Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— E que é que tinha a rapariga? — indagou alguém da roda.<br />
E o dr. Estelita, em segredo:<br />
www.nead.unama.br<br />
— O Raul havia brincado tanto com a "caixa" <strong>de</strong> leite da rapariga, sacudindoa,<br />
que este se havia solidificado <strong>de</strong>ntro, transformado em manteiga!...<br />
CAPÍTULO CII<br />
O Ven<strong>de</strong>dor<br />
(Adaptado <strong>de</strong> Max Viterbo)<br />
O almirante Bonifácio Marinho examinava cuidadosamente uns mapas, cujo<br />
estudo lhe fora confiado pelo Estado Maior, quando lhe surgiu à porta do seu<br />
gabinete, do lado que dá para o jardim, aquele indivíduo vestido sem apuro,<br />
fisionomia <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u, afivelando ao rosto o mais artificial dos sorrisos.<br />
— Pon tia, zenhor! — saudou o recém-chegado.<br />
Interrompido no interior da sua casa por aquele intruso, que nem sequer<br />
pedira licença ou se fizera anunciar, o velho oficial sentiu-se, <strong>de</strong> repente, irritado. E<br />
ia explodir, num daqueles movimentos <strong>de</strong> cólera que o haviam notabilizado a bordo<br />
dos navios que comandava, quando o importuno ofereceu:<br />
— Zenhor! Não guer gomprar festidos bara zenhorra? Fen<strong>de</strong> parata, vreguez!<br />
— Não, senhor, — respon<strong>de</strong>u, ríspido, o velho marujo. — E vá embora!<br />
— Fen<strong>de</strong> a brazo, vreguez!<br />
— Não quero; e ponha-se ao fresco!<br />
— E machina votografica, vreguez? Dem todas margas; gompra uma.<br />
— Vá embora, senhor! Não me faça per<strong>de</strong>r a paciência!<br />
— Dem dambém berfumaria, zenhor. E dém äbat-xur", <strong>de</strong>m zabato, dém<br />
rouba veida; dém xabéo, dém crafata todas gores...<br />
— Homem <strong>de</strong> Deus, ponha-se fora daqui! — trovejou o almirante, vermelho<br />
<strong>de</strong> raiva.<br />
— E guarda-juva, zenhor? Dém golesão enorme guarda juva. Gompra uma,<br />
vreguez!<br />
As mãos trêmulas <strong>de</strong> raiva, o almirante Bonifácio crispou os punhos, e<br />
avançou para o ven<strong>de</strong>dor ambulante:<br />
— Ponha-se em um minuto fora daqui! Já! Se em dois minutos não estiver no<br />
portão, em chamo os meus cães!<br />
— Menos izo, vreguez! — suplica, ainda uma vez, o ju<strong>de</strong>u.<br />
E mãos estendidas:<br />
— Eu dambem fen<strong>de</strong> abito bara jamar gajorra... Gompra um, vregues!<br />
82