You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
ternura; a primavera tinha-lhe dado bons conselhos, e tencionava encher o amante<br />
<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Sentia vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar, mas as lágrimas não se viam e<br />
avermelhavam as pálpebras sem necessida<strong>de</strong>. Fechou as portas com violência.<br />
— Não vem? Pois o pior é para ele, quer venha, quer não; já não estou<br />
disposta a esperar mais!<br />
Entra para o quarto, <strong>de</strong>sfaz os caracóis, <strong>de</strong>saperta o colete, põe o livro sobre<br />
a mesa da cabeceira ao lado do castiçal, <strong>de</strong>ixa cair as saias, <strong>de</strong>sabotoa as botinas,<br />
tira as meias, e, mudando a camisa, mete-se no meio dos lençóis daquele leito frio e<br />
<strong>de</strong>serto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter estufado o travesseiro, furiosamente, aos murros. Apenas,<br />
porém, se <strong>de</strong>ita, ouve o barulho <strong>de</strong> uma chave a entrar na fechadura, abrir-se uma<br />
porta e <strong>de</strong>pois outra... É ele! Julieta, que finge dormir, voltada para a pare<strong>de</strong>, dia,<br />
então, consigo, sorrindo:<br />
— É assim mesmo; o melhor meio <strong>de</strong> fazer chegar um conviva retardatário é,<br />
mesmo, pôr o jantar na mesa!<br />
CAPÍTULO CXXXV<br />
Incredulida<strong>de</strong><br />
O <strong>de</strong>putado Belarmino Gue<strong>de</strong>s e o capitão-tenente Correa Jorge haviam<br />
<strong>de</strong>scido <strong>de</strong> um bon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Botafogo na Galeria Cruzeiro, quando o primeiro apontou<br />
um vulto feminino que caminhava diante <strong>de</strong>les, o passinho apressado.<br />
— Bonita pequena! — disse.<br />
O outro concordou:<br />
— É muito linda. É mesmo, uma das mulheres mais bonitas do Rio.<br />
Enquanto os dois conversavam, a figurinha fugia, na frente, ganhando<br />
distância, como se compreen<strong>de</strong>sse os comentários que <strong>de</strong>spertava. Era um tipo<br />
miúdo <strong>de</strong> brasileirinha elegante. Cabelo cortado, boquita vermelha, pele <strong>de</strong> seda<br />
naturalmente colorida, vestia a moça, nessa tar<strong>de</strong>, um costume <strong>de</strong> inverno azulmarinho,<br />
bordado <strong>de</strong> vermelho e ver<strong>de</strong> na bainha da saia e da jaqueta frouxa. O<br />
chapéu azul, com flores <strong>de</strong> cor dos enfeites do vestido, parecia, na sua cabecita<br />
graciosa, mais um brinquedo <strong>de</strong> criança do que uma coquetaria <strong>de</strong> mulher. E<br />
quando caminhava, ligeira, ágil, fugitiva, era como se fizesse malabarismos para<br />
sustentar sobre a cabeça gentil aquela pequenina pétala <strong>de</strong> rosa encantada.<br />
— É realmente, muito linda, — tornou Belarmino Gue<strong>de</strong>s.<br />
— E o marido é um belo homem.<br />
— Que marido, nada! — protestou o primeiro, voltando-se. — Ela não é<br />
casada; é solteira, ainda.<br />
— Ora, <strong>de</strong>ixa-te disso! — objetou Correa Jorge. — Eu a conheço muito. ''E<br />
mulher do Batista carvalho, que advoga com o Paulo Simpson!<br />
110