Apostila 2 o passo História de Quem Conta - Portal SME
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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
nosso cotidiano é nosso gran<strong>de</strong> tema, nosso maior assunto. A mobilida<strong>de</strong> e a flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento nos<br />
amarram e nos aproximam. Nossos hábitos não são europeus. Não estamos ocupados ou preocupados em<br />
racionalizar os mistérios do mundo dos homens.<br />
Acreditamos não precisar <strong>de</strong> um enredo norteador, mas <strong>de</strong> relatar a existência por meio <strong>de</strong><br />
explicações apenas apaziguadoras. Nosso real é, muitas vezes, mais fantástico que a fantasia. O milagre, para<br />
nós, é um acontecimento quase natural.<br />
O diálogo entre o velho mundo e a América Latina me parece semelhante ao diálogo estabelecido<br />
pelo adulto ao se propor escrever para as crianças. Ou convidamos o leitor a viajar pela fantasia ou somos<br />
também colonizadores, querendo convencê-lo, e não encantá-lo.<br />
Um mundo antigo só po<strong>de</strong> estar do lado <strong>de</strong> um mundo jovem na medida em que dialogamos por meio<br />
dos elementos que configuram o processo criador – neste caso a literatura. O mundo adulto só é possível<br />
para os jovens quando po<strong>de</strong> ser alterado, transformado,<br />
transferido para situação <strong>de</strong> seu interesse.<br />
O adulto está esgotado – como o velho mundo – mas vejo<br />
a infância aberta e sem preconceitos. O mais jovem possui a<br />
vivacida<strong>de</strong>, a força transformadora como elemento mobilizador<br />
da vida.<br />
Mas nós precisamos do velho mundo, não para<br />
chegarmos lá on<strong>de</strong> ele está. O jovem precisa do mais velho em<br />
muitas vertentes, não para simplesmente repeti-lo, mas para<br />
ultrapassá-lo, para romper. Só assim o<br />
passado é útil.<br />
Nós, da América Latina e do terceiro mundo em geral,<br />
precisamos cuidar para que não reeditemos simplesmente o<br />
primeiro mundo. O poeta brasileiro Abgar Renault pronunciou<br />
um discurso em que dizia que para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje “um país<br />
<strong>de</strong>senvolvido é aquele capaz <strong>de</strong> matar mais e melhor”.<br />
Mas toda a obra <strong>de</strong> arte, neste caso a literatura, é<br />
contemporânea, atual, universal. Na medida em que a arte<br />
trabalha com os sentimentos que fundam o homem – a busca, a perda, o <strong>de</strong>sencanto, o medo, a esperança, o<br />
luto, o ciúme, a paixão, a fraternida<strong>de</strong> - ela é uma linguagem comum a todos os homens, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />
lugar on<strong>de</strong> vivemos e da posição <strong>de</strong>ste lugar numa classificação econômico-financeira. A arte é movida pela<br />
força <strong>de</strong> Eros, força que nos amarra, nos aproxima, nos enlaça, nos torna iguais. Não há distância entre os<br />
criadores, não há distâncias entre as literaturas.<br />
O intercâmbio entre literaturas <strong>de</strong> diferentes povos atualiza as relações entre os homens e confirma<br />
que o essencial é inerente ao homem, ainda que as formas <strong>de</strong> expressão difiram segundo suas origens. Nesse<br />
sentido, a arte aproxima os povos.<br />
Por tudo isso, vejo nas ativida<strong>de</strong>s e objetivos que norteiam o IBBY (International Board on Books for<br />
Youth) um trabalho utilíssimo e até urgente <strong>de</strong> aproximar, o mais cedo possível, as crianças da leitura. Isto<br />
nos leva a crer que po<strong>de</strong>mos almejar, para um futuro próximo, um mundo cheio <strong>de</strong> paz, <strong>de</strong>mocracia e<br />
fraternida<strong>de</strong>.<br />
Sugestão <strong>de</strong> leitura:<br />
YUNES, ELIANE (org.). Pensar a Leitura: Complexida<strong>de</strong>. Ed. PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2002.<br />
PAZ, OTÁVIO. O arco e a lira. Tradução <strong>de</strong> Olga Savary. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1982.<br />
CANETTI, ELIAS. A consciência das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.<br />
RAMOS, MARIA LUIZA. Interfaces. Belo horizonte: Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ed. Nova Fronteira, 1990.<br />
SANT’ANNA, AFFONSO ROMANO DE. A sedução da palavra. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Letraviva, 2000.<br />
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