15.04.2013 Views

Grãos de Mostarda - Unama

Grãos de Mostarda - Unama

Grãos de Mostarda - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

contrário, porém, do que faziam as outras meninas, esta não ia, jamais, queixar-se à<br />

polícia.<br />

O seu consolo era reclamar:<br />

— Quando eu for gran<strong>de</strong>, e tiver uma filha, hei <strong>de</strong> dar-lhe, também, uma<br />

porção <strong>de</strong> beliscões!<br />

O tempo ia, porém, passando, e nada da menina ficar moça, para casar-se,<br />

ter uma filha, e dar, nesta, os beliscões que a mãe lhe dava.<br />

Um dia, enfim, a menina sentiu-se mulher. Com a resolução <strong>de</strong> cumprir a<br />

promessa feita durante tantos anos, a moça <strong>de</strong> agora casou-se, por uma semana ou<br />

duas, com o açougueiro do canto.<br />

Ao fim <strong>de</strong> nove meses nasceu-lhe um filho homem.<br />

Desapontada, e disposta a cumprir sua palavra, a rapariga casou-se com o<br />

leiteiro, <strong>de</strong>pois com o caixeiro, e ainda com um "chauffeur" e, finalmente, com um<br />

empregado do café. E cada um <strong>de</strong>sses lhe <strong>de</strong>u um filho varão.<br />

— Quem sabe se não é porque eu sempre me tenho, casado com homens,<br />

que os filhos nascem homens? — pensou.<br />

E experimentou casar-se com a telefonista.<br />

Desta vez, porém, não lhe nasceu nada.<br />

Há, mesmo, neste mundo, muita gente sem sorte...<br />

CAPÍTULO LXVI<br />

Os Três "Alívios"<br />

Aquele dia, era <strong>de</strong> lição <strong>de</strong> piano. Manhã cedo, ao levantar-se, mlle. Alzirinha<br />

tomou o seu banho, penteou o seu cabelo cor <strong>de</strong> mel, que não cortara segundo a<br />

moda, e às oito horas estava já na sala, pedalando com maestria, enquanto a mão<br />

corria, ligeira, pela <strong>de</strong>ntadura alvi-negra do seu "Pleyel" cor <strong>de</strong> castanha.<br />

Com seus <strong>de</strong>zoito anos sadios, Alzirinha Batista era uma linda mulher em<br />

formação. Morena, olhos negros, seios turgidos, orelhas pequeninas e vermelhas<br />

como duas pétalas <strong>de</strong> uma rosa <strong>de</strong>sfolhada pelo vento, possuía uma linda boca<br />

miúda, e uns <strong>de</strong>ntinhos <strong>de</strong> rato feitos, parece, <strong>de</strong> propósito para aquela boca.<br />

Naquele dia amanhecera, entretanto, um pouco indisposta. O jantar da<br />

véspera, na casa dos Peixoto Rocha, não lhe fizera bem; tanto que, ao chegar em<br />

casa, a mãe lhe <strong>de</strong>ra a tomar uma dose <strong>de</strong> bicarbonato, que a moça ingeriu, entre<br />

caretas. E era assim que ali estava, ao piano, sozinha na sala, à espera da<br />

professora. A mão corria-lhe, rápida, da esquerda para a direita do teclado com uma<br />

proficiência <strong>de</strong> mestre. E o piano gargarejava, multiplicando as notas, quando, a<br />

certa altura, a moça parou, levantou-se ligeiramente no banco <strong>de</strong> rodízio, fez uma<br />

cara <strong>de</strong> esforço e <strong>de</strong> sofrimento, e, soltando um gemido, exclamou:<br />

— Arre! Que alívio!...<br />

51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!