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Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas

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Sales Augusto dos Santos<br />

infelizmente não é a cota, é acesso à educação básica” (Correio Braziliense, 8 de<br />

setembro de 2001). Apesar de o ex-ministro Paulo Renato de Souza reconhecer<br />

que historicamente os negros são discriminados no Brasil, para ele não há<br />

necessidade de implementação de cotas para os negros terem acesso preferencial<br />

<strong>ao</strong> ensino superior. Conforme o ex-ministro,<br />

As propostas para uma política de ação afirmativa que reduza a extrema<br />

desigualdade racial em nosso país vêm <strong>ao</strong> encontro de uma justa aspiração<br />

não só de afro-descendentes, mas de todo brasileiro com consciência social e<br />

moral. A maior mortalidade infantil e materna, as altas taxas de desemprego,<br />

as diferenças salariais injustas, a pobreza e a fome, o tratamento desigual frente<br />

a justiça e a polícia, a falta de acesso <strong>ao</strong>s postos de maior responsabilidade<br />

no mercado de trabalho são cargas pesadas que os brasileiros descendentes<br />

de escravos carregam até hoje. (...) Oxalá nossa sociedade não precise, como<br />

outras, chegar à instituição de cotas raciais na universidade. Temos metas de<br />

inclusão e as estamos cumprindo rapidamente. Pelo que tenho acompanhado,<br />

acredito na capacidade de desempenho do estudante brasileiro de qualquer<br />

origem social ou racial, quando estimulado e apoiado. Se isso não for<br />

suficiente, serei o primeiro a defender as cotas. Entretanto, desde que tenham<br />

condições para isso, não há por que imaginar que os estudantes pobres, negros<br />

ou pardos não entrem na universidade por seus próprios méritos (Folha de<br />

S. Paulo, 30 de agosto de 2001).<br />

No poder judiciário também houve divergência sobre a implementação de cotas<br />

para negros terem acesso <strong>ao</strong>s espaços de poder e prestígio, especialmente no acesso<br />

<strong>ao</strong> emprego. De um lado, o então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ),<br />

ministro Paulo Costa Leite, alegou que o sistema implementado pelo Ministério<br />

do Desenvolvimento Agrário era inconstitucional. Segundo Costa Leite, “é uma<br />

medida absurda. Não há nenhuma norma na Constituição ou na lei prevendo essa<br />

cota de 20% na realização de um concurso público, por exemplo. É possível recorrer<br />

contra isso” (Costa Leite, O Globo, 7 de setembro de 2001, p.5). Por outro lado, o<br />

ex-ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta corte do país,<br />

não só afirmava a constitucionalidade deste tipo de ação afirmativa, como, depois,<br />

implementou o sistema de cotas para negros ingressarem no STF (Correio Braziliense,<br />

7 de dezembro de 2001). Segundo o ministro Marco Aurélio de Mello,<br />

Falta-nos, (...) para afastarmos do cenário as discriminações, uma mudança<br />

cultural, uma conscientização maior dos brasileiros; urge a compreensão de<br />

que não se pode falar em Constituição sem levar em conta a igualdade, sem<br />

assumir o dever cívico de buscar o tratamento igualitário, de modo a saldar<br />

dívidas históricas para com as impropriamente chamadas minorias, ônus que<br />

é de toda a sociedade. (...) É preciso buscar a ação afirmativa. A neutralidade<br />

estatal mostrou-se um fracasso. Há de se fomentar o acesso à educação; urge um<br />

programa voltado <strong>ao</strong>s menos favorecidos, a abranger horário integral, de modo

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