15.04.2013 Views

Grãos de Mostarda - Unama

Grãos de Mostarda - Unama

Grãos de Mostarda - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CAPÍTULO CXXXIX<br />

O Natal do Ladrão<br />

(Pierre Veber)<br />

www.nead.unama.br<br />

As crianças que uma insônia precoce tivesse conservado acordadas nessa<br />

meia-noite <strong>de</strong> Natal, teriam tido uma singular concepção <strong>de</strong> Noel, se houvessem<br />

levantado os olhos para o teto do prédio nº 55 da rua Marboeuf. Efetivamente, sobre<br />

o telhado da casa, errava, a essa hora, um indivíduo sem o tradicional burel <strong>de</strong> linha<br />

branco nem cesto <strong>de</strong> brinquedos às costas, mas, apenas, com o traje habitual dos<br />

"apaches" e um pacote <strong>de</strong> ferramentas na mão.<br />

— Bolas! — exclamava este, entre os <strong>de</strong>ntes. — Querem ver que hoje<br />

ninguém sai <strong>de</strong> casa e eu tenho <strong>de</strong> passar a noite sem comer!<br />

A essa hora, exatamente, no prédio 55, uma pobre criatura suspirava e<br />

gemia, na tristeza do seu <strong>de</strong>stino. Era uma dama <strong>de</strong> uns cinqüenta anos, famosa na<br />

vida galante do seu tempo, mas a quem o <strong>de</strong>clínio do corpo havia afastado da<br />

ativida<strong>de</strong> mundana.<br />

— Bons tempos! — meditava a mísera. — Há vinte anos, que Natais, os<br />

meus! Eram o Rogério, o Gustavo, o Emílio... E o Dorty, pai... E o Dorty, filho...<br />

Quanta champagne! Quanta loucura! Quanta alegria!... E hoje...<br />

Soltou um suspiro, estremeceu toda, e:<br />

— Será possível que Pai Noel se não lembre <strong>de</strong> mim?<br />

Nesse momento, porém, um ruído surdo e contínuo se propaga pela chaminé,<br />

e vem aumentando, até concluir com um baque forte, em baixo, no fogão.<br />

Assustada, a velha dama pula da cama, olha para a chaminé, e o seu rosto se<br />

ilumina todo, num sorriso. É que vê lá <strong>de</strong>ntro, <strong>de</strong> envolta com a cinza, uma figura <strong>de</strong><br />

homem vestido <strong>de</strong> "apache", todo sujo <strong>de</strong> fuligem, mais forte, robusto, musculoso.<br />

— Vem! Vem, meu amor!... — exclama, puxando-o pela blusa. — Anda, vem<br />

te lavar... Vem cear comigo!...<br />

Pai Noel, fazendo estalar, no telhado, o cimento da chaminé, quando o<br />

salteador nele se apoiava meditativo, não se havia, como se vê, esquecido dos<br />

dois...<br />

CAPÍTULO CXL<br />

"Tendresse"<br />

Datava <strong>de</strong> um ano, mais ou menos, a perseguição <strong>de</strong> que era vítima aquela<br />

encantadora senhora morena, esposa, na acepção legal do vocábulo, do ilustre<br />

advogado Severino Peixoto <strong>de</strong> Magalhães. O perseguidor, o capitão-tenente Barros<br />

da Gama, não a <strong>de</strong>ixava um só instante. A moça mostrava-se, porém, irredutível —<br />

113

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!