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AnÁLisE<br />
PETRÓLEO<br />
QUEDA E RECUPERAÇÃO<br />
DO PREÇO DO PETRÓLEO<br />
Em apenas dois anos o preço do petróleo atingiu os<br />
píncaros, mergulhou numa profunda queda e encetou uma<br />
surpreendente recuperação. E, apesar de se ter superado<br />
novamente a fasquia dos 80 dólares por barril, os riscos ainda<br />
não se dissiparam em definitivo<br />
Texto: José Massinga<br />
Fotografi a: GCI<br />
Há dois anos, corria o mês de Julho,<br />
e o preço do petróleo atingia<br />
o valor mais elevado de sempre.<br />
No primeiro semestre de 2008, as<br />
cotações da matéria-prima energética<br />
atingiram máximos históricos sucessivos,<br />
atingindo um pico a 11 de Julho,<br />
com o WTI (West Texas Intermediate,<br />
negociado em Nova Iorque) nos 147,27<br />
dólares por barril e o Brent do Mar do<br />
Norte – “benchmark” para a Europa –<br />
nos 147,50 dólares por barril.<br />
O mundo andava eufórico, o sistema<br />
económico global parecia funcionar,<br />
exigindo cada vez mais energia para<br />
alimentar um consumo crescente.<br />
De súbito, com a irrupção da crise do<br />
designado “subprime” norte-americano<br />
(que corresponde, em linguagem<br />
comum, a crédito hipotecário hipervalorizado),<br />
percebeu-se que, afi nal de<br />
contas, as bases em que assentava a<br />
economia mundial eram ilusórias e que<br />
o nível de endividamento atingido pela<br />
esmagadora maioria dos países industrializados,<br />
considerados como “mais<br />
desenvolvidos”, insustentável. O “choque<br />
petrolífero”, consubstanciado na<br />
elevação dos preços, nada teve a ver<br />
com o desmoronamento da economia<br />
internacional, mas houve quem<br />
não se coibisse de apontar um dedo<br />
ao “oportunismo” do “cartel” de paí-<br />
12 • Junho 2010 - Nº21<br />
ses produtores agregado em torno da<br />
Organização dos Países Exportadores<br />
de Petróleo - OPEP. Nada mais falso.<br />
Até porque, diga-se de passagem, o<br />
hábito, que se instalou na comunicação<br />
social, de designar a OPEP (ou<br />
OPEC na versão original) de “cartel”<br />
dá jeito mas faz muito pouca justiça<br />
ao que esteve na origem da sua fundação:<br />
precisamente a necessidade<br />
de contrapor os interesses dos países<br />
produtores de petróleo à lógica<br />
do Cartel que reunia um punhado de<br />
empresas petrolíferas (baptizadas pelo<br />
director da italiana ENI, Enrico Mattei,<br />
como “sete irmãs”, expressão que serviu<br />
de título ao célebre livro de Anthony<br />
Sampson sobre o mundo do petróleo)<br />
que dominavam o mercado mundial.<br />
É mais correcto comparar a OPEP a<br />
um sindicato que a um cartel, como<br />
assinala Peter R. Odell no seu clássico<br />
“O Petróleo e o Poder Mundial”.<br />
Na verdade, não há qualquer semelhança<br />
entre o choque petrolífero do<br />
início dos anos setenta e a crise que<br />
vivemos desde 2008, a qual pouco teve<br />
a ver com a alta dos preços energéticos,<br />
buscando antes as suas causas no<br />
desequilíbrio prevalecente no sistema<br />
fi nanceiro, que se afastou demasiadamente<br />
da economia real, fenómeno<br />
traduzido na sobrevalorização gene-<br />
ralizada de activos. Ao contrário, em<br />
1970-1971, a economia mundial estremecera,<br />
de facto, face ao aumento do<br />
preço do petróleo, fenómeno que derivou<br />
de factores complexos, entre os<br />
quais preponderou a transferência do<br />
poder sobre o mercado dos compradores<br />
para os vendedores. Os países<br />
produtores reagiram vigorosamente<br />
à tentativa de impor preços baixos e a<br />
emergência de novos regimes, como o<br />
líbio, reforçou essa reacção que, curiosamente,<br />
ou mesmo ironicamente,<br />
coincidiu com os interesses norte-americanos,<br />
tornando viável o preço bruto<br />
marginal do petróleo do mar do Norte<br />
ou do Alasca.<br />
Muito mudou nas quatro últimas décadas<br />
no que refere à principal indústria<br />
mundial, a indústria petrolífera. À era<br />
absolutamente americana, marcada<br />
pelo monopólio da Standart Oil Company<br />
de John D. Rockefeller (1859-1909),<br />
sucedeu-se a fase em que pontifi caram<br />
as grandes companhias que, nos<br />
Estados Unidos, resultaram da fragmentação<br />
da Standart Oil ditada pela<br />
legislação anti-trust (a Standart Oil de<br />
New Jersey mais conhecida como Esso,<br />
a Standart de Nova Iorque, Socony que,<br />
mais tarde, se tornou a Mobiloil e se<br />
veio a fundir com a Exxon, dando origem<br />
à ExxonMobil, a da Califórnia, ›››