O Eu e o Outro na Escola - Ministério do Esporte
O Eu e o Outro na Escola - Ministério do Esporte
O Eu e o Outro na Escola - Ministério do Esporte
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS: UM “LUGAR” DE NEGOCIAÇÕES<br />
SOCIAIS<br />
José Ro<strong>na</strong>l<strong>do</strong> Men<strong>do</strong>nça Fassheber<br />
Liliane da Costa Freitag<br />
Maria Beatriz Rocha Ferreira<br />
Os Jogos Olímpicos foram institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s socialmente desde o fi <strong>na</strong>l <strong>do</strong><br />
século XIX e foram universaliza<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> século XX. Desde então, eles infl<br />
uenciaram e promoveram a popularização tanto das diversas modalidades que se<br />
incorporaram aos próprios jogos ao longo desse tempo, quanto das formas de organização<br />
social de diversos eventos esportivos profi ssio<strong>na</strong>is, escolares ou comunitários. E<br />
isto é nota<strong>do</strong> e é cada vez mais incrementa<strong>do</strong> e mimetiza<strong>do</strong> <strong>na</strong> sociedade global. Sejam<br />
<strong>na</strong>s Olimpíadas mundiais até aquelas promovidas nos interiores das escolas, no<br />
imenso leque aí forma<strong>do</strong> a organização das sociedades em torno destes jogos coloca-<br />
-nos alguns de seus planos universais: guardam por sua realização, a centralidade <strong>do</strong><br />
tempo e <strong>do</strong> espaço social; reúnem grupos diferencia<strong>do</strong>s de sexo, idade, classe, etnia<br />
etc.; constituem regras universais em sua prática; preocupam-se com o Fair Play etc.<br />
Efeito da mimesis, pois. Partimos da teoria de Taussig (1993) para utilizar o<br />
conceito de mimesis, em que a faculdade mimética pertence à “<strong>na</strong>tureza” que tem<br />
as culturas de criar uma “segunda <strong>na</strong>tureza”. Esta faculdade, no entanto, não se dá<br />
meramente pela cópia <strong>do</strong> origi<strong>na</strong>l. Ao contrário, Taussig (1993) aponta para as ressignifi<br />
cações que cada cultura consegue <strong>do</strong> origi<strong>na</strong>l, infl uencian<strong>do</strong> este origi<strong>na</strong>l.<br />
Essa formalização permitiu a discipli<strong>na</strong>rização <strong>do</strong>s corpos <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res em<br />
seus comportamentos em campo <strong>na</strong>s altamente diferenciadas funções e redes de interdependência<br />
inerentes ao esporte.<br />
Então, o conceito de Dunning (2001) se aplica bem a diversas situações, mas<br />
cabe-nos relacioná-los com o esporte moderno controla<strong>do</strong> por regras: divisão de funções,<br />
número de pessoas envolvidas, controle das pulsões etc., que compõem uma<br />
variada rede de interdependência no esporte 1 . Enfi m, a formação de sociedades cada<br />
vez mais cortesãs e “diplomatizadas” foram elementos <strong>do</strong> processo que penetraram<br />
nos quatro cantos <strong>do</strong> planeta 2 .<br />
E o esporte foi extremamente congruente com o processo de refreamento de<br />
violências não mais cabíveis às “boas” sociedades. Processo semelhante já havia se<br />
estabeleci<strong>do</strong> <strong>na</strong> passagem <strong>do</strong>s guerreiros para a corte. Por outro la<strong>do</strong>, serviu como<br />
1 Se pudermos entender, a partir <strong>do</strong> quadro de Dunning, que o processo de esportivização signifi cava uma dada<br />
institucio<strong>na</strong>lização e padronização <strong>do</strong>s comportamentos de joga<strong>do</strong>res e de jogos tradicio<strong>na</strong>is europeus, o mesmo<br />
não se pode afi rmar com tanta segurança em relação aos jogos tradicio<strong>na</strong>is indíge<strong>na</strong>s. Neste último caso, não<br />
poderíamos supor termos a compreensão de que aqueles jogos liga<strong>do</strong>s aos rituais sejam classifi ca<strong>do</strong>s como sen<strong>do</strong><br />
“de normas simples”, “informais”, “ilimita<strong>do</strong>s” ou “indiferencia<strong>do</strong>s”, embora as outras características pareçam se<br />
enquadrar melhor.<br />
2 Não é preciso contextualizá-los <strong>na</strong> história da sociedade européia e mundial. Muitos autores têm se preocupa<strong>do</strong><br />
com este tema como Hobsbown (1988), Bourdieu (1993), Dunning (1997), entre outros.<br />
O EU E O OUTRO NA ESCOLA: Contribuições para incluir a história e a cultura <strong>do</strong>s povos indíge<strong>na</strong>s <strong>na</strong> escola 141