Alvaro Daudt Eyler - Revista Apólice
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tudo aquilo que lhe é turbado enriquecendo o ciclo da<br />
economia. Ocorre que o sujeito, hoje, se sente seguro<br />
para ter mais filhos, mas não faz seguro de vida para<br />
proteger esta família maior. O sujeito compra TV<br />
de LED e “Home Theater”, mas diz que não sobrou<br />
nada para fazer o seguro residencial, e a fulana gasta<br />
até seu último centavo para comprar um carro zero<br />
quilômetro em 60 parcelas, enche ele de acessórios<br />
como DVD e GPS com dez cheques pré-datados, e se<br />
dá conta de que não consegue pagar o seguro.<br />
A curva vermelha do gráfico acima, mostra nossa<br />
situação atual, onde uma camada da população que<br />
está sendo agraciada com estes bens de consumo sobe<br />
mais rápido na linha patrimonial do que na esfera<br />
cultural, perigosamente chegando mais rápido na<br />
condição de comprar seus bens do que na experiência<br />
e cultura necessárias para gozar deles e de avaliar<br />
os riscos e efeitos desta posse. Assumindo que os<br />
sinistros irão inegavelmente ocorrer com esta parcela<br />
desprotegida, os resultados disso são inevitavelmente,<br />
a médio e longo prazo, uma sociedade endividada,<br />
com nome “sujo” e sem condições de prosperar por<br />
falta de crédito. A mesma falta de crédito que fez<br />
nascer o monstro da crise de 2008, e que ainda resiste<br />
vivo e forte na Europa e EUA.<br />
No gráfico, o quadro ressaltado em preto, mostra<br />
exatamente os consumidores com os quais o mercado<br />
atual de seguros se depara e para os quais temos que<br />
“reaprender a vender”.<br />
Os tres dilemas para vender seguros<br />
neste cenário:<br />
1. conhecer a cadeia de valor:<br />
Este público que não compreende o discurso<br />
tradicional de vendas, baseado em VALOR, pois,<br />
segundo a equação V=P/E, VALOR é uma função<br />
relativa entre a EXPECTATIVA de uma pessoa e<br />
a PERCEPÇÃO dela sobre a experiência do que se<br />
compra (seja bem ou serviço). Quanto maior a expectativa,<br />
mais difícil é perceber-se satisfeito, e por<br />
consequência, ver VALOR. Assim, para se verificar<br />
VALOR, há que se ter expectativa, o que hoje não<br />
há, pois tudo é novo para aquela pessoa. E se algo é<br />
novo, não sei o que esperar disso. VALOR é função<br />
direta de expectativa. Expectativa é função direta de<br />
experiência. Onde não há experiência, expectativa, o<br />
VALOR desaparece.<br />
2. Gerenciar a expectativa:<br />
Como a experiência interfere na expectativa,<br />
temos um consumidor que, ao adquirir um produto<br />
como seguro, não sabe o que esperar dele. Desta forma,<br />
é muito comum a falha na gestão da expectativa,<br />
como por exemplo no caso do segurado que acha que<br />
o corretor de seguros deve ir ao “Poupatempo” providenciar<br />
a segunda via dos seus documentos perdidos,<br />
pois “pagou por isso”, ou daquele que exige que a seguradora<br />
“dê perda total” em seu carro, simplesmente<br />
porque acha que os reparos não irão ficar bons e não<br />
quer ficar com um carro quase zero batido.<br />
Outra questão vinculada á expectativa é a do<br />
segurado que se esquece de que o seguro não vale<br />
apenas para quem sofre um sinistro, mas pela proteção<br />
que dá, todos os dias. Entre as missões do<br />
nosso mercado, está portanto a de disseminar uma<br />
cultura de seguros, e gerenciar esta expectativa deixando<br />
cada vez mais claro quais são os benefícios,<br />
direitos e deveres das pessoas quando se trata da<br />
instituição seguro.<br />
3. Gerenciar a experiência:<br />
Como já dissemos, aonde não há experiência, a<br />
expectativa é falha. Assim, é nossa missão cada vez<br />
mais compreender as experiências de vida desta nova<br />
parcela consumidora. Suas paixões, medos, costumes,<br />
valores, anseios, e tudo o mais que se possa observar<br />
num novo processo de gestão de relacionamento, que<br />
costumo chamar de “CRM 3.0”, ou, uma nova versão<br />
do marketing de relacionamento, com menos discurso<br />
e mais ação.<br />
Além disso, há que se adequar o discurso, para<br />
se tornar mais palatável ao novo consumidor. À<br />
parte de qualquer viés político, sabemos que uma<br />
das grandes competências do ex-presidente Lula era<br />
seu enorme poder de retórica, em um discurso que<br />
atingia todas as parcelas da população, indistintamente,<br />
sem complexidades nem condescendências.<br />
Uma de suas ferramentas mais importantes era o<br />
frequente uso de metáforas, que lhe permitiam<br />
explicar de forma cristalina, o “déficit fiscal”,<br />
comparando-o com a conta do armazém da dona<br />
de casa, ou a complexa política partidária, como<br />
se fora um jogo de futebol.<br />
A capacidade de negociar valor com o novo consumidor<br />
ascendente brasileiro, que teve acesso aos<br />
bens de consumo mais rapidamente que à informação,<br />
e ao conhecimento, será diretamente proporcional<br />
à nossa habilidade de comparar, metaforicamente,<br />
o complexo setor de seguros com coisas simples e<br />
corriqueiras como uma panela de pressão para uma<br />
dona de casa de meia idade. Pois não há dona de casa<br />
que não saiba dos efeitos de uma panela de pressão<br />
estourada em sua cozinha.<br />
* Richard Hessler Furck é corretor de seguros, palestrante e consultor de empresas, e atua como<br />
professor de Pós-Graduação nos cursos de Negociação Estratégica e Venda Consultiva.<br />
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