II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
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estrangeiros particulares, a grande maioria das mulheres enfrentou inúmeras dificuldades<br />
para terem acesso à alfabetização. Inicialmente, a formação das meninas estava restrita ao<br />
ensino do português e de uma segunda língua, freqüentemente, o francês, além do<br />
aprendizado da matemática básica, canto, costura e bordado, normalmente caracterizando o<br />
ensino doméstico, muitas vezes com o acréscimo do conhecimento de algo ligado às artes,<br />
religião, história, literatura, geografia entre outras.<br />
As mães que possuíam algum nível de instrução eram responsáveis pela iniciação<br />
das filhas no mundo das primeiras letras, sendo assim, formadoras das futuras leitoras.<br />
Essas mães se achavam na obrigação e no direito de, por um lado, incentivar o processo de<br />
leitura das filhas, e, por outro, de cuidar para que não gastassem todo o seu tempo somente<br />
no ato de ler, deixando de lado os afazeres domésticos das moças ou o aprendizado deles, e<br />
mesmo a censura radical de algumas obras consideradas impróprias, contudo, as meninas<br />
buscavam em suas leituras algo que ia além da intenção de algum tipo de aprendizado útil,<br />
desejam leituras que também divertissem. Segundo Robert Darnton, as pessoas liam para<br />
salvar suas almas, refinar suas maneiras, consertar suas máquinas, seduzir os namorados,<br />
informar-se sobre as atualidades e simplesmente para se entreter. Assim, dentro dos<br />
conhecimentos que possuíam, as mães decidiam os objetos que poderiam ser lidos, os<br />
modos de leitura e o tempo necessário para essa atividade, sendo os romances e poesias, os<br />
gêneros mais utilizados pelas mães, o que demonstra os restritos impressos aos quais<br />
tinham acesso às mulheres da época.<br />
A mãe de Carolina Nabuco, D. Evelina Torres Soares Ribeiro Nabuco de Araújo foi<br />
a responsável por ensinar à filha, a língua francesa. Carolina conta que:<br />
“aos cinco anos começou a deliciosa aventura de estudar com minha mãe. Ganhei<br />
uma carteira de colegial para meu tamanho, mas em cujo banco cabíamos as duas.<br />
[...] Eu tinha verdadeira avidez de aprender tudo o que me quisessem ensinar.<br />
Minha Mãe familiarizou-me cedo com o francês, que era para ela uma segunda<br />
língua materna. Abriu-se com isso, para mim, o acesso à delícia dos livros da<br />
Condessa de Ségur, hoje quase todos traduzidos, mas que naquele tempo só<br />
existiam nas edições de capa percalina vermelha da série da “Bibliothèque Rose”.<br />
As lições de Mamãe corroboravam com minha ansiedade em entender as histórias<br />
do livro, que eu manuseava com delícia antecipada aplicando-me em adivinhar o<br />
sentido”. 5<br />
5 NABUCO, Carolina. Oito Décadas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p. 9.<br />
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