.<br />

SUGESTÕES DE LEITURA:<br />

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 4. ed. São Paulo: Editora<br />

Brasiliense, 1989. (Coleção Primeiros Passos).<br />

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge<br />

Zahar Editor, 2001.<br />

BRIDGES, William. Mudanças nas relações de trabalho: como ser<br />

bem-sucedido em um mundo sem empregos. São Paulo: Makron<br />

Books, 1995.<br />

CHANLAT, Jean-François. Quais carreiras e para qual sociedade<br />

(I). In: Revista de Administração de Empresas, São Paulo: FGV, v.<br />

35, n. 6, p. 67-75, nov./dez. 1995.<br />

FONTENELLE, Isleide Arruda. Pós-modernidade: trabalho e consumo.<br />

São Paulo: Cengage Learning, 2008.<br />

GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo:<br />

Annablume, 2005.<br />

GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o Estado moderno. Rio<br />

de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.<br />

HELOANI, R. Organização do trabalho e Administração: uma visão<br />

multidisciplinar. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas<br />

teorias sobre o mundo contemporâneo. 2. ed. amp. Rio de Janeiro:<br />

Jorge Zahar Ed., 2006.<br />

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade<br />

de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.<br />

RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis<br />

dos empregos e a redução da força global de trabalho. São<br />

Paulo: Makron Books, 1995.<br />

SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: conseqüências pessoais<br />

do trabalho no novo capitalismo. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.<br />

STEFFENS, Sandro Rodrigo. Trabalho e subjetividade nas organi-<br />

zações contemporâneas: da lógica. 2006. Dissertação (Mestrado<br />

em Desenvolvimento). Disponível em: .<br />

115


EaD Marivane da Silva<br />

116<br />

SÍNTESE DA UNIDADE 5<br />

O Desenvolvimento Organizacional (DO) tem um importante pa-<br />

pel nos estudos organizacionais como decorrência prática do<br />

paradigma comportamental e com o intuito de obter flexibilidade<br />

e mudanças para comportamentais quanto estruturais. As mudan-<br />

ças comportamentais, entretanto, são as principais porque as or-<br />

ganizações só mudarão se as pessoas que a formam mudarem.<br />

O DO surgiu na década de 60 como um processo planejado de<br />

mudanças estruturais e comportamentais, que visam à integração<br />

organizacional com o meio ambiente e à melhoria da qualidade de<br />

vida das pessoas dentro das organizações.<br />

O modelo de desenvolvimento organizacional (DO) envolve três fa-<br />

ses: descongelamento (padrão atual de comportamento), mudança<br />

(novas idéias e comportamento exercidos e aprendidos) e<br />

recongelamento (efetiva incorporação de idéias e comportamentos).<br />

O DO é uma alternativa democrática e participativa interessante<br />

para a renovação e revitalização das organizações.<br />

Para que o DO seja instituído efetivamente e obtenha resultados<br />

satisfatórios, muitas ações são adotadas, tais como: laboratórios<br />

de sensibilidade, pesquisas de atitude e opinião, técnicas de admi-<br />

nistrar conflitos grupais; modelos de avaliação de personalidade;<br />

modelos de avaliação de estilos gerenciais; análises do ambiente<br />

externo à organização. Também são respostas da própria organi-<br />

zação diante das mudanças socioeconômico-culturais. Sua preo-<br />

cupação maior é com a evolução do grupo de trabalho, com a fle-<br />

xibilidade das estruturas organizacionais e com a mobilização dos<br />

funcionários, possibilitando o amadurecimento e fluidez da orga-<br />

nização.<br />

As críticas dirigidas ao DO são: método e processo antigo, com<br />

rótulo novo; sua imprecisão técnica e científica; foco no treina-<br />

mento das habilidades no relacionamento interpessoal.<br />

Estas críticas foram superadas, reconhecendo-se a efetiva contri-<br />

buição das propostas de DO ao processo de mudança<br />

organizacional. O desafio da gestão está em como modificar ou<br />

alterar a organização em seu conjunto, levando em consideração<br />

tanto os aspectos técnicos quanto os sociais e comportamentais,<br />

para que ela consiga acompanhar as mudanças no contexto mais<br />

amplo da sociedade.


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

O trabalho sempre existiu na vida social, nas diferentes sociedades<br />

ao longo da História, mas gradativamente foi sendo limitado e<br />

modificado pelas condições sociais, econômicas, políticas, geográ-<br />

ficas e culturais. Apresentou, cotnudo, diferentes dimensões no pe-<br />

ríodo marcado pela industrialização, em que se vivia a relação ca-<br />

pital e trabalho, numa dimensão atrelada ao esforço físico<br />

despendido em busca do atendimento às necessidades materiais<br />

da comunidade.<br />

A terceira revolução chamada de sociedade do conhecimento, de<br />

acesso, de redes, cujo modelo produtivo seria radicalmente dife-<br />

rente do modelo que a precedeu – o fordismo cede lugar a um tra-<br />

balho considerado “imaterial” e “fluido” que requer um novo esti-<br />

lo de trabalhador.<br />

Autores como Gramsci (1991), Jeremy Rifkin (1995), Chanlat<br />

(1995), Bridges (1995) e Gorz (2005) apresentam suas novas con-<br />

cepções sobre as transformações no mundo do trabalho e seus im-<br />

pactos nas relações e na natureza do trabalho. As modificações<br />

refletem-se numa nova sociedade, com dimensões diferentes de<br />

emprego e de trabalho, de carreira, e recolocam os desafios propos-<br />

tos para o século 21.<br />

117


Referências<br />

Referências<br />

EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

ADIZES, Ichak. Os ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e<br />

morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Pioneira, 1990.<br />

AGUIAR, Maria A. F. De. Psicologia aplicada à Administração: uma introdução à psicologia<br />

organizacional. São Paulo: Atlas, 1980.<br />

ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria geral da administração: das origens às perspecti-<br />

vas contemporâneas. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2007.<br />

ARANTES, Nélio. Sistemas de gestão empresarial: conceitos permanentes na Administração<br />

de empresas válidas. São Paulo: Atlas, 1998.<br />

ARAÚJO, Luis C. G. de. Tecnologias de gestão organizacional. São Paulo: Atlas, 2001.<br />

BELATO, Neyta O. O indivíduo nas organizações. Ijuí: Ed. <strong>Unijuí</strong>, 2004. Curso de Pós-Gra-<br />

duação Lato Sensu em Gestão de Pessoas: Notas de aula.<br />

BERGAMINI, Cecília W. Motivação: uma viagem ao centro do conceito. RAE Executivo, v. 1,<br />

n. 2, nov. 2002 a jan. 2003.<br />

BOIN, M. O. As lideranças na organização empresarial contemporânea: uma <strong>abordagem</strong> de<br />

relação intersubjetiva entre o homem e a organização de trabalho. Revista Científica da Uni-<br />

versidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, vol. 2, n. 1, p. 45-56, jan./jun. 2004.<br />

BOOG, Gustavo; BOOG, Magdalena (Coord). Manual de gestão de pessoas e equipes. São<br />

Paulo: Editora Gente, 2002. Vol 1.<br />

BRIDGES, William. Mudanças nas relações de trabalho: como ser bem-sucedido em um mundo<br />

sem empregos. São Paulo: Makron Books, 1995.<br />

CARAVANTES, Geraldo R. O ser total: talentos humanos para o novo milênio. Porto Alegre:<br />

AGE, 2000.<br />

CARAVANTES, Geraldo R.; PANNO, Cláudia C.; KLOECKNER, Mônica C. Administração:<br />

teorias e processo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.<br />

CHANLAT, Jean-François (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. 3<br />

ed. São Paulo: Atlas, 1996.<br />

CHANLAT, Jean-François. Ciências Sociais e Management: reconciliando o econômico e<br />

social. São Paulo: Atlas, 2000.<br />

CHANLAT, Jean-François. Quais carreiras e para qual sociedade (I). In: Revista de Adminis-<br />

tração de Empresas, São Paulo: FGV, v. 35, n. 6, p. 67-75, nov. dez. 1995.<br />

119


EaD Marivane da Silva<br />

CHIAVENATO, I. Administração geral e pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.<br />

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 6. ed. Rio de Janeiro:<br />

Campus, 2000.<br />

CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R. (Orgs.). Handbook de Estudos<br />

organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Pau-<br />

lo: Atlas, 1998. Vol. 1.<br />

CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia.; NORD, Walter R. (Orgs.). Handbook de Estudos<br />

organizacionais: ação e análise organizacionais. São Paulo: Atlas, 2004. Vol. 2.<br />

COHEN, H. Você pode negociar qualquer coisa. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 1980.<br />

CURY, Antonio. Organização & métodos: uma visão holística. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo:<br />

Atlas, 2007.<br />

DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia C. (Org.). Gestão com pessoas e subjetividade. São<br />

Paulo: Atlas, 2001.<br />

El SAYED, Kassem Mohamed. A negociação no processo de gestão empresarial: da necessi-<br />

dade à arte. Revista FAE Business, n. 7, nov. 2003.<br />

FARIA, J. C. Administração: teoria & aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.<br />

FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos<br />

dias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.<br />

FERREIRA, V. C. P. et al. Modelos de gestão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.<br />

FOLLETT, Mary Parker. Profeta do gerenciamento. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.<br />

FONTENELLE, Isleide Arruda. Pós-modernidade: trabalho e consumo. São Paulo: Cengage<br />

Learning, 2008. (Coleção Debates em Administração).<br />

FREITAS, Maria Ester de. Organização: um espaço de negociação. Revista de Administra-<br />

ção de Empresas, São Paulo, v. 34, n. 5, set./out. 1994, p. 13-20.<br />

GILBSON, James L.; IVANCEVICH, John M.; DONELLY JR., James H.; KONOPASKE,<br />

Robert. Organizações: comportamento, estrutura e processos. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.<br />

GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2005.<br />

GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o Estado moderno. Rio de Janeiro: Civilização<br />

Brasileira, 1991.<br />

HUNTER, J. C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. 9. ed. Rio<br />

de Janeiro: Sextante, 2004.<br />

JUNQUEIRA, Luis Augusto C. P. Negociação: tecnologia e comportamento. 11. ed. Rio de<br />

Janeiro: COP, 1995.<br />

120


EaD<br />

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Humanista<br />

KAST, Fremont E.; ROSENZWEIG, James E. Organização e Administração: um enfoque<br />

sistêmico. 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1970.<br />

MACEDO, Ivanildo I. de et al (Coord.). Aspectos comportamentais da gestão de pessoas. Rio<br />

de Janeiro: Ed. FGV, 2003.<br />

MACHADO, Hilka Vier; KOPITTKE, Bruno. A identidade no contexto organizacional: pers-<br />

pectivas múltiplas de estudo. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002,<br />

Recife. Anais... Recife: Observatório da realidade organizacional; Propad/UFPE: Anpad, 2002.<br />

1 CD.<br />

MARIOTTI, Humberto. O fator humano e suas dimensões. In: ______. Organizações de apren-<br />

dizagem: educação continuada e a empresa do futuro. São Paulo: Atlas, 1995.<br />

MONTANA, Patrick J.; CHARNOV, Bruce H. Administração. São Paulo: Saraiva, 2005.<br />

MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.<br />

MOTTA, F. C. P. Teoria Geral da Administração: uma introdução. 22. ed. ampl. São Paulo:<br />

Pioneira, 1998.<br />

MOTTA, F.C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Pio-<br />

neira Thomson Learning, 2002.<br />

MUNIZ, Adir J. de O.; FARIA, Hermínio A. Teoria Geral da Administração: noções básicas.<br />

5. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2007.<br />

NOGUEIRA, Arnaldo. M. Teoria Geral da Administração para o século XXI. São Paulo: Ática,<br />

2007.<br />

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Introdução à Administração: teoria e prática. São<br />

Paulo: Atlas, 2009.<br />

OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Sociologia das organizações: uma análise do homem e das em-<br />

presas no ambiente competitivo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.<br />

OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de; SILVA, Edison Aurélio da. Gestão organizacional: desco-<br />

brindo uma chave de sucesso para os negócios. São Paulo: Saraiva, 2006.<br />

OUCHI, William. Como as empresas podem enfrentar o desafio japonês. São Paulo: Ed. Fun-<br />

do de Educação Brasileira, 1982.<br />

REIS, Ana Maria Viegas et al. Desenvolvimento de equipes. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2005.<br />

RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redu-<br />

ção da força global de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995.<br />

ROBBINS, Stephen P.; DECENZO, David A. Fundamentos de Administração: conceitos es-<br />

senciais e aplicações. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.<br />

121


EaD Marivane da Silva<br />

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice<br />

Hall, 2005.<br />

SCHERMERHORN, Jr.; HUNT, James G.; OSBORN, Richard N. Fundamentos de compor-<br />

tamento organizacional. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 1999.<br />

SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo<br />

capitalismo. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.<br />

SENNETT, Richard. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006.<br />

SILVA, Reinaldo O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,<br />

2002.<br />

SILVA, Waldir R. da; RODRIGUES, Cláudia M. C. Motivação nas organizações. São Paulo:<br />

Atlas, 2007.<br />

SOUZA, César. Os novos paradigmas de um mundo em transformação. In: BOOG, Gustavo;<br />

BOOG, Magdalena (Coord.). Manual de gestão de pessoas e equipes: estratégias e tendênci-<br />

as. São Paulo: Editora Gente, 2002. Vol. I.<br />

VERGARA, S. C.; BRANCO, P. D. Empresa humanizada: a organização necessária e possí-<br />

vel. In: Gestão Empresarial: o fator humano. São Paulo: Atlas, 2002.<br />

VOLPI, Vito. Trabalho, subjetividade e participação na sociedade pós-industrial. In: LANER,<br />

Aline dos Santos; CRUZ JÚNIOR, João Benjamim da (Orgs.). Repensando as organizações:<br />

da formação à participação. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.<br />

WAHRLICH, Beatriz Marques de Souza. Uma análise das teorias de organização. 3. ed. Rio<br />

de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1971.<br />

122

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!