II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
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Cruz Paula. Tendo se mudado para Resende, em função da doença do pai, Narcisa<br />
continuou seus estudos, completados no Atheneu Resendense, onde se mostrou ótima aluna<br />
em diversas disciplinas, como nas línguas inglesa e francesa, geografia, história, botânica,<br />
retórica, sendo também orientada pelo pai sobre essas matérias, expandindo assim, seus<br />
conhecimentos.<br />
Mesmo após seu primeiro casamento, precoce aos 13 anos de idade, Narcisa<br />
Amália, sem deixar de lado suas “obrigações” domésticas, auxiliava sua mãe na escola<br />
onde trabalhava, e sempre que possível, continuava seus estudos dos clássicos portugueses<br />
e franceses, além de história universal e principalmente na análise dos poetas e romancistas<br />
brasileiros, como Gonçalves Dias, Machado de Assis, Fagundes Varela, Álvares de<br />
Azevedo, José de Alencar, Casimiro de Abreu, Castro Alves – influência marcante em suas<br />
poesias sobre a Abolição - entre outros. Em seus artigos, Narcisa fazia indicações de<br />
leituras, principalmente às mulheres, como os clássicos Schiller, Voltaire, Bossuet etc.<br />
Com seus escritos em defesa da Abolição, da República, e ainda pela emancipação<br />
feminina, Narcisa Amália é considerada a primeira mulher a trabalhar profissionalmente<br />
como jornalista, utilizando as suas letras em nome da liberdade. Narcisa, através de seus<br />
escritos, defendia o direito das moças a uma educação de qualidade, declarando que<br />
“suponho ter sido eu, no Brasil, quem primeiro ergueu a voz clamante contra o estado de<br />
ignorância e de abatimento em que jazíamos”, que considerava um direito fundamental,<br />
numa sociedade onde ainda a grande maioria das mulheres eram analfabetas, estando<br />
excluídas do acesso à cultura e a melhores condições de lutarem por seus direitos. Foi<br />
acusada inúmeras vezes de atentar contra o pudor das mães de família da época, como no<br />
artigo publicado no periódico A Família, onde Narcisa relata que,<br />
“afirmaram que as minhas opiniões eram auridas em livros cuja leitura importava<br />
em atentado ao pudor da mãe de família. Espíritos machos recearam, porventura,<br />
que, a um meu aceno suas esposas abandonassem o pot au feu e, tomando o bordão<br />
de peregrinas, marchassem em demanda da terra da emancipação”. 10<br />
10 MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX. Florianópolis: Editora<br />
Mulheres; Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC, 2004. p.552. Publicado originalmente no periódico A Família,<br />
em 31 de dezembro de 1889.<br />
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