Apostila 2 o passo História de Quem Conta - Portal SME
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José Bento Monteiro Lobato estreou<br />
no mundo das letras com pequenos contos<br />
para os jornais estudantis dos colégios<br />
Kennedy e Paulista, que frequentou em<br />
Taubaté, cida<strong>de</strong> do Vale do Paraíba on<strong>de</strong><br />
nasceu, em 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1882.<br />
No curso <strong>de</strong> Direito da Faculda<strong>de</strong> do<br />
Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se<br />
entre suas principais paixões: escrever e<br />
<strong>de</strong>senhar. Colaborou em publicações dos<br />
alunos, vencendo um concurso literário promovido em<br />
1904 pelo Centro Acadêmico XI <strong>de</strong> Agosto. Morou na<br />
república estudantil do Minarete, li<strong>de</strong>rou o grupo <strong>de</strong><br />
colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um<br />
jornalzinho <strong>de</strong> Pindamonhangaba, que tinha como título o<br />
mesmo nome daquela moradia <strong>de</strong> estudantes. Nessa fase<br />
<strong>de</strong> sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e<br />
entrou em contato com a obra do filósofo<br />
alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria<br />
vida afora.<br />
Diploma nas mãos, Lobato voltou a<br />
Taubaté. E <strong>de</strong> lá prosseguiu enviando artigos<br />
para um jornal <strong>de</strong> Caçapava, O Combatente.<br />
Nomeado promotor público, mudou-se para<br />
Areias, casou-se com Purezinha e começou a<br />
traduzir artigos do Weekly Times para O Estado<br />
<strong>de</strong> S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a<br />
revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal<br />
Gazeta <strong>de</strong> Notícias, também do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
assim como na Tribuna <strong>de</strong> Santos.<br />
A morte súbita do avô <strong>de</strong>terminou uma<br />
reviravolta na vida <strong>de</strong> Monteiro Lobato, que herdou a<br />
Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a<br />
família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com<br />
as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele<br />
tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em<br />
projetos agrícolas audaciosos.<br />
Mas não se afastou da literatura. Observando com<br />
interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O<br />
Estado <strong>de</strong> S. Paulo, <strong>de</strong>nunciando as queimadas no Vale do<br />
Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve gran<strong>de</strong><br />
repercussão quando saiu, em novembro <strong>de</strong> 1914.<br />
Um mês <strong>de</strong>pois, redigiu Urupês, no mesmo jornal,<br />
criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo.<br />
Preguiçoso e a<strong>de</strong>pto da "lei do menor esforço",<br />
Jeca era completamente diferente dos caipiras e<br />
indígenas i<strong>de</strong>alizados pelos romancistas como,<br />
por exemplo, José <strong>de</strong> Alencar. Esses dois artigos<br />
seriam reproduzidos em diversos jornais,<br />
gerando polêmica <strong>de</strong> norte a sul do país. Não<br />
<strong>de</strong>morou muito e Lobato, cansado da monotonia<br />
do campo, acabou ven<strong>de</strong>ndo a fazenda e<br />
instalando-se na capital paulista.<br />
Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato<br />
virou <strong>de</strong>finitivamente um escritor-jornalista. Colaborou,<br />
nesse período, em publicações como Vida Mo<strong>de</strong>rna, O<br />
Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Lobato<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
O Estado <strong>de</strong> S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista<br />
da Revista do Brasil, lançada em janeiro <strong>de</strong><br />
1916, que o empolgou. Não teve dúvida:<br />
comprou-a em junho <strong>de</strong> 1918 com o que<br />
recebera pela Buquira. E <strong>de</strong>u vez e voz para<br />
novos talentos, que apareciam em suas páginas<br />
ao lado <strong>de</strong> gente famosa.<br />
A revista prosperou e ele formou uma<br />
empresa editorial que continuou aberta aos<br />
novatos. Lançou, inclusive, obras <strong>de</strong> artistas<br />
mo<strong>de</strong>rnistas, como O homem e a morte, <strong>de</strong> Menotti <strong>de</strong>l<br />
Picchia, e Os Con<strong>de</strong>nados, <strong>de</strong> Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Os dois<br />
com capa <strong>de</strong> Anita Malfatti, que seria pivô <strong>de</strong> uma séria<br />
polêmica entre Lobato e o grupo da Semana <strong>de</strong> 22: Lobato<br />
criticou a exposição da pintora no artigo “Paranoia ou<br />
mistificação?”, <strong>de</strong> 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser<br />
posto <strong>de</strong>baixo do nariz do freguês", dizia Lobato, que, para<br />
provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como<br />
um produto <strong>de</strong> consumo como outro qualquer,<br />
cuidando <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> gráfica e adotando<br />
capas coloridas e atraentes. O empreendimento<br />
cresceu e foi seguidamente reestruturado para<br />
acompanhar a velocida<strong>de</strong> dos negócios,<br />
impulsionada ainda mais por uma agressiva<br />
política <strong>de</strong> distribuição que contava com<br />
ven<strong>de</strong>dores autônomos e com vasta re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
distribuidores espalhados pelo país. Novida<strong>de</strong> e<br />
tanto para a época, e que resultou em altas<br />
tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da<br />
Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para<br />
<strong>de</strong>dicar-se à editora em tempo integral. E, para po<strong>de</strong>r<br />
aten<strong>de</strong>r às crescentes <strong>de</strong>mandas, importou mais máquinas<br />
dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar<br />
seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros,<br />
Lobato não conseguia parar.<br />
Escreveu, nesse período, sua primeira história<br />
infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e<br />
<strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Voltolino, famoso ilustrador da época, o<br />
livrinho, lançado no Natal <strong>de</strong> 1920, fez o maior sucesso.<br />
Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como<br />
personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia<br />
Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do<br />
planeta. Insatisfeito com as traduções <strong>de</strong> livros<br />
europeus para crianças, ele criou aventuras com<br />
figuras bem brasileiras, recuperando costumes da<br />
roça e lendas do folclore nacional. E fez mais:<br />
misturou todos eles com elementos da literatura<br />
universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do<br />
cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan<br />
brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina<br />
truques a Chapeuzinho Vermelho no país das<br />
maravilhas <strong>de</strong> Alice. Mas Monteiro Lobato também<br />
fez questão <strong>de</strong> transmitir conhecimento e i<strong>de</strong>ias em<br />
livros que falam <strong>de</strong> história, geografia e matemática,<br />
tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela<br />
em que se apren<strong>de</strong> brincando.<br />
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