A fé <strong>de</strong> um povo oprimido é maior que qualquer po<strong>de</strong>r. Anastácia continuará Santa apesar da Inquisição. .Escrava Anastácia Confio em "Deus" com todas as minhas forças e peço a k 'Deus" que ilumine o meu caminho e a minha vida.
Pt0ifMl2 MAIORIA FALANTE Junho/Julho 11.° Encontro <strong>de</strong> Mu- lheres Negras da Bai- xada Santista surgiu da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se organizarem enquanto tal. Sob o financiamento da LBA — Legião Brasileira <strong>de</strong> Assistência; e também <strong>de</strong> Associações estrangeiras co- mo o NOVIB, Instituição Holan<strong>de</strong>sa, ligada ao IBASE — Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Análise Social e Econômica, e da ACDI — Association Canadienn pour le Develop- ment Internationale; o even- to aconteceu no CEFAS, em Santos, no período <strong>de</strong> 11 a 14 <strong>de</strong> maio. Este en- contro conta ainda com a promoção do coletivo <strong>de</strong> Mulheres Negras da Baixada Santista e com o apoio <strong>de</strong> Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> Santos, Conselho <strong>de</strong> Desen- volvimento e Participação <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong> Negra (SP) e Conselho Nacional dos Di- reitos da Mulher (Brasília). O objetivo do encontro foi <strong>de</strong>nunciar as discrimina- ções existentes, elaborar pro- postas para as Constituintes Municipais e Estaduais e dis- cutir as formas <strong>de</strong> organiza- ção da mulher negra, que, <strong>de</strong> acordo com pesquisas, mostram-se <strong>de</strong>ficientes. Se- gundo dados estatísticos do Censo <strong>de</strong> 1980 do IBGE, meta<strong>de</strong> das mulheres negras são analfabetas, 90% apenas consegue terminar o curso primário e 1% chega à uni- versida<strong>de</strong>. Esta falta <strong>de</strong> es- colarida<strong>de</strong> vai afetar o seu <strong>de</strong>sempenho no mercado <strong>de</strong> trabalho, on<strong>de</strong> fica relegada às funções sem qualificação profissional, mal remunera- das. A maioria trabalha co- mo empregada doméstica e faxineira, sem registro em carteira, não <strong>de</strong>sfrutando dos direitos adquiridos pe- los outros trabalhadores; 62,7% das trabalhadoras ne- gras recebem menos que 1 salário mínimo. A mulher negra também é consi<strong>de</strong>rada um objeto sexual no nível das prostitutas, sem valor para a maternida<strong>de</strong> e para o casamento. Com base nestes dados o Encontro ofereceu às mu- lheres negras da baixada Santista, <strong>de</strong> outros estados e <strong>de</strong> outros países um espaço <strong>de</strong> vivência e reflexão, visan- do criar mais grupos <strong>de</strong> mu- lheres negras comprometi- dos não apenas com a ques- tão racial, mas com as quês toes da comunida<strong>de</strong>. A idéia foi dar início a um processo <strong>de</strong> reeducação da mulher SANTOS DEBATE MULHERES NEGRAS negra, conscientizando-a so- bre as discriminações que a limitam, sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lutar por seus direitos, pela sua cultura, sua estéti- ca, pelos direitos da raça en- quanto povo brasileiro. Durante 4 dias as partici- pantes fizeram alojadas no CEFAS, no bairro Jabaqua- ra, local que há um século abrigou o maior quilombo do país <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Palmares, e discutiram todas essas questões relativas à mulher negra on<strong>de</strong> as ativida<strong>de</strong>s eram variadas: haviam pai- néis <strong>de</strong> discussão com expo- sitores convidadas entre as li<strong>de</strong>ranças negras do país, oficinas culturais resgatando a estética negra e grupos <strong>de</strong> discussão que fizeram um diagnóstico sobre a situação da mulher negra e elabora- ram estratégias para in- fluenciaram a nova legisla- ção estadual e municipal e conseguirem um sistema educacional e meios <strong>de</strong> co- municação mais engajados no combate à discriminação racial e sexual. Os homens pu<strong>de</strong>ram participar das ati- vida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sábado, das 14 AO em diante. Toda a progra- mação esteve restrita às mu- O Coletivo se impõe: Edna Rolan — Vllme Terezinhe — Prof. Vltellne lheres diretamente ligadas ao Encontro e às inscritas <strong>de</strong> todo o país, apenas fo- ram abertas à população a programação <strong>de</strong> abertura no dia 11/05, o cortejo <strong>de</strong> ma- racatu e o show da cantora Leci Brandão, no dia 13/05, no Teatro Municipal Brás Cubas. Este l.o Encontro da Baixada Santista resumiu-se num foro consultivo com a participação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 200 mulheres negras e bran- cas do próprio local e convi- dadas <strong>de</strong> outros Estados e Países — Caribe, Canadá e Alemanha. As propostas do l.o En- contro <strong>de</strong> Mulheres Negras da bajxada santista, já fo- ram entregues à prefeita Telma <strong>de</strong> Souza, ao presi- <strong>de</strong>nte da Câmara <strong>de</strong> Santos, vereador Dr. Roberto Bona- vi<strong>de</strong>s, ao bispo diocesano D. Davi Picão, ao superiten<strong>de</strong>n- te do jornal "A Tribuna" e a OAB-Mulher, <strong>de</strong> Santos. Na seqüência, serão en- viadas também para os par- tidos políticos, sindicatos, entida<strong>de</strong>s negras e do movi- mento <strong>de</strong> mulheres, movi- mento populares, associa- ções <strong>de</strong> bairros, além dos constituintes estaduais. O PROGRAMA Durante os quatro dias <strong>de</strong> agrupamento do 1 o Encon- tro <strong>de</strong> Mulheres negras da Baixada Santista as ativida- <strong>de</strong>s foram as mais variadas: painéis, grupos <strong>de</strong> discussão, oficinas, organizados da se- guinte forma: Dia 11/05 — Neste primeiro dia <strong>de</strong> ativi- da<strong>de</strong>s o encontro contou com a presença da Prefeita Telma <strong>de</strong> Souza, que na condição <strong>de</strong> Chefe do Po<strong>de</strong>r Executivo, saudou as parti- cipantes. Houve ainda a apresentação da Comissão Organizadora, o coral infan- til Omó Oya, coquetel <strong>de</strong>sfi- le <strong>de</strong> roupas afro; Dia 12/05 — Painel, com os temas Mu- lher negra e Trabalho (Maria Aparecida Teixeira), Mulher negra e feminismo (Sueli Carneiro-SP), Mulher negra e as Constituintes Munici- pais e Estaduais (Nadir <strong>de</strong> Souza—Santos), Empregada Doméstica (Representante do Sindicato das domésti- cas), Aids (Nanei Alonso- G AP A/Santos); Grupos <strong>de</strong> discussão sobre os temas apresentados; Oficinas <strong>de</strong> torsos, amarrações/Trança/ Dança afro mo<strong>de</strong>rna/Capoei- ra/Música e canto/Estética negra; Debate sobre Mulher negra e Religião Afro-brasi- leira; Dia 13/05 - Painel com os temas: Cultura (Te- resa Santos-SP); Educação (Prof. Maria Lúcia Fernan- <strong>de</strong>s); Quilombo da Baixada Santista (Prof. Wilma There- zinha); Saú<strong>de</strong> (Edna Roland- SP); e <strong>de</strong>pois grupos <strong>de</strong> dis- cussão sobre o assunto. E ainda oficinas <strong>de</strong> Auto exa- me/ Dança afro Primitiva,/ Teatro/ Mo<strong>de</strong>lagem/Litera- tura/Sexualida<strong>de</strong> e Prazer e Reflexo no espelho. Por úl- timo, show do Grupo Mo- nas <strong>de</strong> Oyá e da cantora Le- ci Brandão no teatro Muni- cipal Brás Cubas, gratuito às participantes. No último dia, 14/05, houve um painel com experiência <strong>de</strong> mulhe- res negras Internacionais, com Rhoda Reddock, do Caribe; Carol Allain, do Ca- nadá e Nadu Normann, da Alemanha; e mais a Deputa- da Benedita da Silva falan- do um pouco das leis que regem e passarão a reger nosso país. Este encontro da baixada Santista mostrou-se extre- mamente cultural em toda a sua programação e enrique- ceu-se ainda mais com a tro- ca <strong>de</strong> informações com as representantes do Caribe, Canadá e Alemanha. - Rho- da Reddock, Carol Allain e Nadu Normaon, respectiva- mente. A primeira pertence ao CAFRA — Caríbbean As- sociation for Feminist Re- search and Action, a segun- da ao Jornal Our Lives — Canada's first black womerís newspaper. A representante alemã apenas falou <strong>de</strong> sua experiência pessoal como ci- dadã, emocionando muita gente com seu discurso. Os temas que centraliza- ram maiores atenções foram os relativos à saú<strong>de</strong>, ao fe- minismo e ao trabalho, que enfatizou a falta <strong>de</strong> profis- sionalização da mulher ne- gra e os direitos das empre- gadas domésticas. Segundo a assessora <strong>de</strong> Imprensa do Encontro, Nil- za Iraci, o Encontro foi ava- liado <strong>de</strong> forma positiva pe- las participantes, cerca <strong>de</strong> 200 pessoas, que em sua gran<strong>de</strong> maioria não integra e nem milita nos movimen- tos sociais tradicionais e nem no movimento negro, mas estava apenas interessa- da em <strong>de</strong>bater todas essas questões. por Beth Silva Santot