II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
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“Lembro-me da emoção que me saltou no dia em que, tendo mais ou menos<br />
aprendido o alfabeto, eu descobri subitamente como se fazia a fusão das letras e exclamei:<br />
Ah! É assim? Então eu sei ler!” 2 , essa é Maria Carolina Nabuco de Araújo, ou apenas<br />
Carolina Nabuco, como ficou conhecida no mundo literário. Carioca, nascida no final do<br />
Oitocentos, filha do historiador e senador do Império Joaquim Nabuco, Carolina relata,<br />
através de sua autobiografia, Oito décadas, principalmente a sua infância e mocidade, a<br />
paixão desde cedo pelas letras, e com menos intensidade, a vida adulta, já como biógrafa,<br />
romancista e memorialista.<br />
“Como há-de a mulher revelar-se artista se os preconceitos sociais exigem que o seu<br />
coração cedo perca a probidade, habituando-se ao balbucio de insignificantes frases<br />
convencionais?” 3 , eis Narcisa Amália de Campos, jornalista, poetisa, professora, líder<br />
feminista e defensora da Abolição e da República. Nascida na região norte fluminense de<br />
São João da Barra, no início da segunda metade do século XIX, filha de professores, sendo<br />
seu pai, Jácome de Campos, também poeta. Apesar do talento reconhecido no Brasil e em<br />
Portugal, Narcisa Amália publicou apenas um livro de poesia durante toda a sua vida.<br />
Através das trajetórias dessas duas escritoras, que traçaram caminhos diversos<br />
durante suas vidas, podem-se analisar as práticas de leituras reservadas às mulheres, os<br />
agentes que interferiram nas suas relações com o mundo das letras, as permissões e<br />
censuras, a quebra das regras impostas, a transformação das leitoras em escritoras, as<br />
conseqüências de seus escritos na sociedade e a maneira pela qual, cada uma a sua maneira,<br />
conseguiram romper com os valores vigentes e romperam o silêncio reservado às mulheres,<br />
e “não é somente o silêncio da fala, mas também o da expressão, gestual ou escriturária”. 4<br />
E o objetivo maior é mesmo esse, resgatar e dar voz às mulheres brasileiras, como leitoras,<br />
escritoras e transformadoras da sociedade.<br />
Se Narcisa Amália tinha pais professores, e conseqüentemente, oportunidades de<br />
freqüentar escolas desde menina, tendo contato com a leitura e a escrita, e Carolina<br />
Nabuco, em função do trabalho de seu pai, ter realizado grande parte de seus estudos no<br />
exterior, em colégios na Inglaterra e na França, ou, posteriormente, com professores<br />
2 NABUCO, Carolina. Oito Décadas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p.9.<br />
3 MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX. Florianópolis: Editora Mulheres;<br />
Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC, 2004. p.51. Publicado originalmente no periódico O Garatuja, Resende,<br />
19 de abril de 1889.<br />
4 PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, SP: EDUSC, 2005. p. 10.<br />
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