II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
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Mulher que defendia a Abolição, a República, os estudos e a emancipação das<br />
mulheres, Narcisa Amália superou a dominação vigente na sociedade patriarcal da época,<br />
alcançando uma liberdade moral e intelectual bastante surpreendente. Infelizmente, sua<br />
militância foi se enfraquecendo ao passar dos anos. Sua luta pelas causas sociais e sua<br />
participação no meio literário foram rareando, principalmente após os seus cinqüenta anos.<br />
Alguns acreditam que foi em função dos preconceitos sociais sobre a mulher, a escritora e a<br />
militante fervorosa. Outros creem que a sua rápida incursão pela literatura deveu-se a sua<br />
origem humilde e à dificuldade em permanecer no mundo literário. Não creio. Seu único<br />
livro fez sucesso no Brasil e em Portugal, e o editor francês B. L. Garnier logo se<br />
prontificou a publicar Nebulosas, tendo recebido inúmeras críticas favoráveis. Enfim, o<br />
fator do preconceito e da tendência a deixar no esquecimento aquelas que incomodam o<br />
andar regrado da sociedade, parece fator predominante.<br />
Narcisa Amália era considerada e festejada pelos intelectuais da época, tendo sido<br />
muito provavelmente a primeira mulher a prefaciar uma obra masculina, do livro de seu<br />
grande amigo Ezequiel Freire, Flores do Campo. Todavia, a moral dos séculos XIX e XX<br />
foi uma das causadoras do esquecimento das poesias de Narcisa, e de toda a sua luta pela<br />
melhoria de vida de seus contemporâneos. Pouco restou da grande mulher que é<br />
normalmente lembrada por ter casado diversas vezes, sem sucesso. Porém, como bem<br />
afirma Maria de Lourdes Eleutério,<br />
“Narcisa Amália é referência e reverência daquelas mulheres que pretendem<br />
dedicar-se à literatura. E isto ocorre em grande parte porque a poeta, autora de um<br />
único livro, fez dele o ideal, o guia das leitoras que almejavam realizar o melhor na<br />
criação artística. Narcisa foi assim um pólo de força de vontade e de inspiração e<br />
realização para inúmeras vocações, e isto mesmo em condições desfavoráveis”. 14<br />
Carolina Nabuco, por sua vez, apresenta em sua obra e vida, a influência<br />
fundamental de uma figura masculina, Joaquim Nabuco, seu pai. Muitas vezes ausente<br />
devido ao trabalho, a jovem Carolina não deixa de expressar o grande carinho, estima e<br />
consideração pela figura paterna, que cita inúmeras vezes no desenrolar de sua<br />
autobiografia. A lembrança do pai se faz presente na casa de Botafogo, nos passeios em<br />
14 ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Vidas de romances: as mulheres e o exercício de ler e escrever no<br />
entresséculos, 1890-1930. Rio de Janeiro, Topbooks, 2005. p. 113.<br />
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